domingo, 6 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17653: Blogpoesia (523): "Quadro preto"; "A casa da poesia..." e "Ponta do novelo...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Quadro preto

Em letras de giz, ostenta a ementa da semana.
Dia a dia.
Segunda-feira: creme de abóbora e almôndegas.
Nada mau.
À volta, muitas mesas do café.
O Polo Norte. Uma pastelaria de eleição. Irresistível, no coração de Mafra.
Dom João V e sua corte seriam fregueses.
Deixou a plebe que não sai da porta.
Em vez do convento.
Sabe-o de cor.
Virou quartel.
Belo momento, aqui no bar.
As horas deslizam.
As ideias brotam.
Vindas do mar.
Rios de gente.
Na raspadinha.
Desafiam a sorte.
Pode calhar.
E, lentamente,
Sempre do mesmo,
Lêem jornais.
Vêm de fora.
Alegres turistas.
E cá de dentro,
Os mais bairristas.
Foi sempre assim.
Nos tempos da guerra.
Que bem eu lembro,
Jovem cadete,
Farda cinzenta,
Fervente de vida...

Bar Polo Norte, em Mafra
31 de Julho de 2017
9h22m
Jlmg


************

A casa da poesia...

É rainha Não mora em palácios.
É sóbria e recatada.
Atenta ao belo
Onde quer que esteja.
Não tem regras nem códigos.
É perfume que emana natural
Como a lava dum vulcão.
Adora as alturas luminosas
Donde alcança o horizonte.
Se espraia colorida pelas encostas e Vales floridos.
Saboreia o mar e suas convulsões de espuma.
Dança em graça ao vento em fúria
Como na mais débil e brisa fresca.
Seu mar é o da simplicidade.
Sorri aos cambiantes das cores e dos sorrisos.
Se banqueteia com as delícias da formosura.
Seu ópio é o sonho e a fantasia.
Foge das pedras sem musgo
Como o diabo foge da cruz.
Adora lagos e rios mansos.
Busca as sombras doces das latadas.

Bar Castelão em Mafra, 4 de Agosto de 2017
8h56m Jlmg


************

Ponta do novelo...

Tanto se emaranhou.
Onde pára a ponta?
Quero desfiá-lo, meticulosamente,
Chegar à fonte donde vem o fio.
Tanta volta terei de dar.
Tanta rosca ele enrolou.
Só de job a paciência
Me poderá valer.
Não desisto e puxo.
Desfaço a trança.
Fixando a minha vista.
Passo a passo.
Com lentidão,
Avanço.
Até que ao longe,
Enxergo o seu começo.
Nunca falhou.
Depois virá a recompensa.
Agora teço.

Bar Castelão em Mafra,
5 de Agosto de 2017
9h4m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 30 de Julho de 2917 > Guiné 61/74 - P17631: Blogpoesia (522): "Pedras velhas ressequidas..."; "Cavalos à chuva..." e "Retrocessos no tempo", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Sem comentários: