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domingo, 15 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1954: Tabanca Grande (25): Apresenta-se Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha (2ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Jugudul, 1972/74)


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana.

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem de Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha para o nosso amigo Luís Miguel da Silva Malú (1), com conhecimento ao editor do blogue. Data: 18 de Junho de 2007.


Caro Luís Miguel:


Sou engenheiro civil, trabalho na REFER-EP e estive em Bedanda entre Junho e Setembro de 1974 – no final de um período de dois anos de Guiné, de 1972 a 1974.

Quando cheguei a Bedanda encontrei lá um antigo companheiro da Escola Secundária de Guimarães (período de 1960 a 1965), ao tempo dono (por parte do Pai dele) de uma mercearia.

Durante o tempo de permanência em Bedanda almocei e jantei em casa dele. Quer com ele, quer com conterrâneos seus ao tempo a estudar em Coimbra e em Lisboa, fazíamos, sobretudo ao fim de semana, autênticas tertúlias culturais e políticas.

Será possível saber o nome e morada desse amigo?

Um abraço e bem vindo à tertúlia.
Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha
TM > 91 891 2563

2. Mensagem enviada ao Luís Graça:

Só há dias soube do teu blogue e da tertúlia. Estive na Guiné no BCAÇ 4612/72 (1972/74), 2ª Companhia, no Jugudul. A sede do Batalhão era em Mansoa (onde às tantas até conheci o Pai do Luís Miguel!).

Além do Jugudul, estive em Cufar e em Bedanda…..

Os meus parabéns pelo teu trabalho e também de todos os que têm participado nesse extraordinário documentário.

Se possível gostaria de fazer parte desta tertúlia. Adoro África... A minha Mãe nasceu em Angola e o meu Avô está lá sepultado.

Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Jorge: Desculpa o atraso nas boas vindas. És seguramente bem vindo à nossa Tabanca Grande. Fico a aguardar as fotos da praxe. Espero também que nos contes mais estórias sobre os sítios por onde andaste, e nomeadamente sobre Jugudul. Já cá temos pelo menos um camarada do teu batalhão, o Jorge Canhão , que pertencia à 3ª Companhia (2). Sobre Jugudul, encontrei um post, do A. Marques Lopes (que lá esteve em 2006, com mais camaradas da nossa tertúlia). Como podes ver, o teu antigo aquartelamento é hoje uma destilaria de cana (3).

_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1858: Tabanca Grande (14): Engº Luís Miguel da Silva Malú, nascido em Bedanda, em 1973, doutorando em urbanismo (Luís Graça)

(2) Vd. post de 18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Apresenta-se o ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72

(3) Vd. post de 7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13779: In Memoriam (200): Manuel Simões (1941 - 2014), um português de Bolama, que foi a Conacri ao funeral de Amílcar Cabral, e que andou na escola com 'Nino' Vieira, e que recebia, em Jugudul, de braços abertos, os seus amigos, fossem de Cabo Verde, fossem de Portugal (Manuel Amante / A. Marques Lopes / Xico Allen / António Camilo / José Teixeira)


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > Recebendo os amigos portugueses, Xico Allen, A. Marques Lopes & companhia. O Manuel Simões, aqui à direita, fazendo as honras da casa. O almoço foi leitão,,, à moda de Jugudul. (À esquerda, de perfil, o A. Marques Lopes).

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O leitão da região do Oio, feito à moda de Jugudul, em casa do Mauel  Simões (aqui de pé, a presidir à mesa), não ficava atrás, bem pelo contrário, do letão à moda da Bairrada. Foi comer e chorar por mais, garantiu o A. Marques Lopes. À direita, em primeiro plano, o jovem Hugo Costa, filho do Albano Costa, de Guifões, Matosinhos. Na comitiva do Porto (um jipe!) também ia a Inês Allen, filha do Xico Allen (que não aparece nestas fotos).

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O A. Marques Lopes, de pé, mais elementos do grupo do Porto, sentados (onde reconheço o Armindo Pereira e o Manuel Costa), em casa do Manuel Simões.

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservbados



 Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana. O Manuel conhecia o 'Nino' Vieira do tempo da escola, presumindo-se que fossem mais ou menos da mesma  idade.


Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Telefonou-me, esta manhã, da Praia, Cabo Vrede, o nosso camarada Manuel Amante da Rosa, dando a triste notícia de que o seu primo Manuel Simões, de Jugudul, tinha acabado de morrer. 

As notícias tristes espalham-se depressa.  Mas, assim, de chofre, eu não estava a ver quem era o Manuel Simões. Nem reconheci de imediato a voz do Manuel Amante da Rosa que conhecera pessoalmente em Lisboa, uns anos antes, e com, quem já não falava há muito tempo aoa telefone.

O Manuel Amante disse-me que o Manuel Simões era irmão do Januário (se bem percebi. ao telemóvel) e que era conhecido da malta do blogue. Também tinha barcos, tal como pai do Manuel Amante e trabalhou para a tropa durante a guerra. Pedi-lhe para fazer uma pequena notícia, e com uma resenha biográfica. Mas depois, de repente, lembrei-me dele: o Xico Allen, o A. Marques Lopes, a Inês Allen, o Hugo Costa e outros camaradas e amigos tinham estado em abril de 2006 a comer leitão na casa dele... Temos um poste publicado pelo A. Marques Lopes sobre esse memorável visita da malta do Porto a Jugudul (*).

Sei muito pouco sobre o Manuel Simões, para além, daquilo que foi publicado no blogue... Mas é mais um amigo, lusoguineense,  que desaparece. Um resistente. Um português, ou um descendente de portugueses das sete partidas. Entrei em contacto com alguns camaradas que eram visita da sua casa, pedindo-lhes que escrevessem qualquer cois mais para completar as minhas notas, e fazer um In Memoriam...  Sabemso que nasceu em Bolama em 1941.

De qualquer modo e qualquer que fosse a sua crença, e a crença dos seus amigo, só espero que Deus, Alá e os Bons Irãs o guardem em paz. LG

PS - Num outro poste, mais recente (2013), do José Teixeira, eu já tinha encontrado outra referência ao Manuel Simões:


(...) "A pista de Amedalae, ou a estrada transformada em pista de aviação para descarga da malfadada droga, o Matu Cão, do Alfero Cabral, a Ponte dos Fulas, ou o Sr. Manuel Simões. do Jugudul, o senhor que geria a empresa, à qual o exército português fretava os barcos para levar os mantimentos às suas tropas no interior. Amigo do Amílcar Cabral, a cujo funeral foi, transportando a bandeira do clube onde ambos eram associados e não foi preso quando regressou a Bissau. No fim da guerra comprou ao 'Nino' Vieira o quartel do Jugudul e montou um alambique de aguardente de cana". (...) (**)



2. Mensagem, de resposta ao meu apelo, enviada pelo José Teixeira [, foto à direita], às 13h41


Paz à sua alma.

A história que escrevi, sobre a sua ida ao funeral do Amílcar Cabral, foi-me contada pelo próprio Manuel em 2011, quando estive em casa dele, com os meus filhos. Voltei lá o ano passado e notei-o muito acabado e com problemas de saúde, mas como enquanto há vida há esperança...

Conheci-o em 2005, quando voltei à Guiné e, a partir desse primeiro encontro, sempre que fui à Guiné, passava pela casa dele para conversar um pouco

Era um homem extremamente simpático e sabia acolher muito bem. Sempre alegre e bem disposto. Tinha sempre uma história para contar, sobre a vida dele e da família. Antes da guerra, ele, o pai e um irmão comerciavam arroz das bolanhas do sul. O pai e o irmão foram mortos logo nos primeiros tempos de guerra, segundo consta, pelo PAIGC, ficando ele com o negócio.

Como tinham vários barcos, começou a negociar com as Forças Armadas Portuguesas no transporte de mantimentos paras tropas do interior. Era uma pessoa importante no eixo militar pelos serviços que prestava e dava-se bem com todos, tendo naturalmente muitos amigos ligados ao PAIGC, o que não escondia.

Sobre a compra do quartel de Jugudul, eis o que ele mesmo me disse: quando acabou a guerra, telefonou ao 'Nino' Vieira, seu conhecido desde os tempos de escola, e mostrou interesse em comprar o quartel de Jugudul, o que o Nino aceitou, transformando-o numa destilaria.

Em 2013, quando estive com ele, disse-me que tinha encerrado o fabrico de aguardente, devido à abertura de uma destilaria em molde modernos nos arredores de Bissau com produção a custos mais baixos, o que estava a arruinar os fabricantes antigos.

Um bom amigo, cuja morte lamento

Paz à sua alma.

José Teixeira


3. Comentário de LG:

Falei ao telefone com o A. Marques Lopes e o Xico Allen. O Xico era amigo do Manuel Simões, já  de longa data. Ele e o António Camilo,  que ainda há tempos tinha falado com ele ao telefone. O Camilo tinha um jipe, em Jugudul, à guarda do Simões. Ele ter-lhe-á dito, ainda recentemente,  que era preciso as mudar velas do jipe. O Simões tinha ido a Dakar fazer uma intervenção cirúrgica, regressou a casa e parecia estar a recuperar bem. A criada encontrou-o morto esta manhã. O Xico já sabia da notícia através do Camilo.

Obrigado a todos os seus amigos que quiseram compartilhar connosco, através do nosso blogue, estes elementso que ajudam a conhecer melhor um homem e um patrício que viveu toda a sua vida na Guiné, segundo creio. Dele pode dizer-se que foi (é) mais um dos fabulosos portugueses, ou descendente dos portugueses das sete partidas... Parte agora definitivamente para a última viagem,
aquela que já não tem retorno. Espero que o barqueiro de Caronte seja gentil com ele.

Obrigado, Xico Allen, A. Marques Lopes e Zé Teixeira (mas também Manuel Amante, seu prima e António Camilo, visita frequente da sua casa), pela vossa partilha de memórias e de afetos, O Manuel Simões, que andou na escola com o 'Nino' Vieira, era dlois anos mais novo. Morreu hoje aos 73 anos. (***)

______________


Notas do editor:


(...) vou acabar com uma coisa alegre: uma grande almoçarada (um leitãozinho!!) que o nosso amigo Manuel Simões nos ofereceu nas instalações da sua destilaria de aguardente de cana. Ele é o homem grande branco que eu indico nas fotografias tiradas pela Inês. É um guineense branco, nascido em Bolama, companheiro do Pepito e do Lúcio Soares, também nascidos em Bolama. Foi, mais novo, jogador de futebol e chegou a dirigir o clube Balantas.

Dedica-se à aguardente de cana, mas tem também uma ponta [herdade] onde explora caju. Após a independência conseguiu que lhe cedessem o aquartelamento de Jugudul para a sua fábrica de aguardente, deixando apenas uma parte destas instalações para ser montado um posto da polícia de viação lá do sítio... que ainda não existe.

É um amigo sempre de braços abertos, acolhedor, como vêem. Vale a pena visitá-lo. (...)



(**) Vd. poste de 1 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11661: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (3): No antigo corrredor da morte: Gandembel, Balana, Mejo, Guileje ... E as novas tabancas do Cantanhez: Amindara, Faro Sadjuma, Iemberém... E as crianças a correr atrás de nós: Poooorto! Poooorto! (Leia-se: Portugueses, Portugal)


(***) Último poste da série > 6 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13697: In Memoriam (199): Lisboa, Cemitério dos Olivais: a última homenagem ao comandante Alpoim Calvão (1937-2014) (Vídeo de José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)... Missa do7º dia, hoje, às 19h15, na igreja paroquial de Cascais

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1551: Petiscos de caserna (1): Gato e Iguana com Molho de Chabéu (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > O Tino Neves (1) num restaurante local. A ementa: Frango assado com batatas fritas com molho de Chabéu. Ir à cidade (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Bissorã, Bissau, Catió...) comer um bifinho com batatas fritas fazia parte do imaginário dos militares portugueses - e em muitos casos era um luxo de quem estava no mato... (LG)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1969 > No Zé Maria, comendo lagostins do Rio Geba... A dolce vita dos milicianos da CCAÇ 12, entre duas operações: na ocasião, o Alf Mil Cav Rodrigues (natural de Lisboa, já falecido) e os furriéis milicianos Tony Levezinho e Humberto Reis, nossos queridos tertulianos. A chapa foi batida - salvo erro - por mim, membro assíduo desta tertúlia gastronómica. O pobre do Zé Maria (2), que era tuga, tinha fama de ser turra (por vender vacas, panos, mosquiteiros, bianda, etc., ao PAIGC, com a uma base no noroeste do Cuor, Madina/Bele...). Ele fazia-se pagar caro os lagostins (gigantes), "pescados no Geba em zona de grande risco"... Se bem me recordo, eram pagos a 50 pessos o quilo, o dobro de um bife com batatas fritas na Transmontana, em Bafatá (Um soldado africano, da CCAÇ 12, tinha direito a cerca de 24 ou 25 pesos por dia, por ser desarranchado, além do pré - que eram 600 pesos por mês) (Sobre preços no tempo da guerra, há diversos posts) (3). (LG).


Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Texto enviado pelo nosso camarada Tino Neves > Constantino Neves, ex- 1º. Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (1).


Camarada e Amigo Luís Graça

Mais uma pequena história em homenagem ao esplêndido e saboroso molho feito da raiz da palmeira, o Chabéu (ou Xabéu ? estará bem escrito ?) (4).

Alguém matou um gato com uma pedra, julgo que sem intenção de o matar, mas o facto é que a pedrada foi certeira e o gato morreu. Diante esse facto, houve logo quem dissesse que rico coelho à caçador que isso vai dar. Dito isso, houve logo alguém que se aprontasse para fazer o cozinhado, o 1º Cabo Libório, da CCAÇ 2619, pertencente ao nosso Batalhão.

Eu tive a honra e o prazer de ter sido um dos convidados para essa maravilhosa refeição, apesar de me terem dado a conhecer o que iria comer, eu aceitei de bom agrado pois sou um grande apreciador de coelho. Não me arrependi, pois foi de comer e chorar por mais. A ementa não foi à caçadora, mas sim uma criação própria do Cabo Libório, com batatas e mais alguns ingredientes e o respectivo molho de Chabéu. Uma delícia!

Passados algums meses, alguém foi ao mato fazer uma caçada, talvez ao javali, o certo é que trouxeram para o quartel um animal do qual nem sabiam o que era. Foi pendurado numa trave de madeira, para que todos o vissem, media da ponta do rabo ao focinho talvez dois metros, era maior do que um homem... Era uma iguana!.

E mais uma vez, alguém depois de mexer e apalpar o bicho, disse:
- Isto é tenrinho, deve dar uns bons bifes!

Dito e feito, foram logo chamar o 1º Cabo Libório, o tal da receita do coelho à caçadora, que, apesar de a especialidade dele ser Mecânico Auto, tinha jeito para a culinária.

Mais uma vez tive o prazer de ser convidado. A ementa foi, como não podia deixar de ser, Bife com batatas fritas com molho de Chabéu. Mais uma vez, uma delícia!

Conclusão: Como os Mestres Cozinheiros dizem, o segredo da culinária está nos condimentos (5).

Tino Neves

PS - Tivemos muita sorte, tanto na altura do Gato como da Iguana, de haver batatas no depósito de géneros, e as boas relações que tínhamos com o Cabo encarregue do depósito (também foi um dos poucos convidados para os petiscos de caserna).

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1146: Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Lamego, 1969/71).

(2) Vd. post de 18 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)

(3) Vd. posts de:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

1 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXII: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (2) (Luís Graça / Humberto Reis)

28 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (1) (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Jorge Santos)

(4) Termo usado na Giuiné-Bissau: chabéu (do crioulo, tche bém) > (i) fruto do dendezeiro (palmeira que dá o dendê ou coconote); (ii) iguaria à base de peixe pou carne preparada com esse fruto (Dicionário Houaiss da Língua Portugesa, Tomo III, Lisboa, Círculo de Leitores, 2003)

(5) Sobre outros pesticos tipicamente guineenses, vd. posts de:

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

22 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P897: Pitéus da gastronomia local (Hugo Moura Ferreira)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)

28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVIII: A tertúlia do Porto (Albano Costa)

terça-feira, 22 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1776: Convívios (9): CCAÇ 3 (Barro, Binta, Guidaje, 1967/74) (A. Marques Lopes)













Texto: A. Marques Lopes / Fotos: Xico Allen (2007). Direitos reservados

O nosso camarada A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação de reforma, vive hoje em Matosinhos. Foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). O Xico Allen, por sua vez, pertenceu à CCAÇ 3566 - Os Metralhas (1972/74) e é um competente conhecedor da Guiné-Bissau, organizando viagens até lá (Vive em Canidelo, Vila Nova de Gaia; telemóvel 938459828; não tem e-mail) (1) .

Texto do A. Marques Lopes:

Juntámo-nos no passado dia 12 de Maio no Restaurante Arte Xávega, da Nazaré, alguns dos que passaram pela CCAÇ 3. A maior parte não se conhecia entre si, dado tratar-se de uma companhia de "recrutamento da Província", com a maior parte dos quadros de passagem em rendição individual. Esta companhia teve um historial longo. Começou por se chamar CCAÇ 1. Dados colhidos do livro da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África), editado em 2001 pelo Estado-Maior do Exército (Tomo II, Guiné, 7º Volume -Fichas das Unidades).


História da CCAÇ 3 (1961-1974)

A CCAÇ 1 era uma unidade da guarnição normal, com existência anterior a 1 de Janeiro de 1961 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local (2), estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.

Em 1 de Janeiro de 1961 estava colocada em Bissau, com um pelotão destacado em Nova Lamego, onde foi transitoriamente instalada, na totalidade, em 3 de Abril de 1961, com pelotões destacados em Sedengal e Cacheu e depois em S. Domingos. Após a reorganização do dispositivo de 23 de Agosto de 1961, foi substituída em Nova Lamego, por troca, pela 3ª CCAÇ, regressando a Bissau, tendo destacado efectivos para várias localidades da zona Oeste, nomeadamente em Ingoré, Enxalé, Susana, Mansabá e Bigene e também, na zona Sul, em Cabedú.

A partir de 1 de Julho de 1963, foi colocada em Farim, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 239, com pelotões destacados em S. Domingos e Ingoré e secções em Susana, Mansoa, Mansabá, Bigene e Barro, tendo depois ainda deslocado efectivos para Bissorã, Cuntima, Olossato, Binta, Guidaje, Canjambari, Porto Gole e Enxalé, sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões que assumiram a responsabilidade do sector de Farim.

Em 27 de 0utubro de 1966, foi colocada em Barro, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado na área do BCAÇ 1887 e transferido, em 3 de Novembro de 1966, para a zona de acção do BCAÇ 1894, mantendo, no entanto, dois pelotões destacados no anterior sector, em Binta e Canjambari, este último deslocado para Jumbembem, a partir de meados de Janeiro de 1967.

Em 1 de Abril de 1967, passou a designar-se CCAÇ 3.

E a CCAÇ3 foi assim (segundo a mesma fonte, que temos vindo a citar):

Em 1 de Abril de 1967, foi criada por alteração da anterior designação de 1ª CCAÇ. Era de praças indígenas do recrutamento local. Continuou uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCAÇ 1887 e estacionados em Binta e Jumbembem, este depois em Canjambari a partir de finais de Setembro de 1967. Ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.

Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20 de Julho de 1968, destacou, em meados de Outubro de 1968, um pelotão para Guidaje, tendo assumido, em 9 de Março de 1969, a responsabilidade do subsector de Guidaje por troca com a CART 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 21 e 22 de Janeiro de 1969 tomou parte na operação Grande Colheita, realizada pelo COP 3.

Em 22 de Fevererio de 1972, rendida em Guidaje pela CCAÇ 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCAÇ 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BART 3844.

Em 8 de Dezembro de 1972, foi substituída, transitoriamente, por forças da CART 3358 no subsector de Saliquinhedim e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26 de Novembro de 1972 e 8 de Dezembro de 1972 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCAÇ 4540/72, ficando então novamente integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.

Em 31 de Agosto de 1974, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.


Convívio na Nazaré, em 12 de Maio de 2007


A maior parte dos que estiveram na Nazaré estiveram em Binta e Guidaje, não tendo passado por Barro. Aqui estiveram comigo o ex-alferes Oliveira, os furriéis Neto (o organizador do encontro, comando mandado de castigo para Barro), Fernandes, Pereira e Idálio, entre os que vieram à Nazaré.

Não foi possível trazer outros, entre eles o capitão Carlos Marques Abreu, que eu bem conheci em Barro, e alguns guineenses, soldados da CCAÇ 3. Foi pena. O capitão não pôde vir por questões de saúde, quanto aos guineenses (4) ficou visto que não basta dizer-lhes para vir... é preciso ir buscá-los. Há que pensar que, vivendo eles, sabe-se lá em que condições, naqueles bairros dos arredores de Lisboa, não terão muitas condições para se deslocarem para o interior do país... Tentei incutir esta ideia, tanto mais que se decidiu que o próximo encontro seria em Trás-os-Montes.

Foi bom. Mando algumas fotografias que o nosso amigo Xico Allen tirou.

A 2 de Junho próximo é o convívio da CART 1690 (Geba, onde estive em 1967) (3)...

Abraços
A. Marques Lopes

__________

Notas de L.G.:

(1) Sobre o Xico Allen, vd. posts:
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVI: O Xico de Empada, grande amigo dos guinéus (Albano Costa)

1 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P828: Cancioneiro de Empada (Xico Allen)

28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1555: Xico Allen: Viagens terrestres até às terras do Cacheu, Geba, Corubal, Buba e Cacine (A. Marques Lopes / Zé Teixeira)

(...) "O Chico Allen está a organizar uma viagem por terra à Guiné - a sua paixão. Pede para passares no Blogue a informação se por assim o entendres. Informo que estou a organizar viagens por via terrestre à Guinè, com passagem por Marrocos, Mauritânia e Senegal.
Já efectuei várias viagens com diversos camaradas e cada vez me seduz mais este percurso, pela aventura, pela partilha e experiência que se adquire e pelas belezas que se desfrutam. Contactem-me pelo telemóvel 938459828. Francisco Allen - Os Metralhas / Empada. [CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74) (...)

Foram publicados 26 posts sobre a viagem Porto-Bissau, , que decorreu em Abril de 2006: Vd. o primeiro e o último post desta série:

4 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Do Porto a Bissau (1): o jipe está de saída (Albano Costa)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)

(2) Vd. post de 2 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1640: A africanização da guerra (A. Marques Lopes)

(3) Vd. post de 12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1751: Convívios (4): CART 1690 (Geba 1967/69): Sever do Vouga, Couto de Esteves, 2 de Junho de 2007 (A. Marques Lopes)

(4) Sobre a CCAÇ 3 e Barro, vd posts:
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro (Afonso M.F. Sousa)

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998) (A. Marques Lopes)
10 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXVIII: A sanha revolucionária e os meus Jagudis (A. Marques Lopes)

23 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIII: Do Porto a Bissau (21): revisitando Barro (A. Marques Lopes)

25 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCV: O colaboracionismo sempre teve uma paga (1) (A. Marques Lopes)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1555: Xico Allen: Viagens terrestres até às terras do Cacheu, Geba, Corubal, Buba e Cacine (A. Marques Lopes / Zé Teixeira)




Viagem Porto-Guiné > Abril de 2005 > O Xico Allen em acção: ele tem o melhor dos portugueses (a abertura aos outros, o sorriso aberto e frontal, a alegria de viver, o sentido da aventura) e dos ingleses (a organização, a tenacidade, a teimosia, o prgamatismo) ... Pelo menos , dos portugueses e dos ingleses do Porto. É o que eu deduzo da apreciação feita pelos amigos que o conhecem... e também daquilo que eu já sei dele... (Encontrrámo-nos duas vezes no Norte). Desejo-lhe good luck / boa sorte nas suas próximas aventuras terrestres a caminho dessa "terra vermelha e ardente", como chama o Torcato Mendonça à nossa Guiné... (LG).

Fotos: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados



É bonito ver os amigos (da Tertúlia do Norte) a apadrinhar iniciativas dos amigos e a recomendá-las, neste caso, uma iniciativa do Xico Allen que bem podia ser o cônsul honorário da repúblcia da Guiné-Bissau... no Porto. Eles (o A. Marques Lopes e o Zé Teixeira) sabem do que falam, por que já foram à Guiné-Bissau, os dois, em 2005, na caravana de camelos do Xico Allen (1):

1. Diz o A. Marques Lopes (4 de Fevereiro de 2007):

Li, há pouco, a ideia do novo tertuliano Fernando Batrata sobre o turismo militar. Se achares por bem, podes dizer-lhe a ele, ou mesmo publicar no blogue, que o Xico Allen está prestes a comprar uma carrinha tipo Hiace para organizar idas à Guiné. E ele está de acordo que se coloque esta sua intenção no blogue. Claro que o Xico Allen tem a experiência que todos conhecemos e é pessoa de confiança (não é o Arruda). Abraço. A. Marques Lopes

2. Escreve o Zé Teixeira:

o Chico Allen está a organizar uma viagem por terras à Guiné - a sua paixão.
Pede para passares no Blogue a informação se por assim o entendres.

Informo que estou a organizar viagens por via terrestre à Guinè, com passagem por Marrocos, Mauritânia e Senegal. Já efectuei várias viagens com diversos camaradas e cada vez me seduz mais este percurso, pela aventura, pela partilha e experiência que se adquire e pelas belezas que se desfrutam. Contactem-me pelo telemóvel 938459828
Francisco Allen - Os Metralhas / Empada.
[CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74) (2).

Abraço fraternal do
J.Teixeira
Esquilo Sorridente

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Notas de L.G.:

(1) Foram publicados 26 posts sobre esta vaigem, que decorreu em Abril de 2006:

Vd. posts de:

4 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Do Porto a Bissau (1): o jipe está de saída (Albano Costa)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)


(2) Vd. post de 16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVI: O Xico de Empada, grande amigo dos guinéus (Albano Costa)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)




Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Sr. Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana (*). Também no Enxalé havia, até 1962, uma destilaria de aguardente de cana, pertencente ao sr. Pereira, pai da Maria Helena Carvalho. Segundo a filha, o Pereira do Enxalé era um colono branco, ntural de Seia, conceituado,  respeitado pela população da região.

Foto : © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados


1. Texto do editor Luís Graça:

Na sequência do encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) , em Coruche (**), contactou-me, por telefone,  a Maria Helena Carvalho, nascida no Enxalé, e actualmente casada, residente nas Caldas da Rainha, onde tem um um estabelecimento comercial  (Telef. 262 842 990).

Seu pai, Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono de uma importante destilaria de aguardente de cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local. 

A Maria Helena nasceu no Enxalé em 1950, se não erro. Saiu cedo de lá, creio que com sete ou oito anos, por volta de 1958, para ir estudar em Bissau e depois na Metrópole. Mas regressava nas férias grandes. As suas memórias de infância (e os seus amigos de infância) estão indelevelmente ligados a esse tempo e a esse lugar. 


Os pais acabaram por sair do Enxalé, fixando-se em Bissau, em 1962. Já havia nuvens negras que prenunciavam a chegada da borrasca da guerra. A matéria-prima (a cana de açúcar) que abastecia a destilaria começou a escassear. Os caminhos tornavam-se perigosos. O PAIGC fazia o seu trabalho de sapa. Entretanto, a mãe morreu e a Maria Helena ficou definitivamente entregue aos cuidados dos padrinhos, das Caldas da Rainha.

O património da família ainda lá está, no Enxalé, arruinado. Também tinham prédios em Bissau. Em 1989, a Maria Helena voltou aos lugares da sua infância. Ainda encontrou, no Enxalé, gente que trabalhara para o seu pai bem como amigos de infância.

Ela ainda fala do Enxalé e da Guiné com emoção. Em Coruche teve ocasião de falar, por uns breves instantes, com o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) que nos seus livros tem bastantes referências ao Enxalé. Também ouviu falar do nosso blogue, mas ainda não o conhece, não se sentindo muito à vontade na Internet. Através dos serviços da Junta de Freguesia da Lourinhã, donde sou natural, acabou por localizar-me e telefonar-me.

Aqui fica o apelo, aos nossos camaradas que passaram pelo Enxalé (incluindo o Abel de Jesus Rei, autor de Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/69), para nos fazerem chegar mais informações sobre a família Pereira e, se possível, fotos das instalações civis do Enxalé, ocupadas pelo Exército.


Outro camarada nosso que conheceu bem o Enxalé é o Henrique Matos, primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68) . Aqui ficam os contactos do nosso camarada, já tornados públicos no blogue, para a eventualidade de a Maria Helena querer falar com ele:

Residência actual: Rua dos Lavadouros, n.º 46, 2.º Esq.
Edifício República
8700-442 Olhão
Telef. 289 714 748
Telem. 963 334 811
e-mail: henrique.matos10@sapo.p

Infelizmente não temos muitas imagens nem histórias passadas no Enxalé (teremos cerca de 30 referências)… No final dos anos 60 e princípios de 70, o Enxalé, na margem direita do Rio Geba, em frente ao Xime, tinha um heliporto e um cais acostável (só utilizado na época seca).  A própria Maria Helena tem poucas fotos desse tempo.

Do ponto de vista do dispositivo militar, o Enxalé passou a  pertencer ao Sector L1 (com sede em Bambadinca, Zona Leste), a partir do último trimestre  de 1969, se não me engano: nessa época, só havia duas destilarias de cana de açúcar no sector, uma em Bambadinca e outra em Ponta Brandão ( a escassos 5 quilómetros de Bambadinca, à esquerda da estrada para Bafatá).  Por outro lado, a sua extensa e rica bolanha continuava a ser cultivada. A localidade pertencia ao regulado do Enxalé, onde a população recenseada, sob controlo das NT , era de 400 balantas e 350 mandingas e beafadas. Na localidade do Enxalé, onde existia uma loja comercial,  a população residente (cerca de 300) era considerada "colaborante na defesa".

O Enxalé era frequentemente alvo de ataques e flagelações do PAIGC.  O destacamento era apoiado pelo fogo de artilharia do Xime, aquartelamento que ficava na outra margem do rio Geba.

Em Junho de 1970, quando o BART 2917 substitui o BCAÇ 2852 no Sector L1, no destacamento do Enxalé havia um Grupo de Combate da CART 2715 (a unidade de quadrícula do Xime) bem como um esquadrão do Pelotão de Morteiros 2106. A partir de Outubro de 1971, passou a ter o GEMIL 309 e, em Dezembro de 1971, o GEMIL 310 (ambos pertencentes à Companhia de Milícias de Porto Gole). 



Fizemos (nós, a CCAÇ 12 e outras forças que integravam o dispositivo militar do Sector L1) várias operações na região compreendida pelos regulados do Enxalé e do Cuor, algumas bem duras e dramáticas, com terminus no Enxalé,como a Op Tigre Vadio (Março de 1970).

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Notas de L.G.:


(**) Vd. postes de:

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P897: Pitéus da gastronomia local (Hugo Moura Ferreira)



Texto do Hugo Moura Ferreira, datada de 31 de Maio de 2006 (e que já circulou, por e-mail, pela tertúlia):

Caros Amigos.

Depois de ver o Post Guiné 63/74 - DCCCVIII: A Tertúlia do Porto (Albano Costa) e receber a mensagem do Marques Lopes titulada como Grande Almoço em Jugudul (1), fiquei com água na boca e com muitas recordações da Guiné nas papilas gostativas.

Assim, fui até aos meus arquivos e encontrei algo que certamente vos vai agradar receber. Receitas de culinária da Guiné que vos mando com amizade, que nunca se irão alterar, haja ou não bons ventos trazidos pela História.

Espero que possam tirar partido do que mando e que de vez em quando troquem o "Cozido à Portuguesa" por um bom "Caldo de Mancarra" e um "Chabéu de Galinha".

Um abraço a todos com amizade e votos de boa digestão.

Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf(1966/1968)
CCAÇ 1621 (Cufar) e CCAÇ 6 (Bedanda)
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Nota de L.G.

(1) Vd. posts de:

28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVIII: A tertúlia do Porto (Albano Costa)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O leitão da região do Oio, feito à moda de Jugudul, em casa do Manuel Simões, não ficava atrás, bem pelo contrário, do leitão à moda da Bairrada. Foi comer e chorar por mais... (LG)

Foto: © A. Marques Lopes (2006)


Receitas culinárias da Guiné

Fonte: Cozinha e doçaria do Ultramar Português. Lisboa: Ag~encia-Geral do Ultramar, 1969.









quarta-feira, 7 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P854: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

X parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. 27-31 (1).


Operação de retirada da guarnição de Madina do Boé (2)

Madina do Boé ficava junto à fronteira da Guiné-Conacri. A companhia que lá estava [ CCAÇ 1790]era flagelada quase todos os dias. Como estavam distantes, a sua capacidade ofensiva tinha sido praticamente anulada pelo IN.

O Comando-Chefe resolveu retirar aquela guarnição. Para a retirada, foi montada uma operação de grande envergadura [Op Mabecos Bravios] . Mais uma vez a nossa companhia [ CCAÇ 2405] foi chamada para tomar parte nessa operação, comandada superiormente pelo então Ten Cor Hélio Felgas [, comandante do Agrupamento 2947, de Bafatá].

Todas as companhias que tomavam parte nesta operação reuniram-se no quartel de Nova Lamego [, a meio caminho, entre Baftá e a fronteira leste, com a Guiné-Conacri]. Lá chegámos todos por fim, jantámos uma ração de combate e dormimos sabe Deus como. Estávamos em Fevereiro de 1969.

Como a operação tinha 10 dias de duração, quando passámos por Bafatá a caminho de Nova Lamego, deitei no correio uma aerograma para os meus pais, para não ficarem preocupados com a ausência de notícias durante aquele período. O aerograma era muito singelo e a minha mãe desconfiou de algo.

Desde que eu embarcara os meus pais escreviam-me todos os dias, além de outros amigos. Era coisa que melhor nos sabia, receber notícias de casa, quando estávamos a sofrer toda aquela adversidade.

No dia seguinte formou-se a grande coluna e largámos para Madina do Boé. Mais uma vez a Força Aérea tinha deslocado muitos meios para protecção. Estava sempre no ar a acompanhar a Coluna dois T6, fora os helis que andavam no seu vai-vem.

Chegados ao Cheche, junto ao Rio Corubal, encontrámo-nos com um destacamento a nível de grupo de combate, comandado pelo Alferes Dinis.

Para a travessia do rio havia uma jangada, que levava um carro pesado de cada vez. Nós fomos os primeiros a passar para montar a segurança no outro lado da margem. Por ali passámos a noite enquanto os carros da coluna iam atravessando o rio. No dia seguinte fizemos a pé o percurso até Madina do Boé. Foram 40 kms.

Aquela estrada parecia um cemitério de Unimog e de GMC. Até Madina havia para cima de 15 carros destruídos por efeito das minas. Geralmente o carro da frente, nas colunas, era chamado o arrebenta- minas. Ia cheio de sacos de areia para absorver a onda de choque da explosão da mina. O condutor, um voluntário, ia por sua vez, sentado em cima de um saco de areia. O problema às vezes era a falta de protecção das pernas.

Logo de manhã um T6, que nos sobrevoava, avisa-nos que havia IN à frente e portanto que devíamos ter cuidado. Por aqueles lados a vegetação era pouco densa e não havia população.

Em determinada altura sofremos um ataque de abelhas do mato. Foi terrível! O Alferes Rijo, [da CCAÇ 2405,] foi o mais massacrado. As abelhas não o largavam, ele bem pedia ajuda, mas ninguém se aventurava. Coitado, mal recomposto lá continuou. Bem podia ter pedido uma evacuação, mas não o fez.

À medida que o dia ia avançando, o cansaço, a fome e a sede iam dando cabo de nós. A noite começou a cair, e tal como é costume em África, caiu depressa. Foi nesta altura que nos começámos a desagregar, uns paravam outros não, e foi assim que começámos a entrar no quartel de Madina do Boé. Entrávamos em pequenos grupos. Se o inimigo andasse por ali, tinha- nos apanhado à mão.

O Capitão José Aparício, que comandava o aquartelamento, foi-nos espalhando pelos abrigos, recomendando para só nos deslocarmos entre abrigos pelas valas que por lá havia.

Como a cozinha já tinha sido desmantelada, deram-nos apenas uma sopa que nos soube muito bem. Os abrigos, onde dormimos no chão, eram muito abafados, devido a terem umas aberturas muito pequenas. Mais uma noite de primeira.

No dia seguinte e com a luz do dia, é que nos apercebemos dos pormenores daquele aquartelamento. Eles viviam com toupeiras. As partes laterais dos abrigos tinham uns troncos de palmeiras deitados para se protegerem quando respondiam ao fogo em caso de ataque.

Estes troncos estavam todos queimados por cima. Nos ataques mais prolongados que tinham tido, e que foram muitos, as armas faziam tanto fogo e ficavam tão quentes que queimavam os troncos de palmeira.

Ainda rebentados da véspera, não nos deram descanso e lá nos mandaram ainda mais para Sul, precisamente para junto da fronteira, para fazer protecção avançada. Ali passámos 24 horas, tempo necessário para as viaturas chegarem e serem carregadas com tudo o que a Companhia tinha.

Estas 24 horas foram passadas no maior silêncio pois o inimigo andava por perto. No nosso rádio bem o ouvíamos, em francês, a incitarem-se para nos atacarem.

No exterior e à volta de Madina do Boé, havia vários abrigos feitos e utilizados pelo inimigo para estarem mais protegidos quando lançavam qualquer ataque ao aquartelamento de Madina.

Por fim veio o regresso. De madrugada deram-nos ordem para fechar a coluna que já estava a serpentear a estrada. Se a nossa companhia fechava a coluna, o meu grupo de combate foi o último. Foi assim que a posição de Madina do Boé foi abandonada.

A nossa progressão até ao Rio Corubal, os mesmos 40 kms, foi novamente penosa, embora não tão perigosa uma vez que íamos todos em bloco. Recordo-me que a coluna à vinda tinha levantado várias minas e, curiosamente, no regresso levantaram-se mais umas tantas, lá colocadas entretanto pelo inimigo.

Estacionámos na margem sul do rio Corubal, nós e a companhia de Madina [CCAÇ 1790], durante toda a noite para protecção. Durante a noite a jangada foi transportando para a outra margem todas as viaturas. Já de madrugada [ do dia 6 de Fevereiro de 1969] e passados todos os carros, foi a nossa vez de atravessar o rio. Como tínhamos por hábito rodar as nossas posições assim que parávamos, a nossa companhia passou para a frente da de Madina e o meu grupo de combate., por sua vez, passou para a frente da minha companhia. Com o meu grupo de combate na frente, a companhia dirigiu-se para a jangada para fazer a travessia. A jangada já estava praticamente cheia e só coube o meu grupo. Para trás ficaram dois grupos da minha companhia [CCAÇ 2405]e toda a companhia de Madina [CCAÇ 1790].

Durante a travessia aproveitámos para nos lavarmos um pouco e encher o cantil de água. Uma vez terminada a travessia a jangada regressou para ir buscar o resto do pessoal. Como ninguém quiz ficar para trás, entre os que estavam do outro lado do rio, entraram juntos na jangada, para a última travessia.

Aqui facilitou-se. Eu estava do outro lado e assisti a tudo. A jangada ainda a poucos metros da margem, adornou para um dos lados (nascente) e atirou à água vários rapazes. Por falta de peso de um dos lados, a jangada adornou de repente para o outro lado, atirando outros tantos rapazes à água.

Depois disto a jangada ficou meio submersa. A meu lado estava um Major que deitou as mãos à cabeça e disse: - Deus meu!.

Como não vi ninguém a gritar ou a esbracejar, pensei para mim que talvez se tivessem afogado um ou dois rapazes. A jangada que estava de reserva, foi por duas vezes buscar o pessoal. No Cheche estavam no chão dois helis que levantaram vôo, nada podiam fazer ou ajudar.

Uma vez formadas as companhias, é que demos conta da extensão da tragédia: 45 homens afogados de ambas as companhias. Com as botas, o peso da cartucheira, das granadas e ainda a responsabilidade de não perder as armas, aqueles rapazes à medida que iam entrando na água, iam logo para o fundo, agarrando-se uns aos outros.

Pelo menos um dos rapazes da nossa companhia estava em França a trabalhar e regressara a Portugal só para cumprir o seu dever. Ali ficou.

A minha mãe assim que soube da notícia associou com o meu aerograma e ficou muito aflita. Telefonei-lhe de Nova Lamego para a descansar.

Acabada esta operação, quizeram responsabilizar pelo sucedido o Capitão Aparício e o Alferes Dinis. Quem lá estivesse, tinha feito o mesmo. Só quem está metido nelas é que sabe da sua vida.

Acho que as ambições do Brigadeiro Spínola aqui funcionaram em pleno. Ele não quis ficar com aquela nódoa na sua folha de serviço, pois já devia aspirar a voos mais altos, com Caetano no poder e Tomás no fim de um mandato.

Deixo aqui um pormenor que dá bem a ideia das voltas que o mundo dá. Na sequência do 11 de Março de 1975, Spínola segue para o Brasil, exilado. Com o General Eanes na Presidência é combinado o seu regresso a Portugal.

Quem é que o vai buscar ao aeroporto? O Ten Cor Aparício, Comandante Distrital da PSP de Lisboa. Acasos do Destino.

Regressámos à nossa rotina das Tabancas em Auto Defesa.

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Notas de L.G.

(1) Vd. último post > 22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá


(...) "Foi em Campata que passámos o primeiro Natal na Guiné. O meu irmão, a pedido da minha mãe foi passar o Natal comigo. De avião em avião, chegou por fim a Bafatá, aonde solicitou autorização ao comando para eu passar aqueles dias com ele em Bafatá.

"O Ten Cor Banazol, que comandava o Batalhão que ali estava sediado, fez deslocar uma auto metralhadora Panhard para me ir buscar. Alugámos um quarto e, entre o cinema, os passeios e a Messe, assim passámos o Natal" (...).

(2) Sobre Madina do Boé temos já mais de três dezenas de referências no nosso blogue; e sobre Cheche existem 25 referências. Eis alguns dos principais posts sober a retirada da guarnição de Madina do Boé e do desastre de Cheche no Rio Corubal:

17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre do Cheche, na retirada de Madina ...

(...) "Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata aa dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC" (...)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera inicio há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXI: Comentário de Afonso Sousa ao texto sobre a retirada de Madina do Boé

(...) "Emociona este seu testemunho. Eu só faço uma pequena ideia do sofrimento de todos vocês, naquele momento trágico, nas horas e nos dias seguintes - em terras de solidão, em paragens dos confins da Guiné" (...).

12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) "Em resumo e concluindo:

"(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada; (ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião;(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema;(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se;(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação;(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar" (...)

13 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIX: A verdade sobre o desastre de Cheche (Paulo Raposo)

(...) "Alf Raposo da CCAÇ 2405, também assisti ao desastre do Corubal, tinha passado com o meu grupo de combate na travessia anterior. Estavamos de regresso da grande operação de Madina do Boé. O meu muito amigo Alf Felício estava na jangada acidentada. O testemunho dele é verdadeiro" (...).