quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17694: Os nossos seres, saberes e lazeres (227): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Abril de 2017:
 
Queridos amigos,
Aqui ficam os últimos registos de Malta, entre os vestígios opulentos da cultura megalítica até à monumentalidade da cidadela da lha de Gozo.
Em jeito de balanço, o orgulho pela presença portuguesa neste cadinho que é prova provada dos cruzamentos europeus frente ao Mediterrâneo.
É bom partir sabendo que há condições para voltar, preside o bom-senso de que se visitou algum património e entre o deve e haver, já se está saudoso pelo haver, o mesmo é dizer a hipótese de regressar. E num tempo em que avulta o pessimismo pelo projeto da União Europeia não deixa de impressionar o que os malteses edificam, melhoram e transformam num país eminentemente turístico, onde a História e as belezas naturais são determinantes.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: 
Nos templos de Tarxien e na ilha de Gozo (6)

Beja Santos

Em Tarxien situa-se o maior dos complexos de templos de Malta, a cultura megalítica deixou aqui vestígios impressionantes. Podemos ver e deslumbrar-nos com as técnicas arquitetónicas e decorativas que marcam o estilo dos Construtores de Templos. Tarxien tem quatro estruturas de templo trifólias e foi usado durante a era de construção de templos. As peças preciosas estão no museu nacional de arqueologia mas é possível encontrar aqui uma voluptuosa deusa/sacerdotisa de saia. Resta informar quem se prepara para visitar Malta que aqui se encontra o maior templo central de Malta com seis absides, data de cerca de 2800 a.C. E para quem gosta da arte pré-histórica dá-se a saber que temos aqui exemplares requintados da arte megalítica, a decoração espiral é magnífica, vejam só.




O viandante parte para a ilha de Gozo com uma certa melancolia, está na contagem decrescente para se sair de Valeta para Bruxelas, gostava de voltar a deambular sem tempo nem horas por Valeta, visitar a Casa Rocca Piccola, que é uma janela para a vida quotidiana de tempos idos, passear-se pelas fortificações, sentar-se num balcão altaneiro diante do porto grande, voltar as bairros antigos, caso de Birgu, não desdenharia descer aos gabinetes de guerra de nome Lascaris, um complexo ultrassecreto das operações aeronavais nesta tão sensível região do Mediterrâneo durante a II Guerra Mundial. O tempo urge e em dia ensolarado, saiu uma só nuvem, atravessa-se toda a ilha para apanhar o ferry num local com nome estranhíssimo Cirkewwa em direção a Gozo. Sofreu muito com os ataques otomanos, depois do grande cerco de Malta, os Hospitalários fortificaram a ilha, deram-lhe uma cidadela que parece inexpugnável, réplica das muralhas ciclópicas de Valeta. Era fim de semana, os transportes públicos rareavam, à cautela o viandante meteu-se num autocarro de turismo, descobriu que também há preços low-cost, uma menina bradava que agora eram 13 euros quando anteriormente eram 19. Alguém avisou que uma das maiores atrações da ilha, a janela azul, um belo rochedo que lembra uma janela, tinha ruído na semana anterior. Indiferente a tal perda, o viandante lançou-se em direção à cidadela, ainda se passeou pela catedral de Victoria, mais um templo de barroco requintado, era um sol abrasador, desceu à procura de refúgio, e imprevistamente deu com uma casa de ópera nesta ilha minúscula.



A música é um dos elementos que associam Malta à presença italiana: bandas, filarmónicas, inúmeros grupos musicais… e a ópera. Recorde-se o Teatro Manoel em Valeta, o teatro estava fechado mas o viandante ficou impressionado com o belíssimo cartaz a anunciar a ópera em dois atos “Os palhaços”, de Ruggero Leoncavallo. Prossegue a excursão com belas panorâmicas, santuários, igrejas, povoações típicas. E assim se regressa a Valeta.



Está na hora da despedida, o depósito de aprazimento é enorme. Como os gostos não se discutem, o viandante não fica de boca aberta perante tão belo barroco, mas não esconde as sólidas impressões que trará de palácios e mansões, de múltiplos sinais de cultura, encruzilhadas europeias onde se entrepõem religião, misticismo, empreendimentos por todo o Mediterrâneo, e a omnipresença da Ordem de Malta. Algo mais tocou o viandante: a estatuária como farol de identidade. Podia aqui prosseguir-se com um rol de centenas de imagens de ícones malteses, pais da cultura até líderes políticos que consagraram a independência. De tudo quanto viu, esta imagem de memória a vítimas dos bombardeamentos sofridos entre 1942 e 1943 ganha para o viajante um peso específico: vejam o sacrifício da juventude para que a nossa pátria não arrede pé, leiam este livro aberto do nosso heroísmo.


É como se fosse a despedida, no alto dos jardins de Barrakka desfruta-se a vista impressionante de um porto e de um complexo de fortificações sem rival. Aqui se travou a armada turca, aqui o marquês de Niza se cobriu de glória com os seus marinheiros portugueses, aqui transitaram as embarcações britânicas que sulcavam em direção à Índia. E como marca final o viandante impressionou-se com o desenvolvimento trazido pela adesão à União Europeia, Malta é um caso de sucesso, de beleza e de património histórico europeu.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17674: Os nossos seres, saberes e lazeres (226): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5) (Mário Beja Santos)

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