segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13511: Notas de leitura (624): De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2014:

Querido amigos,
Assim se matam dois coelhos com uma só cajadada.
A Feira da Ladra continua a desvelar os seus tesouros, aqui fica o registo de outros belos desenhos de Eduardo Malta com motivos guineenses. O catálogo da exposição promovida pela Fundação Mário Soares, em 2000, e dedicada a Amílcar Cabral, após a operação de salvaguarda de documentos que corriam risco de se perderem ou ficarem irreversivelmente afectados, depois da guerra civil de 1998-1999, é um documento de incontestável valor, o meu propósito é repertoriar a documentação mais interessante para o curioso ou para quem se quer iniciar nos estudos guineenses.

Um abraço do
Mário


De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral

Beja Santos

Eduardo Malta no Porto e em Paris

Não é a primeira vez que falamos de Eduardo Malta e da Guiné.
Eduardo Malta é um dos artistas convidados para a Exposição Colonial do Porro, em 1934. É durante a exposição que Malta esboça belíssimos desenhos de gente da Guiné, Angola, Índia, Macau e Timor. Já que se reproduziram os desenhos que ele dedicou ao régulo Mamadu Sissé, que acompanhou Teixeira Pinto durante as campanhas de pacificação, da Rosinha, uma esplendorosa imagem em que captou a pose digna de uma elegante bajuda e em traje à europeia, o principesco Abdulai Sissé, num contido perfil de elegância e majestade. Por isso o reproduzimos aqui. Produto das incursões aos alfobres da Feira da Ladra, desta vez o encontro foi com o álbum de desenhos apresentado na Exposição Internacional de Paris, de 1937, um acontecimento do maior relevo para as artes plásticas europeias e onde Portugal participou com pavilhão próprio e mostra colonial. Vale a pena procurar no Google o Pavilhão Português na Exposição de 1937.
É desse álbum que reproduzimos agora o desenho de Inês, dançarina Bijagó, e de Chadi dançarino Bijagó. Confesso que o desenho da Inês aparece inultrapassável, o claro-escuro é sublime, o modo como o pano se prende no ventre só é possível a um grande artista, e a inclinação dos ombros é irrepreensível. Não direi o mesmo de Chadi, há ali qualquer coisa de esboço apressado, de uma simplificação redutora, fica-se com uma sensação de obra incompleta.

Capa do álbum de Eduardo Malta apresentado na Exposição Internacional de Paris, 1937

Desenho de Abdulai Sissé

Desenho de Inês, dançarina Bijagó

Chadi, dançarino Bijagó

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Sou um simples Africano…

No âmbito do Projeto de Salvaguarda dos Documentos de Amílcar Cabral, a Fundação Mário Soares apresentou uma exposição de documentos recuperados, tratados, digitalizados e fotografados pelo seu arquivo, tendo também utilizado documentos do acervo de Mário Pinto de Andrade e outros cedidos por Iva Cabral, filha de Amílcar. Decorrente do conflito de 1998/1999, muitos documentos de incontentável valor histórico estavam em sério risco, em adiantado estado de degradação, havia que encontrar meios técnicos, humanos e financeiros para obviar ao desaparecimento de tão significativo património.

A exposição mostra como foram tratadas mais de 7500 páginas de documentos, devidamente classificados e indexados antes da sua transferência para suporte digital. A exposição prossegue mostrando os familiares do líder do PAIGC. A sua adolescência, os seus estudos em Lisboa, os seus documentos científicos, depoimentos de colegas que avaliam os seus dotes profissionais.

Mostram-se depois alguns documentos elaborados em Conacri em 1960, Cabral assina Abel Djassi e escreve aos seus camaradas do PAI (antecessor do PAIGC): “Tomai atenção: Eu sou o vosso irmão, o vosso camarada de sempre, aquele que criou o PAI, o nosso Partido autónomo. Eu sou aquele que ama a agricultura. É preciso dizer aos nossos camaradas que estou aqui e que a nossa luta continua”. Seguem documentos e fotografias dos primórdios da luta anticolonial, reproduz-se a cópia do memorando enviado ao governo Português apelando à independência da Guiné, o manifesto aos cabo-verdianos residentes no Senegal, 1961, em que procura demonstrar que os cabo-verdianos são africanos e que devem lutar ao lado dos guineenses.
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13509: Notas de leitura (623): Os "Capitães Generais" e os "Capitães Políticos", por Tenente Coronel Luís Ataíde Banazol (José Manuel Matos Dinis)

1 comentário:

Anónimo disse...

Só mesmo o sr. Beja dos Santos, para juntar, num mesmo 'post', Eduardo Malta e Amílcar Cabral.
É de artista, sim senhor.
JCAS