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sábado, 6 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25344: Reordenamentos Populacionais (4): Uma perspetiva mais "securitária", no final do mandato de Arnaldo Schulz: em março e abril de 1968, foram deslocadas e reagrupadas cerca de 3 mil pessoas do "chão balanta"

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, s/d. Imagem da coleção do Alfredo Reis, ex-alf mil, hoje  veterinário, reformado, vivendo em Santarém.  Nesta imagem, retrata-se o com-chefe e governador-geral gen Arnaldo Schulz (o militar em primeiro plano, do lado esquerdo, ladeado pelo comandante militar, que era brigadeiro). A "nova tabanca" , reordenada, ainda tem casas com cobertura de colmo...

Foto: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Zona Oeste > Região do Óio > Sector 03(A) (Mansoa) > Porto Gole > Fevereiro de 1967 >  À despedida: em segundo plano, o  gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54,  com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Já aqui dissemos que nos 3 livros da CECA (Comissão para o  Estudo da Campanhas de África), sobre a atividade operacional no CTIG (de 1963 a 1974), não há qualquer referência a reordenamentos no primeiro (que vai até ao final de 1966, ou seja até meados do mandato do gen Arnaldo Schulz, como Com-Chefe e Governador do território) (*). 

É já só no final do mandato (1.º semestre de 1968), que aparecem as primeiras referências a reordenanentos, mas sempre associados a deslocamentos de populações, realojamentos, controlo, segurança, autodefesa... Ainda não é suficientemente explícito o binómio reordenamento populacional/desenvolvimento socioeconómico (que é uma marca spinolista). 

 Já no  livro 2 (1967-1970) há  cerca de 70 referências ao descritor "reordenamentos". No 3º (último) livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências.

O brig Spínola assumirá funções, como Com-Chefe e Governador da Guinél, em 24 de maio de 1968, e logo em 3 de junho, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n.° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".

Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva,   Directiva n.º 43/68 ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...). E em 16 de outubro, a Directiva n.° 49/68 (Relações da Divisão de Organização e Defesa das Populações  com o CTIG e Autoridades Administrativas).

 No essencial, a doutrina do novo Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).

Nesse 2.º semestre de 1968 saem dezenas de diretivas Directivas do Comandante-Chefe. Eis algumas das mais relevantes, por tema e número:

- Dispositivo (zona sul): números 1 a 6, 9, 10, 14, 15 e 40

- Defesa de Bissau - números 8, 16 e 21

- Operações - números 24, 25 e 35

- Contrapenetração: números 7, 22, 26 a 29, 32, 37, 52 e 54

- Remodelação do dispositivo: números 17, 20, 36, 42, 51 e 56

- Defesa das populações e autodefesa: números 39, 41, 43, 47 e 53

- Assuntos diversos: números 30, 45, 48, 57 a 59

- Reordenamento e defesa das populações: números 43 e 49

- Operações Psicológicas: "Alfa" e número 60


II. Nos últimos meses do mandato de Schulz, ainda em época seca (março e abril de 1968),  parece ter havido um incremento das deslocações e realojamentos de populações sobre controlo do IN ou sob duplo controlo, nomeadamente no "chão balanta", no Sector Oeste 3(A), Mansoa, e Sector Oeste 01, Bula.

Terão sido da ordem das 3 mil as pessoas deslocadas e regrupadas nos primeiros reordenamentos em construção na Zona Oeste (Enxalé, Bissá, Infandre, Braia, Rossum, Bindoro, Biambe).

Aqui fica um excerto do livro 2 da CECA (pág. 160): 

(...) "Para controlo e segurança das populações, estas foram reordenadas, segundo missões atribuídas aos Comandos de Sector.

Especialmente nos meses de março e abril de 1968, foram efectuadas operações para instalar as populações em reordenamentos. Em NEP, foram dadas instruções para que se organizassem as tabancas em autodefesa.

Com a finalidade de garantir a segurança das populações nos deslocamentos para núcleos reordenados, as NT executaram as operações:

  • "Fruta de Outono" (10 e 11Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), 247 elementos da população para Enxalé.
  • "Fruta de Outono II" (13 a 19Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), população das tabancas da área para Porto Gole e de Seé e Funcor (60 elementos) para Bissá.
  • "Baloiço Nocturno" (26Mar), recolhida a população (224) de Ponta de S. Vicente, Sector 01.
  •  "Espenda" (29Mar), recolhidos 14 elementos da população de Cã Cumba, Sector 03.
  •  "Uvas Douradas" (10 a 12Abr), das tabancas de Uanquelim, Claqueiala, Inquida e Nhaé, Secto 03(A) foram deslocadas para local de reordenamento 510 elementos da população.
  • "Mudança Volumosa" (15 a 18Abr), das tabancas de Nimane, Enchanque, Encorne, Contubó e Nhenque, Sector 03(A), foram evacuados 150 elementos da população para Infandre e Braia.
  •  "Romã Amarga" (22 a 24Abr), 500 elementos da população de Ansonhe, Sector 03(A), foram deslocados para o núcleo reordenado de Bissá.
  • "Mudança a Varrer" (22 a 24Abr), da região entre Polibaque e Bindoro, Sector 03(A), foram evacuados 330 elementos da população para Bindoro.
  •  "Ananás ao Jantar" (26 a 29Abr), das regiões de Enchugal e Bissorã para Rossum, Sector 03(A), foram evacuados 600 elementos da população.
  •  "Grande Pera" (29 e 30Abr), a população de Gambia e Birribaque, Sector 03(A), recolhida para Rossum.
  •  "Barrar" (24Abr), retirados da região de Claque, Sector 01, 190 elementos da população para Biambe. "(...)

III. A preocupação era então predominantemente "securirária", a avaliar pelo teor da Nota n° 2310,  de 29 de abril de 1968,  da 3ª Rep/QG/CTIG), que se reproduz  a seguir (Anexo nº 2,  Capítulo II - Ano de 1968)

Cap II - Ano de 1968 / Anexo n° 2 - Autodefesa das Populações

"Sobre o assunto acima referido encarrega-me Sua Ex", o Brigadeiro Comandante Militar de transmitir a V. Ex". o seguinte:

1. Ao lN é indispensável o apoio da população na obtenção de alimentos e informações e no recrutamento de novos combatentes.

Torna-se assim necessário e urgente isolar o lN das populações, continuando activa e persistentemente os trabalhos de reordenamento das populações da Guiné, já encetados por algumas unidades.

Antecipemo-nos em relação às populações que não colaboram com o lN. Disputemos-lhe as populações sob duplo controlo. Retiremos-lhe as que vivem sob o seu controlo.

2. O reordenamento pode fazer-se por agrupamento ou por dispersão. O agrupamento facilita o controle das populações duvidosas ou anteriormente afectas ao ln, mas tem como limite a capacidade de protecção das guarnições militares e as possibilidades de exploração local dos meios de vida.

A dispersão das populações fiéis facilita a cobertura do território com uma malha de tabancas capazes de detectarem a presença e os movimentos do ln, mas tem como limite a capacidade deautodefesa dessas tabancas.

Os Srs. Comandantes ajuizarão para cada caso a solução local mais conveniente, considerando aqueles limites, o grau de confiança das populações e a conveniência de reduzir as suas transferências.

3. O reordenamento das populações tem como finalidade o controlo e a segurança das mesmas.

O controlo obtém-se pelo enquadramento das populações pelas autoridades locais, militares, administrativas e policiais. Estas autoridades coordenam a sua acção nos problemas de influência recíproca através do CADMIL (Conselho Administrativo Militar).

Aquele enquadramento é reforçado e completado até aos maisn pequenos núcleos populacionais pelas autoridades gentílicas (régulos, chefes de povo, de tabanca e de morança).

As autoridades gentílicas devem ser escolhidas respeitando embora as tradições indígenas mas atendendo sobretudo ao seu prestígio, capacidade de chefia e lealdade à causa nacional.

Além do recenseamento, o controlo exerce-se sobre as actividades da população, os abastecimentos, os meios de transmissão e de informação, o armamento, etc.

Os Srs Comandantes promoverão que sejam adoptadas, em colaboração directa com as AA ou através do CADMIL, todas as medidas necessárias ao cerrado controle das populações.

4. O reordenamento tem de completar-se com a segurança das populações. Só a população defendida pode resistir às acções de intimidação e de força do lN. Não é possível, porém, destacar tropas para a protecção de todas as tabancas, nem concentrar todas as populações junto das guarnições existentes. Daí a necessidade de organizar em autodefesa as tabancas afastadas das guarnições militares.

5. Para sobreviverem, as tabancas têm de possuir a capacidade de resistência suficiente até ao seu socorro pelas NT ou por grupos móveis de tabancas vizinhas.

Para tanto, convém que estejam localizadas em zonas com condições de defesa, junto de um itinerário de socorro, picado e vigiado pela própria população, e que a sua organização do terreno e o seu armamento sejam tanto mais fortes quanto mais demorada for a chegada das forças do socorro.

Apesar disso, para uma resistência eficaz, não é indispensável que a autodefesa tenha armas idênticas às do lN (mort, mp, lgfog, etc.). A defesa usa-se para economizar meios e, por mais armas que tenhamos, o lN pode sempre reunir mais porque escolhe a tabanca e o momento de a atacar.

Contra os fogos lN, incluindo os de mort e lgfog, basta construir um espaldão à volta da tabanca e abrigos protegidos para o pessoal da defesa e população não válida.

Contra o assalto lN, é necessária uma cintura de rede de arame farpado com avisadores sonoros (garrafas e latas com pedras), batida eficazmente de posições de tiro de espingarda bem distribuida a toda à volta, granadas de mão e alguns dilagramas.

Contra a surpresa, uma vigilância permanente, noite e dia, com as sentinelas suficientes e a população laborando protegida pelos nhomens válidos com as armas à mão.

Contra a reunião de meios lN, há que responder com o socorro oportuno pelas NT ou por grupos móveis das tabancas vizinhas. Com efeito, quando o número de elementos válidos o permitir, poderá constituir-se, com o excedente da autodefesa, grupos móveis, de reacção ou de socorro, que procurarão envolver e cortar a retirada ao ln.

6. Tal como para o reordenamento, as populações têm de ser micialmente compelidas e depois insistentemente mentalizadas para a organização em autodefesa, até à sua adesão voluntária e colaborante pelo reconhecimento da eficácia do sistema, aliviando-se então progressiva e gradualmente a protecção directa pelas NT. Compelir, fazer e demonstrar depois.

7. Uma acção social bem orientada pode facilitar extraordinariamente o trabalho de mentalização das populações para a autodefesa, ganhando a sua confiança e tomando-as receptivas e colaborantes.

Assim, as tabancas em organização ou já organizadas em autodefesa devem ter a prioridade na assistência sanitária, educativa e económica a prestar pelas NT.

8. A autodefesa tem de acompanhar o reordenamento e começar desde já pelas populações mais colaborantes.

Para o efeito, cada Companhia poderá destacar uma força para junto de uma das tabancas fiéis e já reordenadas a fim de:

  • seleccionar o pessoal válido para a defesa;
  • distribuir armas e instruí-lo no tiro e na conduta da defesa;
  • de entre os mais aptos e de maior confiança, seleccionar os chefes de grupo e o responsável geral da defesa;
  • definir claramente as responsabilidades de cada um;
  • estimular a colaboração de todos e o prestígio dos elementos activos da defesa, em particular dos chefes com atribuição de poderes especiais, de armas melhores, etc.
  • instituir um sistema eficaz e, se possível secreto, de aviso e socorro;
  • mentalizar a população para a autodefesa e prestar-lhe toda a assistência sanitária, educativa e económica possível;
  • obrigar toda a população, com aptidões para tal, a participar nos trabalhos de organização do terreno, repartindo contudo as tarefas por forma a não afectar sensivelmente as suas condições de vida;
  • treinar com toda a população, até completa eficiência e automatismo, as medidas de vigilância, de alarme e de defesa.

A operação será depois repetida até à organização em autodefesa de todas as tabancas reordenadas.

9. Só às populações de confiança ou psicologicamente recuperadas se pode distribuir armas e munições sem o risco das mesmas serem entregues ao ln.

A protecção das populações duvidosas tem de ser feita pela guarnição militar mais próxima.

Em caso algum, as populações serão incluídas no perímetro defensivo das unidades. Poderão quanto muito, ser incluídas no seu perímetro exterior de vigilância, garantidos os campos de tiro do reduto da defesa e a saída fácil das forças de reacção.

10. Os Srs. Comandantes informarão o QG das tabancas em trabalhos de autodefesa, com a organização concluída e dos resultados obtidos.

11. A presente Circular adita as NEP-OP/CAP IV-l da 3a Rep/QG.

(Nota n° 2310 de 29 de Abril de 1968 da 3a Rep/QG/CTIG) (CECA; 2015, pp 260/263)

Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 2 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 604 pp.)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de abril de  2024 > Guiné 61/74 - P25341: Reordenamentos Populacionais (3): Na construção de casas usa-se, como vigas, as rachas de palmeira (de cibe, mas também de dendém) (Cherno Baldé, Bissau)

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24402: O nosso livro de visitas (219): Jaime Saraiva, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72), procura camaradas

Guião do BCAÇ 2928. Cortesia:
Coleçáo Carlos Coutinho  / Ultramar
TerraWeb (2009)

1. Pelo Formulário de Contacto do Bloger, recebemos no passafo dia 13, a seguinte mensagem:

 Gostaria de contactar com camaradas da CCaç 2789 / BCAÇ 2928 que estiveram na zona de Bula, 1970/72 ..Um grande Abraço para todos

Cumprimentos,

Jaime Saraiva | jaimepsaraiva1@gmail.com


2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Jaime, obrigado pelo contacto. 

 Infelizmente o único camarada que tínhamos na nossa tertúlia (somos 875, mas contigo podemos ser 876...) era o Luís F. Moreira, ex-fur mil trms,  CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72), já falecido em 2013 (foto à direita).
Era de Viana do Castelo. 

Se tu estiveste na Guiné e foste desta companhia, podes muito bem substituí-lo na nossa Tabanca Grande. Mandas duas fotos, uma antiga e outra atual, e duas ou três linhas com a tua apresentação: 
sou o fulano, tal, posto tal, pertenci à CCAÇ 2789 e procuro antigos camaradas, etc. 

Saúde e longa vida. Luís Graça

PS - A CCS / BCAÇ 2929 tem uma página, aqui no Facebook.


3. Pronta esposta do Jaime Saraiva:

Obrigado pela atenção dispensada... Fiquei triste com a noticia

Espero em breve mandar as duas fotos

Cumprimentos,
Jaime Saraiva
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24157: O nosso livro de visitas (218): Luís Reis Torgal, conhecido historiador e professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra: "por vezes passo os olhos pelo blogue, fui alf mil trms, Cmd Agr 2952 e COMBIS, Mansoa e Bissau, 1968/69"

sábado, 17 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23887: O nosso livro de visitas (217): Pedro Galriça, filho do ex-cap art Fernando Manuel Jacob Galriça, cmdt da CART 1647 / BART 1904 (Bissau, Quinhamel e Binar, 1967/68)


Guiné-Região do Oio  > Binar > Abril de 2017 >  "Uma pequena capela construída encostada a um poilão, que felizmente ainda se encontra de pé, e em cujo interior se encontrava exposta uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, que já lá não está. Fui aqui Comandante, como Capitão Miliciano, da então CCAÇ 17, que era constituída por 23 militares do Continente e por 144 militares da Guiné. Na frente da capela, situava-se a parada do nosso quartel." 

Foto do álbum de António Acílio Azevedo (ex-cap mil,  1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74). (*)

Segundo o nosso leitor, Pedro Galriça, esta capelinha teria sido construída pela companhia que o seu saudoso pai, o então cap art Fernando Manuel Jacob Galriça, comandou, a CART 1647 (Bissau, Quinhamel e Binar, 1967/68).

Foto (e legenda): © A. Acílio Azevedo (2017).
Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Pedro Galriça, filho do ex-cap art  Fernando Manuel Jacob Galriça, cmdt CART 1647 / BART 1904 (Bissau, Quinhamel e Binar, 1967/68)

Data - 16 dez 2022,  14:56  
Assunto - Guiné, Binar

Boa tarde,
Em pesquisas na Net, sobre referências ao meu Pai, cheguei ao blog que criou. O meu Pai foi oficial do exército, e esteve numa comissão na Guiné, em Binar e em Bula.

Pelo que sei,  a capela existente na árvore do aquartelamento de Binar terá sido construída por elementos da companhia que ele comandou;

Recordo-me de ele fazer referência a isso e ter inclusivamente algumas fotos/slides das várias fases da sua construção.
Esses slides, presumo que ainda em condições, devem estar por casa da minha Mãe, em Lisboa.
Interessa-vos este tipo de documentação, para instruir o vosso blog?

Cumprimentos,
Pedro Galriça

2. Resposta do editor Luís Graça:

Pedro, obrigado pelo seu contacto. O único oficial com o apelido Galriça, que passou pelo TO da Guiné, durante a guerra colonial / guerra do ultramar, só pode ser o seu pai, de nome completo Fernando Manuel Jacob Galriça. Foi comandante da CART 1647 / BART 1904, e esteve efetivamente em Binar, de setembro de 1967 a outubro de 1968, conforme ficha da unidade que reproduzimos a seguir.

Temos 25 referênciasao BART 1904 mas muito poucas às suas subunidades de quadrícula. Da CART 1647 não temos inclusive nenhum representante na nossa tertúlia (Tabanca Grande): o número de membros registados é já de 867 (entre vivos e mortos, desde 2004).

Tudo indica, pelo que me diz, que a construção da referida capelinha seja dessa época (set 67/out 68). O nosso camarada António Acílio Azevedo passou por Bula e Binar em abril de 2017 com mais um pequeno grupo de malta do Norte, numa viagem de "turismo de saudade", e tirou a foto que reproduzimos acima e a que o Pedro muito provavelmente se refere.

Se o Pedro um dia destes nos quiser e puder mandar algumas imagens digitalizadas não só da construção da capelinha como do resto da comissão de serviço do seu pai no CTIG, ficar-lhe-emos gratos. Os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Bem haja por honrar a memória do seu pai e dos seus homens, nossos camaradas,  da CART 1647. Bom Natal e Melhor Ano Novo de 2023. Luís Graça

3. Ficha de unidade > Batalhão de Artilharia n.º 1904

Identificação:  BArt 1904
Unidade Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia
Cmdt: TCor Art Fernando da Silva Branco
2º  Cmdt: Maj Art Adolfo Jorge Vilares da Costa
OInfOp/Adj: Cap Art Manuel Henrique Lestro Henriques

Cmdts Comp:
CCS: Cap Art João Gonçalves Vila Chã
Cap Art Artur Olímpio de Sá Nunes
CArt 1646: Cap Mil Art Manuel José Meirinhos
CArt 1647: Cap Art Fernando Manuel Jacob Galriça
CArt 1648: Cap Art Diogo Baptista Coelho | Cap Mil Art José Reis Fernandes Leitão
Divisa: "Firmes e Generosos"
Partida: Embarque em 11Jan67; desembarque em 18Jan67 | Regresso: Embarque em 310ut68

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, foi colocado em Bissau, rendendo o BCaç 1876 e assumindo as responsabilidades de segurança e defesa dos pontos sensíveis do sector a partir de 23Jan67, com as subunidades que lhe foram atribuídas, com a sede em Bissau e englobando os subsectores de Brá (Bissau), Nhacra e Quinhámel, tendo colaborado intensivamente no recenseamento da maior parte da população suburbana da cidade.

Após ter sido substituído no sector de Bissau pelo BCaç 2834, assumiu, em 18Jan68, a responsabilidade do Sector LI, com sede em Bambadinca e abrangendo os subsectores de Xime, Xitole e Bambadinca e, a partir de 06Mai68, ainda o subsector de Mansambo, então criado, tendo rendido no referido sector o BCaç 1888.

Desenvolveu intensa actividade operacional, orientada para a desarticulação dos grupos inimigos que tentavam fixar-se na zona de acção, para assegurar a ocupação territorial e para promover a autodefesa, segurança e promoção socioeconómica das populações.

Dentre o material capturado mais significativo salienta-se: 1 metralhadora pesada, 4 metralhadoras ligeiras, 6 pistolas-metralhadora e 17 espingardas.

Em 160ut68, foi rendido no sector de Bambadinca pelo BCaç 2852 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

* * *

A CArt 1646 foi inicialmente colocada em Bissau, ficando integrada no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, em substituição da CCaç 799, na dependência do seu batalhão, sendo, de 21Mai67 a 23Jun67, transitoriamente, substituída pela CCaç 1683. 

Após ter cedido temporariamente um pelotão para Bula, em reforço do BCaç 1876, de 01
a 20Abr67, foi atribuída na totalidade em reforço do BCaç 1876, para tomar parte em operações nas regiões de Bipo, Choquemone, Ponta Matar e Pelundo, entre outras, de 21Mai67 a 04Ag067. 

Depois de ter sido substituída no sector de Bissau pela CArt 1742, foi transferida para Fá Mandinga, em 04Ag067, a fim de integrar o dispositivo e manobra do BCaç 1888, com um pelotão destacado em Bambadinca.

Em 14Nov67, por troca com a CCaç 1551, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com pelotões destacados em Saltinho e Mansambo, este até 05Mai68, ficando integrada no BCaç 1888 e depois no seu batalhão.

Em 18Set68, foi rendida pela CArt 2413 por troca e voltou a Fá Mandinga em 20Set68, onde se manteve até 060ut68. Em seguida, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso, sendo transitoriamente integrada no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área a cargo do BCaç 1911.

***

A CArt 1647 foi inicialmente colocada no sector de Bissau a fim de colmatar a saída anterior da CCaç 1589 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área a cargo do BArt 1904.

Em 24Mar67, por troca com a CCaç 1438, iniciou o deslocamento para o subsector de Quinhámel, com destacamentos em Ilondé, Orne, Ponta Vicente da Mata e Ondame, tendo assumido a responsabilidade do referido subsector em 31Mar67.

Em 05Ag067, rendida pela CCaç 1549, foi colocada de novo em Bissau, a fim de substituir a CCaç 1438 no dispositivo do sector e, cumulativamente, desempenhar as funções de subunidade de reserva do CTIG, sendo atribuída a partir de 07Ag067 ao BCaç 1876, para realização de operações na região de Bula.

Em 11, 16 e 20Set67, deslocou-se por fracções para Binar, a fim de render a CCaç 1498, assumindo a responsabi lidade do respectivo subsector em 19Set67 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876 e depois do BCav 1915.

Em 130ut68, foi substituída pela CCaç 2404 e recolheu a Bissau, a fim de  aguardar o embarque de regresso e sendo integrada transitoriamente no dispositivo do BCaç 1911, com vista a cooperar na segurança e protecção das instalações e das populações da área.

***

A CArt 1648 ficou colocada em Bissau como subunidade de intervenção e reserva do CTIG, sendo utilizada em diversas operações realizadas na região de Pelundo, Queré, Churobrique e Tiligi, em reforço do BCav 1905 e na região de Bula-Jolmete, em reforço do BCaç 1876.

Em 3IJu167, rendendo a CCaç 1487, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com efectivos destacados em Safim, João Landim, Dugal e ponte de Ensalmá, ficando integrada no dispositivo do BArt 1904.

Depois de ter sido substituída no subsector de Nhacra pela CArt 1614, assumiu, em 13Jan68, a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, onde rendeu a CCaç 1546 e ficou integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1932 e depois do COP 3.

Em 140ut68 foi substituída pela CArt 2412 e recolheu a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso, sendo transitoriamente integrada no dispositivo do BCaç 1911, com vista a cooperar na segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 80 - 2ªDiv/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 212/ 214
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Nota do editor:


(...) Percorridos cerca de 10 quilómetros por uma estrada bem asfaltada e com muitas retas, chegámos a Binar, onde no período de 1973 e 1974, se sediou o aquartelamento da Companhia de Caçadores 17 (CCAÇ 17), constituída por 23 homens do Continente Português (1 Capitão, 4 Alferes, 1 Sargento, 9 furriéis, 5 cabos e 3 praças e mais 144 elementos africanos (5 furriéis, 11 cabos e mais 128 soldados, que comandei, como Capitão Miliciano, durante cerca de oito meses.

Ao chegarmos ao cruzamento da localidade, virámos para norte, para cerca de 500 metros depois, chegarmos ao local onde existiu o antigo aquartelamento, tendo de imediato sentido um arrepio ao ver o local onde estive instalado e em zona onde também existiam habitações da administração e tabancas da população local.

Começando por falar da vedação das nossas antigas instalações, referiria que da mesma, na altura constituída por duas redes de arame farpado paralelas e separadas cerca de uns 15 metros uma da outra, com entrada/saída nos topos norte e sul, nem sinais dela agora existem.

Mal estacionámos no local onde era a parada do antigo aquartelamento, senti logo uma profunda emoção ao ver ainda de pé e em estado de boa conservação, uma antiga capelinha, encostada a um enorme poilão, que continha no seu interior um pequeno oratório, onde estava colocada uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, capelinha essa que havia sido construída pela Companhia de Militares Portugueses que nos antecedeu e da qual não me recordo a sua identificação.

Essa capelinha, creio que foi construída como agradecimento a Nossa Senhora pelo facto de quase no topo dessa árvores e bem lá em cima, ainda se poder ver uma granada de RPG, que havia sido disparada por tropas do PAIGC e que lá ficou espetada, sem explodir. (...)


(**) Último poste da série > 18 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23439: O nosso livro de visitas (216): Areolino Cruz (Bafatá, 1944 - Cubucaré, 1965) foi meu colega de carteira no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, nos anos de 1957/58. Guardo dele uma terna recordação (Francisco A. Monteiro e Souza, natural de Cabo Verde, a viver nos Açores, ex-membro da FAP e da TAP)

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23451: Nota de leitura (1467): "A Minha Vida Militar", por José Costa; edição de autor, 2016 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Encontrei esta edição de autor na Biblioteca da Liga dos Combatentes, e dou novamente comigo a pensar na imensidão de testemunhos que andam por aí dispersos, obras que seguramente são distribuídas nos convívios e nunca passam por livrarias. Tendo-me outorgado a esta missão de referenciar ou repertoriar tudo quanto se tem escrito sobre a Guiné, com destaque para memórias e peças literárias em que os autores são antigos combatentes, volto a apelar a quem possui obras como esta do José dos Santos Costa que tenha a gentileza de me contatar por mail, é a única possibilidade de eu poder ler e fazer a necessária recensão pois estou seguro que um dia virá em que os historiadores e os investigadores da Guiné baterão inapelavelmente à nossa porta, o nosso blogue já é o mais importante acervo fotográfico sobre a guerra, tudo devíamos fazer para corrigirmos o maior número de referências a livros, ensaios e artigos publicados, assim cumpriremos o que há de mais gratificante no dever de memória.

Um abraço do
Mário



Um furriel mecânico em Binar… com muitos mais anos de tropa, que atribulações!

Beja Santos

Trata-se de uma edição de autor, 2016, José António dos Santos Costa, furriel miliciano mecânico auto em Binar, na CCAÇ 17, em rendição individual, tem muito que contar. Este tomarense que aos vinte anos residia no Alto do Piolhinho vai à inspeção, é apurado para todo o serviço militar, a sua profissão era mecânico de automóveis, o Exército aproveitou-lhe as competências e habilidades, marchou para Binar, para uma companhia essencialmente constituída por Balantas. Vem o 25 de Abril, muitíssimo doente, consegue transporte, lá pensava-se que sofria de paludismo, o médico que o vê já em Portugal diagnostica-lhe tuberculose pulmonar. Ele vai contar minuciosamente um pesadelo burocrático que demorará anos até se fazer elementar justiça. É tenaz, não quer só reconhecimento da doença adquirida em serviço, contra ventos e marés vai procurar os arquivos para saber por onde param os militares da CCAÇ 17, tornou-se no dinamizador dos convívios. Uma escrita simples, linear, um testemunho de quem recusa abdicar dos seus direitos e de fomentar a camaradagem daqueles antigos combatentes da Guiné. Dá-nos o elementar da progressão, a recruta, especialidade, torna-se mecânico auto rodas, frequenta Sacavém, onde acaba o estágio e é colocado na Companhia Divisória de Manutenção de Material, no Entroncamento, já estamos em 1972, em junho sabe que foi nomeado para a Guiné, em rendição individual. Escreve que lhe deram uma pasta muito pesada em Binar: viaturas e os seus complementos, ferramentas, oficina auto, combustíveis, grupos de geradores e motobombas. Atribuíram-lhe um morteiro 81 na defesa do aquartelamento, faz-se sempre acompanhar de G3. Mas o mais importante, e que ele exalta, é o mosquiteiro, a melhor coisa que teve enquanto esteve na Guiné. Há quem lhe pergunte se é da família do general Santos Costa, ele fica a saber que havia um general poderoso, e quem procura fidelização com o dito também pergunta como é que ele veio parar à Guiné…

Ele é responsável por que a coluna semanal entre Binar e Bula, e no sentido inverso, corra na perfeição, não podem faltar comida, bebidas, correio, combustíveis, para isso as viaturas precisam de andar. Tudo parecia correr bem, até que no início de novembro de 1972 o PAIGC monta uma emboscada, morrem civis e militares, autêntica chacina, a partir de então não faltou uma Panhard à frente da coluna. Há flagelações à volta de Binar, aqui parece tudo calmo, até que no dia 10 de maio de 1973 veio uma flagelação, não faltaram granadas incendiárias, ardeu a arrecadação com armas, munições e muito material inflamável. E o fogo alastrou-se à oficina auto, tudo desapareceu: ferramentas, lubrificantes, combustíveis, garrafas de oxigénio e acetileno. Sobraram dois alicates que o José Costa trouxe para Tomar, e ainda hoje fazem parte do seu quadro de ferramentas.

Conta muitas histórias, releva a exigência de um aspirante e de um alferes que queriam à viva força ter acesso pessoal a viaturas, acabaram por estampar dois Unimog, o que deu origem a um processo disciplinar. Recorda os camaradas que morreram, acidentes não faltaram. E chegou o 25 de Abril à Guiné, seguiram-se confraternizações com os guerrilheiros. A sua saúde ia piorando, já não reagia à medicação com soro. Sente-se debilitado e só, mete-se numa viatura e vai a Bissau, pede encarecidamente ao major que o deixe partir. Deplora que tenham desaparecido as centenas de cartas que trocou com a namorada, logo sua mulher quando regressou.

Aterra em Lisboa a 15 de agosto de 1974, é-lhe diagnosticada a tuberculose, dá entrada no Hospital Militar no Largo da Boa Hora, onde se tratam as doenças infecto-contagiosas. Fazem-lhe menção de que existe legislação referente às doenças contraídas durante a comissão militar. Faz requerimento ao Chefe de Estado-Maior do Exército, quer ser considerado como um militar evacuado, pretende que a doença seja considerada em serviço, não obtém resposta, continua a fazer tratamento no hospital. Não conformado, consegue, depois de muitos trabalhos, obter as moradas de dois oficiais que conhecera em Binar e Bula, são suas testemunhas, ninguém sabe por anda a documentação da CCAÇ 17. Pede ajuda à Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Em maio de 1977 é dado como clinicamente curado e rotulado de “incapaz de todo o serviço e apto para todo o trabalho”. Volta a baixar ao Hospital Militar, nova junta médica, é-lhe dada uma pequena incapacidade. A 17 de julho de 1977 passou à disponibilidade, cumprira cinco anos e trezentos e cinquenta e quatro dias de vida militar.

Atira-se a uma nova tarefa, quer saber por onde pára a malta do seu tempo, bate à porta do Arquivo-Geral do Exército, surgem pistas, recorre à ajuda do filho, então na PT, para ir encontrando a gente da CCAÇ 17. O primeiro convívio realiza-se em Tomar, em 2003, em 2015 terá lugar em Fátima o oitavo convívio. E desabafa: “Há meia dúzia de anos ninguém sabia de ninguém. Hoje todos temos os contatos uns dos outros. Tenho pena que sejamos cada vez menos, uns já faleceram, outros com o avançar da idade não podem ou não querem sair de casa, outros se calhar devido à crise financeira. No primeiro almoço que realizei em Tomar, em 2003, juntámo-nos quarenta dos cinquenta militares então localizados. Hoje, juntamos em média vinte militares e os seus familiares. Costumamos dizer que somos uma família numerosa. Durante alguns anos ainda mantive contato com quatro militares guineenses em Lisboa, o Paulo da Arrecadação, que veio a falecer na Guiné, o Luís Fafe que emigrou para o Reino Unido, o Mengo também já faleceu e o Yala deixou de atender o telemóvel”.

Para tornar a sua história na vida militar o mais credível possível, anexa imensa documentação, desde a cédula do recenseamento militar, às notas, guias de marcha, documentação enviada para vários quarteis, e até a cópia da folha feita em agosto de 1974 com nomes e moradas dos últimos militares da CCAÇ 17. É obra.


O que resta de um memorial aos militares da CCAÇ 17, em Binar, imagem retirada do nosso blogue.
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23440: Nota de leitura (1466): "O colonialismo português - novos rumos da historiografia dos PALOP"; Edições Húmus, 2013 (Mário Beja Santos)

sábado, 25 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23384: Memória dos lugares (442): Apenas um mês em Bula e a Mata do Choquemone marcou para sempre a CCaç 4541/72 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 2 de Junho de 2022:

Amigos e camaradas da Guiné,
Apenas um mês em Bula e a mata do Choquemone marcou para sempre a CCaç 4541/72.

Chegados à Guiné em 21 de Setembro de 1972, estes "periquitos", numa das suas ações ofensivas no Choquemone e Ponta Matar tiveram o primeiro embate sério com o IN, na mata do Choquemone em 25 de Novembro de 1972 e são obrigados recolher a Bissau, embalar os seus mortos, para os enviar à família e tratar das suas feridas.

Ainda mal refeitos do desfecho desta operação, vão participar na Operação Grande Empresa em 12 de Dezembro de 1972 e posteriormente ocupar Caboxanque, na região de Tombali, onde estiveram mais de 15 meses e durante este período reforçaram ainda as posições de Jemberem, Cadique e Cufar.

Depois de quase 18 meses de Guiné, vão para Safim, onde chegaram em 6 de Março de 1974 e já com o estatuto de "velhos" foi o merecido descanso do guerreiro, mas para alguns durou pouco. O destacamento de Capunga a sul e o destacamento de João Landim a norte foram de seguida ocupados. Em Safim ficaram o Comando, a gestão corrente da Unidade e os restantes militares.

Fui ter com eles a Safim em Março de 1974, passados 15 dias escrevi um aerograma aos meus pais com uma pequena mensagem a dizer que estava na Guiné e bem. Escusado será dizer que nem eles sabiam que tinha sido mobilizado para a Guiné . Apesar de me sentir bem preparado física e psico e manobrar muito bem as armas, constatei que não era o suficiente. Aqui fui encontrar uma Unidade muito segura, disciplinada e eficiente, nas patrulhas pouco se falava e muito menos de noite, cada um sabia exactamente o que fazer e como fazer, o que tornava tudo muito simples.

Sob o comando do Alf. Mil. Pratas fomos ocupar o Destacamento de João Landim norte, constituído por um pequeno "Hotel" cavado debaixo da terra circundado por uma trincheira, com um chuveiro de água ligado a vários bidões de 200 litros, que deixava o cabelo duro como um capacete e um pequeno barraco com uma arca frigorífica a petróleo para bebidas normalmente quentes e dois unimogs, não existia arame farpado, mas também senti que não era necessário. Não havia nada em redor, nem árvores nem população e tudo isto localizado a meia distância entre Bula e o Rio Mansoa.

O abastecimento de água para os gastos gerais do destacamento, provinha de uma pequena fonte localizada nas imediações de uma Bolanha a uns escassos quilómetros da mata do Choquemone. Com um condutor e a Secção de infantaria armada, partimos na direcção de Bula com um auto tanque de 5000 litros atrelado ao unimog. Depois de passar o Quartel, virávamos à direita e íamos por uma picada que nos levava até à fonte e aqui, depois de encher o auto-tanque, regressávamos ao destacamento.

Tinham passado já 18 meses, todos haviam esquecido o nome Choquemone ou parecia. Na verdade os "velhos" pouco falavam disso, mas aquela mata e o dia 25 de Novembro de 1972 estavam bem presentes na sua memória e agora voltar ali a Bula, bem perto da mata foi quase como voltar ao princípio e vieram as recordações.

A minha integração foi muito simples, os problemas deles começam a interessar-me e passam também a ser meus. Fazer baixas ao IN era para mim estar do lado certo da História e bem, os nossos camaradas mortos assim o exigiam, sinto que pertenço a este corpo, o resto era conversa, a Figueira e a Metrópole eram para esquecer, tinham ficado para trás.

As patrulhas e as operações de segurança da travessia do Rio Mansoa, feitas pela secção de infantaria. decorriam sem problemas. Até parecia que a Maria-turra e o PAIGC também se lembravam bem da CCaç 4541/72, sabiam quem eram, de onde vinham e dos "coices de mula" que tinham trocado no Choquemone. Eu sabia apenas das nossas baixas mas não das deles.

Na Cronologia da Guerra Colonial - 1972 - 2/2-por José Brandão estão registados 6 mortos em combate (cinco da CCaç 4541/72 e um paraquedista do BCP 12) todos no dia 25 de Novembro de 1972.

Guardo na memória os lamentos e a revolta do Silva, um soldado experiente, (de 26anos) o de óculos escuros na fotografia à entrada da LDM no Rio Cumbijã, um dos que me relatou a operação na mata do Choquemone em 25 de Novembro de 1972, apenas 2 meses depois da CCaç 4541 chegar à Guiné e recordo também o 1.º Cabo Dantas de G3 na mão no meio da malta, ambos da minha Secção.
Choquemone > Posição relativa a Bula e Binar. Infogravura © Luís Graça & Camaradas da Guiné 

Tratou-se de uma emboscada seguida de outra, com envolvimento, numa mata densa do Choquemone de que resultaram 5 mortos e 12 feridos em combate e entre os feridos o Comandante Sr. Cap. Mil. Inf. Dias Silva, que obrigou à intervenção de 2 Fiat G91, 1 helicanhão e 1 helisocorro para evacuação de feridos, tendo a CCaç 4541/72 na sequência desta operação recolhido a Bissau.

Não sei se a morte do paraquedista das forças do BCP 12 neste mesmo dia, está relacionada com esta operação. Toda esta informação é resumida mas é tudo o que disponho.[1]

Será possivel tornar público o relatório desta operação na mata do Choquemone, comandada pelo Sr. Cap. Dias Silva no dia 25 de Novembro de 1972, ou alguma informação complementar da FAP, BCP 12 ou algum camarada, para conhecer em pormenor o que foi e como terminou esta operação, qual o número de baixas do lado do IN e corrigir algumas informações acima descritas que possam estar incorrectas.

Quero agradecer ao José Guerreiro da CCaç 4541/72 pelas fotografias do Sold. Silva e do 1.º Cabo Dantas aqui publicadas em 07 de Abril de 2013 e 31 de Janeiro de 2013, respectivamente, porque me permitiram recordar as acções e vivências do tempo de aprender com os "velhos", que influenciaram o meu percurso de vida ao longo destes anos. Por tudo isto eles merecem bem a minha homenagem.
1.º Cabo Dantas segurando a sua G3
Soldado Silva junto da LDM

Fotos: © José Guerreiro da CCAÇ 4541/72. Todos os direitos reservados

Junto fotografia da constituição da minha Secção de Infantaria

O meu obrigado e um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur. Mil. At. Inf.

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[1] - Notas do editor:

i - O militar paraquedista referido faleceu em combate durante a Op. Urso Vermelho em Cufar-Bedanda pelo que nada tem a ver com a emboscada sofrida pelo pelo pessoal da CCAÇ 4541/72. 

ii - Os militares da CCAÇ 4541/72 mortos na emboscada de 25 de Novembro de 1972, foram:

- 1.º Cabo Radiotelegrafista Fernando da Conceição Fernandes
- Soldado Atirador Germano de Jesus Almeida
- Soldado Atirador José António Ferreira Correia
- Soldado Atirador Manuel Gomes Neto

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23249: Tabanca Grande (534): António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Bula e Pelundo, 1969/71). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 861

1. Mensagem de António Sebastião Figuinha, enviada ao Blogue a 4 de Maio através do Formulário de Contacto:

Já lá vão vários anos desde que o meu amigo Tunes, leitor deste blogue, me dava na cabeça para eu nele escrever sobre a minha passagem pela Guiné onde fiz parte do mesmo Batalhão.
Posso enviar para o vosso mail em pdf já que o texto é longo?

Cumprimentos,
Figuinha António Sebastião


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2. Mensagem enviada no mesmo dia ao António Figuinha:

Boa tarde.
Claro que sim. Utilize o endereço luis.graca.prof@gmail.com e, se quiser, também carlos.vinhal@gmail.com.

Ao dispor
Carlos Vinhal


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3. Ainda no mesmo dia recebemos esta mensagem com o PDF do António Figuinha:

Para poder dar o meu pequeno contributo sobre a nossa passagem pela Guiné, resolvi escrever com o meu pequeno jeito para a escrita o que desde já peço desculpas por algo que não possa estar com o português correto.
Como Furriel Miliciano Enfermeiro, o meu dia a dia não foi de emboscadas ou patrulhamento. O meu dia a dia foi dedicado aos nossos militares e à população. Acrescento o meu apoio à agricultura no Pelundo.
Fiz parte da CCS do Batalhão 2884 de 1969/1971.

Com um grande abraço.
António Figuinha


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4. Mensagem enviada pelo coeditor em 5 de Maio ao nosso camarada de armas António Fuiguinha:

Caríssimo António Figuinha
Como camaradas de armas, tu armado de seringa e eu armado de G3, permite que nos tratemos por tu.

Ficamos gratos pelo envio do teu texto que vai merecer a publicação de alguns postes no nosso Blogue.
Já dei uma vista de olhos rápida às tuas memórias, e para já, aquela cena com o sargento Nunes não me é estranha. Na verdade eram mais os sargentos do QP que nos desrrespeitavam do que o contrário.
Na minha Companhia os dois Sargentos que estiveram connosco de princípio ao fim, eram excelentes pessoas e excelentes camaradas. Tivemos temporariamente um primeiro sargento também chamado Nunes (S. Nunes P.) que não era flor que se cheirasse mas felizmente esteve pouco tempo connosco.

A minha mensagem tem também a nobre missão de te convidar a fazeres parte da nossa família (tertúlia) de antigos combatentes da Guiné. Tu tens já muito caminho feito pelo que só te peço que me envies uma foto actual, tipo passe ou não, cá me arranjarei, e me digas as datas exectas de ida e volta da Guiné, unidade (Companhia e Batalhão) e os locais, também da Guiné, onde tiveste os melhores dias da tua vida.
Fico à espera das tuas notícias indo desde já adiantando serviço, começando a editar os textos para publicação. Por favor, se me puderes enviar futuros textos em Word, em vez de PDF, facilitavas-me a vida.
Muito obrigado.

Segue um fraterno abraço do camarada e amigo
Carlos


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5. Mensagem enviada pelo nosso novo tertuliano António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Buba e Pelundo, 1969/71) com data de 6 de Maio de 2022:


Boa tarde caro amigo e ex-Combatente na Guiné.
[...]
Bem, saí de Lisboa para a Guiné em 7 de Maio de 1969 e cheguei a Bissau a 12 do mesmo mês.
Em Bissau permaneci até Setembro desse ano interrompido em Junho com uma ida de pouco mais de 15 dias até ao Sul em Buba.
Durante estes meses de permanência em Bissau e a convite do Quartel General fui fazer um Estágio na Granja Agrícola de Bissau ocupando as tardes úteis de cada dia. As manhãs eram dedicadas no Seiscentos à saúde.
Estive de férias em Outubro na Metrópole e no regresso a Bissau fui-me finalmente juntar à CCS do Batalhão 2884 no Pelundo. Parte desta Companhia permaneceu em Bissau enquanto eu lá estive. Conforme as instalações do Quartel se construíam assim foram para lá os vários serviços que a componham.
Em Novembro de 1970, fui destacado para uma nossa Companhia Operacional dado ter ficado desde há muito sem Médico como depois sem Furriel Enfermeiro e, o meu Comandante do Batalhão achou que eu era o mais bem preparado para dar assistência aos nossos militares bem com à população local.
Voltei ao Pelundo antes do fim da Comissão por causa duma inauguração do novo Posto Médico do Quartel que não chegou a acontecer por falta de mobiliário que eu havia a devido tempo requisitado para Bissau e que até àquele dia não havia chegado. Como resultado, o General recusou-se a inaugurar paredes e, tive que lhe dar todas as explicações sobre o sucedido. Isto deu bronca em Bissau nos Serviços de Saúde Militares. Acabei por regressar definitivamente ao Pelundo depois de passar a pasta ao Furriel periquito no começo de Fevereiro.
Embarquei para Lisboa onde cheguei com o Batalhão em 3 de Março de 1971.

O Fur Mil Enfermeiro António Figuinha

Espero ter dado os meus dados necessário e por isso me despeço com um grande abraço.
António S. Figuinha

António Figuinha actualmente

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6. Comentário do coeditor CV:

Caro António Figuinha,
Depois das mensagens que trocámos, uma delas trazendo as memórias que escreveste e que vão fazer parte do teu legado, não só para os teus descendentes como também para o espólio deste Blogue, tenho um particular prazer em te receber nesta tertúlia, assumindo desde já o papel de teu "padrinho".

O que li deu para perceber a tua versatilidade, és o exemplo de que a guerra não se fez só aos tiros. Além da tua nobre missão ao serviço da saúde dos teus (nossos) camaradas, ainda participaste num Estágio na Granja Agrícola de Bissau, acho que como monitor, já que está ligado à tua formação académica.
Se tiveres fotos que possam ilustrar os textos à medida que os for publicando, vai enviando para as inserir.

Renovo o nosso abraço de boas-vindas com votos de saúde.
CV

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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

terça-feira, 5 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23141: O que é feito de ti, camarada? (16): José Afonso, ex-fur mil at cav, CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (Eduardo Silva / Luís Graça)




José Afonso, ontem e hoje



1. Mensagem do nosso camarada  Eduardo Silva, ex-fur mil, CCAV 3420 e CCAÇ 3 (Bula, K3 e Bigene, 1971/73), em comentário ao poste P23138 (*)


Realmente também perdi todo o contacto com o camarada José Afonso. (*)

Embarquei com ele e restantes membros da CCav 3420 sob o comando do nosso saudoso Cap Salgueiro Maia.

Sou o ex-furriel Eduardo Silva. Estive com a CCav 3420 durante cerca 5 meses até que,  por ordem do General Spínola, muitos Alferes e Furriéis foram chamados para ingressarem num treino de integração nas tropas africanas.  Esse treino teve lugar em Bolama. 

Dali segui para o K3 a 3 km sul de Farim. Também fiz a protecção à construção da estrada em Mansoa, onde reencontrei a minha companhia de origem e o meu Cap Salgueiro Maia. Nessa altura eu estava integrado na CCAÇ 3,  companhia de africanos. Apenas os Furriéis, Alferes, Sargentos e Cabos de transmissões e Maqueiros eram brancos.  

Findo esse trabalho regressei ao K3 e dali fui para Bigene onde fiquei até ao fim da comissão. Tempos difíceis.

Um grande abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande.
Eduardo Silva



Guião da CCAV 3420 (Bula, 1971/73), 
que foi comandada pelo cap cav Salgueiro Maia (1944-1922)



2. Comentário do editor LG:
 
Desde novembro de 2015, pelo menos, que o mail do José Afonso deixou de estar ativo:

josebaptistaafonso1949@gmail.com

Pus-me  saber notícias dele no Fundão, onde tenho uma mana que é enfermeira e  que conheceu o nosso saudoso Torcato Mendonça... 

Sabia que ele estava reformado, pelo menso desde 2006,  da Caixa Geral de Depósitos, agência do Fundão. Foi nesse ano que nos descobriu e contactou. Também sabia que era ele que organizava os convívios da CCAV 3420.

Entretanto descobri o seu número de telemóvel, através do portal Ultramar Terraweb, liguei-lhe e ele atendeu-me.  Tivemos uma longa e proveitosa conversa... Agora é agricultor, em Freixial de Cima, Castelo Branco. E usa outro endereço de email. Fiquei a saber que vai organizar no dia 28 de maio, em Abrantes, mais um convívio da companhia. É o 20º que ele organiza. O Salgueiro Maia organizou três, em vida, e depois da sua morte houve um interregno. 

Gostei muito de falar com ele. É um excelente contadot de histórias. E contou-me mais algumas histórias do Salgueiro Maia e dos seus bravos... Histórias de Bula, de Capunga, de Bissau, que eu gostaria que ele pusesse no papel, a acrescentar às histórias que já nos contou e que eu estou agora a republicar... 

Percebo agora melhor o respeito e admiração que tinham por ele, Salgueiro Maia,  os seus homens. Porque era recíproco: ele defendia sempre os seus homens, das arbitrariedades dos senhores oficiais superiores... (A CCav 3420, "independente", estava adida a uma batalhão em Bula...).

No último dia em Bissau, antes do regresso à metrópole, o capitão fez um almoço de despedida com as praças, no Pelicano (se bem percebi), foi a companhia que pagou. Não era uma prática habitual... E à noite jantou com os graduados... Perderam o último autocarro para os Adidos (que levava a malta que ia ao cinema à noite), ficaram à espera de táxis, perto da Praça do Império e do palácio do Governador... A cantar canções "proibidas" na época... Alguns já com um grãozinho na asa... Mas quem tinha voltado a vestir o camuflado para socorrer Guidaje, merecia tudo... É bom lembrar essa história que não vem nos livros da CECA...

Fico feliz por ter (re)localizado o José Afonso (**). E também por receber a mensagem do seu antigo camarada e amigo, Eduardo Silva, a quem já forneci os contactos do José Afonso, e quem já convidei para integrar a Tabanca Grande.



3. Mensagem que enviei ao Eduardo Silva, por voltas 20h00 de ontem, e que obteve imediata resposta: ele aceitou o meu convite para integrar a Tabanca Grande, e compromete-se a mandar as duas fotos da praxe.

Eduardo:  já te pus em contacto, por email, com o José Afonso. E mandei-te também  seu nº de telemóvel. (**)

Ele é um excelente contador de histórias. E estou a recuperar algumas... Reformou-se por volta de 2006, da CGD, trabalhava no Fundão onde ainda tem casa. Dedicou-se, com paixão à história da companhia e da guerra da Guiné, tem organizado os encontros da malta, mas também descobriu outra vocação que agora lhe ocupa o tempo quase todo: a de agricultor. O que é bom, é um forma útil, ativa, produtiva e saudável de gerir o chamado envelhecimento (estamos a envelhecer desde que nascemos, e esse processo foi agravada com a maldita rifa que nos calhou na nossa história de vida, a Guiné...).

Gostei de o conhecer, ao telelé... Pode ser que nos encontremos, um dia, no Fundão. Mas ele agora vive no Freixial de Cima, Castelo Branco. E vai organizar o próximo encontro da companhia, em Abrantes, no dia 28 de maio. Já é o 20º encontro que organiza. Ele tem muito orgulho nessa missão. A viúva do Maia comparece sempre.

Outra coisa: quero que te juntes à malta da Tabanca Grande. Manda duas fotos digitalizadas, uma do tempo da Guiné, e outra mais ou menos atual. Tens aqui um histórico da Tabanca Grande, o António Marques Lopes, que esteve em 1968 na CCAÇ 3, a comandar o pelotão dos "Jagudis"... Hoje é coronel DFA, reformado... Escreveu um notável livro de memórias autobiográficas. Se acompanhas o blogue, sabes quem é. Aqui tens o seu nº de telemóvel, ele vai gostar de falar contigo (apesar de estar a enfrentar problemas de saúde) (...)

Um "alfabravo". Luís Graça 
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


4  de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23138: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte I: Um cartão pessoal... para a história: "Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné", disse-me ele, agradecendo um telegrama de felicitações, enviado logo a seguir ao 25 de Abril de 1974

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23138: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte I: Um cartão pessoal... para a história: "Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné", disse-me ele, agradecendo um telegrama de felicitações, enviado logo a seguir ao 25 de Abril de 1974




Reprodução de um cartão pessoal, manuscrito, de Salgueiro Maia, ex-comandante da CCav 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Bissau, 1971/73, 1971/73), agradecendo ao José Afonso, seu ex-fur mil, do 3º Gr Comb, o telegrama que este lhe enviara, felicitando-o pela sua participação no golpe militar do 25 de Abril de 1974 e pelo sucesso do movimento dos capitães... Documento s/d, mas próximo do 25 de Abril de 1974, talvez maio de 1974.(*)

Salgueiro Maia voltara, entretanto, à unidade de origem, a  EPC - Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Repare-se que ele ainda utilizou papel da sua ex-companhia, tendo por timbre, cortado por um traço, o brasão da CCAV 3420, "Os Progressistas", sediada em Bula, SPM 1898.

O nosso camarada José Afonso, ou José Baptista Afonso, por sua vez,  é bancário, reformado da CGD, dividindo, em 2009, o seu tempo entre Castelo Branco, de donde é natural, e o Fundão, onde trabalhou e tinha residência.. Não temos notícias suas desde esse ano. Nasceu em 1949, e deixou de ter o endereço de email que tinha. Não temos o seu nº de telemóvel.


Teor do cartão, sem data:

 [ Ao canto superior esquerdo, Brasão  da CCAV 3420, Os Progressistas, SPM  1898 (Particular)]:

"Caro amigo: Só agora tenho tempo de agdecer o agradável telegrama. Sinto-me feliz não só pelo acontecimento, mas por me permitir ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné. Do pessoal da Comp[anhia] guardo as melhores recordações mesmo depois de fazer o balanço dos maus bocados. Um dia que nos encontremos poderemos esclarecer muitas situações.

"Há pouco esteve aqui o ex-fur[riel] Gomes. O 1º [sargento] Beliz mandou vir e foi  expulso do curso para oficial mas deve agora [depois do 25 de Abril] ser readmitido. O 1º Pascoal continua aqui [na EPC, Santarém] como dantes.

"Sem mais, um abraço do amigo ao dispor. (Ilegível)"


 [A foto acima é, de  há muito,  um ícone,  foi tirada pelo grande fotógrafo português Alfredo Cunha, no 25 de Abril de 1974: é apenas um detalhe da foto original. Cortesia de Wikipedia.] 

Foto (e legenda): © José Afonso (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guião da CCAV 3420 (Bula, 1971/74). 
Coleção de Carlos Coutinho, com a devida vénia


1. O capitão Salgueiro Maia, de seu nome completo Fernando José Salgueiro Maia (Castelo de Vide, 1 de julho de 1944 - Santarém, 3 de abril de 1992), ficará na história de Portugal como um dos nossos heróis do séc. XX.

Passado quase meio século depois do 25 de Abril de 1974, e trinta depois da morte do mais famoso capitão de Abril, parece haver hoje um amplo consenso na sociedade portuguesa sobre o seu lugar na história da nossa Pátria. 

O homem que comandou a coluna de cavalaria que veio de Santarém, cercou os ministérios do Terreiro do Paço e levou Marcelo Caetano a render-se no quartel do Carmo, sede da GNR, é um exemplo das melhores virtudes pátrias que pode ter uma militar: coragem (física e moral), serenidade, bom senso, liderança, abnegação, honestidade intelectual, coerência, amor à república, amor à Pátria...

Mas não nos compete, a nós, blogue, escrever aqui "hagiografias" (Nem biografias, não somos historiadores.) Para nós, foi um dos nossos camaradas na Guiné (regressado em outubro de 1973), e isso basta, não nos podendo todavia esquecer, muito menos ignorar ou escamotear, que ele se irá distinguir depois pelo seu papel, decisivo, nobre, orajoso e impoluto, no 25 de Abril de 1974. 

Morreu, precocemente, aos 47 anos, vítima de cancro. Quiçá amargurado, pelas injustiças de foi vítima, sobretudo por parte do poder instituído, não apenas militar como político.




José Baptista Afonso, ex-fur mil at cav, 3º Gr Comb,
CCAV 3420 (1971/73). Natural de Freixail de Cima, Castelo Branco,
tem casa também no Fundão onde trabalhou, 
e conhecia o nosso saudoso Torcato Mendonça.


2. Vamos, por estes dias, recordar a  ação do cap Salgueiro Maia, nomeadamente na Guiné, enquanto comandante da CCav 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Bissau, 1971/73, 1971/73). E sobretudo a partir dos testemunhos de quem o conheceu no CTIG. 

Infelizmente só temos um representante da CCAC 3420 na Tabanca Grande: o nosso camarada José Afonso (fotos acima), de resto um excelente contador de histórias.

E começamos justamente pela reprodução de um cartão pessoal, escrito pelo Salgueiro Maia, já depois do 25 de Abril de 1974, talvez em Maio, enviado ao José Afonso que o havia felicitado  pela acção na Revolução dos Cravos (documento acima reproduzido).

Nas neste primeiro poste de homenagem a este homem da nossa geração e nosso camarada da Guiné, de que muito nos orgulhamos,  é bom sabermos algo mais sobre a CCAV 3420 que ele comandou. 

Depois iremos repescar algumas das histórias do José Afonso sobre o Salgueiro Maia e outros bravos da CCAV 3420, esperando, por outro lado, que ele, José Afonso,  volte a dar notícias,  o que não acontece há muitos anos (desde, pelo menos, 2009).

PS - Já pusemos as notícias em dia, e tenho o atual endereço de email, além de "carta branca" para republicar as suas histórias do Salgueiro Maia e dos demais bravos da CCAV 3420.


Ficha de unidade > Companhia de Cavalaria n.º 3420

Identificação:  CCav 3420

Unidade Mob: RC 4 - Santa Margarida

Cmdt: Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia

Divisa: "Progressistas" - "Perguntai ao Inimigo Quem Somos"

Partida: Embarque em 04Jul71; desembarque em 09Jul71 | Regresso: Embarque em 030ut73


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 12Jul71 a 06Ag071, no CMI, em Cumeré, seguiu em 11Ag071 para Bula, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCav 2639.

Em 29Ag071, iniciou a actividade de intervenção e reserva do BCaç 2928, substituindo a CCav 2639 a partir de 20Set71, e actuando nas regiões de Choquemone, Cuboi, Ponta Matar-Ponate e outras, bem como nas acções de contrapenetração e na segurança e protecção dos trabalhos da estrada Bula-Binar,

De 05Mai72 a 08Jul72, foi deslocada para Mansoa, em reforço do BCav 3852, com a missão principal de garantir a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Mansoa-Namedão-Bissorã, recolhendo a Bula quando os trabalhos atingiram Namedão e voltando à dependência do BCaç 2928 e depois do BCav 8320/72.

Em 09Jul72, rendendo a CCaç 2789, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Ponta Consolação e Capunga, com vista à execução e controlo dos trabalhos de construção, dos respectivos reordenamentos e promoção socioeconómica das populações. 

Em 07Dez72, assumiu, em acumulação, por saída do CCaç 3328 e extinção do subsector de Ponta Augusto Barros, a responsabilidade daquela zona de acção, mantendo a sede em Pete e guarnecendo então os destacamentos de João Landim, Capunga e Mato Dingal.

Em 23Mai73, foi substituída nos reordenamentos pela 1ª Comp/BCav 8320/72 e seguiu, em 25Mai73, para Farim e depois para Binta, a fim de reforçar as forças do COP 3 empenhadas no início dos trabalhos da reabertura do itinerário Binta-Guidage; em 29Jun73, foi rendida nesta missão pela CCav 3568, recolhendo então a Bissau.

Em 30Jun73, substituiu no sector de Brá a CArt 3521, ficando integrada no dispositivo e manobra do COMBIS, a fim de garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 30Set73, foi substituída no subsector de Brá pela CCaç 3476, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 99 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 515/516
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Nota do editor: