terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16940: Recortes de imprensa (83): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado pro Fernando Delfim Silva e Oscar Oramas ("Nô Pin«tcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte I




1. Um dos nossos amigos da Guiné-Bissau chamou-nos a atenção para um artigo de homenagem à memória de Fidel Castro (1926-2016), por ocasião da sua morte, no passado 25 de novembro, publicado no jornal "Nô Pintcha", e que seria da autoria de Fernando Delfim Silva, conhecido ex-governante, professor universitário e analista político. Recorde-se que esta publicação (, primeiro semanário e agora bissemanário)  tem hoje mais de 40 anos, tendo sido criado em 1975. Tem um sítio na Net desde 2010. É considerado um jornal oficial ou oficioso [, não percebo muito bem qual é o seu estatuto editorial atual...].

Foi-nos inclusive remetido um recorte (parcial) desse artigo, digitalizado, mas com fraca resolução. O artigo foi reproduzido no portal do jornal "Nô Pintcha", de 1 de dezembro de 2016, mas sem indicação de autor. Pode ser lido aqui na íntegra: título: "Morrel El Comandante".

Com a devidas vénia, e para conhecimento de uma comunidade de leitores lusófonos mais vasta do que a dos leitores habituais do "Nô Pintcha", vamos reproduzir aqui, em duas partes, alguns excertos desse extenso artigo...

O nosso destaque vai em particular para a "ajuda internaciionalista" cubana ao PAIGC, sobre a qual temos publicado aqui vários postes nos últimos tempos.  É um tema ainda muito pouco conhecido dos antigos combatentes portugueses que estiveram no TO da Guiné. A principal fonte citada ainda é a cubana, neste caso o livro do antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri,  Oscar Oramas. Pode ser que, entretanto, surjam outras fontes. De r4esto, tanto em Cuba como na Guiné-Bissau é que, só muito lenta e tardiamente, e nalguns casos muita tardiamente de mais, é que se começa a recolher, tratar e divulgar informação até há pouco classificada...

Os subtítulos e os negritos são da responsabilidade do autor [, Fernando Delfim Silva],  bem, como os parênteses curvos. Os parênteses retos da nossa responsabilidade (LG).


2. Recortes de imprensa > O apoio de Cuba à luta de guerrilha do PAIGC > Parte I


Excertos de: "Nô Pintcha", Bissau, de 1 de dezembro de 2016 >  "Morrel El Comandante". [com a devida vénia...]


[...] Fidel, Amílcar e nós

[...] Fidel “descobriu” Cabral através do Comandante Che, que em 1965 andou pela África “espalhando” generosamente a solidariedade do povo cubano para com os povos africanos, incluindo nessa onda solidária, os combatentes guineenses e cabo-verdianos unidos no PAIGC. Che encontrou-se com Cabral, e, claro, contou a Fidel. Só no ano seguinte (1966), Fidel e Cabral se vão encontrar, em Havana, na Conferência internacional -chamada “Tricontinental – de solidariedade com os povos em luta, da África, Ásia e América Latina.Da empatia, nasceu a amizade, a admiração, o respeito entre os dois homens, dois líderes.

O Comandante Che Guevara primeiro; o Comandante Fidel a seguir, ambos cristalizama mesma imagem valorativa: Amílcar Cabral era, já em 1966, o mais impressionante dos líderes africanos; alguém que transmitia confiança, um homem em quem se podia confiar: sério, inteligente, responsável, competente nas coisas que fazia, carismático. [...]

[...] Cabral e a revolução cubana

Cabral, por sua vez, não só admirava Fidel: a revolução cubana foi para ele uma das suas fontes de inspiração; ficaria definitivamente impressionado com a ética dos seus dirigentes, a começar pela do seu líder, Fidel. Na sua muito discutida tese de “suicídio da pequena burguesia”, o pano de fundo que está lá é o peso, digamos assim, do fator subjetivo, a importância da qualidade politica e moral dos dirigentes e quadros, o papel primordial do líder. Alias, Cabral, disse-o, explicitamente: tomem o exemplo de Cuba, o compromisso ético, a atitude moral da liderança cubana. O exemplo pessoal que os dirigentes devem transmitir à sociedade – de abnegação, do espirito de sacrifício, de entrega total ao bem comum -, sob pena de trair a confiança do povo, trair os objetivos progressistas da revolução, romper o contrato social [...]

Cuba > Havana > Janeiro de 1966 > Amílcar Cabral com Fidel Castro, em Cuba por ocasião da Conferência Tricontinental.

Fonte: Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral. (Com a devida vénia...)

Citação: (1966), "Amílcar Cabral com Fidel Castro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43973 (2016-10-11)



[...] O fator cubano

Agora passo a palavra a Óscar Oramas, discípulo de Fidel, companheiro de Cabral, logo, um amigo do povo guineense. Faço-o à intenção da juventude guineense, que precisa de conhecer o que se fez no passado, de um passado de orgulho nacional, de um passado de dignidade que outrora se construiu com a solidariedade dos cubanos, com sangue cubano, com a valentia dos soldados de Fidel.

As palavras, como já o disse, são de Óscar Oramas; a sua seleção e arrumação bem como os subtítulos – dos excertosdo seu livro Amílcar Cabral, Para além do seu tempo– já são da minha responsabilidade.[...]


[,,,] Che e Amílcar


[,,,] Entre os compromissos estabelecidos por Che em África figura o apoio material e politico ao PAIGC. Como consequência disso, no mês de abril de 1965 parte do porto de Matanzas o barco cubano “Uvero” com um considerável carregamento de alimentos, medicamentos e utensílios médicos, uniformes, alfaias agrícolas e armas com destino a esta organização, assim como a outros movimentos revolucionários africanos. (...)


O Comandante Jorge Serguera, então Embaixador de Cuba em Argélia, cumprindo as orientações de Che, a quem havia acompanhado no périplo africano, espera o cargueiro em Conakri (aonde que chega a 11 de maio), e faz a entrega da primeira ajuda solidária cubana ao PAIGC.


Paralelamente, intensifica-se a preparação de militares cubanos (…) que, voluntariamente se oferecem para apoiar os movimentos de libertação africanos (...)


(...) Em dezembro desse mesmo ano, viaja para Havana uma delegação do PAIGC, conduzida por Amílcar Cabral e integrada (…) por Domingos Ramos, Pedro Pires, Joaquim Pedro Silva (Baró) e Vasco Cabral, para participar na I Conferência de Solidariedade com os Povos da África, Ásia e América Latina (Conferência Tricontinental) que se celebra de 3 a 9 de janeiro de 1966.


Convidado por Fidel, Amílcar Cabral percorre com elea Sierra del Escambray, situada a sul do centro da Ilha, onde conhece “in situ” passagens importantes da guerra revolucionária cubana (…) Óscar Oramas que acompanha Fidel no percurso com Amílcar, é designado Embaixador de Cuba na República da Guiné, com o objetivo central de manter relações bilaterais com o PAIGC.


Amílcar explica a Fidel das necessidades materiais que o PAIGC enfrenta para desenvolver a gesta libertadora e o Chefe da revolução cubana promete-lhe ajuda em assessoria e equipamento militar, assim como pessoal de saúde.,


.Março de 1966 – O Comandante em Chefe informa o Presidente Sékou Touré, por intermédio do Embaixador Oramas, da decisão cubana de ajudar o PAIGC e solicita autorização para encaminhar essa ajuda através do território guineense. O Presidente aceita o pedido de Fidel Castro.


Umas semanas depois de concluída a Conferência Tricontinental, parte para Conacri uma pequena delegação militar encarregada de conhecer no terreno a situação da luta armada, para determinar o apoio militar que Cuba poderá dispensar, contribuindo para o desenvolvimento da luta.


Maio de 1996 – partem para a República da Guiné os primeiros grupos de assessores militares e médicos cubanos que colaborarão como PAIGC. Um grupo de sete companheiros fá-lo por via aérea, e outro de duas dezenas, fá-lo no navio Lídia Doce, levando, ainda, uma nova remessa de material para apoiar a guerra de libertação. (…)


Os primeiros cubanos que haviam chegado, anteriormente, para explorar as condições existentes na guerra pela independência nacional guineense e que haviam sido enviados para a região de Boé, na Guiné-Bissau, são chamados no mês de junho à República da Guiné para uma reunião com Amílcar Cabral, na Escola do PAIGC na zona de Ratoma, onde são apresentados aos dirigentes da organização que ali se encontram. O ambiente é de alegria e com o decorrer do tempo estabelece-se uma grande confiança entre uns e outros, baseado no respeito mútuo.Durante a estada dos primeiros instrutores cubanos na zona de operações de guerrilha de Boé, observam-se algumas deficiências no “modus operandii” da guerrilha (…)


Uma vez distribuídos os assessores cubanos pelas diferentes frentes de guerrilha com base nas decisões de Amílcar a vida diária vai demonstrando a impossibilidade de assessorar e corrigir a tática da luta sem a participação direta nas ações.A primeira operação de envergadura que se realiza com a participação dos assessores cubanos é a efetuada contra o quartel português de Madina de Boé, em 10 de novembro de 1966 [em que morre Domingos Ramos, LG]

[...] O Comandante Victor Dreke (, Moja, o “Moia”, para os guineenses, ) assume o comando da missão militar cubana (Fevereiro de 1967)


Amílcar Cabral decide então que um grupo de assessores militares cubanos, que se encontra no Sul, seja transferido para Frente Norte, juntamente com alguns médicos. (…) Com o objetivo de as Frentes Norte, Leste e Sul ficarem, assim, cobertas com a assessoria militar e médicos cubanos.

A experiência no Sul havia sido muito satisfatória tanto com o Chefe da Frente João Bernardo Vieira (Nino), como com Úmaro Djaló, Arafan Mané e outros chefes e combatentes. Na verdade, no Norte havia algum receio e inclusive alguns chefes militares manifestaram o seu desacordo com a presença cubana nessa região. A atitude do segundo Comandante da frente Norte, Chico Mendes, difere por completo da dos outros chefes, como Inocêncio Kani (…)

A presença miliar cubana é acompanhada de uma importante ajuda em armamentos que a União Soviética fornece ao PAIGC. Em muitos casos os soviéticos forneciam novos armamentos, que nem sequer eram do conhecimento dos assessores cubanos, e que são testados nos campos de combate na Guiné-Bissau. Assim, o PAIGC recebe lança-roquetes GRAD [, e não GRAP, também conhecidos como o "jato do povo", LG], canhões sem recuo de 82 mm, e roquetes portáteis Strela 2 que só tinham sido usados pelos soviéticos em manobras internas, mas cuja eficácia real em combate ainda não conheciam. Os soviéticos solicitam aos assessores cubanos informações sobre a eficiência de tais armamentos em combate real.

Não se pode negar a importante contribuição que significou a ajuda soviética, mas deve ficar claro que jamais um soviético passou para além de Boké, na República da Guiné, e que os únicos estrangeiros que participaram, diretamente, nas ações da luta de libertação, ombro a ombro com os guerrilheiros guineenses, foram os cubanos. [...]

(Continua)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P16939: Parabéns a você (1193): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 3365 e CCAÇ 16

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16933: Parabéns a você (1192): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16938: Efemérides (242): Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)



1. Mensagem do Mário Pinto [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]



Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano


Camaradas,


Vai decorrer no próximo dia 9 de Abril de 2017, uma homenagem pela Câmara de Beja, no dia do Combatente, ao Sold. Vitor Manuel Parreira Caetano, da minha CART. 2519, falecido em combate.

Junto a comunicação que recebi via e-mail.

Um abraço
Mário Pinto






Proposta de homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano

Na sequência de diligências efectuadas no sentido de dar continuidade ao processo referido informo os interessados que:

1- Em 27 de Agosto de 2014 em reunião da Junta de Freguesia de Beringel e uma vez que não havia registos da doação da sepultura perpétua em que se encontra foi deliberado registar a doação em acta ficando assim regularizada a situação;


2- Em reunião ordinária da mesma Junta de 07/10/2016 foi aprovada por unanimidade a Proposta de Homenagem ao Soldado Vitor M.P. Caetano a realizar em 09 de Abril de 2017, por ocasião das comemorações do Dia Nacional do Combatente .


Nota: a data é por enquanto indicativa mas curiosamente coincide com o Aniversário de nascimento de Homenageado.


O programa será apresentado oportunamente.

Cumprimentos a todos os Ex-Combatentes

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Nota do editor

Último poste desta série:

2 DE DEZEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16792: Efemérides (241): 98º aniversário do Armistício da Grande Guerra: Núcleo de Loures da Liga dos Combatentes, em colaboração com a Câmara Municipal de Loures: homenagem aos combatentes tombados durante a Grande Guerra e da Guerra do Ultramar, em 13/11/2016 (José Martins)

Guiné 61/74 - P16937: Memórias de Gabú (José Saúde) (66): Noratlas


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem, desta sua série.

As minhas memórias de Gabu

Noratlas

Os estridentes sons que rompiam no horizonte

O Noratlas é um avião de transporte militar de construção francesa, sendo que o asa delta foi um bimotor construído pela Nord-Aviation na década de 1940. Ao que se sabe o número de exemplares iniciais terão rondado os cerca de 400 exemplares e o concurso público lançado pela Força Aérea Portuguesa para a sua aquisição registou-se em 1947, encomendando-se então dois protótipos os quais foram construídos no ano seguinte.

Conhece-se, porque é real, que a aeronave foi substancialmente utilizada pela Força Aérea na guerra colonial, ou guerra do Ultramar, como muitos dos camaradas preferem chamar-lhe. Não vamos pois entrar pelo campo do pormenor, tão-pouco alimentar opiniões que cada um perfilha e que muito respeitamos.

Em Gabu passei horas infinitas a fazer proteção avançada ao dito cujo. Os estridentes sons dos motores do Noratlas perdiam-se nos azulados céus guineenses e na imensidade de um horizonte sempre infindável.

Se o aterrar e o levantar voo na pista nova de Gabu era por vezes muito rápida, outras ocasiões havia em que todo o processo se protelava no tempo. Logo, a duração da visita, em chão fula, obedecia a desconhecimentos de causa horária que levava o pessoal da proteção avançada nunca consumir informações plausíveis sobre uma previsível inconstância temporária entretanto deparada. Sentíamos, sim, que situações houve em que os ponteiros do relógio, embora rolando de mansinho, atiravam o pessoal para o desespero.

O Noratlas era um aparelho possante e que servia para transportar as tropas e outros bens que as hostes militares sediados no mato muito bem acolhiam. Mantimentos frescos, entre outros, ou ainda correio, proveitos religiosamente sempre esperados com ansiedade.

Voei no Noratlas quando se deu a nossa retirada de Gabu. Creio que no dia 5 de setembro de 1974, se a memória não me falha e após a entrega do aquartelamento ao PAIGC. O seu interior era substancialmente amplo. Os bancos eram colocados nas laterais, sendo o barulho dos motores ensurdecedores.

Mas como a viagem se pautava pela alegria do regresso a Lisboa, sendo que pelo meio ficou uma breve estadia no Cumeré, os sons vindos dos ditos motores era matéria de somenos importância.

Sei que o trajeto entre Gabu e Bissau deixou-me saudades. Foi a primeira vez que experimentei viajar a bordo do Noratlas. Claro que o desconforto da aeronave foi coisa de menor importância.

O meu registo do avião passava pelas muitas horas em que me aprontei com o meu grupo a defender a sua segurança. Ou, noutras ocasiões em vê-lo, por fora, para recolher o material transportado para a região de Gabu, sob o controlo do BART 6523. 

E foi precisamente numa dessas tarefas que morreu o soldado Damásio. Eis um pequeno texto que retirei do meu livro “GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, que relata o fatídico fim:

“Em parte incerta da obra “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, tive o cuidado em expressar, com enfâse, que houve mortes que nada tiveram a ver com o conflito. Sou testemunha de uma morte estúpida, e única, de um soldado da CCS do meu Batalhão na pista de aviação, numa situação considerada aparentemente normal e quando nada o fizesse prever. Mas infelizmente aconteceu.

Coube-me a tarefa para tratar o assunto de perto. Chamava-se simplesmente Damásio e era um dos soldados do meu grupo. Numa manhã, perfeitamente vulgar, o soldado Damásio integrou um grupo cujo objetivo único passava por descarregar bens alimentícios originários de Bissau e que vinham a bordo de um avião. Fez-se o habitual cordão para facilitar o serviço, sendo que o Damásio se colocou entre as duas viaturas destinadas ao carregamento.

Num ápice, uma das viaturas tentou a aproximação a outra que se encontrava estacionada por perto e numa manobra arriscada – marcha atrás – embateu na traseira da outra, sendo que o embate ficou marcado, infelizmente, pela morte imediata do Damásio que naquele momento se encontrava entre as duas viaturas. Foi horrível. Morreu esmagado.

Como um dos líderes do grupo, tive a missão de organizar o espólio do infeliz Damásio e enviá-lo depois para a família. Não foi fácil lidar com toda a situação. O Damásio era um moço educado. Fazia amigos, facilmente. E eu fui um deles. Sei que guardei durante vários anos um documento onde tinha descriminado todas as suas pertenças pessoais que na altura mandei para os seus familiares. Nada faltou. Lembro-me do derradeiro adeus. As lágrimas dos camaradas que viram partir para a eternidade – a tal viagem sem regresso – um jovem que vivia, certamente, um mundo de sonhos.  

Senti, na altura, o vazio nas almas que se abateu sobre os seus familiares. Como explicar-lhes tamanha fatalidade! E nós, homens que convivíamos com ele diariamente, lá longe sem nada podermos transmitir aos seus entes queridos. Impunha-se aconchegar o seu profundo desespero, todavia a distância ditava, apenas, o carpir mágoas pelo seu infeliz último adeus. Ficavam as amarras do silêncio. 

O Damásio ficou-me eternamente na memória.  Até sempre, camarada!"


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE NOVEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16696: Memórias de Gabú (José Saúde) (65): Ramos, Furriel Miliciano/Ranger que desertou para o PAIGC



Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1 B


Foto nº 1 C


Foto nº 2


Foto nº 2 A


Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > O comandante do destacamento em traje mandinga.


Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Ediçãor: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luis Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

O lisboeta Luís Mourato Oliveira, com família materna na Lourinhã, era de rendição individual... Veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, para fazer formação antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá.


Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão, em agosto de 1974, 

Eis algumas fotos do tempo em que o alf mil Luís Mourato Oliveira passou no destacamento de Mato Cão, cuja principal missão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca.

Destaque para as foto nº 1 e 2: o comandamte do destacamento em traje...mandinga

 Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime. Por lá passaram diversos camaradas nossos, membros da Tabanca Grande...

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Guiné 61/74 - P16935: Notas de leitura (918): O tráfico de escravos nos rios de Guiné e ilhas de Cabo Verde (1810-1850), por António Carreira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
António Carreira é indiscutivelmente o primeiro obreiro nas investigações acerca do tráfico de escravos nos rios da Guiné, tendo-as confrontado com o seu impacto no arquipélago de Cabo Verde. Este estudo privilegia o período crítico da abolição da escravatura, decidida pelas grandes potências que estavam a postos para entrar em África. Carreira remonta a sua análise a séculos anteriores e mostra como a nossa presença era tão débil que os negreiros estrangeiros por ali circulavam impunemente. E abolida a escravatura, as autoridades de Londres matraqueavam constantemente Lisboa para que fizesse algo que impedisse o tráfico ilícito. Ficamos igualmente a conhecer quem eram os grandes traficantes instalados na Guiné, antes e após a abolição da escravatura. Estes escravos foram predominantemente para o Brasil (Maranhão e Pará) e para as Antilhas, preferencialmente para Cuba.

Um abraço do
Mário


O tráfico de escravos nos rios de Guiné e ilhas de Cabo Verde (1810-1850)

Beja Santos

Em 1981, a Junta de Investigações Científicas do Ultramar dava à estampa um ensaio a que o seu autor, António Carreira, denominou “subsídios para o seu estudo” do tráfico de escravos, no momentoso período da abolição da escravatura e do controlo praticado pelas autoridades britânicas.

Carreira tinha à sua disposição uma matéria-prima indiscutível, os livros alfandegários. Porque os navios que se dirigissem àquelas paragens, quer dos contratadores, quer dos traficantes, teriam obrigatoriamente de registar a entrada na Alfândega da Ribeira Grande, de Santiago, e aí receber o língua (intérprete) para então rumar aos rios. E completada a carregação do navio, este era obrigado a voltar à Ribeira Grande a fim de fazer o despacho, pagar os direitos e então seguir para os portos de destino. Nas praças da Guiné fazia-se o controlo da saída de escravos, era deste modo que se assegurava os recursos financeiros derivados da ocupação das ilhas de Cabo Verde, procedimento que não agradava às autoridades dos rios, e muito menos aos traficantes. A Coroa tinha plena consciência do papel da Ilha de Santiago no apoio ao comércio dos rios e à navegação de longo curso para o Brasil.

Após a Restauração, surgiu a ideia de autorizar o despacho dos navios nos portos de carregamento em vez de irem fazê-lo a Cabo Verde. Há um despacho do Concelho Ultramarino que nos permite saber que “antes da aclamação de El-Rei D. João IV saíam todos os anos de Cacheu para as Índias de Castela 2 ou 3 mil escravos e agora não chegavam 600”. E assim se legalizou a saída direta dos rios da Guiné para o Brasil dos navios de escravos. Aumentou o tráfico clandestino, era impossível a quem estava em Cacheu, Ziguinchor e Bissau inspecionar tão vastíssimas águas. Em litígio com Espanha, o monarca português pretendia dificultar ao máximo o fornecimento de escravos às Índias de Castela, fazendo desviar a corrente do tráfico para o mercado do Brasil. Mas não foram medidas as consequências de que tal medida vibrava um duríssimo golpe a toda a economia de Cabo Verde. Entretanto, a Coroa pretendeu dar alguma autoridade à Praça de Cacheu: criaram-se cargos de Provedor da Fazenda Real, de Feitor e de Escrivão; passou a exigir-se a rigorosa escrituração dos direitos cobrados e, ainda, que “os navios que saírem de Cacheu, em direção ao Brasil serão obrigados a apresentar certidão do número de escravos despachados naquela praça”. Logo a seguir, outra lei procurou corrigir ou atenuar os efeitos da anterior, isentando pessoas que da Guiné embarcassem escravos para Cabo Verde a pagar direitos. Como observa Carreira, a medida foi habilmente aproveitada pelos traficantes sediados em Cabo Verde que passaram a comprar escravos nos rios, traziam-nos para o arquipélago e depois exportavam-nos para as Antilhas e o Brasil. No final do século XVII, deu-se ordem à Companhia de Cacheu e Cabo Verde a construir a fortaleza de Bissau.

Voltando à questão das taxas de direitos a incidir sobre escravos, os regimentos e provisões mostravam-se formalmente rigorosos: a proibição de qualquer tipo de comércio com estrangeiros; a perseguição dos tangomaos nos rios da Guiné; a fiscalização rigorosa de todos os escravos e marfim antes dos navios partirem.

É nestas consultas que Carreira consegue apurar números sobre os escravos. No período de 1756 a 1777 em que o setor dos rios de Guiné e Cabo Verde esteve sob a administração direta da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão esta empresa exportou mais de 20 mil escravos para o Maranhão, para o Pará e para Cabo Verde. Carreira adianta que os números compulsados andarão longe da realidade, terão saído mais escravos do que os registados.

Em fins do século XVIII, o governo criou a Sociedade do Comércio Exclusivo das Ilhas de Cabo Verde e Rios da Guiné, era a sucessora da Companhia do Grão-Pará. Pouco se conhece da sua atividade. Conhecem-se os direitos de saída exatamente no momento em que se prepara a abolição da escravatura. A tabela pela entrada estipulava o seguinte: escravo lotado, 1800 réis; mascavado, 1200 réis; mulecos, 900 réis, mulecos fêmeas, 800 réis; mulecos mascavados, 400 réis.

A economia cabo-verdiana afundava-se, e a agravar o estado geral da crise sobreveio a grande fome em 1772-1774 que vitimou cerca de 22 600 pessoas numa população de 70 000. A economia das ilhas apoiava-se no apanho da urzela e da tecelagem de panos da terra. A urzela dora desde sempre o produto-base de exportação para a Europa, onde se aplicava na tinturaria de tecidos finos. Mas a economia portuguesa não podia absorver tanta urzela e a coroa declarou-se incapaz de acudir à crise de negócios nas ilhas e deu o monopólio a um negociante, o Sargento-Mor Manuel António Martins, monopólio que durou 19 anos. Outros acontecimentos políticos, na aurora do liberalismo, avassalaram Cabo Verde. As autoridades de Lisboa deportaram sob a acusação de miguelista o Batalhão de Infantaria n.º 21, afeto a D. Miguel, que o vulgo alcunhou de “Batalhão Caipira”, iniciava-se um período de tumultos, que acabou com fuzilamentos.

Os rios da Guiné, o comércio geral decaía, a navegação estrangeira por ali andava impune. E nos rios da Guiné estalaram os conflitos étnicos que se irão prolongar até aos últimos anos do século XIX, o principal acontecimento foi a derrota dos Mandingas face aos Fulas. É um período que possibilitou a proeminência de algumas famílias abastadas como Carvalho de Alvarenga e João Marques de Barros. Carreira apresenta uma folgada lista de reinóis (naturais do reino) e cabo-verdianos, e dá-nos conta das atividades de duas importantes figuras: o Coronel Joaquim António de Matos, reinol, e Caetano José Nosolini, cabo-verdiano.

Após o Congresso de Viena, a proibição da escravatura entrou na ordem do dia, mas foram décadas em que o tráfico prosseguiu, inclusive os navios espanhóis apoiados em Cabo Verde navegavam com a bandeira portuguesa. Teve expressão o apresamento, Carreira dá os números, são impressionantes. As exigências diplomáticas de Londres eram muito fortes, é o caso da carta que em Maio de 1835 o embaixador inglês Howard de Walden comunicou ao ministro português o apresamento de uma escuna transportando a bordo 164 escravos pertencentes ao governador de Bissau. Num relatório do diretor de Alfândega de Bissau, datado de 22 de Dezembro de 1857 e dirigido ao Visconde de Sá da Bandeira, afirma-se que em 1842 se cessou a exportação de escravos de Bissau e Cacheu. Não terá sido assim, pois em 1849 há uma nova carta britânica emanada do ministério dos Negócios Estrangeiros referindo que continua a ter lugar a presença de navios negreiros. E Carreira termina dizendo que embora esta questão não tenha sido posta num tom altamente admoestador, tudo indica que tinha havido um recrudescimento do tráfico ilícito nos rios da Guiné.

E quando o tráfico desapareceu completamente, havia que descobrir outras potencialidades para o desenvolvimento económico. É nesta altura que se olha a sério para a Guiné como forte fornecedor de alguns produtos agrícolas.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16924: Notas de leitura (917): A Libertação da Guiné, de Basil Davidson, Penguin Books, 1969 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16934: O nosso blogue em números (41): No final de 2016, atingíamos um total de 66 600 comentários (mais 5200 do que em 2015)... O número médio de comentários por poste é ligeiramente inferior a 4... Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler-nos e comentar-nos, não obstante o sistema, nada amigável, do Blogger, que filtra o SPAM



Gráfico nº 6 - Nº de comentários publicados (2008-2016)



Gráfico nº 5 - Nº médio de comentários por poste e por ano (de 2008 a 2016)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


1. O número de comentários atingiu, no final do ano de 2016, um total de 66 600, mais 5200 do que em 2015.
 

O nº médio de comentários por poste é ligeiramente inferior (3,9) no ano de 2016 comparativamente com o ano anterior (4). O recorde é 6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, respetivamente (**).

Aparentemente não há uma quebra nos comentários. Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler e a comentar... A verdade é que o sistema de filtragem do nosso servidor, o Blogger (para impedir o SPAM) continua a ser desmotivador para os nossos leitores: quem quer comentar um poste tem de dizer (e provar) que não  é nenhum robô!... 

O sistema não é amigável mas é o preço que temos de pagar para prevenir e controlar o SPAM (as mensagens não desejadas, a publicidade, etc.). O acrónimo SPAM  em inglês, quer dizer "Sending and Posting Advertisement in Mass" (envio e postagem de  publicidade em massa).

Os 66 mil comentários registados no nosso blogue estão "limpos" de SPAM. Uma parte deles pode dar (e tem dado) origem a postes,  por iniciativa em geral dos editores.  O SPAM é uma verdadeira praga que infesta as nossas caixas de correio (mais de 90 por cento das mensagens recebidas, em muitos casos!|) e dos nossos blogues...

2. Camaradas e amigos, sintam-se à vontade para comentar estes e outros números relativos à nossa atividade bloguística. E em 2017, por favor, usem mais vezes a caixa de comentários...  

Camarada, amigo, simples leitor: recordo que podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... (De preferência sem erros nem abreviaturas; sem frases em maiúsculas ou caixa alta).

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares uma vez.
Tens uma "caixa de teto" para escrever o teu comentário que será publicado instantaneamente, sem edição prévia, sem moderação, sem "censura prévia" (leia-se: triagem ou moderação por parte dos editores)...  Claro que temos alguma regras de bom senso e bom gosto a respeitar e a fazer respeitar: vd, na coluna do lado do blogue.

(Continua)
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Guiné 61/74 - P16933: Parabéns a você (1192): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série > 8 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16929: Parabéns a você (1191): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

domingo, 8 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16932: Manuscrito(s) (Luís Graça) (109): Pôr do sol em “trompe l´oeil”


Lisboa > Beira Tejo > 5 de novembro de 2011 > Pôr do sol no Atlântico, no momento em que passava um porta-contentores na linha do horizonte... Uma foto feliz, tirada no estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados




Pôr do sol em “trompe 

l´oeil”

por Luís Graça

À memória do meu compatriota Mário  Soares  (1924-2017)




Cai o sol no lado errado e frio do mundo,
Entornando a lata de tinta do pintor,
E aquele vermelho não é raiva, é dor,
Não há teleobjetiva que veja fundo.


Passam veleiros de corsários na lonjura,
Enquanto em terra as mulheres esconjuram naufrágios,
E a história, antes de o ser, é feita de presságios,
E da tensão entre liberdade e escravatura.


Passam navios negreiros em contraluz,
E aquela verde e rubra pintura em tela
Não é o mapa do meu país, é uma estrela,
Morta, é um buraco negro que não reluz.


Nada como a morte para branquear a vida,
Com a cal viva da vala comum da história,
Para uns o céu,  a imortalidade ilusória,
Para milhões,  a campa rasa que tudo olvida.


Pouco importa que o tempo nos sare as feridas,
O que nos acabrunha é a nossa pequenez,
É  o sol pôr-se pela infinitésima vez,
Indiferente às dores de alma por nós sofridas.


Praia da Areia Branca, 7 de janeiro de 2017
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas fraldas da serra de Montejunto

Guiné 61/74 - P16931: Blogpoesia (488): "A existência..."; "Pelas portas milenares das catedrais..." e "Vaidade...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


A existência…

Nem sempre existiu a existência.
No princípio de tudo,
Era só a essência.
A ideia pura.
Sem forma nem imagem.

Um mundo de equilíbrio
E são convívio.
Era o reino celestial dos arquétipos.
A vida era só contemplação.

Por mero sopro duma Vontade,
Num instante, tudo mudou.
Foi o ressurgir dos seres.
Com corpo e forma.

A uns a vida.
A outros, só a dinâmica das leis da física,
Com todas as propriedades.
Outro cosmo magnético
Em motu contínuo.

Depois, vieram as relações dos seres,
Ora em posição oposta
Ora em sintonia.
A sobrevivência tornou-se
Sua lei de gravidade,
No reino dos animados.
A sensação da posse para sobreviver
Tornou-se a fonte dos conflitos,
Apesar de todas as leis da convivência.

Desapareceu para sempre a paz reinante
No longínquo domínio das essências…

Berlim, 8 de Janeiro de 2017
8h47m
Jlmg

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Pelas portadas milenares das catedrais…

Passaram reis, princesas e plebeus,
Através dos séculos,
Pelas portadas milenares das catedrais.

Se ajoelharam cónegos, bispos e cardeais,
Frente aos altares do sacrifício.

Subiram ao púlpito possantes vozes
De preclaros oradores de estola.

E suas naves altas se enchiam
Da gente humilde que rezava.

Pelo país inteiro,
Havia romarias em festa
Aos seus patronos.

E havia torneios de cavalos fulgurosos
Frente aos palácios ricos da fidalguia.

Foi assim que,pelos tempos fora,
Viveram os antepassados…

Berlim, 7 de Janeiro de 2017
9h35m
Jlmg

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Vaidade…

É estreito e fino como um raio
O caminho onde passo.
Em pouco tempo,
Se apagam minhas pegadas.

São fugazes as vãs venturas
Como o brilho do fogo preso.
Se esquecem breve
Todas as glórias.

São mais as dores que as alegrias
Neste mar de ilusões.
Tão depressa passou a infância
Se me ponho a olhar para trás.

Tudo tenho e nada é meu,
Chegada a hora
De partir.

Para quê fingir de forte
Se basta um sopro
E tombo ao chão?...

Berlim, 4 de Janeiro de 2017
10h17m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da séria de 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16903: Blogpoesia (487): "Ele vem aí..." e "Abeirei-me da varanda e vi...", poemas alusivos ao Ano Novo, de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P16930: Estórias cabralianas (93): Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras também tinham Mãe!?! (Jorge Cabral)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) > Ao centro, de pé, o alf mil art Jorge Cabral que, entre outros muitos interesses, também era cinéfilo..

Foto: © Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados.


1. A primeira mensagem do ano, do nosso "alfero Cabral"

Data: 6 de janeiro de 2017 às 19:26

Assunto: Estória

Ao fim de quase 50 anos, a minha Amiga Cinéfila, devolve-me as 23 cartas que lhe escrevi de Missirá. Eis uma, mas há mais...
ABRAÇO!



2. Estórias cabralianas (93): Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras também tinham Mãe!?

por Jorge Cabral

NI-OI, NI-OI, NI-OI… Continuamos Amigos e Cinéfilos, Dalila.Tu vês filmes, eu, entro neste, tragicomédia que nunca mais acaba…

Desta vez houve guerra, dois mortos em Salá, mesmo junto a um limoeiro. O milícia Demba pisou uma mina reforçada e desapareceu da cintura para baixo. Os gajos abriram fogo e o meu soldado Guiro de rajada lerpou um turra, de pistola à cinta. 

- NI-OI, NI-OI,NI-OI… - berrava o turra. 
- O que é que o gajo diz - perguntou o Cabo Gaspar.
- É Balanta, está a gritar pela mãe. 

Improvisada uma padiola, lá os levámos aos dois, lado a lado, o milícia Fula e o turra Balanta…
À noite ao jantar o ambiente era pesado. Eis quando, o Cabo Gaspar se interroga:
- Porra, meu Alferes, não sabia que os Turras, também tinham Mãe?!

(...) Bacalhau ensaboado e os Três Reis Magos. Poucos são os Natais de que me lembro. E no entanto, já passei mais de setenta. Mas este, Missirá 1970, nunca esqueci. Tínhamos bacalhau. Tínhamos batatas, Fomos tarde para a mesa, a mesma de todos os dias, engordurada, sem toalha. Chegou o panelão fumegante e começámos.
– Caraças!, o bacalhau sabe a sabão! – disse o Branquinho. (...) 

Guiné 61/74 - P16929: Parabéns a você (1191): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16927: Parabéns a você (1190): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

sábado, 7 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16928: O nosso blogue em números (40): No final de 2016, atingimos um total de 9,3 milhões de visualizações... Quem nos visita, vem sobretudo de Portugal (41,9 %), EUA (24,9 %), Brasil (6,8 %), Alemanha (4,6 %) e França (4,3%)



Gráfico nº 3 - Evolução, desde maio de 2010, do total de visualizações de página: no final de 2016, cifrou-se em 9,3 milhões. O acumulado, até maio de 2010, é de 1,7 milhões.





Gráfico nº 4 - País de origem das visualizaçãões de página (desde maio de 2010 até final de 2016). Destaque para Portugal , EUA e Brasil, que representam   quase 3/4 do total .


Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)



1. O nosso blogue atingiu, no final  do ano de 2016,  a cifra de 9,3 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas"), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 7,6 milhões, desde maio de 2010, a que acrescem mais 1,7 milhões desde o início, em  23/4/2004..

Em 2016 batemos o recorde de "visitas: 1,7 milhões, em 13 anos de existência do blogue. O segundo melhor ano foi o de 2014, com 1,5 milhões.

1,7 milhões de visitas no ano  de 2016 dá uma média diária de 4645.


2. Quem nos visita ? Comparando com 2015  (valores colocados entre parênteses retos) continuam a ser gente oriunda de (ou residente em) dos mesmos países. Portugal tem vindo a perder peso, mas continua destacado (c. 42 %), seguido pelos EUA (c. 25%) (**)

Portugal > 41,9 %   [47,6%]
EUA > 24,9 % [ 17,1 % ] 
Brasil > 6,8 % [8,2 %]
Alemanha > 4,6%  [4,8%] 
França > 4,3 % [4,8%]

Nenhum país lusófono de África aparece da lista dos "top ten" (dez mais), muito embora o nosso blogue seja seguido nomeadamente em Cabo Verde,  Guiné e Angola.

O.do resto do Mundo  tam,bém tem vindo a perder peso: 12,6 % em no an o passado (contra  13,2%   em 2015).

(Continua)
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Guiné 61/74 - P16927: Parabéns a você (1190): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Jeneiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16923: Parabéns a você (1189): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 /Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16926: Inquérito 'on line' (97): Nas primeiras 80 respostas, 55% dos respondentes considera, sem reservas, que poderia ser hoje amigo do inimigo de ontem... O prazo termina na 2ª feira, dia 9, às 18h36...Falta pouco para chegarmos às 100 respostas...


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974, entre Maio e Junho, tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC com vista ao cessar-fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa). Nesta foto, vemos o camarada, amigo, ex-fur mil José Manuel Lopes (o poeta Josema) com um guerrilheiro do PAIGC. Mais difícil foi, de facto,  a aproximação entre o PAIGC e os militares guineenses que estavam do lado das NT, como foi o caso dos Comandos Africanos.

Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"O MEU INIMIGO DE ONTEM

NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO" (**)




Nº de respostas (provisórias), às 15h de hoje = 80



1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo  > 11 (13%)

2. Sim, poderá vir a ser meu amigo  > 44 (55%)



3. Talvez, depende das circunstâncias  > 21 (26%)


4. Não sei responder  > 4 (5%)



Total de respostas > 80 (100%)


Prazo de resposta termina dia 9, 2ª feira, às 18h36

II. Comentários:
 

(i) José Marcelino Martins (*)

Esta pode ser uma "oportunidade" para redimir alguns excessos praticados, quer de um lado quer do outro, apesar de ser só por colocação de um "x". Porém, para muitos chegará.



(ii) António José Pereira da Costa (**)

(...) Não estive na descolonização, mas aquela de "andemos à porrada, mas agora semos todos uns gajos do baril" não me seduz. Claro que o fenómeno é complexo. Eles começaram por ser portugueses dissidentes a quem outros portugueses tinham de subjugar. Por razões exógenas acabou não com uma vitória/rendição, mas isso não quer dizer que caiamos nos braços uns dos outros. Tenho para mim, sem hipótese de prova, que eles simularam uma "amizade" que não sentiam e nós tomámos a atitude do "nacional-porreirismo" habitual dos portugueses. Claro que o denominador comum disto era o fascismo e o colonialismo de segunda categoria do regime político que dominava o país aquém e além mar. 

Mas acho que o PAIGC conseguiu o que queria e, caído o fascismo, nós todos metropolitanos queríamos regressar são e salvos. Há ainda os guineenses que eram portugueses e deixaram de o ser e esses não creio que alguma vez tenham sido abraçados pelos guerrilheiros. Isto diz de um certo ódio larvar que felizmente não se cevou em nós. Poderia ter acontecido e sabemos bem as "confusões" que se sucederam no momento em que os colonialistas saíram e as gloriosas hostes dos guerrilheiros tomaram o poder. Na Guiné, talvez nem tanto, mas em Angola houve problemas sérios...

Creio que a receita para o relacionamento das NT com o PAIGC é aquela que o Torcato Mendonça e o Vinhal defendem. De outra forma há um desrespeito por quem "ficou" no terreno. (...)

(iii) Henrique Cerqueira (***)

(...) Eu tive a oportunidade de apertar a mão do inimigo no seu próprio ambiente.Já documentei num poste deste blogue incluindo fotos.Senti nessa altura grande alegria pelo momento. No entanto o principal sentimento era o da confirmação que a guerra estava no fim e que de certeza iria voltar para a minha terra na Metrópole.

Quanto a amizade ,seria completamente impossível.Até porque a amizade se constrói e não se adquire no momento. Depois há ainda o facto de não esquecer o que os nossos inimigos fizeram posteriormente com os combatentes que lutavam do nosso lado e que por necessidade,obrigação ou devoção acreditavam que estavam a combater do lado certo.

Carlos Vinhal ainda bem que levantaste a questão,poderá assim acontecer que caiam aqui alguns falsos "amiguinhos" do Inimigo e que ás vezes se dedicam ás caridadezinhas,enquanto os responsáveis do governo Guineense vivem como uns nababos ricos e gordos pior que colonialistas de outrora.
Eu tenho o maior desejo que o povo da Guiné consiga ser feliz,no mínimo como me sinto no meu país livre e democrático. Mas jamais seria amigo de antigos combatentes que lutaram contra mim mesmo reconhecendo que era essa a sua obrigação pelos ideais e interesses que nutriam pela sua(?) Guiné,a interrogação é que ainda hoje a Guiné é sua(dos Guineenses) (...)


(iv) João Sacôto (***)

Camaradas:

Não esqueçam nunca os nossos heróicos camaradas guineenses que ao nosso lado bravamente combateram, muitos caíram em combate, para defender a sua terra das influencias estrangeiras (Chinesas, Cubanas e Soviéticas), como foram o meu amigo João Bakar Jaló, o Domingos Demba Djassi, Queba Sambu, Marcelino (felizmente vivo e na nossa companhia) e tantos outros.

O PAICG prometeu tratá-los com humanidade. Portugal acreditou, pagou-lhes seis meses de ordenado e pediu-lhes que entregassem as armas. Ainda que renitentes, os 27 mil militares guineenses do Exército português aceitaram. Mal as autoridades portuguesas abandonaram o país, logo o novo poder executou os primeiros.. Mortes reconhecidas na sinceridade das certidões de óbito: “faleceu por fuzilamento”, diziam. As autoridades guineenses pós-Luís Cabral falam em 500 mortos. O jornal “Nô Pintcha” chegou a publicar uma lista de nomes. Mas os sobreviventes calculam que pelo menos um milhar terá comparecido diante do pelotão de fuzilamento - alguns em aeroportos e campos de futebol, diante das populações.  (Isto, a nossa geração, não pode perdoar.) (...)


(***) Vd. poste de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (104): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas faldas da serra de Montejunto


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Numa da casas da aldeia que abre as suas portas a todos os "reiseiros" de dentro e fora... E são muitos, alguns de fora, como eu e a Alice (na foto., à direita, em segundo plano)... Do lado esquerdo, de boné, por causa do frio da noite, o nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira e a seu lado o nosso amigo comum João Tomás Gomes Batista (, engenheiro técnico agrícola, safou-se da guerra, mas estagiou em Angola, enquanto aluno da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém).

Falta, na foto, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, nosso grã-tabanqueiro. O Joaquim Pinto Carvalho, que é natural do Cadaval, foi também convidado (ou, melhor, "desafiado"), mas não pôde comparecer por razões de agenda. 

Na véspera de partir para  a Guiné, em 1973, o Eduardo descobriu aqui essa tradição da  serra de Montejunto: os BRM (os "bons reis magos") cantam-se, há muito, em duas aldeias, Avenal e Pereiro. Em todas as casas onde há vivos, são feitas pichagens (hoje com spray e com moldfes), com 
as seguintes inscrições BRM [Bons Reis Magos] + estrela de David + ano.

Há uns anos atrás, o Eduardo (que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras) voltou a Pereiro para o "cantar & pintar os reis"... E este ano desafiou alguns amigos e camaradas da Tabanca do Oeste.

Foto: © Eduardo Jorge Ferreira  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Eduardo Jorge e Luís Graça


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Jaime Bonifácio Marques da Silva e  Eduardo Jorge.

Fotos: © João Tomás Gomes Batista  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lê-se no sítio da Câmara Municipal de Cadaval, a propósito desta tradição, que se mantém viva e se renova todos os anos nas fraldas da serra de Montejunto:


(...) Segundo Alzira [Cordeiro, (...) uma das primeiras mulheres a cantar os reis no Avenal] trata-se(....) de uma tradição que não se pode perder por constituir património imaterial concelhio. «Reza a lenda que os antigos monges desciam do alto das neves (serra de Montejunto) ao povoado, para cantar às portas os votos de boas festas e no dia seguinte iam recolher as ofertas», relata a cantadeira. «No outro dia, pegavam em cestos, passavam pelo lugar e era-lhes oferecido cebolas, alhos, batatas, carne, chouriço, vinho ou dinheiro, e depois fazia-se o almoço dos reis. E aí, sim, eles já pediam colaboração das senhoras ou raparigas para irem ajudar a cozinhar», acrescenta. (...).

(...) "De acordo com Gonçalo Bernardino, cantador dos reis no Pereiro, a festa vai decorrer nos moldes habituais, começando com um jantar, pelas 20 horas, seguido de um cortejo, por volta das 22h, com os tradicionais cantares e pinturas, cortejo esse que decorrerá pela noite dentro, só terminando de madrugada. (...)  «ao longo do cortejo, as pessoas abrem as suas portas, mas depois, à meia-noite, uma hora, chegamos ao largo principal, e temos uma ceia com frango assado, chouriço, vinho, e ali todos os anos há cantares ao desafio, por homens e mulheres. A ceia é promovida pela colectividade mas é quase tudo oferecido através de pedidos que a gente faz localmente.»- 

(...) " No dia 6, haverá o tradicional almoço dos reis na associação local, servindo também este dia para recobro da noite anterior. «A gente diz, por brincadeira, que é feriado no Pereiro. Mesmo as pessoas empregadas, quando podem, metem o dia de férias para participar na festa», refere o “reiseiro”. Para Gonçalo Bernardino está é uma festa que agrada a muita gente, e uma tradição que, apesar de sempre se ter mantido, ganhou maior fulgor nas últimas décadas, recebendo visitantes de diversos concelhos limítrofes. «Está num ponto que não pode voltar para trás, pois já tem uma dimensão muito forte», realça Gonçalo. «Hoje não somos só nós que cantamos, já há muitas pessoas de fora que já estão enquadradas nos cânticos e já lançam as suas quadras», conclui. (...)


(...) Para além dos tradicionais cânticos, voltar-se-ão a inscrever em paredes e muros das casas da aldeia os símbolos tradicionais, que poucos saberão deslindar com exactidão, mas que representam, grosso modo, votos de bom ano e de prosperidade aos respectivos habitantes. -



2. O "Cantar 
e o Pintar os Reis" 
em Pereiro

por Luís Graça 





Que importa a noite fria de janeiro,
Se o desafio é ir a Montejunto,
Os Reis cantar na aldeia de Pereiro
E a amizade celebrar em conjunto?!

E a amizade celebrar em conjunto,
Homens e mulheres, velhos e moços,
E, se não houver salpicão nem presunto,
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços.

Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços,
Que o Eduardo Jorge é o nosso guia,
Em voltando da Guiné com todos os ossos,
Prometeu que a Pereiro voltaria.

Prometeu que a Pereiro voltaria.
Lá nas faldas daquela bela serra,
As janeiras cantar com alegria,
Com mais alguns camaradas de guerra.

Com mais alguns camaradas de guerra,
Qual frio, qual carapuça, qual nevoeiro,
Viemos de longe cantar os reis nesta terra,
Que Portugal hoje chama-se Pereiro.

Que Portugal hoje chama-se Pereiro,
E tem da brisa atlântica um cheirinho,
Pode não haver, como no Norte, o fumeiro,
Mas há o branco, o tinto e o abafadinho.

Pereiro, Vilar, Cadaval, 5-6 de janeiro de 2016

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Nota do editor:

Úttimo poste da série > 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16902: Manuscrito(s) (Luís Graça) (107): As janeiras da tabanca da Madalena: vivó 2017!... (E saudando todas as tabancas e todos/as os/as tabanqueiros/as da Tabanca Grande: AD - Bissau, Ajuda Amiga, Algarve, Bando do Café Progresso - Porto, Bedanda, Candoz, Centro - Monte Real, Ferrel, Guilamilo, Lapónia, Linha - Cascais, Maia, Matosinhos, Melros - Gondomar, Oeste, Ponta de Sagres - Martinhal, São Martinho do Porto, Setúbal, e por aí fora, que o mundo afinal é pequeno!)