sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25038: Notas de leitura (1655): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (6) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Os autores observam a evolução da situação político-militar entre 1966 e 1967, do lado português renascera a motivação com a chegada do helicanhão e do Alouette III, para suporte das operações de superfície, do lado do PAIGC remodelaram a estratégia introduzindo sistemas antiaéreos, nomeadamente na península do Quitafine; a propaganda do PAIGC brandia nos areópagos internacionais de ter autoridade em metade do território, um hábil mantra propagandístico, de muito difícil contestação, quer forças especiais quer as forças em quadrícula quando atingiam um objetivo podiam destruir os meios existentes mas tinham rapidamente que retirar, a guerrilha montava dispositivos que iam de emboscadas ao uso de morteiros. Para o Comando-Chefe e para a Força Aérea havia problemas delicados como os que foram postos pela Operação Estoque, bombardear horas a fio os tais lugares que dispunham de sistemas de defesa antiaérea punham problemas humanitários, o bombardeamento podia-se saldar numa autêntica carnificina da população civil, daí terem-se lançado panfletos a pedir a esta população que se deslocasse do local. Evidentemente que o fator surpresa ficou comprometido.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (6)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 2: Eles não conseguiram parar a nossa luta


Recapitulando a evolução dos acontecimentos de 1966 para 1967, observam os autores que do lado português se ganhara confiança com a chegada do Alouette III, do Fiat e da possibilidade de utilizar na atividade operacional o helicanhão. Do lado do PAIGC, e após o tremendo susto provocado pela entrada em cena do helicanhão, Amílcar Cabral readaptou a estratégia do PAIGC, a guerra expandiu-se, apareceu na propaganda do PAIGC um conjunto de territórios tratados como zonas libertadas, onde o partido nacionalista alegadamente dominava e governava através de políticas rudimentares abarcando a economia, a saúde, a educação, apareceram mesmo os chamados armazéns do povo. Já em 1966, o PAIGC reivindicava a libertação de mais de metade do território, uma estatística veementemente contestada pelas autoridades portuguesas, mas de difícil refutação, as próprias forças portuguesas sabiam perfeitamente que mesmo quando desalojavam ou destruíam instalações precárias dos guerrilheiros, milícias e populações, mal abandonavam os locais esses mesmo guerrilheiros, milícias e populações regressavam, alterando o seu posicionamento, procurando assim também enganar os meios aéreos e não serem atingidos por bombardeamentos.

Seja como for, estas zonas ditas libertadas representavam uma componente essencial do PAIGC na sua estratégia mais ampla, divulgada como o progresso militar e a capacidade administrativa política que legitimava o movimento de libertação. Amílcar Cabral afirmava: “Nas nossas regiões libertadas temos agora os ingredientes de um Estado. O nosso povo tem uma personalidade política e vida económica e cultural, é o povo que governa o povo.” A natureza desta mensagem dava confiança a quem estava sob a égide do PAIGC, começaram a surgir filmes e reportagens que se publicavam e mostravam em diferentes países, e toda esta dinâmica encorajava o apoio de benfeitores estrangeiros, foi a alavanca para o sucesso do PAIGC a longo prazo.

A única forma de Portugal refutar ou procurar contrariar a propaganda do PAIGC quanto a reivindicações de domínio territorial tinha de se exprimir através da ocupação militar, criando destacamentos de diferentes dimensões e intervindo militarmente, na tentativa de desmantelar as posições do PAIGC. Em 1966, as forças portuguesas tinham adotado uma estratégia predominantemente “posicional”, fortificando as guarnições não só nas principais povoações como criando ou reforçando destacamentos e povoações em autodefesa, procurando intimidar a guerrilha por meio de emboscadas ou minas, ou contrariando emboscadas e minas por parte do PAIGC. Como explicou o Chefe de Estado-Maior do Exército, General Câmara Pina, durante uma visita em Abril à Guiné: “Para nós, é fundamental neste momento garantir a segurança das populações; é por isso que empregamos as nossas forças em missões mais estáticas, independentemente da utilização operacional das forças especiais.”

Um jornalista britânico que visitou na época a Guiné teve uma leitura menos positiva da situação, escrevendo que as forças terrestres portuguesas estavam acantonadas e sitiadas em 60 vilas, povoações e quartéis fortificados, só a reagir às ações do PAIGC, deixando à Força Aérea a iniciativa para projetar rapidamente a presença portuguesa em áreas dominadas pelos rebeldes.

Surgiu, entretanto, uma capacidade antiaérea do PAIGC, particularmente nas chamadas zonas libertadas do Sul. Cabral e outros líderes partidários tinham prometido defender e alargar estas áreas libertadas a todo o custo, e uma vez que os portugueses optaram por atacá-los principalmente pelo ar, os guerrilheiros do PAIGC teriam de lhes resistir. E, para esse efeito, concentraram os seus meios e atividade de defesa antiaérea em certos pontos do Sul, onde o PAIGC estava mais entrincheirado. De 1963 a 1965, quase dois terços de todos os incidentes antiaéreos relatados ocorreram no Setor Sul. Houve uma ofensiva aérea de três dias para neutralizar posições antiaéreas na região do Cantanhez (Operação Resgate, de 17 a 20 de dezembro de 1965), esta operação foi a primeira centrada em procurar neutralizar as defesas antiaéreas do PAIGC, o sucesso foi relativo, não foi destruído o poder dos guerrilheiros. Ao longo da primeira metade de 1966, os insurgentes continuaram a expandir e consolidar a sua presença nas penínsulas do Cantanhez e do Quitafine. O Quitafine teve grande importância para a guerrilha, assegurava transporte costeiro e fluvial, área influente para corredores de ligação à República da Guiné, por isso estava no topo das prioridades para a defesa antiaérea do PAIGC.

O Coronel Abecasis observou que os militantes de Cabral começavam a desafiar a FAP com arrogante ousadia, a Operação Resgate provocara danos a várias aeronaves portuguesas que sobrevoavam a região. As posições antiaéreas do PAIGC também ameaçavam as operações aéreas portuguesas de apoio às guarnições de Cacine e Cacoca. No total, os disparos antiaéreos relatados pela FAP aumentaram de 103, durante 1965, para 110, em 1966, e novamente dois terços ocorreram na zona Sul da Guiné. Ao mesmo tempo que acelerava o ritmo da atividade antiaérea, o PAIGC melhorava o seu arsenal. Inicialmente, havia guerrilheiros com armas ligeiras, em meados de 1964 os insurgentes estavam equipados com metralhadoras antiaéreas (AAMGs) de 7,6 mm e 12,7 mm, depois o Bloco Comunista nos anos seguintes fez a entrega de canhões antiaéreos de 14,5 mm da série ZPU, de design soviético: o ZPU-1, de cano único, e o ZPU-2, de cano duplo, e o ZPU-4, de quatro canos, o que veio ampliar significativamente o alcance da defesa aérea do PAIGC.

Este sistema da defesa antiaérea funcionava sobre rodados, limitava-se em grande parte para operações bem-definidas, usavam-se estradas ou trilhos no Sul. A ameaça antiaérea aumentou em termos de alcance e sofisticação com um aumento correspondente de risco para as aeronaves da FAP (ver o quadro n.º 4 e o gráfico dos incidentes relatados).

A Zona Aérea lançou uma série de operações para mitigar a ameaça no Sul da Guiné, começando com a Operação Estoque, em agosto de 1966, destinada a destruir ou desmantelar a organização do PAIGC na península do Quitafine. A operação foi concebida como um ataque de 12 horas em duas fases. Na primeira fase, que durou das 19 até à meia-noite de 9 de agosto, C-47 modificados com bombardeiros noturnos tentaram neutralizar as posições antiaéreas do PAIGC, a iniciativa era considerada essencial para uma segunda etapa, como a que consistiu principalmente numa operação de reconhecimento na superfície e missões de intermissão nos corredores de abastecimento e infiltração a partir da República da Guiné. Participaram também na operação da Força Aérea, além dos C-47 e dos T-6, os recém-chegados Fiat. O Quitafine era uma área que albergava significativa população civil e tanto Schulz como Abecasis reconheceram que bombardeamentos indiscriminados podiam resultar em inaceitáveis carnificinas, dando aos sobreviventes uma razão convincente para apoiar a guerrilha. Estoque foi precedida, tal como ocorrera em 1964 na Operação Tridente, do lançamento de folhetos no dia 7 de agosto, aconselhando os não combatentes a desocupar aquela área. Como observou mais tarde Abecasis, o principio da surpresa foi sacrificado por razões humanitárias.

Distribuição e atividade das forças do PAIGC entre maio de 1966 e fevereiro de 1967 (Matthew M. Hurley)
Atividade militar do PAIGC/FAP entre 1963 e 1966 (ataques de morteiro e bazuca, emboscadas, minas e ações defensivas), segundo Matthew M. Hurley
Os sinistrados portugueses em 1966 (mortos e feridos) totalizaram 1266, incluindo ações em combate e acidentes (Coleção José Matos)
Uma escola do PAIGC em zonas libertadas na região norte (Coleção Roel Coutinho)
Tabela com o sistema antiaéreo do PAIGC entre 1963 e 1970
Família na zona libertada de Cubucaré a segurar vestígios de uma bomba de napalm lançadas pela Força Aérea Portuguesa (Coleção Mikko Pyhälä)
Fogo antiaéreo do PAIGC referindo incidentes entre 1963 e 1967 (Matthew M. Hurley)

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 29 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25012: Notas de leitura (1653): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (5) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 1 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25027: Notas de leitura (1654): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25037: E as nossas palmas vão para... (24): Nuno Rubim (1938-2023), autor do Diorama de Guileje, uma pequena obra-prima, que levou dois anos de trabalho, paixão, rigor... Foi oferecido, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Planta do quartel em 1966. Reconstituição de Nuno Rubim, coronel de artilharia, na reforma; realização plástica de Carlos Guedes, ex-fur mil. Um e outro fizeram parte da CCAÇ 726 (Guileje, 1964/66), o primeiro como comandante.

Foto ( e legenda): © Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008 >  Diorama do quartel (à data de 1996):  dois anos de trabalho... do Nuno Rubim  (1) e de um pequeno "grupo de combate" de gente valorosa e solidária, guineenses e portugueses (2), com destaque naturalmente para o Pepito e a sua esquipa da ONGD  AD - Acçãio Para o Desenvolvimento


Guiné-Bissau  > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008 > Diorama: planta
 
O Nuno Rubim a trabalhar no diorama, em casa (Seixal, Portugal) 

Fotos (e legendas) : © Nuno Rubim / Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso coeditor Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726 (Outubro de 1974 / junho de 1966), sob o comando do cap art Nuno Rubim... Voltaram agora a colaborar juntos no projecto Guileje (3)... Além de colaboradores, o Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos. O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se oferecer, como voluntário, para os Comandos do CTIG, onde foi camarada do Briote... 


O saudoso cap José Neto (1929-2007), à esquerda, com o Pepito, foi um dos primeiros grandes entusiastas da Iniciativa de Guiledje... Eles e outros camaradas que passaram por Guileje e outros aquartelamentos do sul, na região de Tombali, contribuiram em muito para enriquecer o espólio documental da AD - Acção para o Desenvolvimento. Teria muito orgulho se fosse vivo, em "voltar a ver e a visitar o seu quartel e a sua tabanca", à escala de 1/72... 
   
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
  


Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > O cor art ref Nuno Rubim, entre o cor cav ref Carlos Matos Gomes e o "Gringo de Guileje", o ex-fur mil Zé Carioca, da CCAÇ 3477 (Guileje, Nov 1971/Dez 1972), explicando pormenores da sua obra-prima que foi o diorama de Guileje...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 5 de Março de 2008 > Painel 3 >" O pós-Guiledje: efeitos, consequências e implicações político-militares do assalto ao aquartelamento". Moderador: Mamadú Djau (Director do INEP) > Comunicação de Nuno Rubim, português, cor art ef > 17h30 – 18h00 > "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas"

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Organização > Núcleo Museológico > Diorama  de Guileje

Adaptado da página oficial do Simpósio Internacional de Guiledje  (páginaa dcscontinuada, mas em parte disponível aqui: 

Desde 2006, o Nuno Rubim (que faleceu em 25 de dezembro de 2023)  pôs, apaixonadamente, voluntariamente, sem qualquer contrapartida, o melhor de si, a sua reconhecida competência, a sua visão histórica, o seu rigor de investigador, e o seu gosto pela bricolage, na concepção do Núcleo Museológico de Guiledje e, em especial, do diorama do quartel de Guiledje, uma obra ímpar que ele ofereceu à Guiné-Bissau, na pessoa do Pepito, Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949 - Lisboa, 2012), engº agrónomo, cofundador e diretor da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e "alma-mater" do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7  de março de 2008).

É algo "que nos enche de orgulho, a todos quantos se abalançaram a esta iniciativa", disse na altura o Pepito. As fotografias que permitiram a feitura do diorama foram cedidas, na sua grande maioria, por Teco (Alberto Pires), ex-fur mil da CCAÇ 726, o qual foi incansável na sua pesquisa. Outras foram enviadas por Carlos Guedes, também da mesma Companhia (mais tarde, Comando). (O Carlos Guedes é membro da nossa Tabanca Grande; o Teco ainda não, por lapso nosso: será o primeiro do ano de  2024.

Ambos também forneceram informações preciosas sobre vários aspectos importantes da configuração do quartel. Foram também aproveitadas várias fotografias do saudoso cap SGE  José Afonso da Silva Neto, da CART 1613 (Junho de 1967/maio de 1968) (Na altura, 2.º sargento, sendo o comandante o cap Eurico Corvacho).

Foi igualmente importante a colaboração de vários membros do nosso blogue, que forneceram informação relevante ao autor do diorama. Muitos colaboradores, guineenses e portugueses, contribuiram para este resultado, que também deve muito ao entusiasmo e energia do Pepito e da sua equipa de gente magnífica.

Seria injusto, por exemplo, não mencionar aqui a importância que teve, para a conceção do diorama, o levantamento topográfico efectuado em Guileje em 2005, por Fidel Midana Sambú, colaborador da AD- Acção para o Desenvolvimento.

2. A título meramente exemplificativo apresentamos aqui uma seleção de algumas miniaturas que compõem o diorama do quartel de Guileje. Os nossos parabéns ao autor da obra, que vai ficar no Núcleo Museológico Memória de Guiledje (sic), com muito orgulho (e uma pontinha de inveja) dos... tugas.
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Posto de transmissões (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Edifício dos oficiais e comando (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Posto de primeiros socorros, centro cripto e cantina (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Caserna do Pelotão de milícias da Companhia de Milícias n.º 12 (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Cozinha e refeitório das praças (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Outro pormenor da cozinha (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Um abrigo (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma palhota (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Uma viatura Daimler (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma vaitura GMC (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Um jipe (ou jeep) (miniatura)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008>Uma vitura White (miniatura)
 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico de Guiledje (em preparação) > 2008> Uma avioneta DO 27 (miniatura) 
 
Fotos (e legendas) : © Nuno Rubim / Pepito / Acção para o Desenvolvimento (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Concepção do Diorama 

(i) A povoação de Guileje  (lê-se: Guiledje)  teve ali instalada unidades militares portuguesas desde fevereiro de 1964 até 22 de maio de 1973, altuar em que foi abandonada e ocupada, momentaneamente, três dias depois, pelo PAIGC. 

(ii) Assumida a decisão de ser feito um diorama, foi necessário determinar a data que o mesmo iria representar, dado que ali estiveram instaladas 11 Companhias, além de outras unidades menores (Pelotões de cavalaria, de artilharia, de caçadores nativos, de mílicias...) 

No decurso desse período e sobretudo a partir de 1969, o aquartelamento sofreu alterações significativas (por exemplo, contrução de abrigos pela Engenharia Militar). 

  • CCAÇ 495 (Fev 1964/jan 1965) 
  • CCAÇ 726 (Out 1964/jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim) 
  • CCAÇ 1424 (Jan 1966/dez 1966) (contacto: Nuno Rubim ) 
  • CAÇ 1477 (Dez 1966/jul 1967) (contacto: cap Rino) 
  • CART 1613 (Jun 1967/mai 1968) (contacto: cap Neto) [infelizmente já desaparecio, José Neto, 1929-2007] 
  • CCAÇ 2316 (Mai 1968/jun 1969) (contacto: cap Vasconcelos) 
  • CART 2410 (Jun 1969/mar 1970) (contacto: Armindo Batata) 
  • CCAÇ 2617 (Mar 1970/fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio Pimentel) 
  • CCAÇ 3325 (Jan 1971/dez 1971) (contacto:cap  Jorge Parracho); 
  • CCAÇ 3477 (Nov 1971 /dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio); 
  • CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho ) 

(iii) Foi decidido escolher a data de 1965-66 pela seguinte razão: foi nessa altura que aí esteve sediada a unidade que ali permaneceu mais tempo, a CCAÇ 726 que, com a unidade que se lhe seguiu, a CCAÇ 1424, foi também a Companhia que efectuou mais operações no sector e sofreu mais baixas em combate.

(iv) O Diorama, ou maqueta, pretende pois representar o aquartelamento e a tabanca nesse período. 

(v) A escala escolhida foi a de 1/72, pois isso permitiria adaptar modelos em miniatura comercializados. 

(vi) Após aturado trabalho de estudo, e da recolha e análise de fotografias e declarações de ex-militares que ali estiveram no período em causa, foi possível desenhar um plano à escala para aí serem inseridas as localizações de edifícios, cubatas, abrigos e outros detalhes.

(vii) Estes, depois de também serem desenhados à escala, foram construídos utilizando plástico, madeira, metal e resina, e depois pintados de forma a representá-los tão exactamente quanto possível. 

(viii) No diorama poderão ser pois observados, além das infraestruturas, modelos de viaturas (GMC, Fox, Daimler, White...), depósitos, diversos utensílios etc…

(ix) E também um DO-27, a aeronave que proporcionava talvez o único momento de alegria para as tropas, pois era quem trazia e levava o correio e alguns frescos...

As nossas palmas vão para o nosso saudoso Nuno Rubim (1938-2023) (4)
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Notas do editor L.G.: 


(...) "Comandei em Guileje, sucessivamente (de castigo !..., eu qualquer dia conto esta estória) as CCAÇ 726 e 1424, depois de ter também comandado a CART 644 em Mansabá e a CCmds em Brá. O que foi a minha vivência em Guileje, fazem os amigos ideia... Foram de facto perto de 10 meses infernais, com mortos, feridos, estropiados, de ambos os lados, enfim o triste rosário de uma guerra que Portugal nunca devia ter travado. Tinha também um Grupo de Combate em Mejo, de que pouco tenho ouvido falar. Quando terá sido desactivado esse pequeno aquartelamento ? E ainda voltei à Guiné em 1972-74, mas isso é outra história..., que meteu o início da conspiração que levou ao 25 de Abril, entre outras coisas" (...).

Vd. ainda o poste de 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2554: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (21): Chegou o Nuno Rubim, em Mejo o Capitão Fula (Pepito)

(2) Vd. postes de:



10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLV: Projecto Guileje (7): recuperação do quartel














(4) Último poste da série > 30 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25036: O nosso blogue em números (86): Em 2023 publicamos 1089 posts, médias de 91/mês, 3/dia. Subimos ligeiramente em relação a 2022, mas ficámos muito longe de 2010, o nosso melhor ano (Carlos Vinhal)

Deixando para o Luís Graça, Fundador, Administrador e Editor do nosso Blog, as estatísticas mais pormenorizadas de 2023, estou a fazer uma pré apresentação dos números relacionados com as postagens deste ano. 

Comparando os actuais números com os dos anos anteriores, verificamos um decréscimo acentuado na participação da tertúlia. Estamos a ficar velhotes, é verdade, já dissemos quase tudo, também é verdade, mas há sempre qualquer coisa no fundo da gaveta, seja uma fotografia ou uma súbita memória

.Em relação ano de 2023, verificamos que:

a) - conseguimos, apesar de tudo, uma pequena subida no número de posts publicados (1089) em relação a 2022 (1073), sendo que o mês menos produtivo foi o de Março, com apenas 73 posts, e o mais produtivo o de Dezembro, com 122, isto muito graças ao editor Luís Graça que só à sua conta contribuiu com 74 publicações, recorde pessoal e absoluto;

b) - não havendo, como é obvio, competição entre os editores, fica também o registo do maior número de posts publicados, 566, pelo Luís, o que lhe confere 52% do total anual;

c) - o número médio mensal das publicações foi de 91, cerca de 3 por dia, muito longe do ano de 2010 quando se publicaram 1960 posts, cerca de 163 por mês, mais de 5 por dia.

Permito-me lembrar que, apesar de mais velhos, para os editores não há fins de semana, feriados ou dias especiais. Como se costuma dizer, dias são dias. Se um de nós tem um impedimento pessoal, deixa um ou vários posts adiantados/programados para que um dos outros editores os possa publicar atempadamente. Pelo menos eu e o Luís estamos praticamente em contacto permanente para não haver falhas.


Reportando-me agora aos registos a partir de 2010, o nosso melhor ano, notamos ao longo do tempo um acentuado decréscimo nos posts publicados, pelo que apelamos aos nossos camaradas para que não deixem morrer o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Vejam o gráfico:
OBS: - Estes números podem não coincidir com os apresentados na aba da nossa página (lado esquerdo),  porque o nosso servidor, o Blogger,  faz a contagem das publicações de domingo a sábado, independentemente de no meio da semana ter mudado o mês ou o ano.

Carlos Vinhal

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23970: O nosso blogue em números (85): Em 2022, tivemos 12 "baixas mortais" e outras tantas entradas para a Tabanca Grande (dos quais 3 a título póstumo)... Somos agora 867 grã-tabanqueiros, dos quais 129 já falecidos (c. 15%)

Guiné 61/74 - P25035: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (14): servindo duas pátrias, Portugal e Angola...



Mapa de Angola. Adaptado: posição relatiuva de Luanda e Uige e 
das províncias de Cuanza Sul e Cuando-.Cubango. Cortesia de Wikipedia


Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (13):  servindo duas pátrias, Portugal e Angola...

por Luís Graça (*)



Luanda, julho de 2013. Levantas-te às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto,  o motorista de ambulâncias do hospital  já está pronto para te levar ao aeroporto, de regresso a Lisboa. É o teu motorista habitual, quando aqui vens, em serviço... É o teu motorista das partidas. Porque há um outro, o das chegadas.

Já o conheces há uns anos... Pertence ao ministério da saúde, destacado agora num dos hospitais da capital. E costumas trazer-lhe uma garrafa de vinho tinto português, comprada 
no "freeshop" do aeroporto de Lisboa.  Sabes que ele aprecia. Fez a tropa e a guerra no "tempo dos portugueses".

O teu motorista "caluanda" (não o queres identificar, nem a ele nem ao hospital onde trabalha, já que não lhe pediste autorização expressa para contar a sua história de vida)  "estava de férias", mas levantou-se prontamente para te conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto de Luanda. Tens a gentileza de não lhe perguntar o que é que um motorista de ambulâncias  faz, em Luanda,  quando está de "férias"...


Há um outro motorista, mais jovem, mas mora "longe", a norte de Luanda, a 20 km, em Viana (onde nunca fostes, apenas conheces os arredores, a sul, o Mussulo e a foz do Quanza). Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques. E os transportes públicos  são maus e morosos. Mesmo assim, no hospital, há gente (incluindo médicos) que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!... A vida é dura para os luandenses, os "caluandas",  que precisam de trabalhar. É dura, para quem tem que estudar, formar-se, especializar-se como os médicos... "Angola tinha  26 médicos (!), no dia da independência",  disse-te um deles, o vigésimo  sexto... (que acreditava que o seu país tinha futuro, "tendo a maior parte ficado do lado do MPLA").

Esse outro motorista, mais jovem, que costuma ir buscar-te ao aeroporto, à noite, não é tão fiável: um dia, ficou à tua espera, devia estar cansado, a morrer de sono (e se calhar de fome),  adormeceu na viatura,  o avião atrasou-se... 

Enfim, deixou-te completamente "pendurado", sem transporte nem telemóvel: foi uma pequena aventura, chegar, à "guest house" onde costumas ficar alojado,  às 11 h da noite, com um jovem "taxista" de ocasião, de chinelos,  t-shirt e calções esfarrapados, com viatura sem portas, completamente "descaracterizada" e "canibalizada", sem matricula,  com o tabliê esventrado...  

Àquela hora da noite não descortinaste outra alternativa (ou não tiveste a lucidez de a procurar),  depois de respirares fundo e manteres o sangue frio, recusando-te a entrar em pânico...

Foi, seguramente, a viagem de "táxi" mais fantasmagórica da tua vida: custou-te 40 euros,  todo o dinheiro trocado que tinhas no bolso, nem sequer tinhas kwanzas ou dólares para pagar ao mais jovial, simpático e prestável "taxista da candonga", a quem confiaste a tua bolsa, o teu PC,  a tua semana de trabalho ( textos, exercícios,  "slides"...), a tua bagagem e porventura até a tua própria vida. Ficaste na dúvida (confessa!. ..)   se a viatura não teria acabado de ser roubada naquela noite... E estarias metido numa grande encrenca se a polícia vos apanhasse pelo caminho... Aos dois, notoriamente cúmplices, "numa boa", na galhofa...

Foram os dois todo o trajeto a conversar, amavelmente, como se fossem "velhos conhecidos" ou até amigos, sobre tropa, médicos, militares, música, jovens, o presente e o futuro de Angola...

Ele fizera tropa mas já não fora à guerra, a "segunda guerra da independência"... Puxaste dos teus galões, fizeste-te passar por médico e professor da faculdade de medicina de Lisboa, e para mais militar, falaste-lhe de alguns nomes de gente da "nomencltura" angolana que te gabavas de conhecer, o diretor do hospital militar, o diretor da clínica X, o reitor da universidade, sua excelência o ministro da saúde que tinha sido teu aluno, etc.... 

Acabou por ser uma relação cordial, até empática, e lá chegaste ao destino sem mais problemas. E o rapaz ganhou o dia ou a noite. "Bué de cumbú, patrão!", rspondeu-te ele, ao contar as notas de 5 e 10 euros, com visível boa disposição... (Moedas não quis aceitar, eram difíceis de trocar...)

Ainda não tinhas varrido da memória o "incidente", occorido uns anos antes, quando apanhaste um pouco, por tabela, a paranóia securitária da polícia local do tempo de guerra... 

Gostas, afinal,  de lembrar, quando o tema Angola vem à baila numa roda de amigos,  que ainda chegaste a andar  fugido de um polícia, armado de apito e de Kalash, que mandara parar a tua viatura... Só porque tu estavas com um máquina fotográfica digital (ingenuidade a tua!), na mão, no "lugar do morto", tu, um branco, ao lado do condutor, um negro, num jipe do ministério da saúde angolano, na tremenda confusão do trânsito, a caminho do Futungo de Belas... 

Desobedecendo à ordem de parar, o jipe não levou nenhuma rajada, mas tu sentiste um calafrio pela espinha acima... Claro que o polícia era decidamente um patriota (ao pensar que um diabo branco,  um bandido estrangeiro,  poderia andar por ali a fazer espionagem) mas o mais provável é que ele, mal fardado, mal pago e pior formado, apenas quisesse  ganhar uns trocos para o "mata-bicho"... Valeu-te o condutor, experiente, corajoso e afoito, o teu "anjo-da-guarda" nessa manhã: só parou na escola de enfermagem do Futungo de Belas, depois de uma condução de doidos por aquelas artérias esventradas de Luanda... 

Mas voltando ao teu motorista "caluanda",  em julho de 2013... É um homem afável,  mestiço, de Uíge (se a tua memória não te falha...),  que fica a nordeste,  a cerca de 350 km de capital...  Pelas tuas contas devia ter nascido em 1953.  Teria então 60 anos na altura...

É preciso atravessar Luanda, de um lado a outro, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí teres que te levantar às 6 da manhã... para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto... 

É outra aventura, mesmo com "passaporte especial" (para os VIP da cooperação como tu...), até poderes sentar-te no teu lugar do avião da TAP e, enfim, respirar fundo... E depois de teres sido passado a pente fino pela Alfândega, onde largas 100 dólares para a "gasosa" (e te roubam os CD de música popular angolana que transportavas na mala da roupa, comprados na "candoga": uma mescla de estilos, a kizomba, o semba, o kuduro, a rebita, etc. )...

Além disso, levas contigo, dez mil dólares, em maços de notas (algumas sebentas...), limite máximo legal... Num envelope com o logótipo do Ministério da Saúde, o MINSA... E o credo na boca:  não é dinheiro teu, é da tua instituição, e vai servir para pagar viagens e ajudas de custo dos próximos formadores... 

Enfim, uma forma expedita, um desenrascanço, à portuguesa e à angolana, para contornar a morosidade burocrática da transferência de dinheiro entre os dois países... É também um sinal da crise,  que já se nota no comércio de rua, nos agentes da antoridade (que se batem à "gasosa"), nas "quinguilas" (cambistas do mercado negro, que trazem os maços de notas no sutiã), nas "zungueiras" (as vendedeiras de comes & bebes)...

O teu "caluanda" mora(va) na ilha de Luanda, perto do centro aonde foste dar formação.  O trabalho de motorista de ambulâncias, diga-se de passagem, não é pêra doce: há uns largos anos atrás, talvez em finais da década de 1990, a sua ambulância fora metralhada num musseque dos arredores (ele disse-te o nome, que não fixaste, talvez Sambizanga, onde vivem cerca de 250 mil almas emparedadas ), quando um "grupo de bandidos" tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)... 


Os "bandidos, que não sabiam ler" (sic), confundiram o "tinonim" da ambulância com o carro da polícia...  Houve feridos graves, doentes baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus furados, e o assento do motorista "crivado de balas", o teu herói  lá conseguiu safar-se, são e salvo... Na altura até foi louvado (pelo "nosso Mais Velho", em visita ao hospital)...

Revelou um extraordinário sangue frio e coragem, dois atributos essenciais para se poder sobreviver numa cidade como Luanda de 5 ou 6 milhões de habitantes onde só uma escassa elite, privilegiada,  vai tendo por enquanto vida segura e  decente. (Só a Norte, no concelho vizinho de Viana, devem viver mais de milhão e meio.)

Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um duplo ex-combatente. Fez duas guerras, ao serviço de duas pátrias... que, aos seus olhos, se completam: "Nasci português, hei de morrer angolano"....Tem muitas histórias para (e por) contar. 

Rapidamente criaste com ele um laço de cumplicidade e  empatia, típicas dos ex-combatentes. 

De facto, nada como dois ex-combatentes encontrarem-se,  beberem um copo  e começarem a desatar os nós da memória .... Não foi preciso copo nenhum, ele era um homem simples, prestável, falador e afável... 

Resumindo: fizera a "guerra colonial" , do lado português, com "muita honra" (sic), por volta de 1972/74 ou até talvez 1973/75 (já não podes precisar). Era furriel miliciano. 

Serviu "a sua pátria de então" (sic), diz-te com naturalidade e sem qualquer subserviência nem complexo de culpa.  Sentia-se português,  tinha sangue transmontano do lado paterno, o trisavô, desterrado (como muitos outros primitivos colonos),  ainda conhecera e privara com o "Kimuezo", "o homem das barbas grandes", o lendário Zé do Telhado. (Falecido em 1875, está sepultado na aldeia de Xissa, Mucari, Malange; o seu túmulo ainda hoje é venerado pela gente local.)

Quando "os sul-africanos, os zairenses e outros bandidos" (sic) invadiram Angola, "sua terra natal", as FAPLA (Forças Armadas para a Libertação de Angola) convocaram-no para as suas fileiras. Foi então promovido ao posto de  1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens (se bem percebeste). Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980...  Como "já não sabia fazer mais nada", aos 37 anos deram-lhe uma ambulância para conduzir... Ganhava mal mas tinha um emprego.

Também se queixava, tal como os antigos combatentes portugueses,  de o Estado angolano os ter abandonado  à sua sorte, com "muitas centenas de milhares de camaradas deficientes, incapacitados"... (Curiosamente, deixaste de ver, como há 10 anos atrás, os "estropiados de guerra", atravessando as ruas sujas da cidade, como cangurus, aos saltos nas suas muletas de pau.)

Também esteve na província do Cuando Cubango. onde foi um dos bravos da batalha de Cuito Cuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e do outro, angolanos, cubanos, sul-africanos, e até conselheiros soviéticos (quando o muro de Berlim ainda estava, fisica e simbolicamente,  de pé)... Nessa altura  fazia a segurança ao hospital de campanha na retaguarda onde viu coisas que nunca contará aos filhos e netos: amputar pernas e braços a sangue frio, sem anestesia; fuzilamentos de "rebeldes da Unita";  atos de sodomia entre angolanos e cubanos, enterrados nas trincheiras lá nas "terras do fim do mundo"....

Mas a cena mais dramática da guerra que tera vivido, não foram tanto  os bombardeamentos maçiços  da artilharia, cavalaria e aviação dos sul-africanos no sul, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (a cerca de 100 km, se bem percebeste), a um coluna de várias viaturas guarnecidas por um grupo de combate que ele comandava, composto por cerca de 30 homens. 

Tens dúvidas se foi na altura da batalha de Quifangondo (em 10/11/1975) nas imediações de Luanda,  ou se foi no âmbito da batalha do Ebo, mais longe, a sudeste... Em qualquer dos casos, o desfecho destas duas batalhas foi fundamental para reforçar a posição do MPLA e do seu braço armado, as FAPLA

Pela descrição da batalha do Ebo (no portal cubano EcuRed (que não pode todavia ser considerado uma fonte independente), inclinas-te mais para a primeira hipótese, a da emboscada em que caiu a coluna comandada pelo teu motorista, ter ocorrido no âmbito da batalha de Quifangondo, a escassa centena de quilómetros de Luanda, a nordeste.

Nessa altura as forças que apoiavam a FNLA, o Exército Nacional de Libertação de Ang0la (ELNA), já tinham tomado o Caxito, estando às portas de Luanda.  Eram constituídas pelos "comandos do coronel Santos e Castro" (sic), por forças do exército regular do Zaire, e por uma unidade de artilharia dos sul-africanos,  mais um grupo de mercenários, esclareceu-te o teu motorista. 

Sobre batalha de Quifangondo (em 10 de novembro de 1975), vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu' (chefe do Estado-Maior da 9ª Brigada, uma unidade das FAPLA,   criada uns meses antes para "defender Luanda das investidas do inimigo contra a capital, nos dias que antecederam a Independência, no dia 11 de Novembro de 1975"). 

Já agora leia-se, com atenção, também o seguinte comentário de um anónimo (entre muitos outros, que entretanto surgiram no seguimento daquela entrevista):

"O que o General António dos Santos França, na altura Comandante N´Dalu, não mencionou, talvez por não lhe ter sido perguntado, foi a constituição da 9ª Brigada . Estavam incluídos nela os melhores guerrilheiros das então FAPLA, e principalmente militares angolanos desmobilizados das forças portuguesas, onde se incluiram também paraquedistas e comandos portugueses. 

Ouvi pessoalmente oficiais cubanos a elogiarem a preparação destes militares do contingente de Angola nas forças portugueses. Foi a 9ª Brigada e os cubanos quem destroçaram as forças da FNLA/Zairenses/sul-africanos a norte, e perseguiram os sul-africanos estacionados próximos de Porto Amboim até à fronteira, no Cunene. 

Paradoxal e infelizmente, a maioria dos militares da 9ª Brigada foi fuzilada dois anos depois, nos acontecimentos do [27] de Maio [de 1977]".

É muito possível que o teu motorista fosse um daqueles jovens, desmobilizados do exército português, que se ofereceram como voluntários para a 9ª brigada, ou foram recrutado à força...  (Sobre os trágicos acontecimentos de 27 de maio de 1977 tiveste o bom senso de não lhe fazer perguntas, era um assunto-tabu em Angola naquela época; mas recordas-te de um jovem economista, assessor do ministério da saúde te ter confidenciado, à meia-voz: "sabe, o meu pai saiu de casa na madrugada do dia 27 de maio, e nunca mais voltou") 

Tens de admitir também a  hipótese de o teu motorista ter participado na batalha do Ebo onde haveria de morrer o comandante cubano Raul Díaz-Argüelles (1936-1975), em 11 de dezembro de 1975 (um mês depois da proclamação da independência de Angola).  

Recorde-se que o Diaz-Argëlles também passou pelo teatro de operações da Guiné, em 1972, ao tempo da guerra colonial, tendo ajudado o PAIGC a planear a operação contra Guileje.

A batalha do Ebo, a sudeste de Luanda,
a par da batalha de Quifangondo, a nordeste de Luanda,  foi decisiva para suster o avanço das forças  anti-MPLA  que pretendiam impedir a proclamação da independência em Luanda pelo partido de Agostinho Neto.

É bom lembrar que, à revelia da potência colonizadora, Portugal, e do Acordo do Alvor (janeiro de 1975),  cada um dos três movimentos nacionalistas proclamou a independência de Angola em sítios e datas diferentes: a FNLA  no Uíge, a UNITA no Huambo e o MPLA em Luanda.

Não tiveste oportunidade, nas conversas esporádicas que mantiveste  com o teu  motorista (afinal , em escassas e fugidias duas vezes, em que o assunto veio à baila, no trajeto até ao aeroporto) de esclarecer este e outros pormenores importantes das suas histórias de  guerra... que ele sempre te contou, "sem filtros",  com a espantosa naturalidade e candura dos africanos...

Ias em geral com um ouvido atento à conversa com o condutor e um olho no vidro da janela do teu lado... Reconstituias a tua conversa com ele, já depois no avião de regresso a Lisboa, no teu "diário de bordo".... E podes estar a ser traído pela memória. Mas confias na boa fé do teu amigo angolano.

Essa emboscada (com  apoio de artilharia
) poderia ter sido  quando as forças sul-africanas,  que invadiram Angola,  chegaram até ao sul do Ebo, na província do Cuanza Sul, ameaçando Luanda. Os angolanos e os cubanos destruiram as pontes e sustiveram o avanço dos invasores justamente no Ebo (município a 300 km de Luanda).

Segundo o depoimento do teu motorista,  nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos. 

Conversa puxa conversa, diz-te que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda". A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros, incluindo portugueses,  a viver e a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal.  Com relativa descontração.  

As praias estão "limpas",  contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas dos pescadores desapareceram... Enfim, a cidade mudou, "para melhor", há obras por todo o lado... "Bandido é no musseque onde a polícia não entra" (sic). Também por delicadeza não abordas a questão dos "esquadrões da morte", de que ouviras falar.

Tinhas-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixaste-lhe kwuanzas para beber um copo à tua  saúde e à condição de ambos como  antigos combatentes, homens da mesma geração, nascidos sob a mesma bandeira, falando a mesma língua...

Percebeste então  melhor porque é que os nossos amigos  angolanos, são pessoas que vivem com tanta intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade, através da comida, da bebida, do sexo, da música, da dança. 

"Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, (a cuja estreia, em Portugal, tu assististe, uns meses mais tarde, em novembro de 2013, no Cinema São Jorge, no âmbito do doclisboa'13)... 

Confessas, por outro lado, a tua grande ignorância em relação à história e à geografia de Angola, apesar de lá ires já desde 2003...  

Por exemplo, Cuando Cubango... É uma província situada no sudeste do país. Verificas que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias da  Huíla e do Cunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados, e onde as tropas sul-africanas faziam "raides" punitivos, atravessando impunemente a fronteira). 

A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Cuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...

É constituída pelos municípios de Calai, Cuangar, Cuchi, Cuito Cuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região de Angola, "terras do fim do mundo",  é conhecida atualmente como "terras do progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticamente por explorar.

Mas voltando à guerra, à chamada segunda guerra da independência em que participou também o teu motorista.... Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Cuito Cuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a  "Jamba") em finais de 2001, aquando da última (e decisiva) ofensiva das forças armadas angolanas. 


É sabido que o movimento do Galo Negro recebeu apoio dos EUA e da África do Sul, na luta contra contra o MPLA, que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estava-se  em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial, sendo cobiçada pelas potências neocloniais pelas suas riquezas (o petróleo, os diamantes) mas também era fundamental para a sobrevivência do regime de supremacia branca na África do Sul...

batalha de Cuito Cuanavale terá sido o maior confronto militar da guerra civil angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada durante mais de 4 meses, entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988.


Foi aqui , na província de Cuando Cubango , e mais concretamente no munícipio de Cuito Cuanavale, que as FAPLA, apoiadas pelos cubanos e com armamento soviético, se confrontaram com  as forças da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo exército sul-africano.

Foi considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Nesta batalha de Cuito Cuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos, da invencibilidade do exército "racista" da África do Sul, garantiu-te, com visivel orgulho e patriotismo, o teu motorista. 

Independentemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente senão a superioridade, pelo menos  a capacidade de resistência, resistência e coragen  demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados cubanos) no campo de batalha. (Para os cubanos, Angola terá sido o seu Vietname, é bom não esquecê-lo...).

Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional. 

Como é sabido, a implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.

Se tu conseguires ainda voltar a Angola (o que já te parece cada vez menos provável) , esperas poder reencontrar, vivo e com saúde,  o teu amigo  motorista, que serviu duas pátrias, e  agora andará pelos os seus 70 anos... e se possível com a mesma sabedoria e alegria de viver do homem comum angolano. E continuar a tua conversa, agora à mesa d me uma  esplanada de um bar da ilha de Luanda com vista para o nosso comum oceano Atlântico....E, de preferência  com um bom copo de vinho  tinto português.  Há conversas, entre combatentes, que não acabam mais  (ou merecem ser prolongadas, melancolicamente, pela tarde dentro, aguardando o pôr-do-sol tropical)...

Lisboa, julho de 2013. Revisto, janeiro de 2024.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 7 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24926: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (13): O cruzeiro das nossas vidas

Guiné 61/74 - P25034: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (24): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Março de 1971



"A MINHA IDA À GUERRA"

24 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

João Moreira



MÊS DE MARÇO 1971

Os 3 furriéis do 4.º grupo de combate: Moreira, Justino e Ramalho.
Olossato, 05FEV1971 - João Moreira
Olossato, 05FEV1971 - João Moreira a escrever para a família
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25008: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (23): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Janeiro e Fevereiro de 1971

Guiné 61/74 - P25033: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VII: outra foto fabulosa, intimista, do Joshua Benoliel, na partida do CEP para França: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe ao lado, de xaile; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu)



Legenda: "À partida para França: uma despedida afectuosa". ("Cliché": Benoliel)


Capa da Ilustração Portuguesa, II Série, nº 582, Lisboa, 16 de abril de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 12 centavos.)

1. Mais outra foto (ou "cliché") intimista do Joshua Benoliel, fotojornalista (1873-1932), considerado o pai da reportagem fotográfica em Portugal. Esta é outra foto fabulosa: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe (presumivelmente)  ao lado, de xaile, tapada dos pés à cabeça; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu); o gesto afectuoso, de ternura e de encorajamento,  é surpreendente por ser em lugar público, e as mulheres portugueses estarem ainda longe de ter protagonismo na vida (e na via) pública; nenhum fotógrafo fez fotos como estas do Benoliel na despedida dos soldados durante a guerra colonial, no cais da Rocha Conde de Óbidos;  não fez ou a censura estado-novista nunca terá deixado publicar.


Joshua Benoliel (segundo a Wikipédia):

(i) nasceu em Lisboa em 1873, no seio de uma família judia originária de Gibraltar;

(ii) fez a cobertura jornalística dos grandes acontecimentos da sua época: as viagens ao estrangeiro dos últimos dois reis portugueses; a revolução de 1910; as revoltas monárquicas durante a Primeira República; o CEP que partiu para França e combateu na Flandres durante a I Grande Guerra; a ditadura de Sidónio Pais...

(iii) as suas fotografias caracterizam-se pelo seu enfoque intimista e humanista

(iv) trabalhou para, entre outras publicações o jornal O Século, as revistas Illustração Portugueza, O Occidente (1878-1915), o Panorama (1837-1868):.

(v) em 1929, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada;

(vi) morreu erm Lisboa em 1932. 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25032: Casos: a verdade sobre...(37): O Ten Art Montanha, Ernesto Luiz Lemonde de Macedo, foi mortalmente ferido no combate de Nhamacurra, a 50 km de Quelimane, no dia 1 de Julho de 1918, vindo a falecer no dia 22 do mesmo mês (Morais da Silva, Cor Art Ref)

1. Mensagem do nosso camarada, Coronel Art Ref, António Carlos Morais da Silva (ex-Instrutor da 1.ª CCmds Africanos em Fá Mandinga; Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, 1970 e 1972), com data de 2 de Janeiro de 2024:

Guiné 61/74 - P25023: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XLII: ten art Ernesto Luiz Lemonde de Macedo (Lisboa, 1892 - Quelimane, Moçambique, 1918)

Comentário de Fernando Ribeiro:

“Eu peço desculpa pela minha estranheza, mas custa-me acreditar que este militar tenha sido morto pelos alemães na zona de Quelimane, na Zambézia. Quelimane fica a muitíssimos quilómetros de distância do Rio Rovuma, que fazia (e ainda faz) fronteira entre Moçambique e o ex-Tanganyika, atual Tanzânia. Talvez mil quilómetros! Como foi que os alemães foram parar a Quelimane? Não se terá dado o caso de o infortunado tenente Ernesto Luiz Lemonde de Macedo ter sido morto pelos guerreiros de um régulo local, eventualmente aliado dos alemães?”


Caros editores
Porque convivo mal com faltas de educação e de civismo comentei:
O formato da documentação que possuo sobre o Ten. Lemonde de Macedo (fotos de documentos oficiais) não é compatível com o espaço de Comentários pelo que as enviarei, via mail, para os editores o poderem fazer e assim dissipar estranhezas aceitáveis e "palpites" inaceitáveis.

Em anexo seguem alguns documentos que me serviram para escrever as circunstâncias da morte em combate do meu camarada artilheiro.
Por regra, não brinco em serviço. Para que conste.

Muita saúde para 2024.
Cumprimentos cordiais
Morais Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25006: Casos: a verdade sobre...(36): A morte do Braima Djaló, o irmão do Amadu Djaló e de outros 'comandos' do BCmds, na Caboiana, e do aprisionamento do tenente graduado 'comando' António Jalibá Gomes, cmdt da 3ª CCmds (Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461, Teixeira Pinto, 1973/74)