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segunda-feira, 6 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24122: S(C)em comentários (5): E no Geba, às portas de Bafatá, cantava-se, em 1967: "Oh! São, oh São / E o vento mudou / E ela não voltou / E ela partiu / P... que a pariu, Nunca mais ninguém a viu..." (A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF)

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > "Aqui era a nossa discoteca... Aqui cantávamos a Sandie Shaw e o Eduardo Nascimento... E bebíamos uns 'shots' valentes", diz o A. Marques Lopes (o terceiro a contar da esquerda).


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > Igreja de Geba, onde já ninguém ia rezar... Devia ser de meados dos anos 30 do séc. XX, e estava em estado de grande degradação. Havia um projeto da ONG Viver100Fronteiras para a sua reconstrução.

Fotos do álbum de A. Marques Lopes, um dos históricos do nosso blogue, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). 

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lembram-se da Sandie Shaw, e da sua "Pupet on the string" (Marioneta, à letra, em português), um dos grandes êxitos do "hit parade" musical do ano de 1967? Foi com esta canção que a provocante inglesa Sandie Shaw (n. Londres, 1947) ganhou o Festival Eurovisão da Canção de 1967, em Vienba... Ainda por cima teve a irreverência de cantar desçalça, naquela época, por protesto, dizia-se, pela conservadora BBC ter pensado seriamente em "tirar-lhe o microfone" depois descobrir que a rapariguinha andava envolvida numa cena de adultério... 

Com 20 aninhos, imaginem, e aquelas hormonas todas a fervilhar!... Ficou no goto dos rapazes de Geba que deviam ter sensivelmente a mesma idade que ela ...e tinham testosterona para dar e vender...


2. Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (nascido em Angola, em 1944) era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz uma infâmia: que terá ido ao Festival Europeu da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo...

(...) Líder do conjunto angolano Os Rocks, participou num dos concursos de música ié-ié, realizados no Teatro Monumental, em Lisboa. Em 1967 perenizou-se com o tema O Vento Mudou, vencedor do Festival RTP da Canção

A música foi representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado em Viena, ficando em 12º lugar (ex-aequo com a Finlândia), entre dezassete países. 

Eduardo Nascimento foi o primeiro negro a pisar os palcos da Eurovisão. Dizia-se na altura que tinha sido Salazar quem quisera que Eduardo Nascimento representasse Portugal, para provar que não era racista. O tema viria a ser gravado pelos Delfins, por Adelaide Ferreira e pelos UHF. 

Com Os Rocks Nascimento gravou ainda dois EP (...). O cantor continuou a actuar com Os Rocks até 1969, altura em que voltou para Angola e abandonou a carreira musical. Posteriormente veio a exercer funções na TAP." (...)

Os rapazes do Geba, às portas de Bafatá, cantarolavam, em 1967, uma paródia de "O Vento Mudou", numa típica manifestção de bom humor de caserna: 

"Oh! São, oh São, 
E o vento mudou, 
E ela não voltou....
E ela partiu,
P... que a pariu,
Nunca mais ninguém a viu..." 
 
3. O nosso camarada Nuno Nazareth Fernandes, autor da música, ex-alf mil, BENG 447 (Brá, Bissau, 1972/74), radialista em Bissau, no PIFAS, membro da nossa Tabanca Grande, nº 684,  já aqui desmentiu categoricamente essa "boca foleira" (que vai ficar na Wilipédia!), afirmando que no Festival RTP da Canção de 1967, "o Eduardo Nascimento ganhou com o todo o mérito, porque era a melhor canção, e rompia com o chamado nacional cançonetismo", e sendo  falso que o Salazar tenha imposto o seu nome para ir ao festival da Eurovisão (**).

Reiteramos as nossas desculpas ao Eduardo Nascimento e ao Nuno Nazareth Fernandes. 

S(C)em Comentários (***). 

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

(***) Último poste da série > 5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

sábado, 2 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684


Capa do livro "A engenharia militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia" - Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. - Lisboa : Direcção de InfraEstruturas do Exército, 2014. - 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14  ISBN 978-972-99877-8-6. Cortesia de Nuno Nazareth Fernandes. Ìndice da obra: ver aqui.


 1. Mensagem do compositor (e nosso camarada da Guiné) Nuno Nazareth Fernandes, com data de ontem:


Meu Caro Luis Graça

Obrigado pela publicação (*). Agradeço me mantenha ao corrente desses encontros [da malta do blogue] pois farei circular a informação pelo pessoal do Beng 447. Aliás também nós nos reunimos uma vez por ano e os ex-oficiais em Lisboa ou no Porto ou a meio caminho e com mais frequência.

Já agora envio a foto da capa do que a Arma de Engenharia publicou o ano passado sobre a Obra que o Beng deixou para trás, por iniciativa do seu último Comandante, o então Ten Cor Alberto Maia e Costa.

Pode ser solicitado á Direcção da Arma de Engenharia no Campo de Santa Clara em Lisboa.
Também agradeço, caso insistam em pôr a minha foto (...) que a substituam pela que mando e que é mais actual.

Parabéns pelo blogue que me parece de muita importância. 

Lembro que talvez a malta se lembre de um programa que fazia na rádio, no Emissor Regional da Guiné, quando eventualmente não estava fora de Bissau e que se chamava "Integral". Era do agrado especialmente do pessoal que estava no mato, quer pela música quer pelas mensagens "subversivas" que deixava...

Um dia destes, com tempo vou ver se localizo algumas gravações e mando. Lembro-me uma vez em que fui chamado à DGS e me "pediram  muito delicadamente" (...) para ter mais cuidado pois eram obrigados a enviar as gravações para a António Maria Cardoso!

Nessa mesma tarde estava eu a fazer fogo com umas
armas apreendidas ao IN com o Chefe deles, o
Fragoso Allas, o que era normal sempre que havia armamento "novo" no "mercado" e ele disse-me : - Ó engenheiro,   então hoje foi lá ao "escritório"?! Não ligue, eles fazem só o que lhes mandam...

É claro que dizer aos microfones "Em Santiago reina a paz dos cemitérios" .. (estávamos em 1973 e Pinochet tinha iniciado a repressão no Chile).

Coisas que hoje são interessantes de recordar  e que nos fazem reflectir sobre o "conhecimento" e relações DGS/Exército no Ultramar mas isso são horas de conversa.

Um abraço amigo para todos
NNF

2. Comentário do editor:

Escreveu ontem, em comentário, o Belarmimo Sardinha, que é membro da nossa Tabanca Grande e amigo pessoal do Nuno Nazareth Fernandes:

Olá Luis,

(...) Várias vezes abordei já com o Nuno a sua entrada na Tabanca Grande, depende apenas dele, mas experimenta tu a convidá-lo, é sempre diferente. Ele é uma pessoa com muito espírito e piada na forma de contar as suas histórias e certamente terá algumas sobre a Guiné e até sobre a rádio da Guiné, onde esteve também. (...)

 Um abraço, BS.

Pois, meu caro Nuno, e meu caro BS: não precisamos de mais convites. O Nuno percebeu logo que estava entre camaradas da Guiné, de gente de boa fé, deu os patabéns pelo blogue, mandou-nos uma foto atual, mostrou-se interessado em saber dos nossos encontros e até nos contou uma história da sua passagem pelo  PFA, o programa de rádio das Forças Armadas, e da sua ida, um dia, ao "escritório" da DGS... Para mim, é a aceitação do convite que lhe fiz para integrar a nossa comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné.  

O Nuno já está, pois,  sentado, e bem sentado á sombra do poilão da Tabanca Grande, cabendo-lhe o lugar nº 684. (depois da entrada do José Sousa e das nossas amigas Graciela Santos e Lígia Guimarães, esposas de camaradas nossoas, totalistas dos dez encontros nacionais que já realizámos desde 2006). (**)

De resto, a malta do BENG 447 [de que temos vários camaradas formalmente registados na nossa Tabanca Grande, com destaque para o ex-cap mil Fernando Valente (Magro), de 1970/72] só pode ser recebida aqui de braços abertos. Já também aqui demos notícia do próximo 32º Encontro Nacional da malta do BENG 447, nas Caldas da  Raínha, no dia 9 do corrente.

Obrigado, Nuno, pela foto da capa da obra "A engenharia militar na Guiné", da qual vamos querer saber mais coisas... E o Nuno já sabe que na Tabanca Grande todos os camaradas se tratam por tu, do engenheiro ao corneteiro, do médico ao auxiliar de enfermagem, do comandanet operacional ao simples soldado atirador...

Como vai adiantada a hora, e estou fora de Lisboa, quero tão só dar as boas vindas ao Nuno e agradecer também ao Belarmino por ter levado a "carta a Garcia", neste caso ter dado a conhecer ao Nuno o nosso blogue. Ficaremos à espera de poder partilhar, uns com os outros, de mais histórias do BENG 447 e dos programas de rádio que se faziam em 1973 e qiue chegavam tanto aos ouvidos da malta no mato como aos agentes da DGS... Temos também vários camaradas que foram locutores do programa de rádio das forças armadas, a começar pelo Silvério Dias!... O Nuno, por certo, que se deve lembrar do Silvério Dias e vice-versa

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de abril de  2015 >  Guiné 63/74 - P14549: (Ex)citações (273): A propósito de "O Vento Mudou".... No Festival RTP da Canção de 1967, o Eduardo Nascimento ganhou com o todo o mérito, porque era a melhor canção, e rompia com o chamado "nacional cançonetismo"... É falso que o Salazar tenha imposto o seu nome para ir ao festival da Eurovisão (Nuno Nazareth Fernandes, autor da música, e ex-alf mil, BENG 447, Bissau, 1972/74)

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14549: (Ex)citações (273): A propósito de "O Vento Mudou".... No Festival RTP da Canção de 1967, o Eduardo Nascimento ganhou com o todo o mérito, porque era a melhor canção, e rompia com o chamado "nacional cançonetismo"... É falso que o Salazar tenha imposto o seu nome para ir ao festival da Eurovisão (Nuno Nazareth Fernandes, autor da música, e ex-alf mil, BENG 447, Bissau, 1972/74)

Nuno Nazareth Fernandes
(n. 1944)
Cortesia de
www.snipview.com
1. Mensagem, com data de ontem,  do compositor Nuno Nazareth Fernandes, autor da música da canção "O Vento Mudou" (*):

Assunto: O Vento Mudou

Boa tarde ,

Fui alertado, por um ex-combatente e amigo, para uma referência no vosso blogue em que se afirma, a propósito de "O Vento Mudou" ter sido o Eduardo Nascimento o escolhido para representar Portugal na Eurovisão em 1967 por imposição de Salazar! (*)...

Ora isto é rigorosamente falso!

O Eduardo foi escolhido pelos autores da canção, eu, na música, e o João Magalhães Pereira, na letra, únicos responsáveis por isso. E ganhou... porque era a melhor canção, que rompia com o chamado "nacional cançonetismo" e com um cantor moderno e cheio de ritmo! Nem o Doutor Salazar nem as suas botas tiveram algo a ver com o assunto, antes pelo contrário!

Mas, já agora, posso contar algo que já narrei públicamanet na Televisão e que mostra como o "diz-se diz-se" deste país em nada mudou... Acontece que essa estória me foi afirmada, pessoalmente, quinze dias depois de termos ganho o Festival:

Eu comecei a usar barba quando concorremos, eu e o João estavamos então no IST  [Instituto Superior Técnico.] , e eu sempre gostei de manter um certo "low profile". Finda a euforia festivaleira,  cortei a barba e duas semanas depois fui a um barbeiro...

Barbeiros e taxistas eram na época a "vox populi" oficiais. Hoje também, embora os barbeiros tenham sido substituidos pelos "cabeleireiros" e pelos jornais "cõr de rosa" ficando assim tudo muito mais alegre ou seja "mais gay"... Acontece que o barbeiro em questão logo me informou, e eu incógnito, que tinha sido o Salazar que tinha orquestrado tudo e que os dois "energúmenos autores", sabia-o de" fonte segura", eram da...Mocidade Portuguesa!...

Mas, como sou curioso e na altura tinha muito cabelo, fui a outro "Figaro" alfacinha e puxei a conversa:
- Pois fique sabendo, meu caro senhor, que aqueles dois rapazes são comunistas e que foi o PCP que lhes deu ordem para escolher um negro só para provocar um incidente internacional quando o Regime o recusasse!

Fiquei pois perfeitamente esclarecido sobre a nossa escolha! 

Na dúvida, e como prémio, o dito Regime ofereceu-me 24 meses de Guiné (72/74) como alferes de Engenharia, o que achei perfeitamente normal ...e pelo caminho vinguei-me e conspirei forte e feio e lá chegou o 25 de Abril. Depois deve ter sido o PCP que não gostou e tive que "acontecer" outra vez e foi o 25 de Novembro! Enfim sou a chamada "vítima colateral " ... do Vento Mudou!

Qualquer dia acho que vou compôr uma coisa chamada "Furacão, procura-se", que é mais adequado aos dias de hoje, e peço ao Eduardo [Nascimento] para a lançar, pois continua a ter as qualidades que, na altura, justificaram a sua escolha: Cantar e muito bem!

Talvez alguma coisa mude...

E que se lixem as "Botas do Salazar" e as " teias de aranha do Lenine"!

Adeus e... até ao meu regresso, camaradas!

Nuno Nazareth Fernandes


2. Diz a Wikipédia sobre o Nuno Nazareth Fernandes (Excerto reproduzido com a devida vénia):

(...) Nuno Nazareth Fernandes (Lisboa, 24 de Junho de 1942) é um compositor, letrista, cartoonista, fotógrafo, poeta e guionista português.

Nasceu em Lisboa, filho de Alice da Nazareth Fernandes e Luis Cerqueira Teixeira, e neto de Agostinho Fernandes, industrial de conservas e mecenas do século XX.

Compositor, letrista, cartoonista, fotógrafo, poeta e guionista, é sobretudo conhecido pelas suas participações nos Festivais RTP da Canção (que venceu por três vezes, com as canções O Vento Mudou, Desfolhada Portuguesa e Menina), pelos sketches dos programas televisisvos Eu Show Nico e EuroNico e como autor de texto e música de inúmeras Revistas, num percurso de mais de quatro décadas entre os mundos do Disco, da Rádio, da Televisão e do Teatro.

Em todos esses campos trabalhou com os mais variados autores e poetas, com destaque para José Carlos Ary dos Santos com o qual escreveu, entre muitas, aquela que é considerada uma das mais belas canções da música portuguesa: Canção de Madrugar. 

Cumpriu serviço militar, como oficial do Serviço de Material, primeiro na Fábrica Militar de Braço de Prata, e, depois, no Comando Territorial [Independente] da Guiné, hoje República da Guiné-Bissau, no Batalhão de Engenharia (BENG-447), que se localizava em Bissau, entre os Comandos e os Adidos. Nessa ocasião existia no Batalhão de Engenharia um agrupamento musical designado por BENG-447 que actuou em diversos palcos, tanto militares como civis.

Fez parte da Direcção e Administração da Sociedade Portuguesa de Autores ao longo de sete anos. Considera-se um "estudioso compulsivo" de História, principalmente no que diz respeito à de Portugal e da Ordem do Templo. Enviuvou por duas vezes, tem três filhos e um neto. Vive em Lisboa.

"Chamam ao Telefone o Senhor Doutor Afonso Henriques" (ed. Zéfiro, 2008), não sendo o seu primeiro livro, é, contudo, o seu primeiro romance.
(...) É licenciado em Engenharia Mecânica (Aeronáutica) pelo Instituto Superior Técnico. É adepto do Sporting Clube de Portugal.

Ligações Externas (...)
3. Comentário do editor L.G.:

Nuno, obrigado pelo esclarecimento que nos mandou sobre a canção "O vendo mudou"...

Vamos publicar, obviamente... Por respeito à verdade e à boa imagem a que os camaradas da Guiné da Guiné têm direito... Como de resto qualquer outro português...

Em boa verdade, nem tudo o que luz é ouro, e nem tudo o que se lê na Net (e na Wikipédia, em particular) é verdade... De resto, tivemos o cuidado de manter essa ressalva... O que vem na entrada da Wikipédia, sobre o Eduardo Nascimento, é no mínimo uma insinuação torpe... No entanto, caímos na ratoeira de a reproduzir, embora com algumas cautelas;

(...) "Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (, nascido em Angola, em 1944) era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz que terá ido ao Festival Europeia da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo." (...) (*)

Fica, pois,  definitivamente esclarecido, em primeira mão, que a canção "O Vento Mudou" ganhou o concurso do Festival RTP da Canção, em 1967, pelo triplo mérito da letra, da música e da interpretação...

Camarada, este blogue também é seu... Costumamos dizer que o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande... Nesta "caserna" tratamo-nos por tu, como bons camaradas que fomos e somos... Falamos da Guiné e da guerra, claro, falamos da nossa geração, também das canções que nos marcaram, dos nossos (des)amores, dos nossos sonhos e dos nossos pesadelos...

Somos sportinguistas, portistas, benfiquistas, crentes e ateus, de esquerda e de direita... Falamos de quase tudo, menos de religião, política e futebol... Camarada, a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas... Isto é um convite para o camarada do BENG 447 entrar, se lhe der na real gana... 

Somos quase 700 (, os formalmente registados, incluindo os 40 que da leia da morte já se libertaram,.,,). E blogamos há 11 anos.  E encontramo-nos, fisicamente, todos os anos... Nos últimos anos em Monte Real, mas temos tabancas por todo o lado, fora e dentro do país (de Cascais a Monte real, de Matosinhos a Gondomar, e até à Lapónia sueca)... Infantes, artilheiros, engenheiros, médicos, comandos, rangers, paraquedistas, enfermeiras paraquedistas, pilotos, soldados,   marinheiros, pretos e brancos... Só não temos refractários nem desertores, por uma razão simples: somos um blogue de combatentes... E o  nosso único propósito é partilhar memórias (e afetos), contar histórias, as nossas histórias... O resto é para os senhores doutores historiadores que escrevem a História de Portugal... Só não queremos é que sejam os outros a contar a nossa história por nós, como o Nuno também não gosta...   Até breve! (**)

Um alfabravo (ABraço), camarada.

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sábado, 22 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (6) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 11 de Novembro de 2008:

Estimados Editores,

Caro Carlos Vinhal,

Não me esqueci do pedido para escrever como foram as coisas depois do 25 de Abril de 1974, mas andei a ver como poderia organizar isso e encontrei como solução aquela que envio em ficheiro.

Ficam inteiramente à vontade para publicarem ou não.

Os nomes mencionados são quase todos de amigos de quem há muito não sei o paradeiro, não deixaram de ser amigos e indico-os porque poderá haver quem, também conhecendo-os e sabendo onde estão, possa convidá-los a participarem. Admito que aconteça com eles o que comigo aconteceu, não fosse um outro camarada e só por acaso descobriria este blogue.

Pronto, está dito o essencial e o que queria.

Comecei a dar volta ao baú e descobri lá um poema que foi adaptado por um alferes miliciano de uma companhia que estava em Aldeia Formosa. Foi impresso em postais de Boas Festas e serviu para enviarem no Natal de 1972. Estou a tentar descobrir um desses postais, só tive dois, mas parece-me tarefa difícil. Se houver alguém que se lembre ou tenha um postal do Natal de 1972 de uma companhia de Aldeia Formosa ajuda, não devem ter havido muitos, especialmente impressos. Tem inclusive o crachá dessa companhia que eu não me recordo qual era. Poderá também ajudar à recolha de emblemas e crachás feita pelo nosso outro camarada da tabanca. Pela minha parte vou tentar descobrir o crachá do Agrupamento de Transmissões para vos enviar.

O estar com todos sem fazer parte de ninguém tem destas coisas.

Um abraço,
BS


2. E Depois do 25 de Abril
por Belarmino Sardinha

Quando se contam Estórias que poderão fazer parte da História, estas, embora verdadeiras, só devem ser história depois de despidas da emotividade colocada na narrativa de quem, vivendo as situações, não conseguiu libertar-se de as descrever apaixonadamente, mesmo que devidamente documentadas.

Continuo assim empenhado em contar estórias, não podendo fazê-lo de outra forma por não me sentir habilitado a mais, embora o que escrevi seja verdade indesmentível, deixo para quem, especialista na matéria e melhor do que eu, possa fazê-lo ao reescrever e enquadrar as coisas no lugar correcto.

Após clarificada a minha posição para utilizar o termo Estória e não História, procurarei redigir novo rascunho acerca do que me foi sugerido, contar como foram vividos os dias, em Bissau, após 25 de Abril de 1974.

Pouco posso dizer, tinha praticamente a comissão acabada, em Abril de 1974. Se houvesse uma maior afluência ou adesão dos camaradas que como eu estiveram lá nos anos de 1972/74 era bom. Esperemos que se sintam motivados e respondam, pronto.

Ao longo do texto procurarei deixar alguns nomes, de conhecidos e amigos (espero que todos eles me desculpem), que foram protagonistas de acontecimentos que, não só pelas suas posições mas também por força delas, poderão ajudar a completar a História. Quem sabe se os editores ou outros camaradas, com trabalho feito, não conseguirão motivá-los e ajudá-los a integrarem o blogue.

Após grande agitação no Agrupamento de Transmissões, uns dois ou três dias imediatamente anteriores ao 25 de Abril de 1974, por parte de alguns oficiais que perguntavam com frequência se tinha vindo esta ou aquela mensagem, acordámos todos, os que não estavam de serviço, com a certeza de que algo se tinha passado na noite de 24 para 25 de Abril de 1974.

O nosso comandante, à data tenente-coronel, Mateus da Silva (*), tinha substituído interinamente o então Governador e Chefe Supremo da Forças Armadas Bettencourt Rodrigues. Esta situação manteve-se durante e até à chegada do Coronel, graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião.

Foi este o nosso despertar, no Agrupamento de Transmissões, no dia da revolução dos cravos.

Como as rotinas de serviço nada tivessem de diferente e as possibilidades de procurarmos nova ocupação não fossem possíveis, havia também que manter a rotina das horas vagas, ir até ao centro de Bissau, beber umas cervejas, comer nos locais habituais ou naquele que era o mais recente, O Ninho , na estrada para o QG e assim passarmos o tempo que faltava.

Contudo essa rotina complicou-se em Bissau nos dias seguintes ou em quaisquer outros locais que não os quartéis. Começámos a ser insultados com palavras como vai-te embora para a tua terra ou fora daqui e até agredidos ou pelo menos essa tentativa, próprio de alturas de mudanças desta natureza, pelo que era impensável andar sem ser em grupo.

Isso obrigou a diversas intervenções da polícia militar, com alguma firmeza, pois as coisas ficavam, por vezes, bastante difíceis e quase sempre para os militares. O ambiente no meio civil nunca mais foi calmo e tranquilo como até então. Onde não havia guerra começava agora a inflamar-se a situação. Nessa altura julgo estar ainda lá, na PM, no Forte da Amura, o então alferes miliciano Fernando Pinto.

Mas também dentro dos quartéis se registaram mudanças, há muito que no Agrupamento de Transmissões falávamos nas condições que tínhamos nos nossos quartos (desculpem-me os camaradas que estavam ou estiveram em condições péssimas e lamentáveis, conheci algumas. Tenho sempre dito que fui bafejado pela sorte e que estive sempre bem. Tal como o apanhado num acidente mas que acaba sempre por ter sorte. Enfim, adiante. Não podia fazer este relato sem dizer isto), onde não cabíamos todos se chegava alguém vindo do interior.

Como trabalhávamos por turnos, de quatro horas, alguém tinha que ceder a cama, por vezes mais do que um até, caso contrário o camarada não dormia, montava uma tenda ou arranjava outro qualquer expediente.

Aproveitámos os ventos de mudança e até o segundo comandante, um Major pouco simpático cujo nome não me recordo, passou a ser uma simpatia e andou a ver as nossas instalações e a ouvir as queixas que tínhamos. Digo-o com conhecimento por ter feito parte do grupo que o acompanhou e expôs a situação. É claro que houve algumas melhorias, mas pouco pude acompanhá-las devido ao meu regresso em Julho de 1974, após cumpridos 24 meses e vinte dias.

Os festejos continuavam e eram uma realidade, ouvia-se agora na Rádio os diferentes grupos de militares que lá iam dando voz, havendo mesmo militares que lá iam cantar, alguns em coro. Recordo um que interpretou um dos hinos do 25 de Abril de 1974, Grândola, Vila Morena do saudoso Zeca Afonso. Refira-se que na altura era, salvo erro, Director da Rádio o conhecido autor de obras musicais Nuno Nazareth Fernandes, também ele à data alferes miliciano de engenharia.

Estas as pinceladas rápidas que posso dar sobre a vida após 25 de Abril de 1974 na cidade de Bissau. Ouvia-se dizer que no interior havia já confraternização e visitas dos elementos do PAIGC aos quartéis. Não pude testemunhar nenhum desses acontecimentos.

Acrescento ainda outro nome, o do ex-furriel miliciano Carlos Santos Pereira (**), que se encontrava lá também nessa altura e tratava de uma área ainda aqui não falada ou, pelo menos não vista por mim, os serviços de escuta, onde eram ouvidas todas as emissões de rádio do Senegal e Conacry e eram efectuadas ainda outras escutas.
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Notas do B.S.:

(*) O Tenente-Coronel Mateus da Silva, além de militar, era, e digo era porque apenas o conheci naqueles anos, entenda-se, uma pessoa de agradável trato com todos os militares, sendo frequente a sua presença em partidas de futebol dentro do quartel.

Posteriormente, já na Metrópole, integrou uma das administrações, à data CTT/TLP, onde trabalharam alguns dos ex-militares do Agrupamento de Transmissões.

(**) Também ele, além de poder falar sobre o assunto que era feito pelo serviço de escuta, e relatar a vida após 25 de Abril de 1974, pode contar porque foi até Bigene, durante uns três meses. Mas melhor que ninguém ele o poderá explicar.

Trata-se do jornalista Santos Pereira, convidado das televisões para falar sobre os conflitos na Tetchénia e nos Balcans e com obras publicadas na editora Cotovia.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3262: No 25 de Abril eu estava em... (3): Gadamael e depois Cufar (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152)

Vd. última colaboração de Belarmino Sardinha em 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)