terça-feira, 3 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2914: Em busca de...(28): Quem conheceu o Inissa Cassamá, Soldado Enfermeiro, natural de Sangonhá? (Famara Cassamá, irmão)

Famara Cassamá entrou recentemente em contacto connosco, através do Nelson Herbert (da Voz da América, já aqui apresentado como um guineense da diáspora), pedindo informações sobre o paradeiro de alguns militares ou ex-militares dos tempos em que ele era um menino em Sangonhã.

1. O Nelson Herbert dava-lhe uma ajuda, informando-o de que:

"Entretanto tomei a iniciativa de reencaminhar o teu email à atenção de dois dos responsáveis pelo blogue.

Quem sabe, atraves do blogue chegues às pessoas que procuras. São milhares de antigos soldados e oficiais da tropa portuguesa, que diariamente nele se cruzam e, nisso de reencontros e localizacões, pelo que tenho seguido a distância, tem havido 'milagres'".

Nelson Herbert
Journalist-Editor
Voice of America
Washington DC, USA
__________

2. A seguir a esta mensagem, Famara Cassamá (mailto:famaracassama@yahoo.com.br)escreveu ao Nelson Herbert, em 26 de Maio, dando-lhe conta dos progressos:

"Olá, Prezado Nelson,

O digníssimo Coronel Nuno Rubim já me indicou esse blogue, só que não consegui ainda localizar nenhum deles.

Vou continuando a tentar. Aliás, já disponho do nº de telefone do Cap. Leandro, que é agora General reformado.

O meu interesse por eles é que estou a escrever um livro da minha infância. Eles estiveram na Guiné quando eu era criança.
Reencontrá-los, mesmo que através de fotos, é uma sede belamente aliviada.

Fique bem,

Famará"
___________

3. E o nosso Correspondente na América, o Nelson Herbert, em 23 de Maio de 2008 dava-lhe indicações mais precisas:


"Caro Famara,

Visita igualmente este outro blogue, que paralelamente ao do Didinho, quem sabe te faça chegar a essas pessoas...blogueforanadaevaotres.blogspot.com "
(...)

__________

4. Em 27 de Maio, Famara Cassama apresenta-se:

Olá, Prezado Briote,

Olha, o meu interesse pelo General Leandro tem, é certo, alguma dose de 'matar saudade' mesmo que através de uma foto dele, mas certo também, é que estou escrevendo uma memória sobre essa guerra colonial que portugueses e guineenses viveram sem o quererem.

Ainda, antes de vir a publicar o aludido livro de memória, eu gostaria de lho enviar para ele poder opinar, e, quem sabe, o prefaciar.

A minha memória nele jamais se apagará.

Fique bem, Prezado Virgínio Briote,

Famará
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5. Hoje, 3 de Junho de 2008, Famara faz outro apelo à Tertúlia. Seu irmão Inissa Cassamá foi militar do Exército Português. Quem o conhece e/ou quem conhece o então Capitão Vaz Pinto Monteiro, o ex-Furriel Mil Loureiro e o 1º Cabo Enfº Amorim?

Bom dia, sr. Briote,

Antes de tudo, peço-lhe desculpa pela forma como me introduzi no blog. É pela seguinte razão: tenho um irmão que vive em Cacine, uma área da Guiné que não possui internet. Ele gostaria de reencontrar velhos camaradas seus de arma durante a guerra colonial. Eis seus dados, cuja inserção no seu blog ele pede:

- Sou Inissa Cassamá, fui soldado Nº 82180069, recrutado na aldeia de Sangonhá, sul da então Província da Guiné Portuguesa.

- Especializei-me como Soldado Maqueiro no Hospital Militar de Bissau.

- Em 1970, fui transferido para o C.I.M. de Bolama.

- Em 1972 fui de novo transferido para o Hospital Militar de Bissau, onde, após especialização, passei a Soldado Enfermeiro Auxiliar.

- No final da especialização (formação), fui transferido para o Batalhão Nº 4513, da então Aldeia Formosa, mas servindo na Companhia Nº 4513, em Buba, cujo comandante (salvo erro!), era o Capitão Vaz Pinto Monteiro, até o cessar-fogo em 1974.

- Eu pertencia ao 4º Pelotão em Buba e tinha como colegas o Furriel Loureiro, o 1º Cabo Enfermeiro Amorim, natural de Porto e o meu íntimo amigo, Paulino.

Reajam Camaradas! Quero matar saudades.

Nestes contactos:

Famaracassama@yahoo.com.br
cassama@un.org

Com a devida vénia,

Inissa Cassamá (ex-soldado enfermeiro)

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O editor, Virgínio Briote

Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): O meu ponto de vista (Henrique Cerqueira)

Escreveu Mário Beja Santos, em 31 de Março deste ano, em ( P2706) Notas de leitura (5) sobre " Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros", do Cor M. Amaro Bernardo:
(...) A reunião de Spínola com Senghor, em 1972, em que o governador da Guiné propõe uma autonomia a dez anos, tem que ser encarada como uma proposta que seria liminarmente rejeitada, isto quando o PAIGC já tinha conseguido acantonar as forças armadas portuguesas nos quartéis, reduzindo-lhes drasticamente o espaço de manobra. Acresce que o autor refere os acontecimentos de 1973 e 1974, quando a Força Aérea perdeu capacidade de actuação com a chegada dos mísseis terra-ar e o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o Norte e o Leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry. Ou seja, o PAIGC ganhara uma capacidade ofensiva indiscutível, as nossas forças podiam ir esporadicamente às suas bases e acampamentos, havia mortes e feridos, mas logo tudo ficava na mesma. A partir de 1973, a solução militar estava irremediavelmente perdida. (...)


Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra, respondeu o António Graça de Abreu

A partir desta nota têm surgido, quase todos os dias, os mais variados comentários, uns manifestando acordo, outros negando a opinião do Beja Santos.
Uma boa polémica, saudável e correcta, em que a unanimidade parece surgir quando o António Graça de Abreu diz que estávamos realmente fartos da guerra.

vb


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A Guerra Estava Militarmente Perdida?




Mensagem de 28 de Maio, do Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil do BCAÇ 4610/72

3.ª Companhia, Biambe

4.º Gr Comb, CCAÇ 13, Bissorã



Olá Amigos e Camaradas da Guiné

Hoje resolvi escrever alguma coisa na tentativa de opinar sobre o assunto posto muito inteligentemente à disposição para que possamos dizer alguma coisa sobre o dito.

Eu fui Furriel Miliciano em Bissorã entre 1972 e 1974 e, por mero acaso, até tive o privilégio de ser o primeiro graduado a ter o primeiro contacto com as tropas do PAIGC no ponto de encontro entre Bissorã e Olossato, durante uma picagem para colunas de reabastecimento para o Olossato. Isto claro está no após 25 de Abril e que, salvo erro, foi em finais de Maio ou por aí.
Bom no entanto o assunto é no que se refere "À Guerra Perdida".

No meu entender a guerra ser perdida militarmente, seria muitíssimo improvável. Até porque para os Senhores da Guerra (Donos de grandes empresas que alimentavam toda a logística e outros) não iriam permitir que tal acontecesse, pois que tinham toda a segurança, tanto militar como política, assegurada por baixíssimo preço, pois que até nem os mortos enviavam para as suas terras de origem, o que aliás se veio a verificar ainda hoje, tal como tem sido provado por inúmeros documentos tanto escritos como visuais (Tvs, rádios, Simpósios e muitos outros).

Há, no entanto, um facto muito importante a referir nesta minha singela opinião e que os "Famigerados Senhores da Guerra" desprezaram: é que a grande maioria dos militares estava na guerra obrigado e como tal por mais Nacionalismo que existisse em nós, o desinteresse pela guerra era mais que latente e cada vês era maior a resistência a essa Guerra pela parte dos Portugueses na ex-Metrópole e não só: é que eu tive a oportunidade de, quando tive o primeiro encontro com os guerrilheiros do PAIGC, falar com um dos comandantes desse dia, que por sinal falava o Português corrente (tinha tirado o curso de Regente Agriculta em Santarém), e o mesmo me disse na altura que todos estavam fartos de guerra e a mesma só continuaria se Portugal assim o quisesse.

Lamento não me lembrar nem de nomes nem de datas precisas. Mas com certeza se alguém da CCAÇ13 ou da CCS do Bat 4610/72 ler estas linhas poderá confirmar ou até rectificar alguma imprecisão minha, pois que eu, desse dia, só tenho documentado com algumas fotos que pouco provam em termos de datas e acontecimento.

Quero ainda e uma vez mais deixar aqui escrito o seguinte: nós os Furriéis, Cabos e Soldados assim como a maioria dos Alferes, não tínhamos de certeza absoluta nenhuma noção se a guerra estava a ser perdida ou não, pois que a informação que nos era transmitida era sempre tão precária que a única motivação que todos tínhamos era o contar dos dias para nos virmos embora para casa e venha o mais pintado dizer o contrário que eu "acredito".

Para concluir, continuo ainda hoje a achar que nem perdíamos a Guerra nem a ganharíamos, só que felizmente os ditos senhores "DONOS DA GUERRA" desprezaram a capacidade dos OPRIMIDOS e aí sim começaram a perder a Guerra o que veio a acontecer com o dia mais maravilhoso da minha vida que foi o 25 de Abril.

Acho que, de certo modo, descrevi um pouco o meu parecer em relação ao tema, claro que será muito discutível a minha opinião, mas reparem É TÃO BOM ESTAR AQUI A DIZER O QUE SE PENSA. É ou não???
E o pior que me pode acontecer é o ser "criticado", o que me dará ainda maior prazer visto que as "Porradas e Ameaças"já nada valem não é "Senhores da Guerra?"

Um grande abraço a todos os tertulianos e em especial para aqueles que levantaram este tema para a discussão.

Henrique Cerqueira

Nota: A minha referência aos "Senhores da Guerra"não tem absolutamente nada de crítico em relação aos militares profissionais ou de carreira que na época faziam parte das nossas Forças Armadas. Vejo-me obrigado a fazer esta nota porque, embora eu nunca tenha tido o espírito militar, sempre respeitei todos os que fizeram dessa vida a sua vida profissional desde que os mesmos me respeitassem como Homem e como militar de obrigação, o que na generalidade veio a acontecer.
Fica assim uma nota de Respeito para todos os ex e actuais Militares Profissionais.

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Notas:

1. adaptação dos textos da responsabilidade de vb.

2. artigos relacionados em

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.


28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)


27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)


25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)


22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu


15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)


13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)


30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)


17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)


3. Apresentação do Henrique Cerqueira em 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2549: Blogoterapia (42): 34 anos depois (Henrique Cerqueira)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)


José Colaço
Soldado de TRMS
CCAÇ 557
Cachil, Bissau e Bafatá
1963/65





1. Em 1 de Junho de 2008, recebemos deste novo camarada a seguinte mensagem:

Nome: José Botelho Colaço
Morador no Bairro da Castelhana - São João da Talha
Posto militar: ex-Soldado de Transmissões
Unidade: CCAÇ 557 (1963/65)

Embarquei para a Guiné em 27 de Novembro de 1963 e cheguei a Bissau a 3 de Dezembro.

Em 15 de Janeiro de 1964, após o almoço embarquei num batelão rumo a Catió

No dia 23 de Janeiro desembarquei numa LDM e quase toda a Companhia, para a mata do Cachil, Ilha do Como, para participarmos na Operação Tridente (1).

Saímos do Cachil no dia 27 de Novembro de 1964 rumo a Bissau onde permanecemos cerca 3 meses.

O resto da comissão foi em Bafatá de onde saímos em 27 de Outubro de 1965

Desembarcamos em Lisboa a 3 de Novembro.

A minha profissão foi Técnico Metalúrgico, actualmente estou reformado.


2. Caro José, bem-vindo à Tabanca Grande.

Terás algumas estórias interessantes para contar, nomeadamente sobre a Operação Tridente, que aqui já foi tratada por camaradas que, como tu, nela participaram.

Cada um de nós vive e sente estas situações de modo diferente, pelo que o teu ponto de vista sobre aquela Operação será útil e oportuno.

Em nome dos Editores e da restante Tertúlia recebe um abraço.
´
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(1) - Vd. postes de:

28 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2892: A verdade e a ficção (2): Ilha do Como, Op Tridente: Queres vender a tua água ? Dou-te 100, dou-te 200 pesos (Anónimo)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

17 de Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como

de 12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "O Fur Mil Simões a refrescar-se no Corubal (1); de costas, o Alf Mil Farinha lia o jornal e alguém se preparava para mergulhar do tronco; ao alto umas pernas de alguém sentado num ramo, roubando o trono ao macaco rei do local".


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Eu e o Carvalho, Fur MIl Enfermeiro, depois de atingirmos o cume de uma das únicas montanhas que vi na Guiné, os BAGA-BAGA. À falta de melhor, dava para matar saudades do Marão" (1).

Fotos e legendas: ©
José Manuel (2008). Direitos reservados.


2. Mais um dos poemas do dia, escritos pelo José Manuel Lopes, de uma colecção de meia centena que resistiram à fúria do tempo e ao severo exame de auto-crítica do poeta (2).

Recorde-se que ele foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, com o curso de Op Esp e a especialidade de Minas e Armadilhas, esteve na CART 6250, em Mampatá, entre 1972 e 1974. Foi mobilizado já com 18 meses de tropa, em rendição individual. Teve conhecimento do nosso blogue, através do programa Câmara Clara, da RTP Dois, da Paula Moura Pinheiro, edição de 24 de Fevereiro de 2004, que foi dedicado à literatura sobre a guerra colonial.

Depois de um longo silêncio, de muitos anos, hoje fala da Guiné com a mesma paixão com que fala do seu Douro e do seu Marão, das suas vinhas e do seu vinho, da sua família e da sua quinta, da sua Régua natal (donde nunca mais saiu, desde que regressou, em Agosto de 1974, com quase quatro anos de tropa) (3)...

Conmheci-o no nosso III Encontro Nacional. Por outro lado, tem aparecido nos almoços de 4ª feira da tertúlia de Matosinhos, na Casa Teresa, e é pessoa de uma grande sensibilidade, generosidade e hospitalidade. Na véspera do feriado do 25 de Abril último, escreveu-me:

"Se vieres neste fim de semana [, cá acima], na Sexta às 8 horas estou a iniciar uma caminhada da Régua ao Marão, com mais 130 caminheiros que acaba num almoço lá na serra, hoje mesmo vou fazer o reconhecimento do percurso, que é duma beleza e paz impressionantes. O resto do fim de semana estou em casa, o meu contacto é 916651640. Um abraço, José Manuel".

Ele autoriza-me que divulgue o seu número de telemóvel, para os camaradas e amigos que passem pela Régua o poderem contactar, conhecerem a sua quinta e provarem os seus vinhos... (LG)


Seria bom esquecer
a nós mesmos perdoar
pelas balas disparadas
pelas minas plantadas
hoje
vejo o mundo pelo avesso
tudo me parece cinzento
oh
que saudades eu tenho
daquele miúdo travesso
pelas vinhas a correr
com os cabelos ao vento
nos carros de bois pendurado
a sair do nosso rio
com o cabelo molhado.

Mampatá 1974
josema

__________

Notas de L.G.:

(1) O Rio Douro e a Serra do Marão eram duas referências constantes do poeta e do combatente, perdido em Mampatá, no sul da Guiné, nas proximidades da margem esquerda do Rio Corubal...

Vd. postes de:

21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2868: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (7): Homenagem a um camarada, poeta e viticultor, o José Manuel

28 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

(2) Vd. os últimos seis postes desta série >

25 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

domingo, 1 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2910: Estórias de Juvenal Amado (10): A patrulha nocturna (Juvenal Amado)



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor,
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro,
1972/74



Galomaro> Juvenal Amado equipado para qualquer eventualidade, mesmo para uma emboscada nocturna de castigo.
Foto: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados.



Mais uma narrativa da série Estórias do Juvenal Amado (1).
Desta vez uma emboscada nocturna, de castigo, com um grande susto à mistura.

A patrulha nocturna
por Juvenal Amado

Deitado na escuridão perto de mim o Silvestre, tomava posição à minha esquerda.
Para os meus camaradas, já tão habituados, era mais uma patrulha nocturna. Para mim que tantas vezes os levei para essas mesmas patrulhas, era a primeira vez.

Era uma noite particularmente escura. O silêncio total ampliava os sons da natureza selvagem. Qualquer ruído era motivo de sobressalto e da máxima atenção. Meditava no que me tinha levado, a fazer aquela patrulha nocturna por castigo.

As colunas a Bafatá tinham sempre muitos voluntários. No início do mês com o pré fresco no bolso, era uma corrida para ver quem ia. À medida que o mês avançava, ia diminuindo a oferta mas sempre se arranjava malta, para coluna que trazia o correio.

O furriel Claudino era o responsável pela coluna. Entre outros iam o Caramba, Ivo, Silva, Aljustrel, etc.

No restaurante do Libanês na rua principal, comemos febras de porco batatas fritas e ovo a cavalo, bebemos uma garrafa cada um de Dão branco muito fresco. Como um prato tão simples nos transportava para casa e para outra época, em que não comíamos com a espingarda e um monte de granadas, penduradas nas costas da cadeira.

Rematamos com um charuto e whisky, oferta da casa. Antes já tínhamos bebido umas cervejas. Tudo isto se passava entre as 10 e as 11, 30 horas da manhã.

Uma coluna de Canquelifá, também lá estava nesse dia e como de costume, eram bem regadas as visitas a Bafatá.

Bem bebidos, foi uma carga de trabalhos, para juntar o pessoal e regressar a Galomaro. Quem guiava era o meu condutor periquito.

Quando chegámos, fora de horas, ao entrarmos na porta de armas, demos de trombas com o Comandante, que de cara carrancuda e bengalim na mão, ficou a ver o espectáculo que foi o furriel cair da Berliet abaixo, quando tentava manter algum aprumo. O Silva a arrastar a espingarda pela bandoleira parada fora, como se um cão se tratasse e todos muito entornados. Era na verdade um espectáculo deplorável, aquele que nós apresentávamos.

Aí está o Tenente Raposo de papel na mão, para recolher os números de ordem. Íamos levar uma porrada. E logo no fim da comissão.

Apanhámos todos vários castigos. Reforços no quartel, nos postos avançados e alguns de nós, também apanhámos patrulhas nocturnas, mas o pior de todos foi a proibição, de voltarmos a Bafatá até ao fim da comissão.

A coisa só ficou por ali, porque o capelão em regresso de Bissau, vinha integrado na coluna e intercedeu por nós, dizendo que não nos tinha visto fazer má figura na cidade.

E ali estava eu na escuridão, emboscado entre Campata (*) e Cansamba na direcção do Dulombi, com dez ou doze quilómetros, para fazer a pé até ao Quartel.

Havia um trilho e o pelotão do Pel Rec estava posicionado em “L" mais aberto, aproveitando uma curva. São talvez 20 horas.

Deitado de bruços com a G3 apoiada à minha frente não via hora de regressar ao quartel tomar um banho e deitar-me.

O Comandante do Batalhão de Bafatá tinha telefonado ao nosso, contando-lhe que a malta da CCS do BCAÇ 3872 andava de rastos a correr todos os sítios onde houvesse de beber. Na verdade os gajos de Canquelifá, também andavam bem tratados e a figura deles não era melhor que a nossa. Só que eles não tinham lá o Castro e Lemos.

Nisto fico com o sangue gelado. Há movimento no trilho. Ouvem-se distintamente os passos de vários pessoas a caminhar. Ninguém se mexe. Os homens da frente deixaram passar, ouvimos vozes de crianças. Era um homem e duas mulheres com duas ou três crianças que regressavam a uma aldeia próxima.

Não fizeram ideia de que passaram tão perto da morte. Ali ficámos uma hora ou mais, estava cada vez mais escuro. O Furriel Castro deu a ordem de regresso.

Agora é que ia ser o bom e bonito. Não via nada, o Ivo ia à minha frente no seu caminhar bamboleante, de quem estava habituado a caminhar no mato, com o peso das granadas e cartucheiras. Ao passar afastava o ramos que por sua vez, me vinham bater na cara. Aqui caio e ali me levanto, esta marcha está a ser um tormento. Estou mesmo com medo de me perder, tal é a escuridão.

Como solução o Ivo, desengata a bandoleira da G3, estende-ma e é assim comigo atrelado, que chegamos perto de Galomaro.

Vê-se as luzes do arame farpado. São praticamente 11 horas e 30 minutos quando retirámos a bala da câmara e entrámos no destacamento.

À nossa espera está um banho e a bianda com estilhaços que é o prato mais famoso do restaurante da Morte Lenta.

Já estou com saudade do restaurante do Libanês. O pior do castigo, é mesmo não poder integrar, mais nenhuma coluna a Bafatá.

Efectivamente voltei a Bafatá, integrado em colunas de Cancolim, mas muitos dos que estavam comigo naquele dia, nunca mais lá voltaram e assim se cumpriu a proibição.

Juvenal Amado

Anotação de Juvenal Amado

(*) Campata era uma aldeia com autodefesa feita por milícias oriundos da população.

Uma das particularidades deste grupo armado, treinado e pago por nós, era o de ser comandado por um chefe fula, que estava em permanente litigio com o chefe religioso da povoação, porque bebia cerveja e comia carne de porco. Todos nós sabemos que são duas coisas, completamente proibidas pela sua religião.

Esta aldeia foi atacada violentamente, originando muitos feridos na população.
Os tectos a arder, caíram sobre quem dormia dentro das casas e queimaduras graves, em alguns habitantes foi o resultado. Entre os queimados, estava um menino chamado Mamadu, que ficou com as costas, um braço parte da barriga e peito, numa chaga.

Também foi um dia negro para a guerrilha, pois deixou seis mortos no terreno. Fomos com as viaturas até perto das Duas Fontes, sem luz e lentamente aproximamo-nos da aldeia. Regressamos de madrugada com os feridos e um guerrilheiro, que veio a falecer pois estava gravemente ferido.

O Mamadu sofreu muito, embora tratado pelo dr Pereira Coelho, o furriel enfermeiro Graça e o enfermeiro Catroga, com o máximo de cuidado. Todos os dias eram mudadas as compressas e os gritos do menino, eram atrozes. Ficou a viver no quartel quase dois anos. Bastante deformado, voltou para Campata quando tudo estava cicatrizado.
A aldeia também foi reconstruída, seguindo os mesmos processos que relatei sobre Bangacia (2).
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Notas de CV:

(1) - Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2882: Estórias de Juvenal Amado (9): Há dias de sorte

(2) - Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P2909: Convívios (62): Encontro do BCav 490 (Valentim Oliveira)

Convívio do BCav 490

Mensagem do Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:

Amigo Virgínio,

Mais uma vez me dirijo á Tabanca Grande, para comunicar que o Convívio do Batalhão de Cavalaria 490 se realizou ontem, 31 de Maio 2008, em Vendas Novas.
Foi um convívio feliz pelo encontro de velhos Camaradas, que, muitos de nós só nestas alturas se encontram.

Para o ano de 2009, mais precisamente no último sábado do mês de Maio, o convívio vai ser em Viseu na "Quinta dos Compadres"- Restaurante bem conhecido no país inteiro.
Aproveito, desde já, para te convidar bem como a outros Camaradas (que tenham convivido com o Batalhão de Cavalaria 490, nos anos 64 e 65 na Guiné.
Junto envio algumas fotos do convívio realizado ontem em Vendas Novas.
Um abraço para ti e para todos os que lêem e fazem parte da Tabanca Grande.
Até breve,

Valentim Oliveira

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Imagens e texto do Valentim Oliveira.




Bolo com o emblema do Batalhão de Cavalaria 490





A mesa onde eu me encontrava. Do lado esquerdo o meu colega Luís Coimbra e do meu lado direito a minha esposa...





Linda paisagem em frente ao quartel de Vendas Novas.





Eu e o meu colega Luís Coimbra, que era também da CCav 489 (que esteve estacionada em Cuntima até Agosto de 1965).

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Notas de vb:

1. Caro Valentim,

Tenho pena de não ter tido conhecimento. Era com muito gosto que gostaria de rever os Camaradas que conheci em Farim, Cuntima e Jumbembem, entre Janeiro e Maio de 1965.

Apesar de não ter estado com o pessoal do BCav 490 mais que cinco meses foi com muito orgulho que fiz parte de tal gente.
Se tiveres mais fotos do encontro agradeço que mas envies, com a identificação possível.

Um abraço,
vb

2. artigos relacionados em

23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

13 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2756: Tabanca Grande (62): 14 de Abril de 1965, domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira, CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

Guiné 63/74 - P2908: (Ex)citações (2): Conto histórias da vida, o que foi, o que será, sou 'kora djalô', tocador de kora (José Galissa)


José Galissa, Guiné-Bissau, tocador de kora, contador de histórias, 43 anos: declarações recolhidas por Ana Sofia Fonseca, Única, Expresso, nº 1857, de 31 de Maio de 2008:

"Sou tocador, não poderia ser outra coisa. Meu pai, meus onze tios - todos tecem música (...).

"No meu crioulo - sou mandinga - dizem 'kora djalô'. Tocador de kora (...).

"A história da Guiné conta-se com o indicador e o polegar (...). Sempre que entrego os meus dedos às cordas, a Guiné desfila perante mim. Vèm de longe, as raízes deste país (...)

"Antigamente, era o 'kora djalô' quem levava as mensagens país adiante (...).

"[Canto] a guerra tribal entre mandinas e fulas. A origem e a vida de cada nome (...).

"[A memória que conservo mais viva foi] a do dia da independêncioa. Estava na escola quando a professora apareceu a sorrir: 'Meninos, a guerra acabou'. Foi festa, paz a moldar sorrisos. Sem guerra, há alegria. Quando as balas andam à solta, as noites são mais escuras (...)

"[Venho] de Gabu, a muitos quilómetros de Bissau. É uma terra plana, bonita. Falta-lhe mar, sobeja-lhe ribeiro (...). Gosto de Gabu, é cidade de muitos encontros (...)"

sábado, 31 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.


Pombal , 28 de Abril de 2007. No decorrer do nosso IIº Encontro, o Vitor Junqueira, o Luís Graça e o Ten Cor A. Marques Lopes (em 2º plano).

"Num gesto de grande simbolismo e beleza, o Vitor - verdadeira caixinha de surpresas - fez questão de ser condecorado por dois dos seus camaradas de Guiné: o A. Marques Lopes, o mais graduado de todos nós, coronel DFA na reforma, e que foi gravemente ferido em combate na zona leste; e eu, próprio, Luís Graça, na qualidade de fundador e editor do blogue...

A condecoração, sobre a qual ele foi lacónico, teria a ver com a sua brilhante folha de serviços como militar, ou seja, como oficial miliciano. Foi-lhe atribuído, segundo percebi, pelo Chefe do Estado Maior do Exército e era para lhe ser entregue no 10 de Junho de 1974, não fora o conflito com outra data, o 25 de Abril de 1974, que veio mudar o curso dos acontecimentos.A cerimónia acabou por ser adiada trinta e três anos... Simbolicamente, a medalha por bons serviços foi-lhe entregue no dia 28 de Abril de 2007, por dois camaradas seus, na sua terra, na terra que ele muito ama... Um gesto bonito num dia bonito, em que realizámos, mais uma vez, o sentido da palavra camarada... Estes fotos, mandou-mas o Xico Allen. Estavam à espera de uma boa oportunidade para aparecerem no blogue (que nem sempre é do nosso contentamento)... Vitor, sei que as vai pôr no teu álbum, com muito orgulho. Obrigado, Xico, pelo teu gesto.


Luís Graça.
Fotos: © Xico Allen (2007). Direitos reservados.

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Mensagem do Vítor Junqueira, de 28 de Maio

Amigos Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote,


Espero que estejam a passar uma boa noite, caso ainda estejam acordados e ao computador! Se não for esse o caso, então a noite até pode estar a ser excelente ...Mando-vos mais um escrito que gostaria de ver publicado, logo que possível para não se perder o contexto.


Obrigado e um abraço,
Vítor Junqueira

A guerra (na Guiné) estava militarmente perdida?



Cap. I



Um pouco de verdade, um pouco de especulação, um pouco de história ou como se misturam alhos com bugalhos …


I - "Quem vai à guerra dá e leva" (pop.).
Mas atenção, eu não quero bulhas com ninguém! Não desejo controvérsias nem tão pouco contribuir para alimentar uma "boa polémica" (post 2872).

Bem sei que palavra puxa palavra e, quando se contestam teorias enraizadas, há sempre o risco de ferir orgulhos e vaidades. Assim se pode resvalar para uma espécie de guerrilha de pontos de vista, sempre desagradável, senão mesmo nefasta para a saúde. Vejam o que esteve para acontecer ao Galileo! E se não está no meu íntimo fugir a uma galharda discussão, façam-me o favor de acreditar que de momento não estou para aí inclinado. Quanto a outras guerras … depois de eu abraçar e ter sido abraçado por quem me quis limpar o sebo, vou agora pelejar com quem?

À tertúlia, ofereço este (desa) bafo, gizado em tarde chuvosa, a puxar para a melancolia e lanzeirice (não está no dicionário).

Após leitura atenta do último post da autoria do Graça Abreu, dei comigo a assobiar aquela cantiga que todos conhecem:

Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu, se houvera quem me ensinara quem aprendia era eu.

Fiquei a matutar na coisa … se houvera quem me ensinara, quem aprendia era eu! Esclarecer os ignorantes é mandamento cristão. Quem quererá ensinar-me? Mas por amor de Deus, não me mandem estudar! Já vivi o tempo suficiente para saber que burro velho não toma ensino e o papel de que são feitos os livros, aceita o que nele quiserem pôr. E o que poderia eu aprender através de uma certa produção literária e artística, prolixa e bem ao jeito do status quo, daqueles que descobriram o eldorado da guerra colonial para fazer umas massitas, esquecendo-se de convidar para a mesa de trabalho, a verdade e o rigor histórico dos factos como parece demonstrar o post nº2889, da autoria do Mário Dias?

Jornalistas, políticos, diplomatas, embaixadores e outros doutores, há-os sérios e escrupulosos. Sem dúvida. Mas são tantos aqueles que a quatro mil e quinhentos quilómetros de distância continuam a discorrer sobre a guerra e seus horrores, sem nada saberem daquilo que se passava no terreno! Ou sabem, por ouvir dizer, mas a quem? Aos do costume, naturalmente. Porque quem não se apresenta inequivocamente como curador do sistema ou não age como tal, não encontra audiência em lado nenhum. Essa é que é a verdade desde há pelo menos oitenta e dois anos (48+34).

O pobre do ouvinte, leitor ou espectador comum, não tendo parâmetros para avaliar a credibilidade da informação que lhe é oferecida, que em muitos casos não vale o peido de um caracol, está tramado. E lá vai mais um para o rebanho!
Falando de credibilidade, quem não se lembra de um alto responsável doméstico (ou domesticado?), afirmar a pés juntos que tinha visto com os próprios olhos, documentação que comprovava a existência de armas de destruição massiva no Iraque, e que não tinha dúvidas sobre as ligações de Saddam Hussein à Al-Qaeda? Repetia acriticamente, como um papagaio, a argumentação do seu master. Por mera ingenuidade? Quis ou conveio-lhe ser enganado?
E porque hão-de merecer mais crédito aqueles que há perto de quarenta anos se dedicavam em ou a partir de Lisboa, à proveitosa arte da manigância política, do golpe conspirativo, da boataria mesquinha?

Na minha opinião, nem mais nem menos. São peixe da mesma canastra. Para nós, desvalidos peões, torna-se vital exercer sobre estes passarocos apertada vigilância e sobretudo, nunca abdicar do princípio da dúvida sistemática quanto ao que fazem, dizem ou escrevem. Para não voltarmos a ser intrujados.
E já agora, permitam-me os camaradas introduzir aqui um texto recente de Mário Soares, que muitos consideram o pai da democracia portuguesa:

"O tempo passa a correr … Há cinco anos … realizou-se nos Açores a chamada Cimeira da Vergonha, em que … o homem mais poderoso da terra e três primeiros ministros europeus … decidiram unilateralmente, com falsos argumentos, intencionalmente forjados, invadir o Iraque … Porque razão – ou razões – o fizeram? A história está por fazer. Mas será feita … Quanto aos europeus, o que os moveu foi principalmente a subserviência perante o patrão americano e o deslumbramento … Mas para que lhe serviu? Que respondam os mortos no seu silêncio … e os vivos que aí estão para contar, os crimes, os assassinatos, a tortura as destruições, as pilhagens, os atentados aos Direitos Humanos, que se fizeram à sombra da arrogância e da ganância … Talvez um dia – quem sabe? – o Tribunal Penal Internacional, se lembre de os julgar pelo mal que fizeram à Humanidade."

In “cinco anos depois”, textos de Mário Soares, Lisboa, 14 de Março de 2008.

A este resumo acrescento eu um pequeno léxico:

1 – Guantanamo

2 – Abu Grahib

3 – Rendição de prisioneiros

4 – Guerra preventiva

5 – Prisões secretas

6 – Voos secretos

7 – Harsh interrogations

8 – Waterboarding

9 – Eixo do Mal

10 – Danos colaterais

…e é melhor ficar-me por aqui, porque como diz a publicidade os acidentes são reais!

A reflexão do Dr. M. Soares suscita-me outras questões.


Pergunto:

- Quem foram os grandes mentores de Saddam e dos estudantes corânicos?

- Quem armou e guiou a mão do UÇK com o objectivo último de encontrar um pretexto para intervir, arrasar e desmembrar a Jugoslávia?

- Quem bombardeou escolas, pontes, infantários, maternidades, estações de televisão, comboios, colunas de autocarros e tractores apinhados com camponeses em fuga, arraiais, festas de casamento e funerais?

Os aviões e os canhões da gloriosa Nato, claro!

Tem sido assim, já lá vai quase uma década. No Iraque, no Afeganistão, nos Balcãs.
E é a estas bandalheiras dos grandes do mundo, que as forças armadas do Portugal democrático estão a dar cobertura!?
Ou não estarão a sancionar com a sua presença, como quem assina de cruz, alguns dos crimes mais bárbaros e hediondos cometidos contra seres humanos, desde que a humanidade existe? Partem por consciência do dever, apenas, ou porque existe, dizem, um forte estímulo financeiro?

É que já me contaram algo que só pode ser boato: a primeira comissão daria uma boa entrada para um apartamento, a segunda, paga os tarecos e a terceira o automóvel. Será que a tal História de que fala Mário Soares, os vai contemplar também? Tantas dúvidas.

Ou, de outra maneira, o burro sou eu?

E que diferença de tratamento camaradas, relativamente aos ex combatentes do ultramar! Enquanto sobre os expedicionários dos tempos modernos assentam os holofotes encomiantes da comunicação social e as palmadinhas nas costas das altas patentes, alguns (muitos?) dos nossos, os mais vulneráveis, vão tentando sobreviver a todos os tipos de desprezo a que foram votados por quem pode e manda. Para já não falar de campanhas mais ou menos encapotadas, visando a honra e dignidade daqueles que serviram a Pátria nas ex-colónias.
Chegaram a ser olhados com suspeição, quase como um perigo para a estabilidade da democracia.
Perderam os apparatchiks, porque ainda que tarde, a verdade e a justiça sempre prevalecem.

Os ex-combatentes não querem mordomias, apenas exigem ser tratados com o respeito que lhes é devido, inclusive, por aqueles que dizem ter sido seus camaradas de armas. E não me acusem de ser demagogo, porque não tenho estudos para isso!


II - Diz o pagode que quem sabe da tenda é o tendeiro.

O camarada António Graça Abreu, não só sabe da tenda, como parece disposto a ensinar a quem quiser aprender. Não me repugnaria nada reconhecer a outros, uma visão igualmente abrangente e fundamentada da situação militar – capacidade operacional, êxitos no terreno, etc. – das forças em confronto no CTI da Guiné nos já longínquos anos da década de setenta.

Mas, como já disse e até o escrevi neste Blog, dadas as funções que desempenhou nos CAOPs (norte, centro e sul), parece-me razoável considerar o Graça Abreu, um profundo conhecedor nesta matéria.
Não ouso por isso acrescentar ou retirar um ponto que seja ao que escreveu. E também não me parece que entre os Tertulianos venha a perfilar-se alguém com mais autoridade do que ele para se pronunciar sobre factos. Porque em matéria de pressupostos, suposições, conjecturas e arte de adivinhação, não faltam ingenhêros.
Mas se existe por aí alguém com mais bagagem, faça o favor de dar o marcial passo em frente.
No entanto, acho que seria bem mais interessante e certamente esclarecedora, uma apreciação pessoal sobre a tese da guerra militarmente perdida feita pelas centenas de camaradas que compõem este operacionalíssimo Comando Bloggista!

E como na carta de princípios desta comunidade se pode ler "Não deixes que sejam outros a contar por ti, a tua história", torna-se imperativo, acho eu, que todos contribuam com a sua perspectiva para que se faça luz sobre esta matéria, e acima de tudo, que a mesma seja menos monocromática e mais do tipo caleidoscópico.

Se cada um de nós se pronunciar sobre a situação concreta na ZA da respectiva unidade e, existindo no nosso seio elementos representativos da dispersão das forças portuguesas por todo o TO da Guiné, como eu julgo, devemos ter uma visão global do que lá se passava.

Fica aqui o desafio.
Formulo a seguir algumas hipóteses de trabalho, frisando bem que não se trata de nenhum questionário. São meros exemplos das questões que cada um poderá colocar a si próprio.

- É verdade ou não que existiam áreas libertadas, verdadeiros santuários do PAIGC, onde a tropa portuguesa não conseguia entrar?


- Tens conhecimento de alguma aldeia, lugar ou sítio que o PAIGC tenha subtraído militarmente ao controlo das NT?


- Na tua zona, a actuação das forças inimigas indiciava qualquer estratégia de controlo territorial ou era mais do tipo bate-e-foge para a segurança das linhas de fronteira?

- Nas operações em que participaste, a força a que pertencias foi alguma vez obrigada a retirar antes de iniciar, ou sem concluir a missão?

- Nas acções da iniciativa do IN, tipo emboscada, quem retirava e quem explorava o êxito, o adversário ou a tua força?
- Como se manifestava no terreno a (propalada) superioridade armamentista das forças inimigas?


- É verdade que os guerrilheiros se apresentavam de uma maneira geral mais bem treinados e aguerridos do que as NT?

- As flagelações ao teu aquartelamento produziram estragos e perdas humanas importantes do nosso lado (mortos, feridos), ou eram na maioria das vezes aleatórias e inconsequentes?

- Durante a tua comissão houve alguma tentativa do In para tomar de assalto as instalações da tua unidade?

- Ouviste dizer que tenha havido alguma, antes ou depois de teres passado à peluda?
- Tiveste problemas com os reabastecimentos, recolha de lenha, abastecimento de água etc. devido ao aumento da pressão do In sobre o itinerário das colunas?

- No período em que permaneceste no mato, qual é o teu sentimento quanto à situação das NT no terreno: evoluiu para melhor, piorou ou manteve-se inalterada?

III - E para exemplificar, vou abrir estas pacíficas hostilidades relatando o ocorrido na área que foi adjudicada à minha Compª, à qual foi determinada, como a tantas outras, a obrigação de "eliminar ou pelo menos expulsar da sua zona de acção qualquer elemento do IN …etc., etc.", isto é: manter a casa limpa e arrumada.

Trata-se de um modesto testemunho, restrito no espaço (Mansabá, Bironque, Madina Fula, K3 e regiões limítrofes), e limitado no tempo (1970 a 1972).
Fiquem os camaradas descansados que não vou aborrecer-vos com a descrição de operações com nomes exóticos.

Sou um homem de coração mole, não gosto que me falem de mortos e feridos, emboscadas explosões e ferros, comandantes espavoridos aos berros, relatadas ao pormenor, como um jogo de futebol.
Estava então em curso, a reabertura de uma importante via de comunicação que ligava a capital ao norte do Território (e não Província, para que não dê um treco nos mais puristas).


A estrada Mansabá-Farim em Fev. 1971.
Foto de Carlos Vinhal.

Segundo ouvi da boca dos altos responsáveis militares daquela altura com quem tive o privilégio de dialogar, ir de Mansabá a Farim por via terrestre, era coisa que não acontecia havia pelo menos uns cinco anos. E não vale a pena contrariarem-me, porque o que encontrei comprova-o. Da estrada, apenas existiam escassos vestígios, já que a mesma havia sido totalmente engolida pela floresta.

Minada e sob a mira constante das armas do IN que por ali possuía alguns coutos mais ou menos permanentes e certo controlo sobre populações dispersas pelo mato, era impraticável para as nossas FA. A seu lado, corriam os trilhos logísticos que dando seguimento aos carreiros de Sitató e Lamel, permitiam a ligação entre as bases do PAIGC situadas no sul do Senegal e as dos meus vizinhos do Oio e do Morés.

Pois bem, entre Novembro de 1970 e Março de 71, a estrada foi reconstruída, devidamente asfaltada ainda hoje lá está que se pode ver. Nos meses seguintes, a região foi limpa no que se refere a estruturas permanentes do IN, e a circulação rodoviária começou a fazer-se com todo o conforto e segurança entre Bissau e Farim. As populações passaram a deslocar-se sempre que o desejavam …

E a tropa beneficiou também, com uma qualidade de vida quase faustosa, já que as colunas de reabastecimento deixaram de ser problema. Aquilo não era o paraíso mas andava lá perto. (Piada!)
Quanto aos papões do Oio e Morés, só posso dizer-vos que os comandos africanos iam lá sempre que desejável, geralmente apoiados pela nossa tropa mais especializada mas, os "arre-macho" também participavam, chegava para todos. Invariavelmente, o resultado era manga de ronco.
Este vosso amigo passeou-se lá pelas barbas e teve oportunidade de fazer uns trabalhitos com sucesso. E assim foi aumentando o nosso grau de confiança (e segurança …) até ao adeus às armas em Julho de 1972.

Eis a minha história, em tamanho reduzido, da qual cada um extrairá as conclusões que lhe aprouver. Fico a aguardar impacientemente que a vossa chegue na volta do correio. Isto é como nos casamentos, quem quiser falar que o faça agora ou cale-se para sempre! (mais uma laracha)

Cap. II

"A guerra não estava militarmente perdida, a rapaziada é que estava farta daquilo"

Apesar da busca exaustiva a que me entreguei, não consegui identificar o autor destas palavras que li há poucos dias no Blog.

Acho que quando passei os olhos por cima da frase não a valorizei como devia, certamente por achar óbvio o seu significado. Hoje venho reconhecer que são palavras sábias que dizem muito mais do que a semântica pode exprimir. Elas são o retrato a muitos milhões de pixéis de um estado de alma generalizado.

Em "a rapaziada é que estava farta daquilo"… está tudo dito.

Nesta reflexão tão simples e ao mesmo tempo tão profunda, podemos encontrar a resposta à polémica questão de saber para qual dos lados os ventos da guerra sopravam de feição.

E quem era a rapaziada?

1
- Em primeiro lugar, parece-me de elementar justiça citar sem contudo nomear ninguém em particular, muita gente honesta e inteligente que no regime pré-democrático serviu o Pais da forma que pôde e o melhor que soube, e nunca se serviu do regime em proveito próprio como viria a torna-se moda. Alguns ainda hoje estão entre nós, felizmente, prestando relevantes serviços à Nação. Eram gente culta e politicamente bem formada, que foi capaz de antecipar a tomada de consciência colectiva de que descolonizar era preciso. Tinham plena consciência de que perigoso seria continuar a navegar a contra-corrente da História.

Imagino que tenham utilizado toda a sua capacidade de persuasão e ascendente sobre os timoneiros no sentido de os levar a mudar de rumo.

Ora, como é sabido, a teimosia de uns é o desespero de outros e estas pessoas que estavam verdadeiramente na cabeça do boi, e como tal, fartas de levar cornadas dos seus homólogos nas instâncias internacionais, mais não podiam fazer do que limitar os danos.

2
– Os militares do QP. Dissipados os fervores patrióticos dos primeiros anos da guerra do ultramar (ou colonial, como vos aprouver…), alguns já iam na enésima expedição a África; muitos com família a reboque e filhos em idade escolar, saltitavam de comissão em comissão, e o fadário não tinha fim à vista.
A título de exemplo, Manuel Monge já ia na quarta comissão! Estavam fartos! Sinal do mal estar que grassava no seu seio, foi o protesto em Maio de 73 contra o apoio das FA ao governo através do Congresso dos Combatentes realizado no Porto entre os dias 1 e 3 de Junho do mesmo ano.

Fartérrimos ficaram, quando em 13/7/1973 é publicado o D.L. nº 353/73 – que permite aos oficiais do Quadro Especial de Oficiais e outros oficiais oriundos do Quadro de Complemento o acesso ao Quadro Permanente após um curso intensivo de dois semestres lectivos consecutivos na Academia Militar, em condições substancialmente diferentes das que até então regiam esse acesso.
Permite, além disso, rever o posicionamento na escala de antiguidades de oficiais oriundos do Quadro de Complemento já com o curso da Academia Militar e, portanto, oficiais do Quadro Permanente. (Centro de documentação 25 de Abril).

Aí, a malta do QP de origem não gostou nada de ser passada para trás por estes paisanos fardados. E ainda bem, porque este descontentamento irá dar origem à primeira reunião clandestina, realizada a 20/7/1973 em Bissau, embrião do que viria a ser o:Movimento dos Capitães – Movimento surgido em Agosto de 1973 no seio das Forças Armadas e protagonizado pelos oficiais intermédios e subalternos que visava inicialmente a mera satisfação de reivindicações de carácter corporativo.
Em breve se transformou num movimento de clara contestação política que culminou com o derrube do regime em 25 de Abril de 1974. (Wikipédia).
Foi o percursor do MFA, nascido de gestação a termo a 9/7/1973 no Monte Sobral – Alcáçovas e do cortejo de coisas boas (e algumas menos boas) que nos trouxe.

3 – Fartíssimos estavam os oficiais e sargentos milicianos. Oriundos na sua maioria da pequena burguesia nacional (que tinha meios para lhes pagar os estudos), imagine-se o que é que sentiam quando viam o seu nome no edital da senhora câmara ou junta de freguesia a convocá-los para irem batê-las!

Lá estava a indicação da data e local de incorporação, instruções quanto a guias de transporte etc., tudo bem explicadinho. Deixavam para trás um certo dolce far niente próprio da vida académica, o bem-bom da casa paterna ou a alcova da namorada e, os mais afortunados, o carocha ou spitfire, as romagens à Foz ou ao Guincho para assistir ao pôr do sol (e não só …), a frequência de lugares idílicos como Galeto, Portugália, Past. Ceuta e outros de que só ouvi falar quando já era Zé cadete.

Os estudos, na melhor das hipóteses, ficavam adiados, porque a possibilidade de apanhar um balázio e assim terminar precocemente a licenciatura, era bem real.
Note-se que os stocks de pessoal do quadro se encontravam completamente exauridos dado que, das centenas de admissões anuais à Academia Militar, se passou para as poucas dezenas no princípio da década de setenta.

Pelo que, o fardo das operações de combate recaía em grande parte sobre estes militares. Não obstante o esforço que todos fizemos para conservar o pêlo e a pele, o facto é que muitos, "velhas mulas" (mulicianos), fortemente endoutrinados por ideologias de esquerda que floresciam nas escolas como cogumelos, combatiam numa guerra que no fundo não desejavam vencer. Há que reconhecê-lo.

4 – Soldados e cabos, o povo fardado.

De tão fartos que estavam, começaram a dar sinais de congestão! Prova disso, foram as manifestações populares contra "a guerra colonial" ocorridas em Lisboa a 21de Janeiro de 1973.

Vaga após vaga, tinham sido já centenas de milhar os jovens retirados às famílias de que eram o único amparo, alguns casados e com filhos. Imolava-se a economia familiar num país pobre, essencialmente rural, onde uma agricultura atrasada a exigir o labor de muitos braços, se ressentia fortemente.
Partiam para as Áfricas para combater numa guerra que ao fim de 13 anos lhes era completamente alheia, tanto ao coração como à razão.

Se a guerra tem durado mais três ou quatro anos, a Pátria teria assistido à mobilização dos filhos dos veteranos mais antigos.


Não haveria povo que aguentasse por muito mais tempo tal provação, digo eu, em total sintonia com o pensamento de Vasco Gonçalves* quando afirma: "Os militares aperceberam-se que nem eles nem o povo português queriam a continuação da guerra" (O Militante nº 239), mesmo sabendo que "Não há sucesso sem grandes privações", (Sófocles, (496 – 406 aC).

*Força, força companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço…, cantou Carlos Alberto Moniz.


5 - Significa isto que a guerra estava militarmente perdida ou que estaríamos à beira de uma derrota militar, como gostam de apregoar os propagandistas do sistema?

Não, de maneira nenhuma. Eu voto no empate técnico! Reconhecendo contudo, que uma derrota política é sempre muito mais gravosa do que uma derrota militar.

E a derrota política, essa sim, estava em vias de consumar-se, mas aqui em casa, mais precisamente na capital do império, onde um clima de permanente guerrilha conspirativa ao mais alto nível do poder político-militar, as bem orquestradas campanhas de desinformação e contra-informação, a mesquinhês de gente pequena de uma sociedade aburguesada e corporativista, levaram Mário Soares a prever numa prosa que enviou para o "Le Monde" que há "algo de novo em Portugal e que a guerra está em risco de se perder na própria Metrópole".

Ainda que o ouçamos frequentemente defender a tese, derrotista a meu ver, da guerra militarmente perdida. Sobre este tema, conto apresentar no próximo capítulo as minhas alegações finais, se para tal me for dada a oportunidade.

Até lá, cordiais saudações para toda a Tertúlia,

Vitor Junqueira

__________

Notas:

1. adaptação dos textos da responsabilidada de vb.
2. Artigos relacionados em

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P2906: Estórias de Jorge Picado (3): Cutia, II Parte (Jorge Picado)



Jorge Picado,
ex-Cap Mil,
CCAÇ 2589 e CART 2732,
Guiné 1970/72




1. No dia 24 de Maio de 2008, recebemos esta mensagem do camarada Jorge Picado, com algumas palavras ainda sobre o nosso Encontro Nacional e com a segunda parte do trabalho que ele intitulou como Cutia.

Caro Carlos
Antes de mais quero felicitar-te - e ao Mexia Alves também - pelo excelente trabalho que desenvolveram para que o III Encontro tivesse aquele explendor. Passei um dia magnifico na companhia de tantos camaradas, quase todos desconhecidos para mim, mas que fazem parte da Grande Família Guineense.

Obrigado igualmente por destacares a foto do nosso convívio, que também já tinha arquivado à parte.

Assim que tiver disponibilidade podes crer que darei um salto até Matosinhos.

Seguem então umas palavras sobre a emboscada, que o destino determinou que não ocorresse, pois caso contrário que de certeza não se podia realizar agora esta troca de mensagens.

Jorge Picado
ex-Cap Mil


Guiné> Região do Oio> Destacamento de Cutia, situado na estrada Mansoa/Mansabá.
Foto: © César Dias (2008). Direitos reservados.


Guiné> Região do Oio> Vista aérea do Aquartelamento e Tabanca de Mansabá
Foto: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.

2. Destacamento de Cutia (Parte II)
Por Jorge Picado

Tal como prometi, vou tentar alinhavar algumas palavras sobre certos factos que se passaram após o Natal de 1970.
No entanto, antes de prosseguir, quero aqui deixar um esclarecimento.

No III Encontro realizado no passado dia 17 de Maio na Quinta do Paul – gostei muito de ter abraçado ao fim de quase 37 anos três camaradas (*) com quem partilhei 52 dias de estadia nas Terras do Oio entre Mansabá e o Rio Cacheu, bem como conhecer todos os restantes – comentava-se, num dos muitos grupos que se iam formando e entre outras coisas, que era preciso ter cuidado com a precisão com que por vezes se escrevia no blogue, talvez com recurso a meras recordações, o que a esta distância temporal podia ser ficção.

Concordo plenamente. Por isso quero desde já afirmar que ao citar por exemplo, números concretos quanto a horários, faço-o, porque são aqueles que constam das parcas anotações existentes na pequena agenda de bolso que mantenho e foram lá colocados, quando me encontrava no terreno. Estes, dos horários das colunas, tem apenas a precisão de quartos de hora, mas estão lá. Por isso devo citá-los. Aliás, já nas minhas notas sobre a emboscada do Infandre (1), transcrevi precisamente aquilo a que chamei hieróglifos e procurei depois traduzir.

Quando não tenho a certeza, mas apenas uma ideia, deixo sempre expressa a dúvida ou assinalo com (?). Nesses casos, ficarei muito contente que outros confirmem ou corrijam.

Por julgar que de facto só se deve transmitir algo de que se tenha uma relativa certeza, para quem não se documentou enquanto lá esteve, é que, apesar de ter passado por tantas localidades como referi na minha apresentação ao blogue, tenho muito pouco para contar.

Passemos então aos factos sobre Cutia.

Em virtude das decisões tomadas pelo COMCHEFE de prosseguir com a melhoria (alargamento e asfaltamento) do itinerário para Farim, que à data, creio chegava ao Bironque, foi activado o COP 6, reforçados os meios estacionados em Mansabá (com a colocação de Paras, CAV – viaturas Panhard(?) e não sei se mais), além de 1 CCAÇ colocada no K-3 comandada pelo Cap Mil Cupido (natural e ainda residente em Mira, meu conhecido e do mesmo curso do CPC) e ao mesmo tempo reorganizadas as Forças estacionadas em Cutia, razão pela qual eu aí fui colocado.

A missão de que fui incumbido foi a de proteger as colunas de viaturas civis que transportavam o pessoal, maquinaria e todo o tipo de material necessário à execução de tal empreitada, entre Mansoa e Mansabá.

Assentei arraiais neste Destacamento no dia 27 de Novembro de 1970 - uma sexta-feira, mas não 13 – e iniciei a nova actividade sobre rodas logo pelas 7 horas de domingo, 29, indo a Mansabá para a partir daí efectuar a primeira das 24 escoltas a colunas que realizei levando-a a Mansoa. Aqui formei nova coluna com as máquinas e viaturas vindas de Bissau, escoltando-as até ao seu destino em Mansabá, para depois regressar a penates ao princípio da tarde.

Apesar de durante o período que decorreu até 3 de Fevereiro de 1971 (quando a CCAÇ 2589 realizou a última coluna escolta Mansabá-Mansoa 15H) ter deixado algumas vezes o comando do Destacamento ao Alferes mais graduado durante ausências que nunca excederam 2 dias seguidos, apenas falhei uma escolta no dia em que fui ao dentista ao HM de Bissau, tendo regressado a Mansoa já depois da coluna ter saído para Mansabá.

Confesso que ao efectuar esta última coluna foi com grande satisfação que, comungando com a alegria do pessoal da CCAÇ ao despedir-se daquelas paragens – já que iam aguardar em Mansoa a sua retirada para Bissau a fim de serem recambiados para as suas terras de origem –, também eu me despedi de Cutia e Mansabá onde acreditava não mais colocar os pés. Puro engano e ingenuidade deste vosso camarada de Tabanca, que julgava ser possível, só lá porque tinha 1 ano de mato, arranjar uma colocaçãozita em qualquer secretária das muitas existentes em Bissau, mas que pelos vistos se destinavam aos predestinados… Porém isso já são outras estórias…

Nestas colunas muitas vezes também se incorporavam forças da CART 2753 e, excluindo as dores de cabeça – pelo menos para mim – que os condutores civis me davam por não cumprirem as normas de manterem uma certa distância entre eles e nunca perderem a ligação com a viatura que vinha na sua retaguarda, decorreram sem que houvesse qualquer facto digno de nota, com excepção da realizada no dia 28 de Dezembro que era para se realizar em 27.

Quando a 21 de Dezembro realizei a escolta Mansabá-Mansoa 07H – 12H, para levar a coluna onde viajava todo o pessoal das obras que ia passar o Natal a Bissau, logo me foi determinado que no domingo, 27, estaria pela manhã em Mansoa para pegar na coluna de regresso. Devia trazer forças condicentes com o número de viaturas que seria maior que o normal. Assim, quando às 7 horas de 27 já nos encontrávamos sobre rodas prontos a arrancar, fomos surpreendidos pelo operador de serviço às transmissões que aos berros, dada a distância, nos avisa de que o movimento estava cancelado, por ordem de Mansoa. Confirmando via rádio tal facto, sou informado que por nova ordem de Bissau a coluna seria no dia seguinte, devendo apresentar-me em Mansoa às 15 horas.

Cumprindo ordens – para mim e para todo o pessoal foi um domingo de desfrute e ataque às bazucas de cerveja – a 28 lá estava em Mansoa a enquadrar a coluna. Na realidade maior do que o habitual – seriam perto de 20(?), quando o normal rondaria a dúzia – e com viaturas ainda mais velhas, para arrastar mais a progressão.

Desta vez não dispúnhamos de protecção das Panhard, como por vezes acontecia. Na frente coloquei três Unimog, os dois primeiros com pessoal do Pel Caç Nat e o terceiro, onde me colocava com 1 Secção da CCAÇ. Parámos em Cutia para deixar elementos da população e reordenar o combóio.

Seguindo, passámos o carreiro, a zona de estrada desmatada (tinha-o sido logo após 12 de Outubro) e entrámos no concelho de Mansabá, cujas bermas se mantinham com a vegetação natural, isto é, com o capim no auge do seu desenvolvimento, quase na berma.

Por norma fazia estes percursos a maior parte do tempo de pé e costas para a frente de modo a vigiar o atraso das viaturas da retaguarda, dando indicações ao condutor, para afrouxar ou acelerar conforme o comportamento das mesmas.

Eis se não quando sinto a viatura a parar, sem que ordenasse. Viro-me e vejo as outras duas viaturas, lá à frente, paradas e vazias. O pessoal deitado nas bermas ou melhor, numas pequenas valetas. Secou-se-me a boca. O pessoal africano sempre tão descontraído… fora das viaturas? Não tinha havido tiros aos macacos – como noutra ocasião tinham feito e depois saltaram em andamento e tudo para apanhar os feridos e mortos – então porquê?

Salto também para a estrada. Dou ordem para efectuarem a segurança e avisar o resto da coluna para manter o afastamento entre as viaturas (talvez das poucas artes guerreiras que tinha fixado nas aulas de Mafra, além evidentemente das respeitantes à Manutenção Militar). Corro pela berma esquerda para contactar com o furriel da frente. Nem sequer me passava pela cabeça qual a causa por não ouvir tiros, tal o nervosismo que de mim se apoderou!

Chegado à frente e à fala com o furriel fico estupefacto com o que vejo. Uma cratera com o diâmetro da faixa alcatroada impedia-nos o avanço. Uns bons metros mais à frente, outra. Depois, outra (**).

Começo a ficar cada vez mais apreensivo, para não dizer outra coisa. Os camaradas compreendem naturalmente como me quero expressar aos momentos vividos naquela altura. Nem sequer tive a frieza de raciocinar que durante os longos minutos que se passaram, ainda não tinha sido disparado qualquer tiro!!! Só pensava no que estaria para vir… e, afinal, não vinha nem veio nada.

Entro imediatamente em contacto com Mansabá. Transmito-lhe o que se passava. Peço reforços…e até o helicanhão e mantenho-me em contacto permanente com eles.

Entretanto mantinha tudo em guarda e à defesa… não fosse o diabo tecê-las, sem compreender ainda bem o que se passava e com toda a coluna civil nervosa.

Conferenciando com o furriel e um alferes que entretanto se chegou à frente, começámos a serenar, uma vez que o IN não aparecia e decidimos que o Sapador fosse pesquisando o capinzal, para saber da sua viabilidade de passagem apeada de modo a poder-se observar o que estava para a frente, relatando tudo para Mansabá, que já satisfizera os meus pedidos e enviava Panhard e Páras, entre outros.

A estrada mais para a frente descrevia uma ligeira curva para a direita e então, com a progressão apeada, ao mesmo tempo que se fazia avançar as viaturas meio por fora da estrada, contabilizaram-se 5 crateras no total, num percurso de 2 a 3 centenas de metros ou talvez mais…

Verdadeiramente só respirámos de alívio com a chegada dos camaradas de Mansabá e do helicanhão que, depois de bater toda zona envolvente, nos comunicou não ver sinal de presença de IN e regressou a Bissau.

Deixámos então a coluna aos cuidados do pessoal de Mansabá e regressámos a Cutia, eram 18h45m, mas como já tinha aí ordem do meu Comandante para me apresentar em Mansoa, o pessoal teve de fazer mais umas horas extras para lá me colocar.

Tendo relatado verbalmente a ocorrência, dei então conhecimento ao Comandante de que no final da tarde do dia anterior tínhamos escutado – em Cutia –, fortes rebentações relativamente perto, vindas do Norte, que nos alertaram porque julgámos serem de ataque a Mansabá, mas como via rádio nos responderam negativamente e mais ninguém referia qualquer dificuldade, esquecemos o sucedido.

Concluíram que teria estado montada uma emboscada para apanhar a coluna que deveria ter sido efectuada na manhã do dia 27, mas chegado ao fim da tarde sem que tal ocorresse, tiveram de fazer rebentar as minas colocadas na estrada e abortar a emboscada.

Não sei se isto foi comunicado ao COMCHEFE, mas naturalmente que teria sido, só sei que no dia seguinte, 30 de Dezembro, arranquei de madrugada para Cutia às 5h30m indo de seguida efectuar a segurança (próxima?) aos trabalhos de capinação e restauro da estrada até às 15h30m, actividade repetida (segurança à capinação), no dia 2 de Janeiro de 1971 (depois de ter deixado uma coluna em Mansabá) e no dia 3 das 6h30m até às 15 horas.

Uma vez explicados os 5 enormes buracos com cerca de 2 a 2,5m de diâmetro e 60 a 80cm de profundidade, ao longo de 200 a 250m a que o tertuliano Carlos Vinhal se me referiu, não posso terminar sem acrescentar o seguinte:

i) – nos dias que se seguiram à ocorrência, inclusive enquanto se fez a capinação, não me lembro de qualquer reconhecimento efectuado no terreno para verificar rastos da emboscada;

ii) – quando mais tarde, já no CAOP 1 em []Teixeira Pinto, depois de ter contado o sucedido ao meu camarada de quarto, o Cap Art do QP Borges, certo dia aparece-me com um Perintrep ou seria Supintrep(?) acabado de chegar onde vinha esquematizada a emboscada, tal como constava de documentos apreendidos numa posterior operação de assalto ao Morés, efectuada por diversas forças entre as quais a CCMDS e CCPáras, fiquei atordoado. O poder de fogo dessa emboscada era fortíssimo, incluindo posições de Canhão s/r, várias metralhadoras pesadas, além dos vulgares RPG 7 e Kalash. Ainda gostaria de saber onde existirão esses documentos, para alguém confirmar;

iii) – por outro lado e tendo-se realizado 15 escoltas até ao Natal, sem qualquer anormalidade, como é que sabiam que a 16.ª se realizava no dia 27, ainda por cima ao domingo? Como uma emboscada daquela natureza não podia ser montada dum momento para o outro, i.e. a partir por exemplo do momento em que tivessem conhecimento da nossa saída de Cutia – até porque saíamos muitas vezes para ir somente a Mansoa abastecermo-nos – ou do arranque da coluna de Mansoa, como adivinharam que era naquele dia que havia coluna e daquela importância? Não podia ser por mero acaso. Tinham obviamente de ter bons informadores… e certamente em Bissau.

iv) – pela terceira vez – na Guiné – a sorte tinha-me acompanhado, reforçando a crença que se tinha apoderado de mim, de que ao nascer já trazemos todo o percurso de vida inscrito no BI, como se fora uma fita de tempo com todos os passos marcados, ainda que a desconheçamos. Passei a acreditar que a vida está predeterminada e o que tiver e quando acontecer, acontecerá. Para mim, não há volta a dar-lhe, como se costuma dizer;


Parte de Carta Militar com a estrada Cutia-Mansabá, com os pontos A e B assinalados como locais prováveis de montagem da emboscada abortada.

v) – finalmente e à distância de 36 anos procuro localizar no mapa (que anexo) a zona da emboscada, partindo apenas de 3 pressupostos: a designação de Mamboncò e a recordação de que a estrada plana descrevia, do lado Norte das primeiras crateras, uma curva ligeira para a direita. Assim na quadrícula superior esquerda da folha 1/50.000 MANBONCÒ, está traçada a estrada que ia para Mansabá e, depois do limite dos concelhos começava a zona não capinada. Aí deparo-me com duas possíveis localizações, antes da antiga povoação de Mamboncò e que considero como mais prováveis. São essas as posições A e B. Praticamente equidistantes de Cutia e Mansabá (a 6 ou 7 quilómetros) e entre 2 pontões (1 a Sul e outro a Norte logo depois de Mamboncò) onde seria fácil criarem dificuldades aos reforços enviados de ambos os aquartelamentos e muito perto dos locais de refúgio, quer a Oeste (Santambato/Morés) quer a Este (Sara/Canjambari). Inclino-me mais para o ponto B, por ser aquele da zona mais plana, já que o A se encontra entre duas curvas de nível (dos 20 e 30 metros) muito próximas.

Um abraço
Jorge Picado
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Anotações de Carlos Vinhal:

(*) - Jorge Picado refere-se a Vitor Junqueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 2753, Inácio Silva, ex-1.º Cabo da CART 2732 que também esteve destacado no COP 6 em funções administrativas e a mim próprio que com o Jorge participei numa perigosa peregrinação a
Fátima, como ele ironicamente sita.

(**) - Da História da Unidade CART 2732, Capítulo II, Fascículo VI Período de 01DEZ70 a 31DEZ70, página 16:
Dia 28 - Encontrados 5 buracos na estrada alcatroada em MAMBONCÓ 3E6.74, feitos por explosivos, com cerca de 2 a 2,5m de diâmetro e 60 a 80cm de profundidade, ao longo de 200 a 250 metros.

Ainda da História da Unidade CART 2732, Capítulo II, Fascículo XVIII Período de 01DEZ71 a 31DEZ71, página 34:
(um ano depois, sensivelmente no mesmo local)

Dia 06 - Pelas 11h15m 1 GCOMB REF 1 SEC+1 SEC/PEL MIL 253, efectuou coluna auto a MANSOA a fim de transportar militares.
No regresso, em MAMBONCÓ 3F2.56, foi emboscado por GR IN estimado em 50 elementos, armados de RPG, granadas de mão, armas automáticas ligeiras e morteiro 82, durante 20 minutos.
O IN instalado a 2 metros da estrada; alguns elementos armados de RPG saltaram à estrada a fim de alvejarem as viaturas.
1 GCOMB do Destacamento de Cutia saiu em socorro imediato. De Mansabá saiu igualmente 1 GCOMB em socorro. NT reagiram pelo fogo de todas as armas pondo o IN em fuga. A Artilharia da MANSABÁ e a FAP apoiaram as tropas emboscadas a pedido das mesmas.
As NT sofreram 1 morto, 11 feridos graves evacuados para Bissau, 9 feridos também evacuados, 8 feridos ligeiros.
1 Unimog 404 destruído e 1 Unimog 411 parcialmente destruído
OBS:-1 dos feridos graves acabou por falecer no HM 241.
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Notas de CV:

(1) - Vd. poste de 3 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2807: Estórias de Jorge Picado (1): A emboscada do Infandre vivida pelo CMDT da CCAÇ 2589 (Jorge Picado)

(2) - Vd primeiro poste da série Cutia, de 24 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2881: Estórias de Jorge Picado (2): Cutia, I Parte (Jorge Picado)