domingo, 15 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14367: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (25): Motorizadas versus Motos... A minha potente Yamaha 200, que me custou 16 contos (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)



Guiné > Bissalanca > BA 12 > c. 1972/74 > A moto, Yamaha, de 200 cc,  do nosso camarada António Martins de Matos, ex-tenente pilav (BA12, 1972/74), hoje ten gen pilav ref, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2015). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos:

Data: 14 de março de 2015 às 21:49
Assunto: Motorizadas versus Motos


A propósito do P14365 (*)

Só na BA12 havia 4 destas, mais velozes que o vento, o problema eram os mosquitos, moscardos e correlativos a esborracharem-se no capacete.(**)
Abraço

AMM
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14365: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (24): Seria imperdoável não falar das motorizadas Suzuki, a marca nº 1, de então, sem desprimor para a Honda, e que o meu primo, Costa Pinheiro, vendia aos montes em Bissau (Carlos Pinheiro, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70)


(**) Vd. poste de 25 de setembro de  2010 > Guiné 63/74 – P7035: FAP (51): A noite mais perigosa da minha guerra (António Martins de Matos)

(...) Voltando ao combate da Bissalanca, uma verdade indiscutível é que depois de uma sardinhada é sempre necessário uma bebida forte, branca de preferência, sem a qual a digestão se torna lenta e difícil.

Lá para o fim do repasto o 1º Cabo Hélder, um dos meus mecânicos do Fiat G-91, chamou-me a um canto para que provasse a aguardente especial que a família lhe tinha mandado lá da terra.

Apenas saído desta prova e já o nosso amigo e futuro bloguista Victor Barata, não querendo ficar mal visto perante o pessoal das aeronaves de caça (sempre as rivalidades), me apresentou um medronho de primeira.

E depois foi o Miguel e o Mário, e o Correia, igualmente Cabos da Linha da Frente e a quem eu todos os dias confiava a vida ao entrar para um Fiat-G91 por eles devidamente abastecido, municiado e inspeccionado, cada um deles a tentar demonstrar que os bagaços das suas terras eram bem melhores que os restantes.

Por volta da meia-noite a batalha estava terminada, o inimigo completamente destroçado, era tempo de ir dormir, que no dia seguinte e apesar de ser domingo, a outra guerra continuava.

Só que depois de ter passado quase 1 ano a dormir no “Biafra” da Base, a minha cama estava agora a uns bons dez kilómetros de distancia, tinha passado a viver em Bissau, as razões que me levaram a fazer a troca foram duas, o ter constatado que nos últimos seis meses só tinha jantado “francesinhas” e, já que vivia na base, estar permanentemente de serviço, com alvorada às 05:30 (... já que moras na base ficas de alerta!!).

O regresso a casa não tinha qualquer problema, já que tinha como meio de transporte a minha moto, uma bela, potente e roxa Yamaha 200 a 2 tempos, comprada com 16 notas da Metrópole, ali para os lados do que chamávamos a Av. da Liberdade (a que ia do Palácio do Governador ao cais).

Cabe aqui um outro parêntesis para informar que a primeira vez que andei de moto foi no dia que a fui buscar ao stand.  Ao pretender saber como se metiam as mudanças o vendedor tão assustado ficou que não ma queria vender, só as D. Marias entregues ali mesmo e no momento o descansaram.

“Ó homem deixe-se de merdices, abra lá a porta do stand e saia-me da frente”, e assim entrei na confusão do trânsito de Bissau.

Voltando à história, ainda estive uma meia hora recostado naquelas grandes valas que existiam na Base para escoar a água das chuvas, a ver se conseguia contar as estrelas, que a maior parte delas não parava de oscilar.

A ideia era tentar alinhar os gyros e decidir se havia de me meter ao caminho ou não, o problema não era o balão, que nesse tempo não existia, nem as estrelas aos saltos mas sim o estranho caso da estrada estar a ficar ondulada, tipo jibóia (e não me venham cá dizer que não há jibóias na Guiné, que eu até as vi).

Após profunda meditação e analisando os prós e os contras, resolvi meter-me ao caminho. Lembro-me apenas de sair à porta de armas e de algum tempo mais tarde ter passado junto a um ou dois quartéis que existiam à beira da estrada, poucas referências para o trajecto de cerca de dez quilómetros.

Enquanto circulava de gás à tábua o meu pensamento não parava de me alertar para que ao chegar ao destino tinha que travar, travar... travar. E assim aconteceu, para além dos mosquitos, moscardos e correlativos a esborracharem-se com fragor no capacete, consegui fazer o percurso sem bater em nada nem em ninguém (ou não fosse eu um piloto de caça).

A terceira referência da viagem foi a porta do meu apartamento onde, a travar, a travar, acabei por vir a bater já muito devagarinho, mas ainda assim com algum estrondo. E tão contente fiquei de ter chegado (e parado) que nem sequer me lembrei que, como passo seguinte, tinha de pôr os pés no chão, trambolhão da moto abaixo, a 0km/h.

Na manhã seguinte fui voar com um braço todo entrapado e umas pastilhas para as dores, tomadas numa auto-medicação bem à revelia do médico, que um dos ombros estava em mau estado.

Felizmente que foi um dia muito calmo, acabei por só fazer uma missão, 40 minutos de voo, 2 bombas de 750 libras algures na Guiné, mais 2 buracos dos grandes, os que sabiam que os continuávamos a apoiar devem-nas ter ouvido... os outros certamente que não.

Hoje, passados 37 anos o vício das motos ficou, trambolhões só dei mais um, também a 0 km/h. E ficou a saudade dos bons momentos passados na Base da Bissalanca. (...)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarada

Ainda bem que o Luís repôs o texto do post anterior, pois não tinha tido oportunidade de ler.

E gostei.
Gostei porque, como de costume, o relato dos acontecimentos está perpassado daquele fino humor, da ironia, que caracteriza o relator.
E dei por mim a sorrir deliciado com as perspectivas que eram lá apontadas: a sucessiva prova das "pólvoras" que cada um ia apresentando (também quando passava alguns dias lá na minha aldeia tinha que me preparar para aguentar as várias provas para não dar 'parte de fraco' e mostrar que apesar de 'viver na cidade' - na verdade, era em Vila Franca, mas para os conterrâneos era tudo Lisboa - não deixava as 'origens' ficarem mal. Depois, também me diverti com a queda a 0/km, visualizando a cena sem grande esforço.

Quanto à motorizada, deixa que diga que era bem bonita. Pelo estilo e principalmente pela cor....

Lá, na Guiné, não tive nenhuma motorizada, embora tivesse andado numa "Honda", das pequenas, e numa "Yamaha" de que não me lembro muito bem como era mas não seria muito diferente dessa. Nenhuma era minha, mas sempre dei umas voltinhas.
Cá pela chamada "Metrópole" cheguei a andar numa "Pachancho", que até tinha uma 'carnagem' interessante, que era dum primo meu, e que sendo cerca de 4 anos mais velho que eu foi fazer a "comissão de serviço por imposição", em Moçambique e sempre que ia lá à aldeia eu aproveitava para fazê-la circular.
Mas não tenho nenhuma foto dela, e por isso não posso acorrer ao pedido que o Luís fez sobre "fotos com motos de fabrico nacional".
Da outra, na Guiné, ainda tenho uma foto mas vê-se mal a 'bichinha'...

Hélder S.

Luís Graça disse...

António: Só por uma questão de "precisão", a avenida que ia da praça do Império ao cais era a Av da República...

Quanto às bebidas "brancas", cuidado com elas... E o medronho, pior ainda...Também caí numna armadilha dessas, de fazer prova de medronhos.mo Algarve... De medronho em medronho até à vitória final!...Nunca mais lhe toquei, ao medronho...da tua terra.

Este relato dessa noitada em Bissalanca é de antologia!... Fui respescá-lo, muito justamente...