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terça-feira, 2 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25327: As nossoas geografias emocionais (24): Nhamate, no sector Oeste 1, Bissorã, em 1970, ao tempo da CCAÇ 13, "Leões Negros"


Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Tratava-se de um reordenamento em construção. A população tinha sido subtraída ao controlo do PAIGC. As NT, por sua vez,  tiveram que dar início à construção de  um aquartelamento de raíz. Os primeiros construtores foram os "Leões Negros", o pesssoal da CCAÇ 13. Vivia-se em tendas.  

Foto do álbum do Adriano Silva, ex-fur mil da CCaç 13, disponível no portal, criado pelo Carlos Fortunsto, Leões Negros > CCAÇ 13 > Binar > Os construtotres. (Editada e reproduzida com a devida vénia...)


Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Vista parcial do destacamento. Foto de Adriano Silva (2003).



Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > "Fabrico de tijolos de lama, para construção das novas habitações para a população". Foto do álbum de Adriano Silva (2003).



Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 >  "Ajuda no transporte da população e a sua bicharada, para as novas tabancas, construídas com o seu apoio". Foto (e legenda) do Carlos Fortunato (2003).
 


Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 >1970 > "Almoçando - Furriéis Ribeiro (?), Adriano e Rocha. Foto de Adriano Silva, legenda de Carlos Fortunato (2003).



Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 13/03/1970 > "Panhard no novo aquartelamento de Nhamate construído pela CCaç, 13". Foto e legenda: Carlos Fortunato (2003).
 
Fotos (e legendas): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região do Oio > Carta de Bula  (1953) > Escala 1/50 mil  > Posição relativa de Bula, Binar,  Choquemone (a vermelho, base do PAIGC), Nhamate, Manga, Changue, Unche, Ponta Coboi (que em 1970 pertenciam ao subsetor de Nhamate, e tinham sido retiradas ao controlo IN).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (


1. Não temos muitas referências a Nhamate [a leste de Binar: vd. carta de Bula]. São apenas uma dúzia. Recentemente admitimos na Tabanca Grande o Victor Carvalho, que foi um dos nossos camaradas que passou por lá: era fur mil enf, da CCAÇ 2658.

Esta subunidade do BCAÇ 2905 foi para Nhamate, em março de 1970, para substituir a CCAÇ 13, "Leões Negros", a que pertenceu o nosso Carlos Fortunato, hoje presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga.

Em 14mar70, e até 18jun70 a CCAÇ 2658 assumiu a responsabilidade do  subsector de Nhamate, com dois pelotões destacados em Manga e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2861, com vista à execução dos trabalhos de reordenamento das populações daquela área.

Quem também esteve em Nhamate, em 1971,  foi a  CART 3330, comandanda pelo  cap art José Joaquim Vilares Gaspar, mais conhecido por Gasparinho (o seu humor cáustico não deixava ninguém indiferente: chamava a Nhamate o "abarracamento").

2. O Carlos Fortunato, ex- fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71), tem talvez o melhor sítio na Net sobre companhias individuais que passaram pelo CTIG. Infelizmente foi descontinuada  (por estar alojad a no servidor do Sapo) a sua preciosa página  sobre os "Leões Negros". 

Fomos recuperar uma crónica sua (publicada em 24/02/2003, e revista em 21/07/2007), justamente sobre Nhamate: "Os construtores - 3/2/1970". (O nosso camarada está nesta altura na Guiné-Bissau, no âmbito das suas funções de presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga, deve regressar a meio do mês de abril, vai para ele um especial alfabravo.)

Reproduzimos, então,  com a devida vénia, alguns exertos desse texto e algumas fotos:


Reordenamento e aquartelamento de Nhamate > 
Os Leões Negros, construtores

por Carlos Fortunato

(...) Colocar as populações em zonas protegidas por aquartelamentos, era a política seguida na altura, embora a população fosse livre para cultivar onde entendesse, deixava de estar dispersa pelo mato.

A península do Encherte oferecia boas condições para este objectivo, devido ao facto de estar rodeada por bolanhas, o que dificultava ao PAIGC o acesso à população.

A nossa missão implicava:

  • abertura de estradas;
  • construir os 3 novos pequenos aquartelamentos;
  •  ajudar na construção das novas casas para a população;
  • ajudar a mover a população para a península (transportando os seus haveres nas viaturas);
  • e destruir as antigas tabancas.

(...) Esta política,  levada a cabo por toda a Guiné, obrigava à existência de grande número de efectivos para defender e controlar as populações, os quais o General Spinola solicita constantemente, mas que nunca iria obter, acabando parte da populações por ficar sujeita a um duplo controlo, nosso e do PAIGC.

O PAIGC, sem preocupações de defender qualquer zona de território, quando atacado em força numa zona, dispersava-se, mas regressava mais tarde, quando a força atacante retirava.

Após a morte de Amílcar Cabral em 1973, a estratégia do PAIGC mudou, pois além das habituais flagelações, este passou a concentrar elevado número de forças contra determinados aquartelamentos junto à fronteira, com a intenção da sua destruição/conquista, a chegada dos mísseis terra-ar foi fundamental para esta estratégia, pois garantiu-lhe a protecção necessária contra a aviação. Esta alteração colocou em causa a politica de defesa, pois deixava os pequenos aquartelamentos muito expostos.

A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes.

(...) Este reordenamento tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui.

(...) Esta acção obrigou o PAIGC a retirar da zona, o que fez de má vontade ... e com muita saudade, a julgar pelas visitas a Nhamate, cuja defesa estava a cargo do alferes Pimenta, outro dos rangers que integravam a companhia.

O PAIGC possuía naquela zona um bigrupo (cerca de 60 homens), bem como armas pesadas, e o nosso controlo da zona obrigava-o a retirar, pois ficava sem a sua base de apoio (alimentação). É provável que para efectuar estes ataques, este bigrupo tivesse sido reforçado com guerrilheiros de outras bases, nomeadamente da sua principal base no Choquemone.

Sabendo que as nossas defesas naquela altura eram fracas, o PAIGC lançou ataques em força, tentando quebrar a nossa determinação, mas o nosso moral sempre foi muito alto, o comando muito determinado, e a eficácia da nossa resposta surpreendente (parecia que sabíamos onde eles estavam), pelo que foram sempre obrigados a retirar apressadamente, levando as suas baixas.

 (...) Logo no primeiro ataque a Nhamate, a 3/2/1970, talvez o mais violento, apesar de termos as nossas defesas muitos deficientes, os guerrilheiros foram obrigados a retirar rapidamente e com várias baixas, graças a um estudo cuidado do terreno, onde foram identificados os melhores locais de ataque, e estudada a precisa regulação dos morteiros, para os anular, o que permitiu uma rápida e eficiente resposta, tendo nós apenas sofrido um ferido ligeiro.

A guerrilha manteria a sua pressão ofensiva nos dias seguintes, atacando Nhamate a 12/2/1970, Manga a 13/2/1970 (onde estava o 2º pelotão aquartelado), e de novo Nhamate,  em  17/2/1970, sempre com pouco sucesso, e retirando com baixas.

(...) Spínola fez uma visita à CCaç 13, o heli desceu em Nhamate, e ele deslocou-se depois de panhard até Unche. (...)

Carlos Fortunato

Publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2007, por Carlos Fortunato (O seu Web portal: http://portalguine.com.sapo.pt também foi descontinuado: pode ser agora consultado no Arquivo.pt , neste URL:

https://arquivo.pt/wayback/20131106043122/http://portalguine.com.sapo.pt/index.html

(Seleção, revisão / fixação de texto, para efeitos de publicação deste poste: LG)

___________

segunda-feira, 25 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25306: Tabanca Grande (555): ex-fur mil enf, CCAÇ 2658 / BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, Bachile, Nhamate, Galomaro, Paunca, Mareué e Bissau, 1970/1971): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 885


Victor Jesus Carvalho, ex-fur mil enf, CCAÇ 2658 / BCAÇ 2905 
(Teixeira Pinto, Nhamate, Galomaro, Paunca, Bissau, 1969/71)... 
Membro da Tabanca da Linha, passa a integrar também 
a nossa Tabanca Grande, com o nº 885. 

Foto: Manuel Resende (2024)


Foto nº 1  > O  fur mil enf  Victor Carvalho exercendo 
as suas funções em Nhamate 


Foto nº 2 


Fotonº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10

Guiné > Região do Cacheu > CCAç 2658 > Nhamate > 1970 > Fotos diversas, sem legendagem > O aquartelamento de Nhamate tinha instalações precárias, o BENG 447 andava ainda a desmatar e a construir o aquartelamento. 

Fotos (e legendas): © Victir Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Victor Carvalho, com quem o nosso editor Luís Graça esteve no 55º almoço-convívio da Tabanca da Linha, em Algés, no passado dia 14, mostrou-nos um lote das suas fotos, algumas com fraca qualidade. Tirámos cópia, com a nossa máquina fotográfica, de um seleção daquelas que nos pareciam melhores. A legendagem tem que ser, oportunamente, completada.

Ficámos a saber que é natural de Peniche, morando em Linda-A-Velha. Ficámos  com o seu número de telemóvel e endereço de email. 

O nosso editor convidou-o  a integrar a nossa Tabanca Grande, o que ele de imediato aceitou. É visita regular dos convívios da Tabanca da Linha. Não tem página no Facebook.

Vai sentar-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 885. 

Temos apenas 11 referências à CCAÇ 2658. O Rogério Ferreira, ex-fur mil at inf MA, era o único representante até agora desta subunidade (**)

Nhamate, subsetor do setor O1 (Bissorã ),  Zona Oeste,  também tem escassas referências (12) no nosso blogue.

De acordo com a "ficha de unidade", em 9 de março de 70, a CCÇ 2658 foi render a CCAÇ 13,  em Nhamate, passando a ter a responsabilidade desse subsetor.


Guiné > Região do Cacheu  > Binar > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Tratava-se de um reordenamento, tendo a população sido substraída ao controlo do PAIGC. As NT tiveram que construir um aquartelamento de raíz. Vivia-se em tendas e "buracos"...

"A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes. Este reordenamento tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122 mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui... " (Carlos Fortunato). 

Foto do álbum de  Adriano  Silva, ex-fur mil da CCaç 13 (Bissorã, 1969/71).

Foto (e legenda) : © Carlos Fortunato (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Ficha de unidade > CCAÇ 2658 / BCAÇ  2905 

Identificação: BCaç 2905

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Júlio Teófilo de Assunção Vila Verde | TCor Inf Alberto Alves Pinto Baptista
2.° Cmdt: Maj Inf Ernesto Farinha dos Santos Tavares
OInfOp/Adj: Maj Inf Noel da Silva Fernandes Aguiar

Cmdts Comp:

CCS: Cap SGE Albino Pedrosa Viana

CCaç 2658: Cap Mil Inf Hermenegildo Gomes Ribeiro

CCaç 2659: Cap Inf José Eduardo Miranda da Costa Moura

CCaç 2660: Cap Inf Luciano Ferreira Duarte

Divisa: "Firmes e Constantes"

Partida: Embarque em 3lJan70; desembarque em 06Fev70 | Regresso: Embarque em 02Dez71

Síntese da Actividade Operacional

Após sobreposição com o BCaç 2845, assumiu em 21Fev70 a responsabilidade do Sector 05, com sede em Teixeira Pinto e abrangendo os subsectores de Cacheu e Teixeira Pinto e a partir de 30Abr70 o subsector de Bachile, então criado. 

Em 28Jun71, os subsectores de Cacheu e Bachile foram retirados à sua zona de acção, passando ao Comando directo do CAOP I. 

Em 17 e 28Jun71 foram sucessivamente instaladas novas subunidades respectivamente em Bassarel e Carenque, e ainda em Chulame, este apenas de 26Jun71 a 20Ag071, então incluídas no subsector de Teixeira Pinto.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, escoltas e de controlo e segurança dos itinerários, colaborando e fornecendo, ainda, todo o apoio logístico e administrativo à actividade operacional do CAOP (depois CAOP 1) e tendo como missão prioritária a orientação, coodenação e segurança dos reordenamentos das populações a sul do rio Costa (Pelundo) e a sua promoção económico-cultural.

Em 24Nov71, foi rendido no Sector 05 pelo BCaç 3863 e recolheu, seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
***

A CCaç 2658 seguiu em 13Fev70 para Teixeira Pinto e dois pelotões para Bachile, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2572 até 28Fev70, após o que substituíu aquela subunidade na missão de reforço do sector do seu batalhão.

Entretanto, em 09Mar70, foi substituída pela CCaç 16 e foi deslocada para Nhamate a fim de render a CCaç 13. 

Em 14Mar70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Nhamate, com dois pelotões destacados em Manga e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2861, com vista à execução dos trabalhos de reordenamento das populações daquela área.

Em 18Jun70, foi substituída pela CCaç 2529 e seguiu em 22Jun70 para a zona Leste, a fim de reforçar os efectivos do Agr 2957, instalando-se em Galomaro e com três pelotões destacados em Paúnca, estes em reforço do COT 1, a partir de 23Jun70.

 Em 26Ju170, instalou-se em Paúnca, com destacamentos em Paiama e Saré Abdulai, ficando então na totalidade em reforço do COT 1.

Após deslocamento prévio de pelotões para Mareué, em 17Dez70 e meados de Jan71, assumiu, em 01Fev71, a responsabilidade do subsector de Mareué, então criado na zona de acção do BCaç 2893, mantendo, no entanto, dois
pelotões em Paiama até meados de Mai71 e depois apenas um até Jun71.

Após deslocamento, em 18Ago71, de dois pelotões para Bissau, foi rendida pela CCav 3405, em 05Set71, tendo seguido, em 08Set71, para Bissau, a fim de substituir a CCaç 2724 no subsector de Brá, ficando na dependência do COMBIS, com vista a garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 23Nov71, foi rendida pela CCav 2765 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º  112 - 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 141/142

________________

Notas do editor

(*) Vd. postes de 


6 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25040: Tabanca Grande (554): Alberto Pires, "Teco", natural de Angola, ex-fur mil da CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jul 1966): passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 883

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24899: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (19): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Mês de Agosto de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

19 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

MÊS DE AGOSTO DE 1970

João Moreira



SITUAÇÃO
1. TERRENO
O capim cresceu desmesuradamente, as bolanhas estão alagadas. Os percursos tornam-se mais difíceis embora de dia a chuva ajude pois refresca.
Emboscadas noturnas insuportáveis pois a chuva é permanente.

2. NT
Mais experientes e adaptados, como é natural. Actuação calma.

b. ACTIVIDADE
Actividade normal com 1 saída diária.
Em 07AGO70 operação ALMA MINHA do BCAÇ 2861.
Uma série de notícias referem concentração de Grupo IN (MAQUÉ) na região de NHANE, BISSAJAR, BANCOLENE.
A CCAÇ 13 de BISSORÃ e a CCAV 2721 seguem juntas até BISSAJAR onde se separam. A CCAV 2721 para se dirigir a NHANE a CCAÇ 13 para BANCOLENE e JAGALI MANCANHA. Dois contactos da CCAÇ 13 em que sofre 1 ferido grave e provoca 2 mortos confirmados ao IN, recupera 3 (M) e 3 (C), captura 1 pistola e 1 canhangulo e destrói 5 casas de mato e meios de vida.
A CCAV 2721 não contacta e recupera 1 (M) em NHANE.
A operação foi comandada por PCV pelo Cmdt. Batalhão e foi apoiada por 1 heli-canhão.
Em 19 fugiram 2 mulheres que tinham sido recuperadas em JULHO em IRACUNDA.
Domingo, 231700, grupo IN não estimado flagelou o quartel e povoação com morteiro 82 durante 10 minutos, de BINTA 7E6 provavelmente. Provocou 1 ferido grave e 1 ligeiro, ambos civis. Foi pedido apoio aéreo visto ser a melhor maneira de provocar baixas. Dois FIAT não se fizeram esperar e metralharam a zona.
Mais tarde, série de notícias C-3 recebidas da CCAÇ 2465 refere que o IN sofreu 5 mortos nesta flagelação, entre os quais um comandante de grupo. Estas notícias são no entanto improváveis no julgar deste comando.
Em 26 fugiu 1 homem que fazia parte do grupo recuperado em IRACUNDA. Com este homem iam a fugir mais 4 mulheres que no entanto foram impedidas por elementos da população nos trabalhos agrícolas.
Nota-se já com a experiência que fica de Companhias anteriores que os MANDINGAS fogem muito enquanto que os BALANTAS pouco.
Este facto não deverá ser só atribuído a idiossincrasia étnica, a mentalização, etc.
Assim o facto mereceu uma pequena investigação, e algumas conclusões expostas no relatório A/P.

​EXTRACTO DO RELATÓRIO PERIÓDICO DE ACÇÃO PSICOLÓGICA N.º 5/70

FACTORES DA SITUAÇÃO PSICOLÓGICA

POPULAÇÃO

Motivações susceptíveis de virem a ser exploradas pelo IN
Acerca da fuga de recuperados mandingas, muito mais frequentemente que de outras etnias, provoquei uma discussão aberta entre os chefes da população fixados no OLOSSATO e elementos recuperados tendo chegado a uma conclusão que é possível tenha interesse:
(a) Um dos motivos que os levam a fugir são laços afectivos com elementos que ficaram no mato, por ordem de importância: filhos, maridos, mulheres e irmãos.
(b) No entanto há um outro, talvez ainda mais importante e que segundo concluí, conhecida mesmo entre a população controlada pelo IN e que pode ser um dos factores impeditivos de apresentações além de, como já disse, provocar fugas:
- Os recuperados, quando são libertados para se integrarem na população, vão, como é natural, para casas de parentes com os quais habitam e colaboram até poderem adquirir a autonomia social e económica.
Ora, enquanto entre fulas e balantas existe uma verdadeira vontade de entreajuda, entre os mandingas (nos quais se nota desde a chegada dos parentes um excesso de zelo e de afinidades de parentesco) persiste um certo espírito de exploração económica e de cobiça sexual, que tentam efectivar à sombra da bondade e vontade de ajuda do parente desprotegido.
Assim este último, ao fim de algum tempo começa a sentir-se alvo de pressões a que dificilmente tem coragem para resistir (não têm os parentes as "costas largas" com o apoio e confiança das autoridades civis e militares, enquanto elas são as réprobas, têm a "cabeça cheia de vergonha" e não devem merecer a total confiança das autoridades? - possivelmente serão os próprios parentes que lho faz "ver" explícita ou implicitamente por meio de observações, conversas, insinuações, censuras) e vai cedendo lentamente, parte das vezes permitindo até violações à tradição que tão fortemente o marca. A rapariga que tem o noivo no mato e se vê a casar com um camafeu estabelecido. O artífice que vai começando a ganhar "patacão" e é explorado "ab início" sob a alegação que está a ser ajudado pelo anfitrião. O "tio"ganancioso que recolheu em casa a rapariga recuperada e põe dificuldades ao seu casamento com o rapaz de que gostou porque quer receber o pagamento respectivo, (pois o pai dela está no mato, "sabe-se lá onde e como coitado") mas não tem direito a esse pagamento enquanto o pai dela for vivo, podendo aparecer em qualquer altura e exigir o dote à família do rapaz que não está para pagar duas vezes (não se trata aqui de respeitar um direito de tutor visto a rapariga ter já entrado na maioridade). O velho ou quase, que cobiça os braços da rapariga para a lavoura e a sua beleza e juventude para carinho e prestígio senil, forçando-a sob pretexto de gratidão a união desigual.
Enfim, um sem número de pressões, pequenos ultrajes, a que recuperado se vê sujeito no seio dos seus próprios irmãos e que forçosamente afectam a sua vontade de permanência.
Quase me arriscaria a dizer que o problema dos familiares (mesmo os filhos) ficados no mato, é de somenos importância, perante a submissão a que se veem obrigados, até porque a psicologia gentílica é muito mais atreita a factores de ordem económica e social do que propriamente a uma afectividade na maior parte das vezes consequência daqueles mesmos factores.
Suponho que o problema existe realmente e não é de desprezar para recuperação e integração dos Mandingas.

Em 27 durante a picagem da estrada para BISSORÃ, para uma coluna de reabastecimento, foidetectada e levantada 1 mina A/C reforçada com 1 mina A/P em BINTA1I8.31.

Da crítica à Act. Op. n.º 78 do COMANDO-CHEFE consta que:
"A CCAV 2721, que vinha desenvolvendo apreciável actividade, acusou, no período, ligeira quebra de rendimento".
A esta crítica respondeu o BCAÇ 2861: "Em referência à crítica supra, informo V. Exª. que a ligeira quebra de rendimento da CCAV 2721 foi devido ao facto de nos dias 29 e 30 de Julho, embora previstas acções nas regiões de BISSAJARINDIM e COLI SARE, conforme constava do Planeamento da Actividade Operacional elaborado pela CCAV 2721, aprovado por este Comando, do qual se envia 1 cópia, se terem realizado colunas auto entre OLOSSATO-BISSORÃ e BISSORÃ-OLOSSATO.
Por lapso não foi mencionado no n/SITREP n.º 529, a realização da coluna auto, BISSORÃ-OLOSSATO, a cargo da CCAV 2721.

Da crítica n.º 80 transcreve-se:
" . . . anotando-se ausência da actividade noturna da guarnição do OLOSSATO (CCAV 2721)."

(c) RESULTADOS
- Baixas ao IN
Recuperado - 1 elemento da população
Apresentado - 1 Elemento da população

- Material capturado
Mina A/C - 1 levantada
Mina A/P - 1 levantada

- Baixas NT
feridos - 2 elementos da população


Com baixa para saídas, por ter arrancado uma unha e não poder calçar.
Bilhete de Identidade Militar

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24877: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (18): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Julho de 1970 - Acção "Bacará"

domingo, 12 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24843: S(c)em Comentários (15): Ainda a propósito da Operação Jaguar Vermelho, levada a efeito entre 26MAI e 11JUN70, na Região do Morés, com a participação da CART 2732 (Carlos Vinhal)

Localização do MORÉS - Região do Oio - no triângulo formado pelos itinerários Mansoa-Bissorã-Mansabá-Mansoa
Infografia: © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Recorte da pág. 486 do 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional - Tomo II - Guiné - Livro II da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)


1. Ainda a propósito da Operação Jaguar Vermelho, levada a efeito entre 26MAI e 11JUN70, na Região do Morés, transcreve-se o constante nas páginas da HU da CART 2732:

DA HU DA CART 2732, CAP II / FASC 1 /PÁG 6 E 7:

26 DE MAIO DE 1970 - INÍCIO DA OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO"

Na 1.ª Fase, de 25 a 26MAI, 02 GCOMB emboscaram em MAMBONCÓ sem resultados.

Em 30MAI, a CART a 4 GCOMB reforçada com 01 SEC do PEL MIL 250, deslocou-se para a Regiãi de CÃ QUEBO. Ao entrar na mata de CÃ QUEBO, foram detectados 02 elementos IN armados. As NT abriram fogo sem que estes fossem atingidos. Fez-se uma batida a numerosos trilhos e vestígios da fuga IN. Montada uma emboscada sem resultado. Às 19h00 encontro com um grupo IN armado com armas aur. e mort. 60. As NT abriram fogo pondo em debandada o grupo IN, e, por ser escuro, não se efectuou batida.

Em 31MAI às 05H00 iniciou-se a batida à procura de casas de mato cuja localização aproximada se adivinhava. Em FARIM 1A5 encontradas 4 tabancas que foram destruídas, tendo sido apanhados 2 carregadores de arma aut. e material sem significado. Às 18H00, golpe de mão a um aldeamento com cerca de 100 casas, já abandonado, onde foram capturadas munições de armas ligeiras e utmsílios domésticos. Em FARIM 1A5 montou-se uma emboscada e apareceram 2 el IN que fugiram depois de as NT abrirem fogo sobre os mesmos. Fez-se uma batida e então o IN estimado em 2 grupos fortemente armados, emboscou as NT causando um ferido (milícia), e 1 praça do Pel Caç Nat partiu um dedo ao fazer fogo de morteiro.

Em 01JUN foi pedido fogo de artilharia pois ouviam-se vozes e tinha-se que passar a bolanha para o regresso a MANSABÁ onde se chegou pelas 15H00.

Na 2.ª fase, de 03 a 05JUN, 2 GCOMB montaram emboscada em FARIM 1F3 sem resultados.

Em 07, a Companhia a 4 GCOMB deslocou-se em meios auto para MAMBONCÓ. As NT dirigiram-se para BIGINE. Encontraram em seguida o trilho CAI-MORÉS que não tinha nenhuns vestígios de passagem. Montaram emboscada e pernoitaram na zona. No dia seguinte dirigiram-se a TAMBATO. Dirigiram-se depois à bolanha de MANSOA 9I3 para serem reabastecidos de água e fazerem a evacuação de 3 doentes. Cerca das 16H00 à ordem iniciaram o regresso à estrada CUTIA-MANSABÁ onde chegaram às 17H30.

Posição relativa de Mansabá-Cã Quebo-Bigine e Cai. © Infografia da Carta de Farim 1:50.000 (Luís Graça & Camaradas da Guiné)
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Notas do editor

Vd. poste de 9 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24836: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (16): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés

Último poste da série de 10 de Novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24838: S(c)em Comentários (14): Os fulas, que se alistaram nas forças armadas portuguesas, valorizavam o dinheiro, mas nunca perdiam de vista o mais importante que eram objectivos políticos a longo prazo (Cherno Baldé, Bissau)

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24554: Notas de leitura (1606): "Um cripto na terra vermelha da Guiné", por Humberto Costa; 2.ª edição, 2020, Eudito (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
Mais uma edição de autor, tive a dita de a encontrar na Biblioteca da Liga dos Combatentes, um fornecedor sempre generoso. Temos o percurso do cabo Humberto Costa, operador cripto em Mansoa e Bissau, foi coligindo notas do seu itinerário desde a recruta à disponibilidade. Homem manifestamente sociável, atento à miséria das populações, realça aspetos divertidos e bizarros que a tropa sempre oferece. Não há nenhuma farronca, não se disfarça de herói o combatente, diz o que sente debaixo de fogo, provou diversas flagelações, e por ser cripto vai tomando nota da atividade operacional do setor de Mansoa. Edição profusamente ilustrada, faltava-nos o depoimento constituído por notas de um cabo cripto quase no final da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário



Um cripto na terra vermelha da Guiné

Mário Beja Santos

É o primeiro livro de Humberto Costa, 2.ª edição, 2020, Eudito (geral@eudito.com), natural de Cedofeita, infância vivida no Monte Aventino, com currículo de grande participação como autarca e desportista; é atualmente presidente do Grupo Dramático do Monte Aventino. Ajunta as suas notas diárias entre 1971 e 1974: recruta em Viseu (8 horas de viagem entre o Porto e Viseu, o comboio era dos antigos com máquina de carvão), conta episódios divertidos de desenfianços e calacices; curso de escriturário em Leiria, nota-se sempre a preocupação em registar o nome de amigos e conterrâneos; curso de operador cripto na Trafaria. Explica-nos o que é ser operador cripto, a natureza das mensagens (romeo – rotina; uniforme – urgente; óscar – imediato; zulo – relâmpago); vai estagiar na Figueira da Foz, nunca se escusa a contar uma boa pilhéria. Chega a Bissalanca em 13 de março de 1972 e segue diretamente para Mansoa, regista as elevadas temperaturas, anota por onde passa:

“Vimos um povoamento, era Infandre, que fica separado de Mansoa pelo rio Mansoa, atravessámos a ponte e entrámos em Mansoa. O quartel estava do lado direito, em frente ficava a vila com uma igreja grande, um cinema ao ar livre, um posto de gasolina, o campo de futebol dos Balantas e o mercado municipal, bem como a igreja. O comércio era exercido maioritariamente por libaneses. Foi colocado na Companhia de Caçadores n.º 15”.

Dá-nos a composição das unidades militares sediadas em Mansoa. Tem batismo de fogo em 31 de março, ataque a Mansoa e Cussaná. Regista o seu espanto de ter visto crianças com latas na porta do refeitório, esperando que os soldados acabassem de comer para irem limpar as mesas e empurrar os restos para dentro das latas. Em 5 de abril há flagelação a Infandre bem como a Mansoa, que sofreu mortos e feridos na população. Dias depois anota que três elementos civis foram vítimas de mina antipessoal.

A obra está repleta de imagens de Humberto Costa, imagens de obuses, rescaldo de flagelações, crianças, patuscadas, a família da lavadeira, jogos de futebol, infraestruturas, e muito mais. Em 27 de abril, regista que numa coluna entre Bissorã e Mansoa rebentou uma mina; em maio fugiu um soldado operador cripto. Vê-se perfeitamente que registou um elevado acervo de sinistros desde emboscadas a flagelações, Mansoa em 26 de junho é flagelada com intensidade. 

“Um foguetão atingiu a torre da igreja junto ao meu local, outro a bomba de gasolina na mesma rua, mas mais ao longe. Estilhaços de granada de canhão sem recuo caíram perto de mim, atirando terra para as minhas costas, então pus a mão e senti húmidas as costas, pensando logo que era sangue. Quando me levantei senti que estava bem”.

Inventaria acidentes, as atividades operacionais da CCAÇ 15, as festas dos seus aniversários passados na Guiné. Está sempre pronto para contar peripécias. Nos seus apontamentos não escusa a deixar notas pessoais como o que se sente debaixo de fogo:

“A tremedeira do nosso corpo, o bater forte do nosso coração que parece mesmo que não vai resistir, a cabeça que pensa rápido, mas fraqueja. Só pensamos em esconder e proteger pelo menos a nossa cabeça. Mas quando se ouve um camarada aos berros, porque foi atingido por um estilhaço ou bala e diz alto ‘vou morrer!’, isto é terrível, sentimos também a dor dos nossos camaradas. A pressão é enorme naquela altura. E então vem o silêncio e nós dizemos que já acabou por hoje. Assim, mais calmos, corremos para os nossos camaradas feridos e para aqueles que estão em estado de choque. No dia seguinte e pela mesma hora estamos todos a olhar para o céu para ver se vem mais guerra”

Dá nota de um acontecimento, durante meio ano aproximadamente foi tempo de pausa na guerra de Mansoa.

Em setembro de 1973 deixou Mansoa para ser integrado no Centro Cripto da CCS do Quartel-General em Bissau. Deixa anotados os encontros com a malta amiga e vizinha, mais um rol de fotografias e escreve nos seus apontamentos em 4 de novembro:

“Ao quartel-general chegou um operador cripto que estava num quartel junto à fronteira com o Senegal. Disse que tiveram de abandonar o quartel depois de um ataque do inimigo. Andaram perdidos durante vários dias. Alguns seguiram o caminho certo e encontraram população ligada às nossas tropas. Outros andaram sem norte, passavam fome e sede, beberam a própria urina para resistir à seca dos lábios. Até que um dia foram avistados. Este operador cripto ao contar isto tremia por todos os lados. O medo era muito forte, não sabiam para onde ir, então corriam para o mato que era mais escondido. Muitos, depois da calma, lá vinham ter com os companheiros, outros perdiam-se”.

Volta a Mansoa em 12 de dezembro, acompanha o seu substituto na CCAÇ 15. Nessa noite foram atacados, teve mais medo porque estava no final da sua estadia em Mansoa. Descreve assim o seu Natal de 1973: 

“Estando eu nos Adidos na véspera de Natal, comi uma posta de bacalhau pequena e duas batatas cozidas para ter algo que me lembrasse o Natal. Comprei dois bolos e uma lata de Fanta”.

 Em 6 de janeiro saiu de Bissau para Lisboa. Os últimos elementos da sua obra são considerações sobre as guerras que travámos em África, mostra curiosas ilustrações da ação psicossocial do Exército Português para atrair as populações do mato e termina o seu trabalho saudando o 25 de Abril.

Posto de gasolina de Mansoa danificado depois de uma flagelação
Igreja Católica de Mansoa
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24549: Notas de leitura (1605): "O Elogio da Dureza", por Rui de Azevedo Teixeira; Gradiva Publicações, 2021 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24006: Blogues da nossa blogosfera (173): CART 1525, "Os Falcões" (1965/67): postais ilustrados de Bissau, 1993, e fotos de Bissorã, 1997

Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado:  (i) A "Baiana" é uma esplanada defronte do desaparecido Café Portugal (ao fundo da Av Principal); (ii) Mercado de Bandim. Mercado tradicional que se estende pela nova estrada que liga Bissau ao aeroporto e que segue mais ou menos a antiga estrada que conhecemos; (iii) Uma rua de Bissau


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita).


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Piscina do Hotel 24 de Setembro: Antigas instalações da Messe de Oficiais do Quartel General do CITG / Exército Português


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado >   Hala Hotel  - HOTEL & Aqua  Park, sito na Avenida Combatentes Liberdade da Pátria
 

Guiné-Bissau > 1993 > Postal ilustrado > Mulheres Bijagós

Fotos (e legendas): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > Da esquerda para a direita: 2º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, dois Adidos Militares Portugueses, 1º Comandante do Batalhão de Mansoa do Exército da Guiné Bissau, Coronel Mourão e um membro civil da comitiva da Fundação Bissaia Barreto de Coimbra


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > O monumento aos mortos em combate da CArt 1525


Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã >  1997 > 1997 O monumento aos descobrimentos portugueses na praça principal

Fotos (e legendas): © Jorge Manuel Piçarra Mourão (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Por ter feito ontem anos o Rogério Freire, não podemos deixar de lembrar, mais uma vez, a sua página,  CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), não só por ter sido criada por ele (e que  também a continua a editar e a manter),  mas igualmente por ser um das mais antigas da nossa blogosfera, centrada numa só companhia e, ainda por cima, das mais completas em termos de informação (*). 

O Rogério Freire, que foi alf mil daquela companhia, e profissionalmente foi delegado de propaganda médica e esteve ligado  à área da informática, é também um dos históricos do nosso blogue (entrou em 13/10/2005), e é um dos que se tem preocupado com o futuro dos nossos blogues e páginas na Net (**)

Infelizmente, ele é também o único representante dos "Falcões" na Tabanca Grande... De qualquer modo, em sua homenagem e à página que criou e vai mantendo, com tenacidade e paixão, aqui se reproduzem algumas das colaborações fotográficas dos seus camaradas, com a devida vénia: 

(i)  cinco "postais ilustrados", da Guiné-Bissau, enviados pelo ex-furriel mil Magalhães durante a sua estada naquele país em 1993;  o fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido, pertencia ao 1º Gr Comb da CART 1525,  comandado pelo alf mil  Rui César S. Chouriço, e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra;

(ii) três fotos da visita, a Bissorã,  do cor art ref  Jorge Manuel Piçarra Mourão, ex-comandante da CART 1525 (Bissorã, 1965/67) (tem 7 referências no nosso bogue).
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Notas do editor:

domingo, 15 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23984: Blogues da nossa blogosfera (172): O sítio da CCAÇ 13, Os Leões Negros, criado em 2003 pelo Carlos Fortunato, e descontinuado em finais de 2012 por estar alojado no Sapo (Felizmente fomos recuperá-lo através do Arquivo.pt)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (1969/71) > O fur mil Carlos Fortunato e o soldado Calaboche Tchudá, balanta, natural da região Bissorã, apontador de LGFog, Cruz de Guerra de 4ª Classe, Prémio Governador da Guiné, em 1971...No regresso de uma patrulha, ao atravessar um riacho, perto de Bissorã, Calaboche agarra o furriel Fortunato e grita: "Tira uma fotografia e manda para a família a dizer que o furriel Fortunato foi apanhado por um turra"... Infelizmente, o Calaboche Tchudá seria fuzilado em Bissorã pelo PAIGC logo nos primeiros tempos, após o reconhecimento da independência por Portugal.



Guiné > Região do Oio > Bissorá > CCAÇ 13 (1961/71)
Um dos Grupos de Combate. 


Fotos (e legendas): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O
Carlos Fortunato é um dos histórios da Tabanca Grande. Tem mais de 80 referências no nosso blogue, foi fur mil 
arm pes inf, MA, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13 ( Bolama, Bissorã, Binar, Encheia, Biambi, 1969/71); profissionalmente, trabalhou na área da informática (sendo especialista em Sistemas de Informação, Sistemas de Gestão da Qualidade e Web Design); foi dos primeiros a ter uma página na Net sobre a guerra colonial na Guiné, e mais especificamente sobre a sua subunidade, anterior mesmo ao nosso blogue,   criada logo no início de 2003... 

Sobre a sua página ele apresentou-a, a todos nós, em 2005, da seguinte forma (*):

(...) O 'site' CCAÇ 13 -Os Leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71) (orignalmente alojada aqui: http://leoesnegros.com.sapo.pt/index.html ) é um repositório de alguns dos momentos vividos pela CCAÇ 13, companhia constituída por balantas, enquadrados por oficiais, furriéis, cabos e especialistas vindos da metrópole, que os treinaram e depois conduziram em operações, nomeadamente no seu chão.

Em narrativas curtas, contam-se algumas das acções que ocorreram neste período, tentando dar uma imagem do que era a guerra na Guiné, não esquecendo o contributo dos soldados africanos nem o seu abandono.

A CCAÇ 13 era uma companhia de intervenção e, como tal, passou o seu tempo saltitando de um lado para o outro em operações. O 'site' descreve alguns dos eventos, que se passaram quando da sua passagem por Bissau, Bolama, Bissorã, Binar, Biambi, e Encheia, que incluíram uma visita ao pelo mítico Morés, e a deslocação a Bissau para participarem na famosa Operação Mar Verde.

Sempre documentado com fotos e curiosidades, umas vezes com humor, outras com mágoa, é um site que procura dar o seu pequeno contributo, para a constituição da nossa memória colectiva, e para que a verdade seja consolidada. Este site é actualizado anualmente.

Lista dos títulos dos artigos do site:

Bissau

Um mundo diferente
A boneca de osso
A invasão da Guiné Conackry (Operação Mar Verde)
A 13ª Companhia de Comandos

Bolama

A ilha de Bolama
O desembarque do dia "D"
Os felupes e os balantas
Realizando o impossível
Quem é melhor ? Manjaco, manjaco, manjaco
Inimigo à vista

Bissorã

A vila de Bissorã
A defesa de Bissorã
A equipa maravilha
O morto mata 4
Visita ao QG do PAIGC no Morés
Curiosidades sobre algum material capturado ao PAIGC
O ataques da bicharada
Presentes de guerra
Fotografando o inimigo

Binar

O quartel de Binar
Ataque a Binar
Os construtores de quartéis
Cubano capturado nos arredores de Binar
A morte vem de avião
Os periquitos

Encheia

A localidade de Encheia
O falso abrigo

Biambi

O quartel de Biambi
A "conquista" do Queré
A velhinha e o galo
Ataque ao Biambi
Os comandos do PAIGC
A morte dos 3 majores

Carlos Fortunato


2. Comentário do editor de L.G.


O Carlos Fortunato criou e manteve uma das primeiras páginas na Net sobre uma subunidade de intervenção, a africana CCAÇ 13,  a operar no teatro de operações da Guiné,  desde 1969 até ao final da guerra.  

A página abria com uma conhecida música dos Beach Boys, "I get around...",  uma forma bastante feliz de descrever as andanças ou a errância da CCAÇ 13.

As estórias do Carlos eram  bem contadas,  simples, coloquiais… Na altura até  achávamos que dariam para desenvolver um pouco mais, e que faltavam talvez links para fazer melhor a articulação entre as diversas partes dos textos…  Também havia ainda pouco uso das nossas cartas ou mapas,  para o visitante se poder localizar melhor… O "site" foi  aumentado e melhorado,  e atualizado com regularidade...

Interessantes eram as observações sobre os balantas e os felupes, e muito úteis, sobretudo para aqueles não tiveram o privilégio de conviver, como o Carlos,  com estes dois grupos étnicos.   Numa mensagem que ele mandou em tempos ao nosso editor,  escrevia o seguinte a respeito dos felupes e dos balantas:

"Os felupes devem ser os mais extraordinários guerreiros da Guiné, o alferes que me deu o curso de minas e armadilhas esteve com eles no mato, e contava que eram uma coisa incrível. O felupe que ia sempre à frente chamava-se Cowboy, e por vezes parava e dizia 'está ali uma mina, ali outra e ali outra'. E estavam mesmo!...

"Fizemos uma pequena competição de luta corpo a corpo entre balantas e felupes, e os balantas não ganharam uma única luta ... ".

Infelizmente a página do Carlos Fortunato foi descontinuada,  em finais de 2012,  por estar alojada no Sapo. Perdeu-se um manancial preciosíssimo sobre a Guiné do nosso tempo, e em especial sobre uma das valorosas companhias da então "nova força africana" do gen Spínola...

Mas, por sorte, fomos reencontrá-la, recuperada (em 1 de julho de 2011) pelo Arquivo.pt (**)... Eis o endereço;


Não sabemos ainda qual a intenção do Carlos Fortunato,  de repor ou não a página. Foram muitas horas e dias de trabalho perdido... E ele hoje tem outras missões, mais prementes, sendo presidente da ONGD Ajuda Amiga

Vamos "negociar" com ele a autorização para reproduzir, aqui,  alguns dos seus melhores textos e fotos, até por que há muitos dos nossos leitores, mais novos, que nunca chegaram a conhecer o sítio. Para já fica aqui a feliz notícia da recuperação da(s) sua(s) página(s), que ele com tanto carinho, competência e paixão desenhou, criou e manteve durante cerca de 10 anos.

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Notas do editor: