quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13674: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (10): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau e o indispensável Museu Guggenheim

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
Foi como meter o Rossio na Betesga. Surpreendentemente, teve um final feliz. Aterra-se em Bilbau, no dia seguinte parte-se para Logroño, a capital de La Rioja, e no dia seguinte Burgos, mais adiante Léon, depois Monforte de Lemos e Vigo até ao Porto-Campanhã.
Não podia ter enchido mais as medidas com aquele pedacinho do Norte de Espanha, que inteiramente desconhecia. E confirma-se que por melhor que se prepare o indivíduo para compreender o outro, para amortecer as novas sensações, etc. e tal, há sempre um denominador que acaba por ganhar – a surpresa. É a surpresa, mas suas múltiplas formas de contemplação, a mola de arranque para a viagem bem sucedida. E para o gozo do viajante.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (10) 

Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau e o indispensável museu Guggenheim

Beja Santos

Admitia na minha cabeça que só se justificava ir a Bilbau para conhecer o colosso de titânio e vidro desenhado por Frank O. Gehry, o arquiteto genial que Pedro Santana Lopes, então à frente da autarquia de Lisboa, convidou para apresentar um novo figurino do Parque Mayer. Beneficiei da minha ignorância para ser surpreendido por uma Bilbau, capital económica do País Basco, dinâmica, aprazível, moderna, e com um espantoso equilíbrio entre o passado e o presente. Pensava que Bilbau fora profundamente afetada pela Guerra Civil. Talvez tenha sido, mas os edifícios significativos do século XIX, caso do Teatro Arriaga, lá estão para testemunhar o triunfo da burguesia bilbaína com as suas empresas siderúrgicas navais, a recordar que já houve o esplendor mineiro e a exportação de lãs e curtumes. Estava impaciente por conhecer com os meus olhos o Guggenheim, aterrei, apanhei o autocarro para a cidade, pus os pertences na hospedaria, ala que se faz tarde, nada de conhecer o metro de Norman Foster nem a ponte que saiu do traço de Santiago Calatrava. A suar estopinhas (36 graus e uma humidade guineense), lá fui cirandando pela esplanada junto ao rio Nervión, e com a língua encortiçada cheguei ao deslumbrante Guggenheim.


Caminhei para a entrada da arquitetura mais vanguardista que conheço, fui ver o menu, as exposições que me esperam: Richard Serra e uma exposição admirável de Georges Braque. Toca a descer a escadaria, de boca à banda, não conheço nada de tão audaz e para lá do tempo. Pelo caminho, escolhendo recatadas sombras, vou disparando para as imagens dos séculos futuros, digam lá se eu não tenho razão


Os reformados têm sorte, naquele dia podia-se entrar por 6,50€ e até às 20h. Mas pouco antes de ingressar no interior do templo de arte retive esta imagem de uma face da modernidade, ao princípio chocou-me a seguir cativou-me:


Qual Richard Serra qual Georges Braque, quais exposições temporárias, primeiro quero andar na vida airada, a confirmar o que se escreve no prospeto de boas-vindas: “O edifício está composto de uma série de volumes interconectados, uns de forma octogonal e recobertos de pedra e outros curvados e retorcidos, cobertos por uma pele metálica de titânio. Estes volumes combinam-se com paredes de vidro que dotam de transparência todo o edifício. Devido à sua complexidade matemática, as sinuosas curvas de pedra, vidro e titânio foram desenhadas por computador. O calcário foi a pedra escolhida, devido à sua tonalidade, funde-se perfeitamente com a fachada da Universidade de Deusto”. E sigo embasbacado, já vi este miolo dezenas de vezes em livros e revistas, mas isto é como a Praça Vermelha ou a Pirâmide do Louvre ou ao Centro Georges Pompidou, é preciso ver claramente visto com os nossos olhos, naquele dia e àquela hora, é com satisfação que vos dou as imagens que iam empolando o meu estado de espírito, sentia-me muito feliz:


E mais adiante:


Já estou mais relaxado, petisquei o suficiente para poder conversar com as obras de arte, à nossa espera, antes de ir ver uma mostra da coleção Guggenheim Bilbau fixei esta instalação de Jenny Holzer, perturba a vista, avançamos e recuamos, não há dúvida que é vistoso, parece-me mais uma guloseima visual, nem sempre o que enche o olho provoca descarga estética, o deleite contemplativo vejam só:


Pronto, enveredei por salas enormes, parece que estou no CCB, não desfazendo. Dos vários autores expostos nesta mostra, dou-vos conta de José Manuel Ballester, alguém que escolheu para a sua arte a combinação da pintura e da fotografia, e acabei por concordar com o que li nos textos fixados acerca de Ballester. Ele interessa-se por espaços vazios, investiga a solidão do indivíduo e as contradições do mundo moderno através da arquitetura, transformando espaços em cenas artificiais. É um jogo entre o claro-escuro, entre o oculto e o visível, o público e o privado. A imagem que vos mostro vem da série Espaços Ocultos, reinterpretações da história de arte, no caso presente Ballester pegou num ícone do romantismo francês, a Jangada da Medusa, de Géricault, retirou-lhe as pessoas, a representação fotográfica de Ballester mostra os restos da jangada depois do resgaste dos sobreviventes e do desaparecimento dos cadáveres. Achei uma beleza.


Saí da mostra e fui até à instalação permanente onde estão oito esculturas em aço de Richard Serra, autor que conheci numa visita ao Museu Berardo. A instalação chama-se a matéria do tempo, tratar-se-á de uma reflexão à volta dos aspetos físicos do espaço e da natureza da estrutura. Richard Serra pretende estabelecer uma relação direta com o espetador, como se a experiência com o objeto passasse a formar parte essencial do seu significado. Andamos por aquelas elipses, à medida que as percorremos elas transfiguram-se, gera-se uma sensação de espaço em movimento. Vi gente aturdida com aquelas massas de aço, as espirais e as elipses, paredes que aprecem desabar, andamos à volta com se andássemos num labirinto até se chegar ao vazio. E quando se vê a exposição de um ponto alto acaba-se por concordar com o autor: temos ali matéria do tempo, e a cor terrosa daquelas toneladas de aço como se girassem desarticuladas, levam-nos a supor que a escultura contemporânea não se assemelha ao torvelinho fabril, é um maquinismo silencioso onde se passeia o indivíduo na era do vazio:


Não vos vou hoje estafar com o prato de substância, a esplendorosa exposição de Georges Braque, há muito que estava com apetite para ver algo de tão grandioso, multidimensional. Faz de conta que vou sair e depois volto, hoje ou amanhã, venho novamente ao exterior do Guggenheim. Um dos símbolos mais vistosos de Bilbau é o Puppy, concebido por um dos artistas mais conceituado da atualidade, Jeff Koons. É vistoso, não contesto. Mas dou comigo a pensar se este Puppy não faz parte do estado líquido da nossa modernidade, esta arte engraçadinha, tão engraçadinha como as telenovelas broncas e a imprensa porno soft, tão engraçadinha como os romances históricos escritos às três pancadas e com um mínimo de vocábulos. É assim também o nosso tempo em que se força a mistura entre Frank O. Gehry como Jeff Koons e fica tudo numa boa. Mas é engraçadinho, não há dúvida:


Mais tarde falaremos do Georges Braque, e do casco histórico de Bilbau e do seu Museu de Belas Artes onde referenciei santos do meu culto como El Greco e Francis Bacon. Bilbau enche-me as medidas. Ainda não parti e apetece-me voltar, juro.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13643: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (9): Dentro do Peak District, a vasculhar belezas incomparáveis

Guiné 63/74 - P13673: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (4): 8 de Agosto de 1962




1. Publicação da quarta parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.





(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13672: In Memoriam (197): Comandante Alpoim Calvão (1937-2014): o funeral realiza-se na quinta-feira, dia 2, para o cemitério dos Olivais, após a missa de corpo presente no Mosteiro dos Jerónimos


Tira da banda desenhada “Operação Mar Verde”, da autoria de A. Vassalo, uma edição da Caminhos Romanos, 2012. Na introdução, o autor, o ex-fur mil comando Vassalo Miranda, nosso camaraada da Guiné,  escreveu o seguinte, que é seguramente um grande elogio ao homem e ao operacional que foi Alpoim Calvão:

“Na Guiné, em 1964, conheci um homem incrível, que me catapultou para o imaginário. Ambos pertencíamos a unidades de elite das Forças Armadas. Eu, furriel dos Comandos,  e ele, 1º tenente, comandante do 8º Destacamento de Fuzileiros Especiais. Homem valente, altruísta, desvalorizando situações constrangedoras, animando os seus homens e, sobretudo, de uma grande humanidade tanto para os seus como para os adversários. Qualquer um de nós seguíamo-lo sem questionar. Nasceu entre nós uma grande empatia que dura até hoje. Obrigado, comandante Alpoim Calvão".




1. Mais uma  notícia, triste, que corre pelas redes sociais, e que nos chegou através do Ipad do nosso camarada Rui Vieira Coelho_

 

Data: 30 de Setembro de 2014 às 17:18

Assunto: Falecimento de Alpoim Calvão

Faleceu hoje de manhã no Hospital de Cascais o Oficial da Armada mais condecorado da Marinha Portuguesa,  Sr Comandante Alpoim Calvão.

Foi o grande estratega e o comandante operacional da célebre "Operação Mar Verde" que invadiu Conakri e libertou o piloto da Força Aérea António Lobato e mais 26 soldados das nossas Forças Armadas.

A operação foi gizada e treinada na Ilha de Soga, de onde partiu no dia 22 de Novembro de 1970. Todos os prisioneiros foram resgatados e enviados posteriormente para Lisboa.

Perante o infausto acontecimento só me resta curvar-me perante a memória deste Grande Português, deste Grande Militar e que Deus lhe de "O descanço do guerreiro" a que tem direito.

Bem haja por tudo o que fez por este país, ditoso filho desta Pátria.


Rui Vieira Coelho [, médico reformado, ex-alf mil médico,  BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74]


2. Segundo o semanário Expresso, "o funeral de Alpoim Calvão realiza-se na quinta-feira para o cemitério dos Olivais, após a missa de corpo presente no Mosteiro dos Jerónimos. Segundo disse à Lusa uma fonte familiar, o velório terá início esta quarta-feira, a partir das 17h. A missa de corpo presente está prevista para as 11h de quinta-feira e o funeral sairá às 11h45."

O nosso blogue tem cera de duas dezenas e meia de referências ao comandante Alpoim Calvão, de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão, 
nascido em Chaves, em 1937).

O jornal Público recorda-o nestes termos, enquanto comnbatente no TO da Guiné:

(...) "Nascido em Chaves, viveu em Moçambique, cursou Marinha na Escola Naval entre 1954/57, especializando-se em mergulhador sapador e navegação submarina. Voluntaria-se como fuzileiro e desembarca na Guiné no final de 1963, como comandante do destacamento de fuzileiros onde participa em diversas operações. De regresso a Lisboa, em 1965, entra na Escola de Fuzileiros onde chega a director de instrução. Ali se mantém até 1969, quando entra em conflito com o ministro da Marinha e deixa o cargo para regressar em comissão à Guiné.

A operação Mar Verde, em Novembro de 1970, que teve em Alpoim o principal arquitecto, previa um ataque a Conacri para libertar cerca de três dezenas de prisioneiros de guerra portugueses nas mãos do PAIGC - como o sargento piloto António Lobato que esteve preso vários anos - destruir equipamento do movimento independentista e liquidar o Presidente Sékou Touré. Só os dois primeiros foram conseguidos - ainda que o segundo não totalmente. Mas também terá papel relevante noutras missões como as operações Trovão e Tridente." (...).

As nossas sentidas condolências à família, aos camaradas da Marinha que serviram sob as suas ordenas e aos demais amigos. (LG)
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Guiné 63/74 - P13671: Inquérito online: O desenrascanço está no ADN dos portugueses... e a tropa mandava desenrascar ?... Sem dúvida, largo consenso, em 80 respostas preliminares... Comentários: Valdemar Queiroz / Hélder Sousa / António J. Pereira da Costa / José Colaço / Carlos Pinheiro


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > Destacamento de Cantacunda > 1968 > As precárias condições em que se vivia no destacamento ou melhor nos "bu...rakos" que a gente construía para "desenrascar" que os engenheiros de Bissau, o  BENG 447,  não chegavam a todo o lado... Digam-me lá se o A. Marques Lopes se parece mais com um oficial do e«ército português ou com um mineiro ?

Para além de soldado, na vedade, o tuga, o portuga, o Zé , o Zé Povo também foi engenhocas, carpinteiro, marceneiro, trolha, caboqueiro, picheleiro, funileiro, canalisador, construtor de pontes, caçador, pescador, ama-seca, parteiro, professor, missionário, enfermeiro, carteiro, cronista, descascador dor de batatas, auxiliar de cozinheiro, hortelão, arrebenta-minas, picador, cangalheiro, animador cultural, mediador cultural, psicólogo, conselheiro, juiz de paz, casamenteiro, e sei lá que mais...

O Zé Povo no TO da Guiné foi mais do que o três  em um... Foi o homem dos sete oficios... O "desenrascanço" fazia parte do seu ADN e a verdade é que conseguiu transmitir esse gene aos seus filhos e netos espalhados por esse mundo de Deus e do Diabo (que ninguém, se ofenda, que isto é apenas uma metáfora, uma figura de estilo literário!)...

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]





Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Paunca, 1969/1970) > S/l [ Paunca ?] > O fur mil Abílio  Duarte fazendo o papel de ama seca, ou como ele escreve, na legenda, no verso da foto: "eu, dentro do possível, fazendo psico"...



Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Paunca, 1969/1970) > O fur mil Abílio Duarte refrescando-me no "resort" de Paunca, perto da fronteira com o Senegal: Casa de banho à moda dos fulas... O depósito de água é um bidão de gasolina da SACOR, Bissau, a que foi adaptada uma torneira...  A água (doce) era já então um bem precioso no TO da Guiné... As próximas guerras terão seguramente como móbil este recurso cada vez mais escasso (e indispensável à sobrevivência do planeta)...

Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados.


A. Eis os primeiros resultados (n=80) da nossa sondagem (*)


1. Totalmente falso >1 (1%)

2. Falso  > 5 (6%)

3. Nem falso nem verdadeiro  > 2 (2%)

4. Verdadeiro  > 20 (25%)

5. Totalmente verdadeiro > 51 (63%)

6. Não sei / não tenho opinião  > 1 (1%)


Votos apurados (até a meio da tarde de hoje) >  80
Dias que restam para votar > 4

 B. Comentários que nos chegam de camaradas nossos (*)

(i) Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva]

[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Nós, os PORTUGUESES, somos extraordinários.

Vejamos pequenos exemplos da rapaziada, na guerra, na Guiné.

E, então, aquela de fazer furos com a ponta duma bala (à mão, não exageremos),  no fundo duma lata de coca-cola para, depois, adaptada a uma torneira, que tinha sido adaptada a um bidão de gasolina, servir de chuveiro numa banhoca ?!

E, então, aquela de (re)encher uma garrafa de cerveja (bebida muitas vezes quente) com petróleo e, depois, furar a carica para passar uma torcida que acesa dava luz pra ler, comer e, até, quando colocada dentro duma lata de compota de fruta vazia, com a tampa levantada para fazer reflexo, agarrada ao arame farpado servia de holofote pra escuridão da mata ?!

E, então, aquela do Spínola cortar as meias-mangas e, depois, adaptar uma falsa dobra no camuflado ?!

E, muito mais. Valdemar Queiroz


(ii) Helder Sousa [, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72]



"Desenrascanço", "Imaginação", "Criatividade"....etc., o que quiserem.

Realmente essa capacidade de 'inventar', de encontrar uma solução para um problema, qualquer que fosse, foi, tem sido, uma espécie de 'marca distintiva' do que se pode entender por 'ser português'.

É claro que isso, parecendo (e sendo, muitas vezes) uma 'coisa boa', tem por detrás a outra face, ou seja, não se gastou tempo anteriormente a preparar, a estudar, a prevenir. Então sai 'improviso' e por sorte, por sapiência e/ou por 'protecção divina' muitas vezes 'deu certo'.

No entanto é possível que essa capacidade esteja a correr o risco de desaparecimento, com a 'uniformização' de critérios que tendem a dissipar as diferenças (culturais, regionais, até civilizacionais, etc.) que nos têm distinguido e que, em boa verdade, são o 'motor' dessa criatividade.

Como achega para a 'utlização imaginativa' do que íamos tendo à mão e que poderia, numa sociedade como a de agora, ser simplesmente desperdício ou, quando muito, colocado no 'amarelão', temos o aproveitamento das latas de coca-cola que, por sinal, não era comercializada na Metrópole...

O Valdemar já falou do aproveitamento para 'espalhador de chuveiro'. Também, pontualmente, serviram como elemento para colocação no chão a fim de o tornar mais transitável, à entrada dos quartos. Serviram de cinzeiro: de parede, colocadas deitadas, abertas longitudinalmente, ou ao alto com a 'boca' aberta. Também a utilizei como pequeno fogão para aquecimento: posicionada ao alto, com buraco lateral para colocação do álcool no fundo e servir de arejamento.

Abraço
Hélder S.

(iii) Anónimo J. Pereira da Costa

[Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74]
Olá,  camaradas

Antes de mais nada: o desenrascanço, o improviso são óptimoas mas elogiar o improviso em desprimor do que devia ser feito é estupidez e pobreza.

Por outras palavras:quem não tem cão caça com gato, mas o cão é que serve para caçar e por isso temos de o ter.

Infelizmente na Guiné nunca passámos da primeira parte e por isso, os improvisos tornaram-se cronicamente provisórios.

O "desenrascanço" implica várias qualidades: vontade de resolver sem esperar que a solução seja fornecida; imaginação; inteligência; leitura rápida das dificuldades e a certeza de que estamos sós na resolução das dificuldades.

Parece-me que os portugueses têm todas estas qualidades e é isso que faz deles exemplos a seguir.

Um Ab.
António J. P. Costa

(iv) José Botelho Colaço  [ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65]

Inventar: Na vida civil a minha profissão foi técnico de máquinas e afinar as mesmas, então para os que trabalhavam mais directamente comigo a mina alcunha era o engenhocas... E por causa disso ficavam muito satisfeitos quando eu atendia os seus pedidos. Eu dizia-lhes:  o problema não é meu isso.  é com o mecânico de turno... Rresposta: não, vem tu ver por favor.


(v) Carlos Pinheiro [, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro
de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70]


O desenrascatez-vous está no sangue dos portugueses e nós, naquela altura, éramos mesmo obrigados a desenrascarmo-nos. 

Eu fui para a Guiné sozinho – em rendição individual – mas muito bem acompanhado. Era o BCAÇ 2856, era uma CPM, era um Pelotão não sei de quê e uma série de malta em rendição individual que tinha os seus destinos. Mas o meu era incerto. O Batalhão para onde eu ia, estava já a fazer as malas para regressar. Então mandaram-me aguardar, não sei o quê, nos Adidos. Nem uma cama tinha quanto mais um mosquiteiro. Passados três dias tinha uma cama, emprestada é certo, mas uma cama, na Companhia de Transportes aquartelada no QG. Desenrasquei-me, pronto. 

Depois, porque também queria fazer alguma coisa, porque andar sempre desenfiado não dava jeito, apresentei-me ao Comandante do Destacamento do STM a oferecer-me para desempenhar funções da minha especialidade no Centro de Mensagens visto que já tinha alguma experiência adquirida em cerca de seis meses no QG da II RM – Tomar. A minha oferta foi aceite e passados poucos dias já ali estava a fazer o que tinha aprendido no RTm do Porto. Desenrasquei-me, pronto.

Nas viagens de cruzeiro, aí é que não me consegui desenrascar. Tive que gramar aquelas camas de suma a pau nos porões, tanto no UIGE para lá como no Carvalho Araújo para cá. Mas na viagem de regresso, sabendo antecipadamente que o Carvalho Araújo  não tinha água nem para lavar o prato que nos deram quando subimos a bordo, quanto mais para tomarmos banho, desenrasquei-me no Depósito de Fardamento da Companhia onde consegui uma dúzia de camisas e de calções, visto que meias e roupa interior tinha suficiente, e todos os dias, às vezes mais do que uma vez, vestia roupa lavada num corpo suado, transpirado, seboso, mas vestia roupa lavada. Se isto não foi um desenrascanço, nem sei o que dizer.

Aliás, a malta dizia, vulgarmente, que a tropa mandava desenrascar e era isso que fazia sempre que era necessário. Nem mais nem menos. 

Contar pormenores de desenrascanço no serviço, nem pensar. Era preciso tempo e paciência para contar a forma como se resolveu sempre tudo a tempo e horas.

Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados




 1. Publicação da terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13665: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (2): 3 de Agosto de 1959

Guiné 63/74 - P13669: Selfies / autorretratos (3): Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses (Juvenal Amado)

Tropa a bordo do navio Angra do Heroísmo
Foto de: © Manuel Passos

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Setembro de 2014:

Achando eu que o tema é merecedor do nosso melhor interesse e não querendo melindrar ninguém com as minhas opiniões sobre o assunto, deixo aqui a minha participação no tema aproveitando para saudar todos os camaradas e em especial o Vasco Pires e o Manuel Reis

Juvenal Amado


Um auto-retrato de soldado

Tinha eu saído da escola primária quando se deram os massacres da UPA sobre colonos e seus assalariados no Norte de Angola. Lembro-me bem do horror daquelas imagens que circularam meio à socapa e do medo que os jovens em idade militar, e alguns que já tinham o serviço obrigatório, de serem mobilizados, o que aconteceu a muitos.

Os acontecimentos provocaram uma onda de terror associada à ideia de vingança patriótica(*) que tais actos provocaram, porém não conheci ninguém que se tivesse sentido feliz por ir. Passados dez anos quando embarquei, também não conheci ninguém que não ficasse de boa vontade por cá a cumprir o serviço militar sem mais chatices, com férias e fins de semana em casa, mandando assim o espírito de missão ou mesmo de aventura, às urtigas.

Faço aqui um pequeno parênteses para mencionar as tropas especiais, que por serem voluntárias tinham outro espírito.

Ao contrário do que leio hoje, em especial nas redes sociais, faz-me querer que a vasta maioria escondeu na altura o seu patriotismo e seu fervoroso amor à Pátria e que passados 40/50 anos depois veio ao de cima, à medida que uns se calam ficamos com a ideia que a esmagadora maioria foi de bom grado e de livre vontade.

Lá diz no poema de Luís Vaz de Camões, “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”.

Embarque do BCAÇ 3872, em Lisboa, no navio Angra do Heroísmo

O portugueses não eram o povo próspero nem feliz e a ideia de ir dar o corpo ao manifesto por um Portugal Ultramarino, para o qual não havia bilhete da carreira nem de comboio, sendo mesmo necessário uma carta de chamada para se poder ir para lá, por muito portuguesas que fossem essas terras, era uma coisa que pouca felicidade nos trazia. Por outras palavras, a carta de chamada para ir para uma terra que diziam nossa, era o que havia em comum com a nossa saída para qualquer país, por exemplo do continente americano. Até a moeda não tinha o mesmo cunho nem o mesmo valor.

Estou plenamente de acordo com o que o Luís Graça escreve no seu comentário e cito:(1)

As motivações para a saída em massa e ilegal (, "a salto",) são fáceis de perceber: o círculo vicioso a da pobreza, em Portugal, não poderia ser mantido mais tempo, com o "milagre económico europeu" à nossa porta... (Os "trinta gloriosos", as décadas de excecional desenvolvimento económico e social que a Europa conheceu, desde o pós-guerra até 1973)... Já [não] era preciso ir para o Brasil: a França e a Alemanha estavam ali, à nossa porta, ou pelo menos, a partir dos Pirenéus.

Acrescento que foi essa riqueza e bem-estar europeu, que permitiu ao governo português manter aquela guerra por tanto tempo.

Conheço quem fugiu à tropa por motivos económicos, quem fugiu por motivos políticos, mas também quem regressou para cumprir o serviço militar. Considero todos os motivos válidos e tomados por homens conscientes, não cabendo no meu vocabulário o termo cobardia para os que fugiram, nem de coragem e patriotismo para os que ficaram ou regressaram, direi simplesmente que uns e outros assumiram a situação de forma diferente.

Mesmo os que regressaram do estrangeiro para serem incorporados salvo excepções, fizeram-no para poderem regressar às suas aldeias e vilas sem serem incomodados pelo regime, circularem a partir daí livremente até para se irem embora para o País que antes os tinha acolhido, desde que sua a política fosse futebol, fado e Fátima, convém sublinhar.

João Caramba a bordo do Angra do Heroísmo, ao larga da Ilha da Madeira

Alguns apresentaram-se já fora da idade de incorporação normal, a julgar pela idade que tinham quando fizeram as respectivas recrutas e nos apareceram como rendições individuais nos destacamentos no mato. Regressaram da outra Europa livre e próspera, após indultos para refractários e possivelmente também para desertores, concedido por Marcelo Caetano se não estou em erro. Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses, a caminho de uma situação sem volta à vista, pois quem é que podia dizer quando a guerra acabava. Se acabasse com uma vitória das nossas forças, a situação de quem tinha fugido podia eternizar-se até ao dia que houvesse uma amnistia do regime, que se tornaria “rancoroso” para quem não tinha dado o corpo ao manifesto.

De França veio mesmo uma pessoa para me levar, o que chegou ao meu conhecimento quando já estava na tropa. Não fui tido nem achado na resolução final, e hoje penso que foi melhor assim.
Nessa altura tinha o meu irmão embarcado para Moçambique. O meu pai não querendo arriscar outro filho em tal missão, agiu assim em conformidade com muito do que pensava. Não fora a minha mãe que após muitas suplicas tais como, “que nunca mais o vemos se ele fugir”, “que ele pode ir para tropa e ter a sorte de ficar cá", “que se Deus quiser nada de mal lhe acontecerá”, eu teria mesmo ido para França e de certeza, não regressaria para ser incorporado para combater em tal guerra.

Todas essas súplicas e razões deram à minha mãe, como resultado, muitas noites de insónia, em que me via morto ou sem pernas, e que isso me tinha acontecido por causa de ela não me ter deixado ir para França.
De certo fez muitas promessas para eu regressar vivo e inteiro.
Felizmente para mim, para ela, voltei sem problemas e foi com enorme alegria que vi a guerra acabar dali a muito pouco tempo.

Não foi uma guerra mas muitas guerras, pois as condições alteravam-se como areia movediça. Quem embarcou em 1961, encontrou uma situação que rapidamente se transformou, de ano para ano, à medida que os movimentos passaram de aceso ódio tribal para nacionalismos militantes e exércitos de guerrilha organizados. O armamento também se modificou em quantidade e qualidade, pelo menos o do inimigo.

Quando falo com camaradas que estiveram na Guiné muito tempo antes de mim, não são poucas as vezes que me dizem “no meu tempo é que era, vocês foram uns lordes”. Depois lembro-me daquele tempo, dos anseios, das saudades, das noites acordado, do que vi, lembro os mortos, a violência a que estiveram sujeitos muitos destacamentos nos 28 meses que lá estive e fico a pensar se estamos a falar da mesma guerra.

Um abraço
Juvenal Amado

(*) Que deu em repressão violentíssima na Baixa de Cassange sobre população confinada que cinquenta anos antes (1911) tinha convertido, pela força, guerreiros orgulhosos em agricultores de algodão, humilhando-os na sua condição, daí em diante.
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Notas do editor

(1) Vd. poste de 22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)

Último poste da série de 22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, 1972/74)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13668: Efemérides (174): Os guineenses libertaram-se de Portugal mas não se libertaram da opressão (Manuel Luís Lomba)

1. A propósito de se completarem, neste mês de Setembro, os 40 anos da independência da Guiné-Bissau, recebemos do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), este artigo, em mensagem do dia 26 do corrente:

Saudações ao Carlos Vinhal, formiga trabalhadora deste blogue colectivo, bem como ao Luís Graça, o ”homem grande” da nossa Tabanca Grande.
Setembro foi o mês de acontecimentos decisivos que atiraram para o caixote do lixo da História os sacrifícios que, enquanto combatentes, doamos à Guiné portuguesa. Escapou o denominador comum do respeito e empatia criada entre os ex-IN e a generalidade dos bissau-guineenses, nomeadamente com os da estirpe do profícuo Pepito, in memoriam, e do corajoso “menino de Fajonquito”.
Não deixei acabar este Setembro quarentão sem te enviar o texto seguinte, desalinhado do politicamente correcto, para lhe dares o tratamento que entenderes.

Manuel Luís Lomba


Os guineenses libertaram-se de Portugal mas não se libertaram da opressão

Saudamos os nossos irmãos bissau-guineenses que celebram o 40.º aniversário da sua independência política, em especial os grisalhos sobrevivos da geração dos turras, que nos infernizaram a vida durante o logo tempo que passámos no seu chão. A efeméride é oportunidade para abordar os acontecimentos ocorridos em Setembro de 1973, da fundação da nacionalidade, em Madina do Boé e em Setembro de 1974, com o MFA a outorgar a exclusividade do senhorio do povo da Guiné e a entregar as chaves da capital de Bissau ao PAIGC, até então com a cabeça em Conakry, Moscovo e Havana.

Havia séculos que os portugueses da Metrópole e da Guiné se compraziam com idêntico sentimento patriótico, do querer de uma nação e do seu próprio Estado. Para além da nostalgia, mas sem saudosismo, a geração grisalha dos seus ex-combatentes vai rezingar até à sua extinção em como o seu exército, que serviram com honra, fora o fundado por D. Afonso Henriques, no Castelo de Faria, em 1127 e ganhador da nossa independência, em Guimarães, em 1128, e não o que emergiu a abandonar o povo da Guiné e a causar o efeito sistémico do abandono do Ultramar – a mãe das catástrofes que desabaram sobre os nossos irmãos africanos.

Se é verdade que os fins não justificam os meios, o desencadear das guerras será ilícito imoral. Na da Guiné, os dois lados reclamavam-se da legitimidade subjacente às suas origens, mas o tempo e modo da independência política bissau-guineense evidenciaram que ela fora prematura, pela pressa de Amílcar Cabral e do seu PAIGC pela emancipação de Portugal e pela pressa da Comissão Coordenadora do Programa do MFA, em dar ouvidos e reconhecer apenas a voz das armas, num juízo em causa próxima. Sem pedir culpados à História, em causa estará o facto de haver outorgado o poder ao PAIGC, à revelia da consulta ao seu povo. Anunciava a autodeterminação e entregou o poder a um partido-estado e armado. Naquele tempo, pela multiplicidade das suas mais de 600.000 almas, apenas 12% dos guineenses teriam aderido ao ideário marxista e terceiro-mundista daquele partido único, enquanto 88% se mantinham vinculados à civilização ocidentalista, que as FA portuguesas veiculavam esforçadamente.

O MFA usou a camuflagem ideológica para se alcandorar ao poder político, o seu desempenho foi um misto de mediocridade e ingenuidade e teve a mesma pressa a complementar a derrota política sofrida na desértica Madina do Boé com a derrota pelas suas armas, existentes e imaginárias, como era o caso dos aviões MIG, ao capitular na mata de Morés, nos princípios de Julho de 1974.

Sendo velho de 500 anos, a derrota política do Ultramar tinha a mesma idade - vinha dos “velhos do Restelo” - e, ao longo desses séculos, os insofridos soldados e marinheiros de Portugal e colónias sempre esconjuraram a sua derrota militar. Os ex-combatentes da Guiné, que palmilharam as matas e bolanhas a expor-se como alvos nas emboscadas, a dar ao gatilho em batidas, cercos e assaltos, a levar com minas, bazucadas, mísseis e obuses, nas noites de insónia nos seus estacionamentos e a sacrificar-se graciosamente pela melhoria social e económica do seu povo, não compreendem como é que, no confronto entre os cerca de 4000 combatentes paigcistas, entremeados de internacionalistas, e os 45 000 militares e militarizados, metropolitanos e naturais, num espaço de dimensão geográfica inferior à do Alentejo, estes saíram derrotados. Fazem recordar que nem a Espanha, a maior potência do mundo de então, nem o imperialista Napoleão haviam conseguido derrotar os soldados portugueses no Alentejo, aquela nos 28 anos da guerra luso-espanhola da Restauração e o génio militar de Napoleão com as 5 Invasões Francesas. O MFA complexou os militares, os que baixaram a espada, não despiram as fardas e se alcandoraram a políticos foram muitos, entrando rapidamente nos jogos da mentira e da manipulação, como é apanágio destes.

Nos 11 anos da guerra que desencadeou e aguentou, o PAIGC apenas ganhou a vitória política que desembocou na fundação da nacionalidade bissau-guineense, em 24 de Setembro de 1973, na inóspita Madina do Boé e uma vitória militar indirecta, não decorrente dos cercos e bombardeamentos massivos com que martirizou as populações e as guarnições militares de Guileje, Gadamael, Guidaje e Buruntuma: a sobreposição do golpe do MFA da Metrópole, em 25 de Abril, pelo golpe militar da malta esquerdista do MFA da Guiné, na manhazinha de 26 de Abril, em Bissau, a culminar a ruptura das cadeias de comando e a decapitação dos altos comandos militares, em pleno teatro duma dura guerra. Por ironia do destino, a vitória política do PAIGC e a derrota militar de Portugal, decisórias da libertação da Guiné, aconteceram sem tiros…

Todo o mundo apoiou e reconheceu a fundação do seu Estado e todo o mundo conhece o estado a que a Guiné-Bissau chegou. Um Estado fraco descamba na violência - sequelas do seu parto prematuro, carente da incubadora -, criado pelo PAIGC e a sua pesporrência e pela “Descolonização exemplar”, segundo o MFA. Volvemos o olhar para os contextos da fundação da sua nacionalidade, em Madina do Boé, cujos contornos não têm sido bem contados pelos seus encenadores e actores.

Em 1972, Amílcar Cabral já havia convencido mais de meio mundo da sua vitória e da iminência da proclamação unilateral da independência, sem que o PAIGC houvesse conquistado qualquer posição, sem conseguir embargar o chão da Guiné aos soldados portugueses nem a sua presença junto da maioria do seu povo. Com garantias do seu reconhecimento e do voto diplomático dos países afro-asiáticos, comunistas e de alguns do Ocidente (40 em 112 na ONU), elegera a região de Cassacá/Quitafine para encenar o evento e marcara-o para 12 de Setembro de 1973, data do seu 49.º aniversário natalício. O útero de D. Iva Pinhal Évora, que conheci em 1965, a residir no bairro do Chão de Papel, constituíra-se em causa remota da libertação da Guiné: ao gerar o libertador gerara o embrião da libertação. O líder regressara de Moscovo em finais de 1972, sem os aviões de combate MIG, mas com a certeza da entrega do primeiro fornecimento de 44 mísseis terra-ar Strella, destinados a interditar os céus da Guiné às máquinas de guerra voadoras da Base Aérea n.º 12, em Bissalanca, que tão desequilibravam os pratos da balança da guerra que desencadeara. Veio perder a vida em Conakry, longe do teatro dessa guerra, em 20 de Janeiro de 1973, não em combate próprio da guerra, mas à mão de correligionários de longa data, no contexto da discordância pela união da Guiné e Cabo Verde, não obstante o Partido Comunista Português o haver prevenido da conjura, por escrito; a fonte dessa informação seria uma “toupeira” no Estado-Maior português. Álvaro Cunhal, o pragmático Secretário-geral do PCP, foi o único chefe oposicionista ao Estado Novo que sempre advogou e pugnou, no país e no estrangeiro, pela descolonização do Ultramar – à moda do MFA…

Os herdeiros cumpriram as instruções e respeitaram a agenda do líder defunto, preparando e desencadeando manobras militares de guerra clássica, vigorosas e simultâneas, de cerco e ataques massivos às povoações fronteiriças dos “3G´s” – Guidaje, Guileje e Gadamael -, durante mais de um mês, na procura de vitórias tangíveis, para ilustrar a próxima proclamação da independência. Em Guidaje, foram contidos pela valentia do comandante e forçados à retirada para o Senegal; em Guileje, o comandante fintou-os com a manobra da retirada para Gadamael, decisão inaudita, susceptível de ofuscar a boa imagem da guarnição e Nino Vieira desceu de Boké, precavendo-se num blindado para abordar o alvo abandonado há 2 dias.

O passamento de Amílcar Cabral trouxe a luta pelo poder ao interior do PAIGC. Nino Viera havia concorrido a seu sucessor, mas os seus pares (apenas um voto em 15) deram a liderança ao Luís Cabral, que era o controleiro do aparelho paigcista, no seu desígnio de transitar da presidência da Assembleia Nacional Popular para presidente do Conselho de Estado - a rampa de lançamento para futuro próximo presidente da Guiné-Bissau -, e Gadamael tornou-se o alvo das suas frustrações, deslocando a panóplia de armamento pesado para o interior da Guiné. Os defensores de Gadamael passaram a sujeitos de situações patéticas e a dramas de alta densidade. Os primeiros obuses puseram os seus dois capitães fora de combate e cerca de 300 elementos debandaram da guarnição, em fuga ao inferno em que o dilúvio de obuses transformara a povoação e o estacionamento militar. A defesa deste esteve reduzida a cerca de 30 elementos, por um período superior a 24 horas, que a aguentaram firmes e valentes, como homens e como soldados, à maneira dos portugueses de outras eras. Os pára-quedistas vieram de Guidaje e de Cufar, os fuzileiros e os comandos vieram de Bissau em seu socorro e obrigaram Nino Vieira a retirar para o conforto do território estrangeiro, tendo de recriar uma “grande marcha” à moda maoísta, com combatentes e carregadores a alombar com a panóplia desse armamento pesado por trilhos inóspitos, totalmente vulneráveis às previsíveis manobras de exploração do sucesso – que não foram desencadeadas. Os pilav já haviam superado os Strella e os T6 e Fiat G91 de Bissalanca surgiam sobre a copa das árvores e derretiam, sem oposição, as retaguardas e santuários do PAIGC, no Senegal e na Guiné-Conakri.

O general Spínola superou a crise dos 3 G´s e veio para Lisboa, de férias e para se demitir, quando no teatro da guerra da Guiné emerge o MOCAP, Movimento dos Capitães, corporativo, rapidamente metamorfoseado em MFA, Movimento das Forças Armadas, político e conspirativo. Depois do facto consumado ficou a saber-se que o PAIGC era posto ao corrente de tudo o que era essencial. O PAIGC não alcançará maiores êxitos militares do que os decorrentes da sua robusta luta de guerrilha e continuou o seu caminho rumo à vitória, pela declaração unilateral da independência política, com a proclamação prevista na aludida região do sul, tendo apenas alterado a data de 12 para 19 – acabou por ser fixada em 24 de Setembro. A Guiné estava para a Spinolândia como o Boé estava para a Cabralândia.

A data da proclamação da independência aproximava-se, a tropa de intervenção de Bissau começara a vigiar o Cantanhez e, nas antevésperas, um Fiat G91 afundou uma embarcação que fazia a cambança de pessoal da Guiné-Conakry com destino ao local do evento. Nino Vieira, responsável pela segurança, pela qualidade de chefe de operações, avaliou a situação e fez saber aos seus pares que não a poderia garantir.

A liderança do PAIGC à data divulgará que ultrapassou a expectativa do fiasco transportando, durante toda a noite da véspera, a tralha da sua logística para o Boé, considerada pelo Amílcar como a mais segura das “áreas libertadas”, correspondente à quadrícula de Madina e Beli, abandonada pela tropa, desde 1968. E Luís Cabral até foi mordaz quanto à competência de Nino Vieira, ao dizer, ao jeito de confidência, que ele levara os foguetões mas que se esquecera de levar o mecanismo do seu lançamento…

Ou as explicações são pouco cuidadas, mistificadas ou estaremos perante um milagre. O PAIGC andou toda a noite da véspera a mudar a tralha e o armamento do Cantanhez para o Boé mas, manhã manhãzinha, o cerimonial atingia o pleno, as centenas pessoas instaladas - deputados, dirigentes, convidados, diplomatas estrangeiros (o embaixador russo diz que não assistiu) e enviados da imprensa internacional, com Nino Vieira a ler o texto da proclamação, da autoria do dr. José Araújo, pelas 8H55 TMG. E a publicidade à volta desse evento fez elevar de 40 para 82 o número de países que lhe deram apoio e reconhecimento diplomático.

Do lado português, não compareceram nem a Força Aérea nem as tropas heliotransportadas. Eficiência da contra-informação?
Dizia-se que o Estado-Maior de Bissau estaria infiltrado de capitães e de oficiais superiores comunista.

Terão acontecido acções de traição à pátria, na guerra da Guiné? A seguir ao 25 de Abril, a amnistia dirigida a refractários e desertores não encontrou traidores à pátria. O PAIGC começou a fuzilar em 1964 e fuzilou muitas centenas de guineenses, pelo menos até 1980, sob essa acusação. Na I Grande Guerra, pela simples manifestação da intenção de um soldado condutor amalucado, natural da Foz do Douro, de entregar aos alemães duas cartas de itinerários para as posições portuguesa, foi julgado como traidor à pátria na forma tentada e sentenciado com o fuzilamento, presenciado por uma grande formação de camaradas.

Nino Vieira demorará 7 anos a anular Luís Cabral e a ascender a PR da Guiné-Bissau.
Passou de IN e grande vilão da guerra da Guiné a amigo de Portugal e o PR Jorge Sampaio condecorou-o com o Grande Colar da Ordem Militar de Santiago de Espada, cujo chanceler era … o general António de Spínola…

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13530: Efemérides (173): Romagem anual ao Cemitério de Lavra / Matosinhos, de homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 8 de Agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13667: In Memoriam (196): Claúdia Sousa (1975-2014), estudiosa do dari (chimpanzé) do Cantanhez, morre aos 39 anos, de doença. O funeral é amanhã, na Figueira da Foz


Título e toto: Recorde do jornal Público, 29 de setembro de 2014.  (Com a devida vénia...)



1. Foi o João Graça, amigo da Tabanca Grande, médico e músico, que esteve em dezembro de 2009, na Guiné-Bissau e teve o privilégio de ver, ao vivo, no seu habitat natural  o chimpazé (ou dari) do Cantanhez, quem me deu a triste notícia: a professora e investigadora Cláudia Sousa morreu de cancro, esta segunda feira, aos 39 anos.

Não conhecia, pessoalmente, a Cláudia mas sabia que ela era uma jovem e promissora cientista portuguesa que se dedicava ao estudo dos chimpanzés. Era, de resto, minha colega, pertencendo, desde 2001,  à Universidade Nova de Lisboa (NOVA), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), Departamento de Antropologia [Vd. aqui o seu currículo académico].

Segundo Teresa Firmino, jornalista do Público, que assina o artigo acima citado, "Cláudia Sousa doutorou-se em 2003 na Universidade de Quioto [, Japão,] sob orientação de Tetsuro Matsuzawa, uma autoridade mundial em primatologia. A sua tese de doutoramento versava sobre a capacidade cognitiva de os chimpanzés acumularem capital ou, por outras palavras, de fazerem um mealheiro. Para tal, em experiências no Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, a investigadora deu aos chimpanzés tokens (objectos que têm um valor simbólico) para pedirem frutas em troca – e que eles guardavam e só trocavam por alimentos quando queriam.

"Na sua tese de doutoramento Cláudia Sousa mostrou que o sistema dos tokens constituía uma nova metodologia para avaliar as capacidades cognitivas dos chimpanzés. Em particular, observou “a emergência de um comportamento único – ‘economizar’”, lê-se no resumo da tese. Ou seja, compreendem e têm noção do valor simbólico de certos objectos." (..:)

Cláudia Sousa (1975-2014).
Foto: cortesia  da FCSH/NOVA
Para além de experiências em laborório, também fez trabalho no terreno, tendo ido à Guiné-Bissau e à Guiné-Conacri, por diversas vezes,  em expedições científicas. Viu chimpanzés em estado selvagem, pela primeira vez, na sua quarta visita à Guiné-Bissau, acompanhada por Catarina Casanova, outra primatóloga portuguesa. Entre 2007 e 2011, Cláudia Sousa foi presidente da Associação Portuguesa de Primatologia que ajudou a fundar.

Segundo o diretor da FCSH da NOVA, João Costa, em comunicado recolhido pela jornalista do Público, "a professora Cláudia Sousa deixa-nos um testemunho importantíssimo de amor à ciência e entusiasmo pela investigação. Mesmo muito fragilizada pela doença, nunca parou de trabalhar com um entusiasmo contagiante e com projectos sempre novos (...). “A sua produção científica foi sempre notável, sendo este ano a vencedora do Prémio Santander de Internacionalização da Produção Científica, que será atribuído postumamente na Festa da FCSH.”

A notícia da sua morte entristece-nos a todos, aqueles de nós que são amigos da Guiné, e todos aqueles que amam a ciência que se faz em Portugal e nos demais paíes lusófonos. Ficamos todos mais pobres,  a começar pela população (ameaçada) de daris da Guiné-Bissau e da Guiné-Conacri...

O corpo encontra-se em câmara ardente na Igreja Matriz da Figueira da Foz, donde a Cláudia era natural. O funeral realiza-se amanhã, terça-feira,  à tarde.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 > Um dari (chimpanzé) descendo uma árvore ... Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, com relativa abundância com o macaco fidalgo (fatango).

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem:  L.G]

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Nota do editor:

Útimo poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13650: In Memoriam (195): Cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, região de Bafatá... As suas irmãs, Teresa e Ana descobrem agora, emocionadas, as referências sobre ele no nosso blogue e encontraram-se há dias, em Lisboa, com o A. Marques Lopes, seu amigo e companheiro de infortúnio

Guiné 63/74 - P13666: Fotos à procura de... uma legenda (35): 4º pelotão, CART 11, junho de 1970, Nova Lamego... Uma grande e enigmática foto (Valdemar Queiroz)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > Quartel de Baixo > CART 11 (Contuboel, e Nova Lamego 1969/ Paunca, 1970) > Foto do 4º pelotão, comandado pelo alf mil Pina Cabral (Furriéis mil;  Pinto, Macias e  Valdemar Queiroz).


Foto: © Valdemar Queiroz  (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

UMA GRANDE (E ENIGMÁTICA) FOTOGRAFIA

por Valdemar Queiroz

[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Não sabemos e, se calhar, nunca saberemos quem foi o fotógrafo desta grande fotografia. O 4º. Pelotão, da CART11 (Contuboel, Nova Lamego 1969/ Paunca 1970).

Sabemos que máquina fotográfica era do ex-alf mil Pina Cabral, sabemos que foi ‘tirada’ em Junho de 1970, na Guiné, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, na parada e em cima duma GMC que tinha sido atingida por uma mina anti-carro, e que estamos numa zona de guerra no leste da Guiné, sabemos que não faltou ninguém do 4º. Pelotão, da CART 11, para posar para a fotografia.

Sabemos que uns vieram com o seu melhor fardamento, os 2ºs. da primeira fila da frente  esquerda sabemos que outros, os últimos da dierita, da  fila da frente, festejaram o evento como que uns ‘putos’ lá na sua escola, sabemos que o ex-alf mil Pina Cabral, à frente e ao centro, comandante do Pelotão, muito bem fardado,  impõe respeito a toda agente, e também sabemos que não festejávamos coisíssima nenhuma.

Pode haver dezenas/centenas de fotos de Pelotões/Secções e outros em formatura, mas como esta (enigmática) fotografia do 4º. Pelotão da CART 11, não há nenhuma.

Ninguém tem o mínimo resquício de guerra, embora fardados e tenham feito dezenas de acções e estejam em plena zona de guerra, foi como se se juntassem todos para uma foto de fim de tarde num dia especial, mas que não se consegue adivinhar por qual foi o motivo.

Todas, ou em quase todas, as fotos deste tipo aparecem os homens com as G3 ou outras armas,  dando a ideia de guerra, e com razão, mas nesta grande fotografia não,  e nunca saberemos o porquê de toda esta calmaria, de toda esta pose com o seus quês enigmáticos. Não enigmáticos que não saibamos quem são os intervenientes, mas enigmáticos quanto á postura e pose para a fotografia.

Quem saberá qual a razão do Lobo Seidi, o primeiro, em baixo, do lado esquerdo á frente, ser o único de cabeça baixa, quem saberá qual a razão o Caró Seidi, o terceiro, do lado esquerdo á frente, estar a mostrar uma caixa de fósforos, quem saberá qual a razão o Adulo Jaló e o ex-1º. cabo Altino e até o ex-fur mil Pinto, na segunda posição, em cima, lado direito., estarem a olhar para o infinito, quem saberá qual a razão do ex-1º cabo Silva, a seguir , com a mão esquerda na cadela ‘Judi’ ser o mais ‘pensativo’ de todos, e até a pose de guarda-costas do Arfan Jau em cima à direita atrás do ex-fur mil Macias, quem saberá qual a razão de não haver grandes ‘expressões’ de alegria, exceptuando o caso, da pose excepcional, o hino entre os povos, o português no seu melhor de confraternizar com toda a gente, que é a pose do ex-1º cabo Rocha no lado direito, em baixo, com o braço sobre o ombro do Aliu Djaló, num quase abraço, numa comunhão entre os povos, mas desta vez, infelizmente, na guerra, mas contentes, como que se os dois tivessem acabado de ver um jogo vitorioso do Benfica. Julgo não haver muitas poses como esta, julgo mesmo que será a única.

Esta é uma GRANDE (E ENIGMÁTICA) FOTOGRAFIA em que cada observador pode fazer ou conjecturar muitos comentários, provavelmente perguntar se o Alseine, Saliu, Camará, Mutaro, Bácar, Arfan, Macias, Bonco, Tamaiana, Silva, a ‘Judy’, Adulo, Altino, Jarga, Pinto, Lobo, Tagundé, Boi, Pina Cabral, Queiroz, Mamadu, Ussumane, Fode, Aliu e Rocha estarão vivos. Não sabemos. O Macias, Silva, Altino, Pinto, Pina Cabral, Queiroz, Rocha e até o Boi Colubali estão vivos, os outros, agora com idades de mais de sessenta anos e até mais de setenta, não sabemos. A única coisa que sabemos é que esta fotografia existe e retrata vinte e nove jovens que estiveram na guerra da Guiné.

Valdemar Queiroz

PS - O meu filho que vive na Holanda,   e que é um estudioso de belas artes (em 2015 será prof), acha que esta fotografia é um hino. Um hino dos portugueses a darem-se bem com outros povos. Até arranjou uma legenda: 'Um enigma, quem são estes ?' Realmente, nesta fotografia não se sabe se o Silva é de Sinchã Abulai ou o Boi Colubali é de Penafiel, estão todos juntos. Que grande (e enigmática) fotografia.

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