quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18088: Agenda cultural (621): Joaquim Pais de Brito, na livraria Ferin, ao Chiado, amanhã, 6ª feira, dia 15, pelas 18h30, na apresentação do seu livro "Muitas coisas e um pássaro" (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp.)



Capa  do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1230,  edição de 22 de novembro a 5 de ezembro de 2017.

Fonte: Sapo Visão > Jornal de Letras (com a devida vénia...)





1. Amanhã, 6ª feira, dia 15 de dezembro,  na Livraria Ferin, Rua Nova do Almada, 72, ao Chiado, Lisboa, pelas 18h30, realiza-se a sessão de lançamento do livro "Muitas Coisas e um Pássaro", de Joaquim Pais de Brito (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp, preço de capa, c. 14 €). A apresentação do livro e do autor está a cargo de Rosa Maria Perez.


O autor é convidado, neste seu livro,  a abordar o seu percurso profissional, a partir de cinco motivos: um desenho, uma imagem, um texto, um objeto, um som.

Fala-se então apaixonadamente de teatro, de literatura, de etnografia, de museus, de exposições, de alunos, do Portugal rural e urbano, do cantar do carro de  bois, de fado... E de motivações, escolhas e, também, acasos que o conduzem a refletir, enquanto antropólogo, sobre questões de museologia, formação e conhecimento.

Apaixonadamente, como ele sempre o fez, e como eu o recordo, em tudo aquilo em que se meteu e em que tocou, da investigação ao ensino e depois à museologia. Mas falemos do presente, que ele continua vivo da costa, felizmente... Ainda há dias bebemos um café juntos.

No caminho desta revisitação surge-nos, entretanto um pequeno pássaro intrometido que o acompanha há muitos anos, e que gosta de participar nessa reflexão. 


2. Joaquim Pais de  Brito, nascido em Nelas, em 1945, é professor emérito de Antropologia do ISCTE-IUL e foi diretor do Museu Nacional de Etnologia entre 1993 e 2015.  É seguramente uma referência maior na área das ciências sociais e humanas em Portugal.

Recebeu, em 1996, o Prémio PEN de Ensaio pelo seu livro "Retrato de Aldeia com Espelho: Ensaio sobre Rio de Onor", que foi o tema do seu doutoramento (Lisboa, Dom Quixote, 1996, 396 pp.). Acompanhou, desde 1975,  e durante década e meia, as transformações que se operaram naquela aldeia comunitária de economia agropastoril de montanha, dividida ao meio por uma linha fronteiriça luso-espanhola. A aldeia é só uma, com dois povos, os de cima e os baixo, que têm um língua comum, o riodonorês), além de um território e uma organização social única.

Joaquim Pais de Brito foi distinguido pelo Presidente da República Jorge Sampaio com a Comenda da Ordem de Mérito Cultural, em 2002.

Foi também o fundador e o diretor da notável coleção "Portugal de Perto: Biblioteca de Etnografia e Antropologia", sob a chancela das Publicações Dom Quixote,  onde se publicaram dezenas de títulos de trabalhos, alguns clássicos, fundamentais para o conhecimento da cultura popular portuguesa e do nosso património cultural, material e imaterial, como o por exemplo o fado. É um coleção incontornável, de referência obrigatória para quem se interessa por este domínio do saber. 

Foi também ele quem terá o sido o primeiro a levar a academia a sair da sua "torre de marfim", despir-se de preconceitos e fazer do fado ("cultura popular urbana lisboeta") um objeto de estudo  multissectorial, na confluência de diversas disciplinas, da etnografia à antropologia, da sociologia à história, da museologia à  etnomusicologia...


3. Mandei-lhe há dias uma mensagem de resposta ao seu pedido de divulgação deste evento. Aqui vai:

Joaquim: antes de mais, parabéns!...Como eu costumo dizer, a gente, da nossa geração, que fez a guerra e a paz, tem de se recusar a ir para a "vala comum do esquecimento"... E tu fostes daqueles profes, no ISCTE, que a maioria de nós não vai esquecer... Acho que este é um dos elogios, dos muitos, a que tens direito... Se eu estiver inspirado ainda te faço uma quadra ou um soneto... onde meto o teu "pássaro"...

Para já prometo fazer-te um "poste", "à maneira", na nossa série "Agenda cultural"...

Bolas, não tens uma "chapa", uma foto do teu tempo de "menino e moço" ?... Vou procurar... E em princípio lá estarei, no dia 15, na Ferin, às 18h30... Vou divulgar pelos meus contactos, facebook, etc. (Infelizmente não fiquei com grandes contactos da malta do meu/nosso tempo do ISCTE...).


Um xicoração fraterno, Luís

Na realidade, quantos professores passaram pelas nossas vidas ? Dezenas e dezenas... E de quantos nos lembramos hoje ? Na melhor das hipótees, uma meia dúzia... O Joaquim Pais de Brito está nessa minha curta lista de "professores para a vida"... Daqueles que nos marcaram verdadeiramente, de cuja voz e brilhozinho  nos olhos nunca esqueceremos... Daqueles relativamente raros professores que sabem falar com paixão e rigor daquilo que sabem... As suas aulas eram uma festa!... Não fui antropólogo, fui para a sociologia do trabalho e, mais tarde, da saúde... Mas sempre dei importância ao lado "socioantropológico" das coisas.... Essa minha sensibilidade cultural deve muito ao Pais de Brito e ao entusiasmo com que ele nos levou a redescobrir e a repensar muitas das nossas formas, humanas e portuguesas, de ser e estar na vida, no território, na comunidade, no mundo...

Foi meu professor de antropologia, no ISCTE, durante a minha licenciatura em sociologia (que terminei no ano letivo de 1979/80). Foi com ele que ganhei o gosto não só por esta área científica como  pelo trabalho da investigação empírica, feita no terreno. 

Durante meses, eu e a minha equipa (que fazia parte de uma equipa mais vasta, um turma inteira que estudou o fado na suas múltiplas dimensões, sob a sua "batuta")...  fizemos durante meses "observação participante" numa taberna do Bairro Alto, a Princesa da Atalaia, na rua da Atalaia, onde em finais da década de 1970 ainda se cantava e tocava o chamado "fado vadio"...A expressão hoje não é consensual, "fado vadio", mas na altura queria significar algo que se opunha à  (ou pelo menos, não encaixava na) "cultura oficial" do fado, a do profissionalismo e da indústria do espectáculo... 

De qualquer modo a "Princesa da Atalaia" não existe mais, que eu saiba, engolida na voragem do tempo e no processo de "gentrificação" e "turistificação" dos bairros populares de Lisboa....Passei, por lá há uns anos, a loja era então de moda ou  de pronto a vestir... Há dias,  ao ir à "Tasca do Chico" (que estava cheia, que nem ovo, de turistame...), voltei a tentar reconhecer a fachada do prédio da antiga tasca da rua da Atalaia... Para surpresa minha, era agora um "kebab"...

Com muita pena minha, não vou poder estar amanhã com o Joaquim, na centenária Livraria Ferin (que mudou recentemente de dono, ao fim de 177 anos de existência...). Amanhã estarei fora de Lisboa, mas prometo ler  (e fazer a recensão de) o  livro...  De qualquer modo, aqui fica o poste prometido e o desejo de continuação de bons voos para o pássaro que o tem acompanhado ao longo da vida e que o inspira, motiva, protege e o mantem vivo, saudável, inquieto, irrequieto, ativo e produtivo... Apaixonado, em suma, pela vida, a cultura e a ciência... (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série >  14 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18087: Agenda cultural (620): No passado dia 9 de Dezembro foi inaugurado o Museu do Combatente de Gondomar que fica situado na Quinta dos Choupos - Fânzeres, sede da Tabanca dos Melros

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