quarta-feira, 9 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > Vista da margem direita do Rio Corubal > Rápidos de Cusselinta, entre o Saltinho e o Xitole, no único verdadeiro rio da Guiné - como chamava Amílcar Cabral ao Corubal... Na sua bacia hidrográfica , havia uma das mais luxuriantes paisagens que eu conheci, na Guiné... Ao longo das suas margens, o PAIGC tinha importantes bases e controlava populações balantas e beafadas que cultivavam férteis bolanhas de arroz. Eram sítios onde só se ia na época seca, com apoio aéreo e com efectivos no mínimo a nível de um batalhão (vd. por exemplo, Op Lança Afiada, Março de 1969).
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 2001 > Os rápidos de Cusselinta, no Rio Corubal... Comparando a Guiné de há 40 anos, verifica-se que tem havido uma progressiva desflorestação, por razões várias: (i) aumento da população (que duplicou); (ii) exploração (extensiva) da floresta; (iii) mudanças climatéricas e progressiva desertificacção da África sub-saariana... A época seca não é, porém, a melhor altura para conhecer a Guiné, verde e pujante, das florestas-galeria, e da savana arbustiva, que ficou na nossa retina, aos 22/23 anos...


Foto: © David Guimarães /
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



II e última parte do Capítulo VII (O Combate na Selva), do Manual do Oficial Miliciano, Parte Geral, 1º Volume . Cortesia do A. Marques Lopes, coronel DFA na situação de reforma: "Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume".



Capº VII (Continuação)

148. OPERAÇÕES NA SELVA

a) Generalidades


(1) Segurança

Em geral, a segurança na selva faz-se da mesma maneira que na maioria das zonas abertas, excepto naquelas zonas em que a reduzida visibilidade impõe a diminuição da dispersão dos elementos de segurança.

A segurança na selva deve ser contínua, é um erro julgar o contrário. Na selva não há front [frente]. Deve ter-se em atenção que o inimigo pode aparecer de qualquer direcção.

A melhor forma de manter a segurança é conservar a iniciativa. O inimigo é então forçado a conformar-se com os nossos movimentos. Outra forma é realizada por meio de patrulhas fortes e agressivas. O contra-reconhecimento é de pouca utilidade, por permitir que o inimigo se infiltre através dele.

Todas as posições, qualquer que seja a distância até às primeiras linhas, podem ser atacadas em qualquer altura. Deve estabelecer-se uma segurança periférica capaz de assegurar a defesa em todas as direcções. Todo o pessoal deve ter um ponto de reunião e todos devem estar prontos para entrar imediatamente em combate. Isto estende-se a todo o pessoal do comando e instalações de serviços.

As posições nocturnas devem oferecer segurança, principalmente durante a escuridão e ao alvorecer, facilitar a distribuição de abastecimentos e servir de linhas de partida para as operações do dia seguinte. Quando se pretende ocupar posições de noite, os elementos de reconhecimento devem reconhecer as áreas durante o dia; porém, as tropas não devem ser levadas para essas áreas antes que anoiteça.

(2) Reconhecimento

Qualquer movimento na selva deve ser precedido de um estudo na carta, caso haja carta. Os reconhecimentos por fotografias aéreas são valiosos porque os acidentes naturais do terreno, como rios, lagoas, enseadas e os trabalhos do homem, como plantações, jardins nativos e povoações, são claramente delineados. As fotografias verticais, contudo, não revelam os detalhes do terreno escondidos por uma forte cobertura de vegetação.

Um ataque na selva deve, sempre que possível, ser precedido por um reconhecimento no terreno. Tal reconhecimento é muitas vezes possível se os exploradores estiverem convenientemente instruídos. Não será sempre possível determinar o grau de desenvolvimento da defesa inimiga, mas normalmente, com um patrulhamento activo, inteligente e agressivo, pode determinar-se a extensão da área defensiva. O patrulhamento deve ser contínuo, porque o inimigo é capaz de fazer mudanças no seu dispositivo tal como nós próprios.

b) Armas


(l) Infantaria

A infantaria toma parte em larga escala no combate da selva. A luta é normalmente caracterizada pelo combate próximo. Sempre que possível a infantaria deve ser apoiada pelas outras armas.

Antes de se iniciarem as operações nas áreas da selva, deve ser feita uma análise cuidadosa do terreno, para determinar a praticabilidade de transportes e o emprego das várias armas orgânicas de infantaria dentro de cada área de operações. Com base nesta análise e na missão, organizam-se agrupamentos tácticos de modo a obter-se a máxima liberdade táctica e eficiente do combate.


(2) Artilharia

Os princípios do emprego da artilharia nas áreas abertas são igualmente aplicáveis na selva, apresentando esse emprego, contudo, muitas dificuldades. O valor da artilharia é tão grande que se devem fazer todos os esforços para tornar o seu fogo possível e eficiente. Todos os calibres da artilharia são convenientes. A densidade da vegetação restringe o raio de acção efectivo do rebentamento da granada, de modo que, em geral, são necessárias granadas de calibres maiores em objectivos que tal não necessitariam se estivessem em terreno aberto.

A artilharia deve ser de calibre suficiente para varrer a vegetação e para destruir as posições inimigas. Deve ser fornecido equipamento de engenharia para o melhoramento de caminhos, construção de posições de tiro e limpeza de campos de tiro Os observadores avançados são seriamente prejudicados pela fraca visibilidade na selva. A regulação de precisão utilizando o rebentamento no ar, granadas de-fumos ou outros meios usuais, ê preferível e deve utilizar-se sempre que possível. O tiro sem regulação e cujos elementos de tiro foram tirados de cartas ou fotografias somente se deve utilizar em áreas limitadas

A dissimulação que a selva fornece, facilita os golpes de mão inimigos às posições de artilharia, tornando-se por isso necessária uma mais forte defesa imediata em tais posições do que a necessária em terreno aberto.

(3) Forças aéreas

A eficiência da aviação, em cooperação com as tropas terrestres, é reduzida pela cobertura dos ramos, que impede os pilotos de localizar as tropas inimigas. As tropas terrestres estão também quase incapacitadas de ver os aviões. Geralmente os pilotos não têm possibilidade de observar as telas de indentificação e balizagem postas no terreno; é também difícil verem os painéis ou fitas colocadas nas árvores.

Para indicação das posições das tropas terrestres, podem usar-se potes de fumos coloridos, colocados no chão, mas por vezes as ramagens provocam uma difusão desse fumo de tal modo que os pilotos não o vêem. Granadas de fumo projectadas na vertical, para produzirem o fumo colorido por cima das ramagens, podem vencer essa dificuldade. Podem utilizar-se ainda foguetões. Outra forma é fazer um lançamento vertical com um lança-chamas.

Embora a aviação de observação tenha a sua acção limitada à descoberta e à observação dos movimentos inimigos através da selva, os observadores aéreos muitas vezes são valiosos auxiliares na regulação de tiro de artilharia.

O bombardeamento por aviões é limitado devido à dificuldade de identificação de objectivos. A falta de cartas correctas, a ausência de pontos notáveis e de pontos de referência tomam difícil a identificação de objectivos. O tiro de morteiro com granadas de fumos é um método prático para assinalar os objectivos.

(4) Engenharia

A engenharia é uma tropa indispensável a qualquer força na selva. É utilizada principalmente no melhoramento e manutenção de itinerários, construção de pontes, demolições, preparação e desobstrução de obstáculos, purificação de águas e na coordenação de obras de organização de terreno. O equipamento de engenharia e as suas ferramentas serão limitados, devido aos problemas de reabastecimento e transporte; contudo, a própria selva fornecerá muito do material que, por improvisação, poderá ser usado na construção.

Uma das principais missões desta arma na selva é a construção e manutenção de itinerários que permitam a passagem de viaturas de 1/4 de tonelada, para reabastecimentos e evacuações, e os deslocamentos de artilharia de apoio. A engenharia dispondo de moderno equipamento de construção de estradas pode muitas vezes afectar profundamente a velocidade e o fim das operações na selva. É de primordial importância que a engenharia efectue minuciosos reconhecimentos, não só para facilitar ao comandante a escolha das melhores linhas de progressão, como também para localizar os materiais nativos e recursos de água.

(5) Cavalaria

Unidades mecanisadas — A não ser que se tenham construído previamente estradas, o movimento dos carros de combate é impossível na selva cerrada. Quando o terreno o permita, os carros podem ser usados com vantagem contra objectivos limitados e bem definidos. Para o perfeito emprego dos carros é necessário fazer sempre reconhecimentos. Normalmente os carros estão restringidos a operar em terrenos onde constituem alvos vulneráveis para defesas anticarro bem organizadas. Frequentemente os carros reforçam as companhias de atiradores, operando os dois elementos intimamente ligados.

Enquanto a infantaria dá aos carros a protecção imediata, estes dão-lhe a sua potência de fogo e peso de esmagamento na destruição das trincheiras inimigas e outras fortificações de campanha.

c) Marcha e bivaque

(1) Marchas

Na selva, as tropas deslocando-se em bons caminhos raramente excederão a velocidade de 2 km por hora; quando em maus caminhos esta velocidade pode ser reduzida a menos de l km por hora.

Na selva são extremamente difíceis as marchas de noite, pelo que devem ser evitadas, sempre que possível.

Os caminhos na selva geralmente restringem as formações à coluna. Devem ser destacadas guardas avançadas e de retaguarda. Cada unidade deve diminuir, tanto quanto possível, a sua profundidade, a fim de entrar mais rapidamente em combate, facilitar o controle e aumentar a segurança da coluna. Os esclarecedores mantêm as ligações dentro do grosso e entre este e as guardas avançadas e de retaguarda. Estas devem ser mudadas duas a quatro vezes por dia, trocando-as entre si sempre que possível. Como a missão de flecha é muito fatigante, a mesma secção de atiradores não a deve desempenhar mais do que duas horas.

Devem destacar-se guardas de flanco quando a situação o imponha e o terreno o permita.

Todos os caminhos laterais devem ser explorados até algumas centenas de metros e cobertos por patrulhas de combate até a coluna ter passado completamente. Estas patrulhas são destacadas da guarda avançada. Depois de a coluna ter ultrapassado os caminhos laterais, as patrulhas reúnem-se à coluna, na sua retaguarda e incorporando-se na guarda avançada no primeiro alto.

As comunicações rádio com a coluna podem ou não ser permitidas de acordo com a necessidade de segredo. Os estafetas serão muitas vezes os principais meios de comunicação. Outro método consiste em utilizar equipas de telefonistas que acompanham as unidades avançadas, montando a linha enquanto se movem, assegurando assim as comunicações para a retaguarda em todas as ocasiões.

Todo o pessoal deve observar uma rigorosa disciplina de marcha. A disciplina de marcha é de particular importância na selva, porquanto o inimigo tem oportunidade de fazer emboscadas. Exige vigilância e conduta ordenada no itinerário. São de salientar os seguintes pontos:

- as distâncias prescritas devem ser mantidas na marcha itinerária;
- é proibido falar, excepto para transmitir, murmurando, as ordens e instruções;
- os homens devem abandonar os caminhos e ficar imóveis à aproximação de aviões suspeitos;
- nos altos, os homens devem abandonar-se fisicamente, nunca mentalmente;
- os homens que não puderem aguentar devem ser deixados para trás.

A velocidade da coluna dependerá largamente do terreno, temperatura, humidade e estado dos caminhos. A velocidade de marcha deve ser ajustada à velocidade permitida pelos homens dos pelotões de acompanhamento que têm de transportar às costas metralhadoras, morteiros e munições pesadas.

Em alguns terrenos a coluna pode marchar 40 a 45 minutos e descansar o restante para l hora. Em más condições a coluna pode marchar 15 minutos e descansar 10.

ntes de se iniciar a marcha todas as armas devem ser completamente limpas e oleadas e as munições inspeccionadas.

(2) Bivaques

As áreas de bivaque devem ser escolhidas e preparadas de modo a possuírem campos de tiro convenientes que permitam a defesa em todas as direcções. Devem destacar-se patrulhas, até à distância de 800 a 1000 metros, sobre todos os itinerários que conduzam ao bivaque, a fim de explorarem se há ou não Inimigos nas imediações. Em todas as estradas, caminhos e leitos de rios que conduzam à zona do bivaque ou suas proximidades, devem estacionar elementos de postos avançados.

O local de bivaque deve, em primeiro lugar, ser defensável e, em segundo lugar, ser próximo de água fresca. O terreno elevado é mais conveniente para bivaque, não só por ser de mais fácil defesa, mas também por estar mais livre de moscas, mosquitos e outros insectos, ser melhor drenado e mais fresco.

As povoações nativas não devem nunca ser escolhidas para bivaque. Deve tornar-se esta precaução não só por o inimigo ter as povoações referenciadas e poder haver lá dentro nativos inimigos, mas também devido às precárias condições sanitárias da maior parte das povoações, que podem contagiar as tropas de doenças.

O alto da noite deve ser feito a tempo de permitir o seguinte :

- um breve reconhecimento, ainda de dia, da área do bivaque e a atribuição às unidades de sectores de defesa em todas as direcções;
- movimento das tropas para os seus sectores;
- o desembaraçamento dos limitados campos de tiro para as armas automáticas;
- a preparação de uma defesa rápida em todas as direcções. Abertura de abrigos (de 2 a 3 homens), posições para metralhadoras e outras armas automáticas, cons-
trução de abrigos pouco profundos, construção de armadilhas e dispositivos de alarme em volta do perímetro.Distribuição de granadas de mão;
- escavação de trincheiras;
- a preparação e distribuição de uma refeição;
- a execução dos trabalhos necessários para dormir.

Um batalhão necessita aproximadamente de 3 horas para fazer estes preparativos.
Todos os fogos e outras luzes devem ser extintos ao pôr do Sol. Depois de as tropas estarem no local onde bivacam, o pessoal dos serviços de saúde examina e trata aqueles que têm lesões nos pés ou que tenham sido arranhados pelos arbustos da selva.

Dá-se o santo e a senha. As palavras escolhidas devem ter sons que não sejam usados pelo inimigo e por isso difíceis de pronunciar por ele.
As metralhadoras devem ser colocadas de modo a que possam fazer fogo flanqueante em volta de todo o perímetro do bivaque.

Os morteiros devem ser montados dentro da área do bivaque de modo a que possam fazer barragem de apoio à defesa. Todas as armas se devem limpar e inspeccionar.

Durante a noite, um terço do comando deve estar acordado. Todos os homens estarão vigilantes por um período de cerca de uma hora ao anoitecer e outra vez cerca de l hora antes do nascer do Sol. Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo. O fogo só se justifica quando se verifique um ataque contra a posição.

À noite, na selva, há uma grande tendência para começar a «ver coisas». Deste facto resultará um indiscriminado tiroteio, a não ser que se tomem medidas preventivas para o evitar. Tal fogo «cego» não só tem um péssimo efeito moral, como também revela ao inimigo o nosso dispositivo. As melhores armas para repelir um ataque de noite são as granadas de mão, facas, baionetas e catanas porque não revelam as posições individuais.

Antes de se poder iniciar a marcha no dia seguinte, necessita-se, aproximadamente, de uma hora de luz do dia para que os homens possam preparar e comer a primeira refeição e verificar e ajustar o equipamento. Os destacamentos de segurança são os últimos a sair da área.

A segurança da área do bivaque é assegurada por postos de vigilância colocados ao longo da orla exterior da defesa periférica. Podem ainda instalar-se dispositivos de alarme, do tipo de armadilhas, improvisados com granadas de mão, em volta do perímetro do bivaque.

d) Ataque

(1) Generalidades


Os princípios do combate ofensivo na selva não diferem dos do combate ofensivo nas outras áreas; contudo, como em todas as outras operações na selva, os métodos de aplicação destes princípios são especiais.

A forma de ataque na selva não difere da normal. Penetrações, infiltrações, envolvimentos próximos e profundos e duplos envolvimentos usam-se na selva como nos outros lugares.

Na selva, como em toda a parte, fazem-se todos os esforços para obter a surpresa. Para este fim adoptam-se todas as medidas que aumentem a mobilidade.

Devido à dificuldade de manter o controle, é fundamental que a missão e o plano de ataque sejam compreendidos por todo o pessoal.

O ataque contra o inimigo na selva pode resultar num ataque de encontro. Pode ser um ataque coordenado contra uma posição sumariamente organizada ou um ataque ordenado contra uma posição fortemente organizada.

(2) Combate de encontro

Se o inimigo tiver iguais possibilidades, aquele que mais rapidamente estudar a situação, tomar uma decisão, distribuir as suas ordens e executar o seu plano ganha a iniciativa das operações e, pela rapidez da acção, obtém a surpresa e a vitória.
Se a artilharia já se encontrar em posição, em apoio ou em reforço da coluna, e se o inimigo atacar, deve abrir fogo o mais rapidamente possível.

Os morteiros de 60 mm devem fazer fogo a curta distância, tão rapidamente quanto possível. O controle é pela voz.Logo que os morteiros de 81 mm se instalem, devem começar a bater os seus objectivos.

Nem sempre é possível ao comandante fazer um reconhecimento, mas desde que haja oportunidade, mesmo que seja muito limitado, não deve deixar de o fazer. Utilizando patrulhas deve procurar determinar o efectivo e o contorno aparente da posição. É preferível que um comandante tome a iniciativa, mesmo com informações muito diminutas, a perdê-la enquanto aguarda por outras mais completas.

Se o comandante decidiu fazer um envolvimento, a força envolvente deve sair rapidamente. As ordens são sempre verbais.

A força envolvente deve sempre indicar, por sinais convencionais, quando está em posição e pronta para atacar. Depois de iniciado o combate as mensagens podem ser transmitidas em claro. Se não for possível lançar cabo telefónico, o sinal de ataque pode ser dado por foguetões, pistolas de sinais ou outros meios visuais disponíveis; estes sinais são, necessariamente, para que os fogos das tropas amigas sejam levantados e as forças atacantes se possam lançar ao ataque.

O principal inconveniente da sinalização por foguetões ou por tiros das armas é a denúncia da posição ocupada pelas forças envolventes e a consequente perda da surpresa total, que frequentemente se pode obter na selva.

O combate de encontro tem as seguintes características:

- Não existe fase de desenvolvimento da coluna;
- As tropas passam directamente da coluna de marcha para as posições de partida;
- Os fogos de artilharia dos morteiros lançam-se sobre o inimigo imediatamente após o contacto e, se possível, mantêm-se em regime de eficácia durante o movimento
da força envolvente;
- Esta deve mover-se rapidamente, devendo, no entanto, o pessoal chegar à posição de partida em condições de entrar em combate;
- No combate de encontro pode não ser possível usar aviação de apoio, mesmo que a sua intervenção tenha sido pedida. Devido à impossibilidade de observação
dos pilotos, o comandante das forças terrestres pode não ser capaz de lhes indicar a sua posição e progressão com precisão nem referenciar as instalações inimigas
que deseja que sejam batidas.
- Devem tomar-se precauções para proteger a retaguarda e para a defesa contra as forças inimigas do contra-envolvimento, utilizando para esse fim a reserva. Caso
não seja assim utilizada, esta pode ser empregada na exploração do sucesso ou no prolongamento do envolvimento; contudo, deve sempre, inicialmente, manter-se
fora de acção até esclarecimento da situação.

(3) Ataques coordenados contra posições sumariamente organizadas

Estes ataques não diferem, na execução, dos atrás descritos. Sempre que possível empregam-se envolvimentos simples e duplos e movimentos torneantes. Devem fixar-se os seguintes pontos:

- Os reconhecimentos podem muitas vezes determinar a localização das armas automáticas. Por pequenas patrulhas também se pode determinar, com um aceitável grau
de precisão, a frente e a profundidade da posição inimiga;
- Quando houver boa observação, a artilharia pode regular o seu tiro e preparar as concentrações para os bombardeamentos preliminares;
- Desde que haja tempo para definir e localizar a posição inimiga, pode utilizar-se a aviação de apoio para a bombardear e metralhar antes da hora H;
- O tempo pode ainda permitir que se desloquem para a posição armas pesadas de apoio;
- O ataque deve ser conduzido de objectivo em objectivo, de modo a permitir aos comandantes e aos comandos subalternos reagruparem as suas tropas e recuperarem
o controle para o avanço seguinte. Para uma unidade do tipo «pelotão» a distância entre dois objectivos consecutivos é pequena, podendo não exceder 100 metros. A visibilidade é o factor predominante.

(4) Ataques coordenados contra defesas organizadas

Todos os métodos para reduzir defesas organizadas necessitam da aplicação de potência de fogo. O movimento só por si não é suficiente para forçar o inimigo a abandonar os seus abrigos e casamatas. Deve ser forçado a render-se, a ser queimado ou a sair de lá. Os ataques a estas posições devem fazer-se em frentes curtas, permitindo assim uma maior concentração de fogos. Como em todos os ataques na selva, deve estabelecer-se objectivos limitados para evitar perder-se o controle.

Deve haver o máximo cuidado na preparação da artilharia e depois, na continuação do apoio, de acordo com o horário ou a pedido. A artilharia pode necessitar vários dias para se reagrupar, se mover para novas posições e regular o seu tiro.

Os oficiais de ligação com as forças aéreas fazem o reconhecimento dó terreno empregando todos os meios possíveis para localizarem os objectivos com bastante precisão, a fim de posteriormente se fazerem os bombardeamentos e os metralhamentos em voo a picar.

Para reunir todas as informações possíveis acerca do terreno fazem-se reconhecimentos contínuos e estudos sobre fotografias aéreas. Os modelos de terreno ou caixa de areia com a área do ataque são bons auxiliares.

Devem fazer-se todos os esforços para capturar prisioneiros antes do ataque. As patrulhas diárias devem ser continuas e terem atitude agressiva. As patrulhas asseguram a informação, mantêm o inimigo na defensiva, infligem-lhe baixas e não o deixam lançar patrulhas.

Depois do levantamento dos fogos das armas pesadas, entram em acção os morteiros que acompanham os atiradores. Os morteiros devem actuar por concentração de fogos. Logo que os tiros sejam levantados as tropas devem atacar. Devem tomar-se precauções para que as unidades destinadas à limpeza das organizações inimigas sigam em ondas de assalto umas após outras. Tais unidades, além de limparem as organizações inimigas, procuram os extraviados. Durante o período de organização e preparação de novas acções, as tropas de assalto garantem a posse do terreno conquistado.

O segundo objectivo não deve ser muito distante do primeiro. Depois da conquista de um objectivo e antes do assalto ao seguinte, as tropas devem ser reorganizadas.
Deve permitir-se aos comandantes, subalternos e comandantes de secção a máxima latitude possível na execução das ordens.

(5) Emprego de carros de combate

As operações com carros de combate são limitadas. Como o terreno na selva canaliza o movimento dos carros, o perigo dos fogos anticarro e das emboscadas é multo grande, pelo que os carros devem ser protegidos de perto pela infantaria. Frequentemente, um ou mais carros podem dar-se como reforço a uma pequena unidade de infantaria, para a redução de abrigos ou de outras resistências, pelo tiro a curtas distâncias. Em tais casos o carro ou carros devem ser rodeados por patrulhas de infantaria que reconheçam os itinerários e os protejam contra as armas anticarro e contra as equipas de caçadores de carros. Porém, é essencial uma intima ligação entre o comando dos carros e da infantaria.

(6) Ataque nocturno

Os ataques nocturnos na selva são pouco convenientes devido à extrema dificuldade de controle. Contudo, em alguns casos, o possível efeito da surpresa de um ataque nocturno pode justificar o seu emprego.

O número de colunas em que se fraccionam as unidades de assalto depende normalmente do número de caminhos que dentro da zona de acção conduzem à posição inimiga. A abertura de novos caminhos é um processo não só vagaroso como também ruidoso, que alertará o inimigo na posição a atacar.

As condições da selva aumentam as dificuldades de coordenação do momento em que as colunas devem atacar. Se o ataque for efectuado a horário, deve contar-se com grandes folgas para demora, principalmente se as colunas se moverem em trilhos. Pontos notáveis do terreno e acidentes facilmente identificados são raros ou inexistentes. Em virtude da densa vegetação os sinais pirotécnicos podem não ser vistos por todos os comandantes das colunas e, além disso, a humidade e calor podem inutilizá-los. Os reconhecimentos preliminares e a análise cuidadosa das condições em que se vai efectuar o ataque permitirão ao comandante efectuá-lo em coordenação.
Os ataques nocturnos na selva, com mais forte razão nas áreas abertas, devem fazer-se em pequeno número e lançados contra objectivos limitados.

Os reconhecimentos preliminares, a utilização de guias, a identificação de marcas de sinalização e a manutenção do silêncio, tudo será mais difícil do que de dia. Por outro lado, o assalto não terá o perigo de ser observado, mesmo em noites de luar, desde que se não atravessam clareiras, campos ou estradas.

Quando as unidades de apoio estão colocadas à retaguarda, para cobrirem uma possível retirada, devem estar perto dos eixos de retirada.

e) Defesa

O combate defensivo na selva não difere, em princípio, do combate defensivo em outros terrenos. A instalação e a organização de uma posição defensiva são função do tempo disponível para a sua construção, do tempo que se espera ocupá-la, do material, do equipamento e das tropas disponíveis.

(1) Organização do terreno

O princípio da defesa em todas as direcções é de suma importância nas operações na selva. Os campos de observaçãolimitados facilitam a aproximação do inimigo até curtas distâncias e sem serem vistos. A infiltração fácil aumenta o perigo dum ataque de qualquer direcção.

Sempre que possível, um ou os dois flancos devem ser apoiados em obstáculos naturais, como rios. lagoas, pântanos. escarpados ou mar. Apesar de estes acidentes constituírem obstáculos para o atacante, não devem ser considerados como intransponíveis e devem ser tomadas precauções para deter pelo fogo qualquer inimigo que atacar por ali. Todo o terreno é transponível; não há selva impenetrável, pântanos que não se possam transpor, rios que não se possam atravessar ou encostas que não se possam escalar.

Os factores a considerar na escolha do tipo de defesa a adoptar são: a força da unidade, o terreno e a situação do inimigo.

As posições defensivas devem organizar-se, sempre que possível, apoiando-se mutuamente. Na selva, com os campos de tiro e de observação reduzidos, são quase impossíveis as posições deste tipo. Se o terreno não permite tal disposição, deve organizar-se uma defesa perimétrica cerrada (ombro a ombro) onde a infiltração inimiga seja bastante difícil.

(2) Segurança

Para evitar surpresa pelo inimigo, devem montar-se postos avançados em volta da posição de combate. Os postos avançados devem ser suficientemente fortes para retardarem ao inimigo a sua aproximação e evitarem o ataque antes que os seus componentes sejam alertados. A dificuldade do movimento nocturno obriga, normalmente, os postos avançados a recolherem-se dentro do polígono defendido antes que anoiteça.

De noite, à volta da posição, como dispositivo de alarme à aproximação do inimigo, podem instalar-se fios ligados a sistemas que façam barulho, armadilhas, etc. Podem ainda improvisar-se meios para, de noite, iluminarem o campo de tiro.

As companhias responsáveis pela defesa das áreas exteriores enviam patrulhas para explorarem o terreno à frente das suas posições. Estas patrulhas devem sair da posição pouco antes do Sol nascer e regressar uma hora depois. A tarde, as patrulhas devem sair uma hora antes do pôr do Sol e recolher imediatamente antes de cerrar a noite.

Os pelotões e unidades maiores estabelecem sempre reservas dentro da posição, tendo em vista as possibilidades de infiltração de tropas inimigas, áreas que possam vir a sofrer forte pressão do atacante e, no caso da companhia e unidades maiores, para contra-atacar.

(3) Armas automáticas

A localização das armas automáticas na posição é da maior importância. Deve prever-se que o inimigo, durante o ataque, faça todos os esforços para as localizar e destruir. Tais armas devem mover-se com frequência das posições principais para as de alternativa e suplementares; deve ter-se sempre em vista a necessidade de manter o inimigo enganado quanto à localização das armas. As metralhadoras devem ser protegidas por elementos da sua secção, armados com carabinas.

O emprego das metralhadoras depende do terreno, da extensão dos sectores que devem ser batidos e do número de eixos de aproximação que conduzem à posição. Será muitas vezes conveniente empregar as metralhadoras por esquadras em vez de por secções, de modo a obterem-se faixas contínuas de fogos cruzados em volta da posição, cobrindo todos os eixos de aproximação.

(4) Campos de tiro

Deve cortar-se o mínimo de vegetação possível para limpar os campos de tiro. Todos os cortes devem ser cuidadosamente planeados e controlados pelos comandantes de pelotão e de secção. É necessário o máximo cuidado no melhoramento dos campos de tiro das armas automáticas. Uma área completamente limpa à frente de uma arma indica, necessariamente, a sua posição.

(5) Armas de apoio

Logo que a posição seja ocupada devem estudar-se as barragens, e a artilharia e os morteiros devem regular os seus fogos. Devem estudar-se as concentrações em massa de todos os fogos de apoio nos pontos escolhidos. Todos os comandantes de companhia devem possuir cartas e transparentes mostrando as concentrações planeadas. As informações referentes à localização das concentrações planeadas para protecção dos pelotões devem ser do conhecimento de todos os comandantes de pelotão.

(6) Controle de fogo

O desencadeamento dos tiros de protecção, para cobrir as áreas das companhias, é feito à ordem dos respectivos comandantes de companhia. A descentralização do controle de fogo é função da área da posição, do terreno e do alcance de observação do comando superior. As companhias cujas áreas defensivas não estão a ser atacadas e cujas armas não colaboram no apoio às áreas atacadas devem manter uma rigorosa disciplina para evitar denunciar as suas posições.

(7) Contra-ataques

Devem estudar-se e executarem-se planos de contra-ataque com o fim de restaurar as posições que possam ser penetradas pelo inimigo. Devem estudar-se breves mas intensas concentrações de artilharia e de morteiros na preparação de tais contra-ataques. Os contra-ataques devem ser lançados antes de o inimigo ter tempo para consolidar a posição ocupada.

(8) Defesa de noite

Para evitar um ataque de noite, deve lançar-se de dia um forte patrulhamento para evitar o reconhecimento por parte do inimigo.

Deve manter-se uma rigorosa disciplina de fogo, principalmente durante a noite. A principal arma de defesa contra os ataques de noite é a granada de mão. Também se usam facas, baionetas e catanas. As espingardas e as armas automáticas só fazem fogo numa emergência ou quando as granadas se esgotarem; pois os seus clarões denunciam as posições da defesa ao inimigo.

Os pequenos grupos inimigos que tentem infiltrar-se de noite na posição devem ser, quando possível, atacados à baioneta. As baionetas devem ser colocadas à noite.
Um cuidado a observar de noite, quando o ataque é iminente, é o de ninguém sair dos seus abrigos individuais; qualquer homem, fora do seu abrigo é tomado por um inimigo que se tenha infiltrado na posição e é objecto de ataque imediato.

Durante um ataque de noite não há retirada da posição. Outros homens se devem considerar «presos» nas suas posições, sem olhar ao ataque que possa acontecer.

f) Patrulhas

(l) Generalidades

O patrulhamento é lançado para obter informações, impedir a obtenção de informações pelo inimigo, atacar e destruir patrulhas inimigas, grupos, destacamentos isolados, postos de reabastecimentos e outras instalações importantes.

Na selva, o patrulhamento nocturno é difícil, a não ser que a patrulha se limite a um caminho ou trilho definido. Quase sempre, na selva, quer nos caminhos quer fora deles, as patrulhas operam em colunas. Não é possível, geralmente, ter simultaneamente um certo número de grupos separados abrindo destas guardas poderem não ter qualquer acção durante o movimento, contudo observam o flanco considerado e durante os altos, quando se estabelecem postos avançados, deslocam-se até 100 metros, dentro do limite da visibilidade. Quando entram em terreno normal, as guardas de flanco actuam normalmente. Na selva, as secções, quando o terreno o imponha, podem actuar com a formação de losango, mas, logo que possam, devem desenvolver-se normalmente. Os sectores onde as patrulhas vão actuar devem ser bem definidos.

O itinerário que a patrulha deve seguir escolhe-se em função da urgência da missão. Quando a vegetação o permite todas as patrulhas devem operar fora dos caminhos, mas guiadas por eles. Se a velocidade é fundamental, as patrulhas terão de operar nos caminhos ou trilhos. Neste último caso, os homens devem lembrar-se sempre que estão em constante perigo de emboscada. Devem observar disciplina de marcha e manterem-se alerta, prontos para entrar em acção. As pequenas patrulhas devem operar sempre fora dos caminhos.

Se uma patrulha estiver ausente por um período de 6 a 7 dias ou mais, deve estabelecer uma base, escondida, da qual poderá actuar. Esta base deve estar afastada dos caminhos utilizados com frequência. Se a patrulha for pequena, não é preciso deixar na base nenhum pessoal de guarda, mas à volta deve usar de cautela. Se a patrulha é grande, deve deixar um destacamento de segurança na base. O estabelecimento de uma base facilita o trabalho da patrulha, que assim, pode operar com um mínimo de equipamento e aumentar a sua mobilidade.

Durante a progressão todas as patrulhas devem ter um ou mais pontos de reunião, escolhidos pelo comandante. Tal cuidado torna-se necessário para o caso. de a patrulha encontrar forte oposição e ser forçada a dispersar. No ponto de reunião o comandante reorganiza a patrulha e dá novas instruções para o desempenho da missão.
Para os recontros de surpresa, as patrulhas, qualquer que se]a o seu efectivo, devem ter um esquema de acção planeado ou N. E. P. , para actuarem contra o inimigo pela esquerda, direita, frente ou retaguarda. Cada homem deve estar instruído na acção que automaticamente deve tomar em cada caso.

As unidades amigas, através das quais a patrulha terá de passar, serão informadas da hora e do local onde a patrulha deverá atravessar, tanto no itinerário da ida como no do regresso.

As patrulhas são armadas e equipadas de acordo com as suas missões. Todas as patrulhas da selva devem ser equipadas com catanas ou facas de mato para abrirem caminho Se a patrulha tiver de ficar fora do acampamento nem que seja uma noite, devem ser utilizados mosquiteiros.

Devem levar-se cartas e fotografias aéreas da área onde se vai actuar. Estas cartas e fotografias devem merecer o máximo cuidado, a fim de que não possam fornecer qualquer informação ao inimigo.

Se estão previstas ligações de rádio entre a patrulha e a sua unidade, os horários e as frequências devem ser cuidadosamente estabelecidos antes da patrulha sair.
Se se prevê utilizar guias nativos, devem ser colocados à disposição do comandante da patrulha o mais cedo possível a fim de que se lhes possa fazer as perguntas que necessitar.

(2) Patrulhas de combate

O efectivo, o armamento e o equipamento de uma patrulha de combate dependem da missão e das informações que houver sobre o inimigo na área onde for actuar. Uma patrulha de combate, embora não tenha como missão principal obter informações, elabora um relatório, como missão secundária de todas as informações possíveis. O efectivo duma patrulha de combate varia desde 3 ou 4 homens a um pelotão ou mais. Muitas vezes é conveniente dotar a patrulha com bastantes armas automáticas. As carabinas são mais convenientes do que as espingardas, por causa do reduzido comprimento destas armas, que as torna mais fáceis de transportar através da vegetação cerrada. Se for determinada uma missão de destruição, na patrulha deve ser incluído o pessoal técnico necessário. Em tais condições a missão do restante pessoal da patrulha pode ser só a de proteger o pessoal técnico enquanto executam o seu trabalho e quando retiram.

Todos os homens da patrulha devem estar familiarizados com a situação inimiga na área onde forem actuar. Também devem estar perfeitamente integrados da missão da patrulha, dos itinerários da ida e regresso e dos planos do comandante para cumprir a missão.

Antes da partida o comandante deve inspeccionar todos os homens para verificar, se o equipamento está completo, se conhecem os planos da patrulha e se os homens estão em boas condições físicas.

Da patrulha deve fazer parte um enfermeiro. Se a patrulha for de grande efectivo e a sua acção de vários dias, deve fazer parte dela um médico.

(3) Patrulhas de reconhecimento

As patrulhas de reconhecimento saem com o propósito especial de obterem informações do inimigo e do terreno. As patrulhas de reconhecimento são de pequeno efectivo, de tal modo que se possam mover rapidamente e em segredo. Mover-se tão rapidamente quanto possível, mas a dissimulação e a observação da actividade do inimigo são os factores determinantes.

Uma patrulha de três homens (equipa de exploradores) compõe-se, normalmente, de: um homem armado de espingarda ou carabina, actuando como flecha, seguido a 10 ou 20 metros de distância por outro armado de espingarda; entre 10 e 25 metros atrás do segundo homem marcha um terceiro armado de metralhadora ligeira. Todos os elementos da patrulha podem ser armados de pistola metralhadora. O homem da frente observa o terreno à frente e nos flancos, o segundo observa as árvores e o terceiro fornece a potência de fogo para a protecção do grupo e observa a retaguarda.

A distância entre os homens da patrulha deve ser entre 10 e 20 metros e variará com a visibilidade, a qual é condicionada pela folhagem, curvas do caminho e pelo facto de a patrulha operar de dia ou de noite Todos os homens da patrulha devem ligar-se pela vista, a fim de se poderem apoiar mutuamente. A noite as distâncias diminuem e usam-se sinais sonoros.

Os limitados campos de observação que a selva oferece obrigam as patrulhas de reconhecimento, para assegurarem e obterem as informações, a operarem muito perto do inimigo E fundamental muita prática de movimentos silenciosos.

Os comandantes de batalhão e de regimento ordenam às suas subumdades de informações para que façam sair pequenas patrulhas a fim de obterem as informações que de perto lhes interessem.

Todos os homens da patrulha de reconhecimento devem ter um perfeito conhecimento de leitura de carta de fotografias aéreas. Todos devem ter bússolas e saber utilizá-las Todos devem ter catanas e facas de mato.

As carabinas são muitas vezes preferidas às espingardas. As metralhadoras ligeiras são as armas ideais. Se for possível pelo menos um dos homens da patrulha deve conhecer e falar a língua do inimigo. Na patrulha deve haver, pelo menos, dois binóculos e dois relógios. Os comandantes da patrulha e os seus auxiliares devem levar blocos de mensagens e lápis.

Todos os homens da patrulha devem conhecer em detalhe qual e a informação que se pretende obter e quais os planos do comandante da patrulha para os obter. Devem saber onde a patrulha vai, a hora e o local de regresso e as suas missões individuais.

g) Movimentos retrógrados:


(1) Generalidades


Se a missão e a situação não requerem uma defesa estática o movimento retrógrado, particularmente na presença de um nimigo muito mais forte e agressivo, pode ser, inicialmente, o tipo de acção mais conveniente a adoptar. Impedindo o inimigo de utilizar as estradas, os caminhos e outros eixos de aproximação e flagelando-lhe as linhaà de comunicação quando ele pretenda avançar, podem-se-lhe desarticular, desencorajar e cansar as suas tropas, assim como diminuir, materialmente, a sua eficiência, permitindo assim, uma contra-ofensiva decisiva.

O fumo, em potes ou granadas, é um meio valioso que pode ser usado durante os movimentos retrógrados, especialmente nas áreas abertas e semi-abertas. Todos os abastecimentos e material, incluindo barcos e viaturas, que tenham de ser abandonados serão sistematicamente destruídos para evitar a possibilidade de serem utilizados pelo inimigo.


(2) Rotura de combate

A protecção e a dissimulação fornecidas pela selva permitem uma fácil rotura de combate pelas unidades em contacto. Pequenos grupos familiarizados com os itinerários que irão utilizar podem romper o combate rapidamente. Estes grupos colocados nos caminhos podem impedir que o inimigo os utilize, obrigá-lo a atacar uma frente estreita ou a abrir caminho, ganhando-se assim tempo suficiente para a retirada do grosso.

Nas áreas da selva, a rotura do combate de dia goza de muitas das vantagens (protecção e dissimulação) da rotura do combate de noite nas áreas abertas e permite perfeitamente o controle. Entretanto, o pessoal e o equipamento, movendo-se em longos caminhos, podem ser facilmente observados no ar e oferecem alvos fáceis à a vis cão de combate inimiga.

(3) Acção retardadora

Nas áreas da selva densa, a acção retardadora será executada, principalmente, sobre ou próximo dos caminhos. Nas áreas menos densas, a acção retardadora, normalmente, requer a necessidade de ocupar e defender uma ou mais posições de retardamento; o combate nestas áreas terá, geralmente, as características do combate das zonas arborizadas e muitas vezes será necessário estabelecer uma posição defensiva para assegurar o retardamento. Os flancos desta posição devem ser protegidos contra o envolvimento do inimigo.
Pequenos grupos bem organizados podem retardar forças muitas vezes superiores ao seu efectivo; contudo, este tipo de combate é extraordinariamente extenuante. Consequentemente, as unidades devem ser divididas em grupos que se possam alternar na ocupação das posições retardadoras, assegurando assim o descanso, enquanto o inimigo se mantém constante-mente empenhados. Tais grupos devem ser de 8 a 10 homens, dois dos quais armados de espingardas automáticas. Se for possível, os observadores avançados da artilharia devem estar junto dos grupos retardadores, a fim de regularem o tiro sobre o inimigo.

Os grupos retardadores, além do seu equipamento normal, devem transportar machados, minas e explosivos para efectuarem demolições. Os obstáculos, se forem de certo valor, devem ser batidos pelo fogo. De modo a causarem o máximo retardamento, principalmente em viaturas, devem destruir-se as pontes e, sempre que o tempo e a situação o permitam, devem colocar-se arame e outros obstáculos atravessados nas estradas e caminhos, à frente da posição retardadora.

Na selva, as minas devem ser colocadas dos dois lados do obstáculo e no próprio obstáculo, a fim de tomar perigosa a sua remoção. Nos pontos onde a selva é pouco espessa e não há obstáculos ao movimento da tropa a pé, devem utilizar-se minas antipessoal. Devem ser construídos tantos obstáculos à frente da posição retardadora quantos o tempo permitir. Devem fazer-se todos os esforços para colocar os obstáculos de forma que o inimigo se infiltre pelas zonas onde as unidades retardadoras possam colocar maior potência de fogo.

Na selva, em virtude das dificuldades de reabastecimento e de coordenação, os grupos pequenos, bem treinados e comandados, são os mais convenientes para o desempenho da missão da acção retardadora. Os reforços devem estar dispostos ao longo dos caminhos, na retaguarda de cada elemento da frente. Utilizam-se quando seja necessário libertar os elementos em primeiro escalão de recontros importantes, para patrulharem os caminhos de modo a evitarem que os elementos em primeiro escalão fiquem com a retirada cortada e também a substituírem esses elementos, caso sejam capturados.

h) Sobrevivência:

Para terminarmos este capítulo ser-nos-á ainda lícito fazer uma breve referência à necessidade que houve de reunir elementos para a estruturação de assuntos relativos a situações de Sobrevivência, designadamente no Ultramar onde os nossos militares tiveram já oportunidade de experimentar, duramente, as suas acções influentes na suprema determinação de viver.

Antecipando-se à publicação oficial, integrada em O Exército na Guerra Subversiva, a cargo duma Comissão superiormente nomeada, o CMEFED, em Mafra, publicou em 1961 um Manual sobre SOBREVIVÊNCIA, o qual constitui já um valioso e útil trabalho contendo ensinamentos considerados de muito interesse, em especial, para a Guerra Subversiva.
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Notas dos editores:

(1) Vd. 1ª parte deste documento: 3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)







(2) Referências a esta publicação, com mais de quarenta anos (que curiosamente ainda hoje não pode ser consultada numa biblioteca pública... não existindo sequer na PORBASE - Base Nacional de Dados Bibliográficos ) (Estado Maior do Exército - O Exército na guerra subversiva, Vol I, II, III, IV, V. Estado Maior do Exército, SPEME, 1966. Reservado):

Vd. Excertos de : “Portugal, anos 60: a guerra colonial”. Com a colaboração do professor Fernando Rosas e do tenente-coronel Aniceto Afonso. Programa gravado da Antena 2 no dia 21 de Novembro de 1997. Transcrição : Irineu Batista. In: Centro de Documentação 25 de Abril > Era uma vez um milénio

(...) Fernando Rosas – O senhor tenente-coronel referiu há pouco que as forças armadas portuguesas assimilaram com rapidez a problemática das novas condições desse tipo de guerra. Tinham tido, ao que sei, alguma experiência anterior ao próprio começo da guerra, na Argélia e noutros centros de instrução. Creio que os franceses e os ingleses terão sido as fontes dos conhecimentos principais. A pergunta que eu queria fazer, no entanto, era esta. Acha que a partir de algum momento da guerra da parte das chefias há a noção de que a guerra não tem solução militar e acha que por virtude dessa consciência se terá aberto uma conflitualidade com o poder político?

Tenente-coronel Aniceto Afonso
– Quase temos que separar caso a caso, pessoa a pessoa. De facto houve, em primeiro lugar, houve esse contacto prévio com outros teatros de operações, principalmente na Argélia, que trouxeram um conhecimento a esses oficiais que frequentaram.

Fernando Rosas – Antes mesmo de começar...

Tenente-coronel Aniceto Afonso – Antes mesmo de começar a guerra e o facto é que nós, em 1961, o Exército produziu um manual que se manteve em execução até ao final da guerra. Com pouquíssimas alterações que é “O Exército na guerra subversiva” e esse foi o manual de todos os militares que fizeram a guerra e como ele se manteve sempre, praticamente não precisou de alterações é porque, de facto, esses militares perceberam o que é que era essencial numa guerra de guerrilhas porque, digamos que o meio da guerra de guerrilhas não é o terreno e perceberam rapidamente que é a população. Digamos há na manobra militar, há várias manobras e a manobra militar aqui é talvez a manobra menos importante. A grande manobra é a manobra das populações.

Fernando Rosas – Da qual a militar é complementar.

Tenente-coronel Aniceto Afonso – A manobra militar é complementar e na guerra de guerrilhas, digamos, o Exército português percebeu isso. Julgo eu que percebeu isso duma forma geral muito cedo e por isso a organização do Exército em quadrícula nos teatros de operações foi fundamental para resolver esse problema do enquadramento das populações. Os militares que se situavam numa zona de acção, numa área apercebiam-se rapidamente dos problemas fundamentais dessa área e principalmente das populações dessa área e souberam, portanto arranjaram soluções para, de alguma forma, furtar a população à acção dos movimentos de libertação. Julgo que isso foi fundamental (...).

Wikipédia > Guerra colonial portuguesa:

(...) A instrução dos quadros e tropas das forças portuguesas, por normalização da estrutura da NATO, concebeu a publicação de um conjunto de manuais intitulados "O Exército na Guerra Subversiva" que serviriam de suporte para a organização das tropas durante a Guerra. Introduziam também a necessidade da guerra psicológica que se revelaria como uma frente de combate sólida para Portugal. Com efeito, a "conquista das populações" foi aplicada a níveis tácticos e estratégicos com sucesso, exceptuando as dificuldades no início e fim da guerra.

Também se revelou fundamental a especialização de grupos armados, como os Comandos, único corpo organizado especificamente para esta guerra — desmantelado pouco tempo depois de esta terminar — e adaptação dos Fuzileiros e pára-quedistas. Quanto às unidades recrutadas no próprio teatro de operações, as tropas especiais africanas, os TE, GE e GEP, Flechas e fuzileiros foram adaptadas às técnicas de combate específicas deste tipo de cenário (guerrilha) e terreno. Porém, a quase sempre deficiente instrução dos efectivos implicaria uma crescente degradação da sua eficácia, a par com o cansaço e esvaziamento dos quadros permanentes (...).






Triplov, Visor Militra, página de Francisco Garcia > Contributos para o Emprego do Batalhão de Infantaria na Luta Contra-Subversiva Actual, por Conceição Antunes e outros



(...) O esforço português de aprendizagem da luta contra-subversiva inicia-se no final da década de cinquenta do século XX, com o envio de militares sobretudo para a Argélia e para a escola de Intelligence inglesa, Maresfield Camp. Deste esforço reultam em 1963 o Regulamento “O Exército na Guerra Subversiva”, reeditado em 5 volumes (os famosos livrinhos de capa azul) em 1965. Ali reuniam-se informações recolhidas no período de 1958-60, incluindo os elementos essenciais das doutrinas britânicas e francesa, versando as experiências na Indochina, Argélia, Malásia e Quénia, constituindo as últimas duas, referências-chave, incorporando os princípios da violência mínima, da cooperação civil-militar, da coordenação das informações e das operações com pequenas unidades que tanto sucesso demonstraram na política colonial britânica. Estes princípios serviam o desejo do exército português de uma abordagem eficaz e pouco dispendiosa à contra-subversão, apropriada quer nos seus meios, quer às circunstâncias das suas colónias (...).

Guiné 63/74 - P2737: Dando a mão à palmatória (8): Erros factuais nas notas biográficas sobre Osvaldo Vieira (1938/74) e Pansau Na Isna (1938/70)

Pansau Na Isna (1938-1970) e Osvaldo Máximo Vieira (1938-1974): Lápidas funerárias, em Bissau, na Fortaleza da Amura, onde repousam os respectivos restos mortais. Osvaldo Veira, de origem caboverdiana, não morreu em combate, mas sim de doença, no hospital de Boké, Guiné-Conacri, nas vésperas da independência, conforme reparo que nos faz o Nelson Herbert... Pansau Na Isna, por sua vez, também não morreu em 1964, mas sim em 1970... As nossas desculpas, antes de mais aos nossos amigos guineenses e a todos os que nos visitam e lêem... A história, em geral, e a história dos nossos dois povos, em particular, devem ser tratadas com respeito, dignidade, isenção e rigor (LG).

Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert, da Voz da América (1) 

 Apenas um reparo a uma das legendas das fotografias publicadas (*)... Osvaldo Vieira, comandante da guerrilha, morreu não em combate mas vítima de complicações decorrentes do agravamento do seu estado de saúde, num hospital em Boké, Guiné-Conacri. Só que a causa da "morte por doença" nunca foi esclarecida pelo próprio PAIGC (fala-se de uma cirrose). Bom fim de semana Nelson Herbert Washingto, DC,USA 


(...) "Osvaldo Vieira foi um dos últimos comandantes a tombar em combate... Os antigos guerrilheiros do Cantanhez quiseram dar a esta barraca (acampamento temporário) o seu nome... Tentaram reconstruir as condições em que se vivia e lutava... Não sei se alguma vez foi identificado, atacado e destruído pelas NT..."

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Nelson, pela tua achega. Lutamos, no nosso blogue, com uma enorme falta de conhecimento dos detalhes biográficos de quase todos os dirigentes do PAIGC, e nomeadamente dos que já morreram (2). Já não falo em registos fotográficos...

Na Guiné-Bissau, aquando da visita, no dia 7 de Março de 2008, ao mausoléu do Amílcar Cabral e de outros heróis da luta da independência, na Fortaleza da Amura, alguém me tinha dado esta dica, que eu fixei. Seguramente, como guineense e jornalista, tu estás melhor imformado do que eu sobre a história recente da tua terra, incluindo o período da luta de libertação nacional...

Aqui fica a correcção, com as minhas desculpas a todos os visitantes do nosso blogue. Aproveito também para corrigir a data e o local em que morreu Pansau Na Isna: não foi na Ilha do Como, em 1964, mas em Nhacra (?), em 1970, como erradamente consta do poste de 12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)
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Notas de L.G.:


(2) Vd. outros postes com notas biográficas de dirigentes do PAIGC:





Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)





Ria de Aveiro > Agosto de 2006 > Homenagem a um dos mais belos pedaços da nossa costa, a Ria de Aveiro (que à vezes faz-nos lembrar a nossa Guiné...), e a à sua gente, brava e rija, muita da qual fez a "tropa do bacalhau"... Uma forma singela, nossa, da nossa tertúlia, de saudar 0 novo camarada, Jorge Picado, ilhavense, que foi capitão miliciano, na Guiné, nas regiões do Cacheu e do Óio, entre 1970 e 1972... (LG)
Fotos: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.

1. Nota do co-editor Virgínio Briote:

Apresenta-se hoje o ex-Cap Mil Jorge Picado, que foi Cmdt das CCAÇ 2589 e CART 2732 e que antes de regressar à Metrópole ainda andou por Teixeira Pinto.

Caro Camarada, estás apresentado. Não precisas de guia de marcha nem tão pouco de seguir ao teu destino, como era costume lermos nas OS. Pedimos-te duas fotos, uma com os galões (ou sem eles) daqueles tempos e outra mais actual. As regras da
nossa tertúlia estão bem visíveis, já deves ter dado por elas.

E, caro Jorge Picado, puxa pela tua memória. As zonas por onde andaste foram conhecidas, bem demais, por muitos de nós e os tempos em que lá estiveste (1970/72) foram ricos em acontecimentos.

Recebe também as boas vindas do resto da nossa equipa editorial, o Luís Graça e o Carlos Vinhal. Seguramente que o Carlos Vinhal, o Luís Camões e o Luís Nabais terão todo o gosto em apadrinhar a tua entrada nesta caserna virtual dos camaradas da Guiné.

vb

2. Mensagem de
Jorge Picado:

Olá

Também pertenço ao grupo dos que palmilharam as poucas estradas alcatroadas e as muitas picadas da Guiné-Bissau.

Desde Bissau, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Braia, Infandre, Cutia, Mansabá, Bironque, K-3, Farim, passando o rio Mansoa em João Landim, Bula, Có, Pelundo, Changalana, Jolmete, Teixeira Pinto, Canobe, Bara, Bajope, Blequisse, Cajinjassá, Capol, Bachegue, Boja, Chulame, Bassarel, Chanto, Bajobe, Bó, Calequisse, Cati, Biacha, Cabienque, Pandim, Cancal, Tame, Carenque, Batucar, Bugulha, Cajegute, Ponta Pedra, Caió, Tebebe, Belabate, Caiomete, Petabe, Beniche, a célebre Ponte Alf Nunes, Churobrique, Bachile, Capó, Cacheu (fui de meio aéreo) e também por meio fluvial acabei por pisar bolanhas na Ilha de Jeta e visitar Omaia na Ilha de Pecixe, além das bolanhas de Ilha de Jete.

Eis a minha identificação para que o Carlos Vinhal há 37 anos na CART 2732 em Mansabá, o Luís Camões há 38 anos na CCAÇ 2589, bem como o Luís Nabais na CCS do BCAÇ 2885 em Mansoa me sirvam de padrinhos na entrada desta Tertúlia, se ainda recordam este nome.

Jorge Manuel Simões Picado, natural e residente em Ílhavo, a poucos dias de chegar aos 71 anos, Eng.º Agrónomo de profissão (aposentado da Função Publica) e por gosto, Cap Mil por imposição e a contra-gosto, comandei (mal ou menos mal) a CCAÇ 2589 desde 24 de Fevereiro de 1970 até 15 de Fevereiro de 1971 quando a deixei a caminho do Cumuré e me apresentei no QG em Bissau para aguardar novo destino, tendo seguido para comandar a CART 2732 a partir de 8 de Março de 1971 até 29 de Abril de 1971, indo acabar a comissão no CAOP 1 em Teixeira Pinto desde 4 de Maio de 1971 até às vésperas de 9 de Fevereiro de 1972, dia do meu desembarque no Aeroporto de Lisboa.

Perdoem-me qualquer erro, mas sou ainda um neófito nas novas tecnologias. Só estou ligado à Internet desde o passado dia 29 de Março e ainda não domino estas ferramentas, de tal modo que tive de me socorrer dum dos meus netos para aceder ao blogue, depois de ter lido a notícia no suplemento Y do Publico de sexta-feira [, dia 4 de Abril de 2008, que fez uma referência ao blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné: Não deixes que sejam os outros a contar a tua guerra]. Por isso ainda não posso enviar fotografias.

J. Picado
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Nota de vb:

(1) Pede-me o Luís Graça, o fundador e editor deste blogue, que acrescenta o seguinte a esta nota de apresentação: há referências à tua terra, Ílhavo, por causa da pesca do bacalhau e de amigos dele, da Costa Nova, como o Arquitecto José António Paradela, o Cap Valdemar Aveiro ou o Dr. João Vizinho, médico. São ilhavenses ilustres, e para mais da tua geração (os dois primeiros). Sobre a "tropa do bacalhau", podes dar uma espreitadela em:



Ligado a Ílhavo e à Costa Nova, é também o Gilberto Madail, que passou pela Guiné (Bissorã, Xime, entre 1967 e 1969): vd. postes de:



terça-feira, 8 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2735: Construtores de Gandembel / Balana (8): Vamos reconstruir as plantas dos aquartelamentos (Nuno Rubim)

Ponte Balana e Gandembel
Mensagem do Nuno Rubim aos Camaradas que passaram por Gandembel e Ponte Balana Camaradas Uma proposta. Quando iniciei os meus trabalhos que levariam à feitura do diorama de Guileje, só tinha um velho desenho da planta que fiz em 1966, que podem ver (melhorado para ser incluído - como foi - no blogue) no esquema que vos envio (à esquerda).

Planta de Guileje em 1966 e diorama, elaborados por Nuno Rubim.

Como também podem constatar ou ver, foi depois muito melhorado-corrigido (ver à direita) com base no levantamento topográfico realizado em 2005 e em várias fotografias aéreas que fui conseguindo obter.

Também fizeram um grande jeitão as fotos que camaradas das unidades que lá estiveram sedeadas me fizeram chegar.

Ora nesta altura tornou-se-me óbvio que a saga de Gandembel/Balana constituíu, na zona Sul da Guiné, um caso à parte que julgo merecer um esforço de pesquisa adicional. E enquanto cá estivermos neste mundo ...

Estou-me a referir à possibilidade de se tentar desenhar as plantas de ambos os aquartelamentos. Mesmo que inicialmente de forma não muito rigorosa, poderíamos (eu ajudarei no que me fôr possível), reconstituir a disposição dos abrigos e outras construções ali existentes. Não importa inicialmente a escala, apenas uma ideia aproximada.

Depois poderíamos tentar compilar o máximo de fotografias existentes (as que realmente interessem para o fim em vista) e ir ajustando os esboços iniciais. E tentar saber se foram tiradas fotos aéreas.

Poderemos sempre contar com a existencia das ruínas em Gadembel (agora mais limpas da vegetação fruto da intervenção da AD) e do que resta do destacamento da Ponte Balana, pois que lá devem existir vestígios, conforme apurei.

Quem sabe se alguém lá poderá ir e tirar algumas medidas em Gandembel, o que melhoraria e muito o produto final.

Gostaria de ouvir as vossa opiniões/sugestões (1). Um abraço

Nuno Rubim

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Fixação e adaptação do texto: vb

(1) Vd. último poste desta série:

3 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)

Guiné 63/74 - P2734: Guileje, colónia penal (1): Em 1897 havia um posto militar fronteiriço, português, em Sare Morsô (Nuno Rubim)

Mapa do Sul da Guiné no Final do Séc XIX, segundo Pélissier ( vd. René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. 2ª ed. Lisboa: Editorial Estampa. 2001. 2 volumes).

Foto: Nuno Rubim (2008).


1. Texto do Nuno Rubim, Cor Art Ref, especialista em história militar, nosso prezado amigo e camarada:

Caro Luís

Aqui há tempos foi publicado no blogue um pequeno texto meu sobre a questão de Guileje ter sido considerado, de facto, uma espécie de "colónia penal" (1). Hoje trago à liça mais uns elementos que consubstanciam essa tese.

Porque vem de longe ... Pélissier, no 2º volume da sua obra sobre as guerras na Guiné, escreve, na página 191 (2):

"Em 1916, um dos tenentes de Abdul Injai, Alfa Modi Saidou, foi convidado a instalar-se em Guileje com 300 a 400 indígenas franceses provenientes dos bandos de Abdul Injai. As mulheres seriam exclusivamente prisioneiras feitas durante a campanha de 1915." (os sublinhados são meus).

Ora isto sucede numa altura em que já tinham terminado as negociações entre Portugal e França que tinham [definido] as fronteiras na região (1906). (Vd. Mapa, acima).

Cabe aqui abrir um parêntese. Toda a região a Leste de uma diagonal traçada no eixo do rio Cacine, para NE até perto do Rio Balana, pertencia à Guinée, colónia francesa [, hoje Guiné-Conacri]. Por isso aparecem no mapa supra as designações de Poste Français [, posto francês,] em Caconda e Cacine. Aquando da delimitação de fronteiras, essa região passou para o domínio português, por troca com a zona do Casamansa no Senegal.

Pormenor do mapa (ou carta) de Guileje (escala 1:50000): no quadro das Convenções, pode ler-se que há um símbolo que representa as aldeias abandonadas, como é o caso de Sare Morsô... Só um estudioso como o Nuno Rubim é capaz de ter olho clínico para estes detalhes que escapam à vista desarmada do leigo... (LG).

Mas a anterior linha fronteiriça era praticamente inexistente, não se sabendo realmente as áreas que pertenciam a cada país. Ora constatei, com surpresa, que, segundo Pélissier / vol. II, pp 60- 69, os portugueses instalaram em Sare Morsô, em 1897, um posto militar, a que deram o nome de Posto de D. Maria Pia (como era uso na altura, em quase todas as colónias portuguesas, nomes de rainhas ou princesas ) e que só foi desguarnecido cerca de 1901.

Surge essa designação, como tabanca abandonada, na carta 1:50000 da Guiné. Quando agora passei pelo chamado cruzamento do corredor [da morte ou de Guileje] ainda tive esperanças de lá poder dar uma saltada (cerca de 2,5 km do cruzamento ), mas infelizmente não tive tempo.


Segundo algumas informações o PAIGC teria ali instalado uma base durante a guerra.

(A continuar )

Um abraço

Nuno Rubim

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 10 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1830: Guileje, uma espécie de colónia penal militar até finais de 1969... (Nuno Rubim)

(...) "Durante anos, após a minha permanência lá, ouvi referências sobre o facto de serem enviados para Guileje militares punidos ou indesejados de outras unidades do CTIG [Comando Territorial Independente da Guiné].

Apesar de ter tido uma experiência pessoal que parece ter confirmado este facto, só agora descobri, no AHM [Arquivo Histórico Militar], um documento oficial que esclarece totalmente a questão !

Mensagem Com-Chefe, Guiné, Dezembro 1969.

Retransmitido pelo Batalhão de Artilharia 2865, reponsável pelo Sector S3 (nessa altura em Catió), que englobava o sub-sector de Guileje. (AHM )

Por determinação superior “…

Considerada a situação de Guileje, cancelamento de mais transferências por motivos disciplinares para aquela guarnição” !!! (...)

(2) Vd. poste de 7 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P944: Historiografia das guerras de África: colaboradores, precisam-se (Nuno Rubim)

Sobre o historiador René Pélissier, ver ainda os seguintes postes:

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2586: A História de Portugal em África vista pelo Prof. René Pélissier (I). (Virgínio Briote)

14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2266: Quem conhece o Inácio Maria Góis, autor de O meu diário, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66) ? (René Pélissier)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2733: O Nosso Livro de Visitas (11): José Quintas, ex-1.º Cabo da 38.ª CCmds (Guiné 1972/74)

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331.

Foto e legenda: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.


1. Em 4 de Abril passado, recebemos uma mensagem do nosso camarada José Quintas

Camarada Luis Graça,
Apresenta-se o 1.º Cabo Comando, da 38.ª Companhia de Comandos José Quintas.

Gostaria que me informasses se possível, como fazer parte desta magnífica tertúlia de ex-Combatentes e como posso participar na mesma, pois acho formidável a maneira como são abordados estes temas da guerra em que participámos e, não há duvida que é preciso fazer trabalhos como estes para a posteridade.

Fico desde já a aguardar, enviando um caloroso abraço a todos os ex-Combatentes.
José Quintas

2. Em 7 de Abril foi dada resposta a este nosso camarada

Caro José Quintas

Estou a receber-te em nome do Comandante Luís Graça.

Para fazeres parte da nossa Tabanca Grande, começarás por enviar uma foto tua do tempo da guerra e outra actual, tipo passe de preferência.

Na nossa página, do lado direito, poderás verificar quais são as 10 condições essenciais a cumprir no nosso Blogue, onde o respeito pela opinião dos outros é fundamental. Neste assunto da Guerra Colonial há diversos pontos de vista e alguns recalcamentos remanescentes em relação ao nosso inimigo de então, têm de ser abolidos definitivamente. A Guiné-Bissau de hoje é um país irmão que necessita da nossa ajuda.

Entre nós não existem apenas ex-combatentes, mas também guineenses, e portugueses que têm alguma ligação com aquele país.

Entre nós usamos o tratamento por tu, como já reparaste.

Podes contar-nos as tuas estórias e enviar fotos para as ilustrar.

Deves saber que já temos entre nós um teu camarada, o Amílcar Mendes que certamente conhecerás.

Ficamos à espera de notícias tuas para te apresentarmos formalmente aos restantes camaradas e amigos da Guiné-Bissau.

Para ti um fraterno abraço de,
Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P2732: Em busca de... (23): Camaradas da CCS/BCAÇ 600 (Guiné 1965/68) (Fernando Dourado)

1. Em 4 de Abril de 2008, recebemos uma mensagem de Fernando Dourado, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 600.

Fui Alferes miliciano no Batalhão de Caçadores 600 que esteve na Guiné nos anos de 1965(Out) a 1968(Out).

Estivemos primeiramente em Bissau num quartel junto ao QG e depois finalizámos em Buba.

Nunca consegui estabelecer contacto com ninguém da CCS do Batalhão. Lembro-me bem do Capitão de Operações Teodósio, do Ten Cor Fernandes e do Tesoureiro Alf Biscaia Pereira (Advogado).

Não sei quais são as possibilidades, mas ao saber da existência do v/blogue pensei que poderia ser uma maneira de encontrar alguém.

Moro em Faro e neste momento sou secretário da Junta de Freguesia da Sé Faro.

O meu e-mail pessoal é ferdalmeidagmail.com

Com o meu obrigado

2. Em 7 de Abril era mandada uma mensagem à Tertúlia nos seguintes modos:

Caros Camaradas e amigos Tertulianos

Chegou-nos esta mensagem com um apelo do nosso camarada Fernando Dourado que quer encontrar camaradas da CCS do célebre 600 (BCAÇ 600).

Como na Página do camarada Jorge Santos não encontrei nenhum pedido de contacto, recorro à tertúlia e aos menos novos neste caso, na esperança de que o possamos ajudar.

O nosso muito obrigado a quem puder colaborar.
Um abraço para todos
Carlos Vinhal

3. Entretanto um dos nossos investigadores de serviço, neste caso, o camarada Santos Oliveira já encetou diligências no sentido de ajudar o Fernando Dourado.
Um dia destes daremos notícia dos resultados obtidos.

Guiné 63/74 - P2731: Cantanhez, Acampamento Osvaldo Vieira: Coordenadas GPS (Nuno Rubim)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Antigo Acampamento Osvaldo Vieira> Posição vista de satélite (Fonte: Google).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Acampamento Osvaldo Vieira > 2 de Março de 2008 > Antigos guerrilheiros do PAIGC.
Fotos: Nuno Rubim (2008).

1. Mensagem do Nuno Rubim:
Amigo Luís

Conforme o prometido: Vista de satélite do antigo acampamento de Osvaldo Máximo Vieira, Catanhez (1).

As coordenadas GPS que eu tirei no centro da clareira (quadrado amarelo), onde decorreu a cerimónia, correspondem a: 11º 12' 46" N - 15º 03' 10" W

No mapa estão marcados a amarelo os itinerários a partir da estrada e o caminho que conduzia ao tarrafe. A laranja [estão os] itinerários alternativos (estimados) a partir das indicações que me forneceu um dos antigos combatentes do PAIGC.

Realmente referenciei duas saídas, uma para Norte, outra para Sul mas, mais uma vez, por falta de tempo, não tive oportunidade de tentar seguir as pistas.

Notar-se-á que a altura estimada da vista aérea é de 438 m, sensivelmente a que era utilizada pelos aviões portugueses nas missões de reconhecimento (500 m), mas isto antes do aparecimento dos Strella ...

Um abraço

Nuno Rubim

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes de:


Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)

Continuação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado, de que nos foi enviada uma cópia, em 18 de Setembro de 2007 pelo nosso camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma (1.

PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (Parte X) >

(I) ELEMENTOS SOBRE ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA


(1) Tipos de abrigos utilizados pelo IN

Nas zonas em que a nossa aviação efectua bombardeamentos, o IN e a população sob o seu controle constroem abrigos a fim de se protegerem dos efeitos das bombas.

Os abrigos são do tipo variável havendo que destacar os construídos com terra e cibes bem como os que, segundo notícias, são construídos em cimento. Seguidamente são apresentados alguns tipos de abrigos utilizados:

(a) Tipo de casa encontrada na op CLEOPATRA, no acampamento de CANTUNCO


Legenda: Nível do terreno, Mosquiteiro, Cama...



(b) Abrigo encontrado no acampamento de CAFINE (1510.11.10 I2.53)

Legenda: Terra Batida, Túnel Inclinado, Paus, Corpos de (?)


(c) Barraca-abrigo detectada em CABOIANA


- Foi detectada na CABOIANA a construção de barracas-abrigos com as seguintes características: sobre uma cova de cerca de 2 metros de diâmetro e 70 cm de profundidade erguia-se um tecto cónico de folhagem e apoiado em 4 estacas implantadas na periferia da cova, deixando apenas uma fresta circular ao nível do terreno.

Admite-se a possibilidade destes abrigos poderem ser utilizados com a seguinte finalidade:

- habitação;
- abrigo contra bombardeamento e artilharia;
- abrigo defensivo para atirador em caso de ataque ao acampamento por força de assalto.

Nota: poderá também transformar-se em espaldão para morteiro


(d) Abrigo utilizado na Ilha de COMO (declaração de um capturado)



Legenda: Terra, Cibes, 170 cm...


Declarações do capturado SOINA MANCHALÉ referem que na Ilha de COMO, dentro do mato, o IN tem abrigos, o mesmo sucedendo nas tabancas da população bem como naquelas que ficam na orla da mata e perto das bolanhas. Os abrigos são cavados até uma profundidade de mais ou menos 1,70 m e cobertos com cibes de palmeira, levando por cima uma camada grande de terra.

O aspecto dos abrigos, junto à orla da mata, é a indicada no esquema seguinte:






(2) Posição defensiva de um grupo de infantaria




COMENTÁRIO: O esquema aoresentado representa um grupo de infantaria ocupando uma posição numa extensão de 500 metros.

Vêem-se três trincheiras de combate na periferia da posição, com itinerários para a rectaguarda, os quais convergem no ponto em que se encontra o comando. Este local é defendido por trincheiras de combate. Entre as trincheiras que guarnecem a frente da posição para o CAN/SR e para a metralhadora pesada. Para a rectaguarda da posição vêem-se duas trincheiras provavelmente para instalação de uma segurança à rectaguarda e ainda dois pontos de observação. A frente da posição está minada, como o referem as indicações do croquis.

(3) Organização defensiva duma base IN





COMENTÁRIO: O esquema representa uma organização defensiva periférica de uma base IN.

Verifica-se a existência de postos de observação e posições fora da periferia da base, assinalando-se também a existência de duas patrulhas de reconhecimento.

No centro da base está instalado o comando junto do posto de rádio, estando também assinaladas posições para as armas pesadas.


(3) Outras características defensivas, segundo declarações de BIEM SAMBÉ:

Croquis da base de INJASSANE (1500 1140 B3-93)




Legenda: Escola, Enfermaria, Casa de Mário Sousa Delgado, Casa, (...), Canhão s/r,

Croquis da Base de GÃ FORMOSO (1515 1150 A4-23)



Legenda: Abrigo colectivo à prova, Abrigo colectivo a céu aberto, Caminho, Casa do Comandante da Base, Sentinela, Palhota, Canhão s/r, Enfermaria, (...)
_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postde 13 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P2729: Estórias de Guileje (10): os trânsfugas de Guileje, humilhados e ofendidos (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

1. Extracto de um poste do Victor Tavares, natural de Águeda, onde é presidente de junta da freguesia de Recardães, sua terra natal. Foi 1º cabo pára-quedista, da CCP 121 /BCP 12 (Guiné, 1972/74).

Justifica-se a reprodução deste excerto: o Victor dá-nos aqui o retrato do abandono e da humilhação, a que foram sujeitos, em Cacine, os militares que, sob as ordens do Comandante do COP 5, major Coutinho e Lima, abandondaram Guileje, em 22 de Maio de 1973, chegando a Gadamael, também fortemente atacada pelo PAIGC, a seguir a Guileje, e salva pelos pára-quedistas e a Marinha -, refugiando-se depois em Cacine. (LG)


Estórias de Guilele (10): Gadamel Porto, o outro inferno a sul

por Victor Tavares

Depois de regressada do inferno de Guidaje (2), a Companhia de Caçadores Pára-quedista (CCP) 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca [, na Base Aérea nº 12], gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.

Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.

Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, onde chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.

Foi então, logo na primeira abordagem da lancha, que me apercebi que na mesma estava um indivíduo que pela cara me pareceu familiar. No entanto, como o mesmo se encontrava vestido à civil calções, camisa aos quadradinhos toda colorida e sandálias de plástico transparente - pensei ser porventura algum civil que andaria por ali no meio da tropa, o que seria natural e podia eu estar errado.

Depois de toda a tropa estar desembarcada, indicaram-nos o local onde iríamos ficar, num terreno frente ao quartel de Cacine. Instalámo-nos e de seguida fomos dar uma volta pelas redondezas, até que no regresso deparo com a mesma criatura, sentada no cais com ar triste e pensativo, típico da pessoa a quem a vida não corre bem. Eu vinha acompanhado do paraquedista Vela, meu conterrâneo – e hoje meu compadre. Perguntei-lhe:
- Ouve lá, aquele tipo ali não é nosso conterrâneo?
Responde ele:
- Sei lá, pá, isto é só homens.


"Gadamael ?!...Vocês vão lá morrer todos!"

Por ali estivemos na conversa mais algum tempo, até que tomei a iniciativa de me dirigir ao fulano uma vez que ele continuava no mesmo sítio. Acercando-me dele, perguntei-lhe:
-Diz-me lá, camarada, por acaso tu não és de Águeda ?
Responde-me ele:
- Sou.
E pergunta-me de seguida:
- E você, não é de Recardães?

Digo-lhe que sim, cumprimentamo-nos e vai daí perguntei-lhe o que é que ele estava ali a fazer, porque de militar não tinha nada. Respondeu-me que não sabia o que estava ali a fazer, de uma forma triste e ao mesmo tempo em tom desesperado e desanimado.

Entretanto com o desenrolar da conversa, ele perguntou o que estávamos ali a fazer, eu respondi que na madrugada seguinte íamos para Gadamael Porto... Qual não é o meu espanto quando ele põe as mãos à cabeça, desesperado e desorientado, e me diz:
- Não vão, porque vocês morrem lá todos!

Tentei acalmá-lo, dizendo-lhe para estar descansado que nada de grave ia acontecer, pedi-lhe para me contar o que se passava, vai daí, começa ele a relatar o que tinha passado em Guileje e Gadamael até chegar a Cacine. Na verdade depois de o ouvir, não me restaram dúvidas que ele tinha mais do que sobejas razões para estar no estado psicológico aterrador em que se encontrava .

Os militares portugueses que abandonaram Guileje, foram tratados como desertores e traidores à Pátria

Entretanto, informa-me da sua situação militar daquele momento tal como a de outros camaradas que abandonaram Guileje. Neste grupo estava também outro meu conterrâneo, que o primeiro foi chamar, vindo este a confirmar tudo.

O que mais me chocou foi a forma desumana como estes militares foram tratados, depois da sua chegada a Cacine, sendo considerados como desertores e cobardes, quando, em meu entender, se alguém tinha que assumir a responsabilidade dessa situação, seriam os seus superiores e nunca por nunca os soldados.

Estes homens foram humilhados por muitos dos nossos superiores - que eram uns grandes heróis de secretária! -, foram proibidos de entrar no aquartelamento, não lhes davam alimentação, o que comiam era nas Tabancas junto com a população. As primeiras refeições quentes que já há longos dias não tomavam, foram feitas por estes dois homens juntamente com os pára-quedistas, porque o solicitei junto do meu Comandante de Companhia, Capitão Pára-quedista Almeida Martins – hoje tenente general na reserva - ao qual apresentei os dois camaradas do exército que lhe contaram tudo por que passaram.


Os dois desgraçados de Guileje eram meu conterrâneos: o Carlos e o Victor Correia

Solicitei ao meu comandante para eles fazerem as refeições junto com o nosso pessoal, prontificando-me eu a pagar as suas diárias, se fosse necessário. Ele autorizou os mesmos a fazerem as refeições connosco enquanto não tivessem a sua situação resolvida e a nossa cozinha que dava apoio ao Bigrupo que estava de reserva, ali se mantivesse.

O meu comandante expôs o problema destes homens ao comandante do aquartelamento do exército, solicitando que o mesmo fosse resolvido com o máximo de brevidade uma vez que a situação não era nada dignificante para a instituição militar.

É de salientar que estes dois homens já não escreviam aos seus familiares há mais de um mês, porque não tinham nada com que o fazer. Fui eu que lhes dei aerogramas para o fazerem e os obriguei a escrever, porque o seu moral estava de rastos e a vida daqueles militares já não fazia sentido. Dormiam debaixo dos avançados das Tabancas enrolados em mantas de cor verde, não tendo mais nada para vestir a não ser o camuflado.

Estes meus dois conterrâneos que atrás refiro eram o Carlos (que infelizmente já faleceu, natural do lugar de Perrães, Oliveira do Bairro) e o Victor Correia (de Aguada de Baixo, Águeda, e que hoje sofre imenso de stresse pós-traumático de guerra)(3).
______________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)

(2) Vd. postes de:


25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto


9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(3) Estes camaradas devem ter pertencido à CCAV 8350 (ou a sub-unidades adidas, como o Pel Art, do Alf Mil Pinto dos Santos). Os Piratas de Guileje foram os últimos deixar Guileje, por ordem do comandante do COP 5, o então major Coutinho e Lima (4). A esta unidade pertencia o nosso querido amigo e camarada, o ex-Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, membro da nossa tertúlia:

Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro).

Recorde-se que, de 18 a 22 de Maio de 1973, o aquartelamento de Guileje foi cercado pelas forças do PAIGC (Op Amílcar Cabral), obrigando as NT (CCAV 8350, 1972/73 e outras), a abandoná-lo, juntamente com cerca de 600 civis (3)
A Companhia Independente de Cavalaria 8350/72 foi a unidade de quadrícula de Guileje entre Outubro de 1972 e Maio de 1973. Viu morrer em combate nove dos seus homens, entre algumas dezenas de feridos.

Foi seu Comandante o Cap Mil Abel dos Santos Quelhas Quintas, o qual escreveu numa carta dirigida ao Senhor Chefe do Estado Maior do Exército, sobre o Furriel Miliciano de Operações Especiais José Casimiro Pereira Carvalho, com o seguinte teor (data omissa ou desconhecida):

"Exmo Senhor Chefe do Estado Maior do Exército:

"Por, quando Comandante da Companhia Independente da Cavalaria 8350, em serviço na Guiné entre 1972 e 1973, sedeada em Guileje, ter sido ferido em Gadamael, nunca me foi possível propor uma homenagem pública ao Furriel de Operações Especiais Casimiro Carvalho.

(...)"Quando fui ferido, foi este homem que me ajudou a deslocar para junto do Rio Cacine, pois eu mal me podia movimentar, deslocando-se em seguida debaixo de intenso fogo de morteiros e outra armas que, neste momento, não sei especificar, para conseguir um depósito de gasolina de forma a poder fazer movimentar a embarcação em que me evacuou para Cacine, como também outros militares que nesse momento já se encontravam junto ao pequeno cais.

"Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael" (...).
Vd. ainda os seguintes postes:

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

(4) O major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima era então, desde 21 de Janeiro de 1973, o comandante do COP 5, tendo sido ele a tomar a decisão da retirada de Guileje, em 22 de Maio de 1973, cercado por três corpos do exército do PAIGC (três baterias de artilharia: uma de canhões sem recuo; outra de morteiros; e outra de foguetões 122 mm, ou graad, também conhecidos como jactos do povo).

Vd. postes de:
27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

3 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2673: Uma semana memorável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (10): Guiledje: Homenagem ao Coronel Coutinho e Lima

23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

23 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

(...) "A Operação de retirada foi organizada da seguinte maneira: em primeiro escalão, saiu o Sr. Comandante da CCAÇ 4743 (GADAMAEL) com os seus dois grupos de combate, seguidos de parte da população; em segundo escalão, o Sr. Comandante da CCAV 8350 (GUILEJE), com a sua Companhia, milícia e restante população; em último lugar, o pessoal militar sobrante, incluindo os elementos do Comando do COP 5, tendo sido eu o último a sair do quartel" (...).

Segundo informação (oral) do Coronel de Artilharia, na reforma, Coutinho e Lima, agora prezado membro da nossa Tabanca Grande, a coluna militar que deixou Guileje, era constituída por: (i) 2 grupos de combate da CCAÇ 4743 (unidade de quadrícula de Gadamael); (ii) CCAV 8350, (unidade de quadrícula de Guileje); (iii) Pelotão de Artilharia, comandado pelo Al Mil Pinto dos Santos (já falecido); (iv) Pel Cav Reconhecimento Fox (reduzido, havendo apenas duas Fox), além do (v) pelotão de milícias local...

Ele disse-me que não havia nenhum Pel Mort, sendo o Mort 10.7 e os 2 Mort 81, operados por pessoal dos Piratas de Guileje. Esta unidade (a CCAV 8350) era constituída sobretudo por "pessoal do Norte" e esteve depois em Bissau, em recuperação. Em Abril de 1974 estava afecta ao sector de Quebo (Aldeia Formosa), em dois destacamentos: Cumbijã e Colibuía.

Guiné 63/74 - P2728: Convívios (48): CCAÇ 3, 10 de Maio de 2008 em Macedo de Cavaleiros (A. Marques Lopes)

1. No dia 3 de Abril de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Marques Lopes, dando notícia do Convívio da sua CCAÇ 3 e dando-nos nas orelhas pelo silêncio que fizemos a uma sua mensagem, de 4 de Março passado, sobre o mesmo assunto.

Pela minha parte vou tendo a coragem de ir pedindo desculpa.
CV

2. Caros camaradas

Já no princípio de Março (parece-me...) vos enviei notícia sobre o próximo encontro da CCAÇ3. Depois disso, outros convívios já foram publicados no blogue, mas este não. Penso que também merece...


CCAÇ3 (Companhia de Caçadores N.º 3), da Guiné. Esteve em Barro, Binta e Guidage.

Almoço-convívio da CCAÇ3

Convívio no próximo dia 10 de Maio no Convento de Balsamão, em Chacim, próximo de Macedo de Cavaleiros.



Inscrições até ao próximo dia 10 de Abril para o Artur Fernandes: telef. 278536324, telem. 968792106, ou ajsfernandes@sapo.pt

A. Marques Lopes

domingo, 6 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2727: Convívios (47): CCS, CCAÇ 2367 e CCAÇ 2366 do BCAÇ 2845, Ofir e Mealhada, Maio de 2008 (Albino Silva)

1. Em 1 de Abril de 2008 recebemos uma mensagem do nosso camarada Albino Silva, dando-nos conta dos diversos convívios do seu Batalhão

Caro Camarada Carlos Vinhal:

Como estamos de novo na época de convívios, cá estou eu com este apelo que é relacionado com o meu Batalhão, ou seja, o BCAÇ 2845, que prestou serviço na Guiné de 1968 a 1970. em Teixeira Pinto.

Como sou o organizador de três convívios, queria que, através da Tabanca Grande, eles fossem divulgados.

CCS do BCAç 2845 - "Armados para a Paz"

2. CCS/BCAÇ 2845

O Convívio desta Companhia é no dia 3 de Maio de 2008 em Ofir, Esposende. A concentração far-se-á em Esposende, junto às Piscinas do Cávado, às 10 horas da manhã.

Organização de Albino Silva


BCAÇ 2845 - "Sempre Excelentes e Valorosos

3. CCAÇ 2367/BCAÇ 2845´

O Convívio desta Companhia é no dia 24 de Maio na Mealhada. Concentração a partir das 10 horas da manhã na Quinta dos Três Pinheiros, na Mealhada, onde será servido o almoço pelas 13 horas.

Este encontro, a nível de Companhia, já não se realiza há 7 anos e por isso apelo à união da mesma para comemorar os 40 Anos da nossa ida para a Guiné.

Organização de Albino Silva e Antero Simões

4. CCAÇ 2366/BCAÇ 2845

O Convívio deste ano é realizado no dia 31 de Maio de 2008, no mesmo local do ano passado, na Quinta dos Três Pinheiros, na Mealhada, com concentração nos jardins da mesma pelas 10 horas da manhã.

O almoço será servido às 13 horas.

Organizaçao de Albino Silva e Jorge Costa

Agradecemos que todos me confirmem até às datas que foram marcadas para o efeito, não deixando tudo para o próprio dia.

Contactos : Albino Silva - Rua 25 de Abril, 17 -Gandra 4740-472 - Esposende
Telemóvel : 963 297 804

Abraços para toda a Tabanca Grande

Guiné 63/74 - P2726: Fórum Guileje (13): Não foram as Forças Armadas Portuguesas que perderam a guerra (Paulo Santiago)


Mensagem do Paulo Santiago, de 25/03/2008


Após a leitura do P2679, escrito pelo camarada Mexia Alves, existem algumas questões que importa esclarecer. Comecemos pela frase A guerra da Guiné estava perdida.



Vou socorrer-me do livro Contra-Insurreição em África, de John P.Cann, oficial-aviador da Marinha norte-americana.
Cito da pág 255 do livro referido.

Numa análise final, enquanto Portugal lutava numa campanha imaginativa a fim de conservar as suas colónias numa época anti-colonial, não havia fibra militar que conseguisse superar o problema político da legitimidade de Portugal em África.

Devido a esta circunstância, Portugal perdeu a guerra e finalmente as suas colónias, apesar dos enormes sacrifícios feitos (…)

Em 1970, o General Spínola refreara o ímpeto do PAIGC e originara um impasse através de uma liderança enérgica e do seu progama social 'Uma Guiné Melhor'.

Este impasse começou a desaparecer em 1973, à medida que o exército compreendia que a solução política necessária não estava à vista (…) as forças militares não poderiam pôr fim à guerra.

Nenhuma espécie de campanha imaginativa conseguiria fazê-lo. O general Spínola e todas as forças armadas portuguesas estavam cientes deste facto. Contudo, os líderes políticos de Portugal permaneceram sem visão e afastados da realidade.

No post anunciado acima vem também a frase A política fez a guerra, a política acabou a guerra, e esta é a verdade.

Concordo com a primeira parte, foram de facto os políticos, a partir do Terreiro do Paço, que 'fizeram' a guerra, mas não foram eles que a acabaram, e volto ao livro referido, pág.256:




Administrou (o exército) habilmente a utilização das vidas e dos bens. Quando os políticos não conseguiram providenciar o necessário apoio complementar, foi o exército que interveio a 25 de Abril de 1974 e ofereceu a solução política que não só libertou as colónias mas libertou também Portugal e tornou possível a transição para a democracia.

Penso que não está a haver um endeusamento do PAIGC e um apoucamento das Forças Armadas Portuguesas, estas com os poucos meios disponiveis bateram-se arduamente sempre à espera da solução política que nunca apareceu.

Para terminar, façam o julgamento, pondo de um lado o Cor Coutinho e Lima que retirou de Guiledje, levando 800 pessoas, militares e civis, do outro o Cor Castro Lemos e o Lourenço que mandaram para o matadouro (Paulo Malu dixit) do Quirafo os militares, milícias e civis que nós sabemos.

Abraço
Paulo Santiago


_________


Fixação de texto da responsabilidades de vb.


Artigos relacionados em:



5 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2722: Fórum Guileje (12): Bombas de napalm e outras curiosidades da nossa visita ao Cantanhez (Nuno Rubim)


4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2718: Fórum Guileje (11): Relembrando a velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, onde perdi 2 soldados em combate (Idálio Reis)


25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2679: Fórum Guileje (10): Não ao endeusamento do PAIGC e ao apoucamento das Forças Armadas Portugueses (Joaquim Mexia Alves)


19 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2666: Fórum Guileje (9): O Simpósio foi uma festa, uma grande festa! (Carlos Silva)


18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2662: Fórum Guileje (8): O nosso património histórico comum (Leopoldo Amado)

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)


15 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)


15 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2642: Fórum Guileje (5): Que sentido dar a esta vaga de fundo ? Da guinefobia à guinefilia (Hélder de Sousa / Luís Graça)


14 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2638: Fórum Guileje (4): Minas aquáticas em Bedanda (Ayala Botto)


13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)




12 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P2725: O nosso Livro de Visitas (10): Albano M. Matos, o último Militar Português a abandonar a Guiné.

Albano Mendes de Matos, 2º Sargento Artª em Angola (1961/63 e 1965/68)

__________

Mensagem de Albano Mendes de Matos:

Camaradas,


Vi o vosso blogue. É interessante a ideia. Sou Ten Coronel reformado. Tenho estado em alguns encontros de combatentes na Guiné.

Estive só em Bissau, de Dezembro de 1972 a 14 de Outubro de 1974... Fui o último a sair da antiga colónia. Além do serviço próprio, dediquei-me a actividades culturais.

Criei, há dias, o blogue
cenasdeguerra.blogspot.com, em que vou publicar coisas de Angola e da Guiné. Já tem dois escritos de Angola.

Seguem duas poesias da Guiné.
Um abraço

Albano Mendes de Matos
_________


PARTE UM PESO

Parte um peso,
Patrão!

Peso ou delírio
dinheiro e vida!
Mágoa sentida
da menina negra
a sorrir magia!

Ela se deu toda
na pureza sublime
da inocência!

Peso carícia
dívida esmola
no tempo dinheiro!

Esmorece o luar
na tabanca
e a menina negra
soluça!

Parte um peso,
patrão!

A moeda sorriu
na palma branca
da menina negra!
Nos olhos submissos
uma lágrima correu!

PÁSSARO TECELÃO

O sol rompe na atmosfera estufa e cintila

no espaço sagrado do poilão

- os pássaros amarelos
desfiam as palmas
em fios apressados

Os pássaros amarelos tecem a liberdade
os pássaros amarelos rasgam as folhas das palmeiras
e tecem de ternura os ninhos no instinto perene dos filhos

- o sol incendeia o tecto africano
e queima o vigor das horas mortas

São de amor os bicos dos pássaros amarelos
que modelam os ninhos ao poilão sagrado:
os fios roubados nas franjas das palmeiras
as penas surripiadas nas ondas do vento

Depois
as brisas murmuram e embalam os passarinhos
na ternura dos ninhos urdidos de palmas e de penas

- e os pássaros amarelos
cantam alegrias no poilão sagrado!

__________

Nota do co-editor vb:

Albano Mendes de Matos:

Comissões de Serviço:

ANGOLA: Grupo Art 157/BArt 147 - Ucua, Pedra Verde, Quicabo, Quibaxe, Pango Aluquém, Piri, Luanda Luso, Portugália, Tentativa, Caxito, etc., 1961/63

ANGOLA: BArt 1469/CArt 1469 - Piri, Quelo, Santo António do Zaire, 1965/68

GUINÉ: GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74 albanomatos83@sapo.pt

Pequeno resumo do trajecto profissional:

Cabo Miliciano em 1953, obrigado a prestar mais um ano de serviço, devido aos acontecimentos em Goa, Damão e Diu, então sob administração portuguesa. Não foi mobilizado, por ser o mais classificado da especialidade.
Nesse período suplementar de serviço, concorreu ao Q. P..
Disponibilidade em 1954. Furriel em 1955.

Nas comissões militares em Angola, 1961/63 e 1965/68, dedicou-se ao estudo dos povos de Angola, especialmente os Quiocos, com publicação de contos, poesias e ligeiros artigos, em jornais e revistas.

Na comissão militar na Guiné-Bissau, foi colocado no Grupo de Artilharia 7, em diligência no Quartel-General e no Conselho Administrativo do CTIG.

Na Guiné, a par das tarefas militares, tomou arte na organização de festivais de poesia e representações teatrais, junto da UDIB, Banco Ultramarino e Associação Comercial.

Organizou os Cadernos de Poesias POILÃO, com autores guineenses e portugueses, do qual só saiu o primeiro número, nas proximidades do 25 de Abril de 1974, referido na História das Literaturas Africanas e no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses.

Publicou, em 1973, em Angola, o caderno de contos africanos Jangadeiro, dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela Direcção Geral de Segurança (PIDE), na alfândega da Guiné, tendo sido um elemento do PAIGC que o avisou da apreensão.

No dia 12 de Outubro de 1974, alguns elementos do PAIGC/UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau) homenagearam-no com um jantar de despedida, no Hotel SOLMAR.

Regressou a Portugal, em 14 de Outubro de 1974, no último avião militar vindo da Guiné.

Já perto da reforma, licenciou-se em Antropologia Cultural e Social e fez o Mestrado em Ciências Antropológicas.

Foi professor na Universidade Moderna. Aqui fica uma poema, referente à noite de Natal de 1973, na Guiné:

NATAL

O teu filho anda na guerra, Mãe!
E Cristo vai nascer à Meia-Noite,
para o cravarem ironicamente na cruz!

Cristo, hoje, vai nascer!
E o teu filho anda na guerra,
mascarado de soldado
e sonha em cada delírio uma rajada de versos!

Esta noite é longa, Mãe,
e Cristo vai nascer na memória dos homens.
As armas são círios de Presépios,
nos segredos das matas e no inferno das bolanhas!

Há cânticos
de dor e de esperança nos gritos dos soldados,
no sono dos mártires a caminho da eternidade,
na alma dos mutilados embebidas de raiva!

O som da metralha é melodia infernal!
E Cristo vai nascer nesta noite sem luz,
talvez vestido de soldado ou de vagabundo,
para estar vivo, mais perto dos homens!

Faz uma prece, Mãe!
Cristo vai nascer entre cânticos celestiais
e o teu filho rasteja nos lodos febris da guerra!
Na guerra real, onde as picadas são trágicas e letais,
e a vida parece irreal, num delirante e último sonho, Mãe!

Guiné 63/74 - P2724: Dando a mão à palmatóría (7): O obus 11.4, da Primeira Guerra Mundial, mais conhecido pelo Bonifácio (Luís Graça / Nuno Rubim)

1. Comentário do editor, L.G.:

Erradamente legendámos esta imagem, nestes termos (1): Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > Uma das fotografias-ícones da batalha de Guileje: a expressão de preocupação estampada no rosto do Major Coutinho e Lima, por detrás de uma viatura blindada ou de uma peça de artilharia... O comandante do COP5 terá, de motu proprio, decidido abandonar Guileje para salvar 600 vidas. Decisão que os seus superiores hierárquicos nunca lhe terão perdoado. Recorde-se que ele esteve preso preventivamente em Bissau, de 22 de Maio de 1973 até 12 de Maio de 1974. O auto de corpo de delito que lhe foi levantado, por despacho do General António de Spínola, de 22 de Maio de 1973, tinha a seguinte justificação: (i) Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guileje para Gadamael, sem que para tal estivesse autorizado; (ii) Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições; (iii) não cumpriu a missão que lhe foi atribuída.

Além disso, havia também um erro na atribuição de autoria da fotografia:

Estas fotos, originalmente publicadas no 'Público', devem ser da autoria do Fur Mil Carlos Santos, da CCAV 8350 (1972/74), segundo informação do seu e nosso camarada e amigo José Casimiro Carvalho, também ele da mesma unidade (Os Piaratas de Guileje) mas que nesse dia estava em Cacine . Gostaríamos de confirmar esta informação junto do próprio Carlos Santos, cujo paradeiro desconhecemos. Talvez o Casimiro Carvalho nos possa ajudar nesta diligência.

Do convívio com o Cor Art Res Coutinho e Lima, na Guiné-Bissau, de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008, por ocasião da nossa participação no Simpósio Internacional de Guileje, passei a conhecê-lo melhor e cheguei à conclusão que a supracitada foto foi tirada, não em Guileje, mas sim na Academia Militar, na Amadora, junto a um velha peça de artilharia... A fotografia é possivelmente de 2004, sendo o autor o fotógrafo do Público (2), e não o Fur Mil Carlos Santos, da última unidade de quadrícula de Guileje, a CCAV 8350, como eu supunha, erradamente, a partir de um palpite do J. Casimiro Carvalho.

Em nota que me enviou, e que reproduzo a seguir, o Nuno Rubim (que é o nosso assessor-mor para as questões de artilharia e de história de artilharia, uma grande honra e privilégio, para mim e para o nosso blogue) vem dizer-me que a peça, acima reproduzida, é afinal uma peça de museu... Este homem tem cá um olho clínico, não deixa passar nada!...

As minhas desculpas a todo o mundo. Aqui fica a correcção. Como noutras situações, o nosso blogue (ou melhor, o editor e a sua equipa) dá a mão à palmatória (3). O meu Oscar Bravo (Obrigado) ao Nuno... LG


Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia > Museu > s/d > Obus 11,4 cm TR m/917, mais conhecido como o Bonifácio...

Foto: © Nuno Rubim, (2008)


2. Mensagem do Nuno Rubim:

Caro Luís

O material que surge na fotografia do Cor Coutinho e Lima é o Obus 11.4cm T.R. m/ 917, mais conhecido na gíria dos antigos artilheiros pelo Bonifácio. Trata-se de um tipo de b.f. cedido pelos ingleses aquando da 1ª Guerra Mundial, tendo servido na Flandres, nunca tendo sido distribuído, ao meu conhecimento, às unidades de artilharia de África. Foi justamente substituído pela parelha 11,4/14 cm no início da 2ª Guerra Mundial.

A foto que te envio é de um exemplar pertencente ao Museu da EPA [- Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas].

Um abraço

Nuno Rubim


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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 3 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

(2) Título do Público: "Coronel Coutinho e Lima: Salvou 600 vidas mas foi castigado por Spínola", PÚBLICO, Domingo, 16 de Maio de 2004, por Eduardo Dâmaso.
Artigo reproduzido, com correcções, no poste de 27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

(3) Vd. último poste desta série: 17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2658: Dando a mão à palmatória (6): Desabafo do Mário Dias (José Teixeira)