quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3260: Blogues da Nossa Blogosfera (3): CAÇADORES 3441 (Angola, 1971/74)

1. Mensagem do nosso camarada Egídio Cardoso, da CCAÇ 3441, Angola 1971/74, com data de 27 de Setembro de 2008.

Alguém teve a ideia de, num blogue colectivo, contar histórias sobre a nossa passagem pela guerra de África.

Pensava que a ideia era original até que, há dias, ao procurar imagens de uma LDP, dei com o vosso Blogue.

Interessante, até porque é sobre a Guiné.

Não querem dar uma voltinha pelo nosso? É sobre Angola, e ainda é muito recente, ao contrário do vosso. Vejam a primeira mensagem postada, "O Repto".

Cumprimentos.
Caçadores 3441.
http://angola3441.blogspot.com/


República Popular de Angola > Imagem retirada da Página da Embaixada de Angola (com a devida vénia...)


2. Com a devido agradecimento ao nosso camarada, transcrevemos a sua mensagem postada:

O REPTO


Caro Amigo:
A Companhia de Caçadores 3441 (Angola 1971-1974) deu origem a 4 livros, já publicados, e escritos por participantes na mesma: o capitão Cabrita (2), o alferes Aranha e o cabo Joaquim Sousa.

Esta circunstância, talvez única, de uma pequena unidade militar portuguesa da Guerra do Ultramar dar origem a tanta literatura, onde pontuam as experiências, os anseios, as desilusões, as lágrimas e as alegrias, o sofrimento, as derrotas e vitórias de cada um, fez-me surgir uma ideia, que, de momento, não passa disso mesmo: lançar um desafio a todos os militares da 3441. Um desafio que, a ser aceite, dará origem, pela primeira vez (que eu saiba), a um acontecimento na história da literatura: um livro escrito por dezenas de protagonistas, descrevendo as mesmas situações e, por isso, vistas por personalidades diferentes. No final, resultaria um livro, escrito por muitas mãos, numa sinfonia de sentimentos comuns e contradições, desnudando almas que jamais se libertaram do passado e da juventude vivida longe da família e amigos, em condições que nunca tinham sonhado.

No final, se a tanto ajudasse "o engenho e a arte" publicar-se-ia outro livro, com um autor apenas: COMPANHIA DE CAÇADORES 3441.

Levar a cabo esta original iniciativa, apenas será possível com a colaboração de um número substancial de participantes. Cada um colocaria neste blog os seus posts depois de fornecido o mote para o capítulo que estivesse na calha, por exemplo: a viagem de Lisboa a N'Riquinha; a primeira sensação de África; o mato; as operações; o dia a dia na caserna; as histórias de amores adiados; etc, etc. Tudo visto e relatado por uma multiplicidade de homens, todos na casa dos "quase 60" e a trinta e muitos anos de distância.

Para que tal fosse possível, todos os interessados teriam acesso livre ao blog, fornecendo eu, o username e a password.

Este primeiro passo, terá continuidade se encontrar da vossa parte, a vontade de colaborar e com regras que em tempo e em conjunto, definiremos.

No fundo, reviveríamos com muito mais frequência os nossos encontros anuais.

Como primeiro acto, sugiro a todos os que acederem a este blog, que passem a informação aos camaradas de armas que estiverem ao seu alcance, devendo cada um, pedir, através dos comentários e indicando um endereço electrónico, os códigos para participar.

A ideia é simples, e, por mail ou através do blog, ajustaríamos cada vez melhor a forma de se levar a cabo esta ideia. Por isso, peço sugestões, sendo certo que não será fácil a empreitada.

Publicada por Gabriel Costa

3. Comentário de CV

Caro camarada Gabriel Costa

Já fui espreitar o teu Blogue. Prometo ser um frequentador assíduo, até porque a vossa guerra era um pouco diferente da nossa. Sendo Angola 14 vezes maior que Portugal e a Guiné um pouco maior que o Alentejo, poderás aquilatar das nossas dificulades. Na Guiné vivíamos porta com porta com o IN a ponto de ouvirmos (a Guiné não tinha sequer elevações de terreno dignas de registo, logo o som propagava-se com as maiores das facilidades) a actividade das populações controladas por ele. Caso curioso é que quando íamos a essses locais, não encontravamos vivalma.

Vou fazer um link para a tua página, para dar possibilidade a quem a quiser visitar, o fazer a partir da nossa. O tratamento é recíproco.
Aqui fica a auto-apresentação do blogue dos nossos camaradas da CCAÇ 3441:
"Descrição conjunta das vicissitudes de 160 militares que em Novembro de 1971, rumaram para Angola ao serviço da Pátria e de onde regressaram em janeiro de 1974. Blog escrito a várias mãos [Gabriel Costa, Pedro Cabrita , Egidio Cardoso ], com muitos estados de alma mas um só objectivo: a história de uma Companhia de Caçadores nas matas de Angola".
Um abraço para ti e para a tua tertúlia, desta imensa Tabanca Grande que é o nosso Blogue.

Carlos Vinhal
Co-editor

Guiné 63/74 - P3259: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (6): Alguns esclarecimentos (Jorge Félix)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av, de hélis (Bissalanca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2008.

Caro Carlos,

Já sei que te caiem muitos emails em cima da mesa. Este vai ser mais um, mesmo antes de ter sido feita a emenda ao autor do poste sobre o Honório (*).

Desta vez gostaria de chamar a atenção do seguinte:

i - Quem ler no Poste 3232 - "um alferes e o piloto da aeronave, cuja identidade se desconhecia, até o membro da nossa Tabanca Grande, o Jorge Félix, ex-Alf Pil Av, identificar a aeronave (um Cessna vermelho) que pertencia aos TAGCV - Transportes da Guiné e Cabo Verde e o piloto, de nome Castro... Ou seja naquele tempo (1970/71) já havia aviação civil, mesmo que só houvesse um Cessna vermelho...", ficará com a ideia que a informação não está correcta. Como fui eu que a dei quero também acrescentar mais um ponto.

O Castro era mais um de muitos Pilotos de cor que a FAP tinha. À data, 1969/70, os TAGV tinham mais que aquele Cessna vermelho. Se fizer um esforço de memória, recordará também um não menos famoso Comandante Pombo, piloto chefe dos TAGV. Em inícios de 1971, entrou para os TAGV o furriel Duarte, ...

"Mesmo que só houvesse um Cessna ...." não está correcto. Gostaria que emendassem isso, os TAGV tinham vários aparelhos.


Guiné > Região de Tombali > Guileje CCAÇ 2617, Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971 > CCAÇ 2617... A chegada da avioneta com o correio (e, às vezes, alguns víveres)... Na foto, em primeiro plano, da esquerda para a direita, o Fur Mil Abílio Pimentel, um alferes e o piloto da aeronave, cuja identidade se desconhecia, até o membro da nossa Tabanca Grande, o Jorge Félix, ex-Alf Pil Av, identificar a aeronave (um Cessna vermelho) que pertencia aos TAGCV - Transportes da Guiné e Cabo Verde e o piloto, de nome Castro... Ou seja naquele tempo (1970/71) já havia aviação civil.


ii - O Branquinho diz agora que estava convencido que o Honório voava T6. Na verdade o Honório voou T6 na primeira comissão, mas, e daí ficou a sua lenda, como fazia rapadas abaixo do nível do mar, a fim de acertar nos trabalhadores das bolanhas, foi impedido de voar T6 e passou a voar somente DO27.

Uns postes antes (P3224) Branquinho dizia:

- O zunir dos motores de um FIAT, que voasse baixo, era (naturalmente!) pilotado pelo Honório e por mais ninguém. Não tinham dúvidas.

Foi esta parte sem muita importância que eu pedi para corrigirem. O Honório nunca foi piloto de Fiats.

Quem é que ficou incomodado com a referência a "preto"e "mulato" no meu texto do Poste 3224 a propósito do Honório, Alberto Branquinho? Vamos a ter atenção às datas dos outros Postes.

...Escrevi um texto em que entrava a NÔNÔ, o Cap Neto (Julgo que natural do Congo ex-Belga) (se não é este, as minhas desculpas) e o Honório.

Enquanto olhava para a minha cor deparei com o meu umbigo e depois de com ele muito conversar, resolvi não falar nada dessas relações. Vejam nas reticências, ... a história que nunca será contada.

Sempre evitei falar dos acontecimentos do ultramar, porque achava que as pessoas não as entendiam. Nunca pensei que aqueles que por lá também andaram não as pudessem entender.

Vou dar conhecimento deste post aos Especialistas da BA12 por terem sido visados nesta troca de mimos.

Jorge Félix
______________

Nota de CV

(*) Vd. postes anteriores desta série:

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

3o de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

Guiné 63/74 - P3258: PAIGC: Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)


Guiné > PAIGC > Algures numa região libertade do sul, presume-se > Foto do inevitável e incontornável Bara István, reporter fotográfico da agência de notícias húngara MTI > 1970 > "Csendes dzsungel folyó, Guinea-Bissau, 1970" (segundo o meu fraco húngaro, "Guiné-Bissau, 1970: o silêncio da floresta e do rio"...). Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria, disponível - aparentemente copy left - no seu sítio comercial (em húngaro): Fotó Bara Fotográfiai és számítástechnikai szaküzlet. Em 1969/70 ele andou pela Guiné-Conacri e pelas regiões do sul controladas pelo PAIGC. Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria / Photogalery (com a devida vénia / by courtesy )


1. Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma, que é residente da Tabanca de Matosinhos, a maior das tabancas da nossa Tabanca Grande...

Este texto já circulou pela nossa tertúlia, através de mensagem de 29 de Setembro de 2007. Esta série tem vindo a ser publicada, com alguma irregularidade, desde há um ano, e está longe de ter chegado ao fim.

Como temos dito e redito, a divulgação deste e doutros documentos sobre a organização e o funcionamento do PAIGC é meramente ididáctica, não implica, por nossa parte, qualquer juízo de valor. E, não é de mais referi-lo, não é um documento do PAIGC (embora utilize fontes escritas e orais ligadas à guerrilha que então nos combatia); pelo contrário, tem como origem o próprio Com-Chefe da então província portuguesa da Guiné. Trata-se de Supintrep que foi distribuído aos comandos das unidades do CTIG em Junho de 1971.(Supintrep: Do inglês, Supplementary Intelligence Report, ou seja, Relatório de Informação Suplementar.) (LG)


PAIGC: Instrução, táctica e logística (16) > Itinerários de abastecimentos


Revisão e fixação de texto: AML/LG. Notas, em itálico, de AML.
[ Estes são dados muito interessantes e importantes para cada um de nós poder comparar com a sua experiência pessoal quando esteve no terreno.]


a. ITINERÁRIOS DE ABASTECIMENTOS

(1) Generalidades

É a partir de Conacri que, sem quaisquer condicionamentos na utilização dos itinerários da Rep Guiné e com algumas restrições nos da Rep Senegal, são abastecidas as principais bases e, a partir destas, o interior do TO.

O itinerário principal, como que a “espinha dorsal” da cadeia logística montada pelo PAIGC, é aquele que, saindo de Conacri, segue por Boké, Koundara, Kolda, Tanaff e Ziguinchor, estabelecendo uma “cinta” à volta da nossa Província, da qual partem itinerários secundários para o reabastecimento das regiões fronteiriças e daqui para o interior do TO, utilizando os chamados “corredores” de infiltração. Veja-se anexos I e J [mapas inseridos no fim - LG].

É, pois, o conjunto de itinerários que o IN utiliza, tanto no interior como no exterior, para concretização da sua actividade logística, que vai ser apresentado no presente capítulo.


(2) INTER-REGIÃO SUL


Existem em apoio à Inter-Região Sul duas Bases Logísticas de grande importância: Kandiafara e Boké, sendo a primeira orientada para apoio das Frentes de Buba/Quitafine, Catió, Quínara e Bafatá/Xitole e a segunda mais orientada para a Frente Bafatá/Gabu Sul, muito embora seja ponto de desembarque, passagem e controle de reabastecimentos detinados a Kandiafara e dos detinados à Inter-Região Norte. A maioria dos reabastecimentos chegados a Kandiafara, e provenientes de Conacri, são transportados em viaturas, via Boké, ou nos barcos do PAIGC directamente ou também via Boké.

Uma vez em Kandiafara, os abastecimento são armazenados nas instalações do Partido a eles destinados (5.f deste documento) até serem distribuídos pelas diferentes Frentes.

A partir de Kandiafara são os seguintes os itinerários utilizados:


- Para a fronteira




O itinerário Kandiafara-Kansambel é percorrido por viaturas para reabastecimento dos efectivos sediados na região de Kansambel/Mampatá-Bacirgo. Durante a época das chuvas fica intransitável mesmo para viaturas ligeiras visto que a enchente do rio Gudiagol impede a passagem na região entre Sintchuro e Kansambel. Quando isto sucede nem por isso o reabastecimento deixa de se fazer, sendo então o material e os víveres transportados a dorso por carregadores vindos para o efeito de Kasembel.

O itinerário Kandiafara-Bissamaia é utilizado para reabastecimento das unidades sediadas na região de Sansalé e Sector de Quitafine.

A existência e a recente ampliação de instalações do PAIGC em Bissamaia leva a concluir da existência de um complexo logístico para apoio do Quitafine, sendo o material dali trabnsportado em canoas com motor fora de bordo, sempre de noite, através do rio Baraban e rio Carach até Cambom.

Do antecedente era utilizado o porto de Kadinié (Rep Guiné) como ponto de passagem para a ilha de Canefaque, onde existia a principal “arrecadação” do Quitafine.

As limitações impostas pela Rep da Guiné à utilização desse porto pelos barcos do PAIGC vieram alterar o estado de coisas, pelo que os barcos passaram a dirigir-se, como se refreriu, a Cambom.

Como se disse, Boké é uma base logística de passagem, controle e armazenamento que, ao mesmo tempo, apoia a Frente Bafatá-Gabu Sul. Esta Frente, cujo comando se encontra na Base de Kambera, é abastecida por três itinerários que se dirigem a Nhantafará/Dalabare, Kambera e Lela/Vendu Leili, onde está referencida a presença deforças do IN.



- Para o interior

As colunas de reabastecimento para o interior, quer se destinem à Frente do Quínara ou Bafatá/Xitole, quer se destinem a Buba ou à Frente de Catió, uilizam para a infiltração de material o “corredor” de Guileje (**). A utilização deste “corredor” é feita por colunas apeadas e por viaturas, que, partindo de Kandiafara para Simbéli, seguem por TN até Porto Balana, onde o IN terá um hipotético “porto” e donde os reabastecimentos seguem por canoas através do rio Balana ou a dorso até à região de Salancaur/Unal.

No entanto, a maioria das colunas não se limitam a ir a Porto Balana aguardando a chegada do material em viaturas, indo a Simbéli a maior parte das vezes e mesmo a Kandiafara.

Pode esquematizar-e o itinerário seguido pelos reabastecimentos até à região de Salancaur/Unal do seguinte modo:





Em Salancaur/Unal as colunas irradiam para as várias Frentes conforme os itinerário que a seguir se descrevem:



- Para a Frente BAFATÁ/XITOLE


Do antecedente está recortada a linha de reabastecimento entre esta Frente e a fronteira sul, pelos seguintes itinerários:



Os carregadores que vão buscar material à fronteira são recrutados nas tabancas sob controle IN e reunidos normalmente na área de Cancodeia de onde partem. A cambança do rio Corubal é feita de acordo com o itinerário seguido. Se seguem por Portugal-Ualé, cambam na área compreendida entre Mina e Satecutá, se seguem o itinerário Gã Gregório-Bantael Silá o rio Corubal é cambado na área entre Fiofioli e Cancodeia Beafada.

As colunas que utilizam este último percurso logo que chegadas a Bantael Silá cambam o rio Cumbijã e seguem de canoa ou apeadas até à área de Salancaur. A partir de Salancaur tnto um como outro itinerário têm seguimento pelo “corredor” de Guilege até Simbéli, da maneira já descrita.

As colunas gastam dois dias para fazerem o percurso de dia e dois para o regresso, tendo sido referenciado o seguinte itinerário para uma coluna que utilizou o itinerário de Bantael Silá:

- Às 12h00 partida da região de Cancodeia, chegando à noite a Bantael Silá onde comeram e pernoitaram; saída de Bantael Silá no dia seguinte ao romper do dia, com chegada a Simbéli às 12H00;

- Partida de Simbéli na manhã do dia seguinte, tendo pernoitado em Bantael Silá;

- Saída de Bantael Silá na manhã seguinte, com passagem no cruzamento de Buba às 12H00 e chegada a Cancodeia ao anoitecer.

Verifica-se, assim, que as colunas para a Frente Bafatá/Xitole vão até Simbéli onde aguardam o material vindo de Kandiafara.

Após o regresso, o material é depositado na região Mina/Fiofioli, onde existe a principal “arrecadação” da Frente.

Do antecedente está recortada a intenção do IN em abrir uma linha de reabastecimento entre esta Frente e o Boé, o que evitaria a ida das colunas à fronteira sul por um itinerário onde a acção das NT nas sua zonas fulcrais (cruzamento de Buba e Uané) se fez sentir.

Assim, em meados de Setembro de 1969 saíram do Sector 2 (hoje Frente Bafatá/Xitole) dois bigrupos a fim de irem buscar reabastecimentos ao Boé (possivelmente Tourdoutala), os quais, no regresso, accionaram armadilhas colocadas pelas NT junto do itinerário Mansambo/Xitole. O percurso efectuado por este bigrupos foi o seguinte:

- Mina-Galo Corubal– estrada Xitole/Mansambo (a norte do rio Pulom)–Duá– Salifo–Barquege (A)–Láli Buaro (A)–Porto Djarga (onde cambaram o rio Corubal)–Madina Dongo-Tourdoutala, fazendo no regresso o itinerário inverso.

Após esta data, este itinerário, a que se chamou “corredor do Quirafo”, não voltou a ser utilizado, admitindo-se no entanto que o IN venha a procurar utilizá-lo como alternativa.


- Para a Frente do QUÍNARA

O recrutamento e reunião do pessoal é feito nas regiões de Gã Pará e Gã Formoso, após o que as colunas se dirigem ao Injassane pelo seguinte itinerário:

Gã João – Canjeque – Binhalom – Uaná Porto – Farená – Injassane

Em Injassane, as colunas escoltadas por um bigrupo deste Sector deslocam-se através do “corredor” de Missirá (já esquematizado) até à região de Sambaso, onde o bigrupo da escolta regressa ao seu Sector no dia imediato à chegada. Os caregadores dormem em Sambaso e no dia seguinte, ao romper da manhã, saem para a fronteira sem escolta, utilizando dois procedimentos:
- Se há canoas na região do Unal, seguem a via fluvial até Porto Balana e daqui, apeados, até à fronteira pelo “corredor” de Guileje;

- Se não há canoas na região do Unal, os carregadores cambam o io Lenguel para o rio Nhancobá, cambam o rio Cumbijã para Chim-Chim Dari e daqui para Simbéli, através do “corredor” de Guileje.

No regresso é utilizado o mesmo itinerário até Sambaso, local onde os carregadores dormem. Na manhã seguinte seguem para Uané, sendo escoltados no percurso Sambaso-Uané por um bigrupo do Sector de Buba. Uma vez em Uané é novamente o bigrupo de Injassane que toma à sua responsabilidade a segurança da coluna.

A partir de Injassane o itinerário para a região de Gã Formoso é inverso do que já se referiu.

Os itinerários utilizados pelas colunas de reabastecimento da Frente do Quínara podem ser esquematizados do seguinte modo:



- Para a Frente de CATIÓ

Na esquematização dos itinerários seguidos pelas colunas de reabastecimento para esta Frente há a considerar os vários sectores em que ela se divide. Assim, para o Sector de Cubisseco e o Sector de Tombali as colunas convergem em Chugué (1510 1120 E9-92) seguindo por Chacoal - Bantael Silá – Salancaur - Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até Simbéli.

No regresso as colunas seguem o itinerário inverso até Chugué, donde irradiam aos seus destinos. Se a coluna se destina a Cubisseco podem ser utilizadas duas linhas de reabastecimento, a saber:



Se a coluna se destina a reabastecimento às unidades de Tombali o itinerário a partir de Chugué segue para Bária, onde se encontra o comando do Sector e possivelmente a arrecadação principal.
O aparecimento de muitas canoas na região de Chugué/Flaque Umbaná denuncia a existência de um “complexo logístico” de apoio à Frente de Catió, o qual se completa com as instalações de Salancaur. Os reabastecimento serão transportados por via fluvial desde Porto Balana, com movimentos normalmente efectuados de noite para Flaque Umbaná-Chugué.

Este itinerário por via fluvial substitui com vantagem o apeado Chugué - Bantael Silá - Chinchin Dari, já referido.

Para o Sector do Cubucaré as colunas passam por Cadique Nalú/Lauchandé - Uangané/Boche Palace - atravessam a estrada Bedanda/Mejo em Bedanda 8 I2-22 - seguem a estrada para Salancaur Cul, a qual abandonam na região do ponto de cota 27 em Bedanda 8 I1-42 - passam a sul do braço W do rio Demba Chiudo – atravessam a vau o braço Leste do mesmo rio – Salancaur – Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até à fronteira.

No regresso da fronteira é normalmente feito o itinerário inverso, podendo, no entanto, também ser efectuado o percurso Simbéli – Uali Sachá – Afiá – Quebo – cambança do rio Jabel e rio Jarendioul – Ameda-Lai – Jemberém – Cadique Nalu – Calaque Balanta.

Aproveitando o “complexo logístico” montado no rio Cumbijã, já referido, as colunas para este Sector podem seguir até Salancaur e daqui, em canoas, até Porto Balana, fazendo no regresso o itinerário inverso.

- Para o Sector do Como as colunas seguem via Tobali por:

Chugué – Timbó – Cansalá – Guelache – Cachanga – Gantonaz – Tambacunda – cambança do rio Cobade em Catió 4 F1-33 – cambança do rio Como em I, Caiar 6 H2-98 – Como

ou via Cubucaré por:

Calaque Balanta – cambança do rio Cumbijã em Cacine 3 E9-14 – Camelonco – ilhéu de Caiame – Como


- Para a Frente BAFATÁ – GABU SUL (INTERIOR)


Os grupos dependentes do comando desta Frente, e que actuam no interior do TO (regulados de Bassi, Paiai e Binafa), são reabastecidos a partir de Kambera (comando da Frente) através dos seguintes itinerários:



(3) INTER REGIÃO-NORTE


Para o reabastecimento da Inter-Região Norte o PAIGC utiliza viatura que, a partir de Conakry ou Boké, seguem os seguintes itinerários:




Koundara é o complexo logístico da Inter-Região Norte, sendo a partir daí que são reabastecidas directamente todas as bases das Frentes de Bafatá/Gabu Norte e S. Domigos/Sambuiá e, indirectamente, todas as bases e acampamentos das Frentes Canchungo/Biambe e Morés/Nhacra.

Para concretização de toda a actividade logística da Inter-Região Norte no exterior do TO, são referidos os itinerários que se referem:


- Para a Frente BAFATÁ-GABU NORTE


- Para a Base de Foulamori por:

Koundara – Kifaia – Gaouai – Koumbia – Doumbiagui – Kambambolou – Kankodi – Kitiara – Foulamory

Este itinerário é o normalmente utilizado para o reabastecimento de Foulamory, muito embora esteja detectado um outro que, saindo de Koundara, segue para Sare Bodio – Sare Modi – Soutumourou (até aqui em viatura) – Koumbagni – Foulamory (este último troço apeado), cosiderando-se, contudo, de menor utilização.

- Para a região de Foulamansa/Missirá/Djalajã por:

Koundara – Sambailo – estrada central 18 – Kaorané – Foulamansa/Missirá

Este é o itinerário de abastecimento da base de Foulamansa, havendo indícios que denunciam a abertura de um itinerário que a partir de Missirá conduz à região de Djalajã (Rep Senegal), passando pela região de Niji, em Território Nacional, com o fim de mais facilmente se abastecerem as forças eventuialmente sediadas nos acampamentos de Lengael Serenaf e Banguri.

- Para a região de Suco, Sare Kanta e Sare Djanque:

Para reabastecer as unidades sediadas nestas regiões as viaturas utiizam o itinerário Koundara – Velingara – Pakourou – Kaoné (Sare Kanta). A partir daqui, e dado que a travessia do rio Geba não pode ser feita por viaturas, é necessário organizar colunas apeadas para atingir a região de Sare Djanque.

- Para a região de Sambolecunda:

É utilizado o itinerário Koundara – Linnkirinc – Velinga – Rá – Kounkané – Dabo – Kolda – Dioulacolom – Guiro Bocar – Sale – Quinhé (Sambolecunda)

Está referenciado também o uso de bicicletas para a efectivação das colunas de reabastecimentos ao longo da linha de fronteira, presumindo-se que isso aconteça devido não só ao mau estado dos itinerários durante a época das chuvas, mas também às restrições impostas ao trânsito de viaturas carregadas com material pelas Autoridades Senegalesas.

- Para a Frente S. DOMINGOS/SAMBUIÁ


[Tenho, naturalmente, procurado informar-me mais particularmente sobre a implantação do PAIGC nesta Frente S. Domingos/Sambuiá. Segundo a "História do Batalhão n.º 3846", que esteve no Norte da Guiné de 09ABR71 a 01MAR73 no Sector 06 (S. Domingos), o PAIGC tinha, al´m daquelas que eu conhecia, como SANO e SAMINE, as seguintes bases naquela zona

- Base de SIKOUM (no Senegal, longitudinalmente entre S. Domingos e Ingoré), comandada por Tenda Intabe, com um Bigrupo;

- Base de Poubosse/Campada, onde estava sediado o Corpo do Exército n.º 199-A/70, comandado por Quecuta Mané, e constituído por: 03 Bigrupos, 02 Grupos, 01 Grupo de Morteiros 82, 01 Grupo de Artilharia (canhões s/recuo), o1 Grupo Especial de Bazookas. Segundo a informação INDIO 1 C-4, esta base teria um efectivo de 450 homens. Abaixo um esquema incluído no SUPINTREP N.º 31, referindo, no entanto, o Corpo do Exército n.º 195:




Luís Cabral, cofirma, em "A Crónica da Libertação", que era o CE 199-A, comandado por "Quemo"(e não Quecuta) Mané que actuava na zona de S. Domingos/Sambuiá. Segundo ele, a bandeira deste Corpo do Exército "era toda vermelha, com uma grande estrela vermelha ao centro; ao alto do canto esquerdo tinha uma pequena bandeira do PAIGC; no canto direito, em baixo, a indicação do Corpo do Exército 199-A. Diz ele, no mesmo livro, que havia um Corpo de Comando formado para dirigir a luta no Norte, enquadrado pelos " "peitos vermelhos" (combatentes que se destacaram em acções especiais)". Seria o "Comando da Inter-Região [Norte]" referido na imagem do SUPINTREP N.º 31 (acima)? ou haveria dois Corpos do Exército, o 195 e 199-A, a actuar naquela Inter-Região?...;

- Base de M'Pack, com 01 Bigrupo e 01 Grupo de Morteiro 82;

- Base de Kassoum/Kaguit, com 01 Bigrupo, comandado por Gorgui Unfalde e depois por Malan Djata.

Diz também a História do BCAÇ 3846 que havia as seguintes "linhas de infiltração":

- PIRGUI/UERECHOLI:/Rio GUNAL/Rio PORTO MADEIRA/JOL:

- SIKOUM/SEDENGAL/APILHO/Rio CHURRO:

- BESSOLUM/Rio SAPATEIRO/MATA GAUNHA/Rio CURRO:

- BOUTOUPA/Rio CATEI./Rio POII.ÁO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- POUBOSSE/Rio CAMPADA/Rio POll.ÀO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- BARRACA BATATA/MAMBAIÁ/Rio JUGUL/CAMBOIANA:

- BABONDA/SUNCUTOTO/Rio BACHAMOR/CAMBOlANA;

- KAGUlT/BUNHAQUE/MATO COLAGE/CAUSSO/CAMBOlANA:.

- KASSOUM/MATO ELIA/Rio BULIGUTE/RI0 DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU:

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio BULIGUTE/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- SANTIABA MANJAK/Rio COLE/Rio DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU.

A. Marques Lopes]



O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina:

Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono):

Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamory:
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal:
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano:
Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá:
Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da Rep. Guiné (Koundara) passa como vimos em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da Rep. Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:

“Corredor” de Sitató, com início em Faquina

“Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamory

“Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi

“Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]

“Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A- Marques Lopes]


- Para a Frente de Morés/Nhacra


Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:


“Corredor” de Lamel
Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Camjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão e Fambantã.

“Corredor” de SITATÓ
O percurso utilizado pelas colunas que do Morés se dirigem a Faquina é feito pelo “corredor” de Sitató segundo o itinerário que se indica:

Morés - Madina – Biribão (onde pernoitam) – Canjambari – Sare Buco – Sumabanta – Sulccó (onde pernoitam) – Faquina

Este itinerário é utilizado na ida e no regresso e leva três a quatro dias a ser percorrido, em cada um dos sentidos.


“Corredor” de SAMBUIÁ

A possibilidade de reabastecer o Morés por colunas que através do “corredor” de Sambuiá passem ao Iado e daqui ao Morés é viável, não estando no entanto referenciada a utilização deste itinerário, a não ser na entrada de algumas personalidades.


[Disse-me o Lúcio Soares, quando estive com ele o ano passado [, 2006], que, em 1968, depois de passar o comando de Sinchã Jobel para o Gazel, e quando já era comandante da base do Morés, sofreu aí uma emboscada quando se dirigia ao Senegal - até lhe disse que, se calhar, tinha sido eu...; numa outra emboscada aí também, foi referenciado o Luís Cabral, que ia de jipe - A. Marques Lopes]


As forças do Sector de Nhacra podem ser abastecidas de Norte, através do “corredor” de Sitató até Canjambari e daqui para Gussará, Uassado até Suarecunda, onde se encontra a principal arrecadação do Sector. Não é este porém o itinerário normal para reabastecer o Sector, mas sim a partir da Inter-Região Sul.

Os carregadores, utilizando canoas, aproveitam o fim da maré vazante e a maré enchente para, a partir da foz do rio Malafo, cambar o rio Geba e entrar no curso do rio Corubal que sobem até ao Injassane, a partir donde as colunas seguem apeadas o itinerário já referido do “corredor” de Missirá.

O regresso é feito novamente em canoas, aproveitando a maré vazante que as leva até meio do curso do rio Geba e daqui, empurradas pelo iníco da enchente, até à foz do rio Malafo.

Os percursos no rio Corubal e rio Geba são feitos durante a noite, sempre condicionados às marés.

Do antecedente estavam detectados dois itinerários que, saindo de Suarecunda, faziam a ligação com o Sector de Morés, conforme o seguinte esquema:





Estes itinerários, que serviam especialmente para que os elementos IN do Morés pudessem vir ao Hospital do Sara, parece contudo que estão abandonados.


- Para a Frente CANCHUNGO/BIAMBE

O Sector do Biambe pode ser reabastecido através dos “corredores” de Canja, Sano, Sambuiá, Lamel ou mesmo Sitató, portanto por todos os “corredores” actualmente referenciados.

Se as colunas vão reabastecer-se a Faquina ou Sinchã Djassi são utilizados os “corredores” de Lamel e de Sitató, a partir de Canjambari/Biribão, locais que atingem Naga por:

Insumeté – Contuba/Muno – Iador – Cossuba – Concolim – Biambe – Queré – Namedão – Morés – Coli Sare – Madina

Se as colunas vão à base de Cumbamory é utilizado normalmente, que na ida quer no regresso, o “corredor” de Sambuiá, segundo os itinerários que se descrevem, até Samoge:

Insumeté – Concolim – Jagali – cambança do rio Cacheu em Binta G3-61 – Udasse – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 C6-89 – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Sibicunto – Tancroal – cambança do rio Cacheu em Binta 5 B6-86 – Buborim – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 B4-94 – Malã – Bolom – Samoge

De Samoge as colunas seguem para Cumbamory onde, após recebido o abastecimento, regressam pelos itinerários inversos.

Se o reabastecimento é feito na base de Sano as colunas de carregadores utilizam em princípio, na ida e no regresso, o “corredor” de Sano por:

Insumeté – Iador – Biur – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 I2-47 – Suar – Limane – Bucaur – Singap – Toubakouta, onde, junto duma arrecadação do Partido, recebem o material vindo de Samine.


[Samine é no Senegal, muito perto de Barro, tal como Sano, e, segundo Luís Cabral, em "Crónica da Libertação", o PAIGC tinha aí um armazém de material de guerra - A. Marques Lopes]


Pode também ser utilizada uma variante deste “corredor” por:

Saiamcuto – Barro Grande – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 G5-32 – Biur – Iador – Insumeté, ou mesmo o “corredor” de Sambuiá, fazendo os movimentos de ida e regresso por itinerários diferentes.

Se as colunas utilizarem o “corredor” de CANJA podem seguir os itinerários:

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bugem [Bigene?...] 5 E8-23 – Ponta Nova – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bigene 4 D3-92 – Santana – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Pirgui

[Era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte - A. Marques Lopes]


- Para o Sector de CANCHUNGO

Para os reabastecimentos deste Sector está referenciada a ida de colunas de carregadores a Sinchã Djassi (Hermacono), Cumbamory e Sano, de onde trazem o material e víveres para a região de Caboiana/Churo, onde se encontra a principal arrecadação do Sector.

Os itinerários utilizados são os que já foram descritos pelo que se faz somente referência ao percurso feito até à região de Insumeté.

As colunas partem de Caboiana/Churo, seguindo por Barme, Balem, Banhida, Gaguepe, Jopá. De Jopá partem dois itinerários que, seguindo por Ponta Vicente, Bucula e Ponta Matar ou Gipo-Ponta Neaga, se reunem novamente em Ponta Ponhasse, seguindo por Santarém, Jundum, Empabá até ao Insumeté, seguindo depois os itinerários já descritos.

Eventualmente, admite-se que este Sector possa ser reabastecido pelo “corredor” de Campada por

Caboiana/Churo - cambança do rio Cacheu em Poilão de Leão - Campada – Poubosse

Este corredor, já em tempos utilizado pelo In, não está actualmente a ser usado.





[Para melhor compreensão da organização e papel dos "corredores" , mostro esta imagem abaixo que define como o PAIGC tinha distribuídas as suas Frentes de Luta. Pertence ao SUPINTREP N.º 31 (de que, com tempo, também hei-de dar conhecimento) - A. Marques Lopes]



___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3211: PAIGC: Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)

(**) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3257: Convívios (87): Comandos do CTIG, 1964/66: 8 de Novembro, Restaurante Os Severianos, Torres Vedras (João Parreira)


O Grupo de Comandos que participaram na célebre Op Tridente (Ilha do Como, Janeiro-Março, 1964) junto à bandeira hasteada na tabanca de Cauane onde permaneceu cerca de 2 semanas. Entre outros, identificam-se ao centro, com um chapéu "recolhido" ao IN, o Alferes Saraiva, cmdt do Grupo. À sua direita, os Furriéis Artur Pires (morto por uma mina em Madina) e o Mário Dias e os soldados Duarte e Borrazeiro. À esquerda do Alf Saraiva, o 3º homem é o Fur Miranda (o mais alto, de quico à legionário). Em primeiro plano, de joelhos, da esquerda para a direita, Sold João Firmino, Alf Godinho, 1º cabo Abdulai Djamanca, Sold Cavaco, 1º cabo Marcelino da Mata, e Soldados Mamadú Djaló e António Gomes.
Foto de autor desconhecido (1º Cabo Raimundo, do Destacamento Foto-Cine do QG?).

Comandos do CTIG, 1964/66

Reunião/ Almoço

8/11/2008


Caros amigos e camaradas dos Velhos Comandos:

Após um interregno, vamos de novo reunirmo-nos no 2º almoço que será no Sábado, dia 8 Novembro de 2008 pelas 12H30 , no restaurante "Os Severianos”,

O retaurante “OS Severianos” localiza-se na Estrada Nacional nº 8-2, Torres Vedras-Lourinhã, ao km 12.

A ementa é de eleição e as vossas presenças e dos vossos familiares é bem-vinda, de modo a proporcionar uma jornada de sã e fraterna camaradagem.

Assim, esperamos que os Grupos do 1º Curso (Camaleões, Panteras e Fantasmas) e do 2º Curso (Apaches, Diabólicos, Centuriões e Vampiros) correspondam à chamada.

Tal como há 43 anos atrás, vamos reunir o maior número possível da Família Comando da Guiné, 1964/1966.

Nota: traz a tua boina, se assim o entenderes, fotos ou outras recordações que achares interessantes.

Para efeitos de inscrição/marcação deves contatar um dos telemóveis dos amigos comandos abaixo indicados:

Parreira: 91 7935169
Miranda: 96 0186181
Mário Dias: 93 3569440


ou enviar a tua inscrição pelo correio o mais tardar até ao dia 17 de Outubro para:

J.Parreira – Rua dos Lusíadas, 232 – Sassoeiros – 2775-520 Carcavelos

Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)


1. Mensagem do nosso camarada Henrique Matos, ex-Alf Mil, 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68), com data de 24 de Setembro de 2008.

Caro Luís e co-editores
Os últimos Postes sobre pilotos da Força Aérea fez-me recordar o meu amigo e conterrâneo da Ilha de S. Jorge, Açores, Ten Pil de Helis Bettencourt, o que poderá ser uma contribuição, embora fraca, para a série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras.

Fui encontrá-lo em Agosto de 1966 em Bissalanca, logo no meu segundo dia de Guiné, enquanto esperava uma boleia de DO para Bolama. Outros encontros houve em Bissau e no mato quando havia evacuações.

Não me lembro de qualquer episódio especial ocorrido com ele a não ser voar rente à copa das árvores para dificultar a pontaria.

A recordação também é de tristeza porque este meu amigo de nome completo Orlando Manuel da Silveira Bettencourt, no dia 5 de Julho de 1978, já Ten Cor na BA4 das Lages, Terceira, quando voava no avião Casa Aviocar, juntamente com o Ten Cor Lavrador e o Sargento Mecânico, embateram contra a Serra de Santa Bárbara e ali acabaram as suas vidas.

Naquela data eu também estava naquela ilha pois trabalhava em Angra do Heroísmo, e até hoje não vi qualquer explicação para o sucedido, sabendo-se que ocorreu em pleno dia, de céu aberto, e eram dois pilotos com muita experiência e com várias comissões de serviço em África.

Anexo 4 fotos tiradas em Maio de 1967 no Enxalé, por ocasião de mais uma evacuação efectuada por ele no Alouette III.
Se der para aproveitar alguma coisa estás à vontade.

Abraço a todo o pessoal da Tabanca Grande
Henrique Matos


Pouco visível o Bettencourt no seu Alouette III, estando eu no meio com o Marchand, Comandante do Pel Caç Nat 54 e o Ribeiro (de óculos) da CCaç 1661.

De costas a olhar para a maca está o 1.º comandante da CCaç 1661, Cap Mil Namorado Rosa (arquitecto em Lisboa), na frente o Marchand e o Teles e ao fundo estou na conversa com o Bettencourt




Fotos: © Henrique Matos (2008). Direitos reservados

2. Comentário de CV

Caro Henrique
Prestaste uma homenagem muito bonita ao teu amigo Bettencourt, lembrando a sua memória no nosso Blogue. Ele é um dos Nossos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras, a quem tanto devemos e que aplicavam a sua saudável maluquice, protegendo-nos nas horas complicadas e procedendo a evacuações nas situações mais difíceis, muitas vezes debaixo do fogo IN.

Considera esta homenagem extensiva a todos os nossos Pilotos que nos deixaram no cumprimento da sua missão ou já depois de terminada a vida militar.
_________________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

Guiné 63/74 - P3255: O Nosso Livro de Visitas (31): Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 2658/BCAÇ 2905, Guiné (1970/71)

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA, da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (*), com data de 27 de Setembro de 2008.

Em resposta ao Carlos Vinhal, aqui te mando mais alguma coisa do que não terá entrado na primeira mensagem.

Fui Fur Mil Inf e com a especialidade de Minas e Armadilhas. Pertenci a CCAÇ 2658/BCAÇ 2905. Estive em Teixeira Pinto, Bachile, Nhamate e manga de LDG para ir do Xime até Galomaro, Nova Lamego, Pirada, Paiama, Paunca, Sinchã Abdulai e Mareue, aí até aos 19 meses, vindo os restantes meses para Bissau para o AGRABIS (600), ainda Nhacra umas duas semanas até ao barco.

Em Mareue, aldeia só com população, calhou-me construir um quartel, mas dessas peripécias contarei outro dia.

Calcorreei muito chão, do manjaco ao fula, do balanta ao mandinga.

Estive em Bambadinca pelo menos uma vez a beber umas bazucas com malta conhecida de Santarém, de onde sou, que era o Vitor Alves, furriel e um soldado ou cabo Orlando Rodrigues, já falecido depois do regresso. Conheço de algum modo a zona. A estrada que ia do Xime para Bambadinca, quando cheguei, era só buracos pegados onde cabiam os unimogs mais pequenos e se deixavam de ver, demorando horas a atravessar. Quando vim para a LDG estava tudo alcatroado, demorámos a volta de 20 minutos, lembro-me que habia soldados africanos a fazer-nos a segurança na orla da mata quem sabe se algum dos colegas que fazem parte do site e que são do meu tempo lá estariam a comandá-los.

Para o camarada Vacas de Carvalho, da Tertúlia, fico sem saber se será o Vacas de Carvalho que esteve em Santarém, na EPC, ou será irmão, pois penso que tinha vários.

Até um destes dias, com mais vagar que hoje estou com um pouco de pressa.

Um abraço a todos os camaradas que calcorrearam aquelas bolanhas e picadas, comeram muita mancarra, muita vianda com estilhaços de carne de vaca, que sofreram e padeceram na pele, até as picadas dos mosquitos, mas que concerteza continuam a gostar daquela terra, como eu, que ainda não perdi a esperança de lá voltar um dia.

Um abraço
Rogério Ferreira

Brasão do BCAÇ 2905 - Cacheu (1970/71)

2. Mensagem do nosso camarada Vacas de Carvalho, com data de 29 de Setembro.

Especialmente para o caríssimo Tertuliano Rogério Ferreira, esclarecendo:

Foi o meu irmão João Manuel que esteve na EPC em Santarém. Foi furriel dos Comandos em Moçambique. Vive hoje em Montemor-o-Novo.

Eu também estive na EPC, mas em Lisboa. Também nos devemos ter encontrado no Xime, pois era rara a semana que não iamos lá.

Um abraço
Zé Luis


3. Comentário de CV

Caro Rogério
Quando tiveres então vagar, manda as fotos da praxe para a Tabanca e começa a contar as tuas histórias, acompanhadas de fotos que tens por aí com toda a certeza.

Para já recebe um abraço da Tertúlia e cá te esperamos em breve.
_____________

Nota de CV

(*) - Podem e devem ver o Blog do BCAÇ 2905, de autoria do nosso camarada Júlio César, em http://www.cacheu.blogspot.com/

Guiné 63/74 - P3254: Convívios (86): Pessoal da CCAÇ 727 (Guiné 1964/66), dia 11 de Outubro na Gafanha da Encarnação, Aveiro.

1. Do nosso camarada, Miguel Oliveira, ex-combatente em Angola (*), e nosso leitor habitual, recebemos esta mensagem, com data de 29 de Setembro de 2008, dando notícia do Encontro Anual da CCAÇ 727 (Guiné, 1964/66).

Meu Caro Luís Graça

Não consegui entrar na Vossa Página, pois sou uma criança nestas coisas, mas tomei o gosto e por aqui ando vendo coisas lindas que são as memórias de muitos anos.

É bom ter alguém que não deixe cair no esquecimento aquilo que foi A GUERRA DO ULTRAMAR.

Felizmente há muitos jovens dessa idade, a trabalhar nesse sentido.

PARABÉNS e OBRIGADO

O pedido aí vai:

O Ex-Militares da CCAC 727, que esteve na Guiné entre 1964/66, têm o seu Encontro Anual no dia 11 de Outubro de 2008 na Gafanha da Encarnação.

Restaurante Estufa na Gafanha da Encarnação - Aveiro.

Os contactos:

Ex-Fur Mil Maia
Telef 234 797 765 - Móvel: 912 318 321

2. Comentário de CV

Aos nossos camaradas da CCAÇ 727, desejamos um bom dia de são convívio.
__________________

Nota de CV

(*) - Em tempo:

Não podemos deixar de realçar o espírito de camaradagem do nosso camarada Miguel Oliveira que, fazendo um favor a um amigo combatente na Guiné, nos escreveu dando conta do Encontro Anual da CCAÇ 727.

Guiné 63/74 - P3253: Em busca de... (42): Maj Inf Abel Carvalho de Almeida, Mansabá, 1969 (2) (Jorge Félix)


1. Em mensagem do dia 27 de Setembro de 2008, o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av, traz-nos notícias dos resultados da sua busca (*).

Carlos Vinhal.

A minha procura do Maj Almeida está a ter resultados. As noticias não são as melhores, pelo que me contou o querido tertuliano, companheiro e amigo Pimentel.

Telefonou-me o Pimentel, e esclareceu o seguinte: Naquele dia, 8 de Abril de 1969, quem foi evacuado de Helicóptero foi o Maj Amílcar Martins, e não o Maj Abel Carvalho de Almeida. Ambos falecidos.

Mais me contou:... naquele dia o Maj Amílcar Martins que estava no Olossato, apanhou uma boleia numa Daimler, até ao local onde se deu o acidente.

"Cuidado que aí há minas!!" - terão sido as últimas palavras que o Maj Martins escutou antes de saltar da viatura. O rebentamento da mina atingiu vários companheiros, não com a mesma gravidade dos que foram evacuados, o Maj Martins e o Alf José Pereira de Sousa.

Se perdemos o Maj Almeida encontramos o Alferes. Raúl Albino não se recordava do nome dele, aqui fica: José Pereira de Sousa.

O Pimentel disse-me que o José Pereira de Sousa vive em Leiria.
Falta pouco para dar o abraço a um homem que transportei da Zona Operacional da Guiné.

Até lá
Jorge Félix
__________________

Nota de CV

(*) - Vd. poste de 21 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3221: Em busca de... (40): Major Inf Abel Carvalho de Almeida, Mansabá, 1969 (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Henrique Martins de Castro,
Soldado Condutor Auto,
CART 3521
Piche, Bafatá e Safim
1971/74


1. Apresenta-se o ex-Soldado Condutor n.º 10311971 Henrique Martins de Castro, residente em Bairro, V.N. de Famalicão.

Começo por contar uma pequena história da minha vida militar.

Assentei praça no ex-CICA1, no Porto, em 7 de Junho de 1971, e tirei a especialidade no RC6 do Porto.

Certo dia em instrução militar, sofri um acidente de que resultou 1 morto e oito feridos nos quais estava incluído. Prestaram-me os primeiros socorros no Hospital de S. João no Porto e passados poucos dias mandaram-me a conta. Como não fomos culpados no acidente e estávamos em instrução militar, competia ao Ministério do Exército pagar a conta, que eram 550 escudos. Como já estava mobilizado para a Guiné e nem sequer sabia se morria na guerra, não paguei a conta. Deixaram-me ir e vir da guerra e mandaram-me novamente a conta já com os respectivos juros de mora no valor de 850 escudos. Como não paguei, enviaram a conta para as finanças de V.N. de Famalicão para cobrança coerciva, mas como não queria pagar, perguntei o que me acontecia se não pagasse. A resposta foi:
- Vamos a sua casa e fazemos-lhe uma penhora.

Perguntei:
- O que é isso?

Resposta logo de pronto e, muito zangado perguntei:
- Vocês sabem o que eu precisava de ter quando vocês fossem lá a casa fazer a tal penhora?

Pergunta o funcionário em tom bastante agressivo:
- O que era?

Respondo eu ainda mais agressivo:
- Era uma p.... duma HK 21 carregada com uma fita de 500 balas, que eu dava-lhes a penhora!

... Mas lá acabei por pagar.

Fui mobilizado para a Guiné na ex-RAP2 de V.N. de Gaia. Depois de gozar os dez dias de mobilização, foi o BART 3873, juntamente com a CART 3521 num grande desfile, atravessando a ponte de D. Luís do Porto, ver ao Teatro Sá da Bandeira, gratuitamente a peça Uma Cama Para Toda a Gente, intrepetada pelo Camilo de Oliveira e pela Io Apoloni, salvo erro.

Depois seguimos para Lisboa, rumo a Santa Apolónia de comboio, embarcámos em 22 de Dezembro de 1971 no navio Niassa rumo à Guiné, onde chegámos a 29, passando a consoada e o dia de Natal no alto mar.

De seguida embarcámos numa LDG rumo a Bolama para tirar o IAO que durou mais ou menos um mês. Acabado este, fomos novamente de LDG rumo ao Xime onde havia uma escolta militar à nossa espera para nos levar até Piche.

Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872.

O terceiro e quarto Gr Comb alternaram entre si, ficando um em Galomaro e outro em Cancolim até se juntarem à Companhia em Bafatá, em 24 de Dezembro de 1972. O quarto Gr Comb deixa Cancolim e o primeiro deixa Galomaro para irem reforçar a CCAV 3405 em Nova Lamego.

Em 8 de Março de 1973, a Companhia deixa Bafatá rumo ao Combis, perto de Bissau, ficando assim distribuída:
- um Gr Comb em Ponta Vicente da Mata,
- um Gr Comb e duas Secções em Safim e uma secção em João Landim, fazendo patrulhamentos apeados, fluviais, psicos, etc.

Em Piche no dia 28 de Fevereiro de 1972, faleceu, vítima de um acidente com arma de fogo, Joaquim Francisco Rodrigues que está sepultado em Passos-Pinho-S. Pedro do Sul (ver em Windows Internet Explorer em mortos na guerra do ultramar, pesquisa do Google).

Em 3 de Abril 1972, tambem em Piche, sofremos o segundo morto de nome: Agostinho Ferreira Mendes, vitima de um ataque de abelhas na Operação Topázio Maior que começou no 2 de Abril.

Em autêntico desespero com as abelhas, resolveu rebentar com as duas granadas de fumo que trazia para as abelhas fujirem, ficou com um joelho esfacelado e como se pode calcular mais desesperado, pegou na G3, disparou dois tiros, pondo fim à vida. Está sepultado no cemitério concelho de Castro Daire.

Estes dois mortos não constam, como já me apercebi, na placa invocativa dos mortos do Ultramar na ex-RAP2, em V.N. de Gaia. O nosso terceiro morto de nome Octávio José Horta, era Primeiro Sargento Sapador e foi destacado para para outra companhia, morrendo a desmontar uma mina em 17 de Abril de 1973, como consta na placa invocativa dos nossos mortos em Safim, na Guiné-Bissau e na da ex-RAP2 em Gaia.

Embarcámos para a Metrópole com 27 meses e meio de Guiné, depois de sermos sucessivas vezes enganados. Adiaram-nos muitas vezes o regresso. Éramos para vir embora com 18 meses, passamos para os 21, dos 21 para os 24 e dos 24 para os 27. Quando no dia 28 de Março de 1974, embarcámos no navio Niassa, até julgavamos que era mentira. Foi a última viagem que o Niassa fez, chegando a Lisboa a 4 de Abril de 1974. Só nos sentimos seguros quando vimos o Cristo-Rei, nunca mais ninguém dormiu tal era a alegria. De manhã a emoção e a alegria eram tão grandes que havia centenas de militares a chorar por ver os seus familiares à espera. Eu também chorei e não tinha lá ninguém. Ainda hoje me arrepio e me emociono passados 34 anos, só em me lembrar desse dia.

Passados alguns anos tivemos um convite de alguém do BART 3873 e lá fomos 14 ex-militares da CART 3521, a um convívio, salvo erro no dia 10 de Junho de 1987, na Quinta da Paradela, em V.N. de Gaia. Nesse convívio, depois de comermos e de conversarmos sobre a guerra, lá fomos bebendo mais uns copos, sendo, no fim, nos oferecida uma medalha do BART 3873, alusiva ao encontro. Medalha essa que ofereci depois ao meu amigo Antunes, da 3494, que esteve no Xime juntamente com o nosso tertuliano Sousa Castro que pretenceu à mesma Companhia.

Como gostei deste encontro, organizei lá o encontro dos 25 anos de regresso da CART 3521. A concentração foi na ex-RAP2, depois houve uma missa por alma dos que faleceram lá e cá, a deposição de uma coroa de flores, oferecida por mim, aos nossos mortos, numa pequena cerimónia militar, prestada por um piquete, autorizada pelo senhor comandante a meu pedido. Houve um minuto de silêncio e o hino nacional como consta num filme que eu próprio fiz.

Comecei a organizar os convívios depois de 23 anos do regresso, ou seja no ano 1997, depois de um longo trabalho de pesquisa nos arquivos da ex-RAP2, autorizada pelo senhor comandante. Descobrimos, eu, o Sousa, o Vieira e um ex-sargento na reserva, os nomes e as residências dos ex-militares da CART 3521 aquando o seu regresso. Depois foi comunicar através dos telefones e lá se foi arranjando as direcções actuais. Deve-se muito ao Magalhães, que por trabalhar na PT, arranjou mais de cem contactos.

Sendo o organizador de todos os convívios, estou um pouco triste, porque cada vez mais há menos malta a aparecer. Dá-me muito trabalho e eu não ganho nada com isso, faço-o pelo gosto de ver a malta divertida e por ter a certeza que mais ninguém os faz.

No convívio dos 25 anos do nosso regresso, ofereci a coroa de flores de homenagem aos nossos mortos, o Sousa ofereceu uma colcha com o emblema da Companhia, o Vieira ofereceu centenas de t-shirts bordadas alusivas e o Magalhães ofereceu as medalhas também alusivas aos 25 anos do nosso regresso.

Brevemente vou contar uma pequena história sobre a minha ida à Guiné-Bissau, acompanha de algumas fotos.

É tudo por hoje.

Um abraço para todos os que lutaram na Guiné em especial aos da CART 3521.


Postal de Natal


Ponte de Caium em meados de 1972 na estrada que liga Piche a Buruntuma.


Hotel da malandrice > Foto tirada em Piche no abrigo dos condutores.


Abrigo dos condutores: em cima eu, em baixo o Botelho e o Simão.


Foto tirada no primeiro Encontro da CART 3521, passados 23 anos do nosso regresso à Metrópole, em Cucujães, Oliveira de Azemeis, no dia 4 de Abril de 1997.

2.Comentário de CV

Caro Henrique, estás apresentado. Sei que gostas de escrever embora tenhas algumas dificuldades técnicas com o computador. Como me disseste por telefone, és periquito nestas coisas da informática. Não desistas e vai insistindo, porque todos os dias aprenderás algo de novo. Nós cá também daremos uma ajuda.

Já mandaste umas fotos e um texto com a tua apresentação. Nada mal.

Recebe, em nome da Tabanca Grande, um abraço de boas vindas e votos de muita saúde.
Carlos Vinhal
_________________

Nota de CV

Vd. poste de 15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2947: O Nosso Livro de Visitas (17): Henrique Martins de Castro, CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Guiné 63/74 - P3251: Em Busca de ... (41): Notícia sobre o ataque a Sedengal, em 21/12/1970 (Cor Carlos Matos Gomes)

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, no último dia do evento. Na foto, o Coronel e Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz); a seu lado, o o catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...

Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, etc. (LG).

Foto e legenda: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.





Download:
FLVMP43GP

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 4 de Março de 2008 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação > Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé) > Comunicação > 10h00 - 10h30: Carlos Matos Gomes (Coronel do Exército Português) : Guiné 1973 – Quando os portugueses perceberam que chegara o fim.
Neste excerto, com o o início da sua intervenção, Matos Gomes saúda os organizadores do encontro e faz votos para que esta iniciativa frutifique. Muito a propósito, cita o grande poeta africano, o moçambicano, José Craveirinha (1922-2003), Prémio Camões 1991, que escreveu em 1955 o belíssimo poema Sementeira: Cresce a semente / lentamente / debaixo da terra escura. / Cresce a semente / enquanto a vida se curva no chicomo / e o grande sol de África / vem amaurecer tudo / com o seu enorme calor de revelação (...).
Vídeo (1' 13''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes


1. Mensagem do Cor na Ref Matos Gomes (*), com data de 21 de Setembro de 2008:

Assunto - Um pedido de ajuda (**)

Olá, Luís, mais uma vez parabéns pelo excelente local de convívio e memória que tu e os “camaradas” criaram. Aproveito-o para um pedido de ajuda.

Eu e o Aniceto Afonso estamos a ultimar uma colecção de livros sobre a história contemporânea de Portugal que se centra nos “Anos da Guerra”. Algo que contribua para conhecermos melhor este período recente da nossa vida colectiva. Vamos incluir os factos que consideramos mais importantes para a compreensão do que se passou em cada um dos territórios, em Portugal e no mundo e cheguei a uma dúvida: o nosso comum amigo Josep Cervelló, que é, mais uma vez, nosso colaborador, inclui um facto que não consigo confirmar.

Escreve o Josep Cervelló nos factos relevantes de 1970:

Dia 21 de Dezembro de 1970, ataque do PAIGC ao aquartelamento português de Sedengal, que causou onze mortos.

Alguém, entre os tertulianos, pode confirmar, ou dar alguma informação relativa a este ataque, ou a ataques a Sedengal? Ficaria muito grato por esta ajuda.

Entretanto, quando a obra tiver data de saída informarei a tertúlia. Recebam os melhores desejos de felicidades, de continuação de êxito e de sã camaradagem que tenho tido a oportunidade de verificar nas minhas frequentes e sempre proveitosas visitas ao site.

Carlos Matos Gomes

2. Comentário de L.G.:

Carlos: Obrigado pelas tuas palavras de apreço e de encorajamento que diriges ao nosso blogue e ao nosso projecto, que tem tido algum sucesso, de criar uma Tabanca Grande, virtual, plural, onde possam caber todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram partilhar, uns com os outros, e com os demais falantes da língua portuguesa, as suas memórias da guerra colonial / guerra do ultramar / luta de libertação, naquele território, que tu de resto tão bem conheces e onde estivemos os dois juntos, ainda recentemente, numa semana inesquecível (de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008)...

Quanto ao teu pedido de ajuda, desde já fica aqui registado: estou certo que haverá alguém, dentro ou fora da nossa Tabanca Grande (termo mais forte, simbólica e afectivamente, do que tertúlia) que poderá confirmar ou informar o alegado facto a que aludes, e que teria ocorrido em Sedengal, na fronteira norte, junto ao Senegal: ataque do PAIGC, em 21 de Dezembro de 1970, ao aquartelamento português, de que terão resultado 11 mortos (de ambos os lados ? do lado das NT ? do lado do PAIGC ?)...

Pessoalmente não tenho informação de todo para te confirmar ou informar a notícia. Desconheço a eventual fonte do nosso querido amigo comum, Josep Cervelló. Pode ser que, entretanto, apareça alguém que tenha estado nessa época em Sedengal ou por ali perto (Ingoré, por exemplo) ou noutra parte da região do Cacheu. Estou certo que os nossos camaradas vão tentar ajudar-te (e ajudar-nos) na elucidação desta questão. Temos poucas referências sobre Sedengal. Mas julgo que na época que referes deveria estar em Sedengal um pelotão da CCAÇ 2540 / BCAV 2876 (1969/71). Um dos nossos camaradas que passou por essa unidade foi o ex-Fur Mil SAM, João Manuel Félix Dias, que mora hoje em Alchochete. Boa sorte nas tuas (e nossas) pesquisas. Bom sucesso para o vosso, teu e do Aniceto, projecto editorial.

Um grande abraço. Luís

________

Notas de L.G.

(*) Vd.
Curriculum Vitae do Carlos Matos Gomes:

(i) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha.

(ii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar.

(iii) Fez três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas comando.

(iv) Foi ferido e condecorado, participou em grandes e pequenas operações de guerra um pouco por toda a parte.

(v) É actualmente coronel na situação de reserva.

(vi) Paralelamente à carreira militar tem desenvolvido desde 1983, data da edição do romance «Nó Cego», uma continuada actividade literária.

Como romancista, com o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou, além do referido "Nó Cego", os romances «ASP - De Passo Trocado», «Soldadó», «Os Lobos Não Usam Coleira», adaptado ao cinema pelo realizador António-Pedro de Vasconcelos com o título «Os Imortais», «O Livro das Maravilhas» e «Flamingos Dourados». Tem prestes a ser editado um novo romance «Fala-me de África».

Tem sido editado pelas editoras Bertrand, Nova Nórdica, Circulo de Leitores, Editorial Notícias e Casa das Letras. A sua obra consta das antologias de literatura portuguesa organizadas por João de Melo e foi tema da tese de doutoramento do Professor Rui Teixeira na Universidade de Colónia.

(vii) No cinema foi autor do argumento do filme «Portugal SA» do realizador Ruy Guerra, foi colaborador de Maria de Medeiros no filme «Capitães de Abril» e de Joaquim Leitão nos filmes «Inferno» e «20.13 – Purgatório».

(viii) Escreveu para a RTP a série «Regresso a Sizalinda», baseada no romance «Fala-me de África», a exibir proximamente e que é a primeira co-produção entre as televisões públicas de Portugal e de Angola na área de ficção.

(ix) Participou ainda na área dos áudio visual na ficção «Conta-me Uma História» de João Botelho.

(x) No âmbito da história contemporânea é co-autor, com Aniceto Afonso, das obras «Guerra Colonial» e «Portugal e a I Grande Guerra» editadas em fascículos pelo Diário de Notícias.

(xi) É co-autor, com Fernando Farinha, da obra «Repórter de Guerra», da Editorial Notícias.

(xii) É autor da obra «Nó Górdio – Moçambique 1970», da Colecção Batalhas de Portugal editada pela Tribuna da História.

(xiii) É autor de textos para a História de Portugal dirigida por João Medina para o Ediclube e da História Militar Portuguesa, dirigida por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira para o Circulo de Leitores.

(xiv) Foi consultor da série de três documentários para televisão «Isto Aconteceu» produzidos por Pedro Efe e da série a “Guerra” de Joaquim Furtado.

(xv) Participou nas séries documentais da SIC e da RTP sobre o Século XX.

Título da comunicação (no Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008):

Guiné 1973: Quando os portugueses perceberam que chegara o fim > Sinopse da comunicação:

Em 1973 a situação das forças portuguesas na Guiné fê-los perceber que a guerra chegara ao fim.
Spínola perdera as ilusões quanto ao apoio de Marcelo Caetano para uma solução negociada e ouvira da boca do chefe do governo que preferia uma derrota militar a negociar, as forças armadas portuguesas perderam a supremacia aérea e, sem ela, a guerra estava perdida.

O estado-maior português considerava que as forças do PAIGC tinham capacidade militar para isolarem e ocuparem uma guarnição na fronteira de escalão Batalhão ou duas de companhia, sem que existisse capacidade para o impedir e, menos ainda para as reocupar.

O PAIGC declara a independência e obtivera uma importante vitória política.

A comunicação será uma tentativa de explicação de como haviam os portugueses e os guineenses chegado aqui.


(**) Vd. último poste desta série > 12 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3250: Bibliografia de uma guerra (34): Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu (José Martins)

A propósito da conferência do nosso camarada António Graça de Abreu, aqui vai uma pequena contribuição.

Um abraço
ex-Fur Mil Trms,
CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos


Canjadude, 1968/70
__________

Bissau, 23 de Junho de 1972


Ruma à Guiné, o velho DC-6 ainda confortável e funcional, levantou da Portela de norte para sul e voou através da noite de Lisboa, as quatro hélices cortando o ar em cem milhões de pedaços. As luzes frias da cidade despedindo-se, o rio num abraço escuro, depois o vazio sobre rolos e rolos de nuvens.

Estas são as palavras por que começa o livro do António Graça de Abreu, Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura [publicado em 2007].

É um diário, e como tal seria um documento único e privado. Porém, há diários colectivos e que são, naturalmente, pertença de muitos. É o caso.

Mas o diário não se comenta. Lê-se, medita-se, recorda-se. Lê-se, muitas vezes através de uma ténue névoa que teima em chegar e manter-se, contra a nossa vontade, turvando-nos os olhos, apesar de tudo à volta estar claro. Quanto mais a queremos afastar, mais se adensa.

Medita-se, no que poderia ter sido o início e o fim desta aventura, ou desventura, secular a que foram sujeitos, no início dos anos sessenta do século XX, cerca de um milhão de homens, acabados de o ser.

Recorda-se, cada um dos que por lá passamos, aquilo que vivemos e sofremos, no dia-a-dia, desde a partida até à chegada. Recordamos, muito especialmente, com tristeza e saudade, aqueles que ao nosso lado viverem, sorriram e choraram e, por ironia do destino não tiveram regresso ou que chegaram, sem honra nem glória, “acomodados numa caixa de pinho” e desembarcados durante o silêncio da noite, quando tinham partido, à luz do dia, ao som de marchas triunfantes.

Mas não há sempre um regresso?<>
Bissau, 16 de Abril de 1974

Os papéis foram deferidos, a viagem está marcada para 20 de Abril, no voo dos TAM (Transportes Aéreos Militares), com chegada à Portela, ao Figo Maduro por volta das sete horas da tarde.

A Guiné acabou, mas só acredito quando o avião começar a descer sobre Lisboa.



São vinte e três meses de memórias, são muitos dias e muitos minutos, e cada um de nós viveu e sofreu, e agora recorda com alguma saudade (porque não com nostalgia) daquela que é a nossa segunda pátria?... Mas com a certeza do dever cumprido, e, sobretudo, com a esperança de que os nossos filhos e netos nunca tenham de pegar em armas

Bissau, 17 de Abril de 1974

Dividimos almas, afectos, o calor do sangue, ideias, desígnios, promessas de futuro.







Locais e coordenadas dos locais onde esteve o CAOP 1> Canchungo/Teixeira Pinto 12º 06’ N – 16º03 W; Mansoa 12º 03’ N – 15º 19’ W; Cufar 12º 01’ – 15º 18’ W
Fonte: Google Earth


Comando de Agrupamento Operacional

Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional nº 1
Identificação: CAOP / CAOP Oeste / CAOP 1


Comandantes:

Coronel Pára-quedista Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro
Coronel de Artilharia Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Coronel Pára-quedista Rafael Ferreira Durão
Tenente-coronel de Infantaria Pedro Henriques
Coronel Pára-quedista João José Curado Leitão

Chefes do Estado-Maior:

Major CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Major CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Major de Artilharia João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Major de Infantaria Carlos Diamantino Bacelar Pires
Major de Artilharia João Augusto Fernandes Bastos

Inicio: 08 de Janeiro de 1968
Extinção: 01 de Julho de 1974


Síntese da Actividade Operacional

O agrupamento foi organizado e constituído com carácter permanente e com pessoal de nomeação individual, sendo inicialmente orientada para intensificar esforço de aniquilamento sistemático dos grupos inimigos que exerciam pressão directa sobre o "Chão Manjaco", na região de Pecau-Churo-Coboiana-Pelundo-Jol. Para o efeito foram-lhe atribuídas todas as forças localizadas naquela zona de acção, nos sectores de Teixeira Pinto e Bula e outras forças de intervenção, fuzileiros especiais, pára-quedistas, comandos e um batalhão de cavalaria.

A partir de 27Jan69, o CAOP instalou-se em Teixeira pinto, iniciando a sua actividade em 06Fev69 com a série de operações “Aquiles” e desenvolvendo intensa actividade operacional de patrulhamentos, emboscadas, batidas e acções apeadas e helitransportadas, de que se destacam as operações “Jovem Zagal”, “Lobo Bravo”, “Giboia Verde”, “Com Taça”, “Grande Vela”, “Joeirada”, “Gavião Satélite” e “Bafo Quente”, entre outras.

A partir de 12Mar69, a sua zona de acção foi alargada ao subsector de Có e em 05Set69 ao subsector de Cacheu; em 01Jul69, após reformulação dos limites dos sectores, foi ainda criado p Sector 07, em Pelundo.

De 04Jun69 a 28Jun69, o CAOP estabeleceu um comando avançado em Buba e planeou, comandou e coordenou a operação “Grande Salto”, com vista à prossecução dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa e ao aniquilamento dos grupos inimigos Nafo-Unal.

De 6Mar70 a 30Mar70, a sua responsabilidade foi alargada ao sector de Bissorã e de 20Mai71 a 29Jun71, cedeu os sectores de Bula e Bissorã ao Comando de Agrupamento Temporário (CAT), entretanto criado nesse período, para actuar naquela zona.

Em 01Ago70, com a criação de um segundo CAOP, tomou a designação de CAOP Oeste e, em 22Ago70, de CAOP 1.

Em 21Abr71, na sequência de tentativa para conversações de paz no “Chão Manjaco”, foram assassinados na região Pelundo-Jolmete três majores e outro pessoal do CAOP 1.


Em 28Jan71, assumiu o comando directo dos subsectores de Cacheu e Bachile, então retirados à responsabilidade do B.Caç. 2905.

Em 01Fev73, foi transferido para Mansoa, assumindo a responsabilidade de comando operacional dos sectores de Bissorã (O1), Mansoa (O4), Bula (O1-A) e Nhacra (COP 8), este só até 21Mar73, orientando o esforço de contenção da guerrilha para as regiões do Oio, Changalana e Sara, planeando e comandando várias operações, de que se destacam as operações “Empresa Titânica”, “Gente Valorosa” e “Jogada”, entre outras.

Em 21Mar73, destacou vários elementos para organização do CAOP 3, até que, rendido em Mansoa pelo COT 9, foi colocado em Cufar em 02Jan73, assumindo a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S2), Cadique (S4) e Gadamael COP %) e orientando o seu esforço para a contenção da luta armada na zona Sul e para os trabalhos de construção e asfaltagem de itinerários naquela região.

Em 01Jul74, já na fase de retracção do dispositivo, foi extinto e recolheu a Bissau.

José Martins

_____________

Nota de vb: artigo relacionado em