domingo, 23 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17612: Blogpoesia (521): "Uma leve neblina encobre o mar..."; "Cabelos ao vento desgrenhados..." e Aragens de vento...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Foto: Com a devida vénia a Informação a bordo


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Uma leve neblina encobre o mar...

Uma leve neblina encobre o mar ao amanhecer.
Não tardará o sol,
fugirá para a serra ao longe
e se esvairá aqui pelo céu azul.

Partem da doca para a sua faina os barcos que nos dão o peixe.
Há um deles, negro, negro,
ronca irado,
de não querer partir.

E os de recreio, ostentando, ao alto,
elegantes mastros,
bailam serenos para adormecer.

Deserta a praia é repasto livre
para as gaivotas que só agora
se irão deitar.

Que quadro belo
desta varanda alcanço,
cálida noite que não me deixou dormir.

Roses, 17 de Julho de 2017,
6h56m
Jlmg

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Cabelos ao vento desgrenhados…

Rasgo em pedaços minhas vestes
E corro por esses barrancos a esmo e sem destino.
Atiro louco pedras para as fendas
E fico a vê-las se estatelarem sobre o vazio.
Oiço gemidos das nuvens aprisionadas,
morrendo de secura lá no cimo.
Grito e berro ao mar
Pare de vez essas investidas loucas contra as rochas,
A nada levam.
Pasmo de medo perante o abismo
Como um cavalo em fúria, desenfreado
E deixo escorrer na minha fronte
Um suor escaldante
Que brota de dentro como um vulcão.
Queimo as cinzas todas que restaram do incêndio
E tirito de frio, enregelado.
Suplico em vão aos deuses,
No olimpo,
Cessem, de vez
sua vingança…
Tenham tino.
Me ajoelho e abro os braços em oração
Àquele Jesus, de carne e osso que, há dois milénios,
morreu por todos, sózinho,
no alto do calvário…
Ouvindo a nona sinfonia de Beethoven
Amanhecendo com nevoeiro

Mafra, 22 de Julho de 2015
6h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Aragens de vento…

Passam por mim
Lufadas de vento.
Trazem as folhas do tempo,
Em que escrevo meus versos.
Vêm de longe.
Dos confins dos tempos
Em que o sol brilhava.
Me fazia feliz.
Contam-me histórias.
Esquecidas.
De gentes passadas.
Trazem saudades.
Me encantam ouvi-las.
Falam de tudo.
Que o tempo levou.
Minhas glórias da vida
Que minha vida encheu.
Me prendo a elas,
Como um náufrago no mar.
Me trazem à praia,
Onde a vida esperou.
Minha Mãe,
Minha Irmã.
Sinto saudades
Da praia em Agosto,
Naquele mar de Varzim,
Onde a infância parou.
Apanhava conchinhas.
Com sargaço em novelos.
Beijava as areias,
Com iodo do mar.
Tudo eu sinto em mim…

Mafra, 21 de Julho de 2014
18h53m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17604: Blogpoesia (520): Não é possível conservar o tempo (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto)

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