quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se irá prolongar por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (3)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW

Campanha da Guiné, de 21 de Novembro de 1907 a 15 de Maio de1908 
Notava-se, no final do ano de 1907, em vários pontos da Guiné, um clima de sublevação latente, o que levou o Governador da Guiné, 1º Tenente da Armada Real João Augusto de Oliveira Muzanty, a requisitar reforços à metrópole, para fazer face a prováveis alterações na ordem pública na província.
Povos da margem esquerda do rio Geba revoltam-se, não acatando as ordens das autoridades e cometem ataques ás populações fiéis, que rapidamente se alastram até à região do Corbal [Corobal?].
Tendo em conta que a demora de tomada de posição, contra a rebelião, podia ser tomada como incentivo a outros focos de instabilidade, levou a que, de imediato o governador tomasse o comando de uma força que, em 27 de Novembro, constituída pelas forças disponíveis do Exército, da Marinha de Guerra e de auxiliares, e marchasse para a região revoltada do Cuhor onde o régulo beafada Infaly-Socó, incitou à revolta e ao ataque do nosso aliado Abdulay. A coluna atacou e destruiu as tabancas de Campampi, Furacunda e Sanhá.

© Imagem retirada de http://coisasdaguine.blogspot.pt/2011/05/150-campanhas-para-dominar-o-gentio-da.html [A. Marques Lopes]

Comando e forças utilizadas nesta operação: 
• Comandante: 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
• Chefe do Estado-maior: Capitão José Xavier Teixeira de Barros:
• Duas forças de desembarque da canhoneira “D. Luiz”, sob o comando dos 2ºs Tenentes da Armada José Francisco Monteiro e David Albuquerque Rocha;
• Força da guarnição dos Postos de Xime, Bambadinca e auxiliares, sob o comando do Alferes de Cavalaria Raul Carlos Ferreira da Costa;
• Serviços Marítimos de Comunicação sob a direcção dos 2ºs Tenentes da Armada José Estêvão de Campos França, Frederico Pinheiro Chagas e Carlos Prima Guimarães Marques.
Em consequência das acções de rebelião, muitas linhas telegráficas encontravam-se destruídas, pelo que em Janeiro de 1908, foi necessária a constituição de uma força para castigar os rebeldes e com a missão de restabelecer as ligações destruídas.

Destacamento para reparação de linhas telegráficas:
• Comandante: Capitão de Infantaria e Estado-maior Ilídio Marinho Falcão de Castro Nazaré:
• 20 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada David Albuquerque Rocha, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato da Fonseca, tendo como subalterno o Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa:
o 24 Praças do Depósito de Adidos,
o 2 Praças de Cavalaria, o 8 Praças de Artilharia com uma peça de 7 c.
o 30 Auxiliares indígenas.
Uma outra forma de rebelião, era o não pagamento do “imposto de palhota” ou impedirem a passagem de brancos pelas suas terras. Desta feita foram os Felupes, de Varela, a revoltarem-se. A coluna conseguiu os objectivos a que se tinha proposto, não só castigando os revoltosos mas provocando muitas baixas.

Destacamento destinado a bater os Felupes de Varela: 
• Comandante: Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz:
• 40 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada José Francisco Monteiro, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército:
o 23 Praças do Depósito de Adidos, comandadas pelo Tenente Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos;
o 52 Praças da Companhia Indígena de Atiradores, comandadas pelo Tenente José Caldeira Marques. Mesmo após os castigos infligidos aos fulas da margem esquerda do rio Geba, e aos Felupes de Varela, não evita que o clima de instabilidade esmoreça pelo que, o governador, dispondo já de mais meios e forças, decide formar nova coluna e tomar a iniciativa, a fim de não ser surpreendido.
O Governador Muzanty, a frente da coluna, derrota os rebeldes de Gan Turé, Sambel Iantá, Gan Sapateiro e ocupa a região de Cohor, libertando a navegação do rio Geba, e destrói, também, as povoações de Intim, Bandim e Contumbe.
Com a aproximação da época das chuvas, a coluna regressa à praça de Bissau em 12 de Maio de 1908.  

Coluna de operações contra Balantas, Papeis, Fulas e outros em Abril de 1908: 
Comando:
• 1º Tenente da Armada João Augusto Oliveira Muzanty;
Estado-maior:
• Capitão de Infantaria Ilídio Marinho Falcão Nazaré, Tenente de Cavalaria D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho, 2º Tenente da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Tenente Belmiro Ernesto Duarte Silva, Capitão de Administração Militar Joaquim Simões da Costa;
Armada Real - Oficiais da guarnição das canhoneiras “D. Luiz” e “Zambeze”:
• Capitães Tenente Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira, Alberto Carlos Aprá e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2ºs Tenentes Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, Alfredo de Sousa Birne, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias, José Estêvão de Campos França, José Proença Fortes, José Francisco Monteiro, Frederico da Silva Pinheiro Chagas e David de Albuquerque Rocha;
• Guardas Marinha: António José Martins e Sebastião José da Costa;
• Maquinistas: Pedro Mário Pacheco Consiglieri, Henrique Guilherme Fernandes, e Francisco Rodrigues Pinto;
• Médicos Navais: Alberto Goulard de Medeiros, João Antunes Leite e José António Andrade Sequeira;
• Comissários: António M. de Azevedo Machado Santos e José da Cunha Santos;
• Aspirantes da Administração Naval: Armando Heitor Aranha, Orlando A. de C. Braga, António de Campos Andrada e António Pereira da Silva Teixeira.

Desembarque de tropas expedicionárias da metrópole 
© Foto: Postal de colecção / Autor desconhecido 

Exército de Terra:
Secção de Engenharia:
• 3 Sargentos e 9 Soldados;
Bateria de artilharia de guarnição da província:
• 69 Praças sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato Gomes da Fonseca e dos oficiais: Tenente Luiz Monteiro Nunes da Ponte; Alferes António Carlos Cortêz e António dos Santos (quadro auxiliar de artilharia).
Infantaria 13, do Reino (Vila Real):
• Capitães Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Tenentes: Francisco de Almeida, José Dias Veloso, António José Ferreira, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha e Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos; Alferes: António Luiz Alves, Jaime Raul Sepúlveda Rodrigues, Jaime Vítor Duque (morto) e Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição.
Companhia Mista Europeia:
• Capitão José Carlos Botelho Moniz; Tenentes: João Caldeira Marques e Afonso Henriques Alves Xavier. Serviço de Saúde:
• Capitão Médico Francisco Augusto Regala, Tenente Médico Manuel de Jesus Suzano; Tenente do quadro colonial: António Maria Marques Perdigão, Eduardo Pereira do Vale, António de Freitas Ferraz e José de Pinho Cruz Júnior e Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores.
Serviços Administrativos:
• Tenente da Administração Militar Frederico Xavier da Silveira Machado.
Voluntário civil:
• João Baptista Fortes.
Para completar o esforço desenvolvido nas operações 1907-1908, em 17 de Novembro de 1908, uma força de marinha e auxiliares leva a efeito uma operação contra os balantas em Conó-Cumba, Chumbel, Blassi, Assagre e Nhafó, que tinham perpetrado vários roubos de gado, pelo que foram severamente castigados com bastantes baixas e recuperando grande parte do gado roubado.

Grupo de Oficiais em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

Foram louvados os seguintes oficiais e praças: Comandante da Campanha:
• Governador-geral e 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
Armada Real:
• Capitães Tenentes Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2º Tenentes da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias e Frederico da Silva Pinheiro Chagas;
• Aspirante da Administração Naval António Pereira da Silva Teixeira,
• 2ºs Sargento: João Duarte, João da Silva, Júlio Simplício Teles de Sousa, Adelino José das Neves Coelho e António Rodrigues da Costa,
• Cabos: António Moreira, Cocufate Joaquim Torres, Filipe de Barros e Manuel das Dores;
• 1ºs Marinheiros: António Joaquim da Cruz, Luiz da Silva, Joaquim Bento António Cândido Russo, Roberto Montero e Joaquim da Silva;
• 2ºs Marinheiros: António Augusto Barbosa, Joaquim dos Santos (Chegador) e José Dias (1º Artilheiro):
• 1º Grumete: José Martins.
Exército de Terra:
• Capitães José Carlos Botelho Moniz; Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Viriato da Fonseca, Ilídio Marinho Falcão Nazaré e Joaquim Simões da Costa;
• Tenentes Francisco de Almeida, José Dias Veloso, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha, Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição, D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho e Belmiro Ernesto Duarte Silva;
• Tenentes Médicos Manuel de Jesus Suzano e Eduardo Pereira do Vale;
• Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores;
• Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa;

Grupo de Sargentos em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

• 1ºs Sargentos: Manuel Pinto da Fonseca, Augusto Maria da Silva Flores, João José, João Machado Toledo, Manuel Tomé e António Monteiro;
• 2ºs Sargentos: João Maria dos Santos, Eduardo Augusto de Morais e Silva, Alfredo Alves da Silva, Manuel Azevedo, Abel Andrade Largo, José Paulino Rodrigues, Alexandre Francisco Ferreira Sarmento, Luiz de Carvalho Villaura, Estêvão Dias da Cruz, Jaime Garcia de Lemos, Alfredo Acácio Afonso, Salomão António Soares, Sabino da Conceição de Carvalho Ventura, José Afonso Lonha, José Pinto de Sousa Júnior, João José Cardoso, Manuel Joaquim Gonçalves Júnior, Alberto Augusto de Araújo (Serralheiro Ferreiro) e José Francisco Alhandra (Carpinteiro);
• 1ºs Cabos: Francisco Rodrigues Calçona, Virgílio Vieira de Vasconcelos, Manuel Monteiro, João Ferreira da Costa Júnior, Domingos dos Santos, Josué Alves Pinto Pinheiro, António Francisco da Encarnação Martins, Manuel Martinho (Ferrador) e António Gomes (Corneteiro);
• Soldados: Joaquim Maria, Raul de Jesus, José Dias, Manuel Luiz, Manuel dos Santos e Augusto Alves;


Operações Militares contra os balantas na região de Goli em 1909
No início do ano de 1909, o Governo Provincial decide instalar, na região de Goli, um posto militar, mas esta decisão não foi bem aceite pela população balanta que, a 21 de Fevereiro de 1909, atacam o referido posto. Esta acção foi repelida com violência, deixando, os revoltosos, muitos mortos no terreno.
Apesar dos factos registados, as populações continuaram a movimentar-se e notava-se no ar algo de preocupante: preparavam-se para um ataque de maior envergadura.
Foi então decidido que a guarnição do posto fosse aumentada com tropas de infantaria e de artilharia, assumindo o comando do posto o Capitão do Estado-maior Ilídio Marinho Falcão Nazaré.
Quando os soldados se tinham que afastar do posto, no exercício das suas funções, acentuavam-se as ameaças da população. Foi então nomeada uma coluna, para reconhecimento da zona, constituída por parte da guarnição do posto, reforçada por um destacamento da 9ª Companhia Indígena de Moçambique, comandadas pelo 2º Tenente da Armada Casal Ribeiro, com o apoio do Chefe de Guerra Abdul-Injai e das suas gentes. O reconhecimento deslocou-se até Calicunda e, encontrando o inimigo, iniciou o regresso, tendo reconstituído a passagem do Chumbal.
A 4 de Março desse ano, o mesmo oficial organiza e comanda uma nova coluna que se dirige a Nhacé, sendo atacada violentamente pelo inimigo, sendo repelido e levado de vencida até Berraam. Depois, os auxiliares, dirigiram-se ate Date, destruindo todas as povoações dos revoltosos.


Operações contra os balantas de Bissau e baiotes de Cacheu em 1912
Mais uma vez, nas áreas de Elia e Jobel, foram palco de revoltas por parte de balantas de Bissau e baiotes de Cacheu, em Fevereiro de 1912, que viriam a ser reprimidas por voluntários civis de Bissau, Cacheu, Bolama e da Liga Guineense, comandados pelo Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz.
A coluna desembarca em Inhome, a 27 de Março, derrotando os revoltosos em Binar, Gicasse, Satará e Tama, seguindo a 2 de Abril para Jobel, destruindo as povoações que, pelo caminho lhes ofereciam resistência, chegando no dia 4 a Elia, onde travou combate e venceu os revoltosos.
A coluna ainda se dirigiu a Cajegute, a 7 de Abril, onde impôs ao régulo manjaco a devolução do produto de um roubo efectuado pela sua população. Tendo sido feita a devolução do mesmo, a coluna regressa a Bissau, sendo dissolvida.


Operações no Mansoa e Oio em 1913
A índole guerreira e agressiva era exteriorizada, orgulhosa e altivamente, pelos povos das regiões de Mansoa e Geba, manifestando insubmissão e desrespeito pelas autoridades portuguesas, por se julgarem invencíveis.
A situação de desobediência, indisciplina e provocação aumentam, pelo que surge o momento de colocar um fim a estes actos, entendendo o governo da província colocar um fim nestes acontecimentos.
Foi então organizada uma coluna que, sob o comando do Capitão Teixeira Pinto com a colaboração da Marinha de Guerra, infringe forte castigo aos insurrectos, provocando-lhes pesadas baixas.
Os factos mais relevantes resultantes destas operações são a ocupação de Mansoa de 29 de Março a 22 de Abril, com o apoio da canhoneira “Flecha”, o estabelecimento de um posto militar em Porto-Mansoa, e a ocupação da região do Oio de 14 de Maio a 16 de Junho, com o apoio da canhoneira “Zagaia”, e o estabelecimento de um posto militar em Mansoa.
Tomaram parte na expedição, as seguintes forças: 
Comando:
Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, coadjuvado pelos Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
Artilharia: 1 Sargento, 4 cabos europeus e 4 soldados indígenas, com uma peça Krupp de 8 c.;
Auxiliares: 400 Irregulares indígenas de Abdul-Injai;
Administrador de Geba: Vasco de Sousa Calvet de Magalhães com 80 homens armados;
Canhoneira “Flecha”: 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa;
Canhoneira “Zagaia”: 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro
Serviços de transporte: vapor “Capitania”, motor “Cocine”, lanchão “Cacheu” e lanchas “ Rio Geba”, “Santa Isabel”, “Clementina”, “Coffka II”, “Simone” e “Avé Maria”.
Distinguiram-se e foram citados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto; Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 2º Sargento António Ribeiro Vilaça, 1º Cabo António Ribeiro Möens (empregado da casa Soller Charles Magne);

Empregados de uma casa comercial estrangeira 
© Foto: José Henrique de Mello 

• Vasco de Sousa Calvet de Magalhães (Administrador de Geba), auxiliares indígenas Abdul-Injai e Bacari-Suncaro;
• Comandantes da Canhoneira “Flecha” 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Canhoneira “Zagaia” 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro, do vapor “Capitania” Adolfo dos Santos, da motor “Cocine” Alfredo Martins e da lanchas “ Rio Geba” Francisco Maria.

(Continua) 
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Nota do editor:

Vd. poste anterior de 25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Zé: Infaly, Infali ou Unfali? Socó ou Soncó ?...

Vd. aqui as cinco referências que temos ao Infali Soncó...

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Infali%20Sonc%C3%B3


... E já agora ao seguinte comentário meu ao poste de 18 DE JUNHO DE 2006

Guiné 63/74 - P882: Historiografia da presença portuguesa (1): Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2006/06/guin-6374-p882-infali-sonc-e-lenda-do.html


(...) Em relação aos factos recolhidos oralmente pelo Beja Santos, parece haver algumas notórias discrepâncias, quando confrontrada a versão local com a historiografia portuguesa. Por exemplo, na Nova História Militar de Portugal (ed. lit. Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira), vol. 3 (Lisboa: Círculo de Leitores, 2003), pode-se ler a seguinte nota (p. 449):

"1908 - O governador Oliveira Muzanty, obtendo reforços da metrópole, organiza a maior expedição efectuada na Guiné até 1963, vencendo a resistência biafada, encabeçada por Unfali Soncó em Cuor e Canturé e restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril)".

Carlos Bessa , autor do capítulo "Guiné. Das deitorias isoladasa ao 'enclave' unificado" (pp. 257-270), escreve o seguinte sobre o régulo Soncó:

"(,...) O régulo Unfali Soncó, aliado do régulo de Badora, Bonco Sanhá, com o assentimento de outros régulos fulas, pretendeu impedir a navegação no Geba, criando o risco de sufocar Bissau extinguindo-lhe o comércio. Contando com a aliança do régulo do Xime, Abdulai Kassalá, violento e impopular, e de Monjour, célebre régulo do Gabu, Muzanty fez frente a Soncó (...).

"Em 18 de Março [de 1908] desembarcou a expedição prometida pelo governo, com um efectivo de 358 oficiais e soldados portuguese. A resistência de Unfali Soncó ainda durava, e Muzanty organizou e assumiu o comando da maior expedição do exército regular ao interor da Guiné até 1963. Unfali Soncó, vencido em Cuor e Ganturé, entre 5 e 24 de Abril, viu-se abandonado. A resistência das tabancas biafadas foi pequena, e a navegação comercial entre Bissau e Bafatá restabelecida. Abdul Injai, aventureiro senegalês, distinguiu-se no apoio dado. Foi nomeado réglo do Cuor, efectuou avultadíssima cobrança do imposto e ele próprio enriqueceu" (pp. 266-267).

Na referência de Carlos Bessa ao "pacificador" da Guiné, Teixeira Pinto, e à sua "segunda campanha" (1913-1915), não surge o nome de Unfali (ou Infali) Soncó.

João Augusto de Oliveira Muzanty foi governador da Guiné entre 1906 e 1909. Não encontro nenhum Fortes nem nenhum Lito de Magalhães na lista dos governadores da Guiné. Muzanty é, juntamente com Teixeira Pinto, um dos grandes protaganistas da "pacificação" da Guiné, tendo em sua honra sido erigida uma estátua em Bafatá. (...)

Antº Rosinha disse...

Este trabalho de José Martins é muito apropriado a este blog.

Pena que haja poucos registos à mão, ainda anteriores a este, desde a formação das fronteiras e o relacionamento com os "colon" vizinhos, Casamance e outros atritos.

Tudo ajuda a compreender melhor o que aconteceu aos Guineenses e até a toda a África, que ainda liga com a nossa "Guerra do Ultramar"

Este período que se seguiu à divisão em fronteiras coloniais de 1880 é um dos vários crimes (imposições, abusos, desrespeito, etc), a que no caso português, chamavamos "Pacificação".

O exemplo mais significativo registado dessa pacificação foi o caso de Gungunhana em Moçambique, régulo que foi preso e deportado para os Açores.

Quando falo em vários crimes, há quem diga que não foi crime os descobrimentos (achamento, Bras.)mas já os indianos nem querem ouvir falar em Vasco da Gama.

Também há quem diga que o comércio também não foi crime.

Mas contraditoriamente aos europeus modernos, para os africanos modernos, há certas imposições que tinham que ser aceites.

Aqui há tempos o nosso amigo de Fajonquito disse uma que não me esqueço.

Diz mais ou menos o Cherno: "Não digam que agora também vamos ter que aceitar o casamento Gay"?

Ai aguenta, aguenta!

Vai ser mais um crime? Colonial?
Sei não! como diz o brazuca.

Nunca me esqueço do que dizem africanos (pretos) desde aqueles que conheci como contratados do tempo colonial que vestiam uma pele de gazela e usavam arco e flecha, até aos africanos que foram das universidades de Lisboa, de Cuba, Rússia e Brasil.

Fui "colono" mas custa-me muito acabar de ouvir hoje que os angolanos estão zangados connosco.

Eu não tenho culpa.

Quando for no último capítulo do José Martins vou catalogar o que considero a somar a esta "pacificação" a outra meia dúzia de crimes europeus em África.



José Marcelino Martins disse...

Caro Luís

Face ao comentário que postaste e me endereçaste, li com atenção e passo a esclarecer:

O trabalho que intitulei “Para que a memória não se perca”, foi baseado no livro da autoria do Tenente-coronel Bello de Almeida, com o título MEIO SÉCULO DE LUTAS NO ULTRAMAR, e é uma edição da Sociedade de Geografia de Lisboa, em comemoração da semana das colónias em 1937.

O livro abrange as colónias de África – Angola, Guiné e Moçambique – além das colónias da Índia, Macau e Timor. Na parte que concerne à Guiné, a maior parte dos textos foram consultados na monografia das campanhas da Guiné, sob o titulo de “Tributos de Sangue”, escritos pelo Tenente do Exército Colonial António da Silva Loureiro e relatórios de operações, alguns transcritos para o Boletim Oficial da Província da Guine e/ou no Boletim Militar do Ultramar, que se encontram, julgamos, depositados no Arquivo Histórico Ultramarino.

Optamos por manter, os nomes dos locais e dos intervenientes, inalterados por não nos julgarmos com capacidade para os “actualizar” ou “localizá-los” no mapa dos “nossos tempos”.

É óbvio que notámos que, no decurso da escrita dos textos, haviam nomes que não nos soavam familiares ou que nos levantavam dúvidas, mas optamos por manter a mesma grafia.

Uma tentativa que fizemos, mas abandonamos, foi a identificação do governador da província, mas não nos foi possível obter a listagem “perfeita”. Observamos, sim, que houve governadores nomeados e que não foram empossados, governadores que se ausentavam e eram substituídos por “interinos”. Os títulos de”Capitães-donatários”, “Ouvidores-Gerais”, “Governadores de Praça ou Presídio”, “Governador da Província” misturam-se muitas vezes, ficando o leitor, muitas vezes, sem saber qual a função que lhe estava atribuída. Estamos certos de que muitos nomes surgem com a atribuição, mas na realidade muitos são “tão só” interinos ou substitutos temporários.

De notar, também, que muitos documentos que originaram a história que hoje nos chega às mãos, foram “retirados” de manuscritos diversos, efectuados por diversos copistas ou cronistas, muitas vezes executados nas situações menos satisfatórias. Os livros ao serem “dados à estampa”, isto é, ao serem impressos, podem sofrer alterações na sua composição, inclusive, pela omissão ou troca de letras, daí derivando erros ou omissões que, só mais tarde se encontrarão essas falhas.

Quanto aos governadores FORTES e LITO MAGALHÃES, não localizamos qualquer referência a esses “Governadores”.