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domingo, 10 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24638: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - IX (e última) Parte: APSIC


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Candamã, aldeia (tabamca) em autodefesa do regulado de Corubal que a guerra despovoou > Um improvisado Posto Escolar Militar (PEM). Do lado esquerdo, ao alto, numa árvore, está afixado um cartaz de propaganda das NT: "Juntos venceremos". Sob a bandeira das quinas, duas mãos (uma branca e outra preta) apertam-se... Foto do álbum do ex-alf mil, CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69), Torcato Mendonça (1944-2021).

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar(; Blogue Luís GRça & Camaradas da Guiné]


Classes

PEM 22

PEM 26

Total

Pré.primária

38

80

118

1ª classe

28

40

68

2ª classe

19

25

44

3ª classe

20

5

25

4ª classe

4

1

3

Total

109

151

260

Quadro 3 – Postos Escolares Militares 22 e 26: alunos por grau de instrução, nos anos letivos de 1970/71 e 1971/72. Presumimos que o PEM 26 fosse em Catió (com mais. população) e o PEM 22 em Cabedu ou Ilhéu de Infanda.

 

Classes

PEM 22

PEM 26

Total

Pré- /1ª classe

17

10

27

1ª/2ª  classe

8

17

25

2ª/3ª  classe

10

1

11

3ª/4ª  classe

8

-

8

Exame 4ª clas

-

-

.

Total

33

28

71

 Obs.: Taxa de sucesso escolar: 30,3% (PEM 22), 18,5% (PEM 26), e 27,3% (Total)

Quadro 4 – Postos Escolares Militares 22 e 26: alunos por passagem de classe e grau de instrução, nos anos letivos de 1970/71 e 1971/72


Classes

Frequència

Aprovação

3ª classe

3

1

4ª classe

18

14

Total

21

15


Obs: A companhia era composta por 5 oficiais, 17 sargentos e 144 praças, num total de 166 militares. Das praças, 1 em cada 4 eram cabos. O total dos soldados seria da ordem dos 110. Se admitirmos que os soldados (n=21) que frequentaram a 3ª e 4ª classe dos PEM 22 e 26, eram todos da companhia, estamos a falar de3 19% de analfabetos ou de homens sem a escolariade obrigatória.  Quanto à taxa de aproveitamento escolar foi de 72%.

Quadro 5 – Assistência educativa às NT


Infografias: Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação de alguns alguns excertos da História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72). Esta é a IX (e última) parte.

Foi um antigo aluno meu, pessoa que muito estimo, o médico do trabalho Joaquim Pinho, da região centro, que me facultou, há uns anos atrás, cópia (não integral) desta história da CCAÇ 2792, que era comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente,

Uma cópia da história da unidade froi oferecida ao Centro de Documentação 25 de Abril, em vida, pelo então major general Monteiro Valente (1944-2012), ex-elemento do MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril. 

Foi também comandante da GNR, e era licenciado em História pela Universidade de Coimbra.

Entre outros cargos e funções, foi instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974). (Foto à direita, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).



História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - IX (e última Parte): APSIC

 
Atividade no domínio socioeconómico;

1.      1. Obras executadas

(i)               abertura e desmatação da estrada Catió-Cufar no troço da ZA da companhia;

(ii)              desmatção da estrada Catió-Ilhéu de Infanda;

(iii)            início da construção do reordenamemto de Quibil;

(iv)            construção de 1 posto escolar militar (PEM);

(v)              construção de 1 posto sanitário;

(vi)            construção de 1 mesquita;

(vii)           construção de 1 heliporto;

(viii)          construção de 3 poços com bomba;

(ix)             construção de 3 fontanários;

(x)              construção de 2 bebedouros;

(xi)             construção de 2 lavadouros.


2. Assistência educativa às populações e às NT (**)

Vd. quadros 3, 4 e 5, acima. Taxa de aproveitamento escolar da ordem dos 27%.


3. Assistência sanitária à população

Ano

Total

1970

400

1971

5511

1972

3561

Total

9472

Quadro 6 – População assistida, por ano


4. Autodefesa:

(i)         foi  reestruturada a organização defensiva do aglomerado populacional de Cabedú; para esse efeito foram construídfas 9 trincheiras de combate e 3 espaldões para  armas coletivas; foi aumentada e reforçada a vedação de arame farpado; e foi instruída a milícia e a população armada;

(ii)       no reordenamento do Ilhéu de Infanda processou-se a abertura de uma rede de trincheiras de combate e comunicação a toda a volta do reordenamento e a renovação integral da vedação de arame farpado;

(iii)      no reordenamento de Quibil foi erguida a toda a volta um vedação de arame farpado.

Fonte: Adapt. de História da unidade, capítulo II, pp. 117, 118 e 119.

 ____________

Notas do editor


Postes anteriores da série:



29 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24516: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte V: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: as primeiras duas baixas em combate

24 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24500: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte IV: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas ZA de Catió e Cabedu: missão

12 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24471: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte III: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas ZA de Catió e Cabedu: descrição do terreno (relevo e hidrografia, solo, cobertura vegetal, clima, agricultura)

6 de julho de 023 > Guiné 61/74 - P24455: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte II: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas zonas de acção de Catió e Cabedu

4 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24450: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte I: Mobilização, composição e deslocamento para o CTIG em 19 de setembro de 1970

E ainda;

3 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24447: Casos: a verdade sobre... (34): A CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72), comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), e depois maj gen ref, que embarcou para o CTIG sem três alferes (que terão desertado) e durante a IAO ficou sem o último, por motivos disciplinares...

(**) Vd. CECA (2015):

De acordo com o “Relatório Anual do Comando” do CCFAG, referente ao ano de 1971, e no que respeita “APSIC” (Ação Psicológica), e mais concretamente à ”assistência educativa”, sabemos que, no CTIG, 

(i) “durante o ano lectivo 1970/71 estiveram em funcionamento 92 Postos Escolares Militares (PEM) assistidos por 116 professores, sendo 80 metropolitano e 36 guinéus;

(ii) “a frequência foi de 6.895 alunos dos quais 1.569 eram do sexo feminino" (c. 23%).

(iii) “Registou-se uma percentagem geral de 37,1% de aproveitamento em todas as Classes, (Pré-primária 36,9%; 1* lasse, 32%, 2ª Classe 59,3%, 3ª Classe 50,8% e 4ª Classe 38,3%)"

(iv) "o que pode considerar-se bom se atendermos às dificuldades existentes, e muito especialmente por se processar unicamente no meio rural”;

(v) "O ano escolar de 1971/72 iniciou-se com 119 PEM a funcionar e estando matriculados 7.783 alunos. A actividade docente está a cargo de 154 professores dos quais 56 são guinéus".

Fonte: Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pág. 79 (Com a devida vénia...)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23964: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VII: Tabanca e destacamento de Braia, na estrada Mansoa-Bissorã

Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada"  (Mansoa-Bissorã)...


Foto nº >1A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada" (Mansoa-Bissorã)... Ao fundo, do lado direito o fortim de Braia...


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Sem legenda...


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...


Foto nº 3A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...

Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento  com militares jogando à bola (?)...


Foto nº 5 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >   A segunda ponte, com miudos a saltar para a água...


Foto nº 6 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >  Alunos e alunas do posto escolar militar


Foto nº 6A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos do posto escolar militar.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Julgamos que já fez, em 2022, os 86 anos. Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Os capelães eram, em geral, graduados em alferes, não eram portanto oficiais milicianos. Um ou outro podia do quadro.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.

Estas são as primeiras de um lote de 24 sobre o destacamento (e tabanca) de Braia, que ficava a noroeste de Mansoa, na estrada para Bissorá. Sobre Braia temos 15 referências no blogue.  

 Desejamos um ano cheio de saúde e de graças ao nosso amigo,  antigo capelão,  José Torres Neves. E obrigado por mais estas "prendinhas". Um abraço também ao Ernestino Caniço que nos vai ajudando a alimentar o blogue com as belíssimas fotos do José Torres Neves (*).


Guiné > Região do Oio > Mansoa  (1954) > Carta de 1/50 mil  > Posição de Jugudul, Mansoa, rio Mansoa, Braia e Infandre. Braia e Infandre ficava na estrada Mansoa-Bissorã.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de dezembro de  2022 > Guné 61/74 - P23834: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VI: Bissá: as últimas fotos do destacamento e tabanca balanta

domingo, 21 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22737: Em busca de... (315): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)

1. Mensagem de Carlos E. M. C. da Silva, Coronel Tirocinado na Reforma, com data de 17 de Novembro, dirigida ao nosso editor Luís Graça:

Camarada Combatente na Guiné Prof Luís Graça,

Sou Cor.Tir. na Reforma e estive também na Guiné de Out1970 e Ago1973. As funções desempenhadas no Comando Chefe permitiram-me conhecer todo o TO pois, para além de participar na elaboração dos Programas Anuais de Desenvolvimento Sócio-Económico das Populações, fazia contactos frequentes com os Comandos de Batalhão e suas Sub-Unidades para, “in loco”, acompanhar a evolução dos trabalhos de construção das Escolas, Postos de Socorros, Apoio à produção nas bolanhas com novas e melhores sementes do arroz, Captações de água, etc. Tudo isto em passo acelerado dado os ventos de mais intensa tempestade que se já vislumbravam no horizonte...

Estou agora a tentar dar resposta a um pedido que me foi apresentado por um Cidadão da Guiné, Vasco Na Nena, e que ouso levar ao seu conhecimento:

1. É natural de Tchugué, na margem direita do rio Cumbijã e situada a montante de Cufar e consegue lembrar-se que a unidade de Catió era o BCaç 4510.

2. Em 1973, ainda miúdo analfabeto, frequentou a Escolinha construída e gerida pelas NT, tal como era política seguida pelo Programa acima referido, mencionando como seu professor o Furriel Silva.

3. Aquando da retirada das NF após o 25Abr74, o miúdo a quem, entretanto, tinha morrido o pai, foi apoiado por um Padre italiano de uma Missão Católica da área, onde continuou a estudar.

4. No regresso daquele Padre a Itália, este levou-o consigo e ali continuou a estudar conseguindo boas qualificações e estabelecendo a sua vida em Veneza, após ter ido à Guiné em busca duma menina de que se lembrava dos seus tempos de miúdo com a qual casou e levou para Itália onde agora vivem. Mantêm ligações com a sua família alargada na Guiné a quem vai ajudando na sua sobrevivência.

5. Este miúdo de então, agora Vasco Na Nena, fez um pedido para que fosse possível encontrar-se com o primeiro professor Furriel Silva para lhe manifestar a sua gratidão pois a ele deve a base educativa que o levou a chegar à situação de vida que hoje tem, vencendo as agruras da guerra e os escolhos do caminho europeu.

- O Chugé que fica na zona de Fanhe, Fatim e Dugal é outra povoação com o mesmo nome mas fica no centro da Guiné, a cerca de 250 Km do Chugué e de Cobumba, estas sim aldeias juntas e no sul (rio Cumbidjã). Esta povoação terá sido fundada por pessoas vindas do Chugué do centro do país já referido, que se situa junto ao Rio Zeba, era uma família que fazia a ligação com as autoridades portuguesas e era conhecida por NANDINGNA. Os contactos eram feitos com eles que, por sua vez, falavam o criolo com a restante população.

- Neste Chungué (Tchuguê ou Xoquê na versão balanta) terá havido tropa portuguesa nos anos sessenta (anterior ao Vasco) mas que se ausentou até à instalação da Companhia que reocupou a povoação, tudo indica que em 1973. O dispositivo português tinha-se retraído, concentrando em Bedanda, Cafur e Catió, tendo voltado a haver guarnição em 1973. A povoação ficava no meio e em redor ficavam as instalações militares, tudo indica que em separado(por pelotões?), fazendo o quadrado em volta da povoação. Foram os militares portuguesas que construíram a escola, que ficaria perto do campo de futebol, perto da floresta onde estavam também os Fuzileiros. Muita gente frequentou a escola, aparentemente de várias idades, em principio correspondentes à 1.ª e 2.ª classes. Pela ideia do Vasco a escola funcionava a seguir à apanha do arroz, pelo que situa entre dezembro e março, logo final de 1973 e primeira parte do ano de 1974 (parece ser a data mais lógica após situarmos no tempo vários acontecimentos, nomeadamente a proximidade com o 25 de abril).

- Para além do formador Furriel Silva, ele lembra-se de um outro elemento, presumo que soldado, de nome Martins, que estava na instalação que dava acesso ao porto, cerca de 100 metros mais abaixo da família Nandingna. Este Martins era alto e tinha cabelo castanho claro. Eram ainda muito conhecidos da sua relação com a população, um outro a quem chamavam "Coimbra" e o conhecido por "Montanha", que dava ginástica aos mais pequenos.

Portanto e sem certezas absolutas relativamente à relação dos factos com o tempo, tudo indica que a sessão escolar ocorreu entre dezembro de 1973 e março de 1974, pelo menos para as referências do Vasco Na Nema.

- A referência ao Batalhão 4510 é da minha iniciativa e não do conhecimento do Vasco, na sequência da procura de qual a unidade militar na zona no período de tempo considerado, pelo que, parecendo ser verdadeira, nasceu especulativamente pois o seu blogue não é acessível e não há informação suficiente sobre a localização das suas Companhias.

Caro Camarada Prof Luís Graça! Esta é a questão que me foi posta e na qual estou a empenhar-me para conseguir o objectivo: Identificar e localizar o Fur Silva que deu aulas na Escolinha de Tchugué em 1973.

E atrevi-me a incomodá-lo com este caso pois, alguns Camaradas que conhecem o vosso Blog, e do qual tecem os maiores elogios, me sugeriram contactá-lo nesse sentido, pois tem vindo a difundir de forma bem apelativa e atraente a vossa experiência vivida e os conhecimentos adquiridos no TO da Guiné pelos vossos Blogers, assim mantendo vivos os momentos, uns bons e outros dramáticos, que lá vivenciaram. Poderá dar-se o caso de algum eco poder vir a surgir desse universo de combatentes na Guiné-Bissau que dá vida ao vosso Blog.

Porque é raro ouvir a voz de cidadãos dos PALOP a manifestarem a sua gratidão às coisas boas que receberam do “colonizador”, creio que este caso não pode ser ignorado. Daí solicitar a sua possível ajuda.

Grato pela atenção dispensada, aceite os meus cordiais cumprimentos,
Carlos Eduardo Mendes Cação da Silva


********************

2. Em 18 de Novembro foi enviada esta resposta ao Senhor Coronel Carlos Silva:

Senhor Coronel Cação da Silva
Pede-me o editor, Prof Luís Graça que dê resposta ao senhor Coronel.

Consultados os livros da CECA, consegui estes elementos:
(...)
A CCAÇ 4143/72 assumiu a responsabilidade do subsector do Chugué, então criado, em 07Abr73, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4510/72. Foi rendida em 07Mar74 pela CCAÇ 4747/73, também integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 4510/72, e mais tarde do BCAÇ 4510/73.

Com respeito ao Batalhão 4510 referido pelo amigo Vasco Na Nena, julgo ser o BCAÇ 4510/72 (Guiné, 20Jun72/15Jul74), que assumiu a responsabilidade do sector S3 em 21Ago72, com sede em Catió mas que só em 01Fev74 viu a sua zona de acção alargada aos subsectores de Chugué e Cobumba, então retirados ao S4.

Este Batalhão foi substituído no mesmo S3 pelo BCAÇ 4510/73 (Guiné, 01Jul74/14Out74) em 10Jul74.

Ambos os Batalhões foram para a Guiné compostos só por Comando e CCS.

Inclino-me para a hipótese de o Furriel Silva ter pertencido à CCAÇ 4143/72 que foi a unidade que esteve em Chugué entre 1973 e 1974.

Não temos nenhum registo no nosso Blogue da CCAÇ 4143/72. 
Vou publicar a mensagem do senhor Coronel assim como esta minha resposta. Pode ser que alguém tenha conhecido o tal Furriel Silva no Chugué e nos contacte.
Em anexo a Ficha da CCAÇ 4143/72

Ao dispor
Carlos Vinhal
Coeditor

Localização de Chugué. Infogravura da Carta de Bedanda 1:50.000. © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Reprodução, com a devida vénia, da pág 414 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - Publicação do Estado-Maior do Exército.

********************

3. Hoje mesmo recebemos esta mensagem do Coronel Tir Carlos Silva...:

Senhor Carlos Esteves Vinhal,
Foi com agradável surpresa que recebi, de forma tão rápida e esclarecedora, os elementos sobre o dispositivo das NT na zona de Catió em 1973 e 1974. É com apreço que manifesto, desde já, os meus agradecimentos pelo empenho dispensado na obtenção de elementos bem necessários para a possível identificação e localização do Fur Silva da escola do Chugué, em 1973. As iniciativas que refere levar a cabo no vosso Blogue poderão trazer ainda novos dados que permitam desfiar a meada e atingir o objectivo proposto.
Esse apreço e agradecimentos são extensivos ao Sr. Prof Luis Graça que tão rapidamente encaminhou o meu pedido para a pessoa certa e empenhada.
Concordo também que a CCAÇ 4143/72 deverá ser o foco para prosseguir o esforço de pesquisa e seria extraordinário que aparecesse alguém do vosso grupo da Tertúlia que se lembre do Fur. Silva.
Estou a contactar o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo Geral do Exército para colaborarem nesta pesquisa. Sei que nessa época de 1973 era obrigatório todas as Unidades e Sub-Unidades mobilizadas entregarem no final da comissão a História da Unidade. Se estas duas Companhias o fizeram talvês a sua História se encontre no Arquivo Geral do Exército e nela constem os daos que procuramos.

Meu Caro Camarada e Combatente no TO da Guiné-Bissau, Carlos Vidal
Iremos certamente manter o contacto até ao final do “combate” que esperamos seja de sucesso.
Aceite mais uma vez os agradecimento pelo vosso extraordinário trabalho e os meus cordiais cumprimentos,
Carlos Eduardo Mendes Cação da Silva


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4. ...Que mereceu esta nossa resposta:

Senhor Coronel Carlos Silva
Muito obrigado pelos seus comentários que nos insentivam a continuar a nossa tarefa de manter o Blogue LG&CG activo.
Se fosse possível ao senhor Coronel entrar em contacto com o nosso jovem Vasco Na Nena, perguntava-lhe em que parte do ano de 1973 ele frequentou as aulas, se tem ideia da fisionomia do Fur Silva. Ele refere o BCAÇ 4510/72, tudo levando a crer que o dito Fur Silva poderá ter pertencido à 4143/72, adstrito a este batalhão.
Isto tudo são conjecturas até encontramos alguém que nos desfaça estas dúvidas.

Continuamos ao dispor do senhor Coronel e receptivos a qualquer novidade que obtenha.
Os nossos melhores cumprimentos e votos de excelente saúde
Carlos Vinhal


********************

5. Comentário do editor CV:

É difícil porque na tertúlia não temos camaradas da CCAÇ 4143/72, mas poderá algum dos nossos leitores ter conhecimento com antigos Combatentes desta Companhia para se poder confirmar se havia algum Furriel Silva que desse aulas no Chugué.
Abradecemos toda a ajuda possível.

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Notas do editor

Este poste foi reformulado pelo editor em 24 de Novembro face a novos elementos colhidos, tais como haver duas Tabancas com o nome de Chugué, uma pertencente à zona de Tite e outra à zona de Bedanda.

Último poste da série de 16 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22285: Em busca de... (314): Camaradas da minha CCAÇ 4544/73 (Cafal, 1973/74), o Coelho (de Alcobaça), o Rosete (de Cantanhede), o alf mil Quintela (de Torres Vedras) (Eugénio Ferreira, ex-1º cabo, 2º pelotão)

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22684: A nossa guerra em números (1): os soldados do recrutamento local, de 1ª e 2ª classe, as milícias, os soldados básicos e o patacão que recebiam (Valdemar Queiroz / Fernando Sousa Ribeiro / Luís Graça)


Capa (, de resto pouco feliz,) do livro


1. Saiu recentemente, mas está por fazer a sua recensão aqui no nosso blogue, o livro do ten cor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 379 pp.). Já o tenho e estou a lê-lo, "na diagonal"... 

É muita informação em números, direi mesmo que é uma "indigestão" de números: não há praticamente uma página (das 379), em que não haja um quadro, ou um gráfico... O autor optou, de resto, por não numerar os quadros e os gráficos que surgem ao correr do texto. 

O que deixo escrito escrito atrás, não  impede de considerar que é um livro obrigatório na biblioteca de quem quer se interesse pelo estudo da "guerra de África"  (ou "guerra do ultramar" ou "guerra colonial", como cada um quiser).  Enfim, um dia alguém teria que escrever uma "calhamaço" destes, de consulta obrigatória, com informação estatística, básica, mas exaustiva,  sobre tópicos como: I. Recrutamento e mobilização: II. Os mortos e os feridos; III. Acções e meios de combate; IV. As despesas da guerra; e V. Os movimentos independentistas. 

A bibliografia é sucinta, é verdade, o mais importante são as fontes (oficiais e oficiosas) que o autor teve a oportunidade de consultar, fornecendo-nos por exemplo preciosas informações estatísticas sobre "o outro lado do combate" (os movimentos nacionalistas). Pode faltar-lhe informação mais fina, qualitativa, em cada um dos capítulos, mas nesse ponto o nosso blogue ajuda a colmatar algumas lacunas.

Muitos dos nossos leitores não terão tempo nem pachorra para ler livros como este. A pensar neles, iremos de vez em quando citá-lo e reproduzir um ou outro número  que nos pareça relevante para nos ajudar a compreender melhor a guerra que nos calhou em sorte, e em especial a que teve a Guiné como teatro de operações...

Neste primeiro poste vamos revisitar o  extenso e interessante capítulo, o IV (pp. 259-330), sobre "As despesas da guerra", incluindo os encargos com pessoal e logística, mesmo só tendo  lido o capítulo na diagonal.

A par disso, iremos reproduzir comentários, muito interessantes (e que "não se pode perder", menos acessíveis  nas respetivas caixas)  ao poste P22671 (*)... Falaremos dos nossos camaradas do recrutamento local (classificados em soldados de 1ª e 2ª classe, em função das habilitações escolares), respetivos vencimentos, mas também das "escolas de cabos", do pessoal das milícias, sem esquecer essa figura, em geral objecto de chacota ou de piedade, que era o "soldado básico" (normalmente, metropolitano).


(i) Valdemar Queiroz:

As velhas licenças «à bife» e os impressos que eram feitos para durar dez anos (196_).

Como curiosidade. Quem fosse incorporado na Guiné, Angola ou Moçambique tinha o mesmo vencimento mensal dos militares da metrópole ou passavam a ganhar o mesmo valor dos mobilizados para esses territórios? Por ex. Luanda não era considerado zona de guerra mas os metropolitanos mobilizados tinham o vencimento superior ao da metrópole, e os naturais/recrutados/incorporados em Luanda?. Nem me refiro à Guiné por ser toda zona de guerra.

A haver diferenças, até estou a pensar, quanto maior fossem as incorporações locais mais baratinha ficava a guerra. (...)

(ii) Fernando Ribeiro:

Caro Valdemar: Em relação a Angola, só posso referir o caso dos primeiros-cabos e dos soldados, porque os angolanos que pertenceram à minha companhia só tinham estes postos.

Os primeiros-cabos incorporados em Angola ganhavam tanto como os que tinham sido incorporados na Metrópole, incluindo os 100%. 

Já no caso dos soldados, havia diferenças. Enquanto na Metrópole só existia o posto de soldado (era-se soldado e mais nada, quer se fosse doutor ou analfabeto), em Angola havia dois: soldado de 1.ª e soldado de 2.ª. 

Os soldados de 1.ª tinham a 4.ª classe ou mais, enquanto os de 2.ª não, apesar de desempenharem exatamente as mesmas funções. Os soldados de 1.ª de Angola ganhavam tanto como os soldados da Metrópole. Os soldados de 2.ª ganhavam incomparavelmente menos; não sei ao certo, mas deviam ganhar qualquer coisa como 1/10 do que ganhavam os outros, o que era escandaloso.

Todos os soldados angolanos da minha companhia eram alfabetizados, quer fossem de 1.ª ou de 2.ª, o que não deixa de ser surpreendente. Aqueles que tinham sido analfabetos à data da incorporação no serviço militar frequentaram as aulas regimentais no RI 22, em Sá da Bandeira, durante a recruta e a especialidade. Fizeram-no com tanto êxito e tinham tanta vontade de aprender, que praticamente já sabiam ler, escrever e contar quando vieram para a minha companhia.

Quanto aos que já eram escolarizados antes da tropa, havia aqueles que tinham a 4.ª classe e eram oriundos das cidades; eram os soldados de 1.ª. Os já escolarizados oriundos das zonas rurais só tinham a 3.ª classe, porque as escolas do mato não ministravam a 4.ª classe. Eram as chamadas "escolas rurais", que em tudo eram semelhantes aos "postos escolares" que existiam nas aldeias mais remotas da Metrópole. Tal como nos "postos escolares" metropolitanos, o ensino nas "escolas rurais" não ia além da 3.ª classe, porque o professor, a maior parte das vezes, só tinha a 4.ª!

O comandante do meu batalhão pode ter sido o sujeito mais abominável do mundo, mas não descansou enquanto os soldados de 2.ª não fizeram o exame da 4.ª classe e passassem a ser soldados de 1.ª. Ele foi a Luanda tantas vezes quantas as necessárias para conseguir falar pessoalmente com o secretário provincial da Educação do Governo-Geral de Angola (o "ministro" da Educação da Província de Angola), a fim de chamar a atenção deste para a necessidade de submeter todos os soldados de 2.ª ao exame da 4.ª classe com a máxima urgência possível. Ao fim de três ou quatro meses, deixou de haver soldados de 2.ª em todo o batalhão.

Para terminar, quero chamar a atenção para a vontade dos militares angolanos em aprender, independentemente de passarem a ganhar mais ou não. Enquanto os militares metropolitanos só liam A Bola e quase só preocupavam em saber os resultados dos jogos de futebol, os militares angolanos tinham uma insaciável vontade de saber coisas novas, em múltiplos campos do conhecimento. Várias vezes eu pensei: «Se os africanos em geral forem como estes, então a civilização do futuro será africana». Ou então não haverá mais civilização, porque os "civilizados" darão cabo dela.

31 de outubro de 2021 às 01:31

(iii) Valdemar Queiroz:

Caro Fernando Ribeiro fiquei esclarecido.

Realmente os naturais também eram mobilizados para a guerra, mas a minha dúvida seria quanto aos que estavam fixos nos Quarteis da cidade p.ex. de Luanda. Por cá os 100% era aumentado quando eram mobilizados, diferente de estarem fixos no Quartel da RAP3 na Figueira da Foz.

Essa dos soldados de 1ª. e 2ª. devido a serem analfabetos, julgo que por cá havia os soldados básicos nessas condições, não tenho a certeza. Na minha CART11 de soldados fulas havia os soldados arvorados que andavam na escola "de Cabos" dada por mim e não sei, não me lembro, se por mais alguém. Julgo que depois estes arvorados passaram a Cabos.

É natural os analfabetos quando aprender a ler gostar de ler tudo o que tenha letras. É como ver uma bela paisagem que nunca viu e olhar com admiração para a mais pequena desinteressante imagem. (...)

31 de outubro de 2021 às 02:36

(iii) Tabanca Grande Luís Graça:

No livro do ten cor Pedro Marquês de Sousa,"Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021), há um extenso e interessante capítulo, o IV (pp. 259-330), sobre "As despesas da guerra", incluindo os encargos com pessoal e logística, que só li na diagonal.

Um estudo do Ministério do Exército, realizado em 1965, com base nos encargos suportados desde o início da guerra em Angola, estimava o custo de cada militar em 115 escudos (45,2 euros / dia, em valores de hoje), assim desagregado:

(i) vencimento e subsídio de campanha: 35$00 (30,4%);

(ii) alimentação: 23$00 (20,0%);

(iii) fardamento: 5$00 (4,3%);

(iv) transporte (via marítima): 10$00 (8,7%);

(v) outros encargos: 42$00 (36,6%) (inclui a despesa com armamento e munições, equipamento, combustível, água, luz, alojamento e manutenção)...

As percentagens são calculadas por nós...

Uma primeira conclusão é que se tratou de uma guerra, de baixa intensidade,  onde os encargos diretos com os combatentes (vencimento, alimentação e fardamento) representavam cerca de 55%...O essencial da guerra foi feita pelo homem com a sua arma, a "canhota"... Portanto, com escass0s meios tecnológicos (e poucos sofisticados, tirando a Força Aérea).

Há informação sobre o vencimento mensal base (mais subsídio de campanha ou vencimento complementar) relativamente aos anos de 1963/64, ao ano de 1971 (Guiné), ao final de 1972 (em que passou a ser pago, aos servidores do Estado, incluindo militares, o 13º mês ou "subsídio de Natal") e ainda ao final de 1973.

31 de outubro de 2021 às 18:16


(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Sobre o pré dos soldados do recrutamento local e das milícias, a informação é parcial...O autor, Pedro Marquês de Sousa, com base nos dados de 1964, um soldado do exército (metropolitano), na Guiné, ganhava 600$00 (vencimento mensal base: 30$00; vencimento complementar: 570$00).

Por sua vez, um milícia recebia 450$00 mensais (valor este que eu desconhecia). Ou seja, cada milícia recebia 15$00 diários (8 de alimentação e 7 de vencimento). A valores de hoje, eram 185 euros en 1964...Mas apenas 138 euros em 1969.

No meu tempo, os soldados de 2ª classe (só tinhamos um 1º cabo com o exame da 3ª ou 4ª classe) da CCAÇ 2590/CCAÇ 12) ganhavam os mesmíssimos 600 escudos, mais 24$50 por dia para a alimentação (uma vez que eram desarranchados). No total ganhavam cerca de 1350$ / mês, o que dava para comprar 225 quilos de arroz na loja do Rendeiro (1 saco de 100 quilos custava 600 pesos). Com famílias numerosas, não era muito, mas sempre era melhor do que andar a lavrar mancarra... Com o fim da guerra, foi o colapso da economia familiar...e pssou a rapar-se fome, apesar da ajuda sueca e outras...

31 de outubro de 2021 às 18:37 

(v) Tabanca Grande Luís Graça:

Valdemar, não tenho ideia nenhuma de haver, no meu tempo,em Bambadinca (BCAÇ 2852, 1968/70, e BART 2917, 1970/72), "escola de cabos"... Nenhum dos nossos soldados arvorados chegou a 1º cabo, no meu tempo. A CCAÇ 12 foi usada como "carne para canhão", foi "esmifrada" pelo comando dos batalhões do setor L1...

Dei explicações ao 1º sargento para frequentar a Escola Central de Sargentos, em Águeda, mas nunca fui requisitado para dar aulas aos nossos pobres soldados fulas... Sei que alguns mais tarde chegaram a 1ºs cabos, graças sobretudo ao seu esforço e sacrifício pessoais... Caso do Umaru Baldé, por exempplo, que no fim já era capaz de escrever uma carta em português acrioulado...

31 de outubro de 2021 às 18:47 

(vi) Fernando Ribeiro:

Prezado Valdemar, os soldados básicos eram geralmente analfabetos e até atrasados mentais. Eles costumavam ser os soldados que tinham reprovado nas provas finais da especialidade, qualquer que ela fosse, ficando sem especialidade. Em geral, eram indivíduos completamente incapazes, que só serviam para varrer a parada, limpar as casas de banho, lavar as panelas e tachos na cozinha e outras tarefas semelhantes.

Contudo, havia exceções, uma das quais foi o impedido do comandante do meu batalhão. Este impedido também era básico, mas de parvo não tinha absolutamente nada. Eu não me lembro do nome dele; só sei que tinha a alcunha de "Paraquedista". 

«"Paraquedista", porquê?», perguntarás. Porque ele tinha sido mesmo paraquedista na Força Aérea! Um dia, em Tancos, ele e mais dois ou três resolveram dar um passeio de helicóptero à socapa, julgando, talvez, que seria fácil pilotar um aparelho daqueles. A aventura correu-lhes mal, o helicóptero caiu e eles foram parar ao hospital. A seguir foram punidos e expulsos da FAP. Foram parar ao Exército, que era o destino de todos os que a Força Aérea rejeitava. 

Ora não existia no Exército alguma especialidade chamada "paraquedista". Logo, o nosso homem ficou sem especialidade, como soldado básico. Na verdade, ele era um militar perfeitamente operacional, que poderia ter sido feito soldado atirador ou soldado comando, mas não foi isso o que lhe aconteceu. O comandante do meu batalhão nomeou-o seu impedido, para ele lhe fazer a cama todos os dias, engraxar as botas, lavar a roupa, etc.

1 de novembro de 2021 às 01:42

(vii) Valdemar Queiroz:

Luís, desconhecia esses valores dos vencimentos dos soldados fulas desarranchados, manga de patacão. Também seria assim com outros soldados de recrutamento local, no "fim" pudera não quererem vir para a metrópole e vem o 'paguem-nos até Dezembro e ficamos cá'.

Agora, não sei explicar bem se as aulas (instrução primária) que eu dava eram verdadeiramente a "escola de cabos", lembro-me deles fazer exame e haver uma chatice por eu escolher um dos "putos" e os mais velhos comentarem 'rapaz não pode ser cabo e mandar nos mais velhos'.

Por acaso, também, fui eu que dei umas lições de matemática/álgebra ao nosso 1º. sargento que também veio a meio da comissão para Águeda.

Fernando Ribeiro,  é como dizes, alguns básicos, coitados, tinham 'uma pancada', mas como eramos um país poupadinho aproveitávamos tudo. O básico da nossa CART11 era o homem da cantina. (...)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 30 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22671: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte VII: O meu percurso militar (I): Região Militar de Angola: EAMA, CICA, Companhia de Transportes nº 2560, QG-4ª Rep, Depósito de Adidos (1967/68)