quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

Guião do BCaç 2879.


Continuação da História do BCAÇ 2879.

Depois da formação do Batalhão, da viagem rumo à Guiné e da chegada a Bissau, com as impressões que a cidade deixou ao nosso Camarada Carlos Silva, ex-Furr Mil do Batalhão, publicamos hoje a entrada em quadrícula do BCAÇ 2879.

Revisão e fixação do texto: vb





04-08-69 – Segunda-feira

O Comando do BCAÇ nº 2879 comunica que havia assumido a responsabilidade do Sector 02, substituindo assim o COP3, que antes se encontrava em Farim.

Daqui havia partido há pouco mais de um ano o Ten Cor Agostinho Ferreira, que tinha estado anteriormente a comandar o BCAÇ 1887 no sector de Farim, tendo rendido ali o BART 1733 e posteriormente foi rendido pelo BCAÇ 1932, vindo agora substituí-lo com o BCAÇ 2879 (1).
Apesar de toda esta movimentação ser da vontade do nosso Comandante, a História tem coisas destas.
O Batalhão efectuou desde a sua chegada ao Sector, um período de treino operacional, tendo efectuado tiro, patrulhas, picagens de itinerários, etc, com vista a uma melhor adaptação ao clima, ao terreno e ao IN que viria a encontrar. Com a entrada do Batalhão em Sector saíram do mesmo as CCAÇ 1788 e 1789 do BCAÇ 1932 e a CART 2478 do BART 2865.


Localização do Sector de Farim – Zona de actuação do Batalhão e Companhias Independentes




O mapa a abrange quase toda a região do Oio, onde se situa o sector

Caracterização Geral do Sector

1. O Terreno e Recursos

O terreno deste Sector pode-se considerar plano pois a cota mais alta é de 59 metros. Tem a configuração da metade inferior de um coração, tendo por limites:
- Norte, a fronteira com a República do Senegal, desde o marco 122, próximo do Dungal até ao marco 96 próximo de Sitató;
- Sul, Saliquinhedim-K3 e Rio Canjambari;
- Nascente, antiga tabanca de Solucocum, rios Uranto e Canjambari;
- Poente, Binta, Cufeu e Guidage.

Como estradas principais utilizáveis existiam a estrada Ponte do Rio Caúr - Farim - Jumbembem - Cuntima, que noutros tempos ligava ao Senegal. De Jumbembem saía outra estrada que liga a Canjambari e que segue para o sector vizinho, para Fajonquito, não se efectuando na altura quaisquer ligações com o sector do lado.

As estradas Farim - Dungal e Cuntima - Sitató não estavam utilizáveis. De Farim depois de passar o rio Cacheu, existem as estradas que ligam Farim - Olossato, que não era utilizada e Farim - Mansabá, que presentemente dentro do Sector, apenas era utilizada até Saliquinhedim, tabanca mais conhecida por K3.

Estava previsto a abertura desta estrada, que beneficiaria grandemente a tropa e as populações presentes na área, tal como veio a acontecer.

Os recursos eram fracos e não chegavam para o abastecimento normal, quer de militares quer de civis. Praticamente, era tudo trazido de Bissau, quer por via marítima, através de batelões ou lanchas da Marinha, que navegavam no Atlântico, subindo depois o rio Cacheu até Farim, quer por via aérea através do velho Dakota ou de Nord-Atlas.

No que respeitava a fruta e outros frescos pode dizer-se que não havia, dada a exiguidade das quantidades que iam aparecendo no mercado e que se resumiam a bananas, mangos e ananases.
No caso particular da carne, vinha toda da República do Senegal, fazendo-se o transporte de animais vivos que depois eram abatidos nas Unidades dos subsectores. A água, bem essencial e precioso, era extraída de poços, havendo a suficiente para os gastos normais, mas nem sempre de boa qualidade.

2. A População Civil

O aglomerado populacional mais importante no sector era o da Vila de Farim, sede do concelho. Existindo ainda as povoações de Cuntima, Jumbembem, Canjambari e Saliquinhedim-K3.
População civil europeia praticamente não existia.

Basta dizer que além dos militares e famílias, apenas existiam 2 famílias europeias residentes, compostas por 6 elementos, que ali viviam (família Pinheiro). Ali viviam também alguns libaneses (Maron Saad e Madame) e caboverdianos, mas em número pouco significativo.
A população nativa do Sector é constituída por diferentes raças, predominando a raça mandinga e fula, embora por ali existissem alguns balantas.

Esta população nativa não tinha uma mentalização portuguesa. Nada as identificava com os portugueses europeus (apesar de uma ocupação durante quase 500 anos do território, não se alteraram as mentalidades nem os costumes). Não reconheciam qualquer benefício que se lhes fizesse, antes o aceitavam como uma obrigação (o branco tinha obrigação de tudo fazer e de lhes dar e ainda hoje mantêm a mesma mentalidade).

Os reordenamentos são um caso típico, em que os mesmos só colaboram, após muito instados, pois julgavam que a tropa era paga para lhes fazer as casas. Todas as povoações, antigas tabancas espalhadas pelo sector, encontravam-se abandonadas devido à guerra, pois a maior parte da população do Sector encontrava-se ao longo da fronteira em território da República do Senegal, para onde se refugiou, havendo apenas umas casas de mato na área de Bricama onde o IN tinha alguma população sobre o seu contole, outra parte da população foi acolhida nas localidades onde existia guarnições militares, que lhes poderia garantir alguma segurança, com a seguinte distribuição aproximada, em finais de 1967:

Farim: 3900 elementos de diversas etnias, mandigas, fulas e balantas;

Jumbembem: 280 elementos, na sua maioria fulas

Cuntim: 300 elementos, na sua maioria fulas

Binta: 1000 elementos, na sua maioria fulas

Guidaje: 370 elementos, na sua maioria fulas

O relacionamento da população com as Autoridades Administrativas era bom, tendo os seus altos e baixos, mas sem qualquer significado. Com as Autoridades estrangeiras vizinhas, realizaram-se um ou dois contactos pessoais, com reservas próprias com que se tinha de olhar as autoridades de um país que no mínimo consente no seu território elementos que nos são hostis.

3. No Plano Militar

O Inimigo

O IN não tinha bases dentro do Sector 02, exceptuando a região a Sul do rio Cacheu e do rio Camjambari (Bricama, Biribão e Ionfarim), onde haviam diversas referenciações, obtidas através de RVIS ou por informações colhidas por vários meios, mas onde efectivamente há bastante tempo não se faziam operações.

Havia referência a 2 bigrupos, actuando um na área do Biribão e outro na área da Bricama, mas notícias posteriores diziam que os mesmos tinham ou teriam sido retirados, visto as NT não irem ali fazer operações e portanto não se justificar a sua presença. Ficariam apenas Mílicias Populares para controle e guarda das populações.

Dentro do Sector na parte controlada pelas NT, dado que o mesmo era um Sector de fronteira, o IN apenas o utilizava para fazer entrar ou sair as suas colunas, normalmente de reabastecimentos, mas com escolta.

As suas linhas de infiltração preferidas eram o corredor de Lamel que conduzia directamente à Bricama e o de Sitató que conduzia directamente a Canjambari. Logo que atinjiam aqueles pontos ficavam em terreno, subtraído ao controle efectivo das NT.

O IN mostrava-se na altura pouco agressivo e normalmente furtava-se ao contacto. Utilizava minas A/P (anti-pessoal) e A/C (anti-carro), mas na sua maioria foram neutralizadas pelas cuidadas picagens efectuadas pelas NT.

As Nossas Tropas

A nossa tropa tinha partido no cumprimento do serviço militar obrigatório, que não sentia, nem vivia o problema. Portanto, cumpria sem grande entusiasmo as missões que lhe eram impostas.
Tudo isto criava no pessoal do QP (Quadro Permanente), com funções de chefia e comando directo, um desgaste muito grande, pois tinham necessidade de determinar tudo, verificar tudo, resolver tudo, quer dizer os quadros não existiam.

Dado o modo de actuar do IN, dentro do Sector, em que praticamente só se faziam colunas, as NT actuavam principalmente por emboscadas nos corredores tradicionais e por patrulhamentos com o fim de detectar novos trilhos. Era esta a missão principal. Quanto a moral, situação sanitária e logística, apresentava e apresentou os seus altos e baixos normais, sem referência especial.

Instalações Militares

As instalações militares eram razoáveis, compostas por vários edifícios espalhados pela Vila.
Edifício do Comando, messe dos oficiais, messe dos sargentos, casernas dos soldados, refeitório e outros edifícios relacionados com a tropa. Edifícios onde estavam instalados os destacamentos de intendência, pelotão de morteiros, pelotão Daimlers, transmissões, pelotão auto, enfermaria etc.

O dispositivo das NT no Sector estava distribuído da seguinte forma:

Cuntima

  • CCAQÇ 2549
  • CCAÇ 2529
  • 10º PEL ART (-)
  • PEL MIL119
  • 2 Mort. 10,7
Jumbembem
  • CArtª 2384

Canjambari

  • CCaç. 2533
  • Pel Natº 58
Farim
  • Comando e CCS do BCaç. 2879
  • CCaç. 2547 em Nema + GComb. “ Os Roncos”
  • CCaç 2548 (-)
  • Pel Morteiros Médios 2116 (-)
  • Pel Rec Daimler 2047
  • Dest. Intendência 2010
  • 10º Pel Artª – Sec Obus 14
  • Compª Milª 5 c/ Pel Milª 115, 116, 117
  • CArtª 2478 – Aguardando transporte p/ outro Sector

Saliquinhedim – K3

  • CCAÇ 2548 – 4º Pel
  • Pel Morteiros Médios 2116 – 1 Secção
  • Pel Mil 118


O BCAÇ nº 2879

O Batalhão (1) em 4-08-1969, substituindo o COP3, assumiu a responsabilidade do Sector 02, novamente transferido para esta zona de acção, com sede em Farim e abrangendo os subsectores de Farim, Jumbembem, Cuntima e Canjambari.

As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do Batalhão, o qual desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contra-penetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.

O Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), ficaram instalados na sede do Batalhão.
A CCAÇ 2548, que substituiu a CCAÇ 1788 do BCAÇ nº 1932, no incremento do esforço de contra-penetração no corredor de Lamel, ficou integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado também aquartelada em Farim.

Contudo, tinha destacado um pelotão em regime de rotação para guarnecer o destacamento de Saliquinhedim-K3. Podemos dizer que a CCAÇ 2548, encontrava-se numa posição de intervenção e reserva, sob as ordens do Comando, actuando em todo o território da responsabilidade do Batalhão, como se depreende das acções efectuadas até 31 de Dezembro de 1969, designadamente: Solinto, Binta, Cofeu, Dungal, Lamel; no subsector de Jumbembem da responsabilidade da CART 2384, Lambã, Farincó, Fambantã, Sare Soriã e no subsector da responsabilidade CCAÇ 2549, Cuntima, Sitató e noutros locais onde fosse necessário actuar.


Farim, 1969 > Edifício do Comando

A CCAÇ 2547 substituiu a CART 2478 do BART 2865 a partir de 4-08-1969, na responsabilidade do subsector de Farim e também na contrapenetração sobre o corredor de Lamel e de Sitató, ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado aquartelada em Nema, situada no termo norte de Farim à entrada da estrada que vai para o Dungal.




Farim, 1970 > Vista aérea do Quartel de Nema. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.


Quartel de Nema, Dezembro 1969. Porta d’ Armas. Cavalo Frisa

Para Saliquinhedim-K3, localidade situada a 3 kms. da margem esquerda do rio Cacheu, para guarnecer o destacamento e para proteger a respectiva população deslocava-se um pelotão da CCAÇ 2548, em regime de rotação, bem como uma secção do Pel. Mort. 2116 e o Pel Mil 118.

Saliquinhedim – K3 e rio Cacheu. Março/1971. ista aérea – Slide das férias.



Saliquinhedim – K3 – Caserna do lado Oeste - Maio/1971. Slide tirado na deslocação de regresso do Batalhão pra o Cumeré.

Em Jumbembem a CART 2478 do BART 2865, no dia 4-08-69 é rendida pela CART 2384 (1), regressando assim aquele subsector, de onde havia saído havia pouco.


Jumbembem. Vista aérea, cedida pelo ex-Alf Mil Roda, da CCAÇ 14.



Pormenor de Jumbembem Velho, Janeiro de 1970 .

A CCAÇ 2549, seguiu em 30-07-69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCAÇ 1789 do BCAÇ 1932, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, em 4-08-1969 e ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão.

Cuntima, 1969. Entrada do quartel. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.


Cuntima, 1969 > Ritual do arrear da bandeira.

Outro dos aquartelamentos pertencentes ao Sector era Canjambari.

Em 1-06-1969, seguiu para esta localidade a CCAÇ 2533, a fim de realizar o treino operacional, de 3 a 17-06-69, sob a orientação do COP 3.

Em 19-06-69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Canjambari, em substituição do pessoal restante da CART 2340 e outros efectivos ali colocados, temporariamente, em reforço ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BCAÇ 2879.



Canjambari, 1969. Aspecto geral do Quartel e Pista. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires



Canjambari, 1969. Aspecto geral duma Caserna abrigo. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires

Fotos de Carlos Silva (2008).

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Notas de Carlos Silva:

(1) In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África
(1961-1974). 7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 206, 82 e 127
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Notas do co-editor vb:

vd artigos de

24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P2490: Em busca de... (18) : Malan Camará, comandante do PAIGC, capturado pela CCP 123, no Cantanhez, em 1973 (Manuel Rebocho / Pepito)

Malan Camará, um antigo guerrilheiro do PAIGC, que operou na zona do Cantanhez, um dos convidados especiais do Simpósio Internacional de Guiledje. No âmbito do Projecto Guiledje, foi entrevistado pelas equipas de investigadores da AD - Acção para o Desenvolvimento (que gravaram o seu depoimento, em DVD, sober a sua participação na batalha de Guileje, 18-22 de Maio de 1973).

Foto: Guiledje - Simpósio Internacional (2007) (com a devida vénia...).

1. Em 24 de Janeiro de 2007, o nosso camarada Manuel Rebocho mandou a seguinte mensagem ao Pepito:

Caro Amigo Eng.º Carlos Schwarz:

Acabo de ler no nosso blogue, que a AD tem gravações de entrevistas com alguns antigos guerrilheiros do PAIGC, entre os quais Malan Camará (1). Gostaria imenso de possuir a gravação com este antigo guerrilheiro e, quem sabe, um dia falar com ele. Depois te digo a razão (2). Não te digo agora, porque Malan Camará pode não ser aquele que eu conheci e, então, não interessa colocar outras questões.

Diz-me como posso aceder a estas gravações.
Um abraço
Manuel Rebocho

2. Resposta do Pepito:

Caros Amigos Luís [Graça] e Manuel [Rebocho]:

Com a informação mais detalhada que saiu hoje no blogue sobre o Malan Camará (2) , é muito mais fácil confirmar se se trata da mesma pessoa: O Malan Camará, sendo originário do sul, vive actualmente em Bissau, pelo que o contacto com ele será provavelmente mais rápido.

Apenas uma dúvida minha à partida: como ele foi ferido e preso em Fevereiro de 1973 e transportado para Bissau, creio ser difiícil que tenha participado três meses depois (Maio) na guerra de Guiledje. No entanto vamos esclarecer localmente o assunto.
abraços
pepito

Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cachambas Balantas, próximo de Jamberém > CCP 123 / BCP 12 (1972/74) >12 de Fevereiro de 1973 > O 1º Cabo pára-quedista Álvaro, o militar à esquerda na fotografia, pouco depois da captura do mais prestigiado chefe da Guerrilha no Cantanhez, o Comandante de Bigrupo Malan Camará, ferido por um disparo de Sneb [rocket de 3,7 cm], "que eu próprio mandei disparar" (Manuel Rebocho)

Foto: Costa Ferreira (gentilmente cedida pelo Manuel Rebocho) (2007). Direitos reservados.

3. Nova mensagem do Pepito, com data de hoje:

Caro Manuel Rebocho: Como prometido entrámos em contacto com o Malan Camará que irá participar no Simpósio. Apresentada a situação que descreves disse não ser ele a pessoa em causa, embora tivesse conhecido o teu Malan Camará, que entretanto morreu, e que se lembra do seu aprisionamento, uma vez que ele estava por perto.
abraço
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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2478: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (9): Inimigos de ontem, amigos de hoje

(2) 25 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2481: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (11): Malan Camará... e a maldição dos 3 G + 1 J (Manuel Rebocho)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 /CART 2410 (1969/70) > Saídas para o mato. Fotos de Armindo Batata (que esteve em Guileje como Alf Mil do Pel Caç Nat 51, no tempo da CART 2410, de Jun 1969/Mar 1970) (1).

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



1. Texto de Hugo Guerra, enviada a 25 de Janeiro de 2008, e dedicado aos "caro Luís e camaradas que um dia destes vão passar neste local"... O Hugo Guerra foi Alf Mil (sendo hoje hoje Coronel DFA, na reforma). Comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (2):



Estórias de Guileje > A minha 1ª ida ao Corredor da Morte (Gandembel-Guileje) (3)




Mal tinha acabado de chegar a Gandembel (que me parecia uma Praça de Touros, vista de cima), e já estava à pega brincalhando claro, com o Alferes Artilheiro com quem tinha estado em Vendas Novas.

Achei estranho que ele tivesse um obus municiado e colocado na horizontal para a mata. Ele lá devia saber porquê e se todos os outros camaradas achavam bem, quem era eu para comentar. Mas quis saber o que ele queria fazer.

Foi-me dito então que a rapaziada já estava farta de levar porrada, com tanta precisão que era lógico pensar que o PAIGC teria por ali perto um ponto de observação e comunicação com as bases deles, para se servirem à vontade.

Era mesmo verdade. Nessa manhã a rapaziada que fazia limpeza de capim no exterior dos arames farpados, tinha descoberto um balcão de 1ª onde o IN se instalava e que dominava todo o perímetro do aquartelamento. Era uma alegria... Para eles, claro!

A aposta era se o Artilheiro conseguia ou não deitar a árvore abaixo à primeira obusada. Mais sabia eu que sim, mas como estava em jogo uma garrafa de uísque e eu sempre tinha que lerpar com uma por ter acabado de chegar, acabei por apostar contra e perdi mesmo... A árvore foi mesmo parar ao chão. E nessa noite Gandembel não foi flagelado.

Feita a apresentação da praxe ao Cap Pára Mário Pinto e, porque além de estar a escurecer, o meu Pel Caç Nat 55 estava em Ponte Balana, foi considerado mais oportuno só ir pra aí no dia seguinte e .......Vivós copos!!! E, como nem arma tinha distribuída, o Cmdt convidou-me para dormir no abrigo dele e de rajada perguntou-me se na madrugada seguinte não queria ir com eles (Páras) ao Corredor ?!.

Meio acagaçado, e perante o ar de gozo daqueles velhinhos todos, pensei que podia despachar aquilo mais depressa (com sorte, ficava ferido) e lá disse destemidamente ao Cap que estava no ir. Possivelmente com receio que eu me desenfiasse, convidou-me para dormir no abrigo dele que o Reis já mostrou em foto no Blogue e que tinha ligação directa ao morteiro 81 (4).



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".


Foto e legenda: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


De madrugada, e sem qualquer respeito pelas visitas, atiraram-me para cima um camuflado de Pára-quedista e em menos de cinco minutos já estávamos formados e prontos a seguir. Eu só sabia que tinha que ser a sombra do Cap, não fosse perder-me e lá fomos mata fora no mais completo silêncio até atingirmos um carreiro bastante largo que era o famoso corredor.

Porque já havia luz da madrugada e a nossa missão não era o contacto, inflectimos para a esquerda até encontrarmos a Estrada que vinha do Guileje. O corredor seguia em frente e vim a saber que mais à frente se internava na Guiné - Conacri.

O que nos levara ali nessa operação era tentarmos descobrir os cabos de transmissão e trazê-los de volta a Gandembel. Encontrá-los não foi difícil porque estavam à vista e corriam ao lado da fantasmagórica estrada que ligara em tempos Guilege e Gandembel.

As crateras dos fornilhos eram enormes e muitas delas ainda tinham lá dentro uma ou mais viaturas carbonizada…. Pobres rapazes da 2317 (4)...

Resumindo: voltámos ao aquartelamento pela hora de almoço e carregados com umas centenas de quilos de cabo telefónico……Nos dias que se seguiram, passámos a usar os capacetes da 2ª Guerra Mundial até mesmo dentro do arame farpado. Não fosse o Diabo tecê-las….


Hugo Guerra (5)

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!

(...) De início foi um grande esforço para esquecer o mais rapidamente possível. Agora é a sensação das memórias que se vão esbatendo. Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia. Estive em Guileje (de Janeiro de 1969 a Janeiro de 1970) e em Cufar (de Janeiro de 1970 a Dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51 (...).

(2) Vd. postes anteriores do Hugo Guerra:

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(3) Corredor de Guileje (Ou de Guiledje)... Corredor da morte, para os soldados portugueses... Caminho do Povo e Caminho da Liberdade, para o PAIGC... Estendia-se de Kandjafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacri) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (Guiné-Bissau). Para a guerrilha do PAIGC, constituiu o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento durante guerra. Sabe-que que a sua manutenção teve um elevado custo em vidas humanas e perdas materiais que acarretou.

Este corredor passou a ter uma importância, a partir do momento em que, depois da batalha do Como (Janeiro/Março de 1964), o PAIGC foi obrigado a abandonar o eixo Canafá-Quitafine-Cassumba-Canamina e Cubucaré.

Através do Corredor de Guileje, foi possível ao PAIGC - apesar das linhas de defesa e da contra-ofensiva das tropas portugueses - garantir, de maneira praticamente contínua, desde 1964 a 1974, a realização de colunas logísticas que levavam o armamento, as munições e outro material indispensáveis à prossecução da luta no interior da Guiné.

(4) Vd. poste de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras


(5) Vd. postes anteriores desta série Estórias de Guileje:

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2488: Ser solidário (3): Notícias do Pe. Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)

1. Notícias de hoje, da viagem do Pe. Almiro e do Xico Allen (1), enviadas pelo nosso camarada Álvaro Basto.

Diama> Fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Foto do Google Earth.


Tan Tan Plage


Tan Tan Plage> Villa Ocean


Tan Tan


Tan Tan


Luis:

Tal como pediste, aqui vão mais notícias sobre a viagem à Guiné do Xico Allen e do Padre Almiro.

Acabo de receber um telefonema do nosso camarada globetrotter das viagens à Guiné. Estava na fronteira de Diama entre a Mauritânia e o Senegal.(Vd. foto de satélite do Google Earth, anexa)

Conta ir hoje dormir ainda a St. Louis, no Senegal. Trata-se de uma fronteira numa barragem no rio Senegal a oeste de Rosso, fronteira tradicional entre a Mauritânia e o Senegal, mas muito movimentada e complicada de atravessar.

Tiveram um problema na viatura que ia para o Saltinho, que queimou a junta da colassa, obrigando-os a ficarem em Tan Tan Plage, a trezentos quilómetros a sul de Agadir, para resolverem o problema.

Este incidente provocou um considerável atraso em toda a caravana, mas de momento parece que está tudo mais ao menos resolvido embora a velocidade de progressão seja mais baixa do que o que se contava.

Falta atravessar o Senegal todo, contornando a Gâmbia, para entrarem finalmente em Pirada e seguirem para Bafatá, Bambadinca e finalmente Bissau.

O Xico reafirma que o moral é excelente e, não fora o incidente com a viatura, esta travessia de África estaria a ser um autêntico passeio turístico sem vestígios dos perigos anunciados pelo cancelamento do Raly Lisboa-Dakar.

Envio-te ainda algumas fotos tiradas do Google Eath, de Tan Tan, de Tan Tan Plage e do Resort bem conhecido de todos quantos têm feito esta viagem já que é paragem obrigatória de pernoita.

Um grande abraço.

Álvaro Basto
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Nota dos editores:

(1) Vd. posts da série, de:

24 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2476: Ser solidário (2): Notícias do Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)

21 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P2487: Guileje, 22 de Maio de 1973 (2): Por mor da verdade dos factos (Nuno Rubim)

Guiné > Guileje > 1973 > Capa do Álbum de fotografias do José Casimiro Caravalho, ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 (1972/74). Ele esteve em Guileje de Outubro de 1972 a Maio de 1973 (1). Todas as nossas recordações desses tempos (já lá vão quase 40 anos, para muitos de nós) são fragmentadas. A memória acaba por nos trair em questões factuais, sobretudo datas, nomes de lugares, nomes de camaradas e de unidades, pormenores técnicos do armamento, etc. Daí a necessidade de se recorrer à investigação de arquivo, de procurar fundamentar, na rica documentação do Arquivo Histórico-Militar, e na investigação historiográfica que já se começa a fazer, aqueles pontos, potencialmente polémicos, da guerra da Guiné, e que podem tornar-se questões fracturantes entre nós: por exemplo, a retirada ou abandono de Guileje... Seria bom que também ouvíssemos o depoimento dos protagonistas, mas deixemos também falar os documentos ... (LG)

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, da CCAV 8350 (Guileje, Outubro de 1972/Maio de 1973), montado num dos dois obuses 10,5 existentes em Gadamael.

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, junto à uma das peças de artilharia 11.4, ali existentes em Gadamael. Em Guileje também existiram peças destas, até 16 de Maio de 1973 (altura em que foram substituídas por 2 obuses de 14 cm que entretanto foram capturados pelo PAIGC, na sequência do abandono das NT em 22 de Maio de 1973)... A 18 de Maio, como se sabe, começou a batalha de Guileje (Op Amílcar Cabral, para o PAIGC)...

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem Cor Art, na reforma, Nuno Rubim , enviado em 27 de Janeiro de 2008:

Caro Luís Graça

Um abraço

Agradeço-te que publiques no blogue o seguinte:

No blogue de hoje, 27 de Janeiro, deparei-me com uma intervenção do Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho que me causou uma grande perplexidade (2).

Sendo que o blogue teve como ideia original (tua) o vir a constituir um lugar onde todo e qualquer camarada, combatente ou não, que prestou serviço na Guiné durante a guerra colonial, possa transmitir as suas memórias e lembranças desses tempos, o que constituirá um testemunho ímpar para as gerações futuras, tenho vindo a assistir, e cada vez mais, a determinado tipo de intervenções que nitídamente visam "fazer história", o que julgo que se afasta dos propósitos originais, determinando, entre outros graves inconvenientes, o de poder desencadear polémicas que, por o serem, não levam, na maioria dos casos, a qualquer tipo de conclusões objectivas, podendo mesmo induzir os leitores em erros de desinformação.

Mas o que me parece mais grave é que são feitas, muitas vezes, afirmações destituídas de qualquer realidade histórica, i.e., não são apoiadas em documentação oficial que, não sendo de per si inquestionável, ainda é a única base científica susceptível de apoiar o que se escreve ou se diz, como julgo que o Sr. Prof. bem sabe.

Ora no caso vertente o Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho estabelece várias considerandos, um que liminarmente desde já rebato, outro que gostaria que viesse a ser documentalmente apoiada, para assim ser devidamente autenticada.

Afirma o Sr. Prof.:

1- As peças que estavam em Guiledje eram de calibre 10.6, e mais nenhum outro.

Desloquei-me ao Porto, onde vive o Capitão miliciano (claro) que comandava a companhia que fugiu de Guiledje. Ele próprio da arma de Artilharia, conhecedor do assunto, com quem troco frequentes telefonemas e e-mails, e que não me deixa enganar no calibre das peças. Está-me frequentemente a corrigir.



Realmente fico pasmado! O calibre das peças era 11,4 cm, sendo que foram substituídas por obuses de 14 cm dois dias antes do ataque do PAIGC, por já não existirem munições. Foram recebidas em Guileje sem tábuas de tiro e com apenas um aparelho de pontaria ! (Doc 1).

Por outro lado nunca houve material com o calibre 10,6. Existiram, sim, obuses de 10,5 cm de origem alemã Rheinmetall e Krupp), adquiridos durante a 2ª Guerra Mundial.


Doc 1 > Relatório da Acção Bubaque, realizada em 18 de Maio de 1973, na região de Guilege (sic)

(...) "As forças envolvidas foram apoiadas com cerca de 55 granadas de obus 14 cm. No entanto verificou-se que o tiro estava extremamente pouco preciso, facto que está relacionado com certeza com a chegada dos dois obuses, na coluna de antevéspera, em substituição do materail 11,4 cm que seguiu na mesma coluna para Gadamael. De notar que vieram apenas 2 obuses, sem tabelas de tiro e, um deles, sem aparelho de pontaria"


Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)

2 - O Major Coutinho e Lima, no momento em que ordenou o abandono de Guiledje, já não era comandante do COP 5, pois havia sido substituído no dia anterior. O Comandante era agora o Coronel Pára-Quedista (hoje Major-General) Rafael Ferreira Durão, o mais prestigiado Oficial Pára-Quedista de todos os tempos, por quem tenho elevada consideração e amizade. Coutinho e Lima era, no dia 22 de Maio de 1973, segundo comandante do COP 5, razão pela qual não tinha competência orgânica para dar a ordem que deu.

Não tendo qualquer procuração do Coronel Coutinho e Lima, passo a responder a esta afirmação que, pelos vistos, foi feita sem qualquer fundamento, e que se encontra claramente exposta, pelo menos e cronologicamente, nos Doc. 2, 3 e 4, hoje arquivados no Arquivo Histórico-Militar (atenção aos grupos data /hora ).

Finalmente as suas considerações acerca do Coronel Rafael Durão são perfeitamente
legítimas, mas de nenhuma forma as subscrevo.


Nuno Rubim (2)

-CPM 130, Moçambique 1961-1963
-Ex-Comdt das CART 644, CCmds, CCAÇ 726 e CCAÇ 1424, Guiné 1964-66
-Centro de Instrução de Comandos, Angola 1967-69
-SRT, Guiné 1972-74

Doc 2 > "Em 21 [de Maio de 1973] às 16h00, o Comandante do COP 5 com uma força constituída por 1 Gr Comb / CCAÇ 4743, 1 Gr Comb / CCAÇ 3520 e 1 Sec Pel Mil 235, deslocou-se apeado de Gadamael para Guileje onde chegiu em 21, às 18h30. "Dia 22 de Maio de 1973: Em 22, às 5h30, Guileje foi evacuada.

"O Chefe da Repartição de Operações, Mário Martins Pinto de Almeida, Ten Cor do CEM"

Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008).

Doc 3 > Mensagem do Com Chef Oper para a CCAÇ 4743, com data de 22 de Maio de 1973, às 18h00: " 1652/C. Ref Mensagem Relâmpago de 22 de Maio de 1973, às 12H15, s/ número, solicito informe Cmdt CAOP 3, Cor Pára Ferreira Durão, que Sexa General Comandante-Chefe determinou seja retirado imediatamente do comando COP 5 Maj Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito auto corpo delito".

Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)



Doc 4 > Mensagem (relâmpago) do Com Chefe Oper para CAOP 3, com data de 24 de Maio de 1973, às 21h20: "1700C. Sexa General determina retirado comando Major Coutinho Lima desde data m/msg 1652/C [vd. Doc 3] ,devendo seguir via Cacine em Sintex. Tarde de 25 de Maio não deve já estar em Gadamael".

Fonte: Arquivo Histórico-Ultramarino / Nuno Rubim (2008).

Revisão e fixação de texto: LG

2. Comentário do editor L.G.:

Duas das regras de ouro da nossa tertúlia são - passo a citar - a "verdade dos factos" e a "manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal)"...

Ou seja: estamos aqui todos (ex-combatentes, de um lado e de outro, antigos soldados, sargentos e oficiais milicianos e até sargentos e oficiais do quadro permanente, dos três ramos das forças armadas portuguesas), não para dividir, nem para reinar, mas sim porque temos a Guiné... marcada, para sempre, no coração, na memória, no corpo e na alma.

Também é desejável (embora não obrigatório...) que nos tratemos por tu, como camaradas de armas que fomos, no TO da Guiné... Na comunicação entre nós, no blogue, nos e-mails, nos encontros tertulianos, os títulos académicos ou os cargos ou funções actuais bem com as patentes militares (de ontem ou de hoje) não devem ser um obstáculo à construção deste belíssimo projecto que é a partilha, entre nós (e entre nós e os outros), da vivência e da experiência, de cada um, da guerra do ultramar / guerra colonial / luta de libertação...

Dito isto, aqui ficam os esclarecimentos dados pelo nosso querido amigo e camarada Nuno Rubim, que eu espero sejam recebidos pelo Manuel Rebocho (que foi um valoroso combatente pára-quedista, de um batalhão excepcional, o BCP 12, que terá ajudado a salvar muitas vidas de camaradas nossos no sul e norte da Guiné, no final da guerra, entre 1972 e 74...) , e que é também meu confrade nas lides académicas, não sei se actualmente é professor universitário, mas pelo menos é doutorado em sociologia por uma universidade portuguesa, a de Évora), espero, dizia eu, que o Rebocho receba com serenidade, sabedoria, reconhecimento e flair play estes esclaracimentos do Nuno Rubim que pretendem apenas repor a verdade dos factos em relação a dois pontos:

(i) o calibre dos obuses de Guileje;

(ii) quem comandava o COP5 no dia e na hora da retirada de Guileje (o termo fuga é demasiado forte e implica um juízo de valor que pode ser doloroso e até injusto para muitos camaradas nossos que nos lêem)...

Naturalmente que o oficial superior visado, o então Major de Artilharia (e actual Cor Art, na reforma) Coutinho e Lima (que eu conheci pessoalmente no dia da estreia do filme de Diana Andringa e Flora Gomes As Duas Faces da Guerra e que me disse estar a escrever um livro sobre Guileje), tem também o direito de defender o seu bom nome, se for caso disso, nas páginas deste blogue, muito embora ele não faça parte da nossa tertúlia ou Tabanca Grande...

Prezamos muito a liberdade de expressão neste blogue, mas também o bom nome e a dignidade das pessoas... Sabemos que nem sempre é fácil conciliar uma coisa e outra. Isto também quer dizer que não procuramos (nem alimentamos) polémicas, muito menos para fazer subir a blogometria...
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Notas de L.G.:

(1) Sobre o José Casimiro Carvalho (que vive na Maia), vd. entre outros os seguintes postes :

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)


(2) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2484: Guileje, 22 de Maio de 1973 (1): Pontos (polémicos) por esclarecer (Amaro Samúdio / Nuno Rubim / Manuel Rebocho)

domingo, 27 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2486: Memória dos lugares (5): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)


Os nossos lugares vistos com outros olhos

Os olhos não são os nossos, são os do Rui Fernandes, o nosso novo companheiro da Tabanca Grande.

O Rui não anda com a G3 nem com granadas na mão, anda com outras armas, indispensáveis para a melhoria das condições de vida dos nossos Amigos Guineenses.

Para reavivar a memória de tantos de nós, que por Bambadinca passaram, juntamos mais algumas fotos que o Rui Fernandes teve a amabilidade de nos enviar juntamente com a mensagem:

Caro V. Briote

Consegui hoje ver o post que colocou. Perfeitamente correcto.

Sei que muitos de Vós vão este ano ao Simpósio e "in loco" rever locais por onde "palmilharam".
No entanto muitos mais não têm essa oportunidade, pelo que penso será um contributo para estes.

(...)

Há pouco escrevi-lhe quase a correr e lamentavelmente não agradeci a inclusão na Tabanca Grande o que me deu uma grande satisfação.

Com os meus cumprimentos,

Rui Fernandes
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Memória dos lugares (5) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné.

Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (II)




Foto 10. Referência nº 28 (?) encontra-se em ruína e a referência nº 27 (?) não existe. 2006.








Fotos 11, 12 e 13. Referência nº 17 (oficinas de rádio). 2006.
É já há alguns anos o Centro de Saúde.

Em 2003, quando lá cheguei, já era Centro Saúde. Sofreu obras de restauro em 2004 (concluídas em Abril) no projecto da ONG -Associação Saúde em Português (Coimbra), (...), co-financiado pela União Europeia e pela Cooperação Portuguesa.
A casa que se vê à direita foi construída em 2004 e são as instalações da GuinéTelecom (em realce na 13ª foto).
Nota-se em cima e a meio da foto, parte da estrutura do mastro de suporte das antenas.


Foto 14. Referência nº 15 (estrutura à direita), em relação à foto aérea falta uma estrutura entre esta e a da esquerda que não tem referência na foto aérea. A referência nº 16 não existe. 2006.


Foto 15. Sem referência na foto aérea mas são as duas estruturas que se vêem no canto inferior direito. Faltam as duas árvores. 2006.
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Notas de vb: Vd posts de :
Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)
Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama
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Fotos: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)

A espingarda automática FN, de origem belga [produzida pela Fabrique Nationale]

A pistola-metralhadora UZI, de origem israelita

A espingarda automática G-3, de origem alemã.


1. Mensagem do Santos Oliveira (1), de 20 do corrente, dirigida ao Mário Dias, com conhecimento aos editores do blogue:

Amigo caríssimo Mário:


Afinal, parece que sou bem mais azelha que o que pensava, pois não conseguia comunicar contigo devido a um simples til.

Mas, já agora, acerca do assunto em esclarecimento (das estrias da G3), não há um Camarada ilustre, o Victor Condeço, que era Mecânico de Armamento? Suponho que é dos anos seguintes aos nossos, mas deve ter documentação mais completa que a minha e da minha curiosidade daquela época me ter guiado para o fresado. Mas, cá vai o que sei e o que penso estar certo.

Mais uma vez, mil perdões por interferir.

Um imenso abraço, do
Santos Oliveira

2. Mensagem enviada ao Mário Dias e ao Virgínio Briote:

Caros Amigos:

Sem criar polémicas, entendo que é um mau exemplo o meu Alferes ter, um dia, transportado a arma naquela posição (2). Eu pregar-lhe-ia uma porrada se fosse da minha competência. Razão, muita razão tinha o nosso Furriel em condenar e censurar.

O Mário Dias ouviu, certamente, o meu desabafo acerca dos equipamentos com que ambos os lados iniciaram a Guerra. Eu disse que a nossa G3 (FBP) não conseguia fazer tiro útil, em determinadas condições de terreno, como, por exemplo, se se molhassem; mas também afirmei que a minha G3 (original Mauser) nunca se encravou.

O ponto de que o Mário fala, as estrias, é o ponto fulcral. Efectivamente só haviam 4 estrias longitudinais, mas cuja diferença era, tão-somente, o tipo de fresado que as diferenciava. Enquanto que o fresado das originais (da minha, por ex.) tinha um ângulo de uns 30 graus (??) as de origem em Braço de Prata eram perpendiculares (90 graus), o que facilitava a acumulação de poeiras e pólvora, que depois de humedecida…

De resto a minha G3 e a minha UZI foram fabulosas, embora a minha função não fosse igual, nem semelhante, àquela que vocês tiveram.

Essa G3, eu também defendo. Ainda deve estar aí para as curvas…

No manual que vos anexo, não há nenhuma referência às estrias do cartucho. Na época, também não se sabia qual arma que viria ser aprovada (se a G3 ou se a FN) e por isso a sua produção, em Portugal, nem sequer era equacionada (3).

Espero ter dado o meu contributo.

A ambos, com admiração, o meu abraço

Santos Oliveira

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Notas dos editores

(1) Vd. poste de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

(2) vd.postes de:

19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

(3) Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra


(...)
Espingardas: O desencadear das hostilidades revelou, logo de início, em qualquer dos três teatros, a falta de uma arma automática de base: em Angola, os ataques em massa não podiam ser eficazmente contrariados com espingardas de repetição; na Guiné e em Moçambique, os guerrilheiros dispuseram, desde o princípio, de armas automáticas que lhes davam nítida vantagem sobre algumas das tropas portuguesas (caso das unidades de guarnição normal).

Assim, a prioridade, em 1961, foi a obtenção imediata de armas automáticas, mas tendo em atenção a necessidade de garantir o fluxo de abastecimento de munições e sobressalentes, o que só poderia ser plenamente conseguido através do fabrico nacional. Duas armas pareciam corresponder aos desideratos operacionais então formulados: a FN, de origem belga, e a G-3, de origem alemã. Quanto às munições, não havia problema, porquanto o cartucho de 7,62 mm era já fabricado em Portugal e exportado em larga escala, sobretudo para a RFA [República Federqal Alemã].

Foram assim adquiridas (com dificuldades, como veremos), dois lotes destas duas armas:
- FN: 3835 sem bipé (s/b) e 970 com bipé (c/b);
- G-3: 2400 sem bipé (s/b) e 425 com bipé (c/b).

Estas armas foram testadas em operações, “a quente”, tendo-se concluído, de modo genérico, que as FN eram de mais fácil transporte, mas o sistema de regulação de gases levantava problemas com pessoal pouco instruído; quanto às G-3, tinham mais precisão, mas o sistema de travamento de roletes revelava tendência para quebrar. No entanto, ambas foram consideradas como satisfazendo os requisitos operacionais. (...)


Sobre as dificuldades de abastecimento com que se deparou o Exército Português no início da década de 1960, no quadro da guerra colonial / guerra do ultramar:

(...) Na época, qualquer fornecimento de material militar a Portugal era extremamente melindroso, não sendo de admirar as dificuldades encontradas. No tocante ao fabrico, a decisão tenderia naturalmente para a opção alemã, mais que não fosse pelo grande volume de transacções já existente entre a RFA e Portugal (dezenas de milhões de cartuchos 7,62 e centenas de milhares de granadas de artilharia eram fabricadas nas FBP [Fábrica Braço de Prata] e FNMAL [Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras ] e vendidas à Alemanha). O fabrico nacional ficou decidido ainda em 1961, saindo as primeiras armas 15 meses depois (fins de 1962), para o que foi determinante a transferência de tecnologia e a assistência à produção, que permitiram, a partir de 1962, o fabrico de canos e carregadores.

Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.

Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.

Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.

A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada “arma regulamentar”. (...)


Quanto às pistolas-metralhadoras (PM):

(...) a orgânica anterior a 1960, as pistolas-metralhadoras (PM) tinham uma distribuição relativamente elevada (uma por secção de atiradores). Existia mesmo uma PM de concepção nacional, a FBP de 9 mm m/947, que tinha o inconveniente de só fazer tiro automático, problema resolvido com o novo modelo (m/961), que podia fazer também tiro semi-automático.

A adopção de uma espingarda automática relegou as PM para segundo plano, porquanto obrigavam a dois calibres nas unidades elementares e identificavam os comandantes a quem estavam normalmente distribuídas. Apesar disso, foram adquiridas PM, quer importadas (UZI de concepção israelita), quer de produção nacional (FBP m/961), empregues essencialmente na defesa de instalações e nas forças de segurança e de autodefesa. (...)

Guiné 63/74 - P2484: Guileje, 22 de Maio de 1973 (1): Pontos (polémicos) por esclarecer (Amaro Samúdio / Nuno Rubim / Manuel Rebocho)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1971 > Vista aérea, obtida de DO > Foto do então Cap (hoje Cor) Jorge Parracho, da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971). Esta unidade foi substituída pela açoriana CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Nov 1971 / Dez 1972) (contacto: Amaro Munhoz Samúdio) que, por sua vez, foi rendida pela CCAV 8350, Os Piratas de Guileje(Dez 1972/Mai 1973) (contacto: José Casimiro Carvalho).

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 28: "Cufar, 1966 - Artilharia no quartel de Cufar, Obus 8.8 cm".


Foto e legenda: © Benito Neves (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 2410 (Junho de 1969 a Março de 1970) > O Alf Mil José Barros Rocha posando sobre a roda de uma peça de artilharia 11,4... Os Dráculas da CART 2410 estiveram em Guileje, de Junho de 1969 a Maio de 1970. Sobre a questão dos calibres 11.4 (peça de artilharia) e 14 (obus), já se aqui publicaram vários postes ( ).

Foto: © José Barros Rocha (2007). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11.4, do 15º PELART.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça junto ao velho obus 10.5, possivelmente de marca Krupp, uma temível arma que vinha da II Guerra Mundial... O obus é, por excelência, uma boca de fogo especializada em tiro curvo, de longo alcance... O seu alcance era, porém, limitado: 10/12 km, no máximo, creio eu, com uma cadência de dois a quatro tiros por minuto, na melhor das hipóteses ... (LG)

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem enviada pelo editor do blogue ao Nuno Rubim, ao Casimiro Carvalho e ao Amaro Munhoz Samúdio:

Leiam com atenção esta mensagem... Só sabemos que se chama Paiva, e foi furriel de artilharia no pelotão de artilharia, que estava em Guileje, quando esta unidade foi abandonada por decisão do comandante do COP 5, Major Coutinho e Lima... É um testemunho dramático, de um homem que atravessou a nada o Rio Cacine, já na fuga de Gadamael, e foi salvo por um milícia de que não se lembra o nome...

Vou pedir ao Paiva que nos contacte de novo e nos dê as suas coordenadas, sobretudo para o ajudar a reencontrar os seus camaradas (e a reorganziar as suas memórias, doridas, daquele tempo)... Seria uma pena que este pungente testemunho ficasse escondido sob a forma de comentário a um dos nossos postes ...

Nuno, Casimiro: Vocês sabem qual era o nº do pelotão de artilharia que estava em Guileje, no dia 22 de Maio de 1973 ? Amaro, este camarada, o Paiva, ainda é do teu tempo ? Há contactos com esta malta, os artilheiros ? Digam alguma coisa antes de eu poder publicar este texto (que já saiu, anonimamente, como comentário...)... Acrescentem os vossos comentários... Um abraço. Luís


2. Mensagem do Amaro Samúdio (dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477, Guileje, 1971/72):

Luís Graça:

Naturalmente que vou fazer esforços no sentido de obter informações exactas, que possam ajudar o Paiva a encontrar os seus camaradas.

Exacto é que em 21 de Novembro de 1971,quando a CCAÇ 3477 chegou a Guileje, a Unidade de Apoio era o 15º PELART [Pelotão de Artilharia].

Não foram, nunca o foi dito, os Gringos [da CCAÇ 3477] a viverem os dramáticos acontecimentos do abandono de Guileje [, em 22 de Maio de 1973].

Tenho em mente que os obuses 14 chegaram a Guileje pouco antes de lá sairmos em 15 de Dezembro de 1972 [, sendo substituídos pelo BCAV 8350]. E aqui fica a grande questão
do abandono que já tenho tentado abordar.

Para parar qualquer ataque mais violento ao quartel, os 11.4 sabiam ... Kandiafara.
Qualquer nova base de ataque tinha que ser descoberta e eram as DO, posteriormente, a sobrevoar, que diziam se as coordenadas estavam a acertar no local.

Como é possível, e o Nuno Rubim tem toda a razão, que os [obuses 14] cumprissem a sua missão. Para onde iam actuar... Crime puro e simples.

Um Abraço


3. Resposta do Nuno Rubim (Cor Art, na reforma, especialista em história da artilharia):

Caro Luís

Será de facto um testemunho muito importante. O Pel Art que lá estava, era, segundo os dados que tenho, o 15º. Estava equipado com três 11.4 cm e por terem acabado na Guiné (e cá também ... ) as munições, foi substituído em 16 de Maio [de 1973], dois dias antes do início do ataque do PAIGC, por dois obuses de 14 cm.

Terão vindo de Bissau 3, mas um terá caído pela borda fora ( será possível ??? ) em Cacine ! ( Documentos que encontrei no Arquivo Histórico-Militar).

Ora esse nosso camarada, o Paiva, poderá dar importantes achegas, nomeadamente como foi feita a regulação do tiro ( só veio um aparelho de pontaria e nenhuma tábua de tiro !!!). [não há palavras ... !!! ]

Tenho também notícia que o Alf Cmdt do Pel foi morto num bombardeamento do PAIGC por esses dias.

Há pois várias questões que eu gostaria de lhe perguntar e que podem resolver alguns dos mistérios ainda em aberto.

Um abraço

Nuno Rubim


4. Comentário do Nuno Rebocho (ex-sargento da CCP 123 / BCP 12, Guiné 1972/74, sargento-mor pára-quedista, na reforma, doutorado em Sociologia pela Universidade de Évora):

Só dois ajustamentos:

(i) As peças que estavam em Guiledje eram de calibre 10.6, e mais nenhum outro. Desloquei-me ao Porto, onde vive o Capitão miliciano (claro) que comandava a companhia que fugiu de Guiledje. Ele próprio da arma de Artilharia, conhecedor do assunto, com quem troco frequentes telefonemas e e-mails, e que não me deixa enganar no calibre das peças. Está-me frequentemente a corrigir.

(ii) O Major Coutinho e Lima, no momento em que ordenou o abandono de Guiledje, já não era comandante do COP 5, pois havia sido substituído no dia anterior. O Comandante era agora o Coronel Pára-Quedista (hoje Major-General) Rafael Ferreira Durão, o mais prestigiado Oficial Pára-Quedista de todos os tempos, por quem tenho elevada consideração e amizade. Coutinho e Lima era, no dia 22 de Maio de 1973, segundo comandante do COP 5, razão pela qual não tinha competência orgânica para dar a ordem que deu.

Por esta razão não se pode considerar que a retirada de Guiledje tenha obedecido a qualquer estratégia, porque a estratégia não era da competência de Coutinho e Lima. Então, a retirada de Guiledje só pode ser apelidada de fuga.

Coutinho e Lima (4) foi demitido de Comandante do COP 5, no dia 21 de Maio de 1973, porque Spínola o encontrou no Bar de Oficiais em Bissau, e não lhe perdoou, naturalmente.

Bom. Ficamos por aqui.

Um grande abraço, amigo Luis Graça

Manuel Rebocho
___________________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

(2) O nosso especialista em artilharia, o coronel na reforma, Nuno Rubim, diz que o 11.4 é uma peça (de artilharia) e o 14 é que é o obus... Alguns de nós, como eu, fazem confusão sobre os calibres: havia, na Guiné, vãrios calibres de peça de artilharia. Vd. os seguintes postes:

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

15 de Janeiro de 2007 >Guiné 6/74 - P1434: Artilharia em Guileje: a peça 11.4 e o obus 14 (Nuno Rubim)

6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola

8 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1159: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (2): Bedanda, ontem (CCAÇ 6, 1970) e hoje

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

(3) Vd. postes de:

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2083: Em busca de... (10): Coutinho e Lima, o comandante do COP5 que decidiu abandonar Guileje e foi acusado de deserção (Beja Santos)

(4) Vd. curriculum vitae do Cor , na reforma, Coutinho e Lima, um dos oradores do Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008):

(...) Ingressou na Escola do Exército a 15 de Outubro de 1953:- Promoção a Alferes a 10 de Setembro de 1957; Passagem à situação de reforma em 1982, como Coronel.- Comissões nas antigas Províncias Ultramarinas: 3, todas por imposição, na Guiné:
1ª – Capitão, Comandante da Companhia de Artilharia nº 494. A CART 494 ocupou as seguintes posições: Ganjola (de Setembro a Dezembro de 1963); Gadamael Porto – (de 17 de Setembro de 1963 a Maio de 1965);
2ª - Capitão, Adjunto de Repartição de Operações de Comando - Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau (de 24 de Julho de 1968 a 23 de Julho de 1970);
3ª – Major, em Bolama (de Setembro de 1972 a Janeiro de 1973); em Guiledje, Comandante do COP 5, de 21 de Janeiro de 1973 até 22 de Maio de 1973 (Data da retirada de Guiledje).

Prisão preventiva em Bissau, de 22 de Maio de 1973 até 12 de Maio de 1974. Auto de corpo de delito, por despacho do Sr. General António de Spínola, de 22 de Maio de 1973, com a seguinte justificação:

- Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guiledje para Gadamael, sem que para tal estivesse autorizado;
- Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições;
- Não cumpriu a missão que lhe foi atribuída.

O processo foi concluído em 10 de Abril de 1974, no Tribunal Militar Territorial da Guiné e transferido em 2 de Maio de 1974 para o 1º Tribunal Militar de Lisboa, onde se processaria o julgamento. A pena prevista para os crimes supostamente cometidos era de 6 meses a 4 anos de presídio militar. O processo foi amnistiado pelo Decreto-Lei nº 194/74 da Junta de Salvação Nacional e, por decisão unânime dos Juízes do mesmo, foi ARQUIVADO (...).

Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Uma Lancha de Desembarque Média (LDM) com militares e populares no Rio Cacine.

Foto: © Delgadinho Rodrigues / Manuel Rebocho (2006). Direitos reservados.


1. Só sabemos que se chama Paiva, e foi furriel de artilharia, no pelotão de artilharia que estava em Guileje, quando esta unidade foi abandonada por decisão do comandante do COP 5, Major Coutinho e Lima... É um testemunho dramático, de um homem, de fuga em fuga, que atravessou a nada o Rio Cacine, já na fuga de Gadamael, e foi salvo por um milícia de que não se lembra o nome...

Peço ao Paiva que nos contacte de novo e nos dê as suas coordenadas (pelo menos o endereço de –email e eventualmente o número de telemóvel ou telefone), sobretudo para o ajudar a reencontrar os seus antigos camaradas de Guileje e de Gadamael (e a reorganizar as suas memórias, doridas, daquele tempo)... Seria uma pena que este pungente testemunho ficasse escondido sob a forma de comentário a um dos nossos postes (1)...



2. Estórias de Guileje (3) > Fiquei a dever a minha vida, no Rio Cacine, a um milícia de que nunca soube o nome

por ex-Fur Mil Art Paiva

Revisão e fixação de texto: L.G.:


(i) Artilheiro em Guileje, até ao dia do seu abandono: recordando os Furriéis Araújo (de Braga) e Queirós


Começo por pedir as minhas desculpas pelo facto de não utilizar sinais gráficos. Acontece que estou neste momento provisoriamente na Alemanha e o computador de que disponho tem teclado alemão, não reconhecendo assim parte dos referidos sinais.

Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.

Embora a minha memória tenha hoje alguns hiatos que a passagem do tempo provocou, a documentação que li parece-me correcta na substância, embora com algumas imprecisões de pormenor.

Em Guileje, parece-me que o pelotão de artilharia era constituído por 3 secções, cada uma delas sob a chefia directa de um furriel (recordo o furriel Araújo, de Braga, e o furriel Queirós, meus contemporâneos, sendo que o Araújo foi posteriormente rendido, salvo erro pelo furriel Santos, de S. João da Madeira) e comandadas por um alferes, posteriormente substituído por outro. Tenho ainda na minha mente a foto mental de ambos, embora lamentavelmente me não recorde já dos seus nomes.


(ii) A retirada do meu Pelotão de Artilharia para Gadamael

Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).

Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.

Também a Companhia que foi envolvida nestes dramáticos acontecimentos não foi a dos Gringos (açorianos); na verdade, esta Companhia tinha já terminado a respectiva comissão de serviço e tinha sido substituída por uma Companhia do Continente. Foi já pois no tempo desta que o teatro de guerra alastrou e se complicou e foi nesta altura que tivemos que abandonar o aquartelamento de Guileje, de conformidade com o relato que é feito e que coincide no essencial com o que se passou.


(íii) Pânico em Gadamael, entre militares e população, com várias mortes por afogamento na atravessia do Rio Cacine

Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.

Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.

Curiosamente não ficou junto da população nenhum oficial, mas apenas dois furriéis, eu e outro camarada de armas, que, com a população, lográmos atravessar para o outro lado do rio (após a maré ter baixado) e ali tivemos, com muito custo, que conter a população em silêncio para não sermos detectados pelo PAIGC. Esta tarefa foi dramática já que connosco estavam muitas crianças que pela sua natureza são habitualmente ruidosas. Passámos ali a noite até conseguirmos ser evacuados no dia seguinte.

Essa experiência foi traumatizante porquanto assistimos a cenas dramáticas, com muita gente a precipitar-se para o rio e para o tentar atravessar a nado, antes que a maré permitisse o seu atravessamento quase total, a pé. Dessa precipitação resultaram mortes por afogamento, pois a corrente ainda forte arrastou alguns.


(iv) Na travessia do Rio Cacine perdi a G3 e ía perdendo a vida

Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...).


(v) Helicópteros ameaçando disparar sobre nós

Também poderei acrescentar que houve lamentavelmente algumas situações obscuras, como um helicóptero (recordo-me de um, pelo menos) que nos sobrevoou quando já estávamos a bordo de um bote, retirando para Cacine, e que ameaçou disparar sobre nós se não regressássemos de imediato ao aquartelamento de Gadamael.


(vi) A morte do meu amigo Furriel Faustino, que regressou a Gadamael

Quando chegámos a Gadamael, fui avisado pelo Faustino (Furriel de quem era amigo, pertencente à Companhia) de que o General Spínola se havia ali deslocado e ameaçado com Conselho de Guerra quem não regressasse de imediato a Gadamael. No dia seguinte quando acordei soube que o Faustino, pressionado pela ameaça, havia regressado. Morreu ao fim da tarde desse dia, vitimado por um estilhaço que lhe entrou pelas costas!


(vii) Em busca dos antigos camaradas

Já agora, e para terminar, gostaria de referir que as informações que circulavam era que a precisão de tiro do PAIGC quer para dentro do aquartelamento de Guileje quer para o de Gadamael devia a sua eficácia a uma suposta bateria de cubanos. Por a minha substituição (comummente designada por rendição) se ter processado em regime de rotação individual, não consegui localizar nunca antigos camaradas de armas (quer afectos ao pelotão de artilharia quer às Companhias - duas- com quem estive: à dos Gringos [ CCAÇ 3477, ] e à que se lhe seguiu [ CCAV 8350,] com a última das quais partilhei estes dramáticos acontecimentos que tantas vidas custaram.

Ao fim de alguns dias voltei a ser deslocado para Gadamael numa altura em que a situação continuava perigosa mas já mais controlada. O único que consegui contactar algumas vezes foi o furriel Queirós que entretanto ingressou na Lusalite, em Lisboa, onde o visitei ainda algumas vezes. Porém essa unidade encerrou e nunca mais o vi. Gostaria de reencontrar todos esses Camaradas.

Um abraço. Paiva,

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1860: Gadamael, 2 de Julho de 1973: Um ataque de mais de 4 horas do PAIGC, apenas travado pelo nossos Fiat G-91 (Jorge Canhão)

(2) Sobre a batalha de Guileje e Gadamael, e outros temas relacionados com as unidades que por lá passaram, vd. entre outros mais os seguintes postes:

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça).

5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2083: Em busca de... (10): Coutinho e Lima, o comandante do COP5 que decidiu abandonar Guileje e foi acusado de deserção (Beja Santos)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 9

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1478: Unidades de Guileje: Coutinho e Lima, ligado ao princípio e ao fim (Nuno Rubim)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)