terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17868: O nosso livro de visitas (195): José Claudino da Silva, ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, autor do livro de ficção "Desertor 6520" (Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CCAÇ / BART 6520/72 (1972/74) > O 1º cabo condutor auto José Claudino da Silva, junto a um memorial de uma companhia que passou por ali em 1966/68. (Tudo indica que seja a CCAÇ 1624 que, segundo a ficha da unidade,  esteve em Fulacunda, Catió, Fulacunda, Bolama, Mejo, Porto Gole, Fulacunda, entre novembro de 1966 e agosto de 1968: vd. verso do memorial, na foto a seguir, de 2015).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 24 de outubro de 2015 >  O que resta do memorial da CCAÇ 1624 / BART 1896, assinalando a morte de dois militares portugueses: sold nº 17765, Saliu Djassi, natural de Fulacunda,  morto em combate, em 13/1/67, sepultado em Bissau; e sold nº 9028766, Guilherme [Alberto] Moreira, natural de Mirandela, morto em combate, em 21/1/68, sepultado em Milhais, Mirandela.... Ambos pertenciam *a CCAÇ 1624.

Sobre o sítio escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, turista acidental que passou por aqui a caminho de Bafatá: " (...) Fulacunda, local inóspito onde a Guiné é mais dela, o tempo parou, as crianças quase não existem e... os mais velhos falam dos portugueses de outros tempos"...

Foto (e legenda): © Adelaide Barata Carrêlo (2016), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. M
ensagem de José Claudino da Silva com data de 3 do corrente:

Sou o ex-combatente, 1º cabo condutor, José Claudino da Silva.

Em 2016 publiquei um romance de ficção, com partes reais da Guerra Colonial. Em homenagem ao meu Batalhão dei-lhe o titulo "DESERTOR 6520" [Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.].

Durante os cerca de dois anos que permaneci em Fulacunda, escrevi todos os dias. Penso ter em meu poder cerca de meio milhão de palavras escritas à minha namorada, que se transformou em minha esposa e que guardamos até hoje.

Após 45 anos, decidi reler o que escrevi e honestamente, parece-me que a minha guerra, não teve nada a ver com as variadíssimas histórias de guerra, que li escritas por camaradas nossos.

Não quero publicar a minha visão da guerra aos 22/ 23/24 anos, sem ter o aval de alguém,  como o senhor,  que penso ser das pessoas mais esclarecidas pelas publicações que tenho lido. Por isso o meu apelo, é se estaria disposto a dar-me a sua opinião,  mesmo antes das correcções que terei de fazer no texto a publicar.

Nesse sentido,  se concordar, enviarei o texto original para este mail,  informo que terá cerca de 30.000 palavras.

Um abraço. José Claudino da Silva


2. Resposta do nosso editor, na volta do correiro:

Camarada, teremos muito gosto em ler o teu manuscrito e dar-te a nossa opinião de amigos e camaradas mas também de críticos literários...

Conta com a nossa boa vontade, colaboração ativa e sigilo... Poderás, depois, se assim o entenderes, publicar alguns excertos no nosso blogue...Ficas desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande: somos já 755 camaradas e amigos da Guiné...

Uma dúvida... És do BART 6520/72 ou do BART 6520/73 ?

Um abraço do Luís Graça

3. O José Claudino mandou-me 2 textos para apreciação, a título confidencial, do seu manuscrito, correspondente a dois pequenos capítulos: 40º. 16 horas no mato;  44º. O Fnado. E respondeu aos meus pedidos de esclarecimento, em mensagem de 4 do corrente:

Obrigado pelo vossa resposta.

Envio dois capítulos para terem uma ideia do meu estilo de escrita. O que está entre aspas, foi o que escrevi na Guiné há 45 anos Em breve enviarei o texto completo.

Pertenci ao BART 6520/72 (que tinha a CCS em Tite, a 1ª Cart em Jabaadá; e 2ª Cart em Nova Sintra. e nós, 3ª Cart,  em Fulacunda entre 1972/74).

A companhia que fomos render foi a CART 2772,  conhecida como "Os Capicuas".

Terei gosto em colaborar no blogue.

Retribuo o abraço,  José Claudino


4. Resposta do editor, no mesmo dia:

José, pela amostra, temos escrita e escritor, tens garra, o que escreves e escreveste tem interesse documental... Falas sobre ti e a nossa geração, sacrificada e desprezada... Depois dirás o que publicar (ou não) no blogue... A tua ideia é publicar em livro ? É isso ? E,  se sim, já tens contactos com editoras ?

Acho que não vale a pena hoje fazer "autocensura"... Sei que há temas delicados, como a nossa sexualidade (, porra, tínhamos 21/22 anos, e as esposas ou as namoradas ficaram longe, a milhares de quilómetros!)... Por outro lado, há questões sobre as quais estávamos mal informados: caso da Mutilação Genital Feminina, a poligamia, o casamento, as diferenças étnicas e linguísticas... Atenção, o "fanado" é mais antigo que o Islão e a islamização...

Acho intelectualmenet honesto, da tua parte, discriminares os textos de há 45 anos e os textos de hoje... Quanto às fotos, deves legendá-las e atribuir-lhes os respetivos créditos autorais (no caso de não serem tuas)...

Diz-me onde moras... tens aqui o meu nº de telemóvel (...) 

Um Alfabravo (ABraço)... Luís Graça

___________

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro camarada José Claudino: só agora houve tempo para fazer uma primeira publicação da nossa troca de mensagens... Repara com atenção na 2ª foto que publicamos, do memorial da CCAÇ 1624, da autoria da nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, que por lá passou em outubro de 2015... Não há dúvidas que é o memorial da CCAÇ 1624... Umn sítio desolado e desolador, escreveu ela...

Ainda esta semana, amanhã ou depois, vou-te apresentar formalmente à Tabanca Grande, e publicar o resto do material que me mandaste, incluindo o teu belo poema autobiográfico... Estive há dias com o Jorge Pinto, falámos de ti e de Fulacunda...

Abraço grande, LG

Anónimo disse...

José Claudino Silva
17 out 2017 07:31


Obrigado pela resposta.

Envio então por email, e ainda por corrigir, o texto que denominei "EM NOME DA PÁTRIA" baseado no que escrevi há cerca de 45 anos.

Sendo a guerra vista por um soldado, a minha maior surpresa, relendo os meus escritos, é a espantosa alteração da minha forma de pensar após aqueles dois anos.

Saboreiem um certo romantismo intercalado de dor.

Um grande abraço para o Jorge Pinto e todos os camaradas.

José Claudino da Silva

Jorge Pinto disse...

Amigo Claudino, agradeço e retribuo o abraço que envias.

Estou feliz por poder recordar através dos teus escritos momentos que vivi em Fulacunda, cercados de arame farpado, valas e mata, mas SEMPRE com IMAGINAÇÃO, para romper "o cerco" e "viajar pelo mundo".
Muitas leituras, audição de variados programas radiofónicos onde se incluía o programa de Joaquim Letria na BBC, tertúlias... e sobretudo as muitas horas de escrita. Eram estas as "asas do desejo", que nos faziam sobrevoar, pular aquele cerco e olhar o mundo por cima.
Recebe os meus parabéns pela disponibilidade de colaborares neste BLOG dando a conhecer uma parcela do que foi o "dia-a-dia da nossa geração quando tínhamos 21,22,23...anos.

José Claudino disse...

Não tenho a veleidade de ser escritor mas o bichinho da escrita começou a germinar mais profundamente, quando a liberdade se fazia quase e só através do sonho.
Estou a preparar um conjunto de coisas para memória futura, demonstrando que a minha geração valeu mais e foi a mais extraordinária que alguma vez serviu Portugal.
Num mundo que caminha para o individualismo total, nós fomos o maior exemplo de camaradagem e solidariedade. Um abraço