quarta-feira, 28 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17519: Os nossos seres, saberes e lazeres (219): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 14 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Não há bem que sempre dure, mas dá satisfação fazer-se este relatório sobre um sonho realizável e realizado, aqui cheguei como aspirante a oficial miliciano, dei duas recrutas, fiz amizades inquebrantáveis, tenho permanentemente vontade de regressar, posso testemunhar, com tanta visita, como São Miguel se desenvolveu e é uma pérola do turismo à escala mundial.
Foi um último dia de viagem bastante longo, graças ao meu amigo Mário Reis pude contemplar essa jóia da natureza que é a Lagoa do Fogo e antes de chegar ao aeroporto ainda voltei à Ribeira Grande, bastante irreconhecível, com exceção do seu belíssimo património arquitetónico religioso e civil.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (8)

Beja Santos

O viandante está no último dia da sua itinerância micaelense. Graças à generosidade de um amigo de longa data, Mário Reis, o defensor dos consumidores mais conhecido da região, conta com um passeio que o conduzirá a um dos locais mágicos da ilha, a Lagoa do Fogo. Antes porém, ao raiar da aurora já se pôs a caminho para ir visitar um dos belos jardins de Ponta Delgada, desta feita o escolhido foi o jardim que circunda o palácio dos marqueses de Jácome Correia, hoje sede da Presidência do Governo Regional dos Açores.
Belíssimo jardim, uma amostra eloquente de toda a flora endémica e importada, mete palmeiras, criptomérias, azálias, e tudo mais. Deu para ficar especado a ver os trabalhos de jardinagem, feitos com imenso desvelo. Poucas flores naquele início de Fevereiro, mas impressiona a imensidão exuberante do verde, os belos caminhos, tudo tratado a preceito, como se pode ver.




Aqui viveu uma mulher espantosa, belíssima e infeliz nos seus amores e desamores, Margarida Jácome Correia, com ligações que deram brado, sobretudo a dois intelectuais de alto gabarito, Armando Côrtes Rodrigues e Vitorino Nemésio. Escreveu as suas memórias biográficas “Os amores de uma cadela pura”, desnudou-se ao limite das convenções da época, a sua autenticidade custou-lhe o ostracismo.


Hoje, a rede de estradas facilita a vida do turista quando vai de Ponta Delgada até à Lagoa do Fogo. Diga-se em abono da verdade que o viandante recorda com saudade passeios semelhantes dados nos últimos cinquenta anos envolvendo locais paradisíacos como a Serra de Água de Pau, o Pico da Barrosa e depois a descida até à Caldeira Velha, como hoje vai acontecer. No entanto, temos a neblina a dificultar as panorâmicas, lá se vai subindo a estrada sinuosa até chegar a esse local onde se desfruta uma das visões mais intensas, marcadas pelo vulcanismo adormecido. A última erupção data de meados do século XVI, a Lagoa fica lá bem no fundo, pertence à Rede Natura, está muitíssimo bem conservada, é flora e fauna harmoniosamente conjugadas, por ali passeiam-se umas aves que formam um concerto apropriado. Olhamos para o relógio, toca de partir para a Caldeira Velha, este passeio dos 50 anos ainda tem mais etapas à frente, caso da paragem pela Ribeira Grande.



Cá vamos a caminho da Caldeira Velha, anda-se um bom bocado até se chegar ao banho quente, hoje altamente frequentado. Não há transportes públicos, ou carro ou via pedestre é que asseguram o acesso a este exotismo floral, vale a pena estar para aqui especado a ver estas feridas de água, as pastas borbulhantes da lama vulcânica, os trilhos aliciam os amantes da natureza a passarem horas sem fim neste santuário verde e de águas quentes.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17497: Os nossos seres, saberes e lazeres (218): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (7) (Mário Beja Santos)

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