segunda-feira, 25 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14659: Filhos do vento (32): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": apontar o dedo ou dar a mão para ajudar? (Hélder Sousa / João Sacôto)

1. Comentário de Hélder Sousa [, ex-fur mil de trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente]:


Um conjunto de circunstâncias felizes permitiram-me ter estado presente. (*)

Gostei e não gostei.

Gostei da exposição fotográfica que serviu de 'motor de arranque' ao evento. É um conjunto de fotografias de grande categoria, com rostos expressivos, com paisagens e enquadramentos que nos fazem reviver e pensar. ´[É da autoria de Manuel Pedrosa

Gostei das explicações que foram dadas para a exposição e também, já agora, do que foi oferecido aos visitantes: cachupa, bolo de gengibre, bebida de manga com hortelã, camarão frito...






O festival Rotas & Rituais 2015, dedicada este ano aos 40 anos da descolonização e da independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa, está a decorrer em Lisboa, até ao dia 29 de maio. Ver aqui a página oficial.






Lisboa > Cinema São Jorge > Festival Rotas & Rituais, 2015 > 21 de maio de 2015 > "No foyer do Cinema São Jorge, Manuel Roberto mostra-nos as caras de 'Filhos do Vento', filhos que a guerra colonial fez nascer e depois esqueceu" (Fotos e legenda da página do Facebook do festival, reproduzidas aqui, no nosso blogue, com a devida vénia).[Sobre o Manuel Roberto, ver aqui a sua página pessoal no Facebook]

Gostei do facto de a Conferência ter tido uma razoável assistência, várias dezenas de presenças.
Gostei das intervenções dos membros do Painel: da Catarina, com o enquadramento justificativo e explicativo do que a motivou e também de como se emocionou com a sua viagem à Guiné (para nós isso já não constitui 'novidade'); da intervenção da Professora Margarida; do nosso camarada Luís Graça, que perspectivou, quanto a mim, o assunto (e as designações que têm vindo a causar algum 'desconforto' entre camaradas) em moldes correctos; a intervenção do ponto de vista do "direito" por parte de Rafael Reis.

Não gostei da forma como algumas intervenções da assistência, no período das questões, deturparam as ideias que foram expressas.

Por exemplo, em determinado momento o nosso camarada Jorge Cabral fez uma explanação sobre o seu entendimento de como surgiram casos como o que motivava a Conferência, terem nascido crianças em resultado de relações entre militares portugueses, metropolitanos em comissão de serviço, e mulheres guineenses.


Em nenhum momento sugeriu que seriam relações suportadas por situações do tipo de prostituição, antes pelo contrário, foi sublinhado que, no "nosso tempo",  esse tipo de 'actividade' tem indicações em Bissau, no "Cupilon", no "Chez Toi" e também houve referências a Bafatá, mas nada mais.

E não é que algumas outras intervenções, por "distracção", por ignorância, por "cartilha tipo cassete", por maldade, tentaram 'fazer passar' a ideia que os militares portugueses 'descartavam' os filhos por alegarem que eles seriam fruto de prostituição e não poderiam, naquela altura, assumir a paternidade ?!

Felizmente que uma guineense, com grande nível, ajudou a colocar as coisas na verdadeira perspectiva, mas lá que fiquei a 'desgostar' da forma como ainda hoje, em vez de se procurar encontrar a solução possível para a situação dessas pessoas "sem Pai", se faça mais foco na procura de 'culpabilidades' impossíveis de determinar.

Mas valeu a pena!
Hélder S.

2. Sobre este tema também comentou o João Sacôto (*) 

[ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)]

Infelizmente, não estive presente, porém é, para mim, fácil entender a opinião do Hélder Valério, no que toca às coisas de que não gostou. Também não gosto de ouvir certas correntes de opinião que insistem em culpabilizar sistematicamente os comportamentos de jovens em vivências tão incomuns e extraordinárias. Direi mais, esses comportamentos teriam sido muito diferentes se vividos pelos mesmos em tempo de paz mas afastados do seu ambiente habitual?


3. Novo comentário do Hélder Sousa (*):

Meus amigos, motivado pela observação do Gabriel,  ainda acrescento mais alguns aspectos, sendo certo que o cerne da questão não é mais do que saber se aquelas crianças de então, adultos de hoje, têm direito a conhecer o progenitor e, já agora, por extensão, se têm direito à nacionalidade portuguesa [, tema que esta semana é objecto de uma sondagem do blogue].

Começando pelo fim a resposta só pode ser sim. 

Então não é verdade que eles são portugueses por nascimento, na medida em que isso ocorreu em território sob administração portuguesa? Isso só vale quando convém para diabolizar o que se quiser? Este aspecto é uma questão do Direito e competirá ao Estado (aos Estados) resolver.

Agora, se os progenitores (estou sempre a distinguir 'progenitor' de 'pai') estão ou não em condições de assumir essa paternidade, isso é muito mais complicado.

É uma decisão, uma atitude, do foro íntimo e, se não foi tomada antes, dificilmente poderá ser tomada agora. Já muita água correu debaixo das pontes....

E nem sabemos (nem poderemos saber e, na realidade, também só poderemos especular) os motivos porque antes não foi feito. Admito que em alguns casos até possa ter havido desconhecimento da gravidez, mas também sabemos de vários outros que não foi assim e aqui entraram outros preconceitos a funcionar.

Quanto a mim, este assunto tem estas duas vertentes: a 'nacionalidade' e a 'paternidade'.

Lateralmente às vezes leva-se a discussão para outros aspectos como o da sexualidade desbragada, da violação, etc., e sempre centrados nos jovens militares metropolitanos mas, propositadamente, ou não, omitem-se outras 'abordagens, como a dos relacionamentos de soldados africanos 'deslocados' territorialmente. 

Além disso também se poderia inquirir, tal como o Gabriel indica, como seria um relacionamento "em tempo de paz", como é que se passa agora com os "cooperantes". Como é que os jovens metropolitanos de então se relacionavam nas suas aldeias e vilas. Como haviam tantos "filhos de pais incógnitos" por essas terras.

Hélder S.
__________________

Nota do editor:


Vd. também  poste de 21 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14642: Agenda cultural (400): Conferência "Filhos da Guerra", Festival Rotas & Rituais, 2015, Lisboa, Cinema São Jorge, 6ª feira, 22, 19h30... Participantes: Catarina Gomes (moderadora), Margarida Calafate Ribeiro (Os netos que Salazar não teve), Luís Graça (Que guerra se conta aos filhos?) e Rafael Vale e Reis (Filhos do vento: direito ao conhecimento das origens genéticas?)... Entrada gratuita... Às 18h, inauguração de exposição sobre o tema

17 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro amigo João Sacôto

Não sei porque "carga d'água" fui escrever "Gabriel", quando devia ter escrito, claramente, como faço agora "João Sacôto".
Vá lá entender-se estas coisas!
É que tinha a ideia que é "João Gabriel Sacôto" e, por redução e por ser menos comum, saiu "Gabriel".
Mil perdões pelo eventual transtorno.

Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

João Gabriel Sacôto... Está correto. Na Tabanca Grande é só tratado por João Sacôto... Ab. Luis

Luís Graça disse...

NMensagem enviado pelp correio interno da Tabanca Grande:

Assunto Sondagem sobre os "nossos filhos da guerra"... É importante, camarada, que dês a tua opinião
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25 maio 2015

Camaradas:

1. Não é fácil falar, com serenidade, objetividade e rigor, deste tema: os "nossos filhos da guerra" (pessoalmente, prefiro esta expressão)...

Estamos a falar de filhos de portugueses que passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974, em geral no âmbito do cumprimento de uma missão de serviço militar... Haverá, por certo, também filhos de pessoal civil (por exemplo, comerciantes, administradores, etc.)...

Independemtente do direito à procura e conhecimento do progenitor (pai biológico) e até do reconhecimento da paternidade, há uma questão sobre a qual se começa a fazer um consenso: estes homens e mulheres, hoje na casa dos 40/50 anos, são filhos de portugueses e, como tal, deveriam poder ter "acesso à nacionalidade portuguesa"...

Se há um reparação que, na maior parte dos casos, ainda se pode fazer ao fim destes 40/50 anos, é o reconhecimento pelo Estado português da origem portuguesa destes "nossos filhos da guerra"... Como isso se faz, é já um problema técnico, jurídico e político, que nos ultrapassa...

De qualquer modo, como simples membro desta Tabanca Grande, também defendo que "mais do que apontar o dedo, é preciso estender a mão para a ajudar"... A exposição fotográfico do Manuel Roberto interpela-nos a todos, é "obrigatório" ir vê-la no Cinema São Jorge...

Vd. também a propósito o último poste da série "Filhos do vento"...

25 DE MAIO DE 2015 > Guiné 63774 - P14659: Filhos do vento (32): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": apontar o dedo ou dar a mão para ajudar ? (Hélder Sousa / João Sacôto)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/05/guine-63774-p14659-filhos-do-vento-32.html

2. Sobre este tema é importante, camarada, camarada, que dês a tua opinião, respondendo à sondagem sobre os "nossos filhos da guerra"... (Vd. no blogue, ao alto, na coluna do lado esquerdo... Resposta "on line". Os comentários podem vir por email, que depois publicamos em poste).

Não deixemos que sejem os "outros" a mandar "bitaites"...

Um alfabravo para todos. Luís Graça

Anónimo disse...

João José de Lima Alves Martins
25 maio 2015 12:56

Amigo e camarada Luís Graça

Bem sei que não é políticamente correto, mas, como não sou mentiroso e sempre defendi a verdade, embora, durante a minha vida tenha mentido, mas espero que tenham sido mentiras sem consequências de maior, não posso deixar de pensar que estivemos na Província Ultramarina da Guiné, território tão português como o Algarve, a Madeira, os Açores, e muitos outros territórios ultramarinos, pelo que, considero, os seus naturais e seus descendentes tão portugueses como eu, e é dessa maneira que os trato quando os tenho pela frente.
Lamento é que, com a tal descolonização, tenhamos ficado, e refiro-me à grande maioria, mais pobres, mais endividados, e mais "colonizados", pelos grandes interesses internacionais contra os quais combatíamos e continuamos a combater e que nos derrotaram.
Face a esta perda de direitos e de poder de compra que nos afeta, considero que a "solidariedade" não deve ser um sentimento para "meter na gaveta", e devemos assumir as nossas responsabilidades para com todos estes nossos concidadãos com um passado histórico comum, devendo votar em partidos que os defendam, se é que existem..., e muito particularmente, que defendam esses nossos descendentes a que te referes, que têm sangue bem lusitano correndo em suas veias.
Grande abraço de alguém que teve a sorte de conhecer a Guiné como poucos... e apaixonar-se por aquelas gentes francas, sinceras, gentis e amigas...

João Martins

Anónimo disse...

Defenderei até à morte a honra e a dignidade dos Combatentes Portugueses na Guiné.Filhos de Portugueses e de Mulheres Guineenses,claro que existiram.Seria interessante averiguar quanto filhos de pai incógnito,nasceram no mesmo período em Portugal. Concordo que os todos os Filhos sem nome de Pai,devem ter o direito de conhecer a identidade do respectivo Progenitor.Claro que ser Progenitor e ser Pai,constituem realidades diferentes. Abraço! J.Cabral

Luís Graça disse...

Hélder, obrigado pelo teu preciosíssimo relato do que se passou na conferência...

Devo confessar que a sala era absolutamernte inadequada para uma "conversa em família" sobre este tema, que tem a sua delicadeza e que não pode ser debatido em clima de paixão, em grandes eapaçoa... Requer, por outro lado, capacidade para ouvir e saber ouvir... o outro, os outros...

Nós comunicamos mal, nós, ex-combatentes da guerra colonuial, e em especial da malta da Tabanca da Grande... Os "outros" comunicam ainda pior por que, na maior parte dos casos, não sabem do que falam...

Detesto o "facebuquês" em que alarvemente todo o mundo fala de tudo, e muitas vezes com demagogia, falta de pudor e com total impunidade...

No nosso blogue, ao mnenos ainda há vários "filtros" e sobretudo há uma política editorial...

Confesso que não gostei da sala (de cinema!), e pior ainda do sistema de som... Com alguns problemass já de acuidade auditiva (, a idade não perdoa!), não consegui acompanhar todo o debate, nem sequer ouvi bem as comunicações das minhas colegas do lado direito...

Por isso o teu resumo foi precioso... Haverei de voltar ao assunto... LG

Anónimo disse...

antonio damaso
25 mai 2015 14:12

Caros amigos

Este assunto é muito melindroso, toca com mentalidades machistas em que os protagonistas se vinham vangloriar que tinham deixado um ou mais filhos.

Todos sabemos da dificuldade existente em partilhas de ninharias entre filhos legítimos, daí a resistência entre descendentes e conjejes em admitir mais um herdeiro.

Estes seres humanos não querem herdar nada, só querem ter direito legítimo a saber quem è ou foi o seu pai.

Cabe aos promotores, alertar a opinião pública para que os supostos pais ponham a mão na consciência e reparem um lapso da contigência da guerra antes de falecerem.

Não se esqueçam que fator tempo é muito importante.

Eu pessoamente não tenho conhecimento de nenhum caso.

Com o devido respeito um AB
A Dâmaso

Torcato Mendonca disse...

Eu subescrevo o que diz o Jorge Cabral.

Para mim não entendo porque aparece aquela Sondagem;

O que ouvi é uma dissertação genérica e ,francamente, gostava de ter tempo e saúde para responder á questão dos filhos da guerra e porque não aos filhos da "paz" existente em séculos de colonização.

Eu e muitos camaradas tivemos relações sexuais com mulheres da terras por andamos enquanto militares.: - na Europa e em Àfrica. Parece-me ser a prática de um acto natural.

Parece que existe aqui, com alguma relevancia, um caso de nacionalidade. Será? Páro aqui e tentarei responder ou, melhor, dizer o que penso sobre este assunto secular.

Tenho um contra, não ententendo o "racismo"...para mim há os humanos e as diferentes cores etc ´s os valoriza.

Finalmente não carreguem mais nos militares do meu País...já fomos suficientemente humilhados, ofendidos e tivemos as nossas vidas destroçadas, adidas ou que lhes queiram chamar

O meu abraço, Torcato Mendonça ex soldado do Exército Português

JD disse...

Camaradas,
A questão é muito delicada e, presumo, deve ser tratada sem que se criem falsas expectativas e graves perturbações.
Na presunção de que ainda haverá muitos combatentes vivos com descendência na Guiné, também não me parece razoável que se façam denúncias de casos supostamente conhecidos. Passados 40 a 50 anos, só os filhos nunca se sentiram com vida estruturada, mas colocá-los perante a amargura de não serem reconhecidos, será o maior trauma que pode vitimar um ser humano.
O Blogue, e outras pessoas de boa intenção, já deram indicações de filhos do vento, às vezes com identificação dos pais. Assim, aqueles que tomaram conhecimento e sentiram necessidade de se apaziguarem, já terão dado os passos necessários com vista ao reencontro.
Quanto à questão da nacionalidade, já é outra coisa, muito mais fácil de decidir, quanto a mim, mas muito mais dificil quanto ao Estado. Sou também da opinião que devia ser concedida a nacionalidade a todos os que comprovadamente a solicitassem. Diz o João José que são todos filhos de Portugal. Alguém tem dúvidas? Só que estão tão deslocados do "jardim", e dependentes de raízes que entretanto desenvolveram, que na ausência dos pais, pouco proveito poderão receber.
Mas sou claramente pela concessão da nacionalidade. O Estado deve assumir as suas obrigações.
JD

José Botelho Colaço disse...

Nós comunicamos mal, nós, ex-combatentes da guerra colonuial, e em especial da malta da Tabanca da Grande... Os "outros" comunicam ainda pior por que, na maior parte dos casos, não sabem do que falam...
Copiei este parágrafo do comentário do Luís Graça por concordar, pois ao ouvir gafes de certos oradores a falarem por cábulas é de clamar ao Céu.

Um abraço
Colaço.

Luís Graça disse...

O jornal Público tem uma reportagem sobre os "filhos do pó", expressão (ainda muito menos poética que a nossa expressão "Filhos do vento") para designar os filhos dos soldados norte-americanos que passaram pelo TO do Vietname... Aprendamos com os erros e os sucessos da experiência norte-americana de lidar com os "filhos da guerra"... Aqui vão alguns excertos, com a devida vénia ao PÚblico... LG

________________


Vietname: Os filhos do pó

ANNIE GOWEN (texto) e LINDA DAVIDSON (fotografia)


http://www.publico.pt/mundo/noticia/os-filhos-do-po-1693279#


(...) "Os filhos abandonados pelos soldados americanos no Vietname cresceram com o inimigo no rosto, foram ostracizados, muitos acabaram nas ruas como sem-abrigo. Uma americana-asiática criou a Operação Reunificar e acredita que testes de ADN podem ser a última esperança para juntar pais e filhos. Mas nem todas estas histórias têm um final feliz." (...)

Quando o último contingente militar americano deixou a antiga Saigão — actual Cidade de Ho Chi Minh — entre 29 e 30 de Abril de 1975, deixou também um país com as cicatrizes da guerra, um povo sem saber do seu futuro e milhares de filhos. Estas crianças — metade negras, metade brancas — foram fruto de ligações amorosas com empregadas de bar, com “hooch” (como eram conhecidas as vietnamitas que limpavam as instalações militares americanas), com engomadeiras e com as mulheres que enchiam os sacos de areia que protegiam as bases americanas. Chegam agora à meia-idade com histórias tão intricadas como as dos dois países que lhes deram vida. Cresceram com o inimigo no rosto, foram cuspidas, ridicularizadas, sovadas. Foram abandonadas, enviadas para longe para viverem com outros membros das famílias ou vendidas como mão-de-obra barata. As famílias que ficavam com estas crianças eram muitas vezes forçadas a mantê-las escondidas e a raparem-lhes os cabelos louros ou os caracóis que as denunciavam. Algumas foram enviadas para programas de reeducação em campos de trabalho forçado ou acabaram como sem-abrigo a viver nas ruas.

Eram conhecidos como “bui doi”, o que significa “filhos do pó”. Quarenta anos depois, muitos continuam no Vietname, demasiado pobres ou sem qualquer prova que lhes permita candidatarem-se ao Amerasian Homecoming Act, uma lei de 1987 que deu estatuto de imigrante americano aos filhos de soldados americanos. Agora, um grupo de americano-asiáticos (amerasian, na expressão inglesa que resulta da fusão das palavras “americano” e “asiático”) acaba de se lançar numa última tentativa para reconciliar pais e filhos com o apoio de uma nova base de dados de ADN num site de genealogia.

Os que ficaram para trás têm pouquíssima informação sobre os seus pais — a maioria da documentação e das fotografias foram queimadas sob o regime comunista e as memórias foram sendo apagadas. É por isso que a única esperança está nos testes de ADN. (...)


Mais de 3 mil órfãos vietnamitas foram retirados do caos que se viveu nos últimos dias da guerra. A vida mudou com a lei de 1987, que permitiu a 21 mil americano-asiáticos e mais de 55 mil membros das suas famílias ficarem nos Estados Unidos. Os “filhos do pó” tornaram-se de repente “filhos de ouro”. Houve vietnamitas com posses a comprar americano-asiáticos para logo a seguir os abandonar mal chegavam aos Estados Unidos, diz Robert S. McKelvey, antigo marine e psiquiatra infantil, autor de The Dust of Life: America’s Children Abandoned in Vietnam (numa tradução literal “Os Filhos do Pó: As Crianças da América Abandonadas no Vietname”).

Foi em parte por causa de fraudes como esta que os Estados Unidos apertaram as regras de acesso à imigração e em resultado a atribuição de vistos teve uma descida drástica. No ano passado, foram atribuídos 13. (...)

Anónimo disse...

António José Pereira da Costa
25 maio 2015 18:21

Ora,Camarada,
Acabaste de tocar no ponto.
Nada de sentimentalismos, o problema está mesmo em que deveriam poder ter "acesso à nacionalidade portuguesa"...

E mais nada!...

É desonesto disfarçar um objectivo (legítimo?), discutível, diga-se o que se disser, com a exploração do "politicamente correcto".

Já estou com o capacete para mais um inquérito.

Estes inquéritos valem o que valem e, por mim não creio que tenham efeito para a causa, mas...

Olha, um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Além do que já disse quero acrescentar que não devemos andar a autoflagelar-nos a propósito dos pecados e erros que cometemos na "guerra". Faço minhas as palavras do J. Cabral que levanta a questão dos "filhos e filhas de pai incógnito" que tantos havia no Portugal do nosso tempo e não beneficiaram de qualquer protecção especial. Porquê agora? Já se estende o conceito aos civis portugueses? O que é que se pretende?
Já disse que devemos separar os sentimentos das manobras burocráticas inerentes ao reconhecimento da nacionalidade. Por mim, entendo que a nacionalidade seja atribuída se e só se houver um putativo pai que assuma "urbe et orbi" e especialmente no interior da sua actual família que é pai de alguém (hoje com quarenta e tal anos) que, tendo nascido na Guiné, se reivindique filho de militar português. De outro modo há algo que não me soa bem neste "fenómeno" ou neste ataque de fraternidade.
Um Ab.
António J. P. Costa
PS: Não se esqueçam de que o número de filhos abandonados pelos soldados portugueses, na Guiné, é (felizmente) residual.

jpscandeias disse...

Camaradas!
Uma pequena reflexão. Num país em que as crianças nascidas nas décadas de 40/50, foram as que estiveram presentes nos TO das 3 províncias, era frequente encontrar nos BI a referência na filiação- filho de pai incógnito, não é pois muito de estranhar que essa "cultura" fizesse "escola" na Guiné. Por cá era normalmente um homem abastado que seduzia uma jovem ingénua, ambiciosa, necessitada, ou mesmo apaixonada. A pergunta que eu me ponho quando leio aqui no blogue sobre este assunto é se houve algum caso conhecido da assunção da paternidade de algum militar português independentemente da sua patente. Penso que o não assumir de responsabilidades foi transversal. Era, e talvez ainda o seja, a cultura dominante. É bom recordar que foi necessário legislar para acabar com os filhos de pai incógnito.

João Silva

Anónimo disse...

José Martins
25 maio 2015 23:55


Já votei.

Alfa Bravo

Zé Martins

Anónimo disse...

João José de Lima Alves Martins
26 mai 2015 01:23

Luís Graça

Lutemos por um espaço lusófono de entreajuda entre povos com origens diferentes mas que se expressam na mesma língua e acabam por ter a possibilidade de uma comunicação, de um diálogo, de uma sintonia, que nos afasta de outros povos com passados históricos e experiências bem diferentes.
Haverá no caminho muitos espinhos, mas, a beleza e o perfume das rosas sairão vitoriosos, e o bom senso, virá ao de cima e apagará todos os mal-entendidos.
Até sempre camarada e um cordial abraço.

João Martins

Anónimo disse...


Joaquim Luis Mendes Gomes
26 mai 2015 05:53

Donde nos vem o sangue que corre nas nossas veias, nestas terras de Portugal, mais de oito séculos de história ?

Com invasões de povos das mais variadas origens. Esta amálgama rica e colorida que teceu a nossa raça e nos afirma como povo.

Não hesito um instante só em reconhecer àqueles filhos o direito incondicional de aceitarem e reaverem a paternidade de quem os gerou...


Um abraço

Joaquim Luís Mendes Gomes