terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (16): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira - Portojo)


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >

"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".

 
Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 25 - No novo Bar de Sargentos em 1968. De pé os Fur Mil Pires, Mendonça, Laurentino (do serviço Foto Cine de Bissau), Condeço e Cabrita Gonçalves; em baixo o Teixeira e o Gil".

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 18 - Os Fur Mil Viriato Dias e Mendonça no varandim do velho edifício da messe de sargentos".

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 11 - O Fur Mil Vitor Condeço sentado na raiz do Poilão, tendo por fundo o edifício do comando". [O Vitor, 63 anos, reformado, residente no Entroncamento, foi furriel miliciano mecânico de armamento, CCS do BART 1913, Catió, 1967/69].


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 9 - O porco fugiu da pocilga e foi passear na parada. Ao fundo à esquerda o depósito de géneros e a padaria, em frente a cozinha, refeitório e bar das praças. Vê-se o furriel vagomestre Rijo com um cozinheiro com o tabuleiro da amostra da refeição para o comandante fazer a prova".



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 32 - Cerimónia militar em Fevereiro de 1968. Militares, civis da administração, correios e comerciantes. Da esquerda para a direita, [?], de costas o Cap Médico Morais, o Comandante Ten Cor Abílio Santiago Cardoso, quatro funcionários dos Correios e Administração, os comerciantes Srs. José Saad e filha, Mota, Dantas e filha, Barros, depois o electricista civil Jerónimo, e o Alf Capelão Horácio".



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > "Foto nº 1 - Vista aérea de Catió, onde se vê na parte superior a zona do quartel".

Fotos e legendas: © Victor Condeço
(2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Teixeira (Portojo) (*), membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos, com data de 8 de Dezembro último:

Assunto - Tema Ganância

Caro Luís:

Um abraço.

O nosso camarada Jorge Picado teve de explodir e com razão (**).

São coisas guardadas há muito tempo e em qualquer momento saiem. E talvez até pelo que se vê hoje em dia, o sentido da revolta é grande. Mas sempre soubemos que os milicianos é que pagaram sempre. Faziam a guerra, faziam a revolta e faziam a cobertura à maior parte da chicalhada. À maior parte, disse eu, porque havia chicos bons.

Quero dar o meu apoio ao Jorge. E já agora, e se quizeres publicar, dou a minha estória para o tema GANÂNCIA. Quando cheguei a Catió, em meados de Maio de 69, disseram-me que era obrigatório fazer uma messe. Não fazia ideia o que isso era. Por ordem de velhice ao contrário, acho que fui o próximo. Mas não me lembro se a fiz em Junho ou Julho [de 1969]. Sei apenas que me desenrasquei. Se bem me lembro do mês, foi em Outubro que rebentou uma bomba. Havia rapinanços em Catió.

Levantou-se um inquérito e, claro, apanharam uns tantos furriéis milicianos [, furras]. Como todos os inquéritos que têm conclusão, o pequeno é que apanha. Claro que o 2º Cmdt, de quem não me lembro o nome, responsável pelos reabastecimentos, não teve nada a ver com o caso; nem o capitão, cmdt da CCS, de quem apenas lembro o apelido, o Tim Tim, que muito a propósito e a tempo, lhe arranjaram uma consulta de psiquiatria e foi evacuado; nem o 1º sargento, o pica estradas (lembro do nome mas fica cá guardado), apelido derivado ao seu enorme nariz e nunca por ter saído do aquartelamento, nem para ver um jogo de futebol, quanto mais em qualquer missão.

Esse furriéis foram o vague-mestre da CCS, o meu querido amigo Rijo, o Oliveira que estava na altura no destacamento de Ganjola, outros que por lá também passaram anteriormente e de quem não me lembro do nome. Sei que pagaram em dinheiro desfalques que havia nas contas da CCS. O calo dos superiores tinha de bater na inexperiência dos furrieizitos milicianos. Não que eles fossem santos, sei lá, mas como sempre acontece, só alguns comeram.

No meio disto tudo, tinha vindo para Catió um capitão para cmdt de operações. Não me lembro do nome deste senhor. Que por inerência ficou cmdt da CCS, olhando ao sucedido. Resolveu chamar-me para ir fazer a vaguemestria do rancho. Perguntei:
- Mas eu, porquê ? Só pertenço à CCS por motivos operacionais e de alojamento.
- Porque fez uma boa messe de sargentos.

Isto foi novidade para mim. Tive de aceitar mas coloquei condições. Raramente recebíamos frescos; mesmo arroz, tivemos num determinado período que comprar nos armazens de Catió, porque nem bianda havia. Então carne, peixe e legumes era coisa que raramente havia. A população era-nos hostil e não vendia nada. Raramente a CCS alugava avioneta e comprava fora do reabastecimento mensal, fosse o que fosse.

As minhas condições foram: Fornecimento semanal de frescos por avioneta e uma comissão de soldados escolhida pelos próprios que fizesse o acompanhamento da vaguemestria. Aceites as condições e após apresentação de orçamento, foi fácil verificar que a companhia tinha imensos lucros com o rancho.

Não falo dos outros sectores que não eram da minha responsabilidade: Combustíveis, artigos para os bares e cantinas, etc. (Mas também sei de estórias...).Os furriéis não poderiam ser culpados nem de metade do que lhe atribuiram de culpas. Mas a chantagem que exerceram sobre eles com castigos que poderiam ir até à rendição individual foi de tal forma que eles aceitaram confessar-se culpados.

Imagino, melhor, sei o que pensou ao Rijo, desportivamente um internacional português, já com 27 anos. Este homem nunca mais foi o mesmo.

Factos: Na altura acho que tínhamos entre 17 ou 19 escudos diários para alimentação. Não recordo. Pois demonstrei que era possível fazer diárias com frescos, custos de transportes, refeições extras para o pessoal que chegava de madrugada de patrulhamentos ou outros serviços no mato, reforço alimentar para os sentinelas e pessoal de serviço no aquartelamento, reforço de rações de combate, não só com esse dinheiro como ainda sobrava algum, mas pouco é certo, nessa altura, ao fim do mês. E haviam refeições extras para oficiais - ah meu cmdt Cardoso, quantas vezes lhe levei um petisco ! -, e sargentos que vinham ao rancho pedir um pratinho.

A véspera de Natal de 69 foi um exemplo, principalmente para alguns furriéis, pois o safado do Dias não quis alinhar e deu salsichas na messe. E houve festas com convidados da população - Dia da Artilharia, dia de Natal e Ano Novo, da despedida da unidade em finais de Fevereiro. E sobrava sempre da nossa panela para as crianças nativas, embora o pessoal se alimentasse bem melhor. E ainda deu para alguns suplementos aquando da partida do pessoal da CCS, pois havia excedentes ( vinho, conservas de frutas, pão, pelo menos isso que me lembre); e a CCS que veio render a do [BART] 1913 [1967/69] ainda lucrou muitas dezenas de contos desses excedentes (***).

Mas tudo isso já existia no depósito antes da minha tomada de posse. Quando fiz o inventário haviam cerca de 100 contos de excedentes. Só que o Rijo, o Oliveira e os outros não sabiam nada de contas. E dinheiro vivo era preciso para tapar buracos. E os lucros dos autos de perca, destruição, apodrecimento e afins ?

Nas cargas e descargas de mercadorias, eram caixas de batatas, cervejas, bidões de gasóleo, whisky, etc que caíam ao rio - e na barriga dos fuzas que faziam a segurança dos batelões - ou que chegavam podres e por aí fora...

Façam agora uma pequena conta, bem simples: transformem só 1 escudo por dia de excedente alimentar por militar; Para uma média de 100 bocas diárias (cheguei a dar refeições a 140 pessoas); durante 18 meses mais ou menos que foi o tempo anterior à minha tomada de posse... Acrescentem os desvios de gasóleo à população civil, mais os artigos dos bares extraviados e os lucros da comercialização (mais de 150 pessoas em média diária e com poucos abstémios) - e vejam qual a soma.

Mais: Se eu tinha 100 contos de excessos alimentares, quando recebi o depósito, se os milícias e soldados africanos podiam comprar géneros e cujo valor era descontado nos prés, pagos directamente pelo comando da companhia; explique alguém, se é capaz, sendo esta comandada por um oficial do QP e dirigida por sargentos igualmente do QP, quem ficou a lucrar ?

Se os furras não tinham acesso a dinheiro como é que houve desfalque? Portanto, camarada Picado, não foste o único a levar com a experiência dos profissioinais das comissões.

Um abraço de amizade
Jorge/Portojo


2. Comentário de L.G.:

É, no mínimo, saudável e honroso que este tema (aqui levantado pelo José Manuel Dinis, pelo Jorge Picado e agora pelo Jorge Teixeira) seja exposto, analisado e debatido no nosso blogue... Não há (ou não devia haver, mas eu julgo que não há) tabus entre nós: já aqui discutimos tudo ou quase tudo, incluindo questões que ainda hoje nos dividem e são dolorosas...

A máquina de guerra - neste caso, da guerra do Ultramar - movimentou muito dinheiro e, como muitos de nós se aperceberam no terreno, no TO da Guiné, também alimentou a pequena e a grande corrupção... Independentemente do efeito (positivo e negativo) que teve na economia nacional, a guerra do Ultramar fosse também um bom negócio para alguns. Como em todas as guerras. A nível local, provincial, nacional e internacional.

Interessam-nos aqui não as especulações mas sim os depoimentos. A verdade é que, localmente, tínhamos uma visão muito limitada das coisas. Alguns de nós lidaram com dinheiro, material, compras, intendência, contabilidade, finanças, gestão de messes e refeitórios, obras (nos quartéis e nos reordenamentos)... Alguns de nós comandaram subunidades e fizeram comissões liquidatárias... Alguns de nós tinham especialidades na área da administração militar ou equivalente (vague-mestres, contabilistas, etc.). A maior parte de nós, os operacionais, não tínhamos jeito, tempo e sobretudo competências para lidar com dinheiro, material, compras, gestão de messes, etc.

Já não é altura para, passadas quase quatro décadas, fazer ajustes de contas - nesta como noutras matérias... Já não há contas a ajustar nem com os nossos superiores hierárquicos nem entre camaradas (... tal como não há contas a fazer contra os nossos inimigos de outrora). Eu, pessoalmente só tenho contas a ajustar comigo e com a minha memória.

Se falamos disto, é por que a guerra da bianda era também a nossa pequena guerra de todos os dias... Comíamos mal e porcamente na Guiné: a verdade é que, como defende o Jorge Teixeira, poderíamos ter comido um pouco melhor, se não fora também a ganância e a incompetência de alguns...

Mas atenção: é preciso respeitar o bom nome e não pôr em causa a honestidade e a reputação da generalidade dos nossos camaradas, que foram vague-mestres, sargentos de secretaria, alferes de contalidade, capitães milicianos, pessoal da intendência, etc. Daí para cima, podemos ter suspeitas mas não sabemos nem metade da missa...

No meu tempo, por exemplo, dizia-se à boca cheia que havia meninos a mamar com o reordenamento de Nhabijões [sector L1 da Zona Leste, Bambadinca, 1969/71], onde foram gastos milhares de rachas de cibe, milhares de chapas de zinco, toneladas de tijolos de adobe, feitos pela população local, milhares de horas de trabalho de voluntários à força, do exército, tugas que na vida civil eram trolhas, cabouqueiros, carpinteiros, marceneiros, picheleiros, condutores, etc. Não sei quem ganhou nem me interessa isso hoje. Mesmo assim quero acreditar que o exército tivesse os seus próprios mecanismos de fiscalização e de controlo.

De qualquer modo, o mote está dado. Escrevam sobre este tema, os que sabem e podem... Quanto a alguns termos do nosso calão de caserna (chicos, chicalhadas, furras, ripanços...), aqui usados: é bom lembrar que não têm propriamente um sentido pejorativo. E não se faz, no texto que se acaba de publicar, generalizações abusivas. Isto passou-se em Catió, no ano da graça de 1968. Ponto final parágrafo.

Parabéns ao Jorge, pela oportunidade e vivacidade do seu depoimento. Ele fala do que sabe e viu, por isso fala de cátedra. Embora fale do que se passava no downstairs, na cave... Ele nunca subiu ao upstairs, aos pisos de cima, pelo que nunca podia saber o que se passava em Bissau ou em Lisboa, nos gabinetes dos chefes de estado-maior ou nos conselhos de administração das empresas com interesses na Guiné...

Parabéns ao Vitor, por que ele foi, sem dúvida - até agora - o melhor fotógrafo da linda vila colonial de Catió, no sul, na região deTombali, e da gente que por lá passou, pela vila e pelo seu quartel... Gente do melhor, seguramente. Dos outros, poucos, que não souberam (ou não quiseram) ser nossos camaradas, não falamos aqui.
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira

7 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

5 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3270: O meu baptismo de fogo (3): Catió, 6 de Junho de 1968 (Jorge Teixeira)

Vd. ainda o poste de 20 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)

(**) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3576: Controvérsias (11): A ganância e o modo como se geriam as finanças nas Unidades (Jorge Picado)

(***) CCS do BART 2865,
Catió, 1969/70: vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

(****) Sobre Catió desta época, vd. ainda os seguintes postes:

19 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

6 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)

3 de Dezembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3586: Cancioneiro de Bambadinca (3): Mais versos de O Bando, a CCAÇ 12 do Srgt Piça (Tony Levezinho / Gabriel Gonçalves)


Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > ( i) "À sombra da bananeira: eu, o Machado e o Reis [a primeira foto, a contar de cima para baixo]; (ii) No baga-baga: o Machado, o Tony e eu [ a segunda]".

Fotos e legendas: © Gabriel Gonçalves(2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de ontem do António [Tony] Levezinho, lá do seu retiro na Ponta de Sagres:

Olá, Amigos:

A memória do Gabriel (*) é bem mais jovem do que a minha.

Com efeito, apesar da autoria, apenas tenho a impressão de que faltarão versos, mas o essencial está aí e eu confirmo (mas só agora depois da leitura).

Um saudoso abraço para todos e votos de boas Festas.
~
Tony

2. Hoje mesmo, recebemos nova mensagem do Tony, enviada aos seus amigos Gabriel, Luís e Humberto, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71):

Bom Amigo:

A memória (tal como outras aptidões humanas) por vezes precisa de ser estimulada.

Tenho uma vaga ideia de outros versos que fiz e que viraram o hino da nossa companhia(O Bando, como o sargento Piça lhe chamava).

Recordo que começava mais ou menos assim:

"Você deixou alguém a baloiçar
C'uma osga de todo o tamanho
Quem me dera..........
..........................."


Sei que terminava assim:

..."e sobre copos digam com justiça
Se há pai cá para mim e para o Piça !"


A música sou capaz de a trautear, mas não recordo o nome original. E o "PDI" ao seu melhor nível.

Que fazer...

Um grande abraço
Tony


3. Nova mensagem do GG:

Luis:

Aproveito para enviar duas fotos onde estamos: (i) À sombra da bananeira: eu, o Machado e o Reis [a primeira, a contar de cima para baixo]; (ii) No baga-baga: o Machado, o Tony e eu [ a segunda]. Acho que já te tinha enviado estas fotos, mas não tenho a certeza.

GG

PS - Estas fotos são a certeza da não segregação entre nós, conviviamos todos: praças, furriéis e alferes, como amigos que eramos e somos, afinal rapaziada que estava longe da família, numa guerra que não era nossa.

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

Guiné 63/74 - P3585: Histórias de Vitor Junqueira (11): Um conto (triste) de Natal

1. Mensagem do nosso camarada Vitor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões, (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), com data de 5 de Dezembro de 2008:

Prezados amigos, camaradas e visitantes;
Caros editores,

Para o vosso sapatão, aqui vai mais uma das minhas histórias. Não sei se devido à quadra que estamos a atravessar, ou porque os velhos se tornam sentimentalões, não consegui fugir ao tema (Natal) nem às minhas memórias. Esta, está tão fresca que me interrogo se os factos narrados ocorreram há quase quatro décadas ou na passada semana. Chamo-lhe conto, mas dado que mexe com acontecimentos reais, construí-a segundo uma estrutura aparentada com a da narrativa. Acho eu, porque não sou muito entendido nessa área. Por isso usei e abusei do modo presente.
Desde já, obrigado pela atenção que quiserem dispensar ao meu escrito e Boas Festas.


Um conto (triste) de Natal

Ao meio dia, o sol impiedoso dos trópicos é avaro quanto a sombras. Como se fossem agulhas, os seus raios trespassam-nos a pele que se defende produzindo rios de suor. Toma-se a chuveirada da ordem e logo a camisette fica uma sopa. Sob uma atmosfera quase irrespirável devido ao calor e humidade sufocantes, homens e animais disputam qualquer nesga de frescura. Aos meus pés passa um lagarto em passo de corrida. Pára subitamente, parecendo hesitar quanto ao rumo. Três flexões rápidas, azimute a uma frondosa mangueira e aí vai ele tronco acima, fugindo à torreira. O desconforto rouba-nos o alento, corrói o moral. Entediado, mantenho uma conversa de chacha com um camarada das transmissões enquanto aguardo a chamada para o almoço.

A parada é um belo largo de terra batida, atravessado no sentido norte-sul pela estrada Farim-Mansabá. Do lado direito de quem sobe, situa-se um abarracamento esquálido coberto a chapas de zinco ferrugento, semi-arrancadas dos cibes e mais esburacadas do que um passe-vite. Alberga uma cozinha onde no meio da maior badalhoquice se enjorcam os mimos do cardápio: Do primeiro ao último de cada mês, batata cozida com cavala de conserva, tripas de vaca holandesa com feijão e gorgulhos e, em dias de cerimónia, estilhaços com esparguete. Contíguos, ficam um chiqueiro que serve de refeitório, a caserna das praças e o paiol. Tenho andado a pensar numas obras de fundo, vou falar nisso à rapaziada(*).
À esquerda, situa-se a única edificação digna desse nome. Trata-se de uma construção rectangular, semienterrada no solo, com paredes erigidas em adobe. Construída perpendicularmente à estrada, apresenta do lado norte um alpendre corrido sob o qual se encontram as entradas para a secretaria, catacumba das transmissões e criptografia, suite do capitão e camarata dos alferes. No topo Oeste, as instalações sanitárias para uso exclusivo da hierarquia. O tecto, dotado de um reforço à base de robustos troncos de palmeira sobre os quais assenta uma camada de cerca de 30cm de material inerte, confere uma razoável protecção aos locatários. Nas traseiras, igualmente protegidas das canhoadas do IN por uma fileira de bidons cheios de terra, fica o espaldão do oitenta e um. Lá mais atrás, a cantina e o furo que abastece a tropa com água potável, tendo ao lado um palanque que suporta o depósito sob o qual se encontra o balde de crivo dos banhos gerais. Este é também um local de derriço, onde certos camaradas(**) se deixaram surpreender pela calada da noite a brincar ao jogo quem apanha o sabonete? Em frente, o mastro da bandeira e no mesmo enfiamento, um campo de volley que tive a honra de construir com os ensinamentos colhidos na universidade de Champigny-sur-Marne. Ao fundo, junto ao arame farpado e de costas para a tabanca, fica a messe de sargentos e oficiais, casino, discoteca e local de eventos.



Aquartelamento do K3. Aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vitor Junqueira, durante boa parte da sua comissão.

Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.


São 12h30. Manuel dos Santos, o corneteiro/despenseiro faz-me sinal para avançar.
Esta manhã fui à caça, estreei uma Winchester. Numa pedreira aqui perto, abati quatro tchócas. Nunca percebi porque é que os nativos se recusam a consumir estas aves, muito semelhantes à perdiz europeia. Vamos lá a ver como é que está o petisco que o Manel confeccionou. Como não chega para todos, ficou reservado para o dente do maior e alferes, os outros terão de contentar-se com o cheiro.

Na secretaria, depois da feijoada do almoço, faz-se por fazer qualquer coisa. Um Primeiro, dois Segundos e o seu escriba, torcem e retorcem números para que dêem certo, retocam ofícios para que pareçam fidedignos, batem-se valentemente em duelos de bocejos.
Abanco numa das cadeiras de balouço situados sob o alpendre. Do meu posto de relax, escuto o zumbido da ventoinha do quarto dos alferes, ligada no máximo, convidando-me para a real soneca da tarde. Felizmente, há certos dias nesta puta de guerra em que não se faz raspas!

Quatro e meia, o calor é muito. A esta hora, ainda assa canas na rua, e à sombra também! Desperto, meio obnubilado começo a fazer planos para a tarde: Banhoca, uma coca fresquinha e duas kingalhadas até à hora de jantar.
No meu campo de visão, passa um pronto. Como um zombie, braços caídos, olhar distante, passadas lentas, vai arrastando, as botas no pó revolvido pelas rodas das viaturas. Aparentemente sem destino nem propósito, faz-me lembrar um jagudi pairando sobre o seu território de caça. E de morte. À esquina do bloco, faz meia volta à esquerda e desaparece nas traseiras. Mal este se eclipsa, logo outro lhe segue a peugada, numa espécie de dança que se há-de prolongar até à hora das lavadeiras.

As rotinas desta companhia, são idênticas às de qualquer outra: Vigilância e defesa das instalações, acções de patrulhamento dentro da respectiva ZA, protecção às populações nos seus afazeres na bolanha. Organiza colunas de reabastecimento civil e militar, executa pequenos trabalhos de limpeza e manutenção, faz recolha de lenhas etc. Sem periodicidade determinada, tanto pode acontecer duas vezes na mesma semana como a espaços de quinze dias, há um serviço cuja ordem de acção emana directamente da Rep Oper. Esse, é a doer. Por norma, com uma antecedência de dois ou três dias, aí pelo meio da tarde, transmissões e criptografia entram em acção. Encafuados no seu cubículo, recebem e decifram uma sequência interminável de pi-pi-pis que desperta a curiosidade irresistível do pessoal. Querem dar fé do que lá vem, eis a razão do rodopio à volta do edifício do Comando.

São dez da noite. Na messe, reina uma falsa descontracção, uma indiferença aparente. No rosto tenso dos furriéis, leio sinais de compreensível ansiedade. Falei com eles antes de jantar, já sabem ao que vamos. Recomendação do costume: O segredo é a alma do negócio. Como se isso fosse possível! O pessoal há-de ser acordado à última da hora. Os que forem à cama. Faço uma retirada estratégica. Trancado nos meus aposentos, miro e remiro cartas e planos até os olhos me doerem. Também eu estou ansioso, não me sinto apavorado mas receio não conseguir descansar a ponta de um corno. Já passa das duas. Terei ainda tempo para um sono povoado de pesadelos?

Contrariando as Népes, a cantina mantém-se aberta noite fora. A malta afoga as borboletas do estômago com chá da Escócia. O Neves tem-no lá e do bom, importado directamente para as FA. Uma suecada, quiçá uma lerpazinha e umas cigarradas ajudam a queimar as horas. Hão-de implicar uns com os outros, contar piadas sem graça e soltar coriscadas à moda açoriana. Mais para a frente, talvez façam uma patuscada com o espólio da caça ao tesouro; dois especialistas surripiaram uma lata com cinco quilos de chouriço em azeite da arrecadação do vagomestre Prates(***). Na hora do embarque estarão tensos como o aço, prontos para o que der e vier.

Os filhos são como os dedos da mão, temos cinco e nenhum é igual. Por estranho que pareça, tenho para com estes rapazes que são praticamente da minha idade, uma relação de grande afectividade. Não será propriamente uma ligação do tipo pai-filhos, mas anda lá perto. Sinto-me responsável por eles, gosto deles. Foram-me entregues pelas famílias, ensinei-lhes tudo o que aprendi em Mafra, acompanhei-os nesta viagem a África, acalmei-lhes angústias e incertezas, escondi-lhes os meus medos para que o não tivessem, prometi levá-los de volta. Como os filhos, são todos diferentes. O tempo, a convivência e os apertos, vão revelando o que de melhor ou menos bom existe em cada um deles.

Picaroto, vinte anos, matulão, dispara o morteirete em andamento como quem dedilha uma viola. O Dutra é um tipo especial. O traço dominante da sua personalidade talvez seja a bonomia, parece um Buda menino. Tão humilde e educado, não há outro. Sempre disponível, a sua presença transmite confiança ao grupo.
Não é o mesmo, ultimamente. Anda triste, meio introvertido contrariamente à sua natureza. Consome-o a lembrança do pai falecido nos Estados Unidos, vítima de acidente de viação. Recebeu a trágica notícia em Madina Fula, quando preparávamos a festa de Natal do ano passado. Penso que tem saudades da restante família, emigrada na América, à qual deseja juntar-se tão depressa passe à peluda.

Alta madrugada, dois porradões na porta fazem-me saltar na tarimba.

- O que é, caralho? Pergunto, estremunhado.

- Meu alferes, temos um problema. Tem de vir ali à cantina, responde-me o furriel Tavares.

Pela hora e pelo inusitado da intimação, o coração dá-me um baque. Penso numa desordem com fartum de pancadaria, um acidente qualquer. De um pulo, ponho-me a pé e, enquanto caminho, o furriel pinta-me a cena.

O quadro é dramático. No chão de cimento, jaz inerte o corpo do Dutra. À sua volta, em lágrimas, os camaradas contemplam-no com olhar incrédulo. Peço-lhes que se retirem. Por uns instantes ficámos a sós. Ajeito-lhe as mãos sobre o peito. Tranquilo, parece sorrir. Acho que o ouço dizer: - Não se incomodem comigo, eu estou bem.

Despeço-me com uma prece silenciosa e rogo-lhe que mantenha o seu posto no nosso GC. Encontrado um local com um mínimo de dignidade onde depor o corpo do nosso malogrado amigo, aí o deixamos, amortalhado num simples lençol. Na volta, cuidaremos dele, como merece.

São 05h50, está a clarear e já se ouve o roncar dos hélis. Um a um, os Alouettes pousam, recebendo um contingente de cinco homens cada. Descolam rapidamente e, progredindo em fila indiana, conduzem-nos a destino pouco seguro. Lá no céu, encomendamo-nos à Senhora do bom regresso. É meu privilégio seguir na primeira leva. Agora é só dar gás às máquinas!

O Dutra não fumava nem bebia. Como os outros, foi até à cantina para não sentir o passar do tempo. Aí, encontrou o seu amigo Araújo, micaelense da Ribeirinha, atirador de LGF. Bom rapaz, um tanto rezingão, mete uns copos em vésperas de saída. Entabulam dois dedos de conversa. Como o camarada se mantivesse murcho, o Araújo desata a provocá-lo. Na paródia, empunha a Walter que usa para defesa pessoal. Em jeito de saque à cow-boy, o cão fica preso na banda do dólmen, recua mas não o suficiente para ficar no trinco. No instante seguinte, o Dutra cai, desamparado, com o coração trespassado por uma bala de 9mm. Não teve tempo nem forças para um ai.

Foi há trinta e sete anos.

Obs: Do ponto de vista disciplinar e criminal, o Araújo safou-se. O processo foi conduzido de modo a não lhe tolher a vida. Foi sancionado pela própria consciência, pela mágoa e certamente pelo remorso. Pagou caro (ainda estará a pagar?) por uma estúpida brincadeira. Emigrou para o Canadá.

(*) As obras foram efectivamente realizadas! Cozinha e refeitório, construídos de raiz com blocos fabricados pelo nosso pessoal, e coberturas requalificadas, como agora é uso dizer-se. Durante a fase de execução, tivemos uma visita do General Spínola.

(**) Um desses homens acabou por falecer muito jovem. Suspeito que terá sido uma das primeiras vítimas do VIH registadas no nosso país.

(***) O furriel Prates, chaparrão de gema, era um deixa andar. Passava umas semanadas em Bissau e regressava de mãos a abanar.
- Meu capitão, não chegou qualquer reabastecimento da metrópole, era o seu rebatido argumento. Nem uma simples folhinha de alface! Atraía raivas, mas nunca quinou. Tive notícia de que faleceu pouco depois da passagem à disponibilidade. Paz à sua alma.
__________

Vd. poste de 17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz

Guiné 63/74 - P3584: Recortes de Imprensa (10): Os ficheiros secretos de Coutinho e Lima, no Correio da Manhã, de 7/12/08

Capa da revista Domingo, suplemento do Correio da Manhã, edição nº 10 782, de 7 de Dezembro de 2008. Tema: Derrota à vista na Guiné. Reportagem do jornalista José Carlos Marques, o único jornalista da imprensa escrita portuguesa que acompanhou os trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), incluindo a visita dos participantes ao Cantanhez, no sul, na Região de Tombali (1 a 3 de Março de 2008) (*).

Imagem (digitalizada e editada por L.G.): Correio da Manhã (2008) (com a devida vénia...)



1. Eis alguns dos excertos do trabalho jornalístico do José Carlos Marques:

"Em 1973, a guerra na Guiné atinge um ponto crítico. A acta da reunião de Comandos de 15 de Maio mostra a descrença de Spínola e dos seus militares na hipótese de vitória.

"Encontramo-nos, indiscutivelmente, na entrada de um novo patamar da guerra. Bissau, 15 de Maio de 1973. O general Spínola, comandante militar e político da Guiné, fala perante os comandos militares, numa reunião convocada por si. A reunião de Comandos tinha por objectivo fazer o ponto de situação da guerra da Guiné. Spínola ouviu os seus homens repetir o que já sabia – o inimigo estava cada vez mais forte e as tropas portuguesas sentiam dificuldades crescentes em travar o avanço do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

(...) "Na acta da reunião, que recebeu o carimbo 'muito secreto', pode ler-se o diagnóstico do homem que liderava as tropas portuguesas na Guiné: 'Afiguram-se-nos manifestamente insuficientes os meios actuais face à evolução verificada, pois considero demonstrada à evidência a impossibilidade de alterar a manobra para economizar meios, sem grave compromisso da missão'.

"A 15 de Maio, o Norte da Guiné está a ferro e fogo. Desde o dia 8 desse mês que o quartel de Guidaje fica cercado pelo PAIGC, que fustiga a base militar com uma violência nunca vista. Os 200 homens da guarnição defendem-se de 700 guerrilheiros bem armados. O apoio aéreo é limitado pelos ataques com mísseis terra-ar Strella, de fabrico russo – o PAIGC abate aviões FIAT G-91, Dornier e helicópteros. O comando vê-se obrigado a deslocar para a região todos os reforços disponíveis, conseguindo impedir a queda da guarnição ao final de um sangrento mês de combates. Uma vitória provisória, só possível devido à operação ‘Ametista Real’, em que o corpo de comandos atacou a base da guerrilha em Cumbamori, no Senegal, cortando as linhas de abastecimento que possibilitavam o cerco a Guidaje. Mas o pior ainda estaria para vir, com a perda da guarnição de Guileje, no Sul da Guiné, a 22 de Maio.

"Os militares sabiam que não havia já condições para travar o PAIGC. Um dos participantes na reunião de 15 de Maio, o brigadeiro Alberto da Silva Benazol, Comandante Territorial Independente da Guiné, fala das dificuldades de retirar feridos e mortos do teatro de operações. 'Temos de encarar o aumento do número de mortos', diz, avisando ainda que 'há que estar-se preparado para a utilização de cemitérios de unidade e, portanto, haverão os familiares na Metrópole de estar preparados para aceitar que nem sempre será possível receberem os restos mortais dos seus heróis, em prazo curto e na forma em que se tem processado'.

"O brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional, admitia o risco da perda de várias guarnições: 'o inimigo está a preparar as necessárias condições para a conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (Guidaje, Buruntuma, Guileje e Gadamael) (...) isto já está ao alcance das suas possibilidades militares'. O mesmo militar avisa que 'não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa'.

(...) "Gauldino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, que já tinha descrito ao pormenor as extremas limitações de voo desde que as aeronaves começaram a ser abatidas por mísseis terra-ar, (...) numa única folha, listou os meios de que precisava: 8 aviões Skyvian, de transporte ligeiro, 5 helicópteros, 12 aviões Mirage ou de tipo semelhante, novos radares e mísseis terra-ar do tipo Red-eye (o PAIGC começava também a usar meios aéreos próprios). Na prática, isto queria dizer que praticamente toda a aviação seria substituída – um pedido que sabiam ser incomportável para Lisboa, agravado pelo facto de ser cada vez mais difícil a Portugal comprar armamento, devido à contestação internacional à guerra.

"O governo de Marcello Caetano estava informado do que se passava na Guiné, mas não foram enviados reforços (...).

"A perda de Guileje marca um ponto de viragem na guerra, mas o único comandante português que abandonou uma guarnição durante a Guerra Colonial não se arrepende de nada: 'Em consciência fiz o que devia ser feito', escreve Coutinho e Lima no livro ‘A Retirada de Guileje’, que vai ser lançado em Lisboa no próximo dia 13 de Dezembro.

"Trinta e cinco anos depois, o coronel de artilharia do Exército conta o que o levou a sair – com 200 soldados e 500 civis – de uma base crucial para cortar as linhas de abastecimento do PAIGC na Guiné-Conacri. A decisão valeu-lhe um ano de prisão preventiva em Bissau, por ordem do general Spínola, e um processo na justiça militar que se extinguiu com o arquivamento, após o 25 de Abril.

(...) "A ARMA QUE MUDOU O CURSO DA GUERRA

"Em 1972, o PAIGC recebeu uma prenda valiosa da União Soviética. O míssel terra-ar Strella acabou com a supremacia aérea dos portugueses. A arma é usada pela primeira vez em Março de 1973. Após dois sustos sem consequências, a 25 de Março o Fiat G-91, pilotado pelo tenente Pessoa, é abatido. Seguem-se uma série de tiros certeiros. O impacto dos Strella é brutal. Os soldados deixam de ter apoio aéreo e as operações helitransportadas ficam em xeque. Sem possibilidades de reabastecimentos e com dificuldades de retirada de mortos e feridos, a moral das tropas cai a pique.

"OFENSIVA EM TRÊS FRENTES DÁ VANTAGEM AO PAIGC

Maio de 1973 foi terrível para os militares portugueses na Guiné. Sedentos de vingar a morte de Amílcar Cabral – assassinado [em Conacri] em Março – os líderes do PAIGC planeiam uma grande operação no Norte e no Sul do território. Soube-se recentemente que os ataques deveriam ter ocorrido ao mesmo tempo, mas o cerco à base de Guidaje, no Norte da Guiné, começou mais cedo por os portugueses terem detectado movimentações da guerrilha. Guidaje esteve cercada entre 8 de Maio e 8 de Junho, obrigando o comandante-chefe a mobilizar para lá todos os reforços de que dispunha. Quando começa o assalto a Guileje, no Sul, não há tropas disponíveis para o apoio. Os ataques são liderados por Nino Vieira, comandante do PAIGC para a zona Sul. A operação Amílcar Cabral – designação escolhida em homenagem ao líder assassinado dois meses antes – começa no dia 18 de Maio e o quartel cai a 22, com dois mortos do lado português. Uma coluna de soldados e civis retira para Gadamael, que fica debaixo de fogo durante vários dias. Entre 31 de Maio e 2 de Junho caíram 700 granadas, fazendo 5 mortos.

"Sem abrigos eficazes, centenas de soldados fogem para a selva, e só a chegada de novos comandantes e, no dia 12, de reforços, salvam Gadamael de sofrer o mesmo destino da guarnição de Guileje.

"As fragilidades das tropas portuguesas são evidentes. Só o 25 de Abril permite evitar uma derrota militar na guerra da Guiné". (...)

Guiné-Bissau > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Depois de um excelente almoço, de carne e peixe, na praia piscatória de Cananime, os visitantes deram um salto, de barco a motor, à outra margem do Rio Cacine, justamente para visitar a povoação de Cacine. O jornalista do Correio da Manhã, José Carlos Marques, foi um dos privilegiados elementos desse grupo... Ei-lo aqui de regresso ao barco... Conheci-o nessa altura, da minha viagem de regresso à Guiné. Sempre atento, discreto e afável.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Coutinho e Lima, depois de ser homenageado pela antiga população de Guileje (que hoje vive em Mero), deixa-se fotografar no recinto do antigo aquartelamento, com o traje de home sábio, a chabadora, que lhe impuseram...
Segundo ele me confidenciou na altura, a população de Guileje estava relutante em abandonar os seus haveres, a sua tabanca, as suas moranças... A verdade é que, ao fim de cinco dias a viver nos abrigos, a população local (cerca de meio milhar de pessoas) e os militares portugueses (c. 200), sem água, sem transmissões, sem apoio aéreo, com um morto, e com a artilharia a acertar em cheio nas instalações de superfície, dificilmente poderia resistir muito mais tenpo...
Foi talvez uma das decisões mais difíceis da sua vida e, ao tomá-la, o então major, comandante do COP5 , sabia que punha fim à sua carreira militar, como aqui confessa na entrevista ao jornalista do Correio da Manhã. Ao escrever o livro A retirada de Guileje: a verdade dosfactos (que será apresentado no próximo sábado, dia 13, no auditório da Academia Militar, na Amadora), o actual coronel de artilharia reformado seguiu a máxima do nosso blogue, de que é membro: "Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti"...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



2. Entrevista de Coutinho e Lima ao jornalista José Carlos Marques

(...) "O que o levou a escrever um livro sobre a retirada de Guileje? (**)

"A minha prioridade foi dar a conhecer aos meus filhos e netos e a toda a gente o que se passou naquela odisseia de Maio de 1973 em Guileje. Quis que essa história ficasse escrita.

"Guarda algum sentimento de injustiça em relação ao que se passou?

"É evidente que sim. A quente, até posso compreender a decisão do general Spínola de me mandar prender, mas depois não quiseram ter a capacidade de estudar racionalmente a situação e verem que a retirada foi a melhor solução para toda a gente, até para o comandante-chefe, que não tinha possibilidades de resolver o problema.

"Nunca se arrependeu da decisão de abandonar Guileje?

"Não, nunca duvidei. Não havia hipótese de defesa, se tivéssemos lá ficado seríamos todos mortos.

"Sabia das consequências que ia sofrer?

"Quando saí, disse aos meus homens que a minha carreira militar tinha chegado ao fim. Pus a carreira de lado perante as centenas de pessoas que dependiam de mim".

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes

23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2674: Recortes de imprensa (3): José Carlos Marques, do Correio da Manhã, em Gandembel e Guileje, embeded nas NT

Vd. últimpo poste desta série > 4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3404: Recortes de imprensa (9): Em Gandembel - O adeus à Guerra (José Teixeira/César da Silva)

(**) Vd. poste de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora


(...)O livro A RETIRADA DE GUILEJE, edição de autor, não estará à venda nas livrarias; Coutinho e Lima está disponível para o enviar, pelo correio, para qualquer parte do Mundo. Aqui ficam os seus contactos:

- Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq. 1500 – 599 LISBOA
- Telefone: 217608243
- Telemóvel: 917931226
- Email: icoutinholima@gmail.com

domingo, 7 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3583: O Perdigueiro, ou como um Pára cai numa armadilha (Hugo Guerra)

Estamos a publicar um comentário que o nosso camarada Hugo Guerra (*), fez no poste, Guiné 63/74 - P3559: Estórias do Zé Teixeira (30): Aquele Minuto (José Teixeira)


Só tu e poucos amigos me fazem saltar da apatia que cada vez mais toma conta de mim.
Depois de contar como foi o meu encontro com a mina que me lixou em São Domingos, e lendo agora o teu desabafo e crença em Deus por achares que ainda não era aquela a tua hora, o que muito respeito, vou contar um episódio que protagonizei, em Gandembel e ao qual surrealisticamente tenho catalogado na minha cabeça com o seguinte titulo:


O Perdigueiro

Num domingo de Dezembro de 1968 os Páras e os homens da CCaç 2317 envolveram-se num renhido jogo de futebol, dentro do arame, logo pela manhã.
A coisa estava tão animada que os sentinelas não se aperceberam da instalação dum guerrilheiro numa árvore da orla da mata e que com toda a calma deste mundo ia desfazendo o meu Pelotão com uma bazookada. A sorte deles foi estarem semi-abrigados junto à lenha e só apanharam com os estilhaços. Mesmo assim os estragos foram grandes.

A flagelação revelou-se ineficaz e ficamos com mais um problema; porque não funcionaram as nossas minas que deviam estar colocadas nos trilhos à volta do aquartelamento?

Vá de ir ver.

Com a raiva que estava, porque fiquei com menos alguns homens, dei por mim no dia seguinte enfiado naquele capim, com o dobro da minha altura, à caça das nossas armadilhas.
O Furriel destacado para as localizar, tinha um cróquis muito rústico e nem tenho a certeza que ele as tivesse colocado.
Bicha de pirilau. À frente o Furriel seguido de um soldado pára-quedista e logo a seguir eu.

O passeio era à volta do aquartelmento, mas tendo as granadas e minas sido instaladas na época seca eram agora um problema, porque toda a paisagem estava alterada.
A primeira granada com arame de tropoçar estava no síto e lá ficou.
De repente vejo o Pára estancar, como fazem os bons perdigueiros a fitar as perdizes e algo me disse que estava lixado.

Imaginem um homem com uma MG nas mãos, e com um pé assente no chão e outro meio no ar com um arame de tropeçar entalado nos atacadores.
Os segundos seguintes foram de loucura. O Furriel já tinha passado e também ficou estarrecido quando viu aquilo.
O perdigueiro tinha consciência do que estava a passar e depois de eu ter mandado todo pessoal proteger-se e recuar, olhámoss uns para os outros e ainda estávamos vivos.

Os três em conjunto combinámos o que fazer e decidimos salvar as nossas vidas.
Mortos já nós estávamos...

O Perdigueiro não podia mexer-se nem que chovessem picaretas, enquanto o Furriel e eu, deitados no chão agarrávamos o arame ao mesmo tempo e faziamos força para fora de modo a aliviar a tensão do mesmo e evitar que a granada rebentasse.

Em minutos, ou segundos, sei lá, isso estava feito e o nosso valente Pára conseguiu tirar o arame dos atacadores.
Como havia necessidade de cortar o arame no meio das nosas mãos para tentar evitar o descavilhar duma granada que não sabíamos de que lado estava, foi o soldado pára-quedista que o fez, só depois se deitando no chão a dar graças a Quem o salvara daquela embrulhada.

A granada foi depois localizada e neutralizada, só não tendo rebentado, porque as chuvas a tinham enferrujado.

Dei por terminada a operação e desliguei mais uma vez o interruptor...

A minha hora havia de chegar mais tarde.

Hugo Guerra
_______________

Notas de CV:

(*) Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55, Pel Caç Nat 50 e Pel Caç Nat 60, (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), hoje Coronel, DFA, na reforma

Vd. último poste de Hugo Guerra de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (19): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra)

Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca.

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1969 > CCAÇ 12 > O Levezinho [ Tony] e o Henriques [ Luís Graça], à civil, junto às instalações do comando, das messes e dos quartos dos oficiais e sargentos (assinaladas na primeira foto de cima, em rectângulo a vermelho)

Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Gabriel Gonçalves, enviada ao editor do blogue, Luís Graça, com conhecimento ao Tony Levezinho e ao Humberto Reis

Rapaziada: Lembrei-me deste fado que a malta cantava e que foi feito de homenagem ao 1º Brito [, da CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72] ? (*)

Não tenho a certeza de quem foi o autor (ou autores) do poema, também não tenho a certeza que o poema esteja correcto, por isso agradeço que façam o favor de corrijir o que estiver mal.

Depois, era giro ser publicado no blogue,

Um abraço
GG


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, GG, é uma preciosidade... Agora acendeu-se uma luzinha nos meus neurónios.. Reconheço a letra, que julgo ser da lavra do Tony (talvez com a ajuda do Humberto, não sei)... O Fernando Brito mora (ou morava) em Coimbra, julgo que ainda seja vivo... Está reformado como major... O Durães publicou a lista do pessoal da CCS do BAQRT 2917 e subunidades adidas (onde se inclui a nossa CCAÇ 2590/ CCAÇ 12)...

Vou publicar na série Cancioneiro de Bambadinca. Ontem falei com o Abilio Machado, vou ver se me encontro com ele, antes do Natal. Mora na Maia. Telefone: 22 948 0783.

Tudo isto me faz recordar, com alguma saudade e muita emoção, as noites loucas de Bambadinca, no bar de sargentos ou no famoso quarto das putas, que era o meu, do Humberto, do Tony, do Fernandes, do Sousa e do Marques (**). Tu fostes sempre um gajo da corda. Quando não estavas de serviço, alinhavas com a malta, operacional, ajudando, também tu, a "dar de beber à dor"... Tu e o Bilocas (que pertencia à CCS do 1º Brito).

Bem hajas por teres salvo mais uma letra do nosso vasto cancioneiro de Bambadinca... Se alguém se lembrar, eventualmente, do resto dos versos (não sei se havia mais...), entre em contacto connosco. Muita da versalhada que cantávamos, fora de horas mas alto e bom som, nos nossos aquartelamentos, vai-se perder, por falta de registos em suporte de papel.

O Fernando Brito era um "senhor primeiro sargento", que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba ed pela autoridade... Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo sedutor... Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia questão de sublinhar que pertencia à arme de artilharia. Quando ouvímaos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele: "Lá se foi mais um fato"... Não sei por quê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso 1º Brito, dos periquitos da CCS do BART 2917...

A nossa CCAÇ 12 deixou de ter 1º Sargento (O Fragata foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas pelo nosso querido 2º Sargento José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3...

Um Alfa Bravo. Luís

3. Cancioneiro de Bambadinca (***)

BRITO, QUE ÉS MILITAR

Letra: Tony Levezinho/Humberto Reis (?)
Música: Fado "Povo que lavas no rio"
[Música: Fado Victoória; Letra: Pedro Homem de Melo; criação de Amália Rodrigues, 1961]


Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão,
(Bis)
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.
(Bis)

Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
(Bis)
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!
(Bis)

Filho da puta e sacana
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição
(Bis).
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão.
(Bis)

FIM

Recolha da letra (sujeita a eventuais correcções): GG
Revisão e fixação do texto: LG
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)

FERNANDO BRITO, Major (na altura, 1º Sargento da CCS do BART 2917)
Telefone - 239 087 243 / Telemóvel - Não tem / E-Mail: Não tem

Morada:

Rua Mouzinho de Albuquerque, Bloco B12 – 1º Frt.
3030-063 COIMBRA

Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1525: Tertúlia: Durães, Vinagre & Cª Lda, do BART 2917 (Humberto Reis)

(...) "Lembro-me perfeitamente do vosso 1º sargento, o Brito (até lhe fizemos um fado com a música do Povo Que Lavas no Rio), do alf de Intendência, o Abílio Machado (de Riba d'Ave, pois visitei-o lá em Riba d'Ave, já depois de vocês terem regressado da Guiné), do médico, o Dr. Vilar (já estive com ele num almoço de confraternização de malta de Bambadinca do tempo da CCAÇ 12).

"Lembro-me ainda de um furriel que gostava muito de jogar à lerpa (não o pequenino do Pel Daimler, que tinha metido o chico), mas da CCS, e que fazia muito bluff, pelo que eu o alcunhei de Zé Bliuf (não sei se seria o Gancho), tal como me lembro do 2º sargento Saúl que tinha umas faces bastante rosadas...

"Recordo-me bem do Cap Passos Marques, que é de Faro, tal como o antecessor dele, o meu querido amigo Cap Figueiras. Há 2 anos foi o actual coronel na reserva, Figueiras, que organizou o almoço da malta de Bambadinca do tempo da CCAÇ 12" (...).

(**) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)


(...) "És o mesmo que animou algumas noites no nosso quarto (também conhecido por quarto das putas, não por elas que não existiam, mas por ser um quarto de rebaldaria só habitado por gente bem: eu, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes, o Henriques - hoje, Luís Graça, o editor do nosso blogue - e o José Luís Sousa - o madeirense -, em Bambadinca, juntamente com o Vacas de Carvalho, do pelotão Daimler, e o Gabriel Gonçalves, o cripto da minha CCAÇ 12 ?" (...).

(***) Vd. poste de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

Guiné 63/74 - P3581: A História dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (1): Apresentação e Chegada a Bissau


1. Mensagem de Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 4 de Dezembro de 2008:

Mesmo agora, ao iniciar a minha prosa, depois de muito ter hesitado em expor a história da CCAV 8351, sinto-me um pouco nervoso e a fluidez com que os meus pensamentos me ocorrem, esbarram na dificuldade em lhes dar letra de forma.

Vou começar por me apresentar, pois assim será mais fácil entrar no ritmo.
Como disse no relato intitulado antes da Guiné, chamo-me Vasco Augusto Rodrigues da Gama, sou licenciado em Economia pela Universidade do Porto, nasci e moro actualmente na Figueira da Foz, embora tenha feito praticamente toda a vida em Coimbra, onde fui professor do Ensino Superior desde 1976 até 1999, primeiro e durante quatro anos no, hoje, designado Instituto Superior Miguel Torga, na altura Instituto Superior de Serviço Social, e depois durante cerca de vinte anos exerci funções docentes ininterruptamente no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.

Paralelamente à actividade docente, fundei com outro economista em 1984 uma fábrica de cerâmica decorativa que exportava a quase totalidade da sua produção.

Entre 1999 e meados de 2007, após ter abandonado, a meu pedido, o ensino, dediquei-me a tempo inteiro à administração da fábrica, imitando os comandantes dos navios dos filmes que víamos na nossa meninice. Afundei-me com a nau, gosto mais assim e condiz mais com o meu nome, e desde então, aguardo que cheguem os 65 anos para ter direito à reforma, sem que de momento, tenha direito a emprego, pois aos sessenta e dois anos sou velho; nem subsídio de desemprego, pois fui arrais da lancha naufragada.

Como nunca chafurdei na gamela de nenhum partido político, vou aguardando com serenidade que seja suficientemente velho para que chegue a reforma. Julgo que, como antigo combatente, terei direito a um chorudo subsídio que fará de mim um homem rico, pois um rico homem sempre fui e continuarei a ser (é o que diz a minha mulher, companheira de um casamento que já dura há 38 anos).

Corria o ano de 1972, estava eu posto em sossego no RI7 de Leiria, cansado de jogar dados e crapeau, quando o oficial de operações me chamou ao seu gabinete e com um ar ainda mais desolado do que o que normalmente afivelava me disse:
- Gama, foi mobilizado. - Parou, olhou e como nada escutasse do Gama, acrescentou: -Para a GUINÉ.

Todos os que ainda vão tendo paciência para ler este meu arrazoado adivinharam a minha exclamação:
- ****-**!

E lá foi o Gama para o Regimento de Cavalaria n.º 3 em Estremoz, onde viu pela primeira vez os camaradas da CCAV 8351, que faziam a instrução juntamente com a CCAV 8350 que teve como destino Guileje e a CCAV 8352 que foi para (?).

A instrução já decorria desde o dia 10 de Julho e a chegada de um novo elemento causou natural estranheza, pelo que o estudo mútuo, entre a minha pessoa e os meus novos camaradas, foi um desafio interessante, com ambas as partes a jogarem o seu jogo, mas passados dias já não havia necessidade de fazer sempre cara de mau, tendo particularizado a minha atenção no desenvolver de laços de camaradagem entre todos, tentando fazer-lhes chegar os poucos conhecimentos que tinha acerca da Guiné e mostrando-lhes que a união era fundamental nos difíceis tempos que se avizinhavam. Atribuí o lema à nossa companhia que viria a ser baptizada de OS TIGRES, numa locução que identificava esse pensar: ET PLURIBUS UNUM. (**)

A semana de campo entre finais de Agosto e inícios de Setembro, cimentou entre todos nós a Confiança, o Respeito e a Tolerância, bases fundamentais para uma amizade vital para os tempos que se aproximavam e que ainda hoje funciona praticamente entre todos. Alguns episódios curiosos se passaram que não cabem nesta narrativa, mas sim no relato isolado de algumas historietas, que hoje nos fazem sorrir ou lamentar.

Terminada a instrução, gozámos umas férias de dez dias, preenchidos por uma ansiedade crescente, pelo entristecer da família, pelo aumento enorme dos silêncios entre o casal. A Guiné já se fazia sentir...

Regressados de férias e apresentados em Estremoz, recebemos no dia 25 de Setembro ordem para irmos para Portalegre, julgo que para o BC1, e aguardar embarque que se veio a verificar a 26 de Outubro.

Pela calada da noite, 23h00, seguimos de camioneta para a Base n.º 1 em Lisboa onde chegámos às três e meia da manhã. Ao meio-dia do dia seguinte a bordo de um avião dos TAM, que serviu de baptismo de voo à esmagadora maioria dos Tigres, e sem qualquer cerimónia de embarque, lá fomos nós… Acreditem que até essa data, nenhum profissional do exército me havia ensinado o que quer que fosse sobre a Guiné. Apenas e só, como já disse no primeiro texto que vos enviei, o Alf Beja Santos, era eu Soldado Cadete nos inícios de 1971, e ele comandante do meu pelotão, se referira à Guiné, sobretudo nos intervalos da instrução…

Nesta altura amadurece a primeira modificação na minha vida. De estudante para ir passando de ano, optando sempre por um bailarico, por uma boa lerpa jogada até de manhã, por uma jogatina de futebol em detrimento das frequências ou exames, encontro-me como aprendiz de Comandante de Companhia, a querer saber mais do que os professores me haviam ensinado. Dizia-me, com algum receio, o meu falecido pai, que havia pertencido à comissão de eleição para a Presidência da República do General Norton de Matos e mais tarde do General Humberto Delgado:
- Ó rapaz, não me digas que queres seguir a carreira militar.

Não se havia apercebido que o Vasquito era homem com grandes responsabilidades, responsabilidades essas que tinham modificado e de que maneira o seu modo de estar na vida.
- Deserta-se ou não, mulher?

- Vamos a isso - ajudava a minha, hoje, patroa! - Vamos para a Bélgica… O meu tio A arranja-nos emprego. Ou então para o Brasil, o teu tio João já te disse mil vezes para irmos ter com eles, inclusive arranja as passagens de um dia para o outro.
- E a minha mãe? - perguntava o Vasquito/Vasco!

A minha mãe, menina Adelaide, como foi sempre conhecida e ainda hoje é recordada, foi das primeiras pessoas operadas ao coração em Portugal, já lá vão cinquenta e cinco anos, e havia perdido, por doença, dois filhos que haviam nascido antes de mim e que eu não cheguei a conhecer, gozava de uma saúde precária e se o seu menino fugisse não mais o voltaria a ver, pois o meu pai não gozava da liberdade de um qualquer turista do regime.

Isto dava outra história!

E o que foi Soldado Cadete até meados de 1971, está um ano e picos depois feito Capitão e Comandante de Companhia com a responsabilidade de conduzir 150 homens, tendo sobre eles apenas a vantagem de ter estagiado quatro meses no leste de Angola, mais cinco anos de idade e pouco mais…

Chegámos ao Aeroporto de Bissalanca cerca das duas da tarde do dia 27 do mês de Outubro de 1972, seguindo toda a Companhia para o Cumeré onde recebeu o material de aquartelamento e fez durante três semanas a sua adaptação ao clima, treinando fundamentalmente o tiro, e acampando durante seis ou sete dias na região de NHACRA TEDA, fazendo diversos patrulhamentos diurnos e emboscadas nocturnas.

Em meados de Novembro desfilámos no C.M.I., perante o General Spínola que fez uma pequena alocução mais ou menos inflamada sobre o Soldado português mas que, de seguida se reuniu com todos os oficiais e sargentos permitindo uma abertura no diálogo onde, lembro-me como se fosse hoje, para além da minha pessoa um outro oficial bastante politizado, fruto da sua participação activa da crise estudantil de 1969 em Coimbra, onde cursava Direito, discordava das teses do Gen Spínola e onde, para arrepio de todos, manifestava a sua não concordância com um, enfim, demasiado à vontade. Termos como federalismo, solução política, PAIGC e outros eram trazidos à colação.

A CCAV 8351 cruzar-se-ia por diversas vezes com o Gen António de Spínola, como, se acharem que devo continuar, relatarei mais tarde.

Apenas uma nota de pé de página para a falta, pelo menos não tenho conhecimento de nenhum texto, do papel dos milicianos universitários no preparar da libertação do país. Muito gostava que da pena brilhante do Mário Beja Santos saísse um texto sobre, por exemplo, o que se passou em Mafra no segundo trimestre de 1971, ou será que já havia abandonado Mafra?
_______________

Notas de CV

(*) Vd. postes de:

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3436: O Nosso Livro de Visitas (42): Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3570: Tabanca Grande (102): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

(**) Todos por um... Os Tigres passam a ser doravante designados por Tigres de Cumbijã (a cova que lhe coube no buraco da Guiné, algures na Região de Tombali, entre Mampatá e Guileje...). Em Guileje foram colocados, de finais de 1972 a 22 de Maio de 1973, os Piratas de Guileje (CCAV 8350).

Guiné 63/74 - P3580: Brasões, guiões ou crachás (5): BCAÇ 2893, CART 730 e 23339, CCAÇ 726, 1426, 2406, 2636, 2701 e 3477 (José Martins)

BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 2893

BCAÇ 2893 - Guiné 1969/71 - Divisa: Sempre Excelentes e Valorosos

Mobilizado no Batalhão de Caçadores n.º 10

Embarque em 15Nov69
Desembarque em 20Nov69

Regresso em 25Set71

Divisa – Sempre Excelentes e Valorosos

Foi comandar o Sector L3 (Nova Lamego) em 29Nov69, abrangendo os subsectores de Pirada, Nova Lamego, Cabuca, Canjadude e Madina Mandinga. A 20Jun70 foi reduzido do subsector de Pirada e em 01Fev71 recebeu o subsector de Mereué. Durante a actuação das forças sob o seu comando, foram detectadas e levanradas95 minas, e apreendido um morteiro, um lança granadas foguete e 4.000cartuchos de armas ligeiras. Recolheriam em 05Set71 a Bissau para embarque.

Tem como subunidades orgânicas as CCaç 2617, CCaç 2618 e CCaç 2619.
____________


COMPANHIA DE ARTILHARIA N.º 730

CART 730 - Guiné 1964/66 - Divisa: Valorosos Audazes Corajosos

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 - Lisboa

Embarque em 08Out64
Desembarque em 14Out64

Regresso em 14Ago66

Divisa – Valorosos Audazes Corajosos

Realizou o treino operacional em Bironque entre 31Out64 e 23Nov64 e actuou nas regiões do More e Tiligi, de 14Dez64 a 04Jun65, em reforço da guarnição local. Em 07Jun65 assume a responsabilidade do subsector de Jumbembem, destacando um pelotão para Camjambari, integrado na zona de acção do seu batalhão. A 20Jul66 foi deslocada temporariamente para Farim, seguindo para Bissau em 06Ago66, para aguardar embarque.

É subunidade orgânica do BArt 733
____________


COMPANHIA DE ARTILHARIA N.º 2339

CART 2339 - Guiné 1968/69 - Divisa: Os Viriatos

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 - Évora

Embarque em 14Jan68
Desembarque em 21Jan68

Regresso em 09Dez69

Divisa – Os Viriatos

Segue em 25Jan68 para o Xime para a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional e assumir a função de intervenção e reserva, instalando-se em Fá Mandinga a partir de 15Fev68. Iniciou a construção do aquartelamento de Mansambo em 21Abr68, para onde se transferiu e assumindo a responsabilidade do subsector, então criado. Orientou o reordenamento de Afiá e Candamã e destacou dois pelotões para estas áreas. Por períodos curtos e variáveis reforçou as guarnições de Geba, Xime e Bambadinca. Deslocou-se em 21Nov69 para Bissau, para aguardar embarque.

É companhia independente.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 726

CCAÇ 726 - Guiné 1964/66

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 16 - Évora

Embarque em 06Out64
Desembarque em 14Out64

Regresso em 07Ago66

Divisa –

Depois de curta estada em Bissau efectuou a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional nas regiões de Có-Pelundo e Prabis. A 18Nov64 destacou um pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé. Em 05Dez64 segue para Nova Lamego como subunidade de intervenção e reforço, destacando forças para Buruntuma e Piche. Entre outras operações, tomou parte na emboscada realizada em 30Jan65, na estrada Madina do Boé-Cobige, que causou bastantes baixas ao IN. A 18Fev65 assumiu a responsabilidadedo subsector de Canquelifá. Por períodos curtos e variáveis, destacou forças para reforçar Dunane, Sinchã Jidé, Cantiré e Sinchã Juté. A 22Ago65 segue para Piche, assumindo a responsabilidade do subsector, destacando forças para a Ponde do rio Caium e Dunane. Em 05Ago66 recolhe a Bissau para embarque.

É companhia independente.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 1426

CCAÇ 1726 - Guiné 1965/67 - Divisa: União - Cooperação - Bravura

Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 16 - Évora

Embarque em 18Ago65
Desembarque em 24Ago65

Regresso em 03Mai67

Divisa – União – Cooperação - Bravura

Até Out65 ficou em Bissau, tendo sido deslocada para a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional em Mansoa, tendo, entretanto, realizado uma operação na região de Cubongue em 24Set65. Em 19Out65 assumiu a responsabilidade do subsector de Bafatá, com destacamentos em Catacunda e Camamudo. Em 23Out65 é criado o subsector de Geba, que é atribuído a esta subunidade, transferindo a sua sede para esta localidade em 07Jan66, deslocando um pelotão para Banjara em 27Nov65. É destacada para Fá Mandinga como unidade de reserva em 20Abr67, seguindo para Bissau a 01Mai67, para aguardar embarque.

É companhia independente.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2406

CCAÇ 2406 - Guiné 1968/70 - Divisa: Sacrifícios não Contamos

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 2 - Abrantes

Embarque em 24Jul68
Desembarque em 30Jul68

Regresso em 28Mai70

Divisa – Sacrifícios não Contamos

Em 30Jun68 segue para o Olossato para treino operacional e intervenção, destacando forças para Banjará e Maqué. Em 20Fev69 seguiu para o Saltinho assumindo a responsabilidade so dibsector. Destacou forças para, temporariamente, guarnecerem Xime, Quirafo, Cansamangue e Sibchã Maunde Bucó. Em 07Nov69 passou para o sector L5, mantendo as suas forças no Saltinho com forças em Cansamangue e Cansongo. A 10Mai70 segue para Bissau para efectuar o regresso.

É subunidade orgânica do BCaç 2852.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2636

CCAÇ 2636 - Guiné 1969/71 - Divisa: Armas Não Deixarão Enquanto a Vida os Não Deixar

Mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 18 – Ponta Delgada

Embarque em 20Out69
Desembarque em 28Out69

Regresso em 06Set71

Divisa – Armas não deixarão enquanto a vida os não deixar

Colocada em Có em 04Nov69 para treino operacional e reforço do Sector O7 (Pelundo) e protecção aos trabalhos da estrada Có-Pelundo. Em 29Abr70 destacou dois pelotões para operações na região de Dulombi. A 06Mar70, foi colocada em Bafatá como força de intervenção e reserva, destacando dois pelotões para Ualicunda, desde 07Mar74 a Sare Uale desde 17Mar70.Actuou em operações nas regiões de Cuor, Dulombi, Mansomine e Cancolim. A 02 e 04Jul70 destacou dois pelotões para reforço do COT 1 na zona Leste, instalando-se em Paúncaaté 23Set70. Assumiu a responsabilidade do subsector de Sare Bacar, com destacamentos em Sora e Sare Aliu Sene. A 27Ago71 segue para Bissau para aguardar embarque.

É companhia independente.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2701

CCAÇ 2701 - Guiné 1970/72 - Divisa: Excelentes e Valorosos

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 2 - Abrantes

Embarque em 24Abr70
Desembarque em 01Mai70

Regresso em 23Mar72

Divisa – Excelentes e Valorosos

Segue em 04Mai70 para o Saltinho, assumindo a responsabilidade do subsector em 10Mai70, com um pelotão em Cassamange até Jun71 e em Cansonco até Jan72 A partir de 09Nov71 destacou um pelotão para Cansamba no subsector de Galomaro. Em 11Mar72 segue para Bissau para efectuar o embarque de regresso.

É uma subunidade orgânica do BCaç 2912.
____________


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 3477

CCAÇ 3477 - Guiné 1971/73 - Divisa: Gringo Não Perdoa

Mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 18 – Ponta Delgada

Embarque em 25Set71
Desembarque em 30Set71

Regresso em 13,15 e 17Dez73

Divisa – Gringo não perdoa

Realiza a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional entre 02 3 30Out71, no Centro Militar de Instrução situado no Cumeré, seguindo em 21Nov71 para Guilege, onde a 18Dez71 assume a responsabilidade do subsector, tendo como missão efectuar acções de contra penetração naquele corredor. A 15Dez72 inicia a deslocação para Nhacra, assumindo a responsabilidade do subsector em 22Dez72, destacando forças para Ensalmá. É integrado no COMBIS – Comando Militar de Bissau – em 19Set72, assumindo o subsector de Brá em 25Set73 até 08Dez73, data em que fica a aguardar embarque.

É companhia independente.
____________

Notas de CV:

Vd. postes anteriores da série de:

10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)

14 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)

22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3501: Brasões, guiões ou crachás (3): CAOP 1: BCAÇ 2885; CART 2732 e CCAÇ 5 (Jorge Picado/Carlos Vinhal/José Martins)

1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)

Guiné 63/74 - P3579: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (7): A Toque de Caixa, com o Abílio Machado, ex-baladeiro de Bambadinca (Luís Graça)

Capa do 1º CD do grupo musical Toque de Caixa, de que o Abílio Machado, ex- Alf Mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/2) é um dos pais-fundadores: História do som. Edição: Numérica & Etnia, 1993. O design da capa é de dois elementos do grupo, o Miguel Teixeira e o Horácio. O Miguel é tanbém o autor de 8 dos 15 temas (ou o responsável pelos arranjos, no caso de temas tradicionais), incluindo 4 originais.

Contracapa: "Nascemos com o dealbar de 1986. Ao gosto comum pela música juntamos um cimento forte: a amizade. Solidária. Com ela planeámos o alicerce, erguemos a casa, polimos arestas, calafetámos as brechas. Algumas houve. No puxar do cimento racha sempre a parede mais frágil.

"Quantas vezes se nos esmoreceu a alma. De uma penada, víamos falecido o ânimo. Mas sempre remoçamos. A cada porta que se fechou, outra se nos oferecia, às escâncaras.

"Este dia foi um marinar lento. Um borbulhar quieto. Nem por isso nos parece requentada a receita. Se não o pretendemos um prato especioso, menos o consideramos malga de água chilra. Servimo-lo apurado, ao nosso gosto.

"Toque de Caixa, História de Som, 1993"

O autógrafo de um velho camarada e amigo de Bambadinca: "Com um abraço do Abílio Machado".

Tema 2, Agora baixou o sol / Alvorada (tradicional, Trás-os-Montes, 4' 52''); tema 14, O Amigo Vagabundo (5' 21''), de Ferrer Leandro, bem como mais outros dois ou três temas do álbum podem ser ouvidos, em gravação áudio, na página Myspace > Toque de Caixa, basta clicar na hiperligação). Estes dois são alguns temas dos meus favoritos. O tema 1 é também lindíssimo, com um solo fabuloso de flauta (Encosta do Silêncio, de Miguel Teixeira, 1' 14''). Outro tema disponível é o 13 (Encontro, tradicional, Beira Baixa, 3' 08''). Reconheci a voz do Abílio nalguns destes temas, uma voz que não ouvia - até Outubro de 2007 - desde 1971, em Bambadinca... Podem ainda ouvir-se dois temas, extras, que não fazem parte do álbum de 1993... A Valsa Venezuelana é um tema que convida à dansa e faz-me lembrar os bailes mandados dos camponeses do Norte que eu só conheci... em 1975. Em suma, o melhor da música tradicional, reiventada pelos Toque de Caixa, que são mesmo uma caixinha de surpresas... Venha o segundo CD, o mais rápido possível! Sei que a banda já está em gravações (pelo menos já fez 10 sessões até agora)!


Composição do grupo em 1993:

Abílio [Machado]: voz, guitarra, teclas, percussão;
Albertina Canastra: acordeão, concertina, teclas, percussões;
Edgar: percussão;
Emanuel: violino, bandolim, acordeão, concertina, teclas, percussões, voz;
Horácio: guitarra, viola braguesa, percussões;
Luís Viegas: voz, percussões;
Miguel Teixeira: guitarra, viola braguesa, rajão, quatro, o carina, percussões, voz; Rosa Pilão: percussão;
Tereza Paiva: gaita de foles, flautas, percussões.


1. Mensagem do Abilio Machado, com data de 30 de Outubro último (*):

Assunto - Novo CD ...

Meu caro:

Como podes ver, estou a usar um novo endereço (podes usá-lo de futuro, se o entenderes).

Respondendo ao teu mail recente, espero que desta vez o computador, após o transplante do disco, tenha ficado em ordem.

Vou enviar-te ainda hoje o CD original do Toque de Caixa. Descobri não sei como, no meio de velharias culturais que amontoo, em desalinho, esta raridade. É uma raridade, de facto: não pelo valor artístico (que o tem - ganhou em 93 o prémio José Afonso para o melhor disco editado nesse ano),mas porque não há seguramente outro exemplar no mercado. Mesmo em mãos de elementos do grupo Toque de Caixa não é fácil encontrá-lo. Usa e abusa ... é teu .

O teu mail foi quase providencial, pois surge numa altura em que finalmente decidimos partir para a gravação de um novo trabalho. Já vamos na terceira sessão de estúdio e as coisas estão a avançar. Espero que não claudiquem como de outras vezes. Desta vez é a sério!

E vem em boa altura, agora que se verifica um ressurgimento da música tradicional, com o aparecimento de vários grupos a fazer coisas interessantes nesta área .

Em jeito de retrospectiva, o que diria ?

O Toque de Caixa surge em 85/86, quando, tendo mudado a minha morada para a Maia, encontrei um grupo de jovens com potencialidades que me pareceu de aproveitar. Criou-se um grupo base, no início ainda demasiado numeroso, que se foi depurando ao longo dos meses de elementos com menos qualidades. Os inevitáveis contactos com outros grupos da zona do Porto permitiram que, por alturas de 90, se desse uma espécie de fusão com outro grupo em desagregação.

Um outro processo de decantação ao longo do tempo permitiu que rapidamente o Toque de Caixa adquirisse uma qualidade que manifestamente não tinha nos seus primeiros tempos. Era a altura do director musical (era eu) ceder o lugar a quem mais sabia da marinhagem em tais ondas. Em boa hora o fiz, pois corríamos o risco de afogamento por cansaço ou inanição.

Foi naturalmente que em 92 nos propusemos a gravação desse CD. Foi gratificante tê-lo feito: pelos encómios, pela vivência, pelos concertos, pelas viagens a todo o lado ... Enfim, anos cheios de música preencheram a nossa vida. Vida que, porém, também nos vai lembrando que nem só de música vive o homem. Todos fomos assumindo responsabilidades de todo o tipo, familiar, profissional e isso começou a dificultar voos mais largos e projectos de mais fôlego.

Esmorecemos, mas nunca fechámos a loja. Houve um tempo até em que decidi, por razões também profissionais, sair do grupo, assegurando embora uma substituição vantajosa .
Já em situação de pré-reforma e com tempo disponível, retorno ao grupo como manager (?) e agora dando também apoio a nível vocal e de percussões .
É isto em síntese.

Prometo que logo tenhamos o novo CD terminado (não sei ainda quando - estamos a fazer uma sessão semanal em estúdio), chegar-te-á às mãos embrulhado num abraço de muita amizade, que é o que te envio agora.

Dá notícias.

Abilio Machado (**)

A antiga formação do Toque de Caixa: não tenho a certeza de reconhecer o Abílio na foto: poderá ser o primeiro da esquerda, na última fila, de pé ?


Membros da banda desde 29/3/07: Miguel Teixeira: Cordas; Horácio Marques: Cordas; Albertina Canastra: Acordeão + Concertina; Fernando Figueiredo: Baixo: Emanuel Sousa: Violino + Bandolim; Teresa Paiva: Gaita de Foles + Flautas; Tiago Soares: Percussões; Pedro Cunha: Piano; Nelson Silva: Som.

Fonte: Myspace > Toque de Caixa (2008) (Com a devida vénia...

Ainda sobre o Toque de Caixa, pode ler-se na sua página:

O TOQUE-DE-CAIXA nasceu com os cantares de janeiras, no natal de 1985. O gosto comum pela música tradicional fez com que os seus músicos, um grupo de amigos, prosseguissem a recriação de novos ambientes sonoros. – O moderno e o antigo, são elementos de fusão para uma “nova música tradicional”.

O TOQUE-DE-CAIXA tem participado, ao longo dos longos anos da sua existência, em vários festivais e encontros musicais, entre os quais se destacam concertos e festivais de grande renome e importância a nível europeu, em países com a França, Espanha, Alemanha e Grã-Bretanha.

De referenciar, duas digressões: a primeira em Agosto de 1992, onde participou em mais de 15 concertos, incluindo prestigiados festivais como os de Lincoln, Llangollem, Pontardawe, Garden Festival e European Arts Festival; na segunda digressão nestas terras participa, entre outros, no Eurofolkus Festival, partilhando os palcos com Maddy Prior, Dave Swarbrick, Kathryn Tikell, etc…

Durante esta digressão fazem vários workshops para escolas primárias, universidades, foras musicais, etc… o grupo recolheu memorável sucesso tanto entre as audiências como entre os vários músicos participantes!

Entre Julho e Setembro de 1993 grava com a editora 'Numérica' o disco “histórias do som” que faz a sua edição em Novembro em colaboração com a Cooperativa Cultural Etnia. Este disco foi considerado, nesse ano, o melhor trabalho de música popular portuguesa, pela principal crítica especializada nacional.

Está, também a nível discográfico, representado internacionalmente na editora Elipsis Arts, de Nova Iorque, em duas colectâneas com distribuição mundial.

O Grupo ganhou, ainda nos anos 90, o prestígiado Prémio José Afonso.


Fonte: Myspace > Toque de Caixa (2008) (Com a devida vénia...)


1ª Página do Sitio da Banda Melech Mechaya, de que faz parte o João Graça


2. Comentário de L. G.:

Há mais de um atrás (20 de Outubro de 2007) mandaste-nos, pelo correio, uma cópia do CD do teu grupo musical, a mim, ao Humberto Reis, ao Tony Levezinho e ao Gabriel Gonçalves. Foi uma revelação para mim: passei a ouvi-lo regularmente, no meu carro, a gasóleo, com o qual faço as viagens para fora de Lisboa (Lourinhã, Porto, Candoz...). Cá em casa, ficámos todos fãs do grupo. Somos quatro, incluindo um músico, o João (24 anos, médico e violonista da banda Melech Mechaya). O João, por exemplo, adora o tema 10, Aula de Música, de Miguel Teixeira, lenga-lenga, tradicional (3' 47'')...

Na altura, eu escrevi-te, de resto, o seguinte:

24/10/07

Bilocas: Obrigado, já recebi [o CD] em boas condições e fiz uma primeira audição. Grande nível de execução. O grupo revela já uma grande maturidade. Há temas que me arrepiaram. O segundo por exemplo... A nossa música popular é riquíssima e merece ser melhor divulgada. Dás-me autorização para pôr uma das faixas, em vídeo, no nosso blogue ? Preciso só de saber o título das músicas, o nome do grupo e o ano da gravação… Se me permites, queria incluir isto numa 'estória de vida': como é que a 'paixão da músicao' sobrevive à guerra da Guiné…. Mandas-me duas ou três 'notas' sobre a tua actividade de animador e líder do grupo ? Podes acrescentar duas ou três coisas sobre a tua 'comissão' em Bambadinca… Estou a ser amigo da onça… Vou ao Norte pelos Santos, se puder apito-te…


Respondeste-me a seguir, mas não satisfizeste a minha curiosidade, por teres o PC avariado:

31/10/07

Meu caro : Faz o que entenderes de qualquer dos temas do CD. O meu computador segue hoje para reparação, mas logo que mo devolvam escreverei o que me pedes .

Um abração
Machado


Acabámos por estar um ano 'incomunicáveis'... Que crueldade!... Sempre eu que ia ao Norte - e viu lá regularemente, sete ou oito vezes pro ano - dizia a mim mesmo que queria dar-te um abraço... O tempo passou e aqui estamos a nós a prometer que nos iremos ver pelo Natal...

Entretanto, recebi a minha prenda de Natal, antecipada... um exemplar, uma relíquia, do CD de 1993, do teu Toque de Caixa, o grupo que ajudaste a fundar e a crescer, conforma mail que já reproduzi acima...

Tomei a liberdade de reproduzir a capa e a contracapa do CD. A ti, espero ter-te feito esta pequena homenagem: tu bem a mereces; que o teu exemplo ajude também a iluminar os nossos caminhos. Um Alfa Bravo. Luís



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Finais de 1971 ou princípios de 1972 > CCS do BART 2917 (1970/72) > Noite de copos e de cantorias.

Ao lado do Paulo Santiago, comandante do Pel Caç Nat 53, de bigode, de camuflado, na ponta da mesa, está o Alf Mil Abílio Machado, à civil, de óculos, a fumar (assinalado com um círculo, a amarelo). Pertencia à CCS do BART 2917. Era minhoto, natural de Riba D'Ave. Antes da tropa, trabalhava numa cooperativa local. Daí a malta chamá-lo Bilocas da Cuprativa. Tinha um excelente relacionamento connosco, que eramos a velhice da CCAÇ 12 (1969/71). Tocava viola, era um dos nossos baladeiros. À esquerda do Machado, está um outro alferes, magrinho, que o Paulo Santiago garante que também pertencia à CCS, mas de cujo nome já não se recorda. O tipo da viola também não me é estranho... Privámos com esta malta do BART 2917 ainda cerca de 9 meses, desde meados de 1970 até Março de 1971... O BART 2917 veio substituir o BCAÇ 2852 (1968/70).

Estranhamente, não tenho uma única fotografia com o Abílio Machado... Já lhe pedi algumas... Vai mas dar no próximo encontro, na Maia, neste Natal...

(LG).

Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta sére > 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)

28 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1631: À amizade (Abílio Machado, CCS do BART 2917/ Humberto Reis, CCAÇ 12)



29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

(...) Nem ingratidão, nem desinteresse, nem desleixo ... a vida tout court, que me fez (a todos nós, quem sabe) muitas vezes desviar de quem estimava.

"Da guerra, com que nunca concordei, como sabem, guardo para mim as recordações que não pude apagar; e parece que nelas envolvi os meus próprios amigos: não os apaguei (não poderia!), mas guardei-os (guardei-os , sim!) com um afecto interior e uma discrição que, não fossem eles verdadeiros, teriam sido levados pelo olvido. Não foram, nunca foram.

"Em 2005, quando me desvinculei da empresa onde trabalhei, lancei-me a pôr em ordem os meus papéis. Ao organizar as fotos, lá está o que vocês eram (e são), a recordar-me uma vida que vivi, mas que parece quis manter em latência, como um baú velho onde guardamos as lembranças de família. Nem as minhas filhas sabem da missa a metade .(Enquanto escrevo, bebo à nossa saúde um velho Porto!).

(...) " Do Henriques, a célebre noite (e negra noite ! - eu era amigo do Cunha, porra!) em que o grito "Assassinos! Assassinos!" ecoou e fez emudecer a parada de Bambadinca!" (...).

(...) "O meu pós-guerra ?

"Em resumo: empreguei-me em 1973 como Delegado de Propaganda Médica. Labutei 12 anos de pasta na mão (em empresas italiana e americana ). Chefiei o sector Norte, 2 anos. Passei a Chefe Nacional de Vendas durante 6 anos. Retomei o controle do sector Norte. E, no fim de 2004, a BMS (Bristol-Myers Squibb) honrou-me com uma desvinculação por mútuo acordo. Aguardo em Junho próximo a passagem à reforma .

"Como hobbies, muitas coisas. A principal, o grupo de música tradicional que fundei,
Toque de Caixa (é verdade, Gabriel, a televisão) e que preencheu boa parte da minha vida .CD's, concertos, países, enfim...uma vida cheia ! Não me arrependo.

"Quanto ao resto, como diz a Elis Regina: casei...descasei...investi...desisti ... De facto, Humberto e Levezinho, já não estou com a Lua. Eclipsei, mas somos bons amigos.Temos duas filhas (Josina e Rita) e duas netas (Raquel e Renata - 4 anos e sete meses).

"A minha morada é: R. Ana da Fonte, 74 - Gueifães 4470-495 Maia e o telelé é o 917822171. Não perdoarei agora a nenhum de vocês que, se vierem ao Porto, não me contactem. Quer eu quer a minha nova companheira podemos receber-vos com alguma comodidade. Não há portanto desculpas. Por hoje chega. Acabou-se o Porto " (...).


17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

(...) O pudor em falar da guerra...
por Abílio Machado

(...) Meu caro Henriques (desvenda-se o mistério do nome): os nomes serão inócuos, as pessoas que eles ocultam, nem sempre o são. E há-as bem carregadas de contra-indicações e efeitos secundários. E incómodas, como o diabo...

"Aquela noite em Bambadinca … Ainda lembras ou também queres esquecer? Ainda hoje não sei - ou sei - como escapaste à psiquiatria … O que, naquelas circunstâncias, seria, apesar de tudo, o mal menor. Antes louco que preso. Seria ? (...).