terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)

1. Mensagem do nosso leitor Abreu dos Santos:

Boa noite, Camaradas da Guiné:

Anexo cópia do v/post supra mencionado, no qual integrei breves notas que aqui ficam à v/consideração.

Abreu dos Santos


2.
O Abreu dos Santos, a propósito do artigo Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote) por mim publicado, procede a algumas correcções, levanta interrogações e faz algumas notas.

Da minha parte, para a elaboração do artigo referido, recolhi informação publicada em diversos artigos, no nosso próprio blogue e em Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, tantas vezes citada que é considerada, ainda hoje, uma obra de estudo ou de referência.

Independentemente da justeza e do rigor das notas e correcções emitidas pelo Abreu dos Santos, a quem, aliás, agradeço a colaboração que nos dá, foi minha intenção pôr em destaque os principais acontecimentos que rodearam o "caso Guileje":

(i)O assassinato de Amílcar Cabral;

(ii)Os "Strella”;

(iii)A ofensiva do PAIGC, sem precedentes até àquela data, centrada em "poderosas e prolongadas acções de fogo ajustado sobre as guarnições fronteiriças de Guidaje, Guileje e Gadamael, as quais conjugou com acções terrestres de isolamento, que efectivamente conseguiu, durante alguns dias em Guidaje. (...) Esta actividade do PAIGC alcançou valores que são os mais altos de sempre desde o início da guerra - 220 acções durante o mês -, o mesmo sucedendo em relação às baixas causadas às tropas portuguesas - 63 mortos e 269 feridos" (pg 508 de Guerra Colonial, de A. Afonso e C. Matos Gomes).

Em relação aos efectivos empregues, em Guidaje (em relação a Guileje parece não haver dúvidas ou discordâncias), noto, ainda segundo a publicação referida:

"No início de Maio de 1973, a guarnição militar de Guidaje era constituída por uma CCaç, a CCaç 19, e pelo PelArt 124, equipado com obus de 10,5 cms. (...).

“O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Cumbamori:

- Corpo de Exército 199/B/70, com 4 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª
- Corpo de Exército 199/C/70, com 5 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª;
- Grupo de Foguetes da Frente Norrte, com 4 rampas;
- Três bigrupos de Infª, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artª do CE (Corpo de Exército) 199/A/70, deslocadas de Sare Lali;
- Foram ainda referenciados em Cumbamori um pelotão de morteiros 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.

“Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação (...)".


Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa de Guidaje teria cerca de 200 homens, aos quais há que acrescentar outros enviados para quebrar o cerco. Destaco, como exemplo apenas para contabilizar o número de militares empregues no auxílio a Guidaje e sem pôr em causa os méritos de outras unidades que, eventualmente, tenham estado também envolvidas (unidades navais e aéreas, p. exº):

- uma coluna saída de Farim, a 8 de Maio, formada por forças do BCaç 4512 (desconheço os efectivos reais, mas não imagino menos de três os Gr Comb envolvidos), que sofreu, em duas emboscadas (8 e 9 de Maio), 4 mortos e 30 feridos, entre graves e ligeiros. A mesma força acabou por sofrer ainda mais um morto e dois feridos, entre Binta e Guidaje;

- uma coluna de reabastecimentos constituída pelos DFE 3 e 4;

- uma Companhia de Páras;

- uma Companhia de Cmds;

- o BComds Africanos (cerca de 450 homens).

Assim, no conjunto das nossas forças envolvidas na zona de Guidaje, não parece excessivo o número de efectivos que calculei. Se não foram 1000 não devem ter andado longe.

Mas para o artigo em causa, mais que a exactidão dos números e das datas (importantes as correcções, insisto) foi comparar o que o ComChefe jogou em Guidaje e Guileje.

Quanto a mim, até demonstração contrária, sou de opinião que fez o que podia e devia em Guidaje. Em Guileje não.

V. Briote
__________

1. Artigo em questão publicado em

2 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote);

2. Em pós-edição do referido artigo estão inseridas as correcções e notas enviadas pelo Abreu dos Santos.

Guiné 63/74 - P3703: Cancioneiro de Aldeia Formosa (1): Que canseira passámos na coluna / entre Buba e Aldeia ... (José Teixeira / Silvério Lobo)

1. Mensagem enviada a toda a Tabanca Grande pelo nosso querido co-editor e administrador Carlos Vinhal, com data de 7 de Novembro, e que eu julguei dever publicitar através do blogue:

Caros camaradas e amigos tertulianos

O nosso camarada José Teixeira [, na foto, à esquerda, em Empada, em traje de guerra, ] enviou-me o endereço onde está alojado um pequeno vídeo feito na Guiné-Bissau durante o Simpósio Internacional de Guiledje quando eles visitaram uma série de localidades [no sul, no Cantanhez, região de Tombali, incluindo Aldeia Formosa, esta a 3 de Março de 2008, já no regresso a Bissau].

Este endereço foi colocado no poste Guiné 63/74 - P3413: Blogoterapia (71): O regresso voluntário à África da nossa juventude (José Teixeira) .

Aconselho-vos a ver estas imagens a partir do citado poste ou em: http://video.msn.com/video.aspx/?mkt=pt-br&cid=2997719327111784874&wa=wsignin1.0


Um abraço do
Carlos Vinhal

2. Comentário de L.G.:

Neste vídeo, da autoria do Zé Teixeira [, ou do Silvério Lobo, ou ainda de um terceiro camarada que foi com eles a Quebo,] com a duração de 2' 45'', vemos dois guineenses, um mais jovem e um mais velho (este último possivelmente um antigo soldado da CCAÇ 18), reconstituindo para o nosso camarada Silvério Lobo, que foi logo reconhecido por um deles como antigo mecânico nesta subunidade, algumas das canções dos tugas...Chamemos-lhes o Cancioneiro de Aldeia Formosa...

A primeira era a romantiquíssima canção do brasileiro Nilton César que fazia chorar as pedras da calçada... Era muito popular entre pessoal que vivia como as toupeiras nas casernas da Guiné, e que suspirava pelo dia de regresso a casa, para os braços da sua amada, como qualquer soldado de qualquer guerra, em qualquer época ou lugar do mundo... É espantoso como guineeneses como estes - que conviveram com os militares portugueses, mas que mal sabiam falar português, que eram fulas e islamizados - tenham decorado a letra e a música desta e doutras canções, ininteligíveis para eles... Pode-se admitir que a linguagem do amor é universal. No entanto, do ponto de vista semântico-conceptual, para estes homens, fortemente formatados pelo patriarcalismo e pelo sexismo da sua sociedade de origem, expressões em que se idealiza a mulher amada (como "namorada que sonhei", "rosas vermelhas", "dia dos namorados", "eternos namorados", "deusa na terra nascida, etc.), não deveriam ser de fácil descodificação.

A Namorada Que Eu Sonhei
por Nilton César

Receba as flores que lhe dou
E em cada flor um beijo meu,
São flores lindas que lhe dou,
Rosas vermelhas com amor,
Amor que por você nasceu.

E seja assim por toda a vida
E a Deus mais nada pedirei,
Querida, mil vezes querida,
Deusa na terra nascida,
A namorada que sonhei.

No dia consagrado aos namorados,
Sairemos abraçados por aí a passear,
Um dia no futuro então casados,
Mas eternos namorados,
Flores lindas, eu ainda vou lhe dar.

Que seja assim por toda a vida
E a Deus mais nada pedirei,
Querida, mil vezes querida,
Deusa na terra nascida,
A namorada que sonhei.


As outras duas eram paródias, feitas por algum tuga mais letrado ou com jeito para o verso de pé quebrado, de dois fados muito populares, muito conhecidos, com letras que relatavam invariavelmente a triste sorte dos mecânicos, dos condutores e das suas gloriosas máquina de guerra nas colunas logísticas de Buba para Aldeia Formosa e vice-versa. O tema são as canseiras, o pó, as minas, as emboscadas, os sustos, os perigos...

É preciso estar de ouvido muito apurado para perceber as letras (corrompidas)... Sobretudo é preciso tempo e pachorra. Mas era interessante alguém (o Zé Teixeira ou o Silvério Lobo) poder mandar-me as letras originais completas.

Mais uma vez pode perguntar-se que sentido podia fazer para um estrangeiro - como era o caso daqueles camponeses fulas que tinham pegado em armas, ao lado dos portugueses - a letra original destes fados... O mesmo se podia perguntar em relação a alguns militares portugueses, oriundos do Portugal profundo, pouco escolarizados e viajados, que não conheciam Lisboa, o Bairro Alto, a cultura e a vivências fadistas...

No entanto, eram canções que passavam na rádio, e que entravam facilmente no ouvido. O mais interessante é, no entanto, a recriação da letra: aí fala-se do quotidiano comum dos soldados, guineenses e portugueses, dos riscos comuns, da cumplicidade, da solidariedade, dos comportamentos de bravata, do heroísmo, da camaradagem...

Bairro Alto (Letra: Carlos Simões Neves e Oliveira Machado
Música: Nuno de Aguiar)

Bairro Alto, com seus amores tão delicados,
Certa noite, deu nas vistas,
E saiu com os trovadores mais o fado,
P'ra fazer suas conquistas.
Tangeu as liras singelas,
Lisboa abriu as janelas,
Acordou em sobressalto,
Gritaram Bairros à toa,
Silêncio velha Lisboa,
Vai cantar o Bairro Alto.


[Estribilho]

Trovas antigas,
Saudade louca,
Andam cantigas
A bailar de boca em boca...
Tristes, bizarras,
Em comunhão,
Andam guitarras
A gemer de mão em mão!


Por isso é que mereceu fama de boémio,
Por condão ou fatalista,
Atiraram-lhe com a lama, como prémio,
Por ser nobre e ser fadista.
Hoje saudoso e velhinho,
Recordando com carinho,
Seus amores, suas paixões,
P'ra cumprir a sina sua,
I'nda veio p'rá meio da rua,
Cantar as suas canções!


A outra canção parodiada era a da célebre criação da Amália, o fado Dar de beber à dor (letra e música de Alberto Janes). Como é sabido, a Casa da Mariquinhas - leia-se, casa de passe gerida por uma tal Mariquinhas, terno diminuitivo de Maria - é uma genial criação do Alfredo Marceneiro, um íncone da história do fado.

Foi no Domingo passado que passei
à casa onde vivia a Mariquinhas,
mas 'stá tudo tão mudado
que não vi em menhum lado
as tais janelas que tinham tabuinhas.
Do rés-do-chão ao telhado
não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuinhas.

Entrei e onde era a sala agora está
à secretária um sujeito que é lingrinhas,
mas não vi colchas com barra
nem viola, nem guitarra,
nem espreitadelas furtivas das vizinhas.
O tempo cravou a garra
na alma daquela casa
onde as vezes petiscávamos sardinhas
quando em noites de guitarra e de farra
estava alegre a Mariquinhas.

As janelas tão garridas que ficavam
com cortinados de chita às pintinhas
perderam de todo a graça
porque é hoje uma vidraça
com cercadura de lata às voltinhas.
E lá p'ra dentro quem passa
hoje é p'ra ir aos penhores
entregar ao usurário umas coisinhas,
pois chega a esta desgraça toda a graça
da casa da Mariquinhas.

P'ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p'rás alminhas,
pois ser casa de penhores
o que foi viveiro d'amores
é ideia que não cabe cá nas minhas
recordações do calor
e das saudades. O gosto
que eu vou procurar esquecer
numas ginginhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.


O mínimo que posso dizer é que é uma ternura ver estes antigos soldados da CCAÇ 18 (?), em princípio fulas, nossos aliados de outrora, a dar o seu melhor e a tentar fazer uma surpresa aos velhos tugas - seus camaradas de armas de outrora e que agora voltam a Aldeia Formosa, em viagem de saudade -, esforçando-se por cantar as suas velhas canções que serviam, lá no cu do mudo, para espantar o medo, os fantasmas, o tédio, a revolta contra o absurdo, a angústia, a saudade. (Uma receita de humor que, de resto, continua válida para os não menos duros tempos de hoje...).

Amigos e camaradas da Guiné: este é um material precioso (mas muito perecível), que temos que recolher, preservar e divulgar. Ele é tão importante como as nossas histórias para a compreensão sócio-antropológica do nosso quotidiano de combatentes na Guiné (*)... LG

3. Nota posterior do Zé Teixeira:

O seu a seu dono. Eu estive em Aldeia Formosa. Encontrei-me com pessoas amigas, mas não sou o autor da gravação. O Lobo volta lá de mota depois de ter "subornado" o jovem motoqueiro algarvio que nos acompanhou na viagem [em Março de 2008] e passou lá um dia inteiro.

Sei que o primeiro cantor era um puto que andava pela oficina nos anos 73 e reconheceu o Lobo, identificando-se como o puto reguila como então o Lobo o identificava, pela sua esperteza. Em resumo quem fez a gravação foi o Lobo ou o Motoqueiro.

De facto, é impressionante a forma como aquele simpática gente nos recebe. Muito gostava que o Lobo escrevesse o que sentiu quando o Puto o chamou pelo nome, se identificou e perguntou por alguns camaradas do tempo da guerra, entre os quais o Carmelita, nosso companheiro na Tabanca de Matosinhos [, tal como o Silvério].
__________

Nota de L.G.:

(*) Até ao momento temos recolhas de letras (nalguns casos, também de músicas) de canções de caserna, cantadas em vários sítios da Guiné (mas também de poesia com a cor local...): Bafatá, Bambadinca, Bissau, Canjadude, Cufar, Cumbijã, Cuntima, Empada, Gandembel, Mampatá, Mansoa, Xime/Ponta do Inglês... Seguramente que haverá, por aí, cópias de muitos mais poemas e letras de canções... Talvez um dia o nosso blogue possa reunir todo esse material e fazer uma edição crítica do... Cancioneiro da Guiné!

Vd. o último poste dedicado a outro Cancioneiro, o de Bambadinca > 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3702: Memória dos lugares (15): Funchal, uma ponte entre Lisboa e Bissau (Luís Graça)

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Rua do Bispo > 31 de Dezembro de 2008 > O ex-Fur Mil José Luís Sousa, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), mais conhecido entre os seus camaradas da Guiné pelo petit nom de Zé da Ila, mediador de seguros com escritório na centralíssima Rua do Bispo... Tropecei literalmente com ele, nas minhas férias madeirenses de fim de ano...

Já agora ficam com o contacto da empresa: José Luís Sousa - Mediação de Seguros, Lda, R. Bispo 36, 1º - B, Funchal, Madeira 9000-073, Tel: 291200410... Ele mudou de mail, mas eu registei o endereço numa folha de jornal... que foi parar ao cesto dos papéis... O José Luís é um profissional competentíssimo na área dos seguros. Tive o prazer de conhecer o filho, com quem trabalha. É, além disso, um homem de muitas contactos: num ápice arranjou-me um transitário e um sucateiro de automóveis, dois contactos precisosos para o meu sobrinho, médico, que estava a mudar-se para o Porto, depois de um ano de trabalho no Serviço Regional de Saúde.

O Sousa foi meu duplo camarada, além de ter sido e continuar a ser um querido amigo: formámos companhia em Santa Margarida (CCAÇ 2590/CCAÇ 12), fizémos a guerra juntos, dormimos no mesmo quarto (eu, ele, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Marques, o Joaquim Fernandes) em Bambadinca, de Julho de 1969 a Março de 1971...

Ele era o mais educado, o mais afável, o mais calmo, o mais polido, o mais correcto, de todos nós: um verdadeiro gentleman funchalense... possivelmente com costela britânica... A preocupação em afirmar-se como funchalense, levava-o a falar sem dizer os lhês... para evitar a armadilha do cerrado sotaque madeirense... Daí ter ficado conhecido como Zé da Ila... Era além disso um dos nossos tocadores de viola e baladeiros, ajudando a tornar menos penosas as nossas noites entre duas saídas para o mato (**).

Pertencia a uma numerosa e simpática família que morava na Rua do... Comboio. Uma família encantadora e prendada onde, rapazes e raparigas, tocavam e cantavam... É essa imagem que eu ainda guardo, da primeira vez que pisei a terra madeirense, no regresso da Guiné. O Uíge, em Março de 1971, parou umas horas no porto do Funchal, o que nos permitiu participar na festa de recepção que a família e os amigos do José Luís de Sousa lhe quiseram oferecer, a ele e aos demais camaradas metropolitanos da CCAÇ 12 que regressavam a casa, em rendição individual...
Nunca mais esqueci o insólito nome da rua... que me pareceu mais íngreme e mais estreita na altura do que agora... (e seguramente com menos casas). Do comboio já não havia vestígios... Tratava-se de um elevador que ligava a baixa do Funchal ao Monte, começando na Rua das Dificuldades e escalando a Rua do Comboio... A linha foi extinta em 1943, se não me engano.

Recordei esta história na visita ao valiosíssimo e belíssimo Photografia - Museu 'Vicentes', instalado no antigo estúdio fotográfico de Vicente Gomes da Silva (1827 – 1906)...


Região Autónoma da Madeira > Funchal > Praça do Município > 26 de Dezembro de 2008 > O belíssimo empedrado, de motivos geométricos, com dois tipos de pedra, branca (calcáreo) e preta (basalto). É esteticamente um dos sítios que eu mais aprecio na cidade. Nesta praça situam-se alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade: o museu de arte sacra, a Igreja de São João Evangelista do Colégio do Funchal (ou dos Jesuítas) (magnificamente reabilitado em 2001), o edifício setecentista da Câmara Municipal... Só é pena que não seja uma zona inteiramente pedonal...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Freguesia de Santa Luzia > 2 de Janeiro de 2009 > Um bando de pombos (incluindo muito possivelmente a... Pomba da Paz) sobrevoam a vivenda onde está localizada (no lado esquerdo) a residência privada da família de Alberto João Jardim, o presidente do Governo Regional da RAM...

Foto tirada, com zoom, do meu apartamento dce férias, sito numa transversal à Rua da Levada de Santa Luzia, com uma vista fabulosa sobre a cidade e a baía do Funchal... É uma imagem com grande simbolismo e nela deixo transparecer os meus melhores votos para os meus amigos madeirenses, para o povo madeirense e para os seus representantes...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Av Arriaga > 26 de Dezembro de 2008 > Animação de rua com um grupo etnográfico da RAM > Hoje a região é muito mais do que o estereotipado bailinho da Madeira... Os quase 35 anos de poder autonómico e democrático permitiram mudar a face sócio-económica da ilha...

No passado, e nomeadamente durante a guerra colonial, Lisboa usou e abusou da pobreza, da dependência, da insularidade, da estigmatização e da idiossincrasia do homem madeirense... Aqui se formaram muitas companhias madeirenses (sic), enquadradas por oficiais e furriéis milicianos do Continente, algumas das quais foram mobilizadas para o pior cenário da guerra do ultramar, a Guiné... Simples coincidência ?

Por outro lado, o porto do Funchal terá servido, tal como no passado da exploração marítima da costa ocidental africana, como um ponto intermédio, tanto na ida como na vinda, de apoio aos navios de transporte de tropas de e para a Guiné... O Funchal era quase de paragem obrigatória... Não sei se por razões técnicas, se por outras razões... Como se recordam, ensinavam-nos, na escola primária, que a Madeira (tal como os Açores) fazia parte das ilhas adjacentes (sic). Este conceitoi de adjacência (em relação ao território continental, mas distinto dos outros territórios ultramarinos, em África e na Ásia) re,omnta à Constituição de 1822 e esteve em vigor até 1975 (vd. artigo da Wikipédia sobre as Ilhas Adjacentes). 500 anos de dupla insularidade têm hoje, naturalmente, um preço político...

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2009 > Uma pequena embarcação costeira passa, airosa e ligeira, junto a um dos gigantes navios de cruzeiro que demandam quase quotidianamente estas paragens (cerca de 3 centenas por ano)... No presente caso, o Costa Serena, um nome também com simbolismo nesta Ilha e neste início de ano de 2009... Foto tirada com zoom, do meu apartamento de férias, donde assisti ao feérico, estonteante, luxuosísismo e mundialmente famoso fogo de artifício de Fim de Ano (10 minutos, 1 milhão de euros). O 2008 foi também o 500º aniversário da cidade do Funchal.

Região Autónoma da Madeira > Funchal > 31 de Dezembro de 2008 > O mais tristemente famoso rottweiler da Madeira!... Encontrei-o e fotografei-o perto do novo Centro Comercial, o Dolce Vita, uma construção polémica, de grande volumetria, no centro da cidade, que chegou a estar embargada, mas que parece ter ganho os favores dos funchalenses, como local de compras, de convívio e... de parqueamento automóvel (Tem 3 pisos subterrâneos que estão sempre cheios).

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua das Dificuldades... O histórico comboio (a cremalheira), que ainda hoje faz parte do imaginário dos funchalenses, partia daqui , em direcção ao Monte e ao Terreiro da Luta (a estação terminal)... Tinha menos de 4 quilómetros de extensão. Esteve em actividade entre 1893 e 1943.

Região Autónoma da Madeira > Funchal > Porto do Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua do Comboio (também conhecida por Caminho de Ferro: Vd. fotos antigas do Funchal)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3545: Memória dos lugares (14): Bambadinca, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71 (Gabriel Gonçalves)

(**) Refiro-o num dos meus poemas:

(...)

Mais prosaicamente,
na Guiné
o dia dos teus anos é
uma rodada
de uísque ou de cerveja
pr’os teus camaradas
no bar de sargentos.
No fundo,
o teu dia é um pretexto
para a autocomiseração,
para um voo até
às galáxias da metafísica,
que é sempre melhor, chiça!,
que ouvir
o silvo de uma granada,
em teu redor,
que é coisa bem mais real
e mortífera,
é a quilha
do barco da morte.
Com sorte,
talvez o amável Zé da Ila,
de nós todos o menos reguila,
pegue na viola
e te cante
a Pedra Filosofal

Talvez cantemos todos juntos,
às tantas da noite,
africana,
pestífera,
mortal,
e suficientemente alto,
com as nossas vozes guturais,
para que Eles, os gajos,
nos oiçam, mesmo ali ao lado,
no bar dos oficiais…

Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E sempre que um homem sonha,
A vida pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança…

Vd. poste de 5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1047: Alá não passou por aqui (Luís Graça)

Vd também poste de 8 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P945: 'Gente feliz com lágrimas': o Zé da Ilha, o furriel Sousa, madeirense, da CCAÇ 12

(...) Recordo-me de, no regresso a casa, em Março de 1971, o Uíge ter parado no Funchal o tempo suficiente para nós irmos, em grupo (em bando!), cantar e dançar o bailinho da Madeira na famosa Rua do Comboio, em casa do Sousa, a mesa farta, e à volta uma alegre e numerosa família madeirense, jovial, simpatiquíssima, alegre, de que guardei para sempre a melhor memória...

A família do Sousa, o nosso Zé da Ila - era assim que o tratavamos, afectuosamente - , os seus numerosos manos e manas, ainda hoje os associo, a todos, por um qualquer automatismo da memória, ao filme Música no Coração...

Foi um momento único e mágico na viagem do nosso regresso a Lisboa...Vocês, amigos e camaradas da Guiné, não imaginam a alegria que foi, naquela casa, o regresso do mano Sousa, vivinho da costa, devolvido aos pais e irmãos, rodeado por todos os cacimbados dos seus camaradas, os furriéis e alferes da CCAÇ 12...

Voltei a encontrar o Sousa em 1994, em Fão, Esposende, e logo a seguir na sua terra natal... Fui depois várias vezes ao Funchal, por motivos profissionais, e nomeadamente nos últimos meses, mas confesso que não tive o mínimo de tempo para o procurar... Até pela simples razão de ter perdido o seu contacto telefónico... Vejo que o Sousa continua a trabalhar nos seguros...

Mais assíduo e mais amigo tem sido o Humberto Reis que nunca deixa de procurar o Zé Luís quando vai à Madeira (...).

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)


1. Mensagem de Pedro Lauret


Está on-line o novo site sobre a Guerra Colonial – http://www.guerracolonial.org/ – lançado pela Associação 25 de Abril e coordenado por mim.

Os textos base são da obra de Aniceto Afonso e Matos Gomes – Guerra Colonial. De momento o site está em finalização e aperfeiçoamentos, devendo ser lançado oficialmente a 4 de Fevereiro. Nesse mesmo dia será lançado, conjuntamente, uma página, no site da RTP, com documentários da Guerra, quer produzidos na época quer actuais, incluindo o do Joaquim Furtado.

Se acharem indicado divulguem pela nossa Tabanca e quem entender fazer críticas ou sugestões nós agradecemos.

Para o lançamento oficial enviarei os adequados convites.

Pedro Lauret

2. Comentário de VB:

Ver aqui o mapa do site: http://www.guerracolonial.org/mapa_do_site

Tem cinco grandes dossiês:

» Cronologia
» ONU
» Protagonistas
» Galeria Multimédia
» Estatísticas

Os nossos parabéns ao nosso camarada Pedro Lauret e à sua equipa. Este portal historiográfico, recheado de textos, imagens e vídeos (estes, fundamentalmente com origem na RTP) é um valiosíssimo contributo para o aprofundamento e divulgação do conhecimento da guerra que Portugal travou em três frentes, no continente africano, entre 1961 e 1974.

Vamos incentivar os amigos e camaradas da Guiné a visitá-lo e a consultá-lo com atenção, entusiasmo e espírito crítico. Para já nem todas as funcionalidades parecem estar operacionais, presumimndo-se que o site ainda esteja em construção, como se deduz da própria mensagem do Pedro Lauret (por exemplo, ainda está disponível a informação de rodapé sobre: Colaborações e bibliografia; Equipa técnica; Mensagem; Links; Contactos...).
__________

Notas de vb:

1. Pedro Lauret, actualmente Capitão-de-mar-e-guerra na reforma, embarcou para a Guiné, em Setembro de 1971. Como Imediato do NRP "Orion" percorreu rios e braços de mar navegáveis (Cacheu, Geba, Buba, Tombali, Cumbijã, Cacine, Bijagós). Em Maio de 1973 encontrava-se em missão no Rio Cacheu aquando dos ataques a Guidage, Desembarcou o DF 8 no Jagali, afluente do Cacheu. No mesmo mês, no rio Cacine, foi a primeira unidade a chegar a Gadamael depois da retirada de Guileje, evacuando cerca de 300 militares e civis que se encontravam espalhados pelas margens do rio. Actualmente faz parte da Direcção da Associação 25 de Abril e lidera um projecto de investigação Histórica com a designação –“Marinha: do fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”.

2. Último artigo da série:

Guiné 63/74 - P3700: Vasco da Gama, soldado-cadete, no COM do 1º trimestre de 1971, 1º Pel, 4ª Companhia, sob o comando do Alf Mil Beja Santos

Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > O Alferes Mil Beja Santos, comandante do 4º Pelotão da 1ª Companhia, envergando um dólmen (assinaladocom um seta amarela), tendo à sua esquerda o soldado-cadete Vasco da Gama (seta vermelha), futuro Cap Mil da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) (*)


Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > O Alferes Mil Beja Santos, ao centro (assinalado com um círculo a amarelo), mais o seu 4º Pelotão da 1ª Companhia, a que pertencia o soldado-cadete Vasco da Gama.

Mafra > Escola Prática de Infantaria > COM > 1º trimestre de 1971 > Da esquerda para a direita: o Telmo ("também foi Capitão de proveta"), Dino ("era um moço de Moçambique") e o Vasco da Gama.


Fotos: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Vasco da Gama (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) para o Beja Santos que, por sua vez, teve a gentileza de a reencaminhar para os editores do blogue:

Dr. Beja Santos

Os meus melhores cumprimentos e a expressão sincera do desejo de um 2009 com muita saúde, pois na posse deste precioso bem, todos os outros problemas têm solução.

Tive oportunidade de rever, no lançamento do livro do sr. Coronel Coutinho e Lima, ao fim de mais de trinta e sete anos, o meu comandante de pelotão do C.O.M. de Mafra que decorreu no primeiro trimestre de 1971. Fui soldado cadete do então Alferes Beja Santos, que comandava o 4º Pelotão da 1ª Companhia.

No primeiro escrito que enviei à Tabanca, já me havia referido à simpatia que a esmagadora maioria dos soldados cadetes lhe dedicava, e a forma humana com que sempre lidou com todos, tentando sempre que todos fossem de fim de semana. Sendo tempos extraordinariamente difíceis, sempre tive na sua pessoa, não um "militarão chico", mas um companheiro mais experiente, culto, bom conversador, e já então amante da Guiné (**)

A juntar ao episódio da "ajuda" na resolução dos testes lembro-lhe o seguinte:
Vindo de fim de semana, cheguei a Mafra na madrugada do dia 1 de Fevereiro de 1971 e entrei em pânico, pois havia-me esquecido em casa das chaves que abriam o cadeado do meu armário. Com o auxílio de dois camaradas tentámos arrombar o "bicho" sem qualquer sucesso. Faltavam -me o cinturão e os suspensórios, já que a arma tinha sido entregue na arrecadação! No mínimo o fim de semana tinha ido ao ar...

No dia seguinte de manhã, apresentei-me ao Alf Beja Santos que após ter ouvido a minha explicação, me respondeu:
- Não tem importância, que não volte a acontecer.

Findas as aulas de armamento que preencheram grande parte da manhã, o Alf Beja Santos, antes de arrancar com o pelotão para a preparação física, autorizou-me a telefonar para casa. A minha mulher já tinha tratado do envio das chaves e no dia seguinte tudo se resolveu.

Ao reler a correspondência de então, recordo agora que o fim de semana que acabei por gozar era importantíssimo para o casal, pois os meus sogros (ainda rijos nos seus 85 anos, Aníbal e Maria, mas nem Cavaco nem Silva ) emigrantes no ex-Congo Belga, partiam na segunda feira seguinte para África, ficando a minha mulher sozinha.

Um abraço para o Dr.Beja Santos.

Vasco da Gama

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3697: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (6): Aditamentos (Vasco da Gama)

(**) Vd. postes de:

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3436: O Nosso Livro de Visitas (42): Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3570: Tabanca Grande (102): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

Guiné 63/74 - P3699: Tabanca Grande (108): Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72



1. Mensagem de Luís Filipe de Magalhães Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de 25 de Dezembro de 2008:

Caro amigo, após conversa com nosso camarada Mário Beja Santos, decidi escrever para o teu blog para me inscrever na tabanca grande, ai vai a minha apresentação:

Luís Filipe de Magalhães Borrega ( Luís Borrega )

Ex-Fur Mil Cav com o curso de Minas e Armadilhas, mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz, integrando a CCAV 2749/BCAV 2922, colocado no sector L4, no leste da Guiné em Piche.

A minha Companhia tinha os destacamentos CAMBOR, Ponte de RIO CAIUM e mais tarde reocupamos o destacamento de BENTEM.
A nossa área de operações era Piche, Canquelifá e Buruntuma.

Aguardando noticias tuas...

Alfa Bravo!
Luis Borrega

2. Comentário de CV

Caro Luís Borrega, já devias estranhar o nosso silêncio. Acontece que a época natalícia é culpada de tudo. Alguma acumulação de correspondência de Boas-Festas, ausência de alguns dos editores, umas gripes à mistura e contactos mais estreitos com a família. Assim os assuntos do Blogue ficam um pouco descuidados.

Interessa sim que estou aqui a dar resposta ao teu mail, onde manifestas a tua vontadde de fazer parte desta família de ex-combatentes.

Já sabes que o preço para entrar na nossa Tabanca Grande é entregar duas fotos e contar uma história.

Parte do preço já pagaste, mandando as fotos, agora falta contares uma história, que poderá ser algo passado contigo. Como julgo não haver ninguém da tua Companhia na nossa Tabanca, ficas com a responsabilidade de a dar a conhecer à nossa Tertúlia.

Recebe desde já um abraço da parte dos editores e da tertúlia em geral.

Peço mais uma vez desculpa pela demora em dar resposta.

O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3692: Tabanca Grande (107): José Carlos G. Ferreira, ex-1.º Cabo Caixeiro da CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

Guiné 63/74 - P3698: Levantamentos de rancho em Nova Lamego, em 1973 e 1974 (A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72)

1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74,

Assunto - Poste 3625 (*)

Luís, Vinhal e Briote, Camaradas em geral.

Votos de boa saúde.

O poste em referência, do camarada José Manuel Dinis que esteve em Bajocunda, fez com que recordasse que também em Nova Lamego, e aqui sim, houve levantamento de rancho, não um mas, três, devia ser um mal da Zona Leste, ou do vagomestre, embora Nova Lamego fosse possuidora da segunda melhor pista para aeronaves em toda a Guiné, portanto não seria por aí que os mantimentos não chegavam à mesa do Zé tropa, era por esta via que os sectores L4 e L6 se abasteciam através de colunas feitas periodicamente a Nova Lamego.

Vamos então aos levantamentos de rancho: o primeiro ocorreu em 73 não recordo a data, mas sei que foi na administração do BCAV 3854, porque recordo bem que o Capitão da CCS, ao saber o que se passava, foi ao refeitório tentar convencer o pessoal que estávamos perante o melhor petisco do mundo; o segundo passou-se já na vigência administrativa do BART 6523 e foi efectuado no início do ano de 74; o terceiro, este sim, já foi mais politizado porque já tinha acontecido o 25 de Abril e era já corrente os palavrões tais como: CAOS, CAÓTICO, ANARCA e ANARQUISTA, LATIFUNDIÁRIO, FACHISTA, palavras que não eram correntes na época, por exemplo.

Se eu disser que nunca comi uma hortaliça na Guiné, são capazes de não acreditar, mas acreditem porque foi verdade, embora na época não desse muita importância a este produto, mas faltou-me no cabedal, fui para lá com 67 kg, deixei 10 por aquelas bandas apesar de aos 13 meses de comissão ter vindo à minha aldeia retemperar as forças, leia-se umas bifalhadas, senão a diferença tinha sido maior, a falta dos legumes eram supridos, diziam com as famosas drageias amarelas que eram fornecidas uma ou duas vezes por semana a acompanhar a refeição.

Como sabem para cada militar havia uma porção de cada alimento que quase sempre não chegava à mesa. Aqui presto a homenagem ao Alf Sousa do Pel Mort 4574 que, quando era oficial dia, logo que recebia posse como tal e a nossa bandeira subia o mastro, dirigia-se imediatamente para a cozinha, inteirava-se da nossa dieta e fazia pesar, dependia da ementa, batatas, frango, carne, arroz, etc., a porção por cabeça, dos comensais que faziam parte da lista para esse dia, pois havia sempre passantes a caminho de, ou para qualquer parte e por isso o número era variável, nesse dia era uma fartura inclusive vinho, o meu copo que era uma lata de fruta, até transbordava nesses dias.

Pronto, estou a enviar mais uma acha para a fogueira do vagomestre, é certo que também já se apagou e de certeza que não arde, embora todos os que passaram por aquelas bandas saibam o que realmente se passava.

Já que estou lançado, aqui vai mais uma, a 22 de Agosto de 1972 quando passámos e parámos em Bambadinca, para deixarmos o Pel Mort 4575, que como o meu ía render outro já farto de estar na Guiné, pois passados uns dias estávamos em Nova Lamego e constou-se que o 1º Sargento Velhinho tinha oferecido uma certa importância, que dava para na altura comprar um andar nos subúrbios de Lisboa, ao 1º Sargento que o rendia, para regressar à Metrópole, mas este não aceitou, qual o motivo? Bambadinca era centro de recruta de milícias, o que devia dar uns trocos ao 1º e depois quem sabe também deu ao 2º.

Posto este comentário, envio para a tabanca.

Um alfa bravo.
A. Santos
SPM 2558

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3625: História da CCAÇ 2679 (10): Um Natal atribulado (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P3697: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (6): Aditamentos (Vasco da Gama)



1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 31 de Dezembro de 2008:


ADITAMENTOS À HISTÓRIA DA CCAV 8351 - OS TIGRES DO CUMBIJÃ

Impus a mim mesmo um interregno no dar à estampa mais um episódio da história da minha Companhia, mas quebro esse silêncio para dar voz a companheiros que comigo contactam após a publicação dos diversos textos que me desafiaram a escrever. Tenho com eles insistido para postarem os seus comentários directamente no nosso blogue, mas eles preferem comunicar directamente comigo.

Hoje vou referir-me a dois companheiros mais activos, o Melo e o Machado.

O JOÃO MANUEL REIS de MELO desempenhou as funções de 1.º Cabo Cripto, mantendo, como é evidente, uma relação próxima com o Comandante de Companhia. Ele é o responsável principal pela minha participação activa na nossa Tabanca, pois foi através dele que tive conhecimento da existência do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné. Mora em Alquerubim e continua bem activo, traduzindo a sua actividade em numerosas iniciativas que vai tendo em prol da sua terra e colaborando em tudo que cheire a associativismo. Seria fastidioso enumerar todas as acções sociais em que está embrenhado, como seria injusto não referir as qualidades humanas de que sempre foi portador. Foi um excelente colaborador na Guiné que aliás lhe mereceu um louvor e continua hoje a ser um bom amigo, muito embora os nossos encontros se resumam às reuniões da nossa Companhia. São dele os acrescentos que passo a transcrever e que, de alguma forma, enriquecem a história que tenho vindo a contar:

- O Cumbijã foi abandonado em Agosto de 1968, pela CCaç 1622. O obelisco que referi no meu último texto, tinha sido construído no local exacto onde havia morrido um camarada dessa companhia, muito embora não fosse qualquer sepultura.

- Quando os pontões na região de Colibuia foram dinamitados, correu o boato em Aldeia Formosa de que o IN se preparava para nos apanhar à mão. O Melo nessa altura ainda estava em Aldeia.

- Em finais de Março um soldado da 3399 accionou uma mina e no dia seguinte a CCaç 18 cai numa emboscada, também na zona do Cumbijã, tendo quatro feridos graves, entre os quais um alferes.

- No ataque ao arame que a nossa Companhia sofreu a 9 de Abril, além dos feridos ligeiros que referi tivemos um ferido grave, o BOMBARRAL.

Obrigado Melo

Que dizer do sr. Eng.º CARLOS ALBERTO da SILVA MACHADO, ex-furriel dos Tigres, meu preclaro amigo, transmontano de nascimento, respeitado pelos homens que comandava e pelos que o comandavam, sempre preocupado com as minas, atento aos mais ínfimos pormenores que detectava no mato.

MACHADÃO, o meu obrigado por teres pertencido à minha Companhia. São do Machado as fotografias que hoje vos trago: O Emblema dos TIGRES DO CUMBIJÃ, a fonte de Colibuia onde inicialmente nos abastecíamos de água, etc.

Para todos os Tigres um abraço do
Vasco da Gama



Fonte de Colibuia
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3675: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (5): Ocupação do Cumbijã e construção das instalações

Guiné 63/74 - P3696: Para a história da madeirense CCAÇ 4942/72, Os Galos do Cantanhez (Vítor Negrais)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por Os Galos do Cantanhez. Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Comentário que Vítor Negrais deixou ao poste de 8 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeias, amigo do Arsénio Puim)


Caro Luís Candeias.

Assunto: Pessoal da companhia madeirense CCAÇ 4942/72 que esteve em Jemberém.

Mesmo que tardiamente, quero contribuir para um melhor conhecimento do que foi o papel da CCAÇ 4942/72 (*).

Quero referir que a foto publicada com um membro feminino de uma ONG em Jemberem não corresponde ao deixado no local pela CCAÇ 4942/72 (**). O símbolo adoptado pela companhia foi um galo multicolor associado à designação Galos do Cantanhez.

(i) A CCAÇ 4942/72 foi formada no Funchal, no BII19.

(ii) Rumou à Guiné no Uíge que saiu de Lisboa a 27 de Dezembro de 1972, ocorrendo o seu desembarque em Bissau em 3 de Janeiro de 1973.

(iii) A companhia, como era usual na altura, rumou ao Cumuré onde fez o IAO.

(iv) Concluido este, foi para Mansoa, por um curto período de tempo, tendo colaborado na protecção da construção da estrada entre Jugudul e Bambadinca.

(v) Após este curto período, tomou o rumo de Cadique, no Cantanhez, e esteve na abertura da estrada entre Cadique e Jemberem, localidade onde se fixou cerca de 1 ano (1 ano bem animado).

(vi) Posteriormente, em Fevereiro de 1974 a companhia foi deslocada para o Norte, para Barro mantendo um pelotão em Bigene junto do COP3.

(vi) A companhia regressou a Portugal em 9 de Setembro de 1974, depois de muitas peripécias, sem nenhuma baixa.

Cumprimentos a Luís Graça e camaradas da Guiné e parabéns pela manutenção deste espaço de convívio.

Vítor Negrais

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Vítor, por estas preciosas achegas sobre Os Galos do Cantanhez. Obrigado também pelas tuas simpáticas referências ao nosso blogue. Não te apresentaste, mas presumo que tenhas pertencido à CCAÇ 4942/72. És do continente ou da RAM ?

Se quiseres, junta-te a nós, que formamos já a maior Tabanca virtual... da Guiné. Basta leres e aceitares as nossas regras de convívio (que podes e deves ler na folha de rosto do nosso blogue, coluna do lado esquerdo: Tabanca Grande > Dez normas de conduta). Manda também as duas fotos da praxe (um do tempo da tropa e outra actual).

Gostaríamos que nos contasses mais peripécias dos teus Galos do Cantanhez. Tens tido notícias dos teus camaradas ? Presumo também que tenhas histórias e fotos da vossa permanência no Cantanhez, bem como do período do pós-25 de Abril. Estive em Março de 2008 no Cantanhez e registei em fotografia os vestígios da vossa passagem por Jemberém.

Um abraço. Desejo-te as melhores perspectivas possíveis para o ano que agora começa. Luís Graça

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel

(**) Há três locais e datas assinaladas no monumento: Mansoa, 3/2/73; Cadique, 27/3/73; Jemberém, 20/4/73. O brazão da companhia era constituído por um Galo, com os dizeres Cantamos de Galo. (...)
Sabemos como se chamavam os seus Grupos de Combate: Os Primitivos (1º Gr Comb); Os Descavilhados (2º Gr Comb); O Zigue-Zague (3º Gr Comb); Os Tais (4º Gr Comb).

O nosso camarada A. Marques Lopes já há tempos tinha referido, na lista das unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (onde ele esteve com a sua CCAÇ 3), a existência desta CCAÇ 4942/72, cuja actividade operacional era resumida nestes termos:

(i) Em princípios de Abril de 1973, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém [hoje, Iemberém].

(ii) Em 20 de Abril de 1973, após o desembarque [em LDM ou LDG ?] e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém [ou Iemberém], então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5 [ que incluía Guileje].

(iii) Foi substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73.

(iv) Instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519.

(v) Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local.

Em resumo: esta companhia - de pessoal maioritariamente madeirense - chegou até Jemberém, no coração do mítico Cantanhez, numa região que o PAIGC considerava de há muito libertada, construiu aqui, de raíz, um aquartelamento (de que não há muitos vestígios, visíveis, actualmente), e depois foi substituída por uma companhia mais nova, a CCAÇ 4946/73, em Fevereiro de 1974.


Guiné-Bissau > Região de Tomboli > Parque Nacional do Cantanhez > Jemberém (ou Iemberém, de acordo com a toponomia actual) é uma localidade onde a AD - Acção para o Desenvolvimento tem a sua base operacional (instalações de apoio aos projectos desenvolvidos no Cantanhez, inclouindo o ecoturismo). Por aqui também passou a 1ª CART do BART 6521/72 (entre Janeiro de 1973 e Abril de 1973)... Esta subunidade foi substituída pela CCAÇ 4942/72.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3695: Quando o Malfeito deitou a mão ao galo...(Valentim Oliveira)


O GAMANÇO DO GALO



Mês de Fevereiro de 1964, já lá vão 44 anos, mas ainda está bem viva na minha “caixa dos pirolitos” a aventura travessa, que se protagonizou para fazer o gamanço do galo.

Estava eu em Farim adido à C.C.S do Batalhão de Cav. 490, digo isto, porque pertencia à Companhia de Cav. 489 do mesmo Batalhão. Mas por mérito ou sorte, passei para a dita C.C.S., para condutor do Comandante de Transmissões, Alferes Francisco Gil Pires, colega que nunca mais voltei a ver a seguir á disponibilidade.

Agora deixando as apresentações e voltando à dita aventura é de realçar como isso foi formalizado. É certo que a tropa manda desenrascar, mas por vezes o desenrascanço pode trazer consequências um pouco nada amistosas, que por acaso nessa aventura não aconteceram.

Vai que o 784, que sou eu, juntamente com o Horácio 777, o Pacheco 783, o Malfeito 781 e o “Canícula” de Lisboa, que era bate-chapas e pintor das nossas queridas viaturas, que agora não me lembra o número dele, mas isso também não importa; resolvemos dar uma voltinha pela Tabanca de Farim; (propósito claro!) arranjar alguma coisa para desenferrujar o prego. Era o prato constante, que se procurava nas ditas saídas, pelo menos quando se entrava numa Manga de Ronco (Batucada).
E foi numa batucada, que o nosso Camarada Malfeito avistou numa sanzala um belo e recheado galinheiro. Não se conteve e numa fracção de segundos, passa a larápia no pescoço do galo manda-chuva (lá da capoeira) e nem lhe deu tempo de ele dar o alarme ao seu dono, arrancando-lhe a cabeça de um só esticão. Escondido no casaco camuflado seguiu-se para a caserna, onde precisamente talvez uns 50 metros ao lado havia uma tasca, que por sinal fazia bons churrascos e também tinha uma pinguita mais ou menos. E não é que o raio do homem da tasca se prontifica a arranjar o galinhaço com bastante piripiri e assá-lo na brasa para nós lhe consumirmos a respectiva pinga?!
Em contrapartida, como nós éramos todos condutores, fizemos o convite ao primeiro Sargento Albino, que era o responsável da Oficina Auto, e ele não gostava nada do briol por cima do nariz e tinha uma raiva contida aos copos cheios, que os vazava constantemente. Este Homem além de ser chico lateiro era um Ser de um humanismo tal, que ajudava o seu próximo, e todos nós o respeitávamos. Andava sempre com cara de pimento vermelho.

Albino se ainda estiveres no reino dos vivos, aceita um abraço do Valentim Oliveira e recorda o galo que comemos gamado em Fevereiro de 64, na Vila de Farim!

Valentim Oliveira

ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490

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Guiné 63/74 - P3694: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (6): Objectivo: Choquemone, 17NOV70


1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 29 de Dezembro de 2008:

Carlos Vinhal
Por causas técnicas não pude enviar a estória na data prevista assim como os votos de Bom Natal para vós e para a Tertúlia, nem agradecer as diversas mensagens recebidas.
Faço-o agora, acrescentando os votos sinceros de que o 2009 seja melhor em Saúde, concretização de Desejos e Objectivos.
Que a coesão Familiar seja uma Dádiva, que a Amizade se reforce. Que os mais Jovens se aproximem dos Idosos e troquem afectos e vivências. Que o apoio aos mais Desfavorecidos e Desprotegidos seja uma realidade.

Um abraço a Todos
Luis Faria

Bula - Objectivo: Choquemone 17 de Novembro de 1970

Como referi no capítulo anterior, os primeiros dias de Novembro de 1970 foram de adaptação à zona e ao meio: protecção de colunas, patrulhamentos seguidos de emboscadas nocturnas que duravam 36/48 horas na estrada Bula –S. Vicente com finalidade de eventual intercepção do IN, serviram também para um melhor conhecimento e adaptação à realidade do meio hostil, especialmente durante a noite, para o controlo de mantimentos (especialmente água) e mais.

Pelos meados do mês chega à 2791 o Alf Mil Ruas Gaspar que vai comandar o 4.º GComb, substituindo-me. Era a 2.ª vez que acontecia (* cap 1.º) e fiquei um bocado quilhado por ter de abandonar o Grupo que tinha ajudado a preparar e comandava… mas ordens são ordens… e fui colocado no 2.º GComb que passou a ser o meu, sob o comando do Alf Barros (Guineense) e onde estavam os Furriéis Castro e Marques. A integração fez-se sem problemas.

Ao dia 17 do mês, numa Operação às matas do Choquemone, tive o meu Baptismo de Fogo, assim como a Companhia.

Pela 2/3 horas da manhã, a 2791 a 4 GComb sob o comando de um Alf do Bigrupo veterano que nos incorporava, arrancou em bicha de pirilau dando início à Operação Doninha Parda, dirigida à região de Choquemone. Tinha a informação que esta mata não era pêra doce e toda a atenção era necessária, já que seria uma base permanente com patrulhamentos IN e a detecção na entrada relativamente fácil.

Não era uma noite muito escura e quase à saída da povoação, antes da bifurcação S. Vicente - Binar fiquei surpreendido e apreensivo por àquela hora ver aqui e ali pessoas às portas das moranças. Porra, os gajos estão a manjar para onde é a ida, pensei!

Continuámos a caminho do objectivo e na picada para Binar, um rebentamento forte, isolado, fez-me pensar que tinham pisado uma mina . A bicha de pirilau parou defensivamente, o silêncio foi cortado por gemidos de dor e logo de seguida constatou-se o desastre: uma granada da bazooka de que o Nunes era apontador, sabe-se lá por quê, caiu ao chão e detonou, decepando-lhe um pé e ferindo menos gravemente creio que mais 2 militares. O Nunes era do 4.º GCOMB, que eu deixara e lá estava o Fur Fontinha e o Enf Silva (julgo) a acompanhar a situação.

Feitas as evacuações, retomou-se a progressão para o objectivo em marcha atenta . Já na mata e ao pensar que podíamos ter sido detectados, o acidente com o Nunes começou a esbater-se no meu pensamento dando lugar a uma maior atenção ao meio envolvente e ao pessoal. Chegada a manhã comecei a ouvir umas rajadas curtas à distância que me puseram os sentidos no limite, mas a velhice não pareceu muito preocupada pois aqueles tiros, no entender deles seriam chamariz. Realmente nada aconteceu e continuamos a progressão com as devidas cautelas. Chegada a hora do almoço, há que estacionar .

Estávamos numa mata não muito densa e os velhinhos, conhecedores da zona (?), dão instruções para dispor o pessoal em perímetro de segurança alargado o que foi feito. Os oficiais abanquetaram-se no interior do perímetro e há que começar a dar ao serrote. O Alf Quintas chamou-me para o pé dele e lá fui com a minha G3 e ração. Comecei a comer e de repente rebenta um fogachal daqueles! Um grupo IN estaria a tentar envolver-nos, mas foi detectado, gerando-se o primeiro confronto a sério da 2791 .

Aos primeiros tiros o Quintas, que não tinha a G3 com ele, quis abarbatar a minha o que claro, não deixei (esta é minha… pegue na sua…!!) e corri para o perímetro, de onde não deveria ter saído. Ouvi pela 1.ª vez o vai no Puto ! E sem ver ninguém, dei uns tiraços na direcção de onde me pareceu ter vindo a voz, mas sem nenhum efeito prático, julgo! As Kalach não se calavam e as roquetadas ferviam, tendo os RPG passado a ser a arma que mais temi, durante toda a comissão.

Acabado o confronto e debaixo de toda aquela tensão, há que ver se havia baixas e havia : dois feridos com gravidade e uma dezena de outros rapazes com ferimentos ligeiros. Quanto ao IN teve 1 morto confirmado e vários feridos mais que prováveis dados os indícios detectados no reconhecimento de zona. De volta à picada para as evacuações serem feitas em ambulância e regressarmos ao quartel, ia ouvindo de novo rajadas, o que me deu ideia de o IN teria ficado desnorteado, nos procurava a pensar que ainda lá nos encontrávamos.

A CCaç 2791 começou a honrar cedo a sua divisa Força ,o que a meu ver foi positivo já que o pessoal tomou consciência logo no início de que naquele teatro operacional, se alguém facilitasse, podia ter consequências graves para si e para os companheiros. Quanto a mim, surpreendeu-me o facto de ter passado de tenso a sereno no meio de tudo aquilo e confirmei que aquela guerra não era para brincar. Faz hoje 38 anos e 1 mês.

Luís S Faria



CCaç 2791 – 2.º GrComb > Em cima: Fur Marques; Fur Castro; Alf Barros e Fur Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3602: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (5): Bula - Gratidão

Guiné 63/74 - P3693: Postais Ilustrados (14): Tocador de corá (Beja Santos)

Guiné > s/d > Postal ilustrado > Tocador de kora e sua mulher

Lisboa > s/d > O Mário Beja Santos, com a sua mãe, já falecida ((em 1982) e que era de origem angolana.

Fotos: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do Beja Santos, de 24 de Novmebro de 2008:

Assunto - O último postal na Guiné para a minha Mãe


A minha irmã ficara com o espólio de postais da nossa Mãe, ela deixou- me em Janeiro de 1982. Agora a Manuela ofereceu-me estas preciosidades que abarcam mais de 100 anos, tenho postais do Real Colégio Militar, a Rainha Dona Amélia quando casou, até me apareceu uma oração ao Sidónio Pais, tenho aqui postais com Luanda a crescer, é comovente ver o orgulho dos meus avós com a sua adorada ficha, a minha Mãe.

Pois no meio destas centenas de imagens surgiu este tocador de corá e mulher, que maravilha no garbo, que gente senhoril ! Escrevi no verso:

« Bissau, 14 de Agosto de 1970. Minha Adorada Mãezinha: Tempos difíceis para escrever. Dia 20, começa a minha longa viagem de regresso. Chorei há dias ao telefone com a voz crescida e fluente do meu adorado sobrinho ( Rodolfo, o filho mais velho da Manuela).Vivo o 'desemprego' com grandes leituras e isolamento. Beijos deste filho que tanto a anseia ver, Mário».

O postal (*) vai ser oferecido ao tocador de corá, Braima Galissá (**).

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série Postais Ilustrados:

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1023: Postais Ilustrados (1): Pescadora, de etnia papel (Beja Santos)
7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1030: Postais Ilustrados (2): Dança nalu, Cacine (Beja Santos)
8 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1031: Postais Ilustrados (3): Tocador fula, Bafatá (Beja Santos)
28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1125: Postais Ilustrados (4): Rapaz balanta, cesteiro (Beja Santos)
2 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1140: Postais Ilustrados (5): Bajuda manjaca, Ilha de Pecixe (Beja Santos)
7 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1157: Postais Ilustrados (6): Rapariga Papel, tatuada, do Biombo (Beja Santos)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1164: Postais Ilustrados (7): Campune tatuada, Bijagó (Zé Teixeira)
7 de Outubro de 2006 >Guiné 63/74 - P1184: Postais Ilustrados ( 8): Allahu Akbar, Deus é Grande (Beja Santos)
3 de de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1242: Postais Ilustrados (9): Dança do compó, Bissau (Beja Santos)
10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)
13 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1273: Postais Ilustrados (11): Um típico e colorido mercado onde as mulheres é quem mais ordenam (Beja Santos)
23 de Novembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1310: Postais Ilustrados (12): Ponte-Cais de Bissau e estátua de Diogo Gomes (Tino Neves / Carlos Fortunato)
8 de Dezembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1351: Postais Ilustrados (13): A catedral católica de Bissau (Beja Santos / Luís Graça / Mário Dias)

(**) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Didjiu e tocador de kora

Guiné 63/74 - P3692: Tabanca Grande (107): José Carlos G. Ferreira, ex-1.º Cabo Caixeiro da CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

1. Mensagem de José Carlos Gonçalves Ferreira, com data de 19 de Setembro de 2008

Amigo Luís
Dei com o vosso blogue e encontrei notícias que me fez lembrar o que passámos na Guiné.

Vou começar pela minha identificação:
Sou o ex-1.º Cabo Caixeiro José Carlos Ferreira da CCS/BCAÇ 3832 que esteve em Mansoa de 70/73.

Vi que o César Dias contactou com o Germano Santos que esteve também em Mansoa na mesma altura, fala no Alferes Rito Rodrigues das Transmissões. Conheci esse senhor que tinha por hábito no início de cada mês chatear com belas frases como, Zé Carlos esta merda deu prejuízo, desculpa o termo, mas era isso mesmo que eu ouvia, nessa altura estava no bar de oficiais, onde tinha alguns amigos como o Major Rocha das com quem tinha amizade. Adorava encontrar e ter notícias do Alferes Monteiro da Companhia de Milícias, julgo que era do Porto, e do Alferes Amorim, o nosso fotografo, era ele quem nos tirava as fotos e deve ter algumas bem bonitas dessa altura.

Mais teria a contar, espero um dia ter a possibilidade de me encontrar com vocês pelo que espero notícias vossas.

Um abraço a até um dia destes.
Zé Carlos

2. No dia 28, o José Carlos Ferreira enviava esta mensagem:

Amigo Luís
Segue em anexo alguma fotos de Mansoa pelo que solicito que dês uma vista de olhos e selecciones as que entenderes por bem utilizar.

Um abraço.
José Carlos Ferreira

3. Comentário de CV

Caro José Carlos, bem-vindo ao nosso Blogue

A demora na resposta deve-se a tu teres utilizado o endereço particular do Luís Graça e a tua mensagem ter ficado por lá perdida. Aceita as nossas desculpas.

Vamos publicar algumas das fotos que mandaste, ficando as restantes para quando enviares alguma história.

Não te esqueças de nos enviar uma foto actual.

Recebe um abraço da Tertúlia.
CV

4. Fotos

Mansoa, 28 de Agosto de 1971 > Bar de Oficiais

Mansoa, 22 de Dezembro de 1971 > Com o Delfim Delães

Mansoa, 26 de Julho de 1972 > Bomba de gasolina depois do ataque à povoação e aquartelamento

Mansoa > Pista depois do ataque

Entrada de Mansoa, 31 de Agosto de 2008 > Posto de controlo

Mansoa, 31 de Agosto de 1972

Mansoa > Com o Zé Rodrigues das Transmissões. Dia para esquecer, grandes copos

Mansoa > Festa na Tabanca

Fotos e legendas: © José Carlos (2008). Direitos reservados


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Nota de CV

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ªCCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3691: Ser solidário (26): Projecto em Empada dos alunos da Esc Sec Infanta D. Maria de Coimbra (Filipa Pestana)

1. Com bastante atraso, trazemos ao conhecimento dos nossos tertulianos e leitores em geral, esta mensagem, datada do dia 12 de Outbro de 2008, dando notícia de um projecto de ajuda à Guiné-Bissau, mais exactamente a Empada, a levar a efeito por um grupo de alunos da Escola Secundária Infanta D. Maria, de Coimbra.

Assunto: Informações sobre Empada (Guiné-Bissau)

Exmo. Sr.

Somos alunos da Escola Secundária Infanta D. Maria em Coimbra e frequentamos o 12.º ano de Ciências Sociais e Humanas.
Durante este ano lectivo, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, tencionamos participar no concurso Del 8 - Apaga com os Objectivos do Milénio, sob a orientação da Professora Maria da Conceição Pupo. Para isso, é necessário desenvolver um projecto que vise cumprir um desses objectivos. O grupo vencedor terá a oportunidade de visitar a Guiné-Bissau e pôr em prática o projecto desenvolvido.

A organização do concurso fornece um documentário sobre a aldeia de Empada, no sector de Quinara. Contudo, este parece-nos ser omisso em muitos aspectos, nomeadamente em informações relativas aos recursos naturais, actividades desenvolvidas pelos habitantes da aldeia, etc...

O nosso projecto encontra-se ainda em fase embrionária, mas o que se pretende é criar algo exequível e sustentável, que se enquadre com as características e necessidades da aldeia e permita solucionar um dos seus principais problemas: a fome e a pobreza extremas. Nada está ainda definido, mas o que se pretende é, claro está, ensinar a pescar em vez de dar o peixe.

Para uma melhor planificação do trabalho, o ideal seria fazer uma pesquisa in loco, o que, infelizmente, como deve compreender, nos é impossível.

Tivemos conhecimento da sua relação com a Guiné-Bissau através do seu blogue e tomámos a liberdade de o contactar, bem como de guardar o contacto de outros ex-combatentes que passaram por Empada.

Vimos, assim, por este meio, solicitar a sua ajuda para este nosso trabalho, na esperança que possa de alguma forma dar-nos esclarecimentos acerca desta região guineense. Todas as informações que puder disponibilizar serão, para nós, uma mais valia. Pensamos que a sua experiência, conhecimento do país e eventuais contactos na Guiné poderiam ser-nos úteis, inclusivamente numa fase mais avançada do projecto.

Agradecemos, desde já, o seu tempo e aguardamos uma resposta,

Bem haja
Filipa Pestana
(em nome do grupo de área de projecto do 12.º G)

Contactos úteis: telm. – 939533089
e-mail – filipapestana91@hotmail.com


2. Face ao pedido destes nossos jovens amigos, pedimos aos camaradas que estiveram em Empada a cumprir a sua comissão de serviço e, aos que se têm deslocado mais recentemente à Guiné-Bissau e que tenham elementos para os ajudar, o favor de os contactar no sentido de encontrarem uma forma de ajuda.

A este grupo de alunos pedimos desculpa por esta demora em dar seguimento ao seu pedido.

Da nossa parte, autorizamos a utilização das nossas imagens, mapas e textos, agradecendo apenas a referência à origem.

Esperamos a habitual colaboração dos camaradas, especialmente daqueles que têm alguma ligação com Empada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3646: Ser solidário (25): E se eu fosse o Pai Natal ? Mensagens de e para os guineenses da diáspora e não só...(Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3690: O meu Natal no mato (21): CCAÇ 2402, Có, 1968, e Olossato, 1969 (Raúl Albino)

1. Mensagem de Raúl Albino (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá, Olossato, 1968/70, com data de 15 de Dezembro de 2008.

Caros amigos,

Aqui vai o meu contributo para esta quadra natalícia. Que o próximo ano seja, para o blogue, de tanto ou mais sucesso do que aquele que está a terminar. Que a vossa saúde e energia nunca vos falte.

Um grande abraço e que tenham um Natal Feliz dentro do possível neste ano de esquecimento. Merecemos, não?
Raul Albino.



Relatos de Natal da CCaç 2402

Vou incluir, neste meu artigo alusivo ao Natal, algumas fotos de recordação desses períodos da nossa comissão por terras da Guiné.


Companhia de Periquitos

Muitos já terão ouvido falar de Companhias de Periquitos na guerra do ultramar, mas para aqueles que não perceberam bem o que isso significava, aqui vai uma imagem que vale por mais de 1000 palavras. Esta é a Companhia de Periquitos Nativos N.º 00, armada até aos dentes (se eles os tivessem, claro), que apesar de ter feito uma comissão completa, nunca ganharam o estatuto de Companhia de Veteranos. Cumpriram cabalmente a sua missão de reforço na luta anti-stress dos nossos militares e foram considerados, por todos sem excepção, uma grande companhia … para os bons e maus momentos.


CCaç 2402 – Natal de 1968 em Có

Vemos aqui o nosso comandante de companhia Capitão Vargas Cardoso a encenar uma deslocação da RTP para recolha de mensagens de Natal. Na verdade, isso só viria a concretizar-se no Natal seguinte.


C Caç 2402 – Natal de 1969 no Olossato

Aqui sim, a RTP foi ter connosco para recolha das célebres mensagens natalícias para serem vistas pelas famílias na sua televisão ou na do Café da esquina. Estão a filmar o meu grupo, eu sou o primeiro à direita do operador de câmara e pareço estar a exibir o meu sorriso pepsodente para a imagem. Estarei, possivelmente, a debitar uma mensagem padrão equivalente a esta que agora vos dirijo, tão em voga na altura.

Envio aos dedicados editores deste blogue, todos os tertulianos e suas famílias os meus votos de um Santo Natal e um Melhor Ano Novo. Nós por cá estamos bem. Adeus e até ao meu regresso.

Raúl Albino
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3450: Blogoterapia (72): Comentário ao P3402 (Raúl Albino)

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3687: O meu Natal no mato (20): Visita de Natal do COMCHEFE a Cutia (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)

Imagem aérea de Guileje. Foto de Amaro Samúdio.


I. Alguns acontecimentos de Maio de 1973, na Guiné (relacionados com Guileje)


Assassinato de Amílcar Cabral

Dois emissários enviados por Sekou Touré, na manhã de 20 de Janeiro, avisaram Amílcar Cabral que havia gente à volta dele que se preparava para o liquidar. Amílcar chamou Mamadú Indjai, o responsável pela guarda, para lhe dar conhecimento do facto. Ao corrente do aviso, os conspiradores resolveram actuar no próprio dia. Amílcar Cabral, quando regressava de um jantar na Embaixada da Polónia, foi assassinado naquela mesma noite de 20 de Janeiro, à porta da sua casa no bairro Minière, em Conakry. Sabe-se que Inocêncio Cani disparou o primeiro tiro e que Mamadu Turé e Aristides Barbosa fizeram parte da conspiração. As circunstâncias que rodearam o assassinato, a que se seguiu a prisão de vários dirigentes do PAIGC por Sekou Turé, nunca foram totalmente conhecidas do grande público.

1 de Fevereiro, Simpósio em Conakry em memória de Amílcar Cabral, reuniu cerca de 700 representantes de vários países.

Ofensiva do PAIGC

Entre 7 a 9 de Fevereiro, o PAIGC tinha reunido em Conakry. Depois de homenagear o seu fundador e nomear Aristides Pereira como 1º responsável do Partido, a direcção convocou o Conselho de Guerra. Desta reunião saíram orientações para a intensificação da luta armada em todas as frentes e levá-la aos centros urbanos.
Lançar ataques sucessivos em todas as frentes, não deixando o IN em repouso um só dia, seja onde for que ele se encontre. É dentro desta orientação que se dá a ofensiva dos três G (Guidaje, Guileje, Gadamael).

A Força Aérea perante o novo desafio

Entrada no palco da guerra da nova arma das forças do PAIGC, os mísseis Strella (Sam-7). Em 20 de Março, o Ten Cor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiat G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada. Dois dias depois, em 22, o Fur Pilav Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil. Em 25 coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um Gr Cmds (pormenores mais abaixo). Em Março ainda, a 28, o Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morreu ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 Grail.

Em Abril, a 6, um DO-27 pilotado pelo Fur Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro DO-27 pilotado pelo Fur Carvalho Ferreira, em viagem de Guidaje para Bigene, desapareceu com três passageiros a bordo. Em 8, o Maj Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.

A FAP não estava preparada para enfrentar os mísseis terra-ar. As consequências foram enormes para as forças apeadas do Exército Português. O apoio aéreo deixou de ser feito com a regularidade a que estavam habituadas. As evacuações foram fortemente restringidas, vários militares feridos ficaram retidos nos locais onde foram atingidos e alguns terão mesmo morrido por falta de condições de assistência.

A partir da entrada em acção dos mísseis anti-aéreos (Strella) pode dizer-se que a guerra nunca mais foi a mesma.

Recordando para a história: em 25 de Março, um domingo, o aquartelamento de Guileje foi flagelado em pleno dia, entre as 13h00 e as 14h30. Não foi inocente este ataque diurno (de noite, em regra, as aeronaves não saíam), como se veio a comprovar. Solicitado o apoio da FA, esta apareceu com um Fiat G-91, tendo o piloto entrado em contacto rádio com Guileje, donde recebeu as indicações sobre as distâncias aproximadas dos locais de onde partiam os fogos. De terra viram-no rumar nessa direcção e a partir daí os contactos rádio cessaram. Cerca de 15 a 20 minutos depois surgiu nos céus de Guileje o 2º avião. Estabelecido o contacto, o piloto foi posto ao corrente. Minutos depois, informava Guileje que o 1º avião tinha sido abatido e que o piloto (Ten Pessoa) se tinha conseguido ejectar. Devido à hora tardia, localizado através de um very-light, o piloto só foi resgatado no dia seguinte. Em 12 Abril, na zona de Guileje, um guerrilheiro armado encontrado ferido é evacuado para Bissau.

Em 6 de Abril, Guidaje (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de aeronaves, houve de tudo naquele interminável período (de 6 de Abril a 29 de Maio).
As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidaje, durante aquele período, estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 53 dias de cerco, Guidaje sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 48 Mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas e três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27).

No decorrer do assalto do PAIGC a Guidaje, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português na manhã de 20 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da Op Ametista Real, as tropas portuguesas destruiram quatro centenas de armas automáticas, mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer dos combates o BCmds sofreu nove mortos, vinte e três feridos graves e onze desaparecidos, considerados mais tarde, como mortos.

Guileje

Guileje, uma "praça fortificada", era considerada pelo Estado-Maior de Spínola de grande importância estratégica. Pouco mais de duzentos militares protegiam a povoação com mais de 500 habitantes.
Era pela zona de Guileje que o PAIGC introduzia, para quase toda a zona Sul, grandes quantidades de armas, munições, mantimentos e material sanitário. Este material fornecido pela URSS e pelos seus então chamados satélites (material de guerra, especialmente), bem como por alguns países nórdicos (nomeadamente a Suécia com material escolar, sanitário e alimentos) era, na grande maioria, desembarcado no porto de Conakry, passava por Boké, Kandiafara, Simbel e Tarsaia, entrando no território da Guiné pelo corredor de Guileje (chamado pelas NT "corredor da morte" e "corredor do Povo" pelo PAIGC). Daí a importância que Spínola dizia atribuir a Guileje, vindo a conferir-lhe um COP, comandado por um major.

Tropas do PAIGC concentraram-se na área da fronteira da Guiné-Conakry para reforçar a guerrilha já aí estacionada. Daí partiu o ataque, em 18 de Maio.

As informações tinham começado antes: em 9 Maio, a CCaç aquartelada em Empada enviou uma mensagem para a 2ª Rep/QG, comunicando a "existência de um grupo IN na fronteira, com carros de combate, que pretendia atacar Guileje". A seguir, rectificou a mensagem, enviando outra em que referia "a presença nas matas de Guileje de um grupo de 35 cubanos e dois grupos de 45 elementos cada, aguardando instruções de 'Nino' Vieira para atacar Guileje".

Em 11, Spínola visitou Guileje e falou às tropas, formadas na pista: que se esperava um agravamento da situação, que a Força Aérea, embora limitada na execução das missões, em situações difíceis cumpriria, voando mais alto e utilizando bombas mais potentes e que as evacuações de feridos graves se iriam manter. Entretanto, no dia anterior, um milícia de Guileje abandonou a povoação com a arma que lhe estava distribuída. Como tinha dito que ia à caça e podia andar perdido o Pelotão de Milícias de Guileje saiu em patrulhamento, com a finalidade de o encontrar. Os milícias não o encontraram, mas depararam com uma mina anti-carro e quando tentavam desmantelá-la, deu-se o rebentamento, provocando a morte de dois elementos. Mais tarde veio a saber-se que o referido milícia tinha sido aprisionado pela guerrilha, junto ao local onde a guarnição se abastecia de água.

Em 15 Maio, a Companhia sediada em Bedanda informou da "chegada em 10 Maio, de 4 grupos vindos da R. Guiné-Conakry e a presença em Kandiafara de cerca de 50 cubanos". No dia seguinte a CCaç estacionada em Empada informou da "chegada a Simbeli de três grupos de Artilharia vindos da URSS e a presença de dois blindados junto à fronteira". Em 18 Maio, novamente de Bedanda: "reunião do IN em Kandiafara, objectivo Guileje. Reunidos 5 bigrupos (cada bigrupo dispunha organicamente de 40 elementos, dispondo de 4 a 6 ML, 2 a 6 LGF, 2 a 4 MP e 2 a 4 Morteiros de 82) junto a Guileje.

O PERINTREP (relatório semanal do ComChefe) da semana de 13 a 20 Maio destacava: "O IN desencadeou uma ofensiva contra Guileje, emboscando, com elevado potencial de fogo, forças daquela guarnição que se dirigiam para Gadamael e flagelando depois aquele aquartelamento 21 vezes no espaço de 36 horas, com foguetes 122, canhão 85, morteiro 120 e canhão sem recuo, instalando a maioria das bases de fogos na Rep. Guiné-Conakry" (...). Outro relatório da 3ª Rep do QG/CTIG sobre a actividade do COP 5 (área militar que enquadrava Guileje) entre 18 e 21 de Maio, referia que, no primeiro dia, "durante a execução duma coluna de reabastecimento, as NT foram fortemente emboscadas por duas vezes, a cerca de dois kms de Guileje, tendo sofrido um morto, sete feridos graves e quatro ligeiros. Por falta de evacuação aérea, um dos feridos graves faleceu quatro horas depois da emboscada".

Um corpo no meio da tabanca de Guileje. Foto de autor que desconheço, a quem agradeço e que aqui reproduzo com a devida vénia.


Numa súmula muito breve dos ataques a Guileje, durante o período compreendido entre as 20h00 de 18 de Maio e as 04h00 do dia 22, o aquartelamento e a povoação foram flagelados com cerca de 800 granadas (morteiro 120, canhão s/r, LGF e outras não identificadas), muitas das quais caíram dentro do destacamento, restando poucas instalações intactas e, devido à destruição das antenas, o aquartelamento ficou sem comunicações rádio com o exterior.

Na noite de 21, o comandante de Guileje, o Maj Art Coutinho e Lima, decidiu o abandono da praça-forte na madrugada do dia seguinte. Segundo ele próprio, a decisão baseou-se na forte pressão do IN, na não atribuição de reforços, na não evacuação dos feridos, na escassez de munições, na falta de água no aquartelamento (o abastecimento era feito a cerca de 4 kms), na defesa da população, e na destruição do centro de comunicações. É de destacar, como parêntesis, que, desde 18 de Maio o aquartelamento se foi mantendo debaixo de fogo, por períodos intercalados. Os militares e a população, mal pressentiam a saída da primeira granada, precipitavam-se para os abrigos, triplicando a lotação. A excelente protecção conferida pelos abrigos, feitos em betão armado, sob a orientação do BEngª de Bissau, abrigos que, em princípio, seriam à prova de rebentamentos de morteiro 120, justifica, segundo os sitiados, terem sofrido apenas um morto(um furriel metropolitano).

Dada a ordem de retirada, elementos da população começaram por oferecer alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa.

Na difícil hora da retirada, depois de 9 anos de guarnições militares em Guileje, a coluna dirige-se para outro inferno, Gadamael. Foto de autor que também desconheço. E que, com a devida vénia, reproduzo.

Assim, às primeiras horas do dia 22 de Maio, a enorme coluna (militares, milícias e população) meteu-se a caminho através de um trilho utilizado apenas pela população.
No local e segundo o PAIGC, as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O Major Coutinho e Lima assegura, por sua vez, terem sido inutilizadas as armas e viaturas e a documentação ter sido toda queimada, afirmação confirmada, aliás, por vários militares encarregados das destruições.

Não deve ignorar-se o efeito propagandístico que, em situações deste tipo, os contendores usam. Assim, as emissões de rádio, provenientes de Conakry, exploraram, como era seu dever, o feito da tomada de Guileje: "(...) Os nossos gloriosos combatentes capturaram ao IN em Guileje, o material seguinte: 2 canhões de 155, morteiro de 106, 2 de 81, 1 de 70, 5 MP Dreyse, 3 bazucas de 88, 5 PM FBP, 47 G-3, 8 Mausers e grande quantidade de munições. Viaturas: 3 blindados, 4 camiões Berliet, 1 Unimog e 1 jeep Willy. A central eléctrica e o posto de rádio estão intactos. Os nossos combatentes apreenderam ainda diversos mapas e outros elementos de alto valor militar e víveres em quantidade prevista para o consumo da guarnição durante vários meses".

O Major Coutinho e Lima, para justificar a difícil decisão que tomou, diz ter tido, essencialmente, a preocupação de poupar as mais de 600 vidas que lhe estavam confiadas. A retirada decorreu, tanto quanto possível, ordenada e sem incidentes. A escolha do trilho e o efeito surpresa (nunca puseram a hipótese da guarnição retirar, afirmaram, mais tarde, alguns responsáveis da guerrilha) foram as razões que permitiram a coluna chegar a Gadamael sem problemas.

Em 13 anos de guerra, era a 1ª vez que a tropa portuguesa retirava de um aquartelamento, sob o pretexto da pressão do IN, o que levou alguns a interrogarem-se do que teria acontecido em Guidaje, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. No entanto, com a informação hoje disponível, é possível destrinçar as situações: Guidaje teve o apoio de tropas da reserva do Com-Chefe (páras, fuzileiros, comandos e outras), Guileje não teve.
Entre os que permaneciam em Guileje, enraizou-se a ideia de que estavam abandonados à sorte. Não sentindo o apoio do ComChefe, o Major Coutinho e Lima tomou uma decisão difícil e que o iria marcar para toda a vida. Mas quem toma decisões difíceis, em situações críticas, temos que convir, não são pessoas comuns.

Gadamael

As consequências da saída de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis.

Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos 'jactos do Povo' e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (17 mortos) e 55 feridos entre 1 de Junho e 22 Julho aguentou-se estoicamente. No seu livro "Gadamael", o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que, se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".

Entretanto, em 22 de Maio, Spínola tinha informado por escrito o Ministro do Ultramar sobre a degradação da situação militar. A título de exemplo referia que, entre as 18 horas do dia 20 e as 8 e 30 de 21, Guileje tinha sofrido 32 ataques; que Guileje era de importância estratégica para a manobra militar e para os abastecimentos do PAIGC no Sul, pelo que era vital a sua defesa.

Em todo o mês de Maio as tropas portuguesas sofreram 64 mortos em combate e quase três centenas de feridos, na sequência das cerca de 220 acções desencadeadas pelo PAIGC contra os dispositivos das forças militares portuguesas.

capa de "A RETIRADA DE GUILEJE, 22 MAI 1973, A VERDADE DOS FACTOS"
Autor: Cor Artª Alexandre Coutinho e Lima
Editor: DG edições
Preço: cheque de 22 € (20 do livro e 2 para a franquia do correio).
Pedidos ao Autor

II. Ao Coronel Alexandre Coutinho e Lima

Li o seu livro num sôfrego. Peguei-lhe e não o larguei. É um documento que faltava, importante para compreender melhor os anos de "brasa", em especial o ano de 73.
Tem informação documentada, de facto, desconhecida ou muito pouco conhecida, inclusive de estudiosos que ao longo destes anos se têm dedicado ao estudo da Guerra na Guiné.

Fiz lá “apenas” uma comissão, entre 65/67, e já naqueles anos senti os problemas crónicos (a extrema pobreza das "Informações", por exemplo) que afectaram a condução correcta da guerra, isto reportando-me apenas aos aspectos militares. Muito longe, portanto, das suas 3 comissões, das quais a última em condições excepcionalmente difíceis.

Aos olhos de um simples leitor da nossa História, a atitude do Comandante do COP 5, protagonizada pelo Senhor, parecia-me, à partida, pouco compreensível e difícil de defender, tendo como referência a situação que se viveu em Guidaje. Por outro lado, pareceu-me sempre que ao caso de Guileje, ao contrário de opiniões, que havia muitas, faltavam factos. Claro que não estou seguro que os documentos que apresenta encerrem definitivamente o dossier "Guileje". Mas com os factos (sem pôr em causa as opiniões e comentários que emite) documentados que apresenta e que eu desconhecia, hoje, posso dizer que compreendo melhor a decisão que tomou.

Independentemente do juízo que a História está ou ainda vai fazer sobre a retirada de Guileje, devo manifestar-lhe que fiquei com a convicção de que:

1. Foi graças à decisão que o Coronel tomou que, em vez de um morto a lamentar, muitas famílias, de cá e de Guileje, tenham podido conviver com os seus Familiares e Amigos, a grande maioria, felizmente, ainda até hoje.

2. O Com-Chefe, independentemente da apreciação globalmente positiva que eu possa ter da acção que desenvolveu na então Província, não fez tudo o que podia e devia ter feito pela população e tropa de Guileje.

3. Atitudes ou decisões, ainda controversas para alguns, como a que o Cor Alexandre Lima tomou não são habituais. E só as poderiam tomar, nas excepcionais condições em que se vivia naqueles tempos em Guileje, Militares com convicções muito sólidas sobre a forma de como bem fazer a Guerra.

Depois de ler o seu livro, depois de consultar a documentação nele exposta, é minha convicção que o Exército Português teve, em Guileje, um Comandante que cumpriu o seu dever.

V. Briote

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Notas de vb:
1. Graças ao nosso Leitor, Abreu dos Santos, alguns pormenores dos acontecimentos relacionados com Guileje (nomeadamente datas e números de mortos) foram corrigidos (em 8 de Janeiro de 2008). Os meus agradecimentos.

Artigo relacionado em

31 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego