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sábado, 6 de abril de 2024

Guiné 61/75 - P25348: 20.º aniversário do nosso blogue: Alguns dos nossos melhores postes de sempre (4): Um roteiro poético-sentimental para um regresso àquela terra verde-rubra (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)


Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) > Vista aérea do aquartelamento e povoação do Xitole 


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > c. 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, chega a Xitole, atravessando a ponte dos Fulas, sobre o rio Pulom, ao fundo. A viatura civil, em primeiro plano, podia muito bem ser do nosso conhecido comerciante libanês Jamil Nasser, amigo de alguns dos nossos camaradas que passaram pelo Xitole, como foi o caso do Joaquim Mexia Alves (*).  Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Fotos: © Humberto Reis  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na famosa  Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.

A Ponte dos Fulas (sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal) era uma espécie de guarda avançada do Xitole (na altura, a subunidade de quadrícula, do Setor L1, mais a sul, era a sede da CART 2716, em 1970/72).

Perspetiva: norte-sul, quando se vem de Bambadinca e Mansambo para Xitole e Saltinho. A ponte, em madeira, de construção ainda relativamente recente e em bom estado, era vital para as ligações de Bambadinca e Mansambo com o Xitole, o Saltinho e Galomaro... A ponte era defendida por um 1 Gr Comb do Xitole, em permanência, dia e noite... Na foto sãos visíveis, em segundo plano à esquerda, o fortim; em terceiro plano, ao fundo, à direita, as demais instalações do destacamento.

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) >  CCAÇ 12 (1969/71 ) > Chegada ao Saltinho.. Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal... O troço de estrada a seguir, para Aldeia Formosa, estava interdita... Na imagem,  em primeiro plano os Fur Mil Reis (Humberto) e Levezinho (Tony)... De costas, o Fur Mil Graça Henriques.

Foto: © Arlindo Roda (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Oio > Mansoa > Distância, em quilómetros, de Mansoa a algumas das principais povoações, a leste (Bafatá, Bamabadinca, Enxalé), a sul (Porto Gole) e a leste (Bissau, Nhacra, Encheia)... Na foto, o ex-Alf Mil Paulo Raposo, CCAÇ 2405/BCAÇ 2852 (1968/70).

Foto: © Paulo Raposo  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  O Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria, a viver na Marinha Grande). Membro da Comissão Organizadora dos nossos Encontros Nacionais (interrompidos com a pandemia de Covid-19 em 2020), é um histórico do nosso blogue, tendo mais de 310 referências.

Foto: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >  Possivelmente 2º semestre de 1969 (tempo das chuvas)

Foto: © Arlindo Roda (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BART 2917 (1970/72) > O Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, em fim de comissão, junto ao edifício de comando, messe e instalações de oficiais.  Do lado esquerdo, eram as instalações dos sargentos; o edifício em U fora construído pela Engenharia Militar, BENG 447, ao tempo do BART 1904 (que será substituído pelo BCAÇ 2852, 1968/70)... O Beja Santos, que esteve em Missirá, conheceu estes 3 batalhões.

Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné





Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > O antigo quartel das NT (CCS/BCAÇ 2852, 1968/70; CCAÇ 12, 1969/71; CCS/BART 2917, 1970/72...)  > No regresso a Bissau, depois de uma visita ao sul, à região do Cantanhez, no ãmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), eu e o Nuno Rubim, fizemos um pequeno desvio para visitar Bambadinca... (Éramos acompanhados pelas nossas caras-metade, Júlia e Alice, e pelo Antero, condutor do jipe da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento; as fotos foram tiradas pela Alice)

As instalações de sargentos (à esquerda) e oficiais (à direita) eram agora ocupadas pelo exército da República s Guiné-Bissau... O antigo quartel estava em ruínas. Chegámos a uma hora inconveniente, a da sesta... Trocámos cumprimentos com os oficiais presentes (incluindo o comandante, à civil,  de camisola interior, bem como um coronel inspector da artilharia que estava ali, também à civil, de máquina fotográfica e óculos escuros, em serviço, vindo de Bissau...). Fotos que falam por si... Estupidamente, não quis ver o interior do meu antigo quarto (*)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto de Luís Graça,  a partir do poste P2633 (*)  

Com um agradecimento, muito emocionado, ao Joaquim Mexia Alves pela ternura do roteiro poético-sentimental  que ele fez para mim, em 27 de Fevereiro de 2008 (Poste P2631) (**), antes de eu partir para a Guiné (onde estive de 29 de evereiro a 7 de março de 2008) (***), e de que só no regresso, infelizmente, tomei conhecimento...

No dia em que ele, Joaquim,  celebra 74 anos, achei que este roteiro, a quatro mãos, podia figurar, sem imodéstia da minha parte, na série comemorativa dos nossos 20 anos de blogue (****). Daí esta republicação.


(i) Recado para uma ida à Guiné

por Joaquim Mexia Alves



Vai, Luís,
Para essa terra quente
Que viveu dor e sofrimento
Para se fazer País.
Vai e leva o meu abraço
Porque num dia,
Num momento,
Também aí fui feliz.

Passa por Mansoa
E sobe para Mansabá
E ao carreiro da morte
Pára e contempla
Das árvores do Morés
O seu porte.
Deixa uma lágrima
E um voto
Por todos os que aí ficaram.
Depois desce a Jugudul
E segue a estrada nova
Que tanto sacrifício me deu.
Passa por Portogole
E mais à frente um bocado
Sobe ao Mato Cão,
E fica ali sentado
Com uma cerveja na mão
A assistir ao Pôr-do-Sol.

Agora que vês Bambadinca,
Depois de parares um pouco,
Segue em frente
Pela estrada do meu suor
A caminho do Mansambo,
Que fica à tua direita.

Na Ponte dos Fulas
Vai a pé,
Ali para a tua esquerda,
Sim, dentro da mata,
Vá, anda,
Porque vais encontrar,
Se agora não me engano,
Uma mata de caju
Onde o macaco cão
Faz barulho que ensurdece.

Volta à estrada
Para o Xitole
E, quando lá chegares,
Senta-te naquela varanda,
Mesmo que destruída,
(reconheci-a entre mil),
E bebe por mim um uísque
Em memória do Jamil.

Segue para o Saltinho,
Banha-te naquelas águas
E não pares,
Arranja um barco
E sobe o Corubal.

Quando chegares ao Xime,
Desembarca na lama preta
E sobe por um bocado,
Apenas para ver a vista.
Regressa ao Geba.
Lá está a Nau Catrineta
Que tem muito que contar,
Embarca agora nela,
Deixa a maré te levar,
Porque assim à noite
Estarás em Bissau, a varar.

Já é tarde,
Estás cansado,
No físico, no coração,
Então senta-te no Pelicano,
E come…
Um ninho de camarão.

Vai, Luís,
Leva-me contigo,
Mata feridas, mata mágoas,
Mata saudades até,
E abraça por mim
A Guiné…

Joaquim Mexia Alves

Monte Real, 27 de Fevereiro de 2008

(Revisão / fixação de texto: LG)


(ii)  Roteiro poético-sentimental

por Luís Graça


Passei por alguns dos sítios 
que tu me sugeriste,
a alta velocidade,
com enormes ganas de parar...
Quis controlar as minhas emoções,
quando a vontade era de chorar;
segui em frente,
mesmo querendo ficar;
não tirei fotografias,
com muita raiva minha,
por que me estava a armar em forte...
Tinha apenas em mente o sul,
nunca o leste,
nunca o norte...
Queria apenas mostrar a mim mesmo
que estava a passar o teste  da catarse...
Que eu, de facto, 
já tinha esquecido a Guiné
e o seu cheiro a morte...

Não esqueci, claro está...
E a Guiné, para mim, era apenas o Corubal,
a perigosa margem direita do Corubal,
o Geba, a Ponta Varela,
a maldita Ponta do Inglês,
o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole,
a tristeza das  tabancas fulas em autodefesa,
o cerco ao regulado de Badora,
o estrangulamento do regulado Corubal,
o deserto do  regulado do Cuor...
A Guiné era o Geba, o Xaianga, o Geba Estreito,
Finete, Mato Cão, Missirá, a Missirá do Tigre,
Santa Helena, Mero, Fá Mandinga, a Fá do Alfero Cabral...

Ah!, e os Nhabijões,
de triste memória.
Era também Contuboel,
a do Renato Monteiro,
o homem da piroga.
Era também Bafatá...
Os tocadores de kora e os ourives
e os ferreiros, mandingas.
Ah!, o Bataclã,
e a sacana  da amorosa Helena de Bafatá,
mais o bife com ovo a cavalo  na Transmontana.
Era isto e pouco mais.

Joaquim, 
desta vez fui a Mansoa,
a Mansoa da tua CCAÇ 15,
onde nunca tinha ido...
À procura de bianda para o almoço, imagina!...
Mas não segui para Mansabá
e muito menos para o carreiro da morte no Morés...
Acabei por ir almoçar
ao restaurante  do Hotel Rural de Uaque...

Tive depois um convite,
do camarigo Zé Teixeira
e do seu grupo de beduínos, comilões,
para ir comer leitão a Jugudul…
Leitão em Jugudul, imagina!,
como antigamente,
o leitão dos balantas de Nhabijões,
atropelado pelo burrinho da tropa
(no relatório, alguém escrevia:
animal subversivo e suicidário)

Mas outros deveres,
os trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje,
me retiveram em Bissau, 
num hotel todo chique, 
de muitas estrelas
num céu esburacado de papel de cenário...

Passei pelo teu/nosso Mato Cão,
pelos cerrados palmeirais do Mato Cão,
como cão  em vinha vindimada,
vi o cotovelo do Geba Estreito,
onde nos emboscávamos,
para montar segurança às embarcações,
admirei a extensa bolanha de Finete,
passei por Bambadinca,
vi vacas,  magricelas,  a pastar
na imensão da sua bolanha,
triste bolanha outrora verdejante,
parei em Bambadinca no regresso,
revisitei as ruínas do meu quartel,
não ousei sequer entrar no meu antigo quarto,
não tive estômago  ou sangue ou fel
ou coragem  ou sequer desejo...

Tomei a seguir  a estrada, 
alcatroada
(que não havia no nosso tempo)
de Mansambo - Xitole - Saltinho...
Não parei em Mansambo, 
por falta de dístico,
nem no teu Xitole.
Apenas no Saltinho, 
porque estava no programa turístico...
Mas lembrei-te de ti,
que me encomendaste
este roteiro poético-sentimental,
pedestre, p'ra fazer ao pé coxinho...
Lembrei-me de ti 
e do David, o  Guimarães,
do Torcato, o Mendonça
do CMS, o nosso Carlos Marques dos Santos,
do Mário, do Beja, do Tigre,
do Jorge, do Bilocas (o Machdinho),  do Humberto, o Reis,
do Tony, o  Levezinho, do cripto GG, 
o nosso arcanjo São Gabriel,
do Fernando Marques, do Jaquim Fernandes,
do Arindo Tê Roda,
e de tantos outros,
sem esquecer o puto Umaré Baldé,
que a morte já levou,  em Portugal,
nem muito menos o portuguesíssimo José Carlos,
de seu apelido Suleimane Baldé,
1º cabo, de 1ª classe,
um coração de ouro,
um homem doce,
enfim, todos os camarigos 
da minha CCAÇ 12,
e de outras unidades com quem convivi,
em Contuboel, Bambadinca, e arredores,
entre julho de 1969  e março de 1971...

Desculpa-me,
mas não bebi um uísque, por ti e por mim,
à memória do Jamil.
Só bebi um uisquinho no avião 
de regresso a Lisboa,
que as bactérias e os vírus na Guiné-Bissau
é quem mais ordenam...
E eu que gostava tanto, como tu,
do nosso uísquinho (coisa boa, não é ?!),
com uma ou duas pedras de gelo 
e água de Perrier.

Não subi o Corubal, confesso,
mas fui a Cussilinta,
ver os rápidos,
a Cussilinta onde nunca tinha ido nem poderia,
e foi com contida emoção
que revi os palmeirais
que bordejam o rio,
e o que resta da floresta-galeria...

Não, também não passei
pelo Xime, nem pela Ponte Coli,
muito menos pela triste Ponte do Udunduma,
porque não é esse agora o caminho 
de quem agora vem de Bissau,
e estrada só há uma.
Não tomei o "barco turra", o velho barco,  ronceiro,
da outrora soberana e imperial Casa Gouveia
nem me sentei na esplanada do Pelicano,
como sugeria o teu roteiro.
E das ostras, só provei a sopa,  uma colher,
na casa do Pepito, no bairro do Quelélé...
Agora, vais a Quinhamel para comer ostras,
que a cólera é endémica na capital da Guiné!...

Como vês, fui frugal, espartano, sanitarista...
Fui mau.
Mas um dia prometo seguir à risca o teu plano, 
voltar ao Mato Cão,
e à bolanha de Finete,
e à Ponta do Inglês,
e à margem direita do Corubal...

Camarigo, 
já foram demasiadas emoções
para uma semana só...
Em todo o caso, sempre gostei mais daquela terra
no tempo das chuvas e do capim alto
e das miríades de insectos à volta dos candeeiros 
na noite espessa e húmida...
Mas adorei, confesso que adorei,
a tua sugestão, o teu projecto, 
o teu roteiro poético-sentimental...
Quem sabe, talvez o faremos
pelo nosso próprio pé...
Um dia destes,
nesta ou noutra encarnação, 
Tu, eu e a malta  de Bambadinca,
da Zona Leste, que é muita,
e que esteve no sítio tal e tal
e que faz parte da nossa Tabanca Grande...

Obrigado, Joaquim,
até pela ideia 
que aos 20 anos se poderia ser feliz.
Ou que a Guiné foi para ti, foi para nós, fado,
fatumdestino,
destino que o Destino quis.
Vemo-nos em Maio, na Ortigosa, Monte Real,
no nosso III Encontro Nacional.

13 de Março de 2008 / Revisto.

_____________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 13 de março de  2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 9 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

 
(...) No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...

Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...

Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo... Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...

Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de maio de 1974, teriam morrido os últimos portugueses em combate, segundo o José Zeferino ... A estrada antiga passava ao lado...

A viagem vale pelo Saltinho, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte. (...)

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24597: Tabanca Grande (553): Souleimane Silá, nascido em 1958, filho da "Rainha de Catió (que afinal era natural do Xitole)", a viver hoje no Luxemburgo: senta-se à sombra do nosso poilão, no lubgar nº 881


Souleimane Silá, nascido em Catió, em 1958:
novo membro da Tabanhca Grande, nº 881


1. O Souleimane Silá, filho da "Rainha de Catió" (*), chegou ao nosso blogue através do Formulário de Contacto do Blogger. Aqui vai a sua primeira mensagem:

Data - segunda, 14/08/2023, 10:10

Agradeço que me seja permitido publicar minha versão da vossa publicação de passado 09/agosto/2023 sobre as recordações do entâo major Pinheiro referente a rainha de Catio (**),

Aceitem um caloroso bom dia de filho daquela madame e, dar meu testemunho. Souleimane SILA (Luxembourg, 14/agosto/2023

Cumprimentos,
Souleimane Silá 


2. Depois de publicar a sua mensagem do dia 13 do corrente, no poste P24556 (*), deixámos-lhe um convite para integrar a nossa Tabanca Grande, convite que ele aceitou;

(...) Aproveito, por fim, para convidar o Souleimane Silá (a quem agradeço estas carinhosas confidências sobre a senhora sua mãe) para se juntar a este blogue que é dos camaradas e dos amigos da Guiné. (...)

 
3. O Benito Neves, seu amigo do Facebook, e nosso camarada (ex-fur mil cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) faz questão de "apadrinhar" a sua entrada no blogue:

Data - quinta, 17/08/2023, 18:17

Caro Luís, boa tarde e votos de boa saúde.

A seguir transcrevo a troca de mensagens havidas com o Souleimane Silá cujo propósito será com o maj Pinheiro.

Se for necessário padrinho para apadrinhar a adesão ao blogue, podem contar com a minha disponibilidade.

Forte abraço.

“Quero pedir um favor. O ex-major e comandante Pinheiro que esteve em Catio 70/72, amigo e conhecido da minha família postou no blog Camaradas de Guiné fotos da minha mãe, rainha de Catio, no dia 09/agosto/2023 que eu de seguida comentei enviei um comentário meu para Luís Graça por email que pensei ele tornaria público. 

O importante ele admitiu-me na família do blog fazendo saber que existe, vivo, um filho dessa rainha que acaba de se juntar. Foi o que Sr Victor Condeço tentou pôr-me em contacto em 2007, não foi possível. Que me lembre ainda em 2004/2005 através de exaustivas diligências consegui encontrar-me com o Sr Pinheiro em Carcavelos, Cascais, afinal éramos vizinhos. Ele se lembrou de todos membros da minha família, mais ainda da minha irmazinha ferida na época dele (que se encontra junto dele numa das fotos que postou ao lado da minha mãe e pequenas irmazinhas) (...)

Actualmente, com a adesão dele ao blogue, de Luís Graça camaradas de Guiné, ao ponto de ousar postar essa relíquia, rogo você, meu mano Benito, que ajude restabelecimento de contacto dele, à pedido da minha tal irmazinha (hoje mãe, avó e Madame) que lhe quer falar.

Souleimane Silá




"Rainha de Catió" (c. 1972)

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió", sua lavadeira,  e algumas das suas filhas... Em chão nalu, ela era fula (*), nascida e crescida em Xitole.

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) >Foto-010 > Catió 1967- Lagoa entre Catió e Priame.



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) > Foto-022 Catió 1967- Vista aérea na região de Catió

Foto (e legenda): © Benito Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Nova mensagem do Souleimene Silá:

Assunto: Sobre comentários de 16/agosto/2023 no blog
Data - 28 ago 2023 15:50

Mantenhas, queridos camaradas da nossa Grande Tabanca "Luís Graça & Camaradas da Guiné"!

Quero falar um pouquinho dos comentários relatados no dia 16/08/2023 no nosso Blog  (*), que entendi ser necessário trazer ao vosso conhecimento sem de jeito nenhum pretender retirar mérito aos camaradas que abordaram.
 
(i) Quando na verdade reconheci a rainha minha mãe e a mi nha irmazinha com perna ferida, víima dum ataque dos outrora "terroristas" (fev72), ao lado do ilustre comandante do aquartelamento Sr Pinheiro (ex-majo), não hesitei. Veio-me em memória a outra face prestigiosa da missão militar colonial: política de proximidade às populações. Essa presença ilustra também esse sentimento. 

A tabanca de Catio-fula aonde nasci e cresci estava situada directamente na linha de fogo dos "terroristas", porque os tiros provinham da zona norte, de Ganjola e arredores em direcção ao Quartel de Catio (linha recta) e resulta geralmente o nosso bairro de Catio-fula que acabava sofrendo as desastrosas consequências, diferentemente doutras tabancas de Priame ao nascente,  assim como Catio-balanta e Areia ao poente. 

O que nunca entendi é o porquê de meu pai persistir em não arredar pé. Lembro-me duns colegas dele (Malam Fulinho, Sori Bombeiro, Samba Dabo, Bôbo Quetcho e tantos outros se foram para novos pousos). Foi nosso destino.

(ii) O Aliu SILA, chauffeur da Administração de Circunscrição de Catio, não foi nem Djacanca, nem Saracolé. Não. Ele foi, sim, filho de mãe e pai da etnia Maninka-morin (Malinké), natural de Kankan e passou infância em Boké, Guemeyré, ambas regiões da vizinha Guinée francesa (Guiné Conakry). 

Quando e em que circunstâncias trocou o país de origem, jovem, solitário, para aquele onde decidiu construir toda sua vida profissional e familiar, na Guiné (ex-portuguesa), poderá vir a ser contas dum outro rosário.
 
Em resumo, todos filhos do famoso e honrado Aliu Chauffeur nasceram, registados e cresceram de mulheres nacionais do país acolhedor, ex-Guiné portuguesa. A minha rainha, essa é natural e cresceu em Xitole (...)

(iii) O meu nome (porque está registado Souleimane em vez de "Suleimane"), poderia abrir uma outra pergunta. Porquê o "Aliu" não foi escrito "Aliou", sabendo-se que ele preservou sempre a naturalidade à francesa? 

Cá para mim a forma de registo de nascimento, dos nomes africanamente, para não dizer universalmente, ainda que a pronúncia dá igual, a ortografia difere.
 
Aceitem um grande abraço (de bom humor), do vosso camarada Souleimane Silá.


4. Comentártio do editor LG:

O Souleimane Silá será o nosso Cherno Baldé de Catió, um menino que cresceu com a tropa e com a guerra. Temos muito gosto em juntá-lo a esta Tabanca Grande, onde cabem todos os bons amigos e camaradas da Guiné. Como em todas as outras tabancas, temos um poilão, à sombra do qual nos sentamos para partilhar memórias e afetos...  Souleimane, és bem vindo. O teu lugar é, pela nossa cronologia, o nº 881. (***)

Para teu governo tens aqui as nossas regras de convívio, resumidas mas 10 regras da política editorial do blogue...

Muita saúde e lomga vida para ti e os teus. Mantenhas. Luís Graça
___________


(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

(***) Último poste da série : 25 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

domingo, 19 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24153: As nossas geografias emocionais (2): Bambadinca, zona leste, região de Bafatá, sector L1 - Parte I: Fotos de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1969/71)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região)... 

A foto original, com resolução superior a 2,3 MB, decomposta em vários quadrantes (fotos parcelares de 1 a 5), permitiu-nos  um maior detalhe do aquartelamento. Aceitam-se melhorias e correções.


Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 6

Esta reconstituição feita, de memória, apoiada em documentação fotográfica, nomeadamente por Humberto Reis, Luís Graça, Gabriel Gonçalves e Arlindo Roda (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), bem como por outros camaradas do nosso tempo (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, 1970/72; José Carlos Lopes, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70; Mário Beja Santos, Pel Caç Nat 52; Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63, 1969/71... e ainda  com base noutros elementos informativos publicados no blogue.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Legenda:

(1) Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste);

(2) Uma nesga da placa, em cimento,  heliporto;

(3) O campo de futebol (3),  entre o arame farpado (24) e pista de aviação; 

(4) A CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (julho de 1969n / março de 1971) começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento literalmente roubado à engenharia nas colunas logísticas para o Xitole; 

(5/6/7/8/9/10) Conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão  [, no nosso tempo apanhámos dois, o BCAÇ 2852, 1968/70, e o BART 2917, 1970/72] (5) e as instalações (dormitóriso) de oficiais (6) e sargentos (8), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9); apesar segregação sócio-espacial que vigorava então, não só na sede dos batalhões, como em muitas unidades de quadrícula, uns e outros, oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum (10); do lado direito do bar e messe de sargentos, vê-se uma fiada de bidões cheios de areia, que serviam de protecção para a saída para as valas (22);

(22/24/27) Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá; o aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste) que lhe dava uma aparência de fortaleza inexpugnável, vista do lado da bolanha (ou, seja, de leste para oeste); são visíveis as valas de protecção (22), abertas (... também pela CCAÇ 12, companhia de intervenção duramente explorada pelo comando dos dois batalhões...)  ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24); a luz eléctrica era produzida por gerador que deve estar algures por aí,  nas imagens, perto da antena de transmissões (27);

(23/25/26) Junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o espaldão da metralhadora pesada Browning, 12.7 (25)... (Em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses  14).

(3/11/12) A caserna (ou uma das casernas) das praças da CCS (11) ficava  junto ao campo de futebol (3);   o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler deveria ficar instalado no edifício (12), que se situava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U. 

(13/14/28) Mais à direita, situava-se a capela (13) e a secretaria da CCAÇ 12 (14);  por detrás ficava o refeitório das praças (28);

(15/16/17) Em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

(18/19/20)   Uma arruamenmto ao meio (no sentido sul-norte)  dividia o aquartelamento em duas partes (oeste e leste);  tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais da unidades e subunidades que  haviam  passado por Bambadinca (18), a escola primária antiga (incluindo a casa da senhora professora, Dona Violete, que era caboverdiana) (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga) (21).

(29, fora da foto) ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do alf mil op esp Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12).

Esta reconstituição feita, de memória, apoiada em documentação fotográfica, nomeadamente por Humberto Reis, Luís Graça, Gabriel Gonçalves e Arlindo Roda (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), bem como por outros camaradas do nosso tempo (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, 1970/72; José Carlos Lopes, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70; Mário Beja Santos, Pel Caç Nat 52; Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63, 1969/71... e ainda  com base noutros elementos informativos publicados no blogue.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), a quem mando, da ilha de Luanda, um abraço fraterno, bem como aos meus queridos coeditores que vão aguentar o barco esta semana. Vim no mesmo avião da TAP com o António Duarte, economista, formador bancário, que esteve na CCAÇ 12, em Bambadinca,  depois de mim, em 1973/74. Falámos um bom  e agradaável bocado no aeroporto. Por cá, tudo calmo.  (LG). 

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Outra vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido noroeste-sudeste. Em primeiro plano, a pista de aviação, o perímetro em L de arame farpado, o campo de futebol, a antena das transmissões...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá   Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Ao fundo, o  Rio Gebà Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência, à esquerda, na margem esquerda do rio. 

 
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatã  > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Entrada principal aquartelamento,  pelo lado leste (sentido Bafatá)


Guiné >   Guiné > Zona Leste > Região de Bafatã  > Sector L1 (Bambadinca)  > Estrada Mansambo-Xitole > 1970 > Coluna logística de Bambadinca ao Xitole com a participação da CCAÇ 12. Alguns meses depois da grande desmatação das orlas da estrada, feitas por ocasião das Op Cabeça Rapada, o matagal continuava medonho, engolino a picada... 

Fotos do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatã  > Sector L1 > Bambadinca > 1971 >  Capa da brochura com a história da CCAÇ 12, desenhada pelo fur mil at inf António Levezinho. O Sector L1 tinha sede em Bambadinca.  Havia ainda mais três subsectores: Xime, Mansambo e Xitole. A oeste e a sul, o Sector L1 era delimitado pela margem direita do  rio Corubal, e a norte pelo rio Geba Estreito.  O porto fluvial do Xime e a estrada Xime - Bambinca passaram a ser, sobretudo a partir de 1969,  a principal via de entrada na Zona Leste (região de Bafatá e região de Gabu). Bambadinca (em mandinga, a "cova do lagarto") era posto administrativo (pertencente à circunscrição / concelho de Bafatá). Em 1969 estava ligada a Bafatá (30 km) por estrada asfaltada. Do porto fluvial do Xime a Bambadinca era uma dúzia de quilómetros.  Havia um reordenamento (Bambadincazinho, a oeste do quartel e posto administrativo) e uma tabanca (a norte e a leste). A povoação tinha escola, posto dos CTT, capela, posto sanitário, missão do sono (desativada), dois ou três estabelecimentos comercais, uma missão católica... Nunca foi atacada ou flagelada no nosso tempo (CCAÇ 12, julho de 1969/março de 1971).  Tinha cerca de 400 homens em armas  (além da CCAÇ 12, 170 militares, tinha uma CCS, um Pel Rec Daimler, um  Pel Mort, um  Pel Caç Nat e um PINT, Pelotão de Intendência,  fora do quartel, no porto fluvial).

Infografia. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2005)


1. Esta série é dedicada à(s) "Memória(s) dos lugares"... Logo no princípio do nosso blogue, tínhamos, na badana (ou coluna estática) do lado esquerdo uma listagem (com links) de lugares por onde passámos, documentados com fotografias e infografias... 

Ia já em 24 topónimos, mas faltavam muitos mais... Começámos a sua recuperação com o topónimo Bafatá, segue-se agora Bambadinca.

As imagens estavam originalment6e  alojadas na minha página pessoal, Saúde e Trabalho - Luís Graça, no servidor da ENSP/NOVA. Foi descontinuada, em 2022, com o redesenho da página oficial da instituição. Estou agora a recuperá-la através das capturas feitas pelo Arquivo.pt, bem como dos ficheiros originais. É uma tarefa morosa e ingrata...

Luís Graça  > Subsídios para a história da guerra colonial  >  Guiné  > Antologia, preservada pelo Arquivo.pt

E vou aproveitar para refrescar e atualizar os nossos álbuns fotográficos, por topónimos da Guiné (se não todos, pelo menos os principais). Afinal, trata-se de não perder as nossas "geografias emocionais". Muitas das fotos que vamos publicando estão dispersas. São de diferentes autores e anos... É agora a altura de as tentar reunir.

Vamos continuar com o topónimo Bambadinca  (que tem no nosso blogue 670 referèncias).  Vamos fazer uma seleção por amostragem, tendo também em conta a qualidade das imagens...  Ou vamos publicando fotos por autores e anos... Um dos grandes fotógrafos de Bambadinca é o nosso histórico Humberto Reis, "cartógrafo-mor" do nosso blogue, ex-fur mil op esp, CCAÇ 2590 / CC12 (1969/71).
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24134: As nossas geografias emocionais (1): Bafatá - Parte I: Fotos de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71): viagem de 1966

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23849: Fichas de unidades (29): BCAÇ 4616/73 (Bambadinca, 1974)

1.  O BCAÇ 4616/73 é uma daqueles unidades que podíamos pôr na série "Os nossos últimos seis meses"... ou nas "Memórias dos últimos soldados do império"...

Chegou ao CTIG já no início do ano de 1974 e regressou à metrópole oito meses depois, no início de setembro. Como  se tornou normal, nos últimos anos da guerra, o comandante da CCS era um capitão SGE (oriundo da Escola Central de Sargentos) e os comandantes das subunidades operacionais eram todos milicianos...

Lamentavelmente não tem história da unidade... Mas o livro da CECA, diz que na parte final da comissão, "adaptou a sua actividade à situação então vigente, comandando e coordenando a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC."

Se repararmos na ficha da unidade, a seguir reproduzida, a 2ª C/BCAÇ 4616/73 (sediada no Xitole) em oito dias "fechou a porta duas vezes", primeiro a do Xitole e depois a de Bambadinca, o mesmo é dizer, desativou e entregou ao PAIGC o  setor L1 (parte importantíssima do "chão fula" (Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole):

(...) Em 1Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Xitole, seguiu para Bambadinca, onde substituíu a 1ª Comp/BArt 6523/73 na responsabilidade do respectivo subsector. Em 8Set74, iniciou o deslocamento dos seus efectivos para Bissau e efectuou, em 9Set74, a desactivação e entrega do aquartelamento de Bambadinca, tendo recolhido a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.(...)

Vale a pena juntar (e reflectir sobre) estes factos (*)...


Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores n.º 4616/73


Identificação: BCaç 4616/73

Unidade Mob: RI 16 - Évora

Cmdt: TCor Inf Luís Ataíde da Silva Banazol | TCor Inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira

2.° Cmdt: Maj lnf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira

OInfOp/Adj: Cap lnf Bernardino Luís de Matos Pereira Torres

Cmdts Comp:

CCS: Cap SGE Domingos Roque

1ª Comp: Cap Mil lnf Augusto Vicente Penteado

2.ª Comp: Cap Mil lnf Luís Fernando de Andrade Viegas

3.ª Comp: Cap Mil lnf João Lontra Leite Martins


Divisa: "Conduta Brava e Distinta" 
 [de acordo com a imagem do brasão, acima reproduzida, colecção Carlos Coutinho, 2009, com a devida vénia]

Partida: Embarque em 30Dez73; desembarque em 05Jan74 |  Regresso: Embarque em 12Set74 (1*  e 2*: Comp), 15Set74 (3ª Comp) e 16Set74 (Cmd e CCS)


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 9Jan74 a 6Fev74, no CML, em Cumeré, seguiu depois, com as suas companhias, excepto a 3ª Comp, para o sector de Bambadinca, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BArt 3873, de 13Fev73 a 8Mar73.

Em 9Mar74, assumiu a responsabilidade do Sector LI, com a sede em Bambadinca e abrangendo os subsectores de Mansambo, Xime, Xitole e Bambadinca.

Desenvolveu a actividade operacional adequada às características do sector, com realização de várias operações, patrulhamentos, emboscadas dos reordenamentos de Nhabijões, Samba Silate e Bambadinca e de construção, manutenção e controlo dos itinerários da sua zona de acção. 

Na parte final, adaptou a sua actividade à situação então vigente, comandando e coordenando a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores de Xitole, em 1Set74, de Mansambo, em 2Set74 e de Bambadinca e Xime, ambos em 9Set74.

Em 2Set74, após desactivação e entrega dos aquartelamentos de Bambadinca, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

***

A 1ª Comp, após efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CArt 3494 na região de Mansambo, sob orientação do BArt 3873, assumiu, em 9Mar74, a responsabilidade do subsector de Mansambo, tendo destacado um pelotão para Bambadincazinho, este no subsector de Bambadinca, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 22Ago74, dois pelotões seguiram para Porto Gole e destacamento de Bissá, a fim de substituirem a 1ª Comp/BCaç 4612/72 a partir de 26Ago74, os quais ficaram na dependência do BCaç 4612/74, procedendo depois à desactivação e entrega dos aquartelamentos de Bissá, em 1Set74 e de Porto Gole, em 2Set74, após o que recolheram a Bissau.

Em 2Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Mansambo, a companhia, então a dois pelotões, deslocou-se transitoriamente para Xime, recolhendo em 8Set4 a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

***

A 2ª  Comp, após efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CArt 3492 na região de Xitole, sob orientação do BArt 3873, assumiu, em 9Mar74, a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado na ponte do rio Pulom, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 1Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Xitole, seguiu para Bambadinca, onde substituíu a 1ª Comp/BArt 6523/73 na responsabilidade do respectivo subsector.

Em 8Set74, iniciou o deslocamento dos seus efectivos para Bissau e efectuou, em 9Set74, a desactivação e entrega do aquartelamento de Bambadinca, tendo recolhido a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

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A 3ª  Comp cedeu, a partir de 5Jan74, um pelotão para reforço da 2ª Comp/BCaç 4512/72, o qual se instalou em Jumbembém. 

Em 11Fev74, a subunidade seguiu para Farim, a fim de efectuar o treino operacional com a CCaç 4944/73, sob orientação do BCaç 4512/72 e seguidamente reforçar este batalhão, a fim de fazer face ao agravamento da situação na sua zona de acção.

Em 23Mar74, mantendo-se no mesmo sector do BCaç 4512/72, foi toda colocada em Jumbembém, em reforço da actividade da guarnição local, tendo destacado um pelotão para Canjambari, também em reforço da guarnição local, de 23Mar74 a 2Jun74.

Em 6Jun74, substituindo a 1ª  Comp/BCaç 4516/73, assumiu a responsabilidade do subsector de Farim.

Em 7Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Farim, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações -  Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp.195/197. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização