quarta-feira, 27 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14670: Filhos do vento (35): "Não nego a existência de 'filhos da guerra', mas defenderei sempre a dignidade dos combatentes portugueses" (Jorge Cabral) / "Sempre considerei e tratei os/as guineenses como sendo tão portugueses/as como eu" (João Martins) / "Sou claramente pela concessão da nacionalidade, o Estado que assuma as suas obrigações" (José Manuel Matos Dinis)

1. Comentário de Jorge Cabral (*) [, foto à esquerda, alguns anos atrás: ao lado da sua aluna da licenciatura de serviço social,  Beni Barbosa Ferreira, guineense, nascida em Bissau em 1980; jurista, especialista em direito penal, professor universitário reformado da Universidade Lusófona]:


Defenderei até à morte a honra e a dignidade dos Combatentes Portugueses na Guiné. Filhos de Portugueses e de Mulheres Guineenses,claro que existiram. Seria interessante averiguar quanto filhos de pai incógnito,nasceram no mesmo período em Portugal.

Concordo que os todos os Filhos sem nome de Pai devem ter o direito de conhecer a identidade do respectivo Progenitor. Claro que ser Progenitor e ser Pai constituem realidades diferentes. 

Abraço! Jorge Cabral


2. Comentário do João Martins (*) [, foto à direita, em 1978, em 

São Martinho do Porto; ex-alf mil art, do BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/70)]


Amigo e camarada Luís Graça:

Bem sei que não é políticamente correto, mas, como não sou mentiroso e sempre defendi a verdade, embora, durante a minha vida tenha mentido, mas espero que tenham sido mentiras sem consequências de maior, não posso deixar de pensar que estivemos na Província Ultramarina da Guiné, território tão português como o Algarve, a Madeira, os Açores, e muitos outros territórios ultramarinos, pelo que, considero, os seus naturais e seus descendentes tão portugueses como eu, e é dessa maneira que os trato quando os tenho pela frente.

Lamento é que, com a tal descolonização, tenhamos ficado, e refiro-me à grande maioria, mais pobres, mais endividados, e mais "colonizados" pelos grandes interesses internacionais contra os quais combatíamos e continuamos a combater e que nos derrotaram. 

Face a esta perda de direitos e de poder de compra que nos afeta, considero que a "solidariedade" não deve ser um sentimento para "meter na gaveta", e devemos assumir as nossas responsabilidades para com todos estes nossos concidadãos com um passado histórico comum, devendo votar em partidos que os defendam, se é que existem..., e muito particularmente, que defendam esses nossos descendentes a que te referes, que têm sangue bem lusitano correndo em suas veias.

Grande abraço de alguém que teve a sorte de conhecer a Guiné como poucos... e apaixonar-se por aquelas gentes, francas, sinceras, gentis e amigas...

João Martins

PS - Lutemos por um espaço lusófono de entreajuda entre povos com origens diferentes mas que se expressam na mesma língua e acabam por ter a possibilidade de uma comunicação, de um diálogo, de uma sintonia, que nos afasta de outros povos com passados históricos e experiências bem diferentes.
Haverá no caminho muitos espinhos, mas a beleza e o perfume das rosas sairão vitoriosos, e o bom senso virá ao de cima e apagará todos os mal-entendidos.


3. Comentário de José Manuel Matos Diniz (*) [ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), "amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço"; ex-quadro técnico da Diamang, Angola, 1972/74; membro de longa data da Tabanca Grande, mãe de todas as tabancas]


Camaradas,

A questão é muito delicada e, presumo, deve ser tratada sem que se criem falsas expectativas e graves perturbações.

Na presunção de que ainda haverá muitos combatentes vivos com descendência na Guiné, também não me parece razoável que se façam denúncias de casos supostamente conhecidos. Passados 40 a 50 anos, só os filhos nunca se sentiram com vida estruturada, mas colocá-los perante a amargura de não serem reconhecidos, será o maior trauma que pode vitimar um ser humano.

O Blogue, e outras pessoas de boa intenção, já deram indicações de filhos do vento", às vezes com identificação dos pais. Assim, aqueles que tomaram conhecimento e sentiram necessidade de se apaziguarem, já terão dado os passos necessários com vista ao reencontro.

Quanto à questão da nacionalidade, já é outra coisa, muito mais fácil de decidir, quanto a mim, mas muito mais dificil quanto ao Estado. Sou também da opinião que devia ser concedida a nacionalidade a todos os que comprovadamente a solicitassem. 

Diz o João José que são todos filhos de Portugal. Alguém tem dúvidas? Só que estão tão deslocados do "jardim", e dependentes de raízes que entretanto desenvolveram, que na ausência dos pais, pouco proveito poderão receber.

Mas sou claramente pela concessão da nacionalidade. O Estado deve assumir as suas obrigações. (**)

______________

Notas  do editor:

(*) Último poste da série > 25 de maio de  2015 > Guiné 63774 - P14659: Filhos do vento (32): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": apontar o dedo ou dar a mão para ajudar ? (Hélder Sousa / João Sacôto)

(**) Último poste da série > 27 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14667: Filhos do vento (34): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": vídeo com a intervenção da jornalista Catarina Gomes

9 comentários:

Luís Graça disse...

Há dias, no cinema São Jorge, fui encontrar o nosso "alfero Cabral" que, militantemente, fizera questão de comparecer na conferência (que nome pomposo!) ou painel sobre os "filhos da guerra"... Apesar de estar adoentado, por causa de uma maldita bactéria que os médicos não descobriram qual seja, mas que só pode ser oriundo das bolanhas do Rio Geba Estreito, enter Fá Mandinga e Missirá... Pois o nosso "alfero Cabral", pela primeira vez e em tom de confidência falou-me de um comportamento aditivc que atacava as bajudas e as mulheres grandes, lá no leste, no tempo da guerra, e a que ele chama a "alferofilia"...Confesso que estive a consultar a lista das doenças mentais, e não encontrei o raio da "alferofilia"... Encontrei outras "filias" e "ismos": Perturbações de identidade de género, Transexualismo, Parafilias, Fetichismo - Travestismo, Pedofilia, Exibicionismo, Voyeurismo, Masoquismo e sadismo...

Talvez ele um dia destes, quando estiver melhor, nos queira elucidar, de preferência através de mais um edificante "estória cabraliana", o que é ou era isso da "alferofilia"... Não vos vou tirar, caros leitores, o prazer de descobrir, em primeira mão, o significado da palavra...

As melhoras, "alfero"... E deixa-me dizer-te que também concordo contigo: o pobre do tuga, na Guiné, estava longe de ser um "emprenhador compulsivo" obedecendo ao desígnio nacional de mestioçar a África negra ...mesmo sabendo que no teu glorioso destacamento e tabanca de Fá Mandinga havia preservativos LM (Laboratório Militar) que tu, em vez de distribuires aos militares da tropa (brancos e pretos), davas aos "djubis" (canalha, putos...) para fazer balões...

Luís Graça disse...

A sério, "alfero", temos saudades das tuas estórias cabralianas. Volta, que estás perdoado... Num país, que não tem sentido de humor (a não ser o da alarvice), corremos às vezes o risco de sermos mal lidos e pior interpretados...

Além das tuas ex-alunas, tens aqui muitas casas de família (avós, filhos/as e netos/as) que são fãs das tuas "estórias cabralianas", e que ainda esperam a gloriosa manhã em que irás anunciar, no nosso blogue, o dia, a hora e o local do lançamento do teu tão ansiado livro (que já tem prefácio, há muito, da minha lavra, a teu pedido...).

Há expetivas que não podem ser defraudadas... Não as da História com H grande, mas as da "petite histoire", que afinal são aquelas que levamos para a cova quando morrermos com uma barrigada de riso... Não há morte macaca mais humana do que essa, de morrer com uma barrigada de riso...

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Efectivamente, a questão é muito delicada e, presumo, deve ser tratada sem que se criem falsas expectativas e graves perturbações.

Contudo, já não haverá muitos combatentes vivos com descendência na Guiné e também, a mim não me parece razoável que se façam denúncias de casos supostamente conhecidos. Acho até perigoso que se façam denuncias deste tipo, pelos motivos mais variados, mas que facilmente determinamos.
Por outro lado, concordo que passados 40 a 50 anos, só os filhos nunca se sentiram com vida estruturada, mas colocá-los perante a amargura de não serem reconhecidos, será o maior trauma que pode vitimar um ser humano.

Não sabia que o Blogue, e outras pessoas de boa intenção, já deram indicações de filhos de ex-militares, às vezes com identificação dos pais. Assim, aqueles que tomaram conhecimento e sentiram necessidade de se apaziguarem, já terão dado os passos necessários com vista ao reencontro.
É abusivo ir perseguir os que assim não entenderam...

Quanto à questão da nacionalidade, já é outra coisa. Considero-a muito mais difícil de decidir e ainda muito mais difícil, quanto ao Estado.
Também sou também da opinião que devia ser concedida a nacionalidade a todos os que comprovadamente fossem filhos de militares portugueses. Deveria ser necessário apresentar prova cabal de paternidade e na~por simples "declaração" ou documento similar. Sabemos que o número de candidatos não seria - nem poderia ser - grande. Será mesmo e nós sabemo-lo bem quase residual

Tendo estado tanto tempo e tão deslocados do "jardim", e dependentes de raízes que entretanto desenvolveram, que na ausência dos pais, pouco proveito poderão receber.Por isso parece-me demagógico que se considere que são todos filhos de Portugal. Por mim tenho dúvidas.
Cuidado com "O Estado deve assumir as suas obrigações"! O Estado não foi lesto a assumir as sua obrigações para com os combatentes necessitados e além disso o "Estado" parece que somos todos nós...
A concessão da nacionalidade será apenas um gesto de simpatia e de sensibilidade por parte dos pais, mas não deverá conceder (burocraticamente) mais do que concede a outros naturalizados.
Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

PS: Peço desculpa por ter pirateado o post do Matos Dinis, mas isto já não é o que era.
Um Ab.

Luís Graça disse...

Pode o Estado português ter dois pesos e duas medidas ?

Demos oportunidade aos nossos camaradas guineenses (, falo apenas da Guiné e do que vi e sei), de poder optar pela nacionalidade portuguesa antes da transferência de soberania para o PAIGC ?

Julgo que esse problema foi posto a alguns quadros (oficiais e sargentos), de tropas especiais, nomeadamente do batalhão de comandos africanos... Ao que parece, eeles preferiram ficar na "sua terra", a maior parte deles... Outros tiveram fugir mais tarde para salvar a pele, e vivem hoje (mal) em Portugal...

Mas, aos muitos milhares de soldados do recrutamente local, que fizeram juramento de bandeira, que lutaram ao nosso lado..., houve igualdade de tratamento ?

Estou-me a lembrar os soldados guineenses (uma centena na altura) da minha CCAÇ 2590/CCAÇ 12 ? Ou de outras companhais que faziam orguklhosamente parte da "nova força africana" criada por Spínola... Tiveram igual oportunidade de optar, entre fciar ou partir ? Nem sequer lhes foi posta essa hipótese, como mero exercício teórico... Imagino eu, já que não estava lá em 1974...

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada
Este texto é capaz de não ser muito politicamente, mas parece-me lógico.
Peço desculpa, mas não há semelhança entre os tais "filhos do vento" gerados pelos "tugas" (o que eu gosto desta alcunha! Não é tão ternurenta?) em camponesas guineenses seduzidas ou (porque não dizê-lo?) oferecidas e os militares - milícia, exército e armada (creio que a FAP nunca teve militares do recrutamento local) No fundo, sabia-se como é que tudo iria acabar, digo eu...
Os filhos dos ex-militares portugueses podem ter tido dificuldades em se inserir na sociedade ou até terem sido vitimas de boicote, exclusão ou outra forma de bulling social, mas hoje, passados 40 a 50 anos é pouco provável que alguém se lembre disso.
Se não se lembram do sofrimento dos combatentes, como podem lembrar-se de um número tão reduzido de concidadãos?
Os combatentes deveriam ter sido alvo de atenção especial por parte do Partido, mas tê-lo-ão sido?
E os que combateram do nosso lado e por lá ficaram, acabaram usados como mecanismo de amostra do que seria o Partido capaz de fazer. É necessário manter as massas obedientes. Como não interessa.
Porque seria que o PAIGC não meteu os ex-combatentes em barco e não os desembarcou-os em Lisboa?
No fundo, uma espécie de "Ponta de Sagres" avant la têttre.
Um Ab.
António Costa

Anónimo disse...



A minha opinião sincera é que todos esses filhos da guerra fossem reconhecidos como portugueses com todos os direitos legais. Reconhecidos pelos próprios pais a mim afigura-se-me bastante problemático. Uns já não estarão vivos, para muitos outros porque os anos de afastamento já são muitos, porque há preconceitos de que a nossa sociedade nunca os ajudou a libertarem-se, e porque há interesses e preconceitos da família que por cá constituíram.
Neste tempo de crise e das grandes migrações dos esfomeados e desamparados da Terra dos países do Sul (África e Ásia) seria uma grande ajuda que daríamos a esses nossos irmãos africanos, pelo menos podíamos evitar que morressem afogados nesse grande caldeirão que se está a transformar o mar Mediterrâneo.
Chegados a Portugal teriam sempre algum governante solícito a recomendar-lhes que emigrassem pois por cá o trabalho é raro, mal pago também e os seus familiares já há longo tempo que receberam este sábio conselho.
Tenho muito respeito por todos essas mulheres e homens que hoje gostariam de conhecer os pais. Mas também tenho que reconhecer que o "grande povo", a ralé, deste Portugal encantado, só na aparência continua a ter um melhor tratamento do que há cinquenta anos

Um grande abraço

Francisco Baptista

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... a José Cabral, a José Dinis, aos comentadores deste tópico, o meu aplauso.
Muito Bem!!!

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Mais uma vez podemos concluir que este tema não tem muito sentido.
Reparem no número de votantes em relação com o número de participantes no blog. Isto não quer dizer nada? Ainda não é tempo de férias!
Já agora volto ao questionário: não é usual começar coma as perguntas com resposta pela positiva do tipo "concordo com muita força" e "concordo muito" e guardar as perguntas com resposta pela negativa para o fim?
Um Ab.
António Costa