sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20522: O nosso livro de visitas (204): António Borges, cor inf ref, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1970, ao tempo do José Corceiro e do José Martins



Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970

(...) O capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do capitão Borges tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao teatro de guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole. (...) (*)

[Foto à direita]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o capitão Borges, o capitão Costeira e o ahferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

[Foto à esquerda]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 >  Instalados junto àmargem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. 

Na foto, o capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  14 de março de 1970 >  Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, Silva Cunha.


Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15h00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Fotos (e legendas): © José Corceiro  (2010) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de mensagens entre o cor inf ref António José G. G. Borges, ex-cap, cmdt da CCAÇ 5, Canjadude, 1970, hoje cor inf ref (**):

(i) António Borges, quarta, 18/12/2019, 12h45

Com os meus afectuosos cumprimentos muito gostaria que me fosse indicado o endereço actual do vosso "tertuliano" José Corceiro que foi Cabo radiotelegrafista da CCaç 5,  de Canjadude (Guiné), Companhia que comandei em 1970.

Antecipadamente agradecido desejo a todos Festas Felizes.
Cor António José G. G. Borges,
ex Capitão Borges / CÇaç 5


(ii) Luís Graça, 18/12(2019, 13h15

Zé Corceiro: Já há tempos que não contactamos... Tens aqui um pedido do ex-cmdt da CCAÇ 5, em 1970, hoje cor ref António Borges. Responde-lhe, com conhecimento a mim, se não te importares... Aproveitas para fazer a "prova de vida"...

Um abraço natalício. Luís Graça


(iii) José Martins, 18/12/2019.18h45:

Boa noite, meu Comandante e Amigo António Borgs:

Espero que se encontre bem, assim como toda a família. Pediram-me para responder a este mail, o que faço com muito gosto.

Já não tenho contacto com o Corceiro há algum tempo mas, os contactos de que disponho são:
e-mail (...)

telemóvel (...)

Telefone fixo (...) 

Aproveito para enviar votos de Boas Festas e um óptimo 2020.

José Martins

 (iv)  António Borges, 2/1/2020 11h15: 

Caros amigos:

A resposta ao meu pedido sagrou-se 100% exitosa tendo "capturado" o Corceiro que era o objectivo principal da operação, mas também o Martins, e estabelecido contacto com o Luís Graça a quem felicito pelo excelente trabalho do "blogue" que vem patrocinando, executando um trabalho que seria legítimo exigir fosse feito pelas instâncias oficiais próprias.

A todos os meus votos de um 2020 pleno de êxitos pessoais.

Um forte abraço do "capitão",

Borges

2. Comentário do editor Luís Graça:

Meu caro coronel António Borges: fico honrado com as suas palavras acerca do nosso blogue, e grato pelos seus votos de bom ano de 2020, que retribuo,. Ao mesmo tempo, fico feliz por termos conseguido "levar a carta a Garcia"... Mas precisamos da presença de mais um "Gato Preto" na nossa Tabanca Grande. Depois desta agradável visita, o seu lugar é aqui ao pé de nós. E começa bem o ano de 2020 se aceitar o nosso convite, sentando-se à sombra do nosso mágico, protetor e fraterno poilão, no lugar nº 802.

 Mande-nos uma pequena nota curricular e as duas fotos da praxe: uma mais recente e outra mais antiga, do tempo do CTIG. Com certeza que terá memórias que possa e queira partilhar connosco. Será muito bem vindo.

PS - Além do José Martins e do José Corceiro, temos ainda o João Carvalho (, "um dos últimos soldados do império"), como dignos representantes da CCAÇ 5. Espero que não me tenha escapado mais nenhum nome. Cito de cor.
______________


(...) Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5, que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada Comandante deixou cinzelado, na minha memória, recordações e sentimentos distintos uns dos outros. (...)

(...) Estamos integrados numa companhia independente de africanos, cujo quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tbanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo). (...)


(...) Dia 20 de março, 1970o comandante da CCAÇ 5 é o capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007,  com a patente de coronel tirocinado na reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a major e foi destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Bióloga), que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto. (...)

(...) Dia 21 de março, logo cedo, antes das h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no posto de rádio, das 4h00 às 8h00 e das 12h00 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o capitão Oliveira o capitão Borges (hoje coronel na reserva) que era o comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego. (...)

(...) Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau. (...)

(..:) Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, o dia 14 deste mês [de março de 1970], todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e, tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens, no posto de rádio.

Dia 31, o capitão Borges mandou reunir os militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos. (...)

(...) Dia 7 de abril, logo manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento, ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o capitão Borges veio acompanhado da sua esposa que, segundo consta,  vai ficar a viver em Canjadude. (...) [Vd. foto acima, com a respetiva legenda] (...)


(...) Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós, militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar. (...)

(...) A esposa do capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações. (...)

(...) Dia 29 [de março de 1970], por sugestão da esposa do capitão Borges, ao serão reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças, para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro, suficiente, para pagar uma rodada de cervejas para todos. (...)

(...) Dia 6, de maio, chegou a Canjadude o capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como alferes e que tinha sido há quatro anos atrás; hoje é coronel na reserva), para substituir o Capitão Borges. (...)

(...) Dia 13, em Canjadude, foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração, para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao capitão Costeira. (...)

(...) Dia 23, realizou-se uma operação, para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o capitão Borges e o capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo todo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar. (...)
(...) Dia 24 de maio  de 1970, veio o furriel de transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o furriel de transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ. 5, rumou destino à Metrópole, por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte. (...)


(**) Último poste da série >  19 de setembro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20521: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (22): Um Postal de "boas festas" do nosso Colaborador Permanente Hélder Sousa

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de hoje, 2 de Janeiro de 2020:


ANO NOVO, VIDA NOVA?

Meus amigos (e amigas, que agora é muito importante não ter "deslizes" em "questões de género")

Já estamos no 2º dia deste mês de Janeiro do novo ano de 2020.
Já passou a época do "Bom Natal", das "Festas Felizes", do "Bom Ano Novo", com que se foram enchendo as mensagens por diversas vias.
É agora tempo de se dar corpo aos desejos formulados.
Saber se são sinceros, profundos, determinados, ou apenas produtos de repetições ocas.

Algumas dessas intenções são-nos exteriores, não dependem exclusivamente de nós. Mas uma boa parte delas tem a ver com a nossa vontade, com a nossa capacidade de as concretizar. Então... mãos à obra!

Sei, sabemos, que somos "todos iguais, todos diferentes".
Há, naturalmente, sensibilidades distintas, personalidades diferentes, gostos e opiniões diferentes. Isso será normal e até desejável, pois não é "coisa boa" todos serem fotocópias uns dos outros.
Então, respeitando as diferenças, devemos investir naquilo que nos une em detrimento do que, eventualmente, nos separa.
Não temos que gostar todos uns dos outros, ou daquilo que "os outros" gostam, temos sim de gostar e valorizar o que, eventualmente, temos em comum, e sobre isso haverá muitas coisas, certamente umas mais importantes do que outras, mas é necessário que não "nos deixemos cair na tentação" da distracção, ou no fingimento da mesma, de nos alhearmos das nossas responsabilidades de cidadania e de procurar melhores condições de vida.

Temos que fortalecer os nossos laços.
Temos que aprofundar os nossos conhecimentos.
Temos que melhorar o "eu" interior, trabalhando mais e melhor as nossas "pedras brutas".
Temos que ser mais condescendentes, mas firmes, com as particularidades de cada um.
Temos que dar mais atenção às dificuldades que "batem à porta" dos amigos e ser pró-activos no seu auxílio, nem que sejam apenas palavras de conforto e solidariedade.

Se estas e outras coisas forem colocadas em prática certamente que as nossas vidas serão ainda mais gratificantes.

Que assim seja!
Bom novo "Ano Novo"!

Hélder Sousa
____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20505: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (21): Fez-me bem passar por Runa. O coração voltou a sentir "aquela" emoção. Talvez por ser Natal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Guiné 61/74 - P20520: In Memoriam (360): Carlos Marques dos Santos (1943-2019): "O meu pai chegou, no último dia do ano, à sua última morada, onde agora descansa... Que 2020 me dê a coragem de aprender a viver sem ele...O vosso camarada faria hoje, 5ª feira, 77 anos... Ergam uma taça por ele!" (Inês Santos)


Montemor-o-Novo > Ameira > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > 14 de outubro de 2006 O Carlos Marques dos Santos (CART 2339, Mansambo, 1968/69), o qual merece uma palavrinha de apreço, porque foi ele o nosso "major de operações", foi ele que organizou o encontro...

Confidenciou-me que a sua Inês, a conhecida cantora Inês Santos, natural da belíssima cidade do Mondego, chegou a oferecer-se para nos vir, à Ameira, alegrar a alma com a sua música, a sua poesia e a sua juventude…

Na altura escrevi: "É  bonito associarmos os nossos filhos, discretamente, a estas iniciativas… O único – se não erro – que levou a filha foi o Vítor Junqueira. "Numas palavrinhas de aquecimento (inicial) que eu dirigi à nossa tertúlia, já depois do almoço, lembrei quão difícil era, ainda então (2006), falarmos, aos nossos filhos e às nossas mulheres, da Guiné, da "nossa experiência pessoal, única e intransmissível, que foi a guerra colonial na Guiné"…  Infelizmente, não houve tempo depois, na Ameira,  para ouvir o seu ponto de vista, mas eu formulei o voto de que, em Pombal, no próximo encontro (, o  segundo, em 2008),   "a gente se calasse e lhes desse a palavra"... (Sabemos que não é fácil nem uma coisa nem a outra, a gente cala-se e dar a palavra às nossas mulheres, às nossas companheiras...).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2006) . Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Da nossa leitora e amiga, Inês Santos, filha do nosso camarada Carlos Marques dos Santos (1943-2019) recebemos a seguinte mensagem:


" A família do vosso camarada Carlos Manuel Marques dos Santos vem agradecer todas as manifestações de amizade que muito nos enternecem e aquecem a alma nesta hora tão difícil.
O nosso pai tinha-vos a todos grande estima e estará com certeza muito feliz com todas as vossas palavras. 

"Descansa, agora, em paz depois de uma vida longa,  cheia de momentos muito felizes.

"A vida na Guerra Colonial trouxe-lhe o pior mas daí advieram também grandes e sinceras amizades que ele nunca esqueceu. O vosso camarada faria hoje (2/1/2020) 77 anos. Ergam uma taça por ele. 

"Obrigada a todos! Mãe Teresa e filhos Zé, Ana, Sofia e Inês".


2. Breve nota biográfica do CMS (como ele gostava de assinar) (***)

(i) era natural de Coimbra, da freguesia de Santo António dos Olivais, onde nasceu em 1943;

(ii) estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro em Coimbra;

(ii) assentou praça em Mafra (EPI) em setembro de 1966; fez a especialidade de atirador de artilharia em Vendas Novas;

(iii) iniciou a formação da CART 2339, no RAL 3, Évora, em 28 de agosto de 1967, tendo partido para a Guiné em 14/1/1968;

(iv) foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e vice-presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra;

(v) diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, fazendo parte da Comissão de Gestão);

(vi) efetivou-se na Escola Secundária de Avelar Brotero, onde integrou como vice-presidente o Conselho Directivo;

(viii) foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos;

(ix) em 2005. já estava  aposentado e residia em Coimbra;



(**) Alguns dos postes do Carlos Marques dos Santos publicados no nosso blogue:

15 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16603: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte I: era uma vez uma obscura tabanca do regulado do Corubal que mal se via no mapa...

3 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16679: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte III: Um quartel do mato, projetado pelo BENG 447, e construido com a mão de obra dos valentes "Viriatos"


13 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16830: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte V: Anexos A água: o(s) suplício(s), de Sísifo e de Tântalo (1)

2 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16909: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte VI: Anexos: A água: o(s) suplício(s), de Sísifo e de Tântalo (2)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20519: Historiografia da presença portuguesa em África (194): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7): "As rotas da escravatura, 1444-1888”, por Jordi Savall (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Juntam-se últimas considerações e achegas para a interminável polémica sobre o racismo no colonialismo português. Como tem escrito o estudioso e romancista José Pedro Marques, há que contextualizar em todas as circunstâncias as caraterísticas do nosso colonialismo e fugir aos chavões de críticas desmioladas. Igualmente, na minha opinião devemos saber afrontar as práticas racistas que exercemos, em vários continentes.
Junta-se um conjunto de imagens sobre marcos de fronteira em chão Felupe, é certo e seguro que haverá surpresas, o blogue fica mais rico, como também a cultura luso-guineense.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7)

Beja Santos

A instituição esclavagista vem da noite dos tempos, da captura dos vencidos que se tornam servos, mão-de-obra ou gado. Foi matéria muito delicada para as principais religiões teístas, começaram por não querer afrontar os proprietários dos seus servos, as posições polémicas virão com padres como Las Casas ou António Vieira. Houve escravatura nas naves romanas, no trabalho intelectual, na prostituição, foram práticas universais, dispomos de relatos que não se confinam à Grécia ou a Roma, nem aos mongóis nem aos potentados africanos. O tráfico negreiro assumiu novas proporções com os Descobrimentos Portugueses e com o Novo Mundo, os Estados sulistas norte-americanos dele beneficiaram e foi por causa da abolição da escravatura que se envolveram na guerra da Secessão. Discutiu-se se os negros e os índios tinham alma. E na alvorada da ciência antropológica começaram os estudos das raças e procurou-se argumentação sólida para definir as bases das raças superiores e das raças inferiores. A ascensão meteórica dos direitos humanos leva a que hoje se façam críticas completamente descontextualizadas, e nalgumas delas vem o colonialismo português, que usou o tráfico negreiro, a exploração mais despudorada desta mão-de-obra e houve práticas raciais mesmo que, como se verificou na época dos totalitarismos nazi-fascistas, nunca fomos mais longe de que num conceito completamente nebuloso da raça portuguesa, nunca ninguém teve o desplante de nos arregimentar ao arianismo, porque todos sabemos quem foram os nossos ancestrais ao longo dos milénios em que se veio a formar o português em que nos tornámos.
E curiosamente, em tantos casos do colonialismo praticado pelos portugueses juntaram-se escravos e gentes de outras origens, como vamos agora apreciar com a escravatura em S. Tomé no século XVI, de um estudo de Isabel Castro Henriques (publicado na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 6-7, 1987).

Diz a autora que o processo de colonização fez apelo a uma população heterogénea: portugueses, fundamentalmente degradados, judeus castelhanos, comerciantes portugueses, castelhanos, franceses e genoveses, escravos negros da Guiné, Benim e Manicongo, assim arrancaram as plantações do açúcar, vieram depois plantas importadas.

E regista-se um regime de trabalho bem singular, e a autora cita um estudo de Francisco Tenreiro: “Os negros vinham do Benim, da Guiné e do Manicongo e o seu regime de trabalho era muito curioso. Só se aceitavam negros acasalados que tinham por obrigação trabalhar toda a semana para o senhor, excepto aos sábados que reservavam para si próprios. Com quatro dias mensais inteiramente livres pagava-se o trabalho árduo das semanas; o senhor não fazia qualquer despesa com eles com vestuário, alimentação e habitação. Eles próprios providenciavam no dia livre semanal às suas necessidades… Relacionando este regime de trabalho com as ordens dadas aos vários donatários no sentido de serem estimuladas as ligações entre brancos e negros e devendo considerar-se livres as mulheres e os seus ‘frutos’, sou levado a concluir que o africano, por esses tempos de S. Tomé, não estava sujeito a um regime de escravidão pura; era antes um servo a quem se pedia trabalho, mas a quem por outro lado se permitia uma relativa liberdade na prática dos seus hábitos”.

Se bem que houvesse ordens régias proibindo as relações dos portugueses com mulheres negras, eram ignoradas, constituiu-se um grupo mestiço, que terá um papel fundamental na reprodução do sistema esclavagista e a autora conclui que esta singularidade da escravatura em S. Tomé deve ser analisada não à luz de comparações com situações posteriores mas de acordo com a realidade económica do século XVI em que o escravo africano é fundamentalmente procurado como mão-de-obra e não ainda, como acontecerá um século mais tarde, como mercadoria cuja transação iria permitir lucros fabulosos. A matéria da escravatura chega aos nossos tempos e é relembrada, até porque há novas práticas de servidão, roubo de seres humanos para novas rotas da escravatura, para a prostituição e até o tráfico de órgãos humanos. A arte, a todos os níveis, colabora nessa lembrança. Lembro o monumental trabalho de Jordi Savall, “As rotas da escravatura, 1444-1888”, à frente da Capela Real da Catalunha, Hespério XXI, até nele se refere o pungente relato de Zurara, na Crónica do Descobrimento e a Conquista da Guiné sobre a chegada de 235 escravos a Lagos, em 1444. Jordi Savall lembra que há atualmente mais de 21 milhões de escravos, rememora o passado de todo este tráfico, lembra a costa ocidental africana, mas também o mediterrâneo, a escravatura ao longo dos séculos, dá-nos a sua cronologia, e depois toda a música escolhida tem a ver com estas rotas. Esta infame mercadoria que tem mais de 5 mil anos, que já existia em África antes das expedições massivas de portugueses e de espanhóis traduz-se em música para dar a conhecer os dados essenciais de tão funestos acontecimentos em que a música assume uma surpreendente vitalidade e emoção graças a estas músicas conservadas das antigas tradições dos descendentes dos escravos: desde as costas da África Ocidental, do Brasil, do México, das Caraíbas, Colômbia e Bolívia, mas também do Mali, de Marrocos e Madagáscar, um diálogo com as formas musicais hispânicas inspiradas nos cantos e bailes dos escravos e dos indígenas, em consonância com as tradições africanas, mestiças ou índias.
E escreve:  
“Ao mesmo tempo que rendemos uma emotiva homenagem a este período sombrio através das músicas dos descendentes dos escravos, também queremos apelar para que cada um de nós tem o dever de reconhecer a extrema inumanidade e os terríveis sofrimentos causados a todas as vítimas daquele horrível comércio”.
E não deixa de observar que a tragédia continua para milhões de seres humanos de todas as idades, a nossa tolerância devia ser zero e este livro CD-DVD procura contribuir para a continuação desse combate.

Aqui se põe termo a uma curta série de textos em torno do colonialismo e das práticas raciais portuguesas, não esquecendo que o racismo assume várias caras, em que a discriminação e o preconceito são as mais evidentes.

É com enorme satisfação que se junta o esplêndido contributo da doutoranda Lúcia Bayan que gentilmente oferece ao blogue um conjunto de imagens referentes a marcos fronteiriços na região do seu estudo, o Chão Felupe, seguramente são imagens que vão impressionar muitos de nós. E a Lúcia Bayan, como nos cabe, se agradece sentidamente o valor de tal oferta, é não só um enriquecimento para o nosso blogue como para a cultura luso-guineense.

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Marcos fronteiriços em imagens, Lúcia Bayan

Como sabemos, os marcos fronteiriços identificam limites de uma linha de fronteira terrestre entre países. São geralmente feitos de pedra ou betão, com a identificação e data de colocação gravadas, e colocados em pontos críticos da linha de fronteira.

Por razões políticas e de segurança, a fronteira entre a Guiné e o Senegal foi demarcada tardiamente. Por um lado, Portugal, em Maio de 1886, cedeu a Casamansa à França em troca do apoio deste país para a pretensão portuguesa ao território do Mapa Cor-de-Rosa, e da região de Cacine, no Sul. Os trabalhos de delimitação da fronteira de Casamansa iniciaram-se em 1888, mas só terminaram em 1905, cerca de 20 anos após o acordo entre Portugal e França. Sobre esta questão ver Esteves, Maria Luísa (1988), A Questão do Casamansa e a Delimitação das Fronteiras da Guiné, Lisboa, IICT-INEP.

Por outro lado, os Joola sempre dificultaram a entrada no seu chão. Primeiro aos exploradores e comerciantes e depois às autoridades coloniais. Lembremo-nos do célebre "desastre de Bolor", em 30 de Dezembro de 1878. René Pélissier, em História da Guiné, portugueses e africanos na Senegâmbia 1841-1936, (1989), Lisboa, Estampa, apresenta uma longa lista de acções militares portuguesas em chão Felupe, com vitórias e derrotas para ambos os lados, sendo que a última foi em Março de 1935.

Depois de "pacificados", os Felupe adoptaram a "revolta pacífica", palavras de Pélissier. Um bom exemplo é a história, que já relatei, sobre o marco colocado perto de Suzana, nas comemorações do V Centenário da chegada de Portugal à Guiné (1946), pressupostamente no local onde terá existido a primeira tabanca felupe, denominada Sabotul.

A linha fronteiriça entre o Senegal e a Guiné-Bissau atravessa o chão de dois subgrupos Joola, os Baiote e os Felupe. Os limites do Chão das sociedades tradicionais africanas não são fixos, mas podemos dizer que a linha fronteiriça que atravessa este Chão começa com o marco n.º 158, situado a cerca de 7 km a sul de São Domingos, e o último é o marco n.º 184, junto ao Cabo Roxo, sendo que o marco n.º 175 separa o Chão destes dois subgrupos Joola. Ou seja, do marco n.º 158 ao marco n.º 175, a linha fronteiriça atravessa Chão Baiote e, deste marco até ao marco n.º 184, atravessa Chão Felupe. O meu trabalho de terreno permitiu-me conhecer e atravessar por diversas vezes a linha fronteiriça em zonas juntas a alguns destes marcos, mais precisamente os marcos 173, 175, 180 e 184. A meu ver, as fotos destes marcos, além do seu valor simbólico, mostram a história e o valor social que adquiriram.

O marco 184, instalado junto ao Cabo Roxo, foi recuperado durante a guerra colonial, como se pode ver na inscrição.

Após a independência da Guiné-Bissau, a zona onde está este marco, bolanhas a cerca de 1 km a sul de Kabrousse, início da zona turística do Senegal, passou a ser gerida, não oficialmente, mas na prática, por este país. A delimitação fronteiriça foi mesmo discutida entre Senegal e Guiné-Bissau, durante as disputas, entre estes dois países, para a criação da Zona de Exploração Conjunta (ZEC) de petróleo, criada em 1993.

É uma zona calma e com pouco trânsito de pessoas.


Do marco 180 pouco resta! É também o mais difícil de encontrar, porque está escondido no mato e porque poucos se lembram dele!
Está situado junto de um caminho, muito percorrido por pessoas a pé, de bicicleta e de moto, que liga as tabancas Basseor, na Guiné-Bissau, e Kahème, no Senegal.

Para os Felupe estas duas tabancas são apenas dois bairros da tabanca Hassuka, a capital religiosa Felupe. Hassuka é constituída por estas duas tabancas e mais Sucujaque, Tenhate e Caroai, na Guiné-Bissau.

Basseor e Kahème, distam cerca de 1,8 km e, como bairros, há uma enorme movimentação entre eles. Além disso, a imagem mostra também que este marco está numa zona de conflito.
De facto, em 22 de Agosto de 1991 houve aqui um grande conflito. Perto de Kahème existia um quartel do exército senegalês que foi atacado pelo MFDC e por habitantes desta tabanca. Em retaliação o exército senegalês destruiu Kahème, matando e prendendo muitos homens. Os sobreviventes fugiram para Caroai e Sucujaque. Kahème permaneceu abandonada até 2012, ano em que a população começou a regressar, para ser possível realizarem a cerimónia de iniciação masculina, o Bukut.


O marco 175 está junto a um caminho que liga Budjim, na Guiné-Bissau, a Youtou, no Senegal, duas tabancas a cerca de 4 km, em linha recta, uma da outra. É uma zona de bolanhas e o caminho que liga estas duas tabancas é, em grande parte, feito pelas divisórias das bolanhas. Por isso, este caminho é, quase exclusivamente, feito a pé pelos agricultores destas bolanhas.


O marco 173 está situado em Chão Baiote, junto à tabanca Kassu, na praia de um dos muitos cursos de água da Baixa Casamansa. A linha de fronteira atravessa Kassu, deixando um bairro na Guiné-Bissau e outro no Senegal. O marco está instalado num espaço aberto, apenas frequentado por vacas que, para fugirem às moscas, buscam as zonas perto de água.

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Notas do editor:

Por lapso do editor não foi publicado em tempo útil o 7.º poste de "A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português". Aqui fica a reparação com as nossas desculpas ao Mário Beja Santos.

Postes anteriores de:

6 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20318: Historiografia da presença portuguesa em África (182): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (1): Questionário Etnográfico elaborado pelo Capitão Vellez Caroço (Mário Beja Santos)

13 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20341: Historiografia da presença portuguesa em África (186): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (2): "Portugal Vasto Império", por Augusto da Costa (Mário Beja Santos)

20 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20366: Historiografia da presença portuguesa em África (187): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (3): "Racismos, Das Cruzadas ao Seculo XX", por Francisco Bethencourt (Mário Beja Santos)

27 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

4 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20440: Historiografia da presença portuguesa em África (191): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20499: Historiografia da presença portuguesa em África (193): Relatório Anual do Governador da Guiné (1921-1922) - Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20518: Parabéns a você (1733): Margarida Peixoto, Amiga Grã-Tabanqueira - Penafiel

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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20515: Parabéns a você (1732): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20517: In Memoriam (359): Carlos Marques dos Santos (1943-2019), um camarada afável e generoso, um "viriato" da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), um veterano, "futrica", da Tabanca Grande, e a quem dizemos "adeus, camarada, até qualquer dia!"


Coimbra > Santo António dos Olivais > Aguarela da igreja paroquial. Autoria: Sofia Santos, s/d, filha do Carlos Marques dos Santos (1943-2019), com formação superior em pintura.

Foto ( e legenda): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O CMS no destacamento do rio Udunduma
(c. junho/julho de 1969)
1. Alguns depoimentos / comentários de camaradas nossos, no Blogue e no Facebook, que conheciam e estimavam o Carlos Marques dos Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339, "Os Viriatos" (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) (*)


(i) Luís Graça:

Bolas!, o Carlos ia fazer os 77 anos no próximo dia 2 de janeiro... Há já uns anos que eu não tinha
notícias dele... Sabia, sim, que tivera em tempos uns problemas de saúde, de coração, que o afastaram do nosso convívio... Depois da Ameira, de Pombal, da Ortigosa...

É um duro golpe para todos nós, camaradas da Guiné, em geral, e para os camaradas, em particular, que o conheceram em Bambadimca e em Mansambo (em 1968/69)... Para mim, que convivi algumas vezes como ele quando ia Coimbra, sua terra natal, em trabalho, na Faculdade de Ciências e Tecnologia... Conheci-o, de resto, na Ameira, em 14/10/2006: foi ele quem organizou, com o Paulo Raposo, o nosso I Encontro Nacional... E também ajudou o Vitor Junqueiro a organizar o segundo, em Pombal, no ano seguinte.

Tinha um grande amor pela sua terra, Coimbra, e em especial pelo seu "chão", a freguesia  de Santo António dos Olivais. Os nossos camaradas Victor David (CCAÇ 2405) e o Carlos Marques Santos (CART 2339) eram primos, nados e criados em Santo António dos Olivais onde tradicionalmente havia uma rua dividida pelo famoso "paralelo 98": uma linha imaginária que nenhum estudante podia transpôr, sob pena de sofrer as devidas consequências...

Era, por outro lado,  um homem de grande afabilidade. E eu posso testemunhar o carinho ele que tinha pela família (a esposa Teresa, as filhas Inês e Sofia...). Que dizer-lhes, neste grande momento de dor ? Que o nosso coração está com elas... e que o Carlos não ficará na vala comum do esquecimento... Luís Graça

(ii)  Carlos Vinhal:

Tenho, como data de nascimento do Carlos,  o dia 2 de Janeiro de 1943, embora ele tenha embarcado para a Guiné em 1968, portanto um pouco tarde. Talvez tenha pedido algum adiamento.Já contactei via mail a sua filha Inês a quem, em nome da tertúlia e dos editores, apresentei as nossas condolências.

(iii) Jorge Picado:

A todos os familiares deste nosso camarada Carlos Marques Santos, mais um que nos deixa, os meus sinceros pêsames.

E assim vão acabando os ex-combatentes da Guerra Colonial, para descanso de quem nos (des)governa.

Até um dia, camarada!

(iv) Jorge Cabral:

Os meus mais profundos sentimentos! Conheci-o ainda na Guiné. Piriquito, fui render o seu Pelotão na Ponte do Udunduma, no fim de Junho de 1969. A minha total solidariedade com a Família e com os Amigos!

(v) José Martins:

É com tristeza, mas infelizmente sem surpresa, [que damos conta]  da partida dos camaradas que presamos e com quem, mesmo à distância, convivemos.

Foi aqui, neste espaço virtual, que nos conhecemos, nos respeitámos e passamos a ser camaradas e, mais que tudo isso, AMIGOS.

Vivemos na mesma terra lá longe e foi isso que nos uniu. Em breve voltaremos a encontrar-nos.

Condolências à família, amigos e camaradas.

(vi) Jorge Araújo:

À família e amigos do nosso camarada Carlos Marques envio as minhas sentidas condolências pela sua morte.

Descansa em paz, camarada.

(vii) Juvenal Amado:

É sempre difícil saber que partiu mais um elemento desta grande família e mais difícil quando parte alguém com quem privamos nalgumas ocasiões. Estive com ele à conversa na Tabanca do Centro onde ouvi as suas estórias da sua comissão. Lamento saber que se calou para sempre. à família enlutada envio os meus mais sinceros sentimentos.

(viii) Hélder Sousa:

É com tristeza que agora mesmo tomei conhecimento do falecimento do Carlos Marques Santos
O meu contacto com ele foi logo que me apresentei aqui na "Tabanca",  para o Encontro em Pombal [, em 2007]. Foi com ele que me "mandaram" contactar para poder integrar esse Encontro.

Portanto, em pessoa, foi ele o primeiros "rosto" deste local de memórias. E agora é de memórias que estamos falando. Que a memória do Carlos não se perca!

Sentidos pêsames.

(ix) Virgínio Briote:

Que é que se há-de dizer quando se perde um Camarada?

Condolências á Família.

(x) Albano Costa:

Encontrei-me com ele através do basquete e comunicamos também através do nosso blogue. Foi uma surpresa esta triste notícia. Os meus sentimentos à sua família.


2. Reprodução de um dos textos, mais antigos,  do Carlos Marques dos Santos (**)

Sendo o meu berço de nascimento [, Santo António dos Olivais, Coimbra]  e porque na altura almoçámos juntos lá perto (eu, tu e o Victor David) envio a título pessoal uma imagem real da Igreja  [, foto à esquerda,] e uma aguarela feita pela minha filha Sofia, licenciada em Pintura. Esta aguarela tem alguns anos e foi realizada ainda antes de entrar em Pintura [, vd imagem acima].

Tenho lido tudo o que se tem escrito [, no blogue]. É imparável e riquissimo o teu / nosso  blogue, mas tal como tu, já quase não consigo organizar ideias e novos documentos. Vou vêr se consigo participar, ponto por ponto, com algo de interesse.

A minha história militar - que é de 41 meses de tropa (hoje falava-se de no mínimo 36 meses), pois fui mobilizado no último dia possível e a minha classificação indiciava que iria para Timor ou S. Tomé - é talvez algo diferente, como já te disse, porque nós vivemos no mato, em Mansambo, dentro de arame farpado, sem populações, sem água, sem luz, picando a estrada para irmos a Bambadinca durante 17 kms, muitas vezes com o apoio dos obuses 105 mm.

Recordo que um dia, numa coluna de reabastecimento de materiais para a edificação de Mansambo, foram precisos 2 (dois) dias... Era na época das chuvas...

17 kms em 2 dias? Quem, a não ser nós, acreditaria nisto?!

Ficámos abrigados numa tabanca no meio do percurso, com toda a coluna atascada. Transportávamos 30.000 kgs de diverso material de construção.

Apanhámos, com o consentimento dos nativos, os frangos disponíveis e fizemos churrasco, temperado com as pastilhas de desinfecção da água (seria Sal?).

Digo com o consentimento, porque houve alturas em que não havia consentimento nenhum. Com os Balantas, de Fá de Baixo, era correr atrás dos leitões, apanhá-los e largar para um churrasco.

Enfim, experiências de vida.

Um abraço, Luís,
CMS

3. Comentário de Luís Graça:

Escrevi em 7 de fevereiro de 2006: 

(...) "Estive hoje em Coimbra, nos Olivais, com o nosso camarada Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano atirador de artilharia, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), bem com o seu primo, o Vitor David, que foi alferes miliciano da CCAÇ 2405 (Galomaro, 1968/69).

"Este último prometeu entrar para a nossa tertúlia e esclarecer alguns pontos (polémicos) da travessia do Corubal, no Cheche, que esteve na origem na tragédia do dia 6 de Fevereiro de 1969, já aqui ontem evocada. O Vitor não participou na Op Mabecos Bravios, ficou no aquartelamento com o seu grupo de combate, mas assistiu, com a angústia na alma, à recepção, na sala de cripto, das mensagens com a lista dos mortos...

"Proporcinou-se estar com estes dois camaradas, que tiveram a gentileza de me ir buscar e levar ao comboio, estação de Coimbra-B (...)  Almoçámos juntos, matámos saudades, juntos, dos tempos da Guiné e até mandámos vir rancho (!) para o almoço.

"Prometi voltar aos Olivais onde, nos bons velhos tempos, os futricas impunham a lei aos estudantes, impedindo-os de ultrapassar o famoso paralelo 98... Por sorte o serviço (académico) que eu tinha a fazer era para aqueles lados, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Espero lá voltar mais vezes, até por que fiquei com enorme pena de não poder visitar a belíssima igreja de Santo António dos Olivais. Tanto o Carlos como o Vitor são excelentes cicerones e têm o privilégio de continuar a viver no chão que nos viu nascer e criar. "(...)

 PS - "Futrica" era o nome que os estudantes de Coimbra davam a todos aqueles que não eram estudantes...

Guiné 61/74 - P20516: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (8): edição, revista e aumentada, Letras I, J, K e L


Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589/BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Uma Kalash, ou Aka, capturada ao PAIGC... Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Foto (e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > c. 1971/73 A à esquerda, o alf mil 'comando' da 35ª CCmds Rui Andrade, e à equerda o alf mil cav Francisco Gamelas, cmdt do Pel Rec Daimler 3089..

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Letra I



IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional

IMVF - Instituto Marquês de Valle Flor: criado em 1951 como instituição privada de utilidade pública, o IMVF é uma Fundação para o desenvolvimento e a cooperação, tendo iniciado atividade como ONGD em 1988 em São Tomé e Príncipe; a partir dos anos 90 expandimos a sua ação a outros países, com predominância aos de língua oficial portuguesa, e alargou as suas áreas de atividade; é hoje considerada uma entidade de referência nos domínios da cooperação, da cidadania global e da reflexão sobre o desenvolvimento.

IN - Inimigo; guerrilheiros e população sob o seu controlo (gíria)

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Guiné-Bissau), que sucedeu ao Centro de Estudos da Guiné Portuguesa (que  publicou durante 28 anos, entre 1946 e 1973, 110 números normais do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, e um número especial [, este, em outubro de 1947].Esta publicação periódica é considerada  de excecional interesse para o conhecimento científico da presença histórica portuguesa na Guiné-Bissau, e portanto para a história do país antes da independência. Não tem paralelo em outras publicações nos outros territórios ultramarinos portugueses. Foi criada ao tempo do governador geral Sarmento Rodrigues.

Infante - Militar de infantaria (gíria)

INT - Intendência

Ir no mato - Fugir (ou ser levado) para uma zona controlada pelo PAIGC (crioulo)

Irã - Ser sobrenatural que, para os animistas (balantas, papéis, manjacos, etc.), habita as florestas (e em especial os poilões) (crioulo)

Irã-cego - Jiboia (crioula)

IRAN - Acrónimo de "Inspect and Repair As Necessary" (FAP)

ISCSPU - Antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, hoje ISCSP - Instituto de Ciências Sociais e Políticas. Tevem, antes do 25 de Abril de 1974, um papel importante na formação de antropólogos e administradores coloniais.



Letra J


Jacto do Povo - Foguetão 122 mm; Graad (PAIGC, gíria)

Jagudi - Abutre (crioulo)

Jamara (lê-se:djarama) - Obrigado (fula)

Jambé (lê-se djambé) - Instrumento de percussão africano, em forma de cálice invertido (crioulo)

Jornal de caserna - Jornais das unidades ou subunidades, em geral policopiados (, reproduzidos a stencil).



Letra K

K3 -lugar mítico e muito perigoso, do tempo da guerra colonial, assim designado  por se localizar a 3 quilómetros a sul de Farim, na estrada Mansabá-Farim, e que era um local onde, além deste itinerário principal, se cruzavam outros, como era o caso do "corredor" do Olossato e Bissorã, bem como o da mata do Morés, ocupada pelo PAIGC.
  
Kacur - Cachorro (crioulo)

Kalash - Espingarda Automática AK 47 (PAIGC)

Kalashnikovmania - Pode ser definido como uma forte atracção pelo armamento do... IN. No TO da Guiné, incluía kalash e outras armas. Era "manga de ronco" usar ou exibir armas apreendidas ao PAIGC. Eram verdadeiros "troféus de caça". 

Trata-se de um neologismo, inventado pela Tabanca Grande, que paga direitos de autor; um dia irá figurar nos novos Dicionários da Língua Portuguesa, como muitos outros termos que usávamos na guerra: por exemplo, dila=dilagrama, LGFog=lança-granada foguete, ameixa=granada...

Kasumai - Saudação em dialecto felupe

Kora - Instrumento musical mandinga, de cordas, tipo cítara, inventado pelos antepassados do mestre Braima Galissá (músico do Gabu, a viver em Portugal) (crioulo). Em português, está grafado como "corá", do francês "kora", oriundo do mandinga).



Letra L


La Lys (Batalha de) - Nome por que foi conhecida a grande  ofensiva militar das tropas alemãs, de 7 a 29 de abril de 1918), focada ao norte da fronteira franco-belga, na região da Flandres, durante a Primeira Grande Guerra,e que teve consequências brutais, para o Corpo Expedicionário Português (CEP), comandando pelo gen Gomes da Costa. O colapso da da 2ª divisão do CEP aconteceu na madrugada de 9 de abril de 1918. 


Lassas - (i) Abelhas selvagens; (ii) alcunha por que era conhecido, pelo PAIGC, o pessoal da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

Lava-tudo - Referência às lavadeiras que, além de lavarem e passarem a ferro a roupa dos militares, também faziam "favores sexuais" (Gíria). Vd. "Parte catota", "parte punho"...

LDG - Lancha de Desembarque Grande (Marinha)

LDM - Lancha de Desembarque Média (Marinha)

LDP - Lancha de Desembarque Pequena (Marinha)

Levirato - 
Lei, de origem hebraica, que obrigava um homem a casar com a viúva de um irmão quando do defunto não houvesse herdeiro; era (e ainda é) seguida por povos mulçulmanos, como os fulas.

Lerpa - Jogo de cartas, geralmente a dinheiro (gíria)

Lerpar - (i) Perder (à lerpa); (iii) apanhar um castigo; (iii) morrer (gíria)

Levar com os patins - Demissão de comandante, em geral de batalhão, por decisão de Spínola (por ex., "O Pimbas levou com os patins"; "Pimbas" era o nominho ou alcunha do 1º comandante do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, ten cor Pimentel Bastos).


LFG - Lancha de Fiscalização Grande (Marinha)

LGFog - Lança-granadas-foguete, bazuca

Lifanti - Elefante (crioulo)

Lion Brand - Conhecida marca de repelente de mosquitos 

LM - Laboratório Militar (que fornecia o essencial da farmácia militar)

Lobo Mau - Helicanhão (FAP) (gíria)

Lubu - Hiena (crioulo)

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20506: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (7): edição, revista e aumentada, Letras F, G e H

Guiné 61/74 - P20515: Parabéns a você (1732): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20502: Parabéns a você (1731): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20514: Notas de leitura (1251): “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade; By the Book, edições especiais, 2019 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Sem nenhum desprimor para tudo quanto nos conta sobre Bedanda e Aldeia Formosa, é na sua tormentosa estadia em Guidage que João Trindade redige uma das mais pungentes peças literárias de toda a guerra, doravante deve ser lido e cotejado com a Crónica dos Dias de Guidage, o pungente relato de Salgueiro Maia, que por ali cirandou naquele cenário dantesco.
João Trindade não tinha mãos a medir, foram largas dezenas de flagelações, inúmeros feridos, mortos para os quais foi imperativo fazer um cemitério de ocasião, tal era a ameaça da cólera. Como numa oratória, a sua voz, as suas confissões íntimas pairam sobre aquela atmosfera que ele partilha, onde ganha a possível distância e depois volta ao seu mister, salvar vidas, como aquela desgraçada mulher que perdeu as pernas e que ele veio reencontrar em Bissau, hossanas a quem sobreviveu àquele teatro de horrores.
E estamos a seu lado quando as lágrimas lhe saltam perante aqueles jovens mortos, aquelas lágrimas eram a mais afetuosa das condecorações por quem dá a vida e dela é ceifado, sabe Deus porquê.

Um abraço do
Mário


O médico que presenciou os dias infernais de Guidage (2)

Beja Santos

As páginas capitais desta literatura memorial de João Trindade prendem-se com a sua presença em Guidage, em maio de 1973. Ele já nos contou a sua ida a Mafra, a sua preparação descolorida em Lisboa, estava no Hospital Militar quando recebeu guia de marcha para a Guiné, desembarca e vai para Bedanda, presta serviço também no Quebo e quando é transferido para Bissau lembra as suas consultas em Bubaque e no Hospital Civil de Bissau. É neste entrementes que o seu livro “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade, By the Book, 2019, caminha para uma atmosfera apocalítica, Guidage. Viaja até Binta, segue-se uma coluna, havia que passar a bolanha de Cufeu para chegar à povoação sitiada. Estão a caminho, ouvem-se os bombardeamentos.  
“O cenário passava em câmara lenta com partitura sonora monótona e por vezes assustadora. O sol já nos acompanhava havia longas horas, a crescer, a subir, a tornar insuportável a roupa colada ao corpo.
Começámos, entretanto, a notar um cheiro esquisito, depois fétido, logo a seguir nauseabundo. O lenço para nos proteger a boca do pó serviu também para nos aliviar, um pouco, do mau cheiro. Estávamos perto da bolanha onde duas ou três colunas tinham sido atacadas, tiveram de regressar e deixaram alguns mortos. Esses mesmos que agora víamos numa clareira da mata, disformes, cobertos de insetos, inchados, irreconhecíveis e fonte do terrível odor da morte que os ceifara havia dias”.

Os sapadores não têm mãos a medir, progride-se sobre uma terrível tensão até que se dá o encontro com os fuzileiros. São recebidos em Guidage com a fuzilaria do PAIGC. O médico surpreende-se com o agitado comandante da companhia sediada em Guidage, completamente desnorteado, precisou de ser acalmado.  
“Pensei em tanta coisa antes de adormecer! Pensei que o 13 de maio de 1973 poderia vir a ser o dia de uma fé renascida, pensei nas duas filhas que queria ver crescer, na minha ação e postura como médico, de auxílio, abnegação, entrega, sem desfalecimento, de apoio na desventura dos menos afortunados. Acordado, enfrentei o inevitável; o dia seguinte. Nasceu então um novo dia e com ele o início de uma outra aventura longa e difícil de mais dezassete dias”.

O que João Trindade nos transmite são os sobressaltos de viver numa atmosfera de cerco, rodeado de gente exausta, feridos de todas as qualidades e mortos que aguardam urnas. Fala dos morteiros, do silêncio ofegante, do pânico instalado dentro daquele arame farpado.
“Guidage, só no período em que lá estive, foi flagelada quarenta e duas vezes. Tornou-se um verdadeiro campo de desesperos e de terrores. Lembro episódios dispersos, indefinidos, desarrumados. Um dos quais que ainda perdura é o daquela mulher que me trouxeram da tabanca sem as duas pernas. Foi ao mato, inadvertidamente, contrariando ordens e conselhos, a buscar alimentos da horta para o seu homem e seus filhos. Pisou uma mina. Não morreu. Embrulhada em panos coloridos de estampas e sangue, ao colo do marido, com cara de ódio, gemia em sons contínuos e lancinantes. Não gritava, gemia apenas. E os seus gemidos faziam as nossas almas gemerem também. No rudimentar posto médico sedei-a com o que tinha na farmácia, pusemos um soro glicosado a correr rápido e limpámos, demoradamente, os coutos cheios de terra, pequenas esquírolas ósseas e folhas de arbustos que serviram do primeiro penso que quem a socorreu decidiu utilizar (…) Vim a encontrá-la mais tarde no Hospital Civil, operada a preceito, numa cama de enfermaria, tendo na face um sorriso a meia haste. Como se pode esquecer isto?”.

É um médico que não tem mãos a medir, os feridos e mortos não paravam de aumentar, as dificuldades do socorro médico eram enormes e indescritíveis. “Não havia antibióticos nem analgésicos, esgotaram-se em poucos dias, não havia material esterilizado nem processo de o esterilizar. Não havia caixões, não havia madeira nem solda para os fazer e fechar, pelo que se criou um necrotério num pequeno armazém existente junto ao arame farpado. Tratámos cada cadáver com o que foi possível para minorar os cheiros da degradação. Mais não podíamos oferecer àqueles bravos rapazes na flor da vida. As nossas lágrimas foram as suas primeiras condecorações”.
É neste contexto que surge a notícia da operação “Ametista Real”.
Que lhe ficou vincada na memória:  
“Recordo, com uma imagem bem nítida, a entrada pela porta de armas do quartel de Guidage, dos militares regressando da operação. Arrastando pernas e arma, cabeça caída, olhos no chão, passo lento de exaustão. A cada um, o seu comandante dizia palavras de orgulho e de estímulo. Fui chamado para junto das forças de comando para assistir à entrada dos soldados. Mas um deles vinha de cabeça bem erguida, orgulho estampado na cara, passo de militar convicto. E o seu comandante, chamando-o.
- Foste um herói Mamadu Baldé e, com a concordância e autorização do nosso Comandante, promovo-te, neste momento, pela tua ação corajosa e decisiva em combate, a Alferes do Exército Português.
E, pedindo-me licença, retirou-me os meus galões e colocou-os nos ombros do seu guerreiro”.

João Trindade não esquece o apoio dado pela Companhia de Comandos 121:  
“Tiveram baixas, não muitas, mas que demonstraram as duras ações em que estiveram a combater. Recolhi os seus mortos e juntei-os a todos os outros. Um deles, porque entrou com vida no quartel, morreu-me nos braços. Um cheiro fétido exala por toda a Guidage, os riscos à saúde pública são mais do que óbvios, está-se na eminência de uma epidemia de cólera. Construiu-se um cemitério provisório, os paraquedistas deram muita resistência, não queriam deixar os seus camaradas ali enterrados. Desenhámos e localizámos, com azimutes rigorosos, os locais onde cada cadáver foi enterrado com a respetiva identificação.
Embrulhámos cada corpo em mantas de oleado de tendas, sepultámo-los e a cada campa coube uma tosca cruz de madeira. As honras militares, os soldados, respeitosa e comovidamente perfilados e as salvas de tiro da praxe ainda hoje me arrepiam a pele e enchem os olhos de lágrimas”.

Os ataques a Guidage terminaram no fim do mês de maio, João Trindade regressa sobre a proteção dos fuzileiros e paraquedistas, vêm os feridos e os mortos mais recentes. Em Binta embarcam em helicópteros. João Trindade entra esgotado no Hospital Militar 241.

“Fiquei internado dois dias. Chorei lágrimas retidas de sustos e medos interiorizados. Respirei alívios. E rezei. Agora, sim. Lembro-me bem. Rezei e agradeci tudo.
Fiquei a saber, nesta sofrida experiência da minha vida militar, que um homem, cada um de nós, supera tudo e agarra-se à vida quando não pode decidir nem fazer mais nada”.

E regressou à vida hospitalar, recauchutou-se, volta a descrever episódios e peripécias sobre os doentes que lhe chegam em condições deploráveis. E um dia regressa a Lisboa. As suas memórias também passam pelas peripécias no transporte aéreo, pelas amizades feitas.
Obra profusamente ilustrada, a ver se o autor tem a generosidade de nos facultar algumas delas.
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Notas do editor

Poste anterior de 23 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20490: Notas de leitura (1249): “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade; By the Book, edições especiais, 2019 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 27 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20504: Notas de leitura (1250): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (38) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20513: In Memoriam (358): Carlos Marques Santos (Coimbra, 1943-2019), ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Mansambo, 1868/70)

IN MEMORIAM

Carlos Marques Santos (1943-2019)


 Carlos Marques Santos
Ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Mansambo/Guiné, 1968/1970)


Soube do falecimento do nosso amigo e camarada de armas Carlos Marques Santos no facebook, e confirmei através da sua filha Inês Santos que prontamente respondeu a uma mensagem que lhe enviei no sentido de confirmar o triste acontecimento.

O Corpo do Carlos estará a partir das 15 horas de hoje em Câmara Ardente na Capela de Santo António dos Olivais, em Coimbra, onde amanhã, pelas 11 horas, será celebrada Missa de Corpo Presente, seguindo-se o funeral.

Em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue, apresento à família do nosso amigo Carlos Marques Santos, especialmente à sua esposa Teresa, filhas, netos e demais familiares, as mais sentidas condolências.

O Carlos apresentou-se à tertúlia em Dezembro de 2005 - P380 de 28 de Dezembro. Foi, portanto, um dos primeiros membros da nossa Tabanca Grande. Tem mais de 9 dezenas de referências no nosso blogue.  Foi também um dos históricos do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, em Montemor-o-Novo, em 2006, de que ele foi o organizador.

Bambadinca, 1969 > Carlos Marques Santos, à esquerda, na fila de trás.

Bambadinca, 1969 > Carlos Marques Santos em primeiro plano

Mansambo > Cumprimentando o Régulo da Tabanca

Penafiel, 2008 > Convívio da CART 2339 > Carlos Marques Santos, ao centro, na segunda fila.

Encontro da Tabanca Grande, Ortigosa, 2008 > Carlos Marques Santos e Mário Beja Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20397: In Memoriam (357): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952-2019): missa do 7º dia, na igreja do Vimeiro, Lourinhã, domingo, 1 de dezembro, às 11h00... Testemunhos do filho Rui Ferreira (Inglaterra) e dos amigos Rui Chamusco (Malcata, Sabugal; e Lourinhã) e João Crisóstomo (A-dos-Cunhados, Torres Vedras; e Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P20512: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (16): Pierre e Ivette Fargeas, em viagem de heli AL III a Bafatá, pilotado pelo Jorge Félix, em 1969

1. Pierre Fargeas tem uma escassa meia-dúzia de referências no nosso blogue.

A malta da FAP que esteve na BA 12. Bisslanca, entre 1969 e 1974, sabe de quem é que eu estou a falar.  

O Pierre Fargeas, nascido em 1932, era o técnico francês da Sud-Aviation, a  fábrica dos heli Alouette III, que prestava assistência a estas aeronaves. [ Foto aqui à esquerda a ser condecorado, em 1970, pelo cor pilav Diogo Neto: imagem publicada no blogue Especialistas da BA 12. Guiné 65/74.]

Viveu em Bissau, com a esposa Ivette Fargeas, durante cerca de cinco anos, desde 1969 a 1974, até ao 25 de abril.  Depois o  casal regressou a casa, tal como os últimos soldados do Império, e meteu-se noutras aventuras... Em 1975 estavam os dois em El Aaiun, a capital do Sará Ocidental, ex-colónia espanhola, hoje ocupada por Marrocos.

Sei que o Pierre Fargeas se reformou em 1988 e vive (ou vivia em 2014) no sul de França, em Saint Raphael. Fez-se, entretanto, radioamador, com o  indicativo F4TJS.

Pierre e Ivette Fargeas sempre  tiveram um grande carinho por Portugal, a Guiné-Bissau, a FAP, o pessoal da BA 12, Bissalanca, do seu tempo... 

Pierre tem  inclusive mantido contactos com algums camaradas, nossos, da FAP, como é o caso do Jorge Félix ou do Vitor Barata,  régulo da Tabanca de Bissalanca (, tendo como adjuntos o João Carlos Silva, o Marto Aguiar e o Paulo Moreno).

Por outro lado, há alguns vídeos dele no You Tube (cenas da vida quotidiana da Guiné, mas também um viagem ao sul...), de que falaremos mais tarde.

Ivette Fargeas, expondo na sala de convívio
 do pessoal da CCP 112 / BCP 12, BA 12,
Bissalanca, s/d,c. 1973. Fotograma de
vídeo de Pierre Fargea
s,
disponível no You Tube.
Um desses vídeos já aqui passou, pelo menos, duas vezes... Mas não fica mal passar uma terceira vez, justamente porque é um dos melhores postes que publicámos nos últimos 15 anos (*)

PS - Madame Ivette Fargeas fez, em Bissau, no período em que lá viveu, uma exposição de cerâmica e outra de "panos africanos", segundo a técnica do batique [, recorde-se que o batique: (i) é uma técnica artesanal de tingimento, que consiste em cobrir de cera as partes do tecido que não devem ser tingidas, mergulhá-lo num banho de cor e remover a cera posteriormente, repetindo o processo para cada cor utilizada; (ii) é tecido tingido por meio dessa técnica].



Vídeo (2' 44'') > Bafatá >  c. 1969 > Alojado no You Tube (Cortesia de Jorge Félix).

©  Jorge Félix / Pierre Fargeas  (2009). Todos os direitos reservados. (Música de fundo: Te Espero, Charles Aznavour, reproduzida com a devida vénia...Vd. página oficial aqui)


O Jorge Félix
e a Ivette Fargeas
2. Vídeo que o Jorge Félix fez com imagens que lhe foram enviadas pelo francês Pierre Fargeas, o técnico da fábrica dos Alouettes III, que fazia a sua manutenção em Bissalanca, no período entre  1969 e 1974. (**)

Escreveu o Jorge:

"Fiz uma pequena montagem das imagens, onde estou a guiar o heli, segue ao meu lado esquerdo a esposa do Pierre, Ivette Fargeas, e depois uns senhores que não me recordo o nome. O Coronel é o meu comandante Diogo Neto."

Pierre Fargeas
Sinopse:

(i) O heli parte de Bissalanca e faz uma viagem até Bafatá, sobrevoando o Rio Geba, as bolanhas, as tabancas, a avenida principal da bela vila colonial, a "princesa do Geba"  (ainda não tinha o estatuto de cidade em 1969, só em março de 1970), a casa Gouveia, a catedral, o mercado, o hospital... 

(ii) Não no heliporto,mas numa rua de  Bafatá,  são recebidos por militares, onde se incluem os oficiais superiores. 

(iii) Na despedida, um deles, de camuflado, parece-nos ser o cor Hélio Felgas, comandante do Cmd Agrupamento nº 2957, a que pertencia o o nosso camarada Fernando Gouveia.

(iv) O Pierre Fargeas faz depois, a pé, com a esposa,  um visita ao encantador mercado de Bafatá, de arquitectura revivalista.

(v) O heli regressam entretanto,  a Bissalanca, à BA 12, ao longo do Rio Geba e da estrada Bafatá-Bambadinca...O  Pierre Fargeas, de óculos graduados sem armação, aparece, no vídeo, no regresso a Bissalanca. A sua esposa, a belísisma  Ivette, surge de  novo ao lado do piloto, Jorge Félix.

(vi) Não sabemos em que circunstâncias. ou a que título, o casal. viajou até Bafatá, um dos poucos sítios da Guiné, de então, para além de Bubaque nos Bijagós, que se podia visitar (e valia a pena visitar), "by air", em segurança...  Muito simplesmente, o casal deve ter "apanhado uma boleia".

(vi) Recorde-se que, no nosso tempo, meu (1969/71)  e do Fernando Gouveia (1968//0), Bafatá nunca sofreu qualquer ataque ou flagelação por parte do PAIGC; haverá, sin,  um ataque, mais tarde, em 28/8/1972, com foguetões 122 mm, mas sem consequências.

Presumimos que a gravação tenha sido feita pelo Pierre Fargeas e pela esposa, Ivette. Ou pelo próprio cor pilav Diogo Neto. A montagem é do Jorge Félix. [É pena que o Jorge Félix nunca tenha respondido a (ou comentado) algumas das minhas questões.]


3. Comentário de L.G.:

Pedi ao Fernando Gouveia para comentar:

"Tem cenas sobre Bafatá (***)... (e tem a Ivette Fargeas, que é de uma beleza perturbadora...). Quero inclui-lo na tua/nossa série Roteiro de Bafatá... Um abraço. Luis". 

E ele respondeu (em 1/12/2013):

"Não tenho muito a comentar, além do agradável que é, rever Bafata. A única coisa estranha que me pareceu foi que a aterragem se fez numa rua e não no heliporto junto à pista."

São imagens relativamente raras. Temos fotos aéreas, naquela época  já havia boas máquinas fotográficas, mas não gravadores de vídeo. Este pequeno filme terá sido feito com câmara de filmar de 8 mm, sendo depois o filme convertido para vídeo.

Escrevi na altura,  no nosso Facebook (Tabanca Grande Luís Graça), em resposta ao Jorge Félix:

"É um vídeo que eu vejo e revejo... Por muitas razões: por ti, amigo e camarada do meu tempo; pelo regresso ao passado;  pelas saudades da doce, tranquila e bela Bafatá; pelos nossos 20 anos. tão generosos quanto verdes;  pela beleza (pertubadora) da Ivete Fargeas; pela "canción desesperada" do Ch. Aznavour... Uma combinação perfeita!... Um Alfa Bravo".

Já tinha comentado anteriormente, em 2009  (**):

(i) Que nostalgia, que saudade, que doçura triste! ... 

(ii) Perfeita a escolha da música do Charles Aznavour, a sua canção Te espero, em espanhol, com seu sotaque meio francês e meio arménio... Um rapaz do mundo, com idade de ser nosso pai (n. 1924...), pai da nossa geração, a dos baby boomers...

(iii) Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir / la razón es para mí siempre sufrir / y ahora el viento al pasar me da a entender / que en la vida sólo a ti esperaré  (****). 

(iv) Uma canción desesperada, uma canção, eterna, para um amor talvez impossível,  um amor sofrido, uma canção que fica aqui tão bem quando olhamos para o passado,  quando tínhamos vinte anos e estávamos na guerra...

(v) Jorge: Gosto muito do plano em que estás tu, aparentemente concentrado na tua missão de comandamte daquela nave, mas de repente viras-te para trás... e pedes um cigarro!... (Aí temi pela segurança... do heli e da tua preciosa carga...).

(vi) Como éramos todos tão apaixonados pelas vida (e pelas lindas mulheres....),  como éramos todos tão conscientemente irresponsáveis,  como éramos todos tão sem jeito,  como éramos todos tão inconscientemente loucos,  como éramos todos tão optimistas e generosos,  como éramos todos já tão maduros e tão sofridos,  como éramos todos... 

(Porra, Jorge, que me fazes chorar! )...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20487: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (15): O meu último Natal, 1966, em Bissau, no QG/CTIG (Virgínio Briote)

(**) 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12375: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (7): By air... (Vídeo de Jorge Félix / Pierre Fargeas)

(***) Vd. também poste de 3 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4635: FAP (31): Uma viagem de heli a Bafatá, em 1969, com o cmdt Diogo Neto e o casal Ivette e Pierre Fargeas (Jorge Félix)

(***)  Último poste da série > 30 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12369: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (6): O café do sr. Teófilo (Parte II): um homem amargurado que sabia demais? (Manuel Mata)

 (****) Letra de Charles Aznavour, canção Te espero (1967).reproduzida com a devida vénia:

Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir,
la razón es para mí siempre sufrir,
y ahora el viento al pasar me da a entender
que en la vida sólo a ti esperaré.

Yo recuerdo tu mirar y tu besar,
tu sonrisa bajo el sol primaveral,
estoy solo sin saber lo que tú harás,
en mi alma hay dolor al esperar.

Ven... a mí ven, no tardes más,
ven, por favor, te ruego yo,
no podré esperar, ven a mí,
yo quiero saber si has de venir,
por fin así, dímelo, amor.

Es la herida que envejece sin piedad,
más mi amor siempre será eternidad,
en mis blancas noches tú revivirás
el recuerdo de mi amor al despertar.

En mi mente siempre como un altar
y tu rostro grabo en mí para soñar,
el momento ha de llegar muy pronto ya
y veré la realidadal despertar.

Ven... ven a mí ven, ven, no tardes más,
ven, por favor, te ruego yo, 
 no podré esperar,
ven... oh ven a mí yo... yo quiero saber
si has de venir por fin así, dímelo,  amor.....

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Notas do editor.