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domingo, 24 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24694: Manuscrito(s) (Luís Graça) (235): o fim do verão, o princípio de outono, as vindimas da nossa alegria... E o que nós andámos para aqui chegar!...



















Quinta de Candoz, fim de verão, princípio de outono, 21, 22 e 23 de setembro de 2023, as últimas vindimas, a alegria do (re)encontro, da festa, da partilha... E pela primeira vamos fazer um vinho, com apoio de enólogo , e que será de homenagem à nossa querida "Nita", a Ana Carneiro (faz hoje meio ano que nos deixou mais sós e tristes)...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 
(Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


O que nós andámos para aqui chegar…

  

Há quase cinquenta anos (vai fazer em  2025) que venho a Candoz, lembrei  eu há dias no poste P24676 (*).  E deixei, por outro lado,  algumas reflexões avulsas sobre "mudanças" no nosso país, de que fomos todos sujeitos e objetos, atores e espetadores, nomeadamenmte no campo (por oposição à cidade). 

Respondendo de resto ao meu desafio, o despretensioso texto mereceu alguns calorosos comentários de alguns amigos e camaradas, a quem fico reconhecido, porque vieram valorizar o tema, complexo, das transformações (económicas, sociais, culturais, mentais, etc.) por que passou a nossa geração, grande parte dela de origem rural... (Na década de 50, metade da população portuguesa ainda vivia dependente do setor primário da economia e, segundo o censo de 1960, um em cada três portugueses ainda era analfabeto!)

E, como eu disse, "foram muitas, essas transformações", para não dizer "profundas, radicais, estruturantes", em todos os domínios, a nível do indivíduo, da família, do habitat, do território, da economia, da sociedade, das organizações e instituições, etc. Da saúde à educação, do trabalho aos transportes, do lazer à cultura, da sexualidade à religiosidade, da política ao futebol,  etc., etc.

Utilizei Candoz, por mera conveniência,  como ponto de observação e de reflexão, por estar situado a 400 km de Lisboa a capital deste país que ainda é macrocéfalo); longe do litoral, a 340 km da minha terra natal, Lourinhã, a 70 km do Porto; enfim,  no “país profundo”, onde o povoamento era (e ainda é) disperso e a predomina(va) o minifúndio,  e onde eu ainda apanhei tantas “coisas do antigamente” (ou que ainda estavam frescas na memória das gentes do vale do Tâmega, que pega com o vale do Sousa, berço do velho Portugal, e por onde passa uma fabulosa rota do românico, que poucos portugueses conhecem)…

E cito ainda Candoz porque a elegi também como minha segunda terra... E por aqui andou o Zé do Telhado... E está rodeada de serras, com o rio Douro a fazer fronteira entre o distrito do Porto e o distrito de Viseu: Montedeiras, Aboboboreira, Montemuro, Meadas, Marão, Alvão...

Listo apenas algumas dessas "coisas do antigamente" que, umas felizmente já desapareceram (ou são  "peças de museu"), outras ainda estão enraizadas nos nossos "usos e costumes"... São umas cinquenta (para arredondar) as que me acorreram, ao sabor do teclado e no decurso desta época de vindimas (em que vim passar 18 dias a Candoz,   já tendo hoje regressado ao Sul). 

Aqui váo, de 1 a 50, sem qualquer ordem de precedência, importância ou relevância;

(1) a luta dos rendeiros contra a parceria agrícola e pecuária, formas pré-capitalistas de exploração da terra, com o pagamento das “rendas” em géneros (em em geral, numa proporção fixa, por exemplo ao terço, a meias, etc.);

(2) a estratificação social nos campos:”fidalgos”, pequenos proprietários, rendeiros…e cabaneiros (gente sem terra nem casa) (e que na igreja também se dispunham pela mesma ordem, com homens e mulheres, socioespacialmente separados);

(3) os salamaleques da “servidão da gleba”: “com a sua licença, meu senhor e meu amo”, dizia o caseiro para o “fidalgo”, desbarretando-se a 10 metros de distância;

(4) as juntas de bois lavrando a terra com arados de ferro;

(5) a criação, em cortes, do gado bovino (o “tourinho”, mais bem tratado que a “canalha”, porque rendia dinheiro ao ser vendido na grande feira do Marco (de Canaveses);

(6) a cultura do milho de regadio, exigente em água e mão de obra (escondia-se o milho nas “minas”, as nascentes de água, para escapar à requisição do governo nos anos da II Guerra Mundial e do pós-guerrra);

(7) a vinha de bordadura e de enforcado (e na sua grande maioria, videiras de tinto… jaquê, um híbrido americano de há muito proibido mas sempre tolerado; de fraca graduação e pior qualidade, o “jaquê” chegava a maio já era intragável; de resto, nas vindimas toda a uva podre ia “para o tinto”; e não havia vinho verde branco, o que se fazia era “para o padre”; e muito do que ia para o "utramar", a tropa, que tinha poder de compra, era vinho branco leve, de 9 / 10 graus, enviado para os armazéns do Porto e de Vila Nova de Gaia, e depois gazeificado e rotulado como "vinho verde branco");

(8) o vinho verde tinto, o tal "berdinho",  bebido da malga de barro vidrado ou da “caneca de porcelana”;

(9) as “serviçadas” como a vindima, a malha do centeio, a desfolhada do milho, a espadelada do linho, a matança do porco, etc., em que os familiares e os vizinhos se ajudavam, uns aos outros;

(10) os grandes cestos de vime de 50 kg de uva que os “homes” transportavam aos ombros (e as mulheres à cabeça), por leiras e solcalcos abaixo (ou acima) até ao “lagar do vinho” (em geral, no piso térreo, da casa, e com chão saibroso por causa da temperatura ambiente);

(11) a matança do porco, o fumeiro e a salgadeira (que eram o “governinho da tia Aninhas”, e também uma das principais causas de morbimortalidade por doenças cérebro-vasculares, como a “trombose”):

(12) o valor comercial da madeira de carvalho, castanho e pinho (madeira nobre hoje destronada pelo eucalipto);

(13) a água de consortes,  as "levadas" (como a água de Covas, que vinha da serra, e  de que o meu sogro tinha direito a utilizar, só no solstício do inverno, uma vez por semana, das 10h da manhã às 6h00 da tarde);

(14) os “montes” (pinhais) que eram “rapados” todos os anos, não só para limpeza e prevenção dos incêndios (não havia incèndios) como sobretudo por causa da importância que tinha o mato para fazer a "cama dos animais” e depois o estrume (fundamental para a cultura do milho ou da batata);

(15) a “esterqueira” (ao pé da porta onde se faziam todos os despejos domésticos e se deitava todo o lixo orgânico que não fosse para a “gamela” de, "com a sua licença", o porco);

(16) as longas caminhadas a pé (para se ir à missa, à romaria, à feira, à repartição de finanças na sede do concelho,  mas também ao médico e o hospital da misericórdia);

(17) a escassez de meios de tração mecânica na lavoura (tratores, motocultivadores, serras mecânicas, etc.) e de transporte automóvel;

(18) a “venda” que era mercearia, tasca, casa de comidas (para os de fora), cabine pública de telefone, caixa de correio, palco de mexericos, boatos e notícias, etc. (a da Candoz, ficava no Alto, a 3 km de distância por caminho de carro de bois, que agora é estrada municipal e nos  leva à albufeira da barragem do Carrapatelo);

(19) a sardinha “para três” (que chegava de Matosinhos na Linha do Douro até ao Juncal, e depois era transportada à canastra e vendida de porta em porta) (... e os ovos que se vendiam para comprar a "sardinha para très");

(20) o caldo moado, as cebolinhas do talho, os salpicões feitos em vinho tinto verde, o anho com arroz de forno, as papas de farinha de pau, o arroz de cabidela, o bacalhau “lascudo” no Natal, a aletria, etc.

(21) só os homens usavam calças (!);

(22) a virgindade (feminina) antes do casamento;

(23) o medo das trovoadas, das bruxas, dos lobisomens, do mau olhado, das pragas que se rogavam uns aos outros por ódio, vingança, desamores, etc.;

(24) a importância das feiras e romarias como factor de lazer, de socialização, de negócios, de informação, conhecimento e propaganda (ah!, os pregões dos feirantes!);

(25) as “tunas rurais do Marão” (indispensáveis nos "bailes mandados");

(26) a luz do candeeiro a petróleo ou querosene;

(27) o caciquismo político e eleitoral (do regedor, do padre, do comerciante, do professor, do “fidalgo"...);

(28) o “varapau”  como símbolo da masculinidade (mas também de violência) (a ponto de ter sido proibido na via pública, nas festas e nos bailes, sendo o seu cumprimento fiscalizado pela GNR):

(29) a fraca monetarização da economia (fazia-se algum dinheiro com a venda das uvas, do milho, do tourinho, da cereja e pouco mais; ou trabalhando à jorna, ocasionalmente para o "ramadeiro", para o "construtor civil, etc., que os mais sortudos iam para a polícia e os caminhos de ferro);

(30) a autossuficiência da economia do pequeno campesinato familiar onde o pai era “pai e patrão” e  a “ranchada de filhos”  era garantia de mão de obra abundante e gratuita;

(31) a emigração, primeiro para o Brasil (até aos anos 50) e depois para França (muitas vezes "a salto") e Alemanha, também depois Luxemburgo e Suiça;

(32) o obscurantismo não só político e cultural mas também religioso (como o daquele pároco que mandou cortar as pilinhas dos anjinhos na igreja);

(33) as “grandes mulheres” que em geral se escondem(iam) atrás dos seus “homes" (e tinham sempre uma palavra de peso, a última, nos negócios, nas compras de propriedade, nos amores, nos casórios dos filhos,  etc.);

Mais mudanças

Era tempo em que ainda…

(34) se andava descalço (ou, tal como em África, se levava os sapatos na mão até à entrada da vila, da escola, da igreja…);

(35) se batia forte e feio nos filhos (em casa e no campo) e nas crianças (na escola) ("quem dá o pão, dá a educação");

(36) se começava a trabalhar muito cedo (“ o trabalho do menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco”; "na casa deste home, quem não trabalha não come; e na casa desta mulher, come-se tudo o que ela der"):

(37) havia o “baile mandado” com “mandador” e os homens e as mulheres separados, de pé, encostados às paredes da casa;

(38) ouvia-se o carro de bois a chiar pelos estradões (uma verdadeira sinfonia!);

(39) se cultivava o milho e o centeio;

(40) se cozia a broa de milho e centeio (três “quartos” ou partes de milho e um de centeio), no forno a lenha, e que tinha de durar 8 dias (ou até 15, "duro que nem cornos"!);

(41) em que os mais remediados diziam: “criei-os [aos filhos] fartos e cheios [de pão, que não se escondia na “trave” do telhado de telha vã, fora do alcance dos ratos e… das crianças, isso era sinal de pobreza];

(42) as crianças se habituavam, cedo, às “sopas de cavalo cansado” e eram “sedadas com bagaço” quando se contorciam com dores, tinham fome ou estavam doentes;

(43) as “parteiras” (que não as havia, diplomadas) eram as “aparadeiras” (mulheres curiosas, mais velhas, que já tinham sido mães...);

(44) não se conhecia a contraceção nem o planeamento familiar (mesmo a “pílula” chegaria tarde à cidade…) ("porra e lenha é quanto a venha", um provérbio que pode ter uma conotação sexual, mas não tenho a certeza);

(45) só se bebia leite (de cabra, de vaca era mais raro) quando se estava doente (em geral os adultos);

(46) o fatalismo dos provérbios populares (“boda e mortalha no céu se talha”, "muita saúde e pouca vida que Deus não dá tudo"...);

(47) se jogava ao pião (os rapazes) e se brincava às bonecas de trapos (as raparigas);

(48) não havia saneamento básico, água potável (a não ser  o das minas) nem banheiro com duche;

(49) a electricidade, a televisão, etc., só chegariam depois do 25 de Abril (mesmo com a barragem do Carrapatelo a escassos quilómetros de Candoz);

(50) e quando a gente (a nossa geração) nasceu, por volta de 1945, no fim da II Guerra Mundial, ainda morriam 120 crianças em cada mil nados-vivos.

É bom não esquecer, para a gente dar valor ao esforço (individual e coletivo) dos portugueses na melhoria das suas condições de vida, de saúde, de alimentação, de trabalho... 

Parafraseando, a canção do Zé Mário Branco, acrescentamos: "o que nós andámos para aqui chegar!"...

E dito isto, continuo a gostar de cá vir, em épocas emblemáticas, festivas, do Natal à Páscoa, da festa da Senhora do Socorro às vindimas... Claro, aos batizados, casamentos, festas da família, enterros… (E há perdas recentes, que nos deixam dor profunda e eterna saudade.)

E gosto de continuar a fotografar Candoz, ao longo das quatro estaçõesm e de preferència com a luz matinal... E em particular nesta época do ano em que aparecem as primeiras cores outonais e os primeiros cogumelos (os "sentieiros").

E continuo a eleger Candoz como tema da minha escrita (em prosa ou em verso, e nomeadamente nos meus/nossos blogues) (**). Afinal, sou um pobre "citadino"...

Que o leitor desculpe esta obsessão... É como a Guiné: estivemos lá menos de dois anos, e o blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné já vai a caminho dos vinte.  (**)

_____________


(...) Comentrários;

(i) Luís Graça;

Fico triste quando oiço "açularem os cães" do nortismo contra o sulismo ou vice-versa...

Afinal este país velhinho que herdámos dos nossos avoengos, e de que nos orgulhamos, não tem fronteiras internas a não ser as "metereológicas" como o sistema Montejunto-Estrela ou o anticiclone dos Açores...

20 de setembro de 2023 às 08:22

(ii) Eduardo Estrela:

(...) Felizmente que algumas das coisas que mencionas acabaram. Felizmente que outras ainda se mantêm e hão-de continuar a fazer feliz quem as aprecia.

Cá em baixo no Sul também era assim. Lembro-me bem de ver há muitos anos os serrenhos ( quem vivia a norte do Barrocal algarvio era assim apelidado ) virem ao Algarve como eles diziam, montados nos seus burros e mulas e trocarem favas, ervilhas, cebolas, batatas e outros produtos agrícolas, por peixe e marisco. Faziam-no pelo menos 2 vezes por mês percorrendo caminhos que à época eram pior que maus. (...) 

20 de setembro de 2023 às 13:03

(iii) Valdemar Queiroz:

(...) Luís, quando em 1956 vim a "escorregar por uma tábua abaixo"(*) até Lisboa, em Afife era assim a vida como muito bem descreves.

E sobre: "os salamaleques da “servidão da gleba” (também do tempo da outra senhora): “com a sua licença, eu senhor e meu amo”, dizia o caseiro para o “fidalgo”, desbarretando-se a 10 metros de distância"... Fernando Namora escreve no livro "Retalhos de um Médico" que a grande diferença entre o homem do norte e o do sul (alentejano) é que o do sul não atravessa a rua para cumprimentar o padre por o não conhecer de lado nenhum.

Faltou o ir descalço pra escola, que mesmo assim, quem me dera ter sete anos e o cabelo grande encaracolado e estar à espera do 7 de Outubro. (porquê a escola começava a 7 de Outubro?) (...)


20 de setembro de 2023 às 13:55


(iv) António Carvalho:

(..,) Sendo tu um homem do centro, tiveste, desde que conheceste a Alice, essa sorte de conhecer uma aldeia da região durimínia condimentada de todas as características, desde a economia, religiosidade, estrutura fundiária predisposições sociais. Aliás, sendo tu formado academicamente na área das ciências sociais, tens assim uma vantagem supletiva, quando mergulhas nas tuas reflexões sobre os espaços que habitas.

Um grande abraço, com votos de que possas abandonar, brevemente os empecilhos das muletas. (...)

20 de setembro de 2023 às 14:58

(v) António Graça de Abreu:
 
(...) Também conheço razoavelmente o Douro, o meu rio de menino e de rapaz mais espigado,(nasci e cresci no Porto) e as terras do Marco de Canaveses. Tenho um amigo arquitecto, Paulo Machado, com uma casa fantástica debruçada sobre o Tãmega, quase meu meio irmão, somos da mesma criação portuense, que já me emprestou o seu pedaço de Paraíso para estadias de espantar. São dos lugares mais bonitos de Portugal. Aí nasceu a tua Alice.

Aproveita Luís, e logo que possível atira essas muletas ao rio Tâmega, ou afunda-as nas águas do Douro. (...)

(vi) José Teixeira:

(...) Fizeste-me voltar aos meus tempos de criança. Com cinco /seis anos descobri que a sopa do caseiro que vivia a trezentos metros do monte onde vi a luz que me alumia, apesar de pobre, porque o dono das terras lhe comia o grosso do seu trabalho, tinha sempre um courato de porco na tijela, enquanto o meu, tinha couves, feijão, batata e um "pirilau" muito pequenino de azeite. 

Um dia em que minha mãe foi para lá fazer a sacha do feijão, apercebi-me do manjar e feito "xico esperto" ofereci-me para lhe guardar as ovelhas ao fim da tarde. Assim ganhei o direito ao petisco- um simples bocado de carne de porco gorda, com um coirato duro de roer que me sabia tão bem!
Assim me fiz o homem que sou. (...)


20 de setembro de 2023 às 18:34

(viii) Luís Graça:

E grande homem, Zé Teixeira, mesmo que a Pátria, ingrata, madastra, nunca to tenha dito...

Sei que tiveste uma duríssima infància, tinhas razões de sobra para te insurgires contra Deus e os homens... Porquê eu, meu Deus ?!...

Não foi fácil a nossa infància, adolescência e juventudem em geral... Alguns, creio que poucos, da nossa geração, terão vergonha em dizè.lo em público... que também comeram o pão que o diabo amassou... E a guerra ajudou a nivelar as diferenças,,,

Mas fizémo-nos homens, e isso é que importa sublinhar. E temos orgulho emm dizê-lo aos nossos filhos e netos. Tu bem podes tè-lo, tanto quanto eu sei de ti e da tua história de vida! (...)

domingo, 29 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15420: Manuscrito(s) (Luís Graça) (71): o país onde os nossos pais nasceram, cresceram, amaram, casaram, viveram, trabalharam e morreram... e que nós herdámos

Notas de leitura:

FERRÃO, João (Geógrafo, ICS/UL) – População. In: Dicionário de História de Portugal, suplemento, vol IX (Suplemento P/Z). (Coord. António Barreto e Filomena Mónica). Lisboa: Figueirinhas, 2000, pp. 127-133.


Portugal (1926-1974) – Dinâmicas sociais e populacionais 



O Portugal onde nasceram, cresceram, amaram, casaram, viveram  trabalharam e morreram os meus pais (Luís Henriques, 1920-2012, e Maria da Graça, 1922-2014) conheceu profundas mudanças, nomeadamente de natureza demográfica, epidemiológica, social,  económica, política e cultural...  

Foi a pensar neles, e  na sua geração, que eu, nascido em 1947, publico agora estas notas de leitura do artigo de João Ferrão sobre Portugal, 1926-1974... O país que eu herdei... O país que herdámos...


Crescimento natural (fecundidade, natalidade, mortalidade…);

Movimentos migratórios (internos e externos);

Factores endógenos e exógenos;

Mudanças conjunturais e estruturais;

Três fases, um período longo: 1926/74: consolidação dos padrões demográficos modernos: processo de transição demográfica > de longo ciclo de taxas de natalidade e mortalidade elevadas (> 30 por mil e 20 por mil, respetivamente) para um outro (c. 10 por mil);

Passagem de uma sociedade rural, pré-moderna, de economia fechada, fracamente monetarizada, para uma sociedade industrializada, de economia aberta (adesão à EFTA, 1959) e desenvolvimento urbano;

A transição demográfica coincide também com o fim do ciclo da emigração transcontinental (“Novo Mundo”: Brasil, EUA) e substituição por um outro, o da emigração europeia (França, Alemanha)


1ª fase – 1926-40:

Início da quebra das taxas de natalidade e mortalidade, fim de ciclo emigratório (“Novo Mundo”), contexto adverso à emigração (crise internacional de 1929, guerra civil de Espanha, início da II Guerra Mundial, em 1939)

2ª fase – 1941-50:

Recuperação das taxas de natalidade, crescente papel polarizador de Lisboa em relação ao êxodo rural, suburbanização, economia nacional fechada e corporativa;

3ª fase – 1951-74:

Consolidação das tendências demográficas modernas, irreversível processo de transição demográfico, no contexto de novo ciclo emigratório (continental), abertura da economia ao exterior, industrialização (plano de eletrificação do país, barragem de Castelo de Bode, 1950; EFTA, 1951); guerra colonial; crise do petróleo de 1973; 25 de abril de 1974; duplo retorno (emigrantes europeus e população das colónias africanas).


1926-1940



Alvarina de Sousa, mãe de Luís Henriques, morreu em 1922,
de tuberculose, quando ele tinha dois anos, provavelmente grávida.
Teve dois filhos. O pai de Luís Henriques, Domingos Henriques,
casou três vezes.  Do primeiro não teve filhos. Do terceiro casamento teve 

mais 11 filhos. A mãe de Alvarina de Sousa, Maria Augusta Maçarico
(Ribamar, 1864-Lourinhã, 1932)  teve 7 filhos nados-vivos.
Foto de LG.

Situação anterior (início do sec. XX): das mais elevadas taxas de natalidade, mortalidade e emigração na Europa; Rio de Janeiro,  a "segunda cidade portuguesa"; centralidade do setor primário e da ruralidade;

Portugal, 1930: 6,8 milhões de habitantes; 1940: 7,7 milhões (a taxa acréscimo anual de 12,8 por mil, na década de 1930) > quebra acentuada da taxa de mortalidade, entraves à emigração (Brasil, EUA), êxodo rural para os centros urbanos – Lisboa e Porto); 

a partir de 1927, inflexão das taxas brutas de natalidade ( < 30 por mil), embora regionalmente desigual; reflexos na fecundidade: o nº de filhos por mulher fértil passa de 3,8 em 1930/31, para 3,1 em 1940/41;

o declínio da taxa de mortalidade inicia-se em meados da década de 1920 (dos 20 por mil para os 12-13 por mil ao longo dos anos 40); aumento da esperança de vida (que em Portugal rondava os 50 anos); melhorias sanitárias e ambientais no combate à 1ª causa de morte (doenças infecciosas e parasitárias):

mantem-se a mortalidade infantil acima dos 100 por mil;

transição epidemiológica, historicamente associada à transição demográfica (vd. 3ª fase);

redução da emigração, devida à crise internacional e às restrições dos EUA (anos 20) e Brasil (anos 30); durante 20 anos (décadas de 1930 e 1940) emigram apenas 200 mil pessoas, 4 vezes menos do que no período anterior… 80% para o Brasil: reunificação familiar, origem norte e centro; fim do ciclo emigratório transcontinental;

acentua-se o processo de êxodo rural/atração interna; deslocamentos temporários ou sazonais (‘ranchos’, 100 mil trabalhadores sazonais em 1957), e deslocamentos definitivos (, mecanização da agriculturaarroteamento de charnecas no sul, “colonização interna”: foi criada, em 1936,  a Junta de Colonização Interna: (...) "era um organismo com personalidade jurídica, de funcionamento e administração autónomos; (...) incumbia-lhe a execução dos planos de colonização interna; (...) pelo Decreto-Lei nº 27:207, de 16 de novembro de 1936, (...)  tinha, nomeadamente, as seguintes competências: (i) tomar conta dos terrenos que lhe foram entregues pela Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, instalando nesses casais agrícolas; (ii) promover a constituição de associações e regantes e a instalação de Postos Agrários; (iii) efectuar o reconhecimento e estabelecer a reserva dos terrenos baldios do Estado; (iv) proceder à aquisição de terrenos para colonização; (v) estudar o regime jurídico a que devia obedecer a concessão de glebas.")

Lisboa polariza 60% dos movimentos internos (Porto, 17%): orientação para a cidade e para atividades não agrícolas (indústria, serviços); início do processo de suburbanização (sobretudo Grande Lisboa, margem norte do Rio Tejo):

1941/1950

Luís Henriques, expedicionário em Cabo Verde (1941/43). 
Foto de LG

Aprofundamento das tendências anteriores;

Aproximação tendencial aos padrões demográficos dos países europeus mais desenvolvidos;

Portugal, 1950: 8,7 milhões (desaceleração do crescimento demográfico);

Disparidades regionais, norte/sul, litoral (Lisboa/Porto) / interior;

Lisboa e Porto: taxas de natalidade ainda relativamente elevadas e taxas de fecundidade mais baixos do que no resto: comportamentos demográficos mais modernos, urbanização, abertura ao exterior, feminização da mão de obra… Lisboa: 1,79 filhos por mulher em idade fértil (valor que só ocorrerá em 1982 para o conjunto do país…);

Desaceleração da taxa bruta de mortalidade, a partir de 1943; 12-13 por mil ao longo da década;

Declínio da mortalidade infantil (< 100 por mil, na maioria dos distritos), por razões endógenas e exógenas; transição epidemiológica ainda tímida nesta década;

Esperança média de vida aproxima-se agora dos 60 anos;

Aumento da clivagem norte/sul (por ex., aumento da população no norte; diminuição no sul; taxas de fecundidade, mortalidade infantil e mortalidade elevadas no norte, baixas no sul…); recessão demográfica no Alentejo depois dos arroteamentos das charnecas e da campanha do trigo (anos 30); norte e centro litoral beneficiam de fatores conjunturais: (i) retorno do Brasil e dos EUA; (ii) “boom” do volfrâmio e do têxtil e calçado com a II Guerra Mundial; 

Contenção da quebra da taxa de natalidade (c. 25 por mil) entre 1940 e 1960, nos distritos do norte e ilhas, deve-se à contenção da emigração;

 Lisboa polariza 75% dos movimentos internos (12%, o Porto); movimentos internos particularmente significativos no sul;… mas Lisboa capta apenas c. 48% do êxodo rural;

Crescente litoralização do país;


1951-1974


Lourinhã, 1947 > Luís Henriques e
Maria da Graça,   com o seu primeiro filho,
de quatro filhos. O primogénito tem, 2 filhos.
Foto: LG

Confirma-se definitivamente o declínio das taxas de natalidade e mortalidade;

Em 1950 e 1974 Portugal tem a mesma população: c. 8,5 milhões. 9 milhões em 1960; perde pela primeira vez população desde que existem contagens de âmbito nacional (ou seja, de há 3 séculos): crescimento médio anual de 12,8% na década de 1930, 9,3% na década de 1940, vai desacelerar: 4,4% na década de 1950, e – 3,3% entre 1960 e 1970… 

Novo ciclo de emigração (para a Europa, mas também colónias de África…) leva à queda da natalidade (menos de 20 por mil no final desta fase) e da fecundidade… menos 250 mil residentes entre 1960 (8,9 milhões) e 1970 (8,6 milhões);

Tendências para o “envelhimento” (ainda não é a “revolução grisalha”, que começa a preocupar, nos anos 70, alguns países europeus): (i) envelhecimento na base (peso decrescente dos com 14 anos ou menos no conjunto da população); (ii) redução da população ativa (15-64); e (iii) mesmo envelhecimento no topo da pirâmide (aumento dos idosos com 65 ou mais, a partir do início da década de 1970);

Transição da família alargada tradicional para a família nuclear moderna;

Esperança média de vida: 65 anos;

Consolidação definitiva do processo de transição epidemiológico: as doenças cérebro-vasculares ocupam agora o 1º lugar nas causas de morte; a mortalidade infantil detém agora um peso menor no conjunto da mortalidade;

Transição facilitada pelo êxodo rural (migrações externas e internas), melhoria da alimentação, da assistência médica e hospitalar, das condições de vida e de trabalho;


Luís M. Graça Henriques (n. 1947). Psssou pelo TO da Guiné
(1969/71). Casado, tem 2 filhos. Foto de LG

População portuguesa em África, em 1940, muito baixa: 44 mil (Angola); 27500 (Moçambique); no final dos anos 40, fluxo anual médio, para o Ultramar, é já de 12 mil; atinge os 25 mil no período de 1965/63… Em 1960: c. 173 mil pessoas de origem europeia em Angola; 97 mil em Moçambique… Política de povoamento a partir de 1961 (início da guerra colonial em Angola)…

A França, a partir de 1957, é o principal destino da emigração… Em 15 anos (1960/74) parte 1 milhão, legal ou ilegalmente, para a França, Alemanha e outros países da Europa. Paris é "a segunda cidade portuguesa";

A clivagem norte/sul é agora substituída pela oposição litoral/interior; a Grande Lisboa polariza agora 85% dos movimentos internos… Mas só c. 16% do êxodo rural se encaminha para a área de Lisboa.. Um em cada cinco portugueses habita na Grande Lisboa, no início dos anos 70… 

Litoralização (70%), urbanização (27%), metropolitanização (Lisboa: 22,8%; Porto: 11,5%)… Causa e consequência dos processos de transição demográfica, familiar e epidemiológica, a par dos movimentos migratórios (internos e externos)…

Evolução das taxas de população ativa empregue na agricultura: 50%/45% (entre 1930 e 1960); 41,2% (em 1960), 29,8% (em 1970)… 

(LG)

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Vd. também Graça, L. (1999) - Evolução Histórica da Legislação Portuguesa sobre a Saúde e o Trabalho, no Contexto do Processo de Modernização do País: 3. O período de 1926-1974: A modernização bloqueada. [Em Linha]. Página pessoal, Saúde e Trabalho. [Consult em 17 de junho de 2015]. Disponível em  http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/historia1_legis1926_1974.html

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15408: Manuscrito(s) (Luís Graça) (70): O Alzheimer da história

sexta-feira, 1 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11177: Para que a memória não se perca (4): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Quarta e última parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se prolongou por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (4)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW 


Operações militares no Xuro em 1914
Foi no dia 12 de Dezembro de 1913 que as gentes de Xuro se insurgiram contra as autoridades provinciais, assassinando o Administrador de Cacheu, Alferes Nunes, assim como tomaram o motor “Cacine”, trucidando parte da sua tripulação.
Ao tomar conhecimento desta insurreição, o governo manda organizar uma coluna para se dirigir para o Cacheu, que, sob o comando do Capitão João Teixeira Pinto, era constituída por um 1º Sargento e 40 praças de infantaria, 15 praças de cavalaria do pelotão de policia rural, uma peça de 7 c. e respectiva guarnição e 200 indígenas auxiliares.
A força, que se encontrava em Cacheu a 2 de Janeiro de 1914, ruma ao Xuro e, depois de uma marcha de cerca de 8 horas, sempre debaixo de fogo, acampa pelas 21H30, reiniciando a marcha no dia seguinte, até ao local onde foi assassinado o Alferes Nunes, assim como a “Cacine” destruída.
Os revoltosos já se tinham retirado para Bagulho, para onde se dirigiu a coluna, para lhes dar combate e destruir a povoação.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe, Alferes do Quadro Auxiliar de Artilharia António Maria, 2º Sargento de Infantaria José Francisco Alhandra, 2º Sargento Enfermeiro Manuel Gomes Garcia, 1º Cabo de Infantaria João Rodrigues Faria e Soldado Casino.

Forças que constituíam uma coluna
© Foto: José Henrique de Mello

Operações contra os balantas de entre Mansoa e Geba em 1914 
Havendo necessidade de lançar uma ponte sobre o Rio Banubi, encarregaram o Alferes Manuel Augusto Pedro para escolher o local adequado a tal obra. Assim, em 5 de Fevereiro de 1914, o citado subalterno saiu de Mansoa à frente do seu pelotão para dar cumprimento à missão de que tinha sido encarregado.
Enquanto a patrulha desenvolvia a sua missão, foi a mesma atacada por numerosos balantas das tabancas de Braia e Banubi em tal numero que, além do comandante foram mortos os 1º Cabos António Pereira, os 1º Cabos Ferrador António Augusto de Sá Morais e Francisco Martins, assim como 15 Soldados indígenas que faziam parte da força. Foi o ataque levado até ao extremo, visto que até os cavalos foram todos abatidos.
O tiroteio foi ouvido em Mansoa, cujo comandante mandou sair uma força, comandada por um sargento, com o propósito de colher informações sobre o sucedido, tendo encontrado dois, dos seis soldados, que tinham escapado à chacina, que informou o comandante da patrulha do sucedido.
Mesmo consciente do risco que corria, dada a força diminuta de que dispunha, o 2º Sargento Romualdo Anastácio Lopes, tomou a decisão de se deslocar ao local daquela ocorrência para recolher os corpos dos camaradas tombados. Tendo sido atacado pelos revoltosos, respondeu ao tiroteio conseguindo repelir o ataque de que foi alvo. No local apenas pode recolher os corpos do 1º Cabo António Pereira, do 1º Cabo Ferrador António Augusto de Sá Morais e de um Soldado indígena, já que com a subida da maré os restantes corpos ou se encontravam cobertos pela subida das águas ou tinham sido arrastados. Recolheu os despojos dos camaradas e regressou ao quartel.
Perante estes factos, o Capitão João Teixeira Pinto organiza uma coluna que, sob o seu comando, inicia uma operação, que se prolongará por seis meses, fazendo guerra implacável e sem quartel aos autores e apoiantes do ataque sofrido, destruindo tabancas, mesmo aquelas que se supunham ser inexpugnáveis.
Toda a operação foi apoiada pelas canhoneiras “Zagalo” e “Flecha”.

Pelotão de Companhia Indígena 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Um 1º Sargento, no comando de 30 Praças da 2ª Companhia Indígena da Infantaria da Guiné;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 37 Praças da guarnição do Posto de Bissoram;
• Tenente Artur Sampaio Antas, no comando de 53 Praças da guarnição do Posto de Mansoa;
• Capitão Médico Cristóvão Joaquim do Rosário Colaço;
• Mamadu-Sissé, comandando 200 homens de guerra;
• Abdul-Injai, comandando 500 homens de guerra;
• 60 Irregulares a cavalo, que foram utilizados no serviço de exploração;
• Canhoneiras “Zagaia” e “Flecha” da Marinha de Guerra.

Distinguiram-se e foram louvados: 
Comando:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto;
• Armada:
o 2ºs Tenentes Artur Arnaldo do Nascimento Gomes e Raul Queimado de Sousa; 1º Artilheiro José Ferreira e 2º Artilheiro António Ferreira; 1º Fogueiro Domingos Moreira e 2º Fogueiro José Maria;
• Exército de Terra:
o 1º Sargento de Artilharia Alberto Soares; 2ºs Sargentos Vilaça, José Augusto Ribeiro, José Rodrigues Faria e Romualdo Anastácio Lopes.
• Civis:
o Vergílio Acácio Cardoso, administrador de Bissau.
• Auxiliares:
o Mamadu-Sissé, promovido a Alferes de 2ª Linha,
o Abdul-Injai, promovido a Tenente 2ª Linha.


Operações contra grumetes e papeis da ilha de Bissau em 1915
Chamar os indígenas, mesmo os grumetes e papéis da zona de Bissau, ao convívio e à civilização, ou mesmo à subordinação á nossa autoridade, era tarefa difícil.
Os desacatos eram frequentes e, até os soldados da guarnição de Bissau, eram desfeiteados já que as populações não permitiam que lhes fossem arroladas as moranças, para lhes ser cobrado o respectivo “imposto de palhota”.
Perante a situação, o governo da província entende organizar uma coluna para castigar os insubmissos e conseguir a cobrança dos impostos, o que efectivamente foi conseguido, embora à custa de grandes combates em Intim e Bandim, não só na marcha sobre Sanfim e no ataque à tabanca do régulo de Biombo, fazendo frente a uma força inimiga mais poderosa, aguerrida e bem armada, não evitando que centenas de baixas entre o gentio.
Exército de Terra:
Oficiais e forças presentes:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitães Médicos Francisco Augusto Regala e Alfredo Vieira;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra, Alfredo Fernandes de Oliveira, António José Pereira Saldanha e Agostinho do Espírito Santo;
• Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe;
• Tenente Farmacêutico Armando de Miranda Abelha;
• Alferes Joaquim Marques;
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.
Serviço de Saúde:
• 1 Sargento e 1 Soldado;
Artilharia da Guiné:
• 2 Sargentos e 10 cabos e soldados;
Guarnição da Fortaleza de Bissau:
• 2 Sargentos e 45 Cabos e Soldados;
Secção de Artilharia da Guiné:
• 55 Cabos e Soldados;
1ª Companhia Indígena:
• 4 Sargentos e 72 Cabos e Soldados;
2ª Companhia Indígena:
• 2 Sargentos
Secção de Depósito da Guiné:
• 2 Artífices:
Companhia de Saúde da Guiné:
• 6 Sargentos e 3 Soldados;
Auxiliares:
• 1500 Irregulares
Armada:
Oficiais e forças presentes:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa e Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira;
Canhoneira “Cacheu”:
• 1 Sargento e 8 Praças;
Canhoneira “Flecha”:
• 7 Praças;
Delegação Marítima de Bissau:
• 1 Oficial;

Coluna em tempo de descanso 
© Foto: José Henrique de Mello 

Distinguiram-se e foram citados os oficiais, praças e civis indicados:
Exército de Terra:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitão Médicos Francisco Augusto Regala;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra e António José Pereira Saldanha;
• 1ºs Sargentos Alberto Soares, António Ribeiro Vilaça, José Rodrigues Faria, João Baptista Lobo
• 2ºs Sargentos José Jacinto, João Rodrigues e José Batista Ramos Júnior (Serralheiro Ferreiro);
Armada:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa;
• Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira; •
Cabos Álvaro Pereira e António Germano (Fogueiro)
Civis e Auxiliares:
• Félix Dias, Jorge Karam, Carlos Cabral Adelino, Torquato Leandro Dias, João José da Costa Ribeiro e André Gares (francês);
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.


Operações em Bijagós em 1917 
Nos Bijagós, o gentio da ilha de Canhamaque revolta-se, obrigando o governo provincial a decretar o estado de sítio e enviando uma força para repor a ordem pública. Além do castigo que devia infringir aos revoltosos, simultaneamente a força encarregar-se-ia de estabelecer postos militares, para garantir o domínio do arquipélago.
As forças enviadas para os Bijagós levaram a bom termo a missão de que tinham sido incumbidas, apesar de terem feito uma campanha de cerca de oito meses, tendo tomado as tabancas de Inorei e Meneque e, a partir delas, subjugar os rebeldes e instalar postos militares em Bine e In-Orei.
As grandes dificuldades encontradas pelas nossas forças foram a densidade de mato, de onde eram atingidos, além de terem sofrido uma epidemia de beribéri, o que levou a muitas baixas entre as forças empenhadas na missão.

Destruição de tabanca 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Comando do Major Carlos Ivo de Sá Ferreira;
• Uma Companhia Indígena de Infantaria, sob o comando do Tenente Eduardo Correia Gaspar, auxiliado pelos Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Um troço de auxiliares do chefe de guerra e oficial de 2ª linha Mamadu-Sissé, sob a direcção do Tenente Alberto Sousa Guerra;
• Serviços administrativos chefiados pelo Tenente de Administração Militar A. M. Horácio de Oliveira Marques.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Sargentos Henrique Valente, Salvador Cipriano Ferreira e Vasco Pinto Fernandes;
• Administrador da circunscrição Tenente Jaime Augusto da Graça Falcão.


Operações de Policia na região de Baiote em 1918
O posto de Cassalol, na região dos baiotes, foi atacado pelos indígenas das povoações de Varela e Catão, em 19 de Outubro de 1918.
Nomeada uma coluna para fazer frente às hostilidades, entrando em combate com os revoltosos no dia 20, provocando-lhes inúmeras baixas, pelo que retirou para Cassolol, onde ficou até 1 de Novembro, para receber os grandes das povoações castigadas.
Após a apresentação dos vencidos às autoridades, a força retirou para Bolama, sendo dissolvida no dia 4 de Novembro.

Um régulo e a sua comitiva 
© Foto: José Henrique de Mello 

Composição da coluna:
• Comando do Capitão de Infantaria António Albino Douwens;
• Estado-maior com o Capitão António José Pereira Saldanha e Alferes António Alves Fernandes;
• 1ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 2 sargentos e 61 cabos e soldados;
• 2ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 1 sargentos e 22 cabos e soldados;
• Secção de Depósito da Guiné com 2 soldados;
• Companhia de Saúde da Guiné com 1 sargento e 1 soldado.


Operações de Policia na área do Comando Militar de Bissoram e circunscrição civil de Farim em 1919
Circunscrição de Farim – região do Comando Militar de Bissoram: Declaração do estado de sítio em Julho de 1919, em virtude de Abdul-Injai, régulo de Oio, se ter declarado em aberta rebelião, depois de três anos de abusos de autoridade, situação que o governo desculpou, face aos significativos serviços prestados, pelo mesmo, a Portugal nos muitos combates que travou na Guiné, demonstrando uma valentia e lealdade impar.
Pelos seus serviços a Portugal e à Guiné, foi promovido a Tenente de 2ª Linha, foi-lhe dado o regulado do Oio e, sendo chefe incontestado pela sua gente, foi um grande auxiliar do Capitão Teixeira Pinto e Tenente Sousa Guerra que, apoiado pelas suas gentes, auxiliou muito o governo da província a pacificar aquelas terras.
A causa próxima do estabelecimento do estado de sítio tem as suas origens em Abril de 1916, altura em que o régulo Abdul-Injai começou, com prepotência, a aplicar multas aos chefes da povoações limítrofes das usas, fazendo exigências várias, entre as quais, trabalhar nas sua terras sem direito a qualquer pagamento.
Tendo em conta a sua “folha de bons serviços”, foi sendo aconselhado a alterar a sua posição, não só em relação à administração mas também em relação aos povos seus vizinhos. Estes avisos e/ou conselhos não só não surtiram efeito como agravaram a situação, o que levou Abdul-Injai, em Abril de 1919, a atacar com a sua gente a povoação de Solinto-Tiligi e, em 29 de Maio do ano de 1919, apoderou-se das espingardas que a administração havia distribuído às populações do Cuhor.
Como condição para proceder à devolução das armas, exigia uma indemnização de 40 contos, além da percentagem de 10% do imposto de palhota cobrado em Mansoa, Oio, Costa de Baixo e Bissau.
A aceitação destas condições colocaria, o governo da província, em situação de subalternidade, levaram à constituição de uma coluna de polícia que, em 3 de Agosto de 1919, entrou em combate com as forças revoltosos, tendo aprisionado Abdul-.Injai e os seus mais directos colaboradores, que foram desterrados para Cavo Verde.
Abdul-Injai viria a falecer pouco tempo depois, terminando assim a vida de um aventureiro que prestou relevantes serviços à Guiné, mas também lhe criou grandes problemas, obrigando à adopção de medidas extremas para contrariar a sua atitude.
Nesta operação perdeu a vida o Alferes Afonso Figueira e 9 dos seus soldados.

Condensação de:
José Marcelino Martins
12 de Fevereiro de 2013
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

23 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11143: Para que a memória não se perca (1): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)
e
27 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se irá prolongar por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (3)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW

Campanha da Guiné, de 21 de Novembro de 1907 a 15 de Maio de1908 
Notava-se, no final do ano de 1907, em vários pontos da Guiné, um clima de sublevação latente, o que levou o Governador da Guiné, 1º Tenente da Armada Real João Augusto de Oliveira Muzanty, a requisitar reforços à metrópole, para fazer face a prováveis alterações na ordem pública na província.
Povos da margem esquerda do rio Geba revoltam-se, não acatando as ordens das autoridades e cometem ataques ás populações fiéis, que rapidamente se alastram até à região do Corbal [Corobal?].
Tendo em conta que a demora de tomada de posição, contra a rebelião, podia ser tomada como incentivo a outros focos de instabilidade, levou a que, de imediato o governador tomasse o comando de uma força que, em 27 de Novembro, constituída pelas forças disponíveis do Exército, da Marinha de Guerra e de auxiliares, e marchasse para a região revoltada do Cuhor onde o régulo beafada Infaly-Socó, incitou à revolta e ao ataque do nosso aliado Abdulay. A coluna atacou e destruiu as tabancas de Campampi, Furacunda e Sanhá.

© Imagem retirada de http://coisasdaguine.blogspot.pt/2011/05/150-campanhas-para-dominar-o-gentio-da.html [A. Marques Lopes]

Comando e forças utilizadas nesta operação: 
• Comandante: 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
• Chefe do Estado-maior: Capitão José Xavier Teixeira de Barros:
• Duas forças de desembarque da canhoneira “D. Luiz”, sob o comando dos 2ºs Tenentes da Armada José Francisco Monteiro e David Albuquerque Rocha;
• Força da guarnição dos Postos de Xime, Bambadinca e auxiliares, sob o comando do Alferes de Cavalaria Raul Carlos Ferreira da Costa;
• Serviços Marítimos de Comunicação sob a direcção dos 2ºs Tenentes da Armada José Estêvão de Campos França, Frederico Pinheiro Chagas e Carlos Prima Guimarães Marques.
Em consequência das acções de rebelião, muitas linhas telegráficas encontravam-se destruídas, pelo que em Janeiro de 1908, foi necessária a constituição de uma força para castigar os rebeldes e com a missão de restabelecer as ligações destruídas.

Destacamento para reparação de linhas telegráficas:
• Comandante: Capitão de Infantaria e Estado-maior Ilídio Marinho Falcão de Castro Nazaré:
• 20 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada David Albuquerque Rocha, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato da Fonseca, tendo como subalterno o Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa:
o 24 Praças do Depósito de Adidos,
o 2 Praças de Cavalaria, o 8 Praças de Artilharia com uma peça de 7 c.
o 30 Auxiliares indígenas.
Uma outra forma de rebelião, era o não pagamento do “imposto de palhota” ou impedirem a passagem de brancos pelas suas terras. Desta feita foram os Felupes, de Varela, a revoltarem-se. A coluna conseguiu os objectivos a que se tinha proposto, não só castigando os revoltosos mas provocando muitas baixas.

Destacamento destinado a bater os Felupes de Varela: 
• Comandante: Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz:
• 40 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada José Francisco Monteiro, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército:
o 23 Praças do Depósito de Adidos, comandadas pelo Tenente Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos;
o 52 Praças da Companhia Indígena de Atiradores, comandadas pelo Tenente José Caldeira Marques. Mesmo após os castigos infligidos aos fulas da margem esquerda do rio Geba, e aos Felupes de Varela, não evita que o clima de instabilidade esmoreça pelo que, o governador, dispondo já de mais meios e forças, decide formar nova coluna e tomar a iniciativa, a fim de não ser surpreendido.
O Governador Muzanty, a frente da coluna, derrota os rebeldes de Gan Turé, Sambel Iantá, Gan Sapateiro e ocupa a região de Cohor, libertando a navegação do rio Geba, e destrói, também, as povoações de Intim, Bandim e Contumbe.
Com a aproximação da época das chuvas, a coluna regressa à praça de Bissau em 12 de Maio de 1908.  

Coluna de operações contra Balantas, Papeis, Fulas e outros em Abril de 1908: 
Comando:
• 1º Tenente da Armada João Augusto Oliveira Muzanty;
Estado-maior:
• Capitão de Infantaria Ilídio Marinho Falcão Nazaré, Tenente de Cavalaria D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho, 2º Tenente da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Tenente Belmiro Ernesto Duarte Silva, Capitão de Administração Militar Joaquim Simões da Costa;
Armada Real - Oficiais da guarnição das canhoneiras “D. Luiz” e “Zambeze”:
• Capitães Tenente Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira, Alberto Carlos Aprá e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2ºs Tenentes Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, Alfredo de Sousa Birne, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias, José Estêvão de Campos França, José Proença Fortes, José Francisco Monteiro, Frederico da Silva Pinheiro Chagas e David de Albuquerque Rocha;
• Guardas Marinha: António José Martins e Sebastião José da Costa;
• Maquinistas: Pedro Mário Pacheco Consiglieri, Henrique Guilherme Fernandes, e Francisco Rodrigues Pinto;
• Médicos Navais: Alberto Goulard de Medeiros, João Antunes Leite e José António Andrade Sequeira;
• Comissários: António M. de Azevedo Machado Santos e José da Cunha Santos;
• Aspirantes da Administração Naval: Armando Heitor Aranha, Orlando A. de C. Braga, António de Campos Andrada e António Pereira da Silva Teixeira.

Desembarque de tropas expedicionárias da metrópole 
© Foto: Postal de colecção / Autor desconhecido 

Exército de Terra:
Secção de Engenharia:
• 3 Sargentos e 9 Soldados;
Bateria de artilharia de guarnição da província:
• 69 Praças sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato Gomes da Fonseca e dos oficiais: Tenente Luiz Monteiro Nunes da Ponte; Alferes António Carlos Cortêz e António dos Santos (quadro auxiliar de artilharia).
Infantaria 13, do Reino (Vila Real):
• Capitães Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Tenentes: Francisco de Almeida, José Dias Veloso, António José Ferreira, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha e Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos; Alferes: António Luiz Alves, Jaime Raul Sepúlveda Rodrigues, Jaime Vítor Duque (morto) e Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição.
Companhia Mista Europeia:
• Capitão José Carlos Botelho Moniz; Tenentes: João Caldeira Marques e Afonso Henriques Alves Xavier. Serviço de Saúde:
• Capitão Médico Francisco Augusto Regala, Tenente Médico Manuel de Jesus Suzano; Tenente do quadro colonial: António Maria Marques Perdigão, Eduardo Pereira do Vale, António de Freitas Ferraz e José de Pinho Cruz Júnior e Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores.
Serviços Administrativos:
• Tenente da Administração Militar Frederico Xavier da Silveira Machado.
Voluntário civil:
• João Baptista Fortes.
Para completar o esforço desenvolvido nas operações 1907-1908, em 17 de Novembro de 1908, uma força de marinha e auxiliares leva a efeito uma operação contra os balantas em Conó-Cumba, Chumbel, Blassi, Assagre e Nhafó, que tinham perpetrado vários roubos de gado, pelo que foram severamente castigados com bastantes baixas e recuperando grande parte do gado roubado.

Grupo de Oficiais em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

Foram louvados os seguintes oficiais e praças: Comandante da Campanha:
• Governador-geral e 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
Armada Real:
• Capitães Tenentes Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2º Tenentes da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias e Frederico da Silva Pinheiro Chagas;
• Aspirante da Administração Naval António Pereira da Silva Teixeira,
• 2ºs Sargento: João Duarte, João da Silva, Júlio Simplício Teles de Sousa, Adelino José das Neves Coelho e António Rodrigues da Costa,
• Cabos: António Moreira, Cocufate Joaquim Torres, Filipe de Barros e Manuel das Dores;
• 1ºs Marinheiros: António Joaquim da Cruz, Luiz da Silva, Joaquim Bento António Cândido Russo, Roberto Montero e Joaquim da Silva;
• 2ºs Marinheiros: António Augusto Barbosa, Joaquim dos Santos (Chegador) e José Dias (1º Artilheiro):
• 1º Grumete: José Martins.
Exército de Terra:
• Capitães José Carlos Botelho Moniz; Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Viriato da Fonseca, Ilídio Marinho Falcão Nazaré e Joaquim Simões da Costa;
• Tenentes Francisco de Almeida, José Dias Veloso, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha, Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição, D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho e Belmiro Ernesto Duarte Silva;
• Tenentes Médicos Manuel de Jesus Suzano e Eduardo Pereira do Vale;
• Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores;
• Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa;

Grupo de Sargentos em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

• 1ºs Sargentos: Manuel Pinto da Fonseca, Augusto Maria da Silva Flores, João José, João Machado Toledo, Manuel Tomé e António Monteiro;
• 2ºs Sargentos: João Maria dos Santos, Eduardo Augusto de Morais e Silva, Alfredo Alves da Silva, Manuel Azevedo, Abel Andrade Largo, José Paulino Rodrigues, Alexandre Francisco Ferreira Sarmento, Luiz de Carvalho Villaura, Estêvão Dias da Cruz, Jaime Garcia de Lemos, Alfredo Acácio Afonso, Salomão António Soares, Sabino da Conceição de Carvalho Ventura, José Afonso Lonha, José Pinto de Sousa Júnior, João José Cardoso, Manuel Joaquim Gonçalves Júnior, Alberto Augusto de Araújo (Serralheiro Ferreiro) e José Francisco Alhandra (Carpinteiro);
• 1ºs Cabos: Francisco Rodrigues Calçona, Virgílio Vieira de Vasconcelos, Manuel Monteiro, João Ferreira da Costa Júnior, Domingos dos Santos, Josué Alves Pinto Pinheiro, António Francisco da Encarnação Martins, Manuel Martinho (Ferrador) e António Gomes (Corneteiro);
• Soldados: Joaquim Maria, Raul de Jesus, José Dias, Manuel Luiz, Manuel dos Santos e Augusto Alves;


Operações Militares contra os balantas na região de Goli em 1909
No início do ano de 1909, o Governo Provincial decide instalar, na região de Goli, um posto militar, mas esta decisão não foi bem aceite pela população balanta que, a 21 de Fevereiro de 1909, atacam o referido posto. Esta acção foi repelida com violência, deixando, os revoltosos, muitos mortos no terreno.
Apesar dos factos registados, as populações continuaram a movimentar-se e notava-se no ar algo de preocupante: preparavam-se para um ataque de maior envergadura.
Foi então decidido que a guarnição do posto fosse aumentada com tropas de infantaria e de artilharia, assumindo o comando do posto o Capitão do Estado-maior Ilídio Marinho Falcão Nazaré.
Quando os soldados se tinham que afastar do posto, no exercício das suas funções, acentuavam-se as ameaças da população. Foi então nomeada uma coluna, para reconhecimento da zona, constituída por parte da guarnição do posto, reforçada por um destacamento da 9ª Companhia Indígena de Moçambique, comandadas pelo 2º Tenente da Armada Casal Ribeiro, com o apoio do Chefe de Guerra Abdul-Injai e das suas gentes. O reconhecimento deslocou-se até Calicunda e, encontrando o inimigo, iniciou o regresso, tendo reconstituído a passagem do Chumbal.
A 4 de Março desse ano, o mesmo oficial organiza e comanda uma nova coluna que se dirige a Nhacé, sendo atacada violentamente pelo inimigo, sendo repelido e levado de vencida até Berraam. Depois, os auxiliares, dirigiram-se ate Date, destruindo todas as povoações dos revoltosos.


Operações contra os balantas de Bissau e baiotes de Cacheu em 1912
Mais uma vez, nas áreas de Elia e Jobel, foram palco de revoltas por parte de balantas de Bissau e baiotes de Cacheu, em Fevereiro de 1912, que viriam a ser reprimidas por voluntários civis de Bissau, Cacheu, Bolama e da Liga Guineense, comandados pelo Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz.
A coluna desembarca em Inhome, a 27 de Março, derrotando os revoltosos em Binar, Gicasse, Satará e Tama, seguindo a 2 de Abril para Jobel, destruindo as povoações que, pelo caminho lhes ofereciam resistência, chegando no dia 4 a Elia, onde travou combate e venceu os revoltosos.
A coluna ainda se dirigiu a Cajegute, a 7 de Abril, onde impôs ao régulo manjaco a devolução do produto de um roubo efectuado pela sua população. Tendo sido feita a devolução do mesmo, a coluna regressa a Bissau, sendo dissolvida.


Operações no Mansoa e Oio em 1913
A índole guerreira e agressiva era exteriorizada, orgulhosa e altivamente, pelos povos das regiões de Mansoa e Geba, manifestando insubmissão e desrespeito pelas autoridades portuguesas, por se julgarem invencíveis.
A situação de desobediência, indisciplina e provocação aumentam, pelo que surge o momento de colocar um fim a estes actos, entendendo o governo da província colocar um fim nestes acontecimentos.
Foi então organizada uma coluna que, sob o comando do Capitão Teixeira Pinto com a colaboração da Marinha de Guerra, infringe forte castigo aos insurrectos, provocando-lhes pesadas baixas.
Os factos mais relevantes resultantes destas operações são a ocupação de Mansoa de 29 de Março a 22 de Abril, com o apoio da canhoneira “Flecha”, o estabelecimento de um posto militar em Porto-Mansoa, e a ocupação da região do Oio de 14 de Maio a 16 de Junho, com o apoio da canhoneira “Zagaia”, e o estabelecimento de um posto militar em Mansoa.
Tomaram parte na expedição, as seguintes forças: 
Comando:
Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, coadjuvado pelos Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
Artilharia: 1 Sargento, 4 cabos europeus e 4 soldados indígenas, com uma peça Krupp de 8 c.;
Auxiliares: 400 Irregulares indígenas de Abdul-Injai;
Administrador de Geba: Vasco de Sousa Calvet de Magalhães com 80 homens armados;
Canhoneira “Flecha”: 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa;
Canhoneira “Zagaia”: 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro
Serviços de transporte: vapor “Capitania”, motor “Cocine”, lanchão “Cacheu” e lanchas “ Rio Geba”, “Santa Isabel”, “Clementina”, “Coffka II”, “Simone” e “Avé Maria”.
Distinguiram-se e foram citados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto; Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 2º Sargento António Ribeiro Vilaça, 1º Cabo António Ribeiro Möens (empregado da casa Soller Charles Magne);

Empregados de uma casa comercial estrangeira 
© Foto: José Henrique de Mello 

• Vasco de Sousa Calvet de Magalhães (Administrador de Geba), auxiliares indígenas Abdul-Injai e Bacari-Suncaro;
• Comandantes da Canhoneira “Flecha” 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Canhoneira “Zagaia” 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro, do vapor “Capitania” Adolfo dos Santos, da motor “Cocine” Alfredo Martins e da lanchas “ Rio Geba” Francisco Maria.

(Continua) 
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Nota do editor:

Vd. poste anterior de 25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)