quarta-feira, 9 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3041: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (6): O cabaço da bajuda

Foto 1 > Soldados da Milícia de Mampatá

Foto 2 > A Ádada, mulher do régulo Suleimane


Foto 3 > O Aliu Baldé
Foto 4 > A mulher do régulo Shambel de Contabane, mãe do Suleimane
Foto 5 > Nobia na tem kabaço. Manga de ronco Fotos e legendas: © José Teixeira (2008). Direitos reservados.


1. Publicamos hoje mais umas Notas Soltas do nosso camarada José Teixeira, ainda a propósito da sua ida à Guiné-Bissau, por altura do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008).

2. O Cabaço da Bajuda. 

Por José Teixeira 

 Na minha recente peregrinação à Guiné-Bissau, fui visitar um velho amigo de Mampatá, agora régulo em Sinchã-Shambel – Saltinho. O Suleimane Shambel é filho do falecido régulo de Contabane, tabanca assaltada e queimada pelo IN em 22 de Julho de 1968. 

Parte de uma Companhia operacional que lá estava estacionada, regressou em 24 de Junho do mesmo ano a Aldeia Formosa com a roupa que tinham aquando o ataque, tal foi a violência do mesmo. O régulo Shambel fixou-se em Aldeia Formosa. A população dividiu-se entre Aldeia Formosa e Saltinho, até ser reagrupada em Sinchã-Shambel. 

O meu amigo Suleimane fixou-se em Mampatá, integrando o Pelotão de Caçadores Nativos (Milícia local), tendo casado com a Ádada (*), filha do régulo local, Aliu Baldé. 

 Aí convivemos durante seis meses. Agora voltámo-nos a encontrar, para reviver velhos tempos. Sentado num trepo (banco de três pernas) conversávamos os três animadamente, recordando outros tempos, recordando amigos(as), alguns vivos e localizáveis, outros em lugar incerto e tantos que já partiram… 

 Eram cerca de três da tarde, quando se começa ouvir um burburinho, que se deslocava na nossa direcção. Um coro de vozes femininas a cantarolar em simultâneo com gritos e risos que reflectiam alegria e boa disposição. Poucos segundos depois, passa à nossa frente uma procissão de bajudas e jovens mulheres. Uma das da frente levava um pau tipo bandeira com um pequeno pano vermelho pendurado na ponta. A algazarra era enorme. As mulheres espreitavam e batiam palmas, os homens lançavam uns sorrisinhos marotos, face àquela festa. 

 Eu, embasbacado, perguntei: 

- Ádada, que festa é esta? 

 Ela com um sorriso malandro retorquiu: 

- Ontem houve casamento, grande ronco. A noiva ergueu-se agora da cama e mostrou o lençol com sangue. Bajuda na tem kabaço. É ronco, é festa. As outro bajudas estão a mostrar a população qui noiva na tem kabaço mesmo

- Até ontem! - Comentei. 

- Sim, hoje já não tem. 

- O lençol tinha sangue dela ou de alguma galinha que lá puseste. - disse eu com ar de malandro. 

 Uma gargalhada geral encerrou a conversa enquanto eu seguia com os olhos o grupo de mulheres que se deslocava tabanca fora na sua alegre cantilena. 

 Hoje recordo como foi diferente o casamento em Dezembro de 1968 da Mariama de Mampatá: 

 (i) Os preparativos, desde o pentear do cabelo que demorou horas; 

(ii) A chegada do noivo e sua comitiva, vindo de Aldeia Formosa; 

(iii) A festa contida pela necessidade de não se fazer demasiado barulho para não acordar o IN; 

(iv) O batuque que acabou ao escurecer para que o silêncio se impusesse e os ouvidos se concentrassem em possíveis ruídos ameaçadores; 

(v) A expectativa no dia seguinte em ver o lençol pintalgado de manchas vermelhas, sinal de que a Mariama ainda tinha kabaço. Cena de que fui delicadamente afastado por uma mulher grande. 

 Zé Teixeira

(*) Em escritos anteriores falei da alegria que senti quando a Ádada me reconheceu em 2005, 

altura da minha primeira visita à Guiné-Bissau no pós-guerra.

________

  Nota de CV: 

 Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2816: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (5): Água, fonte de vida para as gentes de Cabedu

Guiné 63/74 - P3040: Estórias cabralianas (37): A estranha 'missão' do Badajoz (Jorge Cabral)

Guiné >Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > 1971 > Pel Caç Nat 63 > Furriéis Milicianos Pires, Branquinho e Amaral, o saudoso Amaral (***). O António Branquinho é irmão do Alfredo Branquinho, membro da nossa tertúlia.

Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71 , seguramente um dos camaradas mais fixes com que podemos contar, sempre, nos bons e nos maus momentos (Aliás, até dá jeito ter, na nossa Tabanca Grande, advogados, com a experiência e o saber dele, Jorge Cabral; e, a propósito, prometo publicar um dia as deliciosas estórias judiciais que ele arranja para os seus alunos aprenderem a matéria; há uma colecção delas, publicadas em livro, por iniciativa dos seus alunos):

Querido Amigo: Renovo os parabéns pela brilhantíssima actuação do teu talentoso filho e companheiros, [os Melech Mechaya] (*). No decurso do Concerto, fui fumar para o Bar, onde também se encontrava a estrela Soraia Chaves. Que mulher! Olhar para ela constituiu uma violência contra este idoso…

Junto mais uma Estória Cabraliana.

Abraço

Jorge

PS - Em anexo foto dos furriéis do Pel Caç Nat 63 em Missirá (Pires, Branquinho e o saudoso Amaral)


2. Estórias cabralianas (37) > A Estranha “Missão” do Badajoz
por Jorge Cabral (**)


Em Missirá existiam sempre cinco ou seis adidos. Um enfermeiro, um cozinheiro, um motorista, dois soldados dos Morteiros e às vezes um mecânico, como o célebre Pechincha. Vinham de Bambadinca, cumprir uma espécie de castigo, pois Missirá representava o isolamento, o mato e o perigo.

Chegavam receosos e um pouco atarantados, mas, passado algum tempo, parecia que o castigo se transformara em prémio e já ninguém queria regressar. Gostavam de ali estar, naquele quartel–tabanca, onde muitos nem sequer se fardavam e quase não existia hierarquia.

Porém, no primeiro dia todos se haviam sentido apreensivos. O Alferes recebia-os formalmente com um discurso incompreensível e confiava-lhes uma “missão”, sempre absurda.

As “missões” inspiravam-se nas discussões, manias e cismas vigentes na altura e podiam consistir nas mais disparatadas obrigações.

Assim, a um porque alguém jurara ter visto o avião turra, foi determinada a observação aérea todos os dias entre o meio-dia e as seis da tarde. Outro foi incumbido de vigiar e contar os macacos que costumavam reunir na pequena elevação fronteira, pois o Amaral (***) alvitrara que o aumento do seu número significaria um ataque iminente.

Já em Maio de 71, apresentou-se o Badajoz, grande louco ou perfeito simulador, que passara por Bolama onde fizera a recruta por via de uma pena sofrida em Elvas, estacionara em Bissau, e lá por duas vezes, tentara embarcar de regresso à Metrópole, acabando na CCS [, Companhia de Comandos e Serviços,] de Bambadinca a aguardar “melhoras”. Claro que o [Cap] Passos Marques [, da CCS/BART 2917,] logo o mandou para Missirá…

Tal como a todos os outros foi necessário confiar-lhe uma “missão”. Ora na época, a discussão que nos ocupava a todos, era a resposta à importante questão: Porque mijam as mulheres de pé, e os homens de cócoras? Quanto às mulheres, o assunto não constituía novidade pois o Monteiro afiançara que na terra dele também as velhas tinham esse costume. Sobre os homens sim. Para mijarem de cócoras não encontrávamos explicação.

Encontrá-la foi a “missão” do Badajoz, que a levou muito a sério… Infelizmente não teve tempo. Quinze dias depois veio a ordem. Baixou à Psiquiatria. E nós lá continuámos sem resposta…

Curiosamente foi na véspera do [meu] regresso que tive notícias do Badajoz. Era a minha última noite em Bissau. Bebia, discursava, declamava…

Conhecidos e desconhecidos, juntavam-se na minha mesa. De Missirá nenhum ouvira falar… Um Alferes médico psiquiatra lembrou-se porém de um Soldado que lá dissera ter estado. Declarado incapaz, passara à peluda.
- Um caso perdido… Metia-se na casa de banho a espreitar os africanos a mijar….


Jorge Cabral

_________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3028: Eu, o Jorge Cabral, o António Graça de Abreu e... o Levezinho, no velho/novo Maxime, com os Melech Mechaya (Luís Graça)

(**) Vd. último poste desta consagrada série > 20 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2862: Estórias cabralianas (36): Uma proposta indecente do nosso Alfero (Jorge Cabral)



(***) Vd. 6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2033: In Memoriam (2): O saudoso Amaral da horta e dos presuntos de Missirá (Jorge Cabral / António Branquinho)

Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Em Nhacubá... tendas de campanha, bidons de alcatrão, máquinas de engenharia, calor, muito pó e solidariedade"....

Foto, poemas e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem, com data de 28 de Abril de 2008, remetida pelo o José Manuel Lopes (*):

Camarada Luís: Enviei até agora 62 poemas que tinha guardados (**). Algures em casa de minha avó, na Régua, onde vivi até me casar em 83, devo ter mais alguns junto às coisas que trouxe da Guiné. Me lembro que numa altura, perturbado, sem saber o que fazia, destrui parte do que trouxe. Tudo que conseguir recuperar enviarei para o nosso Blogue, por agora pouco mais tenho para enviar, pois algumas coisas são muito pessoais e outras podem ferir a sensibilidade de terceiros.

Um abraço
jose manuel


2. Comentário de L.G.:

Publicam-se hoje mais dois poemas do Josema, dos tais 62 que foram salvos do fogo da lareira: voltam a aparecer, como temas recorrentes e fortes da poesia do José Manuel Lopes, a figura da mãe, a infância, o Rio Douro, a paisagem única do Douro com os seus vinhedos, a morte, a saudade, o desejo do regresso, as mães que choram em silêncio pelos filhos ausentes, longe, na guerra...

É um registo, intimista, que só pode enobrecer o nosso camarada duriense e cuja divulgação nos honra a todos. É um privilégio o nosso blogue poder publicar este tipo de documentos, 34 anos depois do fim da guerra. Que seja também um estímulo e um exemplo para aqueles de nós que guardam, no velho baú do sótão, papéis amarelecidos pelo tempo, com os seus versos do tempo de guerra, e que por pudor, ou por excessivo sentido autocrítico ou por simples esquecimento não os divulgam... Este blogue serve justamente para isso: para dar à luz do dia o testemunho, emocionado, da nossa passagem pelas terras da Guiné, em tempo de guerra... Não fazemos juízos de valor (muito menos literários) sobre o que publicamos. Basta-nos a autenticidade dos documentos, e a vontade de comunicarmos uns com os outros... Infelizmente não temos todo o tempo do mundo: grande parte das memórias da guerra da Guiné vão morrer connosco... Por isso, camarada, não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti... Em verso, em prosa, em imagem... LG


Um sorriso...mãe

Mãe
se não regressar
lembra-te do meu sorriso
aquele sorriso malandro
a mendigar o perdão
para me não castigares
por ter faltado às aulas
para ir p'ró rio nadar
oh
como era bom nadar
da fraga do cavalo saltar
o Douro atravessar
e as uvas apanhar
e depois
chegar a casa
com um sorriso para te dar.

Mampatá 1973
josema


Até ao nosso regresso...

Porque choram as mães?
mártires de coração partido
desta guerra sem sentido
porque choram elas?
heroínas anónimas
sem louvores
nem medalhas
eternamente esquecidas
choram porque sofrem
choram porque temem
as notícias do correio de amanhã
choram enquanto aguardam
o regresso desejado.

Mampatá
Natal de 1972
josema
_____________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o autor, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)


(**)Vd. poemas já publicados (Inicialmente, do poste 1 ao 7, foram publicados vários poemas, em cada poste) (***):


1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...

22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

(***) Vd. os sete primeiros postes:

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não vêem
quando o corpo já não sente (...)

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu? (...)

O nascer de um bruto

Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito (...)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

Estradas amarelas
corpos cobertos de pó
pica na mão à procura delas
o polegar ferrado no pau
tac, tac, tac, tac, tac, tac (...)

Tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro (...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?


A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia (...)

Pensar que amar é doré não amaramar
é dominar
a violência
que há em nós (...)

-Sabes?Sonhei
que as coisas boas
não acabaram (...)

Seria bom pronunciarnuma doce ilusão
um até sempre (...)

Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro (...)

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)

Olhos semi cerrados
querendo ver
para além das árvores (...)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio... (...)

Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso (...)

As brincadeiras loucasacabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido (...)

Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê? (...)

Quantas batalhas e guerrasgeradas pela ambição?
quantos pior que feras
mataram o seu irmão? (...)

O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão (...)

Neste imenso sofrerpensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir (...)

Um ruído vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar (...)

Quero irmas não sei onde
tudo me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano (...)

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

(...)

Recuso dizer uma oraçãoao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa... (...)

Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só (...)

Este pó que nos seca a garganta
este calor húmido que sufoca
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores (...)

Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é sóalegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza (...)

Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantesas
de amores realizados (...)

Guiné 63/74 - P3038: Álbum de fotografias do José Couto (CCS/BCAÇ 2893) (3): Mansoa

1. Apresentamos mais umas fotos de José Couto, enviadas pelo nosso camarada Tino Neves.
Desta feita são fotos de Mansoa tiradas por aquele nosso camarada em 2005.










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Nota de CV

(1) Vd. os primeiros postes da série de:

7 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1254: Álbum de fotografias do José Couto (CCS/BCAÇ 2893) (1): Quinhamel

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1272: Álbum de fotografias do José Couto (CCS/BCAÇ 2893) (2): Com saudades de Cacheu para o Joaquim Ascensão

terça-feira, 8 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3037: Os nossos regressos (8): E vieram todos (Luís Dias)

Cheira bem, cheira a Lisboa 

Luís Dias

No regresso da Guiné 

No regresso dissemos: "E Vieram todos!" 

O regresso do BCAÇ 3872 à zona de Bissau, oriundo do Leste da Guiné (Galomaro, Dulombi, Cancolim e Saltinho), deu-se no dia 9 de Março de 1974. Ficámos instalados no Cumeré, onde estivéramos já no longínquo ano de 1971, mais propriamente ali chegados na véspera de Natal de 71… raio de três Natais passados nas terras vermelhas e quentes do Corubal e a família tão distante. 

Em virtude de ser o 2.º Comandante da CCAÇ 3491, fui nomeado pelo capitão para, juntamente com o 2.º Sargento Chanca, procedermos ao "desembaraço" da companhia. Isto queria normalmente dizer que dificilmente eu iria acompanhar a companhia no embarque marcado para 28 de Março, pois a burocracia a efectuar era muita. 

Efectivamente, a Guia de Desembaraço necessitava de ser assinada pelos responsáveis de diversas repartições, secções, secretarias e serviços, a saber: REP/OPER/QG/CC; REP/INFO/QG/CC; REP/PESLOG/QG/CC; REP/ACAP/QG/CC; SEC/POP/QG/CC; 1ª REP/QG/CTIG/OF e 1ª REP/QG/CTIG/FICH; 2ª e 3ª REP/QG//QG/CTIG; 4ª REP/QG/CTIG; SVC SAÚDE; SVC TRANSPORTES; SVC JUSTIÇA E DISCIPLINA; SECRETARIA/QG e BIBLIOTECA. 

No dia seguinte lá fui para Bissau mais o 2.º Sargento Chanca e um condutor, para conseguir obter as tais tão preciosas assinaturas, mas a coisa….não era fácil. É que em cada local tínhamos de, primeiramente, recolher um montão de assinaturas de sectores e subsectores, para aceder, finalmente, à assinatura principal, a do Chefe da Repartição. Foi uma luta diária, uma lufa-lufa, interrompida unicamente para o desfile de despedida perante o Com-Chefe, General Bettencourt Rodrigues (relembro o momento emocionante da chamada aos mortos, no qual a nossa companhia não teve de dizer presente, pois tivemos a sorte de não termos sofrido baixas. 
Já não havia o habitual discurso do antigo Homem Grande de Bissau que dizia "…chegastes meninos, partis homens!"). 

O trabalho que aquilo dava quase não nos deu tempo de saborearmos umas ostras e uns cocktails de camarão, mas conseguimos… Ah! O grande Chanca que foi uma preciosa ajuda no paleio e a dar a "volta" àqueles sargentos dos subsectores. 

No dia 28 de Março saímos do Cumeré em direcção ao Porto de Bissau, com o pessoal da companhia a cantar canções do Cancioneiro do Dulombi e da Tecnil e músicas populares portuguesas, em que se destacava aquela do "Cheira bem, cheira a Lisboa"… O embarque no navio Niassa deu-se sem quaisquer peripécias, a não ser o costume do amontoado de pessoas e bagagens nos porões, onde as praças seguiam "empilhados" – péssima maneira de estimar quem dera o coirão pela Pátria. 

ADEUS GUINÉ 

É o fim do castigo 
Terminou a comissão 
É necessário gritar Piras! 
Não venham 
Deixem isto acabar 
Morrer de tédio 
Sem remédio 
Isto é vida de cão 
A velhice vai embora 
Enquanto a bajuda chora 
E a nau está a naufragar! 

Adeus Guiné! 
GRITA! 
Se quiseres 
Se te apraz 
Se te sentes feliz 
Se isso te satisfaz 
Eu não quero continuar de verde-claro 
Saí do Dulombi! 
Deixei Galomaro! 
Sofre-se porquê? 
Se não mereces tal sacrifício 
Ou é apenas vício? 
Tu não sabes o que andas a fazer ou afinal até sabes…! 
Espero que de mim só leves suor e muitas lágrimas 
Cheira bem, cheira a Lisboa! 
Aqui o tempo está parado 
Lá parece que voa Sabes como é 
Tudo é finito 
Assim, solto o meu grito 
Ponho-me de pé 
Atraca o navio. 
É hora de embarque 
Viro as costas ao cais 
Aqui não volto mais 
Não há lágrimas em destaque 

Adeus Guiné! 

A viagem decorreu sem incidentes até ao Funchal, onde desembarcaram as companhias independentes, CCAÇ 3520 e CART 3521, bem como os graduados do Batalhão que foram autorizados a darem uma volta pela cidade. 
Aproveitei para comprar umas orquídeas para dar à minha mãe e telefonei para casa a dizer que estava no Funchal e que regressava de barco, mas sem dizer quando iria chegar. 

Durante o passeio umas senhoras inglesas, já de alguma idade, perguntaram-nos sobre o navio e o porquê de só saírem alguns militares, ficando a maioria a bordo. Respondemos que se tratavam de militares que vinham de regresso a casa, depois de mais de dois anos a combaterem em África, sem verem mulheres brancas e que se lhes dessem liberdade, nem as velhinhas lhes escapavam….!!!! O que elas riram! 

A razão não era essa é claro, mas se eles todos saíssem, com aquela poncha… uma semana depois ainda ali estaríamos à espera e à procura de muitos deles. 

No barco, fui muito bem tratado, até porque algum do pessoal de apoio era de Alfama, do meu bairro e portanto estava a jogar em casa e a propósito de jogo, lembro-me de ter ganho mais uma aposta ao furriel enfermeiro Nevado, um sportinguista ferrenho, com o qual passava a vida a apostar, quer em futeboladas no Dulombi, nos quais ele tinha de reunir simpatizantes do FCP, com os seus do SCP, para jogarem contra os militantes do Benfica, os SLB e… infelicidade para ele, lá se ia uma grade de cerveja ao ar. 

De facto nessa altura, com o campeonato quase ganho e ganhou-o, o SCP recebia o Benfica em Alvalade e o Nevado lá estava pronto para apostar uma garrafa de Whisky em como levávamos uma abada, aceitei e claro… depois de uma grande jogatana, que nós ouvimos integralmente pelo relato radiofónico, o SLB espetou 5 a 3 à lagartagem – bons tempos – e paga Nevado!!! 

O navio entrou no suave estuário do Tejo pela madrugada do dia 4 de Abril. Assisti da amurada ao nascer do sol sobre Lisboa – o tempo estava límpido – ao brilho que se reflecte nas águas do rio e dá aquela cor inigualável às casas da zona antiga. 
Estava ali a minha cidade, mais velha do que Portugal, com 20 séculos de história, onde eu vira a luz do dia há 23 anos, a cidade que Alan Tanner iria apelar de Cidade Branca. 
Sentia os odores frescos daquela manhã e os sons do início do bulício do dia. 
As fragatas do Tejo sulcavam as águas (ainda existiam) e os cacilheiros lá andavam no seu vaivém. 

Lisboa acordava do torpor nocturno e iniciava um novo dia. A cidade das sete colinas (só Roma foi também assente em sete colinas), apresentava-se, como diz na canção Carlos do Carmo; "…toalha à beira mar estendida…" e ainda como diz o poeta Joaquim Pessoa: "Em Lisboa a gente morre sem idade. Devagar. Como se faz uma canção. E há um pássaro que voa. É a saudade. É uma janela aberta. O coração." 

Muitos homens choravam, num silêncio, feito de muitos ruídos contidos, de muitas emoções estancadas no peito. Lisboa representava aqui, seguramente, as suas terras, os seus lugares e lembrava-lhes o tempo perdido, longe das suas famílias, dos seus amigos – era o regressar da sua natureza.

 
O Tejo e tudo. O navio iniciou as manobras de atracagem na Rocha do Conde de Óbidos – miradouro das Janelas Verdes em frente – e o cais já fervilhava daquelas gentes que vieram, na sua maioria, de longe, de muito longe, para dar o primeiro abraço àqueles que chegavam depois de quase 28 meses de Guiné. 

Olhei em volta, os homens acotovelavam-se para melhor verem a multidão, punham as mãos na cara, a envolver os olhos, a fazer de binóculos, para conseguirem localizar os seus familiares, vi muitos dos meus camaradas da Companhia e pensei em voz alta – "E Vieram Todos!" E novamente pensei no poeta – "a dor que vai dos lenços aos navios"…"Desembarquei aqui. Estou desarmado. Lisboa cabe dentro dos meus olhos." …."Desembarquei aqui. Sem uma espada." E na emoção do momento pensei nos que lá ficaram, nos que perderam a vida e contive a lágrima. "Os que tombam às portas da cidade Sobre um lençol de feridas e de fogo. Sem nome. Sem culpa. Sem idade. Que assim morrem os homens deste povo." 

Em virtude de não terem aparecido, em devido tempo, quaisquer autoridades para nos receberem e para o desfile da praxe, (um prenúncio dos tempos que se iriam seguir), o Tenente-Coronel, Castro e Lemos, Comandante do Batalhão, numa atitude de coragem, ordenou o desembarque da força militar, sem quaisquer outros procedimentos. 
Da amurada consegui ver o meu pai – o Ti Porfírio, como amavelmente lhe chamavam os amigos e conhecidos lá do bairro – que estava no cais, na zona do desembarque, porque, como era Conferente Marítimo, tinha autorização para estar naquele local reservado e por força do seu trabalho tinha conseguido saber que o barco era aquele, quando chegava e dera a notícia à família e lá estavam também a minha mãe – a D. Venina, a minha avó, Maria de Jesus (que quase diariamente, com um grupo de amigas iam rezar por mim na Igreja de S. João da Praça, e eu lhe dizia, na brincadeira, para dia sim, dia não rezar também pelos outros camaradas), o meu tio Armando, a minha tia Bernardete, as minhas primas Helena e Paula e a namorada de então, a Ana. 

O Batalhão seguiu para o Ralis, onde foi feita a desmobilização. Onde se deram os últimos abraços, bem difíceis por sinal, àqueles que connosco privaram diariamente em mais de dois anos, e com os quais vivemos em comum momentos muito complicados – foram a minha família – e estarão sempre dentro do meu coração, mantidos naquele lugar onde guardamos as coisas importantes que nos aconteceram na vida. Vieram promessas de encontros e reencontros… mas a companhia só reuniu passados 25 anos após a nossa chegada. É claro que alguns de nós nos fomos encontrando, fui tendo contactos com o Capitão Pires, os Alferes Farinha e Parente (enquanto ele esteve por Lisboa, felizmente, anos mais tarde, voltou para a sua linda cidade – Viana do Castelo), os Furriéis Soares e Gonçalves (este quando vinha de férias do Canadá, para onde emigrou e é hoje proprietário de um excelente restaurante, em Otava), o Salsa dos "dilagramas" (que estava no Trânsito da PSP), o Sousa dos morteiros 81, o enfermeiro Pires, o Graciano, o Professor Doutor Rui Coelho, o excelente médico, que nos encheu de orgulho por ter sido o pioneiro da fertilização in vitro, no nosso país e que via, com regularidade, no Estádio da Luz, nos jogos do Glorioso e outros mais. 

No dia da chegada, fui jantar com a família a um restaurante situado junto do Coliseu dos Recreios, que decorreu com muita alegria e sem quaisquer perguntas sobre a comissão, aliás eles sempre respeitaram o meu ritmo de falar sobre aquela guerra. 
Os primeiros dias de vida civil foram estranhos… e como dizia aquele milícia que ganhara o prémio Governador, para visitar a metrópole "Txi alfero aquilo é manga de coluna sem escolta" e "pessoal lá manga de esperto, faz tabanca sobre tabanca", referindo-se aos carros e às casas, era de facto tudo muito estranho… parecia que me faltava qualquer coisa e, no entanto, não descortinava o que era. 

Passeei pelo meu bairro, Rua da Regueira, Largo da Palmeira, Rua de S. Pedro, Largo de S. Rafael (onde se encontra uma parte da muralha mourisca), Rua da Adiça, onde ficava a casa da minha avó, Rua de S. João da Praça, onde morava o meu amigo de infância, João Carlos, que iria regressar depois do 25 de Abril, da comissão em Moçambique, passei junto ao meu Grupo de Escuteiros (o Grupo 48 do CNE- não mais voltaria aos escuteiros, depois de tantas noites de mato, não sentia necessidade de voltar a acampar tão cedo) e dirigi-me ao café "Flor da Sé", ali defronte para a Catedral, com a igreja de Sto. António a seu lado e a Madalena mais abaixo, onde paravam os meus amigos, subi lentamente até ao Castelo de S. Jorge, passando pelo Miradouro de Sta. Luzia, onde vivi em pequeno. 

Já no Castelo deliciei-me com a vista e com aqueles lugares, onde em jovem passeava com os amigos e com as colegas de escola e onde roubei os primeiros beijos a algumas namoradas. Ainda por lá andavam os elementos da Legião Portuguesa, que uns anos antes me tinham detido (ilegalmente) pelos graves crimes de "atirar azeitonas às miúdas" e ainda "de ser o proprietário de um gira-discos portátil, com o qual estávamos a ouvir música em grupo". 
Percorri, durante o dia as ruas da minha cidade, para me identificar novamente com os sabores, barulhos e cheiros desta Lisboa, ainda um lugar de exílio, como dizia da Pátria, o poeta Daniel Filipe (que eu apreciava muito e por tal facto dei o seu nome ao meu filho, nascido em Agosto de 1979). 

Perder-me no meio da multidão, sem medos, com descanso e sem obrigações. Fui ao longo do tempo perdendo a tentação de me atirar para o chão cada vez que ouvia um "rater" de uma viatura ou de uma mota ou ainda um foguete das festas populares e de sentir um baque no coração, de cada vez que a porta do frigorífico lá de casa era fechada com mais força. 

"Há sempre a lembrança 
De um olhar a sangrar 
De um soldado perdido 
Em terras do Ultramar 
Por obrigação 
Aquela missão 
Combater na selva sem saber porquê e sentir o inferno a matar alguém e quem regressou guarda sensação que lutou numa guerra sem razão... 
sem razão... 
sem razão... 
Há sempre a palavra 
A palavra "nação" 

(Aquele Inverno-Música dos Delfins) 

Nos primeiros tempos, enquanto não arranjava trabalho, envolvi-me num Grupo de Teatro Amador, do Lusitano Clube, mais tarde, ajudando a fundar a GOTA – Grupo Oficina de Teatro Amador, com sede na R. de S. Mamede ao Caldas. 
Na noite do 24 para o 25 de Abril, eu estive numa discoteca com o Ex-Alferes Farinha e umas amigas e regressei a casa pela madrugada, passando pelo Terreiro do Paço, onde, certamente, as forças revoltosas estavam a chegar, mas não dei por nada, tendo sido acordado pelas 8h30, exactamente pelo meu amigo Farinha, que me disse para me levantar e vir para rua porque estava a decorrer uma revolução. 

O 25 de Abril abriu-me o peito de esperança e alento para a reconstrução de uma nação livre e democrática, terminando com a Guerra Colonial. Foram tempos de aprendizagem política e de grande intervenção popular, que me abriram o apetite para viver intensamente aquele novo fenómeno 

Em Abril de 1975, ingressei na PJ e voltei a pegar em armas, embora agora o inimigo fosse outro – a criminalidade violenta e organizada. E, pasme-se, participei em acções e operações, em que tivemos de recorrer a tácticas aprendidas na Guerra Colonial. De facto os colegas mais velhos, embora fossem excelentes polícias, não estavam habituados a cenas de tiros, especialmente quando lhes eram dirigidos. 
A geração que entrou, após 25 de Abril, que tinha feito a Guerra Colonial, foi importantíssima para estancar a violência que se instalou a seguir e embora, como é costume, sem os meios e equipamentos necessários – tínhamos de recorrer a armas apreendidas, porque a PJ não possuía armas de 9 mm – até sermos equipados com armas mais modernas. Estive envolvido em diversas trocas de tiros e mantive em meu poder uma Kalashnikov, no modelo AKM, mais moderna que as AK-47 da Guiné (que eu próprio apreendi a um grupo violento, que praticava assaltos à mão armada e violações na área de Lisboa, em Fevereiro de 1979). 

Quando em Janeiro de 2001, aceitei um cargo de Direcção, deixei a arma na minha antiga Secção. Durante todos estes anos poucas vezes falei abertamente do que tinha passado na Guiné, a não ser com colegas que estiveram ou no mesmo teatro de guerra, ou em situação semelhante em Angola ou Moçambique. 

No princípio de ter regressado as perguntas eram as que eu entendia não responder: 
Quantos pretos mataste? 
Comeste lá muitas pretas? 

Depois, com o 25 de Abril, parecia que os combatentes eram lepra e era politicamente incorrecto falar-se da Guerra Colonial, estigmatizados como os que mantiveram o regime (Fosca-se!!!!). 
Devíamos ter fugido todos para França, etc., era o que diziam, os heróis eram os outros… 

Posteriormente foram surgindo alguns livros sobre a guerra, muitos romanceados e outros que, tendo boa apresentação e qualidade, contudo, iniciavam com uma visão de derrocada militar, quer na Guiné, quer em Moçambique. Foram depois surgindo algumas obras mais técnicas, com visão estratégica sobre os factos acontecidos e deixando um pouco à consideração do leitor uma evolução do que poderia ter sucedido. 

A companhia voltou a reunir-se, 25 anos após a chegada, num almoço no Regimento de Infantaria n.º 2, em Abrantes, donde partíramos, em Dezembro de 1971. Foi um reencontro emocionante, com muitas lágrimas à mistura e vivido também intensamente pelas famílias. Depois deste primeiro encontro, realizamos todos os anos um convívio, normalmente no mês de Maio, com grande afluência de elementos. 

A Tabanca Grande veio preencher a lacuna de podermos hoje, decorridos 34 anos do fim da Guerra de, afastados alguns fantasmas, falarmos com camaradas que tocam e cantam a mesma canção, embora, por vezes, o tom e o ritmo possam ser diferentes, mas isso é mesmo o efeito do respeito que temos de ter pela opinião dos outros. 
Acreditei que, efectivamente, um dia, a Guiné seria independente, era o rumo da história no seu movimento inexorável, mas senti uma grande tristeza quando tive conhecimento que muitos dos que combateram a nosso lado, seja por interesse monetário, seja por terem acreditado serem portugueses, parte da nossa Pátria, foram eliminados. O nosso país, infelizmente, não soube merecê-los e o inimigo, talvez tenha perdido a possibilidade de unir, verdadeiramente, as tribos da sua nação. Um dia terá de se fazer justiça, de honrar os seus nomes. 

Consegui ultrapassar bem e deixar para trás a vida de combatente, mas reconheço que muita da minha personalidade foi "reformatada", pelo tempo que passei na Guiné (que muitos apelidavam do nosso Vietname), no território cuja fama nas fileiras militares portuguesas causava um arrepio e era o último sítio que alguém queria ter como local de mobilização, quer pelo clima insalubre, quer pela intensidade da guerra que ali existia, ficando na ideia de quem estava na Metrópole, que era a província de onde mais provavelmente se podia regressar na posição horizontal. 

Sinto orgulho de ter estado ao lado de tantos e tantos homens de grande carácter, generosidade e coragem, capazes de arriscar a vida para salvar a do camarada a seu lado, de viverem em condições incríveis e de conseguirem manter um elevado nível de moral combatente. 
Talvez, bem lá no fundo, esteja ainda "apanhado" por aquele "clima".

 
O Luís Dias nos dias de hoje. Largo do Carmo, Agosto de 2005

Termino com o agradecimento a António Lobo Antunes, quando em relação aos combatentes disse: "Que o país os beije antes de os deitar fora, e lhes peça desculpa" e um abraço ao António Graça Abreu, Joaquim Mexia Alves, António Santos, Coronel Amaro Bernardo e tantos outros que escreveram a sua posição sobre se a guerra na Guiné estava militarmente perdida, como eu os compreendo! 

Um abraço a todos os Tertulianos 
Luís Dias 
Ex-Alf. Mil. da C.CAÇ 3491/BCAÇ 3872 
Guiné 71-74
__________ 

Notas: 

1. fixação do texto e sublinhados de vb; 

Guiné 63/74 - P3036: Convívios (71): VIII Encontro dos Antigos Combatentes de Barroselas, no dia 28 de Junho de 2008 (Sousa de Castro)



Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista
CART 3494/BART 3873
Xime e Mansambo
1972/74



1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro, a propósito do VIII Encontro dos Combatentes de Barroselas.

Decorreu com grande brilho, no dia 28 de Junho 2008 o VIII encontro dos combatentes de Barroselas, concelho de Viana do Castelo a que se juntaram a companhia 634 que prestou serviço em Angola para mais um convívio.

Depois da missa campal celebrada por antigos Capelães militares, nomeadamente pelo antigo capelão do BART 3873, Alf. Graduado Capelão Manuel Martins da Costa Pereira.

Prestou-se homenagem aos combatentes mortos em combate e também aos falecidos por outras causas com deposição de uma coroa de flores junto ao monumento.

Participaram neste evento várias associações de ex-Combatentes, de Viana do Castelo, Monção, Castelo de Paiva, Caminha e Vila Praia de Ancora, CMDT da GNR de Barroselas, representante da Armada, Ten. Coronel pára-quedista na reserva Casal Martins e autoridades locais.

Seguindo-se o repasto num restaurante local que decorreu com grande animação.

Junto em anexo algumas fotos do evento.
Sousa de Castro


Foto 1> O início da cerimónia junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar

Foto 2> Cerimónia de deposição de uma coroa de flores junto ao Monumento dos Combatentes

Foto 3> Algumas autoridades. O Capelão do BART 3873, Pe. Costa Pereira em destaque

Foto 4> Sousa de Castro ladeado por amigos ex-combatentes

Guiné 63/74 - P3035: Efemérides (9): 33.º aniversário da independência de Cabo Verde (António Rosinha/Carlos Vinhal)


1. A propósito da passagem do 33.º aniversário da independência de Cabo Verde, recebemos no dia 5 de Julho de 2008, a seguinte mensagem do nosso tertuliano António Rosinha:

Amigos editores e co-tertulianos, penso que se deve fazer uma referência ao dia nacional de Cabo Verde.

Primeiro, porque a independência daquele país, mesmo sem armas, foi provocada pelas mesmas armas envolvidas nas outras colónias.
Segundo, porque Cabo Verde, provou para a maior parte dos paises africanos, que se pode ser independente, sem se matarem irmãos.
E por último, penso que devemos dar os parabéns aos caboverdianos, por serem um exemplo, para a maior parte dos países a sul do Sahara, que se pode governar sem fuzilamentos.

Como conheci, e tive dezenas de colegas, caboverdianos de várias ilhas, e sei que nem todos eram pela independência, e frizavam bem que queriam ser como a Madeira, Canárias, etc., também sei, que, logo que ficou consumada a independência, embora tenha havido alguns desentendimentos inevitáveis, depressa se uniram, e hoje são um caso sério de sucesso, quer internamente, como internacionalmente.

Pessoalmente, penso que o sucesso de Cabo Verde é também um sucesso de Portugal. Como penso que outros insucessos, também são nossos insucessos.

Um abraço
Antº Rosinha


Mapa da República de Cabo Verde

Bandeira Nacional da República de Cabo Verde

Pedro de Verona Rodrigues Pires, Presidente da República de Cabo Verde, no seu segundo mandato desde Fevereiro de 2006

José Maria Pereira Nunes, Primeiro Ministro do Governo da República de Cabo Verde

2. Sobre a República de Cabo Verde

História


As ilhas de Cabo Verde foram descobertas por navegadores portugueses em Maio de 1460, sem indícios de presença humana anterior. Santiago foi a ilha mais favorável para a ocupação e assim o povoamento começa ali em 1462.

Dada a sua posição estratégica, nas rotas que ligavam entre si a Europa, a África e o Brasil, as ilhas serviram de entreposto comercial e de aprovisionamento, com particular destaque no tráfego de escravos. Cedo, o arquipélago tornou-se num centro de concentração e dispersão de homens, plantas e animais.

Com a abolição do comércio de escravos e a constante deterioração das condições climáticas, Cabo Verde entrou em decadência e passou a viver com base numa economia pobre, de subsistência.

Europeus livres e escravos da costa africana fundiram-se num só povo, o caboverdiano, com uma forma de estar e viver muito própria e o crioulo emergiu como idioma da comunidade maioritariamente mestiça.

Em 1956, Amílcar Cabral criou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), lutando contra o colonialismo e iniciando uma marcha para a independência. A 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. Este mesmo Governo preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular que em 5 de Julho de 1975 proclamou a independência.
A demarcação cultural em relação a Portugal e a divulgação de ideias nacionalistas conduziram à independência do arquipélago em Julho de 1975.

Em 1991, na sequência das primeiras eleições pluripartidárias realizadas no país, foi instituída uma democracia parlamentar com todas as instituições de uma democracia moderna. Hoje Cabo verde é um país com estabilidade e paz sociais, pelo que goza de crédito junto de governos, empresas e instituições financeiras internacionais.

Território

O território da República de Cabo Verde é composto:


Pelas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boa Vista, Maio, Santiago, Fogo e Brava, e pelos ilhéus e ilhotas que históricamente sempre fizeram parte do arquipélago de Cabo Verde;
Pelas águas interiores, as águas arquipelágicas e o mar territorial definidos na lei, assim como os respectivos leitos e subsolos; Pelo espaço aéreo suprajacente aos espaços geográficos referidos nas alíneas anteriores.
Na sua zona contígua, na zona económica exclusiva e plataforma continental, definidas na lei, o Estado de Cabo Verde possui direitos de soberania em matéria de conservação, exploração e aproveitamento dos recursos naturais, vivos ou não vivos, e exerce jurisdição nos termos do direito interno e das normas do Direito Internacional. Nenhuma parte do território nacional ou dos direitos de soberania que o Estado sobre ele exerce pode ser alienada pelo Estado.

Línguas oficiais

É língua oficial o Português. O Estado promove as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa. Todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.

Capital da República

A Capital da República de Cabo Verde é a cidade da Praia, na ilha de Santiago, e goza de estatuto administrativo especial, nos termos da lei.


Panorâmica da Cidade da Praia, Capital da República de Cabo Verde

Geografia

Situadas a 455 Km da Costa Africana, as ilhas de Cabo Verde estendem-se por cerca de 4033 Km2 e foram formadas pela acumulação de rochas, resultantes de erupções sobre as plataformas submarinas. O arquipélago tem, de uma forma geral, um aspecto imponente e magestoso. Algumas ilhas são áridas, mas noutras a vegetação é exuberante, tropical. O relevo da maior parte das ilhas é acidentado, com altitudes que ultrapassam os mil metros em algumas ilhas atingindo mesmo 2.882 metros na ilha do Fogo.

As três ilhas mais orientais têm um relevo mais plano e um clima mais árido por estarem expostas aos ventos secos e quentes do sahara. As costas são caracterizadas pelos contrastes entre as falésias altas e abruptas caindo a pique sobre o mar e as vastas praias de fina areia.

População

Em Cabo Verde, a taxa anual de crescimento demográfico e a de mortalidade são baixas, comparadas às taxas médias de outros países com rendimento médio. A esperança média de vida é de 62 e 65 anos, respectivamente para homens e mulheres.



Batucadeiras de Cabo Verde

A população residente no país é estimada em 434.263 habitantes, sendo uma população jovem com média de idade de 23 anos. A falta de recursos naturais e as escassas chuvas no arquipélago determinaram a partida de muitos caboverdianos para o estrangeiro. Actualmente a população caboverdiana emigrada é maior do que a que vive em Cabo Verde.
____________

Nota de CV

Fotos e textos retirados da
Página Oficial do Governo da República de Cabo Verde

Guiné 63/74 - P3034: Blogues da nossa blogosfera (1): Bissau Calling (Joaquim Mexia Alves)

A Guiné-Bissau é como um sorriso do outro mundo

Mensagem do Joaquim Mexia Alves, de 23 de Junho:

Caro Luis e camarigos,

Chamo a atenção para um blogue, dum portugês chamado Miguel Girão de Sousa, e que é o "Conselheiro Político, de Protocolo e de Informação Pública da Missão da União Europeia de Apoio à Reforma do Sector de Segurança da Guiné-Bissau" (1).

O blogue chama-se Bissau Calling ( http://bissaucalling.blogspot.com/) e tem como subtítulo "A Guiné-Bissau é como um sorriso do outro mundo".

Começou há pouco tempo [, Maio de 2008,] e tem fotografias óptimas.

Aqui fica a sugestão (2).

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
__________

Edição de vb:

(1) Para quem estiver interessado em conhecer um pouco melhor a Missão da União Europeia de Apoio à Reforma do Sector de Segurança da Guiné-Bissau, clique aqui.


(...) "The EU has decided to establish an advice and assistance mission in support of the Security Sector Reform (SSR) in Guinea-Bissau. The mission will be undertaken in partnership with the Guinea-Bissau authorities. It will be conducted under the ESDP (European Security and Defence policy).

Called 'EU SSR Guinea-Bissau', the mission will provide advice and assistance on reform of the security sector in Guinea Bissau in order to contribute to creating the conditions for implementation of the National Security Sector Reform Strategy.

The mission is part of a coherent EU approach and complementary to the European Development Fund and other European Community activity.
General Esteban Verástegui has been appointed as the Head of Mission for EU SSR Guinea-Bissau " (...).


(2) Aqui vai um excerto de um poste, para amostra:

"Estava eu a ler com a A. e mais algumas pessoas o Anunciador, jornal escolar de referência do Liceu Dr. Rui de Barcelos, quando me deparo com o seguinte texto que não resisto em partilhar: 'Em negócios, como turistas ou para visitar familiares e amigos, são cada vez mais os visitantes (estrangeiros e nacionais) que chegam à cidade de Bissau. Para uma estadia mais curta ou mais prolongada, há diversas opções para passar o tempo em Bissau: visitar monumentos de referência histórica, fazer desporto, assistir a espectáculos variados, tomar um café ou um refresco, repousar, dançar, entre outros…' Não imaginam as filas de espera para visitar o Palácio Presidencial, os museus e igrejas (entre outros...). Ao fim de semana é para esquecer. Pior do que em Paris ou Amesterdão. Só mesmo com bilhete reservado... A Turangra devia pensar mais neste destino. "
in Bissau Calling, de 7 de Julho de 2008

Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

1. Da casa da Guiné-Bissau em Coimbra, recebeu o nosso Editor Luís Graça o seguinte convite pessoal:

Exmo. Sr. Luís Graça,
Coimbra, 03 de Julho de 2008

Assunto: Presença na tomada de posse dos órgãos sociais da “Casa da Guiné-Bissau em Coimbra”.

Recentemente criou-se uma comissão instaladora, que lançou as bases para a constituição da “Casa da Guiné-Bissau em Coimbra”, uma entidade cujos objectivos são os de zelar pelos interesses da comunidade guineense do distrito de Coimbra, nos âmbitos intelectuais, culturais e socio-económicos.

No passado dia 15 de Junho de 2008, realizaram-se as primeiras eleições para os seus órgãos sociais, saindo vencedora a lista liderada pelo Doutor Julião Soares Sousa.

Neste sentido, a comissão eleitoral tomou a liberdade de convidá-lo a si e aos seus camaradas da Guiné a marcarem presença na tomada de posse dos órgãos sociais, que terá lugar no dia 12 de Julho de 2008, pelas 11h, no Centro Cultural D. Dinis da Universidade de Coimbra.

Com os melhores cumprimentos,
A comissão eleitoral,
Dr. Quecuta Manafá

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O historiador Julião Soares Sousa, natural de Bula, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (1).

2. O nosso Editor Luís Graça, impossibilitado de comparecer na tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau, em Coimbra, por ser esta uma altura em que os seus deveres de Professor na Universidade Nova de Lisboa/Escola Nacional de Saúde Pública, lhe tomam imenso tempo, deseja as maiores felicidades a quem toma em seus ombros o encargo de dirigir aquela instituição, especialmente ao senhor Doutor Julião Soares Sousa.

Como o convite é extensivo a todos os Tertulianos do nosso Blogue, fica dado o conhecimento público desta cerimónia, para aqueles que tenham oportunidade, compareçam.
________________

Nota de CV:

(1) Vd. poste da notícia de doutoramento de Julião Soares Sousa de 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos / Carlos Vinhal)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)




Quadro I - Evolução do armamento do PAIGC no TO da Guiné (1961-69)... Fonte: Supintrep nº 32, Junho de 1971. Naturalmente faltam os Strela, os mísseis terra-ar que apareceram em Março de 1973, nos céus de Guileje...


Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, em 19 de Setembro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma :


PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (Parte XII) > Logística:


a. ABASTECIMENTO DE MATERIAL DE GUERRA E INTENDÊNCIA (*)

1. Armamento e munições


Os grupos armados do PAIGC dispõem de material ligeiro moderno, próprio para o tipo de guerra que pratica, ao qual associa armas pesadas, tais como canhões sem recuo e morteiros de vários tipos, metralhadoras e peças anti-aéreas, metralhadoras pesadas, foguetões 122, havendo notícias de que possui já, ou possuirá a curto prazo, mísseis terra-ar [Strela]. Esta gama de armamento de origem russa, chinesa e checa, é recebida quer directamente desses países quer a partir de Cuba, e encontra-se descrito no SUBINTREP 33.

Dada a grande variedade de armas utilizadas e, dentro do mesmo tipo de armas, de vários calibres, poder-se-ia admitir que se verificassem deficiências ou dificuldades no seu emprego, estas últimas especialmente devidas a deficiências de reabastecimento. Tal não acontece, porém, e, muito ao contrário, em todas as acções que tem levado a cabo o IN tem vindo a actuar com crescente potencial de fogo em que o quantitativoe a variedade das munições consumidas revelam níveis apreciáveis, não sendo raras as flagelações em que são consumidas várias centenas de granadas de canhão e morteiro. A ausência de restrições no consumo de material é suficientemente elucidativa da “generosidade” dos países fornecedores.

O mesmo acontece com os engenhos explosivos, minas anti-carro e anti-pessoal, normalmente de fabrico russo, das quais o IN faz largo uso.

Considerando os vários tipos de armas utilizadas, julga-se que será de interesse incluir neste documento elementos respeitantes ao seu aparecimento no TO, o que constiturá uma pequena história das sucessivas “fases” em que podemos dividir o tempo que meneia entre a eclosão do conflito e os dias de hoje, fases essas definidas presisamente pela utilização de novos armamentos.

Consideram-se as seguinte referenciações (Vd. Quadro I, em cima):

Tipo de armamento - Espingarda gentílica de caça

Mês e ano do seu aparecimento - Junho de 1961
Local onde foi referenciado pela 1ª vez - S. Domingos

Pistola / Jul-Dez 1962 / Frente Sul

Pistola metralhadora e granada de mão / Jan 1963 / Tite

Mina Anti-carro / Jul 1963 / Estrada Fulacunda - S. João

Metralhadora ligeira / Jul -Dez 1963 /

Morteiro 82 / Jan-Fev 1964 / Buba, Ilha do Como

Metralhadora pesada 12,7 / Março de 1964 / Cabedú

Lança granadas-foguete / Ago 1964 / Piche

Morteiro 60, espingardas automáticas, semi-automáticas e minas generalizadas / Dez 1964

Canhão s/recuo 82 mm / Jul 1966 / Beli

Canhão s/recuo 75 mm / Nov 1966 / Canquelifá

Confirmação da utilização de meios rádio / Dez 1966

Lança granadas-foguete RPG7 / Nov 1967

Canhão s/recuo T21 / Jun 1968

Morteiro 120 / Ago 1968 / Gandembel

Foguetões 122 / Nov 1969 / Bolama



Lisboa > Museu Militar (1) > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC) (**). Os primeiros foguetões 122 mm terão sido usados, pela primeira vez, numa flagelação contra Bolama, em Novembro de 1969.


Foto [à esquerda]: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.


Entrando em linha de conta com estes elementos, consideram-se as seguintes fases no desenrolar da luta:


1.ª FASE [1961/63]



Definida pelo uso de armas de caça e armas gentílicas e caracterizada também pela utilização de pistolas, pistolas metralhadoras e granadas de mão, a qual se estende até Julho de 1963.


2.ª FASE [1963/1966]

Caracterizada pela utilização de minas A/C e armamento pesado, nomeadamente morteiros 82, metralhadoras pesadas e lança granadas-foguete, até meados de 1966.

3.ª FASE [1966/69]

Caracterizada pela utilização de espingardas automáticas e semi-automáticas, canhões sem recuo (s/r) 75 e 82 mm, morteiros 120, a par de todas as outras anteriormente referenciadas.


4.ª FASE [Nov 1969... ]

O início desta fase, Novembro de 1969, é caracterizada pelo aparecimento no TO de foguetões 122, em paralelo com todo o restante armamento citado.

3. As arrecadações

São instalações de vários tipos onde o IN guarda o seu material, sendo a sua capacidade e construção dependente do escalão que servem. Verifica-se, assim, a existência de arrecadações de grande capacidade (Depósitos) construídas em betão nas bases das regiões fronteiriças, arrecadações mais pequenas, embora seguras, junto dos órgãos de comando das Frentes e Sectores, e pequenas arrecadações, muitas vezes simples buracos camuflados, junto dos acampamentos das unidades mais elementares.

Estas “arrecadações”, que possuem sempre um encarregado, o “responsável”, situam-se, especialmente as que servem unidades de pequenos efectivos, fora das áreas dos acampamentos de modo a não serem facilmente detectáveis.

A fim de protegerem o material guardado nestas “arrecadações” rudimentares, o IN utiliza plásticos, caixotes de madeira, de cibes e de ferro, além de outros materiais de protecção; nas “arrecadações” que reunem já razoáveis condições de armazenamento não são descurados os cuidados a ter com o material, sendo o mesmo colocado em caixotes que assentam em estacarias, defendendo-o assim da humidade e da bicharia.


4. Maneira como se processa o reabastecimento de material


Kandiafara e Koundara são, como se referiu já, as bases logísticas de apoio à Inter-Região Sul e Inter-Região Norte, respectivamente, sendo Boké e Kolda pontos de passagem e controle de viaturas e material nelas transportado. Este, vindo dos órgãos logísticos e centrais de Conakry, chega às bases inter-regionais onde fica registado e armazenado até ser feita a sua distribuição pelas bases que, nas regiões fronteiriças e no interior, servem as diferentes Frentes e Sectores. Aqui, por sua vez, acaba também por ser distribuído pelos acampamentos das diferentes unidades.

O procedimento adoptado para o processamento da distribuição do material é o seguinte: cada escalão elabora relações de material especificando nelas o material consumido ou desaparecido, o operacional e o inoperacional, o fornecido e o evacuado. Estas relações são enviadas periodicamente aos escalões superiores, os quais procedem aos necessários ajustamentos em função delas.



____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC: Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)


(**) Vd. postes anteriores sobre o armamento do PAIGC:

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (1): Metralhadoras pesadas Degtyarev, antiaéreas (Nuno Rubim)

27 de Junho de 2007 >Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)

(...) Tipo de Armamento > DESIGNAÇÃO

Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO

Morteiro 120 mm > BADORA

Canhão S/R B-10 > BEDIS
Canhão S/R 75 mm > TECHONGO

Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊS

Lança Granadas-Foguete RPG-2 > BAZOOKA CHINA, BAZOOKA LIGEIRO, LANÇA PEQUENO

Lança Granadas-Foguete 8,9 cm (M20 B1) > BAZOOKA CUBANA

Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,

Metralhadora Pesada GORYOUNOV Cal. 7,62 mm M-943 SG > TRIPÉ, GORRO NOVO

Metralhadora Pesada ZB – 37 ZDROJOVSKA > TRIPÉ, TRIPÉ BESSA

Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICO

Metralhadora Ligeira DEGTYAREV RDP Cal. 7,62 mm > BIPÉ CHECO, BIPÉ PACHANGA

Metralhadora Ligeira M-52 Cal. 7,62 mm > BIPÉ CAUDO, BIPÉ MAQUESSEN

Metralhadora Ligeira BORSIG Cal. 7,92 mm > BIPÉ

Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICO

Espingarda Automática SIMONOV (SKS) Cal. 7.62 mm > CARABINA AUTOMÁTICA ou CHIME AUTOMÁTICA, CANHE BALE (JOL), CARABINA SINECE, CARABINA CHINESA, E.S.A SIMA

Espingarda M-52 Cal. 7,62 mm > CARABINA CHECA

Espingarda MAUSER K98K > MAUSER

Espingarda Semi-automática M-52 Cal. 7,62 mm > CHIME AUTOMÁTICA, CARABINA BOMBARDEIRA

Carabina MOSIN-NAGANT M-944 > CARABINA RÔSSIA (SOVIÉTICA

Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE

Pistola-Metralhadora M-25 > MERENGUE ou RICON RICO

Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)> PACHANGA, METRO ou METAR

Pistola-Metralhadora SUDAYEV Cal. 7,62 mm M-943 (PPS) > PM de FERRO, 
DECÉTRIS,MODELO PACHANGA, PM CHINESA

Pistola-Metralhadora THOMPSON Cal. 11,4 mm > RICO JAZ-THOMPSON

Pistola-Metralhadora BERETTA N-38/42 e M-38ª> BERETTA

Pistola-Metralhadora SHMEISSER MP-38 e MP-40 > COPTER

Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA

Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA

Guiné 63/74 - P3031: Convívios (70): Pessoal da CCAÇ 816, no dia 10 de Maio de 2008, em Viana do Castelo (Rui Silva)


Rui Silva
ex-Fur Mil
CCAÇ 816
Bissorã, Olossato, Mansoa
1965/67

1. Em 6 de Julho recebemos o reenvio (a nosso pedido) de uma mensagem de 15 de Maio do nosso camarada Rui Silva, onde ele nos dava notícia do Convívio Anual da CCAÇ 816.

Caro Vinhal:
Agradeço a tua atenção e recebe desde já um abraço com os votos de saúde e boa disposição par ti, Luís Graça e Briote.
O mail que te enviei há tempos não terá sido bem feito por mim, pois fi-lo de forma diferente. Também foi com alguns erros de digitação, porque foram palavras mal escritas que eu pensei que não iam. Um lapso meu.

Espero agora, que com este movo mail tudo se regularize.
Peço desculpa.
Portanto este será o mail tido como oficial.
Mais uma vez agradeço a tua atenção.
Rui Silva

Convívio Anual da CCAÇ 816

No passado Sábado, dia 10 de Maio de 2008, teve lugar mais um alegre e salutar Convívio Anual da família 816.

Do programa com ponto de encontro no Mosteiro da S.ta Luzia em Viana do Castelo, constou, como habitualmente, de uma missa por alma dos camaradas falecidos em combate e também dos outros que infelizmente nos vão deixando.

Houve de seguida uma romagem ao cemitério de Perre (arredores de Viana do Castelo) onde o numeroso grupo da 816 e seus próximos familiares prestou uma homenagem ao seu saudoso e querido amigo Tiago Manso, falecido numa emboscada numa Pperação a Iracunda, no OIO, no ano de 1966.

Como sempre, o então Capitão e Comandante da Companhia Luís Riquito, fez uma prelecção junto ao Mausoléu onde se encontram os restos mortais do Tiago Manso, evidenciando e enaltecendo as nobres qualidades do combatente Manso que viu a vida fugir-lhe em plena juventude e quando se integrava num grupo de companheiros indefectíveis e que como ele corajosamente lutavam.

Seguiu-se um almoço na Quinta do Sapo (arredores de Viana do Castelo) onde os elementos da 816 mais os seus queridos familiares, confraternizaram numa sã e sempre bem-disposta convivência.

Cabe aqui uma palavra de apreço ao grande amigo e colega de combate Armando Barrumas que em colaboração com as suas queridas filhas proporcionou uma festa bem cuidada e bem organizada.

Até ao ano boa gente da 816!!

Aproveito a oportunidade para pedir que considerem futuramente o meu novo endereço

Um abraço para todos os tertulianos
Rui Silva

Foto 1>O grupo da 816, muitos militares e seus familiares junto ao Mosteiro de S.ta Luzia em Viana do Castelo que foi o ponto de encontro.

Foto 2> O então Capitão na altura da Campanha, Luís Riquito, fez, como habitualmente, uma prelecção aludindo aos nobres valores do querido e saudoso amigo Tiago Manso junto à sua sepultura, e falecido em combate na Guiné (zona de Iracunda-região do OIO no ano de 1966.)

Foto 3> Lápides no Mausoléu aonde se encontram os restos mortais do Tiago Manso.

Foto 4> A mesa dos Oficiais no almoço de Confraternização: da esq.: O ex-Alferes Castro; o ex-Alferes Esteves; O então Capitão Luís Riquito (hoje Coronel na reforma) e o ex-Alferes Costa.

Foto 5> O partir do tradicional bolo (o emblema da Companhia). Uma neta do Organizador do evento, o nosso querido amigo de luta o Armando Barrumas, ajuda o capitão Riquito à divisão do bolo. Ao lado o ex-Alferes Costa sempre com o seu sentido de bom-humor presente

Foto 6> O organizador do evento deste ano: O Armando "Barrumas" que com brio e empenho e com a ajuda das suas querida filhas tornaram o evento muito completo e impecável.

Guiné 63/74 - P3030: In Memoriam (6): General Hélio Felgas (Torcato Mendonça)

Mensagem do Torcato Mendonça, de 25 de Junho



Luís Graça e Editores,

Ontem quando li a notícia fiquei triste. Aos poucos – costuma dizer-se: da lei da Morte ou da Vida se vão libertando... Prefiro dizer: faleceram.

Neste caso, faleceu o General Hélio Felgas e já tinham falecido o Marechal Spínola, o Coronel Pimental Bastos, o Payne (médico BCaç 2852). Pessoas com as quais convivi, mais ou menos, na minha passagem pela Guiné.

Todos eles me mereceram e continuam a merecer o meu respeito. Nunca diria deles Caco Baldé, Pimbas ou outro "nome" a qualquer. Aceito que outros o usem. É problema que me transcende.

Mas outros militares foram desaparecendo, alguns que comigo ou contigo, Luís - estivemos na mesma zona – não conviveram, caso do Capitão José Neto e a todos, mais certamente aos que de perto com ele privaram, deixou (deixaram) grande saudade. São, queiramos ou não "bocados" de nós, que se vão aos poucos perdendo. É natural, é a lei da vida. Mas é triste, como era lá, meus caros. Todos por isso passamos.

Conheci o General Hélio Felgas. Antes da Lança Afiada, durante esta operação, quando estive em Galomaro, no COP 7, a trabalhar para a CCAÇ 2405, na operação que levou à destruição do acampamento do Mamadu Indjai e à captura do Malan Mané. Tudo davam estórias e mostravam facetas do Homem e Militar que Ele foi. Estás a pensar: Que raio, o tipo está a ficar militarista. Nada disso. Estou é a sentir que aos poucos muitos vão desaparecendo e, muitos ou alguns deles, em vida deviam ter tido melhor tratamento.

Repara, que não falo na cambança do Cheche: porquê? Aponto só dois motivos: o Alf Diniz era do meu curso e conheci-o; ouvi o relato feito por um ou dois militares que lá estiveram (um o Capitão Neto, de Nova Lamego) e aceito o relato dos nossos camaradas da 2405. Nessa data estava em Portugal, em férias. Dava um bom dossiê e não difícil de formar. Até convinha…Como convinha o dossier Lança Afiada e o erro da falta de mais apoio aéreo (Leia-se bombardeamentos – da minha responsabilidade – e emprego de forças especiais que, devido á sua mobilidade teriam provocado outro desenlace, ou seja, baixas ao IN).

Permitam-me uma sugestão:

(i) Que se faça uma página no blogue com nome e curta biografia destes Homens;

(ii) Que certas operações, ou casos polémicos, tenham página própria para rápida consulta e estudo. (Certamente seriam melhor completados)!

À vossa consideração

Um abraço,

Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
__________

Notas:

1. Fixação do texto: vb
2. Artigos relacionados em:

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2981: Hélio Felgas, com Spínola, em Bambadinca (Jaime Machado)

25 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2985: Homenagem ao meu professor da Academia Militar, Hélio Felgas (António Costa, Cadete aluno nº 11/650, Curso ART 1964/67)

Guiné 63/74 - P3029: O regresso, finalmente! (Maria da Conceição Vitoriano Maia)

1. No dia 6 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem da nossa amiga Maria da Conceição Vitoriano Maia, irmã de António Vitoriano, um dos malogrados Pára-quedistas da CCP 121 que faleceram em combate, em Guidage, no mês de Maio de 1973 (1).



O regresso, finalmente!

Está prestes a chegar ao fim uma angústia que dura há 35 anos.
Ontem dia 4 de Julho aterrou na AT1 o corpo do Lourenço, do Peixoto e do meu irmão António Vitoriano, Soldados Pára-quedistas da CCP121, 35 anos após a sua morte.

Foi com grande honra que participei na missão de resgate em Março deste ano, e foi também com grande orgulho que participei nessa missão com Homens como o Coronel Calheiros, o Major General Borges e o Major General Bernades e mesmo não estando no mato mas sempre presente o General Avelar de Sousa que noutra frente actuava, assim como o Coronel Danif, e todos os membros da CTM de Bissau o meu agradecimento.

Foi com muita dor e pena que não tenham chegado também ontem os corpos dos soldados do Exército que resgatámos em Guidaje, mas a sua identificação está ainda atrasada e teve de se optar por virem alguns à frente, estando ainda em curso o processos de exames laboratoriais do ADN, com vista à sua identificação definitiva.

As urnas com os restos mortais dos três pára-quedistas ficarão depositadas na capela da igreja da Força Aérea até às cerimónias fúnebres aprazadas para o próximo dia 26 deste mês.

Depois da missa, que será celebrada pelo capelão-chefe da Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, no Mosteiro dos Jerónimos, os três soldados serão transportados num avião militar para o quartel das tropas Pára-quedistas em Tancos onde serão então alvo de uma derradeira homenagem militar sendo depois entregues às famílias para serem finalmente e definitivamente sepultados nos cemitérios das localidades onde residiam, respectivamente em Castro Verde, Caxinas (Vila do Conde) e Cantanhede.

Desde Março deste ano que esperei o momento de ontem, e mesmo quando velhos do restelo surgiram, mantive-me confiante e esperançada que tudo se resolveria.

Não pretendo ter qualquer protagonismo, mas sim quero ajudar familias que como a minha tiveram de esperar 35 anos pelo momento que vivi ontem... compreendo agora melhor as vossas memórias....

Ao vosso blogue tenho de vos agradecer por através dele ter percebido aquilo porque que passaram e sofreram e mais fácilmente ter podido preparar-me para a missão de que me orgulho ter participado, a vocês o meu muito obrigado e sim a blogoterapia funciona.

A todos o meu muito obrigado
Maria da Conceição Vitoriano Maia


A Antropóloga Forense, Eugénia Cunha, Professora da Universidade de Coimbra, que chefiou o grupo que exumou os restos mortais dos militares

No dia 26 de Março de 2008 podia ler-se no Jornal Campeão das Províncias Online o seguinte artigo, assinado por CP:

Figura da Semana: Eugénia Cunha

A antropóloga forense Eugénia Cunha, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, liderou com êxito a missão técnica que no passado dia 18 exumou os restos mortais de dez militares portugueses enterrados há 35 anos em Guidaje, Guiné-Bissau. Financiada pela Liga dos Combatentes de Portugal no âmbito do programa “Conservação de Memórias”, a operação de duas semanas de trabalho culminou com a exumação dos restos dos combatentes tombados na sequência de violentos confrontos.
Segundo dados oficiais, estão sepultados mais de 700 militares portugueses na Guiné-Bissau, sendo que a operação de Guidaje é a primeira de uma série de acções de recolha e identificação de restos mortais de antigos combatentes. O objectivo da operação, que conta com o apoio do Ministério da Defesa, da UC e do Instituto Nacional de Medicina Legal, é sepultar com dignidade os soldados falecidos durante a Guerra Colonial.
Dentro de um mês deverão ser conhecidos os primeiros resultados laboratoriais, referentes à análise antropológica. Já a identificação das ossadas, que obriga a análises genéticas, é um procedimento mais demorado. Os cadáveres exumados deverão, depois, ser sepultados no cemitério de Bissau.

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Notas de CV:

(1) Vd. alguns dos postes relacionados com este apaixonante tema de:

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas. Rui Fernandes.

21 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2670: Fez-se História em Guileje (Nelson Herbert)

22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

20 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973