quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15410: Notas de leitura (779): "Combater duas vezes: as mulheres na luta armada em Angola", da antiga combatente do MPLA e hoje antropóloga Margarida Paredes (Vila do Conde: Verso da História, 2015)





Capa e contarcapa do livro de Margarida Paredes, antiga combatente do MPLA e hoje antropóloga, "Combater duas vezes: as mulheres na luta armada em Angola" (Vila do Conde: Verso da História, 2015)


1. Através do meu amigo Raul Feio, cidadão do mundo, angolano e lusófono, chegou-nos, em 15 do corrente, esta mensagem da autora do livro supra, a portuguesa Margarida Paredes.  Fica aqui este registo como primeira "nota de leitura"

Margarida Paredes, foto da editora,
Verso da História (com a devida vénia)


Car@s,

Foi editado em Portugal pela Verso da História o livro “COMBATER DUAS VEZES, MULHERES NA LUTA ARMADA EM ANGOLA” resultado da minha tese de doutoramento em Antropologia, no ISCTE-IUL e de um trabalho de quase seis anos dedicado às ex-combatentes angolanas. O prefácio é da antropóloga e historiadora Maria Paula Meneses, do CES, UC.

Além de ser um ARQUIVO DE MEMÓRIAS DE GUERRA NO FEMININO que cobre toda a história contemporânea de Angola sobre as Lutas de Libertação anticoloniais, MPLA, FNLA e UNITA, Revolta da Baixa do Kassange, 4 de Fevereiro, 15 de Março, prisioneiras do Campo de Concentração de São Nicolau e PIDE também se debruça sobre a Guerra Civil, nomeadamente sobre a Queima das Bruxas, Meninas Raptadas ou o Batalhão 89 (tropa feminina) da UNITA e ainda sobre o papel do Destacamento Feminino no 27 de Maio de 1977, entre outros capítulos, alguns dedicados a uma descrição etnográfica da pesquisa científica. 


Para refletir sobre a participação das mulheres angolanas nas guerras e nos conflitos utilizei um viés analítico ancorado na Antropologia Feminista e na Teoria Crítica Feminista.

Quem estiver interessado pode encomendar na FNAC, obrigada e aguardo o vosso feedback ao meu trabalho.

Margarida Paredes

Margarida Paredes (PhD)
Profª, UFBA, Universidade Federal da Bahia, Salvador
Investigadora, CRIA, Centro em Rede de Investigação em Antropologia, Lisboa

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Nota do editor:

Últumo poste da série > 23 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15398: Notas de leitura (778): Américo Estanqueiro, álbum fotográfico sobre Dulombi (Mário Beja Santos)

7 comentários:

Antº Rosinha disse...

Sem saber quem é a autora, terei que obter este livro que deve ter muito sumo...e muito sangue.

Será que é neste livro que vamos compreender o 27 de Maio de 1977? a autofagia do MPLA? Em que mataram o Van Dunem e sua Sita Valles.

Mas por estes dados biográficos, fiquei sem saber se é Angolana, (ou filha de angolanos ou portugas) Portuguesa ou dupla nacionalidade.

Como trabalhou com António Jacinto pressinto que seja como alguns com quem aprendi a colonizar e que a partir de 1961 eles mesmo se sentiam colonizados.

Fui à Wikipédia não encontrei as "impressões digitais" completas.



Luís Graça disse...

Ropsinmha, aqui tens mais referêcia sobre a Margarida Paredes, que é portuguesa, nascida em Coimbra, em 1953...

Tens aqui um curioso artigo dela, inserido

"Pode um homem angolano, militar das forças armadas, herói da batalha do Cuito Cuanavale, ser feminista?"

É bom quando a vida nos surpreende!

No fim de 2009, de passagem por Luanda, ao entrar na Editora Chá de Caxinde à procura de novidades, fui surpreendida por um livro sobre a ‘mulher-soldado’ em Angola. A surpresa cresceu invulgarmente durante a leitura da obra, ao aperceber-me que um homem angolano, militar das FAA’S (Forças Armadas Angolanas), herói da batalha do Cuíto Cuanavale, não só colocava a ‘mulher-soldado’ na história da construção da nação como defendia uma tese feminista.

O livro Mulher-soldado, no ordenamento jurídico angolano, é a tese de Licenciatura em Direito de um militar que regressou à vida estudantil depois dos quarenta anos de idade, logo após o fim do conflito armado que orquestrou a vida de todos os angolanos nas primeiras três décadas da independência do país (1974/5 a 2002), conflito no qual o autor participou. Júlio Sebastião Fernandes de Carvalho é oficial na reserva das FAA’s e escreve esta tese (com algumas fragilidades académicas) a partir de uma realidade que conhece de dentro.

A admiração que o autor nutre pelo papel das mulheres na construção da nação e participação nas guerras e exércitos pode ler-se nestas palavras “Em Angola a mulher participou lado a lado com o homem na tarefa de luta pela independência nacional com a mesma coragem e passando pelos mesmos sacrifícios que os seus companheiros homens.” (p.24) ou “Era um orgulho ver a mulher, fardada com rigor militar, a cumprir as mais diversas missões, mesmo a mais arriscadas, em igualdade com os homens. Era uma verdadeira revolução…”. (p.25). (...)

Ler aqui o resto do artigo da Margarida Paredes, na página Buala

http://www.buala.org/pt/a-ler/pode-um-homem-angolano-militar-das-forcas-armadas-heroi-da-batalha-do-cuito-cuanavale-ser-femi

Luís Graça disse...

Rosinha, não conhecço pessoalmente a Margarida Paredes, mas sendo antropóloga, é das minhas áreas, as ciências sociais e humanas... Doutorou-se na minha escola de licenciatura, o ISCTE... Tens aqui a página do Facebook... Já percebi que temos amigos comuns...


https://www.facebook.com/margarida.paredes.92

Luís Graça disse...

E já que falamos de mulheres combatentes, sabemos pouco (ou temos falado aqui pouco) das guineenses que fizeram a guerrilha nas fileiras do PAIGC... Em 2008 conheci em Bissau uma mulher notável, a Carmen Pereira, filha de pai português... É uma pena se esta mulher desaparece sem que ninguém esreva as suas memórias!

Ver aqui o seu retrato no jornal Público, por Ana Dias Cordeiro, em 20/01/2013:


http://www.publico.pt/destaque/jornal/amilcar-cabral-queria-ter-as-mulheres-ao-seu-lado-na-luta-sempre-25914383

Luís Graça disse...

Ana Dias Cordeira, no artigo citado (Público, 20/1/2013), refere outros nomes de mulheres que se distinguiram na luta levada a cabo pelo PAIGC, para além da Carmen Pereira (que foi comissária política na Frente Sul, quando o Nino era o comandante militar):

(...) "Como Carmen Pereira, muitas mulheres se juntaram a Cabral: Francisca Pereira, Teodora Inácia Gomes, Paula Fortes, Satú Camará, Josefina Chantre, Satú Diassi e outras. Titina Silá, combatente e formadora de milícias, que morreu a 30 de Janeiro de 1973, vítima de uma emboscada das tropas portuguesas, quando se dirigia para o funeral de Amílcar Cabral em Conacri, será homenageada em Bissau, no aniversário da sua morte.

"Também Amélia Araújo, directora da Rádio Libertação e locutora das emissões em português; era ela quem lia os textos do líder do PAIGC a denunciar a política enganosa das autoridades coloniais e a fome em Cabo Verde; ou Lilica Boal, escolhida por ele para directora da Escola-Piloto em Conacri e que dirá ao PÚBLICO: "Amílcar tinha essa preocupação do género. Dizia que a mulher tinha de lutar pela sua liberdade. Escolheu mulheres em todos os sectores da luta: educação, saúde, informação, logística." (...)

http://www.publico.pt/destaque/jornal/amilcar-cabral-queria-ter-as-mulheres-ao-seu-lado-na-luta-sempre-25914383

Antº Rosinha disse...

Luís, depois da reforma dediquei-me a tentar compreender o que foi, e como chegámos (a Europa e África, portugal quase não conta) aqui.

Por isso, este título me põe as orelhas em pé.

Luís, falas bem, que não se dá relevo à mulher na luta anti-colonial. (não foram numerosas)

Luís, a mulher africana e a sua importância dificilmente encontrará escritor africano ou mesmo europeu que lhe realce o devido valor, e o esforço social, físico e psicológico.

Não falo nem imagino nos tempos da escravatura o que teria de horrível aqueles barcos no atlântico.

Tu Luís talvez não tenhas visto, mas eu pessoalmente ainda presenciei em ambiente tribal virgem, em Angola, que a mulher é a principal responsável pela sobrevivência do continente africano em muitos territórios africanos.

África vivia do esforço e sacrifício brutais da mulher: agricultura, pastoreio apoiada pelas crianças, pesca, procriação ininterrupta e alimentação da prole.

O homem africano, polígamo, responsabilizava-se apenas pela assistência matrimonial calendarizada, escolta das esposas a caminho das tarefas agropecuárias, equipado de zagaia e flecha, para eventual caçada ou repelir alguma fera.

Apenas, e como não há regra sem excepção, realço o trabalho agrícola daquele tipo dos homens Balantas da Guiné, nas bolanhas do arroz a fazer os "ouriques", diques.

Não querendo generalizar, penso que a mulher africana em certas regiões corre maiores perigos de violência e tratamento desumano, depois das independências.





Anónimo disse...

Olá, muito obrigada pelo vosso interesse e divulgação do meu livro. Estou desejosa de saber a vossa opinião porque este ensaio debruça-se (também) sobre o outro lado da História, ou seja a perspetiva africana da guerra que uns chamam Colonial e outros Luta de Libertação, narrada por mulheres ex-combatentes angolanas. Saudações, Margarida Paredes (cliquei no anónimo porque não tenho conta Google).