domingo, 25 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P908: Recordações de 1968/69 (Torcato Mendonça, CART 2339)

Texto do Torcato Mendonça, com data de 22 de Junho e a seguinte nota:

Caro Luís Graça:

Continuo a ler o Blogue com muito interesse.

Há acontecimentos vividos por mim, mas não os recordo como são descritos. O tempo, a memória e a subjectividade da análise. Falei com o Marques dos Santos e, por vezes, acontece-lhe o mesmo.

Vão umas notas sem qualquer pretensão historiográfica… nada disso!


Fui ao Centro de Saúde (...) e conheci uma senhora simpatiquíssima.


GUINÉ 68/69 RECORDADA EM 2006


"Às vezes me alegro outras me entristeço”,,, ou rio com o matchudandi di branco, os mails do (des)encontro do 10 de Junho e o cão Labrador [do J. Vacas de Carvalho, contada na tertúlia, off-record...]; comovo-me (arrepio-me) com Gadamael/Guilege, as listas de fuzilados, o Presépio de Chicri…Vou lendo o Blogue e cada vez sinto mais presente aquela terra vermelha e ardente….

Só umas notas rápidas:

(i) O Beja Santos é meu contemporâneo na Guiné. Pensava que tinha comandado o Pel Caç Nat 53.

(ii) Na História da Guiné e Cabo Verde – publicada com o apoio da UNESCO em 1973/74 e impressa em Paris –apesar da sua natural “parcialidade”, devido ao ano da publicação, pode ler-se a pag. 92: “Os povos de África prestam hoje homenagem, como seus heróis nacionais, aos combatentes... Infali Sonco (e outros ).

Sobre o Alferes português e a Campanha de 1907/08, a pag. 102 refere:

Infali Sonco, régulo do Cuor, é ofendido pelo Comandante do Posto de Geba, o qual bate na sua própria presença num dos seus colaboradores. Ele reage matando um Alferes português e prende o Comandante, que libertará de seguida. Recusa o pagamento do imposto, corta a navegação no Geba, entre Bissau (?!) e Bafatá... Tiveram depois de vir reforços de Lisboa

Não será o Governador Fortes o Comandante de Geba?

O Historiador Leopoldo Amado certamente terá deste episódio, Infali Sonco e campanha posterior 1907/08, dados mais consentâneos com a realidade. Como também das campanhas de Teixeira Pinto e outros.

Não li a Nova História Militar de Portugal, mas com os autores que tem deve ser um óptimo elemento de consulta.

(iii) Longe de mim a pretensão de fazer história. Estórias da passagem pela Guiné! Gosto de História mas isso não interessa.

Claro que o Beja Santos ficciona as suas estórias. É natural e vale a pena ler textos com aquela qualidade.

Há (tenho) um outro livro – Grandeza Africana: Lendas da Guiné Portuguesa, de 1963- que, servindo-se da transmissão oral, relata os feitos de muitos heróis fulas, mandingas e outros. Termina com a Canção de Cherno Rachide, de Aldeia Formosa. Não conheci mas ouvi falar muito deste homem. São contos lindos sobre aqueles povos.

Gostava de aprofundar este assunto, mas já alonguei as breves notas.

(iv) Uma última: Se bem me lembro, a emboscada sofrida pelo Paulo Raposo foi próximo de Mansambo, na subida do pontão do rio Almami. A Secção era do Pelotão de Mil 145, estacionado na Moricanhe. À passagem dos militares do 145 foi accionada, com comando á distância, uma mina anti-carro. Dois mortos, um capturado – Soldado Lamine que conseguiu fugir e voltar cerca de uma semana depois – e três feridos. Um deles o Sargento Mádia ainda perseguiu o inimigo mas, esgotado devido aos ferimentos, voltou para Mansambo.

Talvez os homens do 145 fossem filhos de um Deus menor. A Virgem Mãe não conseguiu salvá-los a todos. Bocados dos mortos ficaram, por muito tempo no cimo das árvores. Os vivos ripostaram bem e provocaram baixas , previstas por mim logo no local e confirmadas posteriormente pelo Laminé .

Era outra estória!

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