quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

Guiné > Bissalanca > BA12 > O 1º Cabo Especialista Melec Jorge Caiano (1969/70) > A bordo de um Heli Al III. Era Melec e voou com o Alf Mil Pil Francisco Lopes Manso, tragicamente desaparecido no Rio Mansoa, em 25 de Julho de 1970 (*). (LG)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Maninga > 1970 > No dia do juramento de bandeira da 1ª Companhia de Comandos Africanos, a que assistiu o Gen Spínola. O Alf Mil Pil Ramos deixa-se fotografar com os oficiais (graduados) da Companhia: na primeira, ao lado do piloto Ramos, o Alf Cmd Justo; de pé, na segunda fila, da esquerda para a direita, o Alf Cmd Saiegh, o Alf Cmd Sisseco, o Major Leal de Almeida, supervisor da companhia, o Cap Cmd Bacar Jaló, comandante da companhia, e o Alf Cmd Agusto Sá.

Segundo me confirma o Virgínio Briote, nosso co-editor (**), o Augusto Sá, o Sisseco e o Justo fizeram operações com ele, integrando o Grupo Cmds Vampiros (o Justo e o Sisseco) e o Gr Cmds Centuriões, ambos pertencentes aos primeiros comandos da Guiné (1965/66), de que o nosso Mário Dias foi instrutor. Pedi também ao Jorge Cabral, régulo de Fá Mandinga na época (***), para me confirmar a legenda desta foto. (LG)

Algures em Portugal, c. 1968 ou 1969, os 1ºs Cabos Especialistas e amigos Jorge Caiano (à esquerda) e Manuel do Rosário (à dierieta). O Jorge é natural de Pombal e o Manuel do Rosário é natural da Lourinhã (curiosamente ainda somos parentes, a avô materna dele e o meu avô paterno eram primos direitos; além disso, somos da mesmao geração e ainda andámos juntos na escola). (LG)

Fotos: © Jorge Caiano (2009). Direitos reservados

1. Mensagem do Jorge Caiano, que vive no Canadá, perto de Toronto, e que foi 1º Cabo Espec Melec da FAP (Guiné, Bissalanca, BA12, 1969/70) (*):

Caro Luís

Desculpa o atraso desta email, mas, e com diz o nosso povo, "mais vale tarde do que nunca".

Hoje ao entrar na Tabanca Grande, deparei que tinhas colocado no blogue toda ou quase toda a conversa telefónica que tive contigo. Desde já os meus agradecimentos. Só uma pequena correcção(não tem muita importância): eu era Melec, mec elec/instrumentos, não MMA.

Algumas fotos dos meus tempos na Guiné 1969/1970:

As do heli que se despenhou [no Rio Mansoa,
em 25 de Julho de 1970, e em que perdeu a vida o Alf Mil Pil Francisco Manso, mais um capitão do Exército e quatro deputados da Nação] (*) , com o passar dos anos estão coladas no álbum.

Não tive outra alternativa senão tirar uma

foto.

Outra é dos Comandos Africanos, penso que os reconheces. Esta foto foi tirada, salvo erro, quando juraram bandeira, muito perto de Bambadinca, com a presença do General Spínola. O piloto que está na foto é o Ramos,
se a memória não me falha.

Nas outras fotos, sou eu e o teu conterrâneo Manuel do Rosário.

Talvez sábado ou domingo telefono.

Um grande abraço
Jorge Caiano

2. Comentário de L.G.:

Obrigado pelo teu mail e pelas fotos. Procurei ser fiel ao teor da conversa que tivémos ao telefone, no passado dia 31 de Janeiro. Desculpa o lapso em relação à tua especialidade. Vou corrigir.

O mais importante é que possas estar, a partir de agora, ligado à nossa caserna virtual, a que chamámos Tabanca Grande, e onde se reúne malta que esteve na Guiné durante o tempo da guerra colonial (1963/74), independente do posto, da arma, da especialidade, da origem, do ano, da idade, ou da actual condição social ... Sê bem vindo.

Obrigado também pela foto do Manuel do Rosário, meu amigo e parente: sabes que há uns anos atrás ele teve um grave acidente, com um camião TIR (de que era condutor), em França (julgo eu), onde ía perdendo a vida (e, no mínimo, perdeu um braço)... Tens tido notícias dele ? Quando eu o vir, na Lourinhã, vou dar-lhe um abraço teu. Seguramente que irá ficar feliz por saber notícias tuas. E tu, vai aparecendo, camarada. Um Alfa Bravo. Luís

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

11 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

10 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(**) Mail de hoje, do vb:

Caro Luís,

No seguimento da nossa conversa, revi com mais calma as fotos que tenho dos cmds em 1965/66. Tenho ainda umas, à volta de meia centena, que ainda não descobri onde param e que respeitam a um momento "histórico", que foi os primeiros treinos com os helis, penso que a partir dos finais de 65, princípios de 66.

Essas fotos, que ainda tenho presentes, foram tiradas por alguém do Dest Foto-Cine do QG, mostram o Gr Cmds Vampiros em treinos com os Allouettes. Na que me enviaste, confirmo: o 2º da esqª, [na 2ªfila, de pé,] é o Adriano Sisseco. Quando o conheci em 65 era soldado do Gr Cmds Vampiros; o último da direita, ainda que não totalmente seguro, parece-me o Augusto Sá, do Gr Cmds Centuriões em 65; o 2º da esquerda, em baixo [1ª fila], é o Justo Nascimento. Um abraço. vb

(***) O Jorge Cabral também confirma:

Amigo Luís!
Claro que estava lá. Ao lado do Saieg, creio ser o Sisseco. Foi nesse dia a única vez que andei de helicóptero como relatei na minha estória "O meu momento de glória"-P.1857 (****).

Conheci pois o Ramos e o Caiano.

Abraços para ambos.
Jorge Cabral

(****) Vd. poste de 19 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)

(...)

Manga de ronco, Pessoal! Spínola veio a Fá, visitar os Comandos Africanos e praticamente toda a população das Tabancas vizinhas compareceu. Homens e Mulheres Grandes, belas Bajudas, e muitas, muitas crianças.

A Pátria, pois então… E uma Guiné melhor.

O Caco entusiasmou-se. Tanto, que optou por ir de viatura para Bambadinca. E lá partiu em coluna, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló.

Claro, mais um banho de multidão…

Quanto ao Helicóptero, foi mandado para a Sede do Batalhão, tendo eu pedido boleia, pois nunca experimentara voar numa nave daquelas.

Simpático, o Piloto acedeu, e antes do destino, sobrevoou Missirá, o Enxalé e o Xime, que do ar, pareciam apenas clareiras rodeadas pela floresta.

Ao descer sobre Bambadinca, apreciei a nervosa azáfama lá em baixo. À pressa, o Tenente- Coronel Comandante, os Majores, Segundo Comandante e Oficial de Operações, dirigiram-se para o local de aterragem, a fim de receber Sua Excelência.

O Helicóptero poisou. Saí e deparei com todos eles perfilados, em continência. Correspondi então, dizendo:
- À vontade, meus Senhores... Por mim, só vim beber um uisquinho...

Jorge Cabral


Sobre os comandos africanos, vd. enter outros os seguintes postes

:11 de Julho de 2005 >
Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)

23 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

19 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1536: Morreu (1)... Barbosa Henriques, o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)

19 de Março de 2007>
Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)

2 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1640: A africanização da guerra (A. Marques Lopes)

20 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves)

Guiné 63/74 - P3878: Historiografia da presença portuguesa em África (17): O sítio Memória de África ® (Afonso Sousa)

O nosso camarada Afonso Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), e que vive hoje em Ovar, mandou-nos a seguinte notícia sobre um precioso recurso, disponível na Net, que se chama Memória de África, incluindo a sua biblioteca digital.

Trata-se de uma iniciativa da Fundação Portugal África, ligada à Universidade de Aveiro, bem como do CEsA - Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (ISEG / UTL).

1. MEMÓRIA DE ÁFRICA ®

Começou por ser uma biblioteca virtual, reunindo as referências da memória dos conhecimentos em arquivos, centros de documentação, bibliotecas e ficheiros de instituições, individuais e organizações relacionadas com a temática do desenvolvimento e cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), bem como a colocação on-line de obras raras ou únicas de difícil acesso com software que possibilite a pesquisa dentro dos textos.




Logótipo e imagem do projecto Memória de África (com a devida vénia...)

O acesso a essa biblioteca virtual faz-se gratuitamente e via Internet de qualquer ponto do mundo, por qualquer pessoa.

Pretende ser um repositório de toda a informação relativa aos PALOP desde o início do século XX até aos dias de hoje ... Onze anos depois do lançamento, a biblioteca virtual do projecto Memória de África já conta com perto de 200 mil títulos considerados património comum de Portugal e dos países africanos lusófonos, e em breve do Brasil também.

Entre os últimos acrescentos ao espólio está a Colecção de Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique (1929), de José dos Santos Rufino, ou o acervo do Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe, onde se encontram, por exemplo, as fichas de identificação dos antigos colonos quando estes chegavam à colónia e outro tipo de documentação a partir da qual é possível traçar o percurso cronológico individual de um colono ou trabalhador desde a sua entrada na colónia até ao seu repatriamento.

Entre os documentos há mais tempo resgatados, na maioria de colecções particulares, é possível encontrar algumas curiosidades como O Meu Primeiro Livro de Leitura, publicado na então Guiné Portuguesa, de meados do século XX, ou a Didáctica das Lições do Primeiro Ano do Ensino Primário Rural, da colónia de Angola.

Podes visualisar (mas não copiar...) todas as páginas de todas as publicações. Convém, no entanto, lembrar que os materiais disponibilizados na Memória de África ® encontram-se abrangidos pela Lei dos Direitos do Autor. Os responsáveis da página fazem questão de lembrar que "a Lei dos Direitos do Autor não permite que se façam cópias de material protegido", e que "q pessoa que cometa qualquer infracção à lei pode ser demandada em tribunal".

2. Lista das Colecções digitalizadas e disponíveis 'on line'

Pretende-se, entretanto, que a Memória de África deixe de ser uma biblioteca virtual, com apontadores para os locais onde as fontes se encontram, passendo também a ser uma biblioteca digital, ou seja, que disponibiliza os conteúdos na forma digital.

Esse repositório será denominado Memória de África Digital.
Vejamos agora as pincipais colecções que constituem essa biblioteca digital:
Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique - Colecção de dez álbuns de fotografias datados de 1929.
Boletim Cultural da Guiné Portuguesa - O Centro de Estudos da Guiné Portuguesa publicou durante 28 anos, entre 1946 e 1973, 110 números do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa.
Boletim da Agência Geral das Colónias - O Boletim da Agência Geral das Colónias foi o órgão oficial da acção colonial portuguesa, tinha como objectivo "fazer a propaganda do nosso património colonial, contribuindo por todos os meios para o seu engrandecimento, defesa, estudo das suas riquezas e demonstração das aptidões e capacidade colonizadora dos portugueses".

Boletins dos Serviços Económicos do BNU - Entre os anos 40 e 70 do século passado, os Serviços Econónicos do Banco Nacional Ultramarino foram responsáveis pela manutenção de duas publicações periódicas de carácter económico: o
Boletim Semanal e o Boletim Trimestral, com um volume aproximado de 14.000 páginas repartidos pelas duas publicações.
Cadernos Coloniais - Colecção de setenta obras publicadas entre 1935 e 1941 com descrições sobre as colónias do Império português de então e com biografias de alguns dos heróis da colonização e África.
Colecção de Gravuras Portuguesas - Colecção de reproduções fotográficas publicada entre os anos quarenta e setenta do século XX.
Colecção de livros escolares - Colecção de Livros Escolares destinados ao programa de escolarização das populações rurais africanas na década de sessenta do Séc. XX que foi concebido e desenvolvido sob o lema "Levar a Escola à Sanzala". Este conjunto de obras foi cedido para digitalização, na sua maioria, pelo Dr. Amadeu Castilho Soares.
Colecção do Arquivo Histórico de S. Tomé - Espécimens de um vasto acervo fotográfico e arquivístico existente no Arquivo Histórico de S. Tomé. Desta vasta colecção foram digitalizados um número muito reduzido de fotografias e fichas de arquivo de modo a tipificar a riqueza daquele património.Foi ainda digitalizado o livro Le main d' oeuvre a S. Thomé et à l'Ille du Prince, onde são apresentados os extractos da conferência que ocorreu em 11 de Fevereiro de 1911 sobre o tema.
Colecção do Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CESA) - Colecção de Artigos e Estudos Científicos do Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa
Colecção do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - Esta colecção, neste momento com catorze obras, foi cedida para digitalização pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (Portugal). Estas obras versam sobre matérias de diversos ramos da engenharia civil com enfoque especial na realidade dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, particularmente Angola e Moçambique.
Colecção do Museu do Dundo (Companhia de Diamantes de Angola / Diamang) - Colecção de publicações culturais do Museu do Dundo, Companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG). A sua publicação iniciou-se em 1946.
Colecção João Vário - João Vário é um dos pseudónimos de João Manuel Varela que nasceu na cidade do Mindelo, ilha de S. Vicente, em Cabo Verde a 7 de Junho de 1937, local onde veio também a falecer em 7 de Agosto de 2007. Utiliza ainda os pseudónimos Timóteo Tio Tiofe e ainda G. T. Didial.
Floras de Cabo Verde - Neste momento estão disponíveis cinquenta e três títulos pertencentes a esta colecção.
História Geral de Cabo Verde - Colecção de três livros publicada pelo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) com a História geral de Cabo Verde. Estão disponíveis em formato digital os três volumes. O Vol III está esgotado.
Plantas Medicinais da Guiné-Bissau - Livro com uma colecção de floras medicinais da República da Guiné-Bissau.
Esta obra (que está esgotada) foi cedida à Memória Digital pela AD - Acção para o Desenvolvimento (Guiné-Bissau) e pela ACEP - Associação para a Cooperação entre os Povos (Portugal).


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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3804: Historiografia da presença portuguesa (17): A Exposição Histórica da Ocupação: A Guiné (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P3877: Em busca de... (66): Sérgio Nuno procura camaradas de seu pai, da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Guiné 1967/69

1. Mensagem de Sérgio Nunes Rodrigues de Oliveira, filho do nosso camarada Reinaldo de Oliveira Pereira, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Guiné 1967/69, com data de 9 de Fevereiro de 2009:

Ex.mo Sr. Luís Graça,

Antes de mais, os meus parabéns pelo seu blog, que demonstra uma grande iniciativa e um ponto de encontro de grande valor entre ex-combatentes.

Venho ao seu contacto, no sentido de lhe pedir ajuda, dado que o meu pai foi militar na Guiné e, volvidos todos estes anos, continua sem ter tido qualquer contacto posterior com ex-companheiros da altura da guerra colonial.

Em conversas diversas mostrou grande interesse em voltar a encontrá-los, todavia, não tem contactos actualizados que lho permitam fazer.

Desta forma, decidi assumir eu esse papel, sem que ele saiba, para lhe poder proporcionar a agradável surpresa de voltar a encontrar os seus companheiros de então.

Gostaria de saber se me poderia ajudar, dando o contacto de alguém que tenha estado no mesmo batalhão e companhia, ou se sabe de algum encontro regular que seja feito.

Assim, para que me possa ajudar, os dados do meu pai são:

- fez parte do Batalhão de Caçadores 1912, Companhia 1686 ("Os feras da Guiné")
- a missão foi entre 1967/69.
- era Soldado Condutor
- chama-se Reinaldo de Oliveira Pereira (creio que conhecido por "bigodes")
- é da zona de Ourém

Desde já agradeço a sua ajuda.
Com os melhores cumprimentos,
Sérgio de Oliveira


2. Mensagem enviada ao nosso amigo Sérgio Nuno em 11 de Fevereiro de 2009:

Caro Sérgio Nuno
Obrigado pelas suas palavras.

Com respeito a encontrar camaradas de seu pai, procurei na página do nosso camarada Jorge Santos, que possui uma secção de Ponto de Encontro, e encontrei um ex-militar da CCS do Batalhão de Caçadores 1912. Trata-se de José Cachochas com o telemóvel 961 662 942.

Tente com ele, porque acontece, às vezes, organizarem encontros a nível de Batalhão e a malta da CCS é vocacionada para procurar ex-camaradas.

Entretanto vou fazer circular o seu pedido pela nossa tertúlia e vou publicá-lo também no nosso blogue.

Do que souber dar-lhe-ei conhecimento.

Dê por favor um abraço ao seu pai do camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Mensagem enviada à Tertúlia no mesmo dia:

Caros camaradas
Mais um pedido nos chegou para ajudarmos a encontrar camaradas.

Desta vez mais um filho de um camarada se nos dirigiu para encontramos pessoal da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, onde o ex-Soldado Condutor Reinaldo Oliveira Pereira (Bigodes) esteve integrado.

Pedimos a quem tiver informações o favor de nos enviar a nós ou directamente ao nosso amigo Sérgio Nuno, filho do nosso camarada.

O nosso obrigado
Um abraço
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)

Guiné 63/74 - P3876: Tabanca Grande (116): Luís F. Moreira, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)


1. Mensagem de Luís F. Moreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72, com data de 1 de Fevereiro de 2009:

Antes de mais um grande agradecimento pelo trabalho feito ao serviço de todos aqueles que perderam um pedaço da sua juventude na guerra. Muito obrigado.

Depois de algum tempo já consegui entrar em contacto com o genro do João Antão da minha Companhia e já enviei 3 fotos. Vou procurar manter o contacto e troca de informações.

Aproveito para enviar também para a nossa caserna três fotos, que me parece ter algum interesse a quem passou por BULA. A capela do Batalhão, o Monumento que deixamos em memoria dos nossos mortos e a equipa de futebol do grupo de Pete (um destacamento da CCaç 2789).

Enviarei depois as duas minhas para pertencer à grande Caserna.

Um Abraço a todos
Luís Moreira
Ex-Fur Mil Trms
CCaç 2789/BCaç 2928
BULA
1970/72





2. Mensagem de CV para Luís Moreira em 2 de Fevereiro

Caro Luís
Já há muito que te consideramos como um dos nossos tertulianos. Cá esperamos as tuas fotos da praxe para as publicarmos com estas que agora mandas. Manda também um pequeno texto a falar de ti, enquanto Fur Mil da CCÇ 2789, contemporânea da minha CART 2732.

Reparei que o teu endereço é diferente do que tínhamos cá registado. Queres actualizar?

Um abraço dos editores e da tertúlia.
Carlos Vinhal


3. Mensagem de Luís Moreira dirigida ao Blogue em 9 de Fevereiro

Caro Carlos Vinhal.
Desculpa só agora te responder, mas o tempo foge. Mudei de facto o mail.

Precisava de ajuda em duas coisas.

1ª – Não sei procurar o quadro onde constam as fotos da praxe do pessoal da caserna.

2ª - Fiz um comentário a um escrito do António Matos, sobre o levantamento de minas em vésperas de sermos rendidos em Bula, em Julho de 1972, mas não consegui que ele aparecesse, depois de o ter visionado. Agradeço ajuda nesse sentido se possível. Anexo as duas fotos da praxe.


4. Mensagem enviada em 11 de Fevereiro

Caro Luís Moreira
Cá recebi as tuas fotos que vou publicar na nossa série Tabanca Grande.
Não sei se já estás livre das tuas obrigações profissionais, para poderes contar-nos algumas histórias da tua passagem pela Guiné. Se tiveres algum tempo manda-nos os teus escritos e fotos a acompanhar.

Com respeito à fotogaleria da tertúlia, tem que ser o Luís Graça a resolver. Como o tempo dele é limitado, está complicado dar saída ao problema.

Vamos lá ver se consigo à distância fazer com que insiras comentários.

Eis os passos:

1 - Abrir a janela dos comentários e escrever a mensagem, não esquecendo de no fim mencionar o nome

2 - Na janela de Verificação de palavras, escrever as letras que aparecem por cima

3 - Escolher a Identidade "Anónimo", que é a última opção. Não é preciso ter conta no Gmail

4 - Carregar em publicar a mensagem.

Há-de aparecer a confirmação de que o comentário foi aceite e vai ser publicado, o que normalmente acontece em poucos segundos.

Se de todo não conseguires, envia-me os textos que eu insiro por ti.

Aguardando notícias tuas, deixo-te um abraço.
Carlos Vinhal


5. Informação complementar para o camarada Luís Moreira.

As fotos da tertúlia podem ser vistas em http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3868: Tabanca Grande (115): Carlos Jorge Pereira, ex- Fur Mil Inf Op Inf (CPO 6 e COP 3, 1972/74)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

1. Mensagem do Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref, que foi Ten Pilav na Guiné (Bissalanca, BA12, 1972/74), e o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido por um míssil terra-ar SAM 7 Strela (com um l) (*), sob os céus de Guileje, em 25 de Março de 1973.

Caro Luís:

Não conheço o Jorge Caiano (**) - o que é natural, visto que a nossa estadia na Guiné não coincidiu no tempo.

Mas conheci o Francisco Lopes Manso, de quem se pode dizer que era um bom amigo.
O Francisco era do meu curso de saída da Academia Militar (e, claro, do António Matos) e frequentámos juntos o curso de pilotagem em T-37 (na Base Aérea nº 1 - Sintra), curso esse iniciado em Outubro de 1968.

Por motivos pessoais, que nunca pretendi aprofundar, o Francisco pediu para passar ao quadro de complemento durante o referido curso (isso terá ocorrido em meados de 1969).

A nossa vida separou-se nessa fase, pois enquanto eu completava o meu tirocínio no T-37, o Francisco foi colocado na Base Aérea nº 3 (Tancos) onde, em devido tempo, foi brevetado no AL-III, como oficial miliciano. Mais tarde foi colocado na BA12 [Guiné, Bissalanca], cerca de 2 meses antes da sua morte.

Sendo seu amigo, tive a oportunidade de estar presente no seu casamento, cerca de um mês antes do seu embarque para a Guiné. Naturalmente, a morte do Francisco Lopes Manso tocou-me profundamente, não só pela amizade que nos ligava como pela confirmação dos receios que o seu pai me confidenciou no dia do casamento do filho, ao considerar pouco prudente este enlace nestas condições. (...)

Um abraço

Miguel Pessoa

__________

Notas de L.G.:

(*) A propósito da grafia do vocábulo Strela, eis a nossa troca de correspondência recente:

9 de Fevereiro de 2009:

Miguel: (...) Fica uma dúvida: por que é que a malta (incluindo a FAP. o teu camarada António Matos, os historiadores, etc.) sempre utilizou a grafia "Strella" (com dois ll) em vez de "Strela"... Tenho dois alunos russos, médicos, vou-lhes pedir ajuda... De facto, na bibliografia e sitografia em inglês aparece SA7 SAM 7 Strela...

Um Alfa Bravo. Luís

11 de Fevereiro de 2009:

Caro Luís:

Estive em Santana (perto de Sesimbra) em absoluto lazer, desde domingo, tendo regressado hoje. Lá não disponho de acesso à Internet, motivo porque só agora respondo - confesso que agora sou mais lesto a ver o correio!

Quanto à grafia do Strela isso, provavelmente, só mostra o pouco que sabíamos do bicho... E com dois "ll" sempre parece mais estrangeiro! (Sinceramente não me lembro)

Ah! Gostei da apresentação do texto. Ficaria satisfeito se estes artigos já publicados pudessem ir elucidando alguns camaradas menos informados sobre o papel da Força Aérea no conflito.

Um abraço
Miguel Pessoa


___________

Miguel:

Tive hoje a oportunidade de confirmar, com a minha aluna russa, Galina Shirokova, que é médica, casada com um português. Escrevi-lhe a palavra em russo стрела e de imediato ela traduziu-a, soletrou-a e confirmou a minha transliteração para português: flecha, strela (só com um l). Vamos ter que rever os textos anteriores, aqui já publicados, e em que surge a palavra "Strella" (com dois ll)... [De qualquer modo, esta solução stá de acordo com a norma seguida pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo, no que diz respeito à transliteração de russo para português: Vd. entrada na Wikipédia]

Folgo em saber que estás em forma e estás a gostar de blogar...

Um abração
Luís

(**) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

O Victor Barata também reproduziu este poste no seu blogue:

Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009 > 780 O CAIANO FALOU COM O LUIS GRAÇA.

(...) Sobre o acidente do Allouette III ocorrido na Guiné em 25 de Julho de 1970,diversas versões já foram apresentadas e discutidas. Surge-nos agora,através do Luís Graça,o depoimento do Jorge Caiano, Esp MMA, mecânico e tripulante de um dos Helis que voava em formação com o acidentado, o depoimento de quem viveu o sinistro (...).

Guiné 63/74 - P3874: Blogoterapia (90): Natal é quando o Homem quiser (Santos Oliveira)

1. Nem sempre a Noite de Natal é noite de Natal para todos os Homens. Quando Santos Oliveira(*) se preparava para uma Noite de Natal solitária, surgiram-lhe sinais de que o Homem, que é um ser necessitado de afectos, também é capaz de os partilhar.

Depois de uma longa conversa telefónica entre mim e o nosso camarada Oliveira, este propôs-se falar de um acontecimento que tinha remetido para a gaveta do silêncio.

Fez-se ruído, do bom, e assim vamos ver como alguém, lá longe, na diáspora, se lembrou daquele Furriel que há dezenas de anos o tinha marcado, positivamente, para sempre.

Lembremos o que dizia, ao que julgamos, um homem simples, mas sincero, num comentário que fez no Poste 3544(**):

Senhores

Quando cheguei ao Cachil este era o furriel que já lá estava com um pequeno grupo de homens e três morteiros.

Foi o furriel que punha sempre os soldados à sua frente, conversava, falava, jogava, aconselhava e fazia a vigilância da mata, por eles.

Pareciam todos felizes quando os novos por lá ficavam tristes e sozinhos. Muitos de nós acabaram no jogo da lerpa e na cerveja.

Este furriel também tinha sempre um conselho para nós. Poucas vezes o vi festejar ou a beber com os outros furriéis e alferes da minha Companhia.

Este era o furriel que depois de cada ataque vinha saber de posto em posto, como estávamos e dizia-nos que já tinha terminado tudo, que esta já se tinha passado e outras coisas. Tinha sempre uma palavra que nunca ouvimos dos nossos alferes ou furriéis.

Para mim é um grande homem como um pai, porque me ajudou e aos meus companheiros. É o furriel que não dava ordens. Explicava e ensinava e os soldados faziam tudo sem serem precisas ordens.

Este furriel, se quisesse alguém para o seguir numa patrulha para morrer, tinha sempre mais voluntários do que se fosse para um rancho melhorado. Quando se foi embora nunca mais nos sentimos seguros. Só éramos mais experientes.

Estou a morar na Bélgica, não tenho internete, mas há uns portugueses companheiros mais novos do trabalho que têm e vão deixando ver essas coisas da tropa do meu tempo.

Desejo que o senhor Oliveira seja muito feliz, porque também me fez feliz.
Soldado Carvalho



2. Falemos então da última Noite de Consoada do nosso camarada Santos Oliveira. Melhor, vamos lê-lo.

DAS EXPECTATIVAS À REALIDADE, NA NOITE DE NATAL DE 2008

Estamos quase no Carnaval, mas só agora recebi concordância para fazer este relato.

Não sonhei grandes expectativas para o meu Natal deste Ano. Seria um dia como os demais. Fisicamente, mais solitário, mas que qualquer eremita criaria ambiente e capacidade de o viver no silêncio imaginário das festas e das multidões.

A M. Júlia, esposa e mãe, viajou para as Ilhas Britânicas com a finalidade de acompanhar a nossa filha e netos pelo Natal e Ano Novo. Um de nós (teria) terá de ficar. É uma alternância que praticamos com alguma naturalidade. Necessidades intransponíveis foram acontecendo e nos obriga a estas escolhas.

Neste Ano, porém, nos dias que antecederam a Noite de Paz, recebi solidariedade de metade do Mundo. Foi muito gratificante.

Na noite de 24 de Dezembro, desde a confecção da Ceia solitária, até muito além dela, os Companheiros, os Amigos, os Irmãos, estiveram comigo em permanência, interromperam as suas próprias Refeições, convivência e festas de Família, fazendo tudo para que me não sentisse só. E eu, verdadeiramente, não estava só, porque todos os que ao longo dos dias foram manifestando essa solidariedade, estavam presentes.

Significativas e de destacar, as Comunicações do Carlos Silva, Fur Mil Armas Pesadas/ At , da CCAÇ 2548, (Jumbembem, 1969/71) e Júlio Pinto, 2.º Sarg Milº da CART 1769, (Angola, 1967/69); aos restantes, que alongariam a vasta lista, as minhas desculpas de os não nomear. Mas, a todos, o meu sincero agradecimento.

Já muito próximo da meia-noite, o telefone volta a tocar. Sentia-me muito cansado, mas feliz. Do outro lado, uma voz singularmente simples perguntava se eu era o Furriel Oliveira que esteve no Cômo em 64. Disse que sim e, então, do outro lado veio a identificação: era o A.Carvalho. Ver poste > (Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (80): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira).

Acho que fiquei sem fôlego, paralisado, com o coração aos saltos, mudo… Não sabia pensar. Não possuía discernimento. Foram momentos que ficarão PARA SEMPRE, dentro de mim.

Então o meu amigo Carvalho, em palavras simples, incrivelmente belas, pediu que não fizesse alarido à volta do seu nome; que havia sido os companheiros que quase o obrigaram a (re)dizer e que escreveram por ele. Efectivamente, num dos dias tinha sido o Sentinela que tomou conhecimento da nossa ida à Orla da Mata e dois dias depois estava de Plantão no mesmo Posto. Que ouviu umas coisas acerca dum lenço, mas nunca tinha percebido bem. Ao ler o que escrevi, entendeu tudo.

E o que os companheiros escreveram, foi como ele havia desabafado; que quando voltar a Portugal, nos visitará. Preferiu (pediu) que não soubéssemos o seu endereço, até porque se ausentava muito da Empresa; mas não perderá o contacto. Ainda trabalha, mesmo com os seus 66 anos. Mais não devo revelar a fim de manter a promessa solene feita nesta NOITE DE NATAL que eu jamais irei esquecer.

Ao Carvalho, e a todos os que longe do Portugal que defendemos e amamos, os meus Votos muito especiais de um 2009 e que a sorte os traga de regresso à nossa Terra que nos viu nascer. As maiores Felicidades.

Um abraço fraterno, do
Santos Oliveira
__________

(*) Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66

(**) Vd. poste de 30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3851: Blogoterapia (89): Ninguém tem razão sozinho, viva o debate e o abraço (José Brás)

Guiné 63/74 - P3873: Histórias da Guerra: o soldado e a jornalista (V. Briote)


Op "Ostra Amarga"

área de Bula. 16 de Outubro de 1969.

Depois de desembarcar dos Allouettes, uma patrulha das NT composta por dois GrComb, acompanhada por jornalistas franceses da ORTF e do Paris-Match, interna-se no mato.

Uma operação de rotina, como tantas outras.

Um grupo da guerrilha, acidentalmente na zona, apercebe-se da presença da tropa. Rapidamente monta uma emboscada.

A patrulha é subitamente atacada com foguetes e rajadas de tiros. Dois soldados são atingidos por uma roquetada. Um fica despedaçado, o outro perde uma perna e esvai-se em sangue perante a impotência dos camaradas que pouco podem fazer.

Um outro ferido teve mais sorte. O capitão J. Sentieiro, comandante da patrulha pede evacuação. Os helis chegam, as macas metem o morto, o ferido grave e o ligeiro e partem para Bissau, rumo ao HM241.

No trajecto, o ferido grave não resiste e morre.

Spínola, acompanhado pelo ajudante de campo, Maj Almeida Bruno, chega de heli à zona. Inteirado da situação pelo Ten Cor Alves Morgado, que acompanhava a patrulha, regressa a Bissau enquanto a patrulha recolhe a Bula.



À noite, com os ânimos mais recompostos, os militares convidam os jornalistas para o jantar. Entre estes, uma linda parisiense, de pouco mais de 20 anos, ainda não recomposta do susto brutal.

Depois de banho tomado, a mademoiselle terá envergado um vestido simples e leve, de acordo com os calores da Guiné. Quando o soldado com a travessa a servia, primeiro que todos, terá reparado que a linda francesa ainda era mais linda sem soutien. Não aguentou a travessa. Na altura pesou-lhe demais, entornou-a na mesa e no vestido.

As imagens do jantar não estão aqui. Estão outras desse dia. Uma pequena homenagem àqueles homens.

__________

Notas de vb:

Sobre a Operação Ostra Amarga, vd. postes de:

13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

1. Mensagem de António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*) , com data de 30 de Janeiro último:

Caro amigo: Junto te envio o que se me oferece dizer sobre o post3811 do Nuno Rubim.Como verás, colei-lhe o texto que considerava ser o último sobre o tema Guileje.Podes juntá-los, separá-los ou mesmo mandá-los para o lixo, a tua decisão será sempre a correcta.Uma coisa é certa, para mim este assunto está definitivamente encerrado.

Um abraçoAntónio Martins de Matos



2. A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21) (**) > A arte de comunicar
por António Martins de Matos

(Edição: L.G.]

A arte de comunicar, não sendo difícil, nem sempre é fácil. Vem isto a propósito do poste P3811 do Nuno Rubim (***).

Desde já peço desculpa se por qualquer modo o ofendi, longe de mim tal intenção, mas parece-me que não estamos na mesma sintonia.

Ambos procuramos contribuir para o escrever da História mas temos visões bem diferentes sobre a maneira de a construir.

Pela minha parte, não pretendo ser um historiador, baseio-me no que vivi e em alguns documentos, (o livro A retirada de Guileje e a minha Caderneta de Serviço Aéreo são dois deles), ouço, leio, apresento dúvidas, exponho ideias e opiniões pessoais alicerçadas em factos confirmáveis, por vezes até posso especular (quando o faço, digo-o), mas sei separar o trigo do joio, o facto da opinião, como felizmente muita gente que tem esta nefasta tendência de usar a cabeça para pensar.

Segundo as suas próprias palavras, NR, mergulhado nas questões históricas, pretende ser o científico, apoiado (só?) no documento, “embora possa admitir que ele seja duvidoso ou mesmo falso” (as palavras são suas).

Parece-me bem o rigor científico só que, como Frei Tomás, não se coibe de desenvolver uma teoria empírica sobre o modo como a artilharia do PAIGC estaria disposta no terreno, quando do ataque a Guileje, explanando ideias pessoais não alicerçadas em factos que sejam positivamente confirmáveis, validando-a tão só pelo facto de alguém (com interesse no assunto) lhe ter dito “que tinha sido tal e qual”.

Sejamos lúcidos e usemos a tal nefasta tendência, tão do desagrado do NR.

Chegaremos à conclusão de que:

(i) O PAIGC tem obrigatoriamente de defender a tese de que cercava o Guileje.

(ii) Nunca pode admitir que os seus ataques possam ter sido desferidos da fronteira.

(iii) Reconhecer esta hipótese significa transformar a grande vitória em algo sem valor
.


Ao ler o post3788 do Manuel Reis (****), eis que também eu partilho a seguinte questão:

- Será por essa razão que o Nino Vieira e o Com Logístico manifestaram desconforto quando questionados sobre o ataque e o próprio comandante do sector acabou por ser fuzilado? (Não estou a especular, estou a questionar).

Não é minha intenção comentar ponto por ponto a resposta do NR, o que originaria a resposta da resposta da resposta, e por aí a diante.

Digo apenas que as dúvidas e comentários que apresentei continuam por resolver.

No fundo, e separando o essencial do acessório, a questão que nos divide pode resumir-se à discussão de duas teorias, uma que refere a implementação das posições de artilharia do PAIGC durante o ataque a Guileje dentro do nosso território, a outra que acredita que ela estaria na fronteira.


Uma delas está errada, resta saber qual.

Lendo tudo o que ultimamente foi publicado sobre este tema, os leitores, mais uma vez usando a tal nefasta tendência de pensar, poderão tirar as suas conclusões.

Por último, LG, deixa-me colar neste ponto o email que te mandei há uns dias e que diz:

Dizem os historiadores que quando se faz uma análise de um determinado acontecimento é necessário separar o que são os factos ocorridos, das interpretações, dos meros comentários e das nem sempre isentas opiniões.

A não observação desta regra pode dar origem à validação de acontecimentos baseados em meros rumores ou à construção de falsas teorias baseadas apenas em suposições.

O livro do Cor Coutinho e Lima contém a maior parte da informação necessária para uma análise do que aconteceu, mas deve ser lido com algum cuidado pois contém igualmente comentários e interpretações que ao longo do texto se contradizem, apresentados tão só como sendo a sua visão, ditados pelo seu coração.

Os nossos amigos A, B, C, D, ... que viveram e sentiram na carne o que se passou em Guileje, já expressaram as suas visões sobre o tema.

Os meus posts (3737, 3752 e 3778) apresentaram o Guileje “visto de cima” (*).

Também eles e eu podemos ser acusados de sermos pouco objectivos ou mesmo tendenciosos, apenas referindo o que nos interessa, omitindo a restante informação.

Agora é a vez dos que, insatisfeitos com as várias versões existentes, queiram analisar e reflectir sobre toda esta informação entretanto acumulada.

Ao contrário da opinião de muitos dos nossos amigos, estou absolutamente convicto que devem ser os que não estiveram em Guileje que podem fazer uma análise crítica dos acontecimentos, pela simples razão que poderão fazer esse estudo com a cabeça e não com o coração.

Necessitam tão só de ter uma visão neutra, isenta, sem ideias pré-concebidas nem paixões demagógicas, analisando passo a passo o que foi dito, escrito, registado, validando o que se provou e rejeitando liminarmente o que se prove ser mera fantasia.

Trinta e seis anos passados, não se pretende encontrar culpados ou inocentes, só se procura o registo do que efectivamente se passou.

Aos que “já estão fartos do tema Guileje”, devo lembrar que este episódio foi um dos mais significativos da guerra, com repercusões dramáticas ainda hoje não completamente digeridas.

Só assim se fará a História.

Para mim este assunto está encerrado.

António Martins de Matos

3. Comentário do Nuno Rubim (em 30 de Janeiro último):

Luis: Como bem diz o A.M.M., também para mim o assunto está encerrado. Rebateria várias das afirmações que ele produziu pois, como ele próprio reconhece, não é historiador e, assim sendo, temos pois uma visão muito diferente sobre a abordagem da temática em causa. Nuno Rubim

4. Mensagem enviada, em 31 de Janeiro último, pelo editor ao António Martins de Matos:

António: Para teu conhecimento. O Nuno já me tinha dito que não iria comentar mais nada, em público, no blogue. Vou portanto publicar apenas o teu texto. Obrigado pela informação que tens trazido e que nos ajuda a esclarecer melhor o papel dos bravos de Bissalanca... Até agora só tínhamos a intervenção do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil heli, e do Victor Barata, melec (autor do blogue: http://especialistasdaba12.blogspot.com/). Um Alfa Bravo. Luís
___________

Notas de L.G.:

(*) Foi Comandante Operacional da FAP entre 2003 e 2005 e Comandante Logístico em 2006, passando à reserva a quando da nomeação do actual Chefe do Estado Maior.

Vd. postes anteriores do António Martins de Matos:

14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)

17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

(***) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Vd. também postes de:

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Hélder Sousa)


1. Mensagem de Helder Sousa (*):

Caro amigo e camarada [, Luís Graça, ] não precisas agradecer.

Vou procurar com mais minúcia mas acho que será difícil porque esse Destacamento [, de Copá,] não pertencia às Unidades do Batalhão do autor do livro [, Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp] e, em princípio, o livro [No Ocaso da Guerra do Ultramar,] retrata como que a história da sua Unidade [CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74]. Mas, realmente, não custa procurar.

Em todo o caso, e partindo do princípio de que toda aquela dramática história é verdade (e não tenho razões para duvidar), deve ter sido uma situação bem constrangedora, com o pessoal em grande desorientação, configurando de facto uma situação de deserção, tanto mais que alguns ficaram no quartel, e depois a grande felicidade de ter aparecido, mesmo na hora (ou será que tiveram conhecimento superior do que se estaria a passar?) a ordem para a desactivação, originando toda a operação de dissimulação do sucedido, com o regresso dos militares ausentes ao seu quartel, em operação de escolta de camaradas de outra Unidade.

É verdade que aqui faltam complementos: como é que os que ficaram em Copá receberam os regressados; como é que tudo (ou quase tudo) ficou no segredo dos deuses.

Pois lá será mais uma das situações peculiares em que o T.O. da Guiné foi fértil. Angústia, desespero, heroísmo, camaradagem, sangue, suor, lágrimas, etc.

Um abraço
Hélder Sousa


2. Mensagem anterior do editor L.G.:

Helder: Obrigado pela tua iniciativa. Sabemos pouco de Copá. Foste muito oportuno. O livro [, No Ocaso da Guerra do Ultramar,]tem alguma foto de Copá ? Há referências ao destacamento de Mareué, a leste de Copá, e que também foi abandonado na mesma altura ? Se souberes mais coisas, apita. Um abraço. Luís

3. Comentário de L.G.:

Sabe-se que António Rodrigues (o protagonista do livro O Princípio do fim) era soldado condutor auto, tendo sido mobilizado para a Guiné em 1973, através da 1ª Companhia do Batalhão nº 8323. Encontrava-se entre o pessoal que teve de abandonar o destacamento de Copá em 14 de Fevereiro de 1974.

Natural de Gondizalves, a três quilómetros de Braga, e a viver actualmente no Porto, o António Rodrigues terá feito um relato (manuscrito) sobre a sua experiência militar, com destaque para os meses mais dramáticos que passou em Copá, até ao abandono daquele destacamento pelas NT. Esse relato terá sido facultado a Benigno Fernando (n. 1960, em Massarelos, Porto) que o redescreveu e publicou (O Princípio do Fim, Porto, Campo das Letras, 2001). Formal e legalmente, o Benigno é que é o autor do livro...

Um sobrinho do António Rodrigues, de seu nome Rui Alves, garantiu-nos que "o [soldado] condutor Antonio Rodrigues existe mesmo, alias, é meu tio... A família é de Braga mas ele reside actualmente no Porto. Para qualquer contacto que por acaso alguém queira fazer, deixo o meu e-mail: rui_alves_52@hotmail.com".

Seria interessante (e sobretudo importante) o António Rodrigues (ou o sobrinho, Rui Alves) poder entrar em contacto connosco. O próprio Fernando de Sousa Henriques ( telemóvel 919 534 059; mail: fernando.sousa.henriques@gmail.com), engenheiro, a viver actualmente em Ponta Delgada, poderá também eventualmente esclarecer algunas das nossas dúvidas. L.G.
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Em busca de... > 3 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3833: Em busca de... (64): Militares do BCAÇ 3872, Guiné 1971/73 (Luís Borrega)

(**) Sobre Copá, vd. postes de:

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste

Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(... ) Referência ao vídeo da televisão francesa, a antiga ORTF, disponível em INA - Institut National de l' Audiovisuel

GUINEE : LA GUERILLA AU GRAND JOUR MAGAZINE 52 ORTF - 04/07/1974 - Video 12m 32s / DVD 3 €

Guiné 63/74 - P3870: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (14): As minas e o seu poder destruidor


1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (, Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2009:

Aqui vai mais um texto da CCaç 2402 a iniciar os relatos da sua permanência no Olossato. Vai dividido em duas partes para ser mais rápida a sua leitura e não se tornar pesado, mas fica ao vosso critério parti-lo em dois posts ou não.

Um abraço para vós editores e um bom fim de semana.
Raul Albino


História da CCaç 2402 durante a sua permanência no Olossato

Julho de 1969 - Minas e seu Poder Destruidor (GMC)


Figura 1 – Picagem em terreno firme. A viatura rebenta-minas vem atrás.

Figura 2 – Picagem em terreno alagado. Parece que estão à pesca. E, de facto estão, só que não é de peixe.

Figura 3 – Mina AP (antipessoal) de petardo único e detonador, feita em madeira. Esta, por acaso, está bem conservada. Agora imaginem um objecto destes enterrado em terreno húmido há já algum tempo, meio apodrecida ou semi-decomposta pelo efeito das célebres formigas dos baga-bagas. Removê-las, mais do que um acto de coragem, é um acto de loucura.

Figura 4 – Mina AC (anticarro) semi-apodrecida. Como estará ela por dentro? Já não rebenta de todo ou estará prestes a rebentar.

As minas utilizadas na Guiné pelo inimigo, quer fossem anticarro ou antipessoal, eram, quase na sua totalidade, feitas de madeira, com um ou mais petardos de trotil no seu interior, accionadas por um detonador local. Tudo muito simples, barato e eficiente.

Uma mina AP era pequena (figura 3), do tamanho da palma da mão, só tinha um petardo no interior da sua caixa de madeira, mais do que suficiente para destruir uma perna a quem a pisasse, como foi o caso do nosso Major do BCaç 2851 em Mansabá.

A mina AC (figura 4) era maior como poderão ver nas fotos que acompanham este artigo e o seu poder destruidor variava entre seis a doze vezes o poder de uma AP.

A principal dificuldade que se nos deparava com estas minas era que, sendo elas feitas de madeira, não possuindo qualquer peça de metal na sua construção, os detectores de minas existentes na época não conseguiam detectá-las, tendo as nossas tropas de recorrer a métodos tão primitivos como as próprias minas, ou seja, efectuar uma picagem como a que vemos nas fotos, à frente das viaturas, esperando dar com elas antes da passagem dos camiões, neutralizando-as ou levantando-as após a sua detecção. Podem observar a dificuldade acrescida da sua detecção na época das chuvas.

O levantamento de uma mina AC tinha ainda um risco acrescido, é que ela podia estar armadilhada para que, quem tentasse levantá-la, causar com esse acto o seu rebentamento. Isto só deveria ser feito por pessoal especializado, como acontecia na generalidade.

A outra consequência deste tipo de minas, era fazer com que uma coluna de camiões se deslocasse à velocidade com que a equipa de picagem progredia, ou seja, muito lentamente e sem uma garantia absoluta da eficiência da picagem.

Por essa razão a viatura da frente da coluna, devia ser um veículo pesado, reforçado com sacos de areia para aumentar o seu peso, de modo que, em caso de rebentamento, o veículo não fosse projectado pelo ar, causando danos superiores aos causados se o veículo permanecesse no solo.

Esse veículo deveria transportar de preferência só o condutor, para em caso de acidente não causar muitas baixas. Era chamada a viatura rebenta-minas. A primeira fotografia deste artigo parece contradizer tudo aquilo que eu acabei de afirmar, porque a viatura vem cheia de militares empoleirados na cabina do condutor, a substituir os sacos de areia. Um bom exemplo daquilo que não se deve fazer, mas por vezes a necessidade, a escassez de transportes, ou inconsciência e falta de autoridade de quem chefia a coluna, pode estar por detrás de casos destes.

Muitas vezes o azar dita as suas leis mesmo aos mais cautelosos e o rebentamento duma mina pode ser accionado pela segunda viatura ou terceira e não pela primeira.

A 4 de Julho de 1969, coube a uma coluna de reabastecimento da nossa companhia, a infelicidade de accionar uma dessas minas AC causando a destruição completa de uma viatura GMC como podem observar pelas fotografias anexas.

Em termos de baixas humanas a nossa sorte não podia ter sido maior. O condutor da viatura, segundo o relato dum camarada de armas, era o Cabo Lopes, que sofreu ferimentos ligeiros, possivelmente por ter sido cuspido da cabina. Não posso precisar se mais alguém terá sido ferido.

A escolha do condutor da viatura rebenta-minas era feita por lista entre todos os condutores operacionais, porque, como é óbvio, não havia voluntários.

Neste mesmo dia e cerca de mil metros à frente do local onde rebentou a mina que desfez a GMC, foi encontrada outra mina que a imagem abaixo apresenta.

Como podem ver não existe nada de mais rústico, mas extremamente destruidor para as nossas viaturas em particular. Se considerarmos que naquela altura as nossas tropas possuíam poucos camiões operacionais, sempre sujeitos a avarias, com grande dificuldade de obtenção de peças de reparação, podemos imaginar o drama que nos causava estes incidentes.

Nesta foto que vemos acima, está a mina instalada no local onde o inimigo a colocou. Deparava-se-nos duas opções para resolver o problema: rebentar a mina no local ou removê-la da posição em que se encontrava.

Possivelmente porque a solução de rebentá-la no local, sempre a primeira opção a considerar, não se mostrou adequada à situação, foi tomada a decisão de levantar a mina, missão essa que coube ao Alferes Silva, que nesse dia integrava a protecção à coluna e possuía a especialidade de Minas e Armadilhas, tal como o narrador, que sou eu.

Na fotografia abaixo, vemos o Alferes Francisco Silva, também conhecido por Alferes Chico, em plena actividade de remoção da mina, após uma pesquisa prévia da existência ou não de armadilha anti-levantamento, utilizando neste caso a faca de mato para sondar.

Para quem não acompanhou os meus relatos sobre a CCaç 2402, é relevante informar que este meu companheiro de armas, Francisco Henriques da Silva, veio mais tarde a desempenhar a função de Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau num período particularmente conturbado da vida deste jovem País.

Como podemos ver nesta fotografia, temos pelo menos um espectador curioso a cerca de um metro do Alferes Silva.

Mais uma vez o bom senso e obediência às regras de segurança foi escamoteado. A destruição da GMC acontecida poucos minutos antes, não foi o suficiente para vencer a curiosidade e inconsciência deste mirone militar. Terá ele sequer imaginado o que lhe aconteceria se a mina tivesse rebentado durante a sua remoção? Vimos como ficou a GMC, não é difícil calcular como ele ficaria. Se ele estivesse a ajudar nalguma coisa, mas não, estava simplesmente a observar.

A única baixa aceitável, num hipotético rebentamento, era o elemento encarregado da remoção por inerência da sua especialidade, qualquer outra baixa a existir, implicaria sérias responsabilidades para o comandante da coluna.

Imagens da destruição da GMC







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Nota de CV

Vd. último poste da série de 30 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3156: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (13): Actividade da CCAÇ 2402 em Mansabá

Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)



1. Em mensagem de 6 de Fevereiro de 2009, Libério Lopes(*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos a História da sua Unidade.






COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 526

HISTÓRIA DA UNIDADE

MOBILIZAÇÃO E EMBARQUE PARA O C. T. I. G.


Reuniu-se pela primeira vez, no Regimento de Infantaria n.º 7 o pessoal desta Companhia, no dia 8 de Abril de 1963, sob o comando do Sr. Capitão AGOSTINHO DA COSTA ALCOBIA. Sendo constituída por homens vindos de quase todos os recantos do País, na maioria pertencem à Beira Litoral e Douro Litoral.

A 12 de Abril de 1963, entrou o pessoal no gozo de licença regulamentar, tendo o comando da Companhia passado, a 23 de Abril, para o Sr. Capitão LUÍS FRANCISCO SOARES DE ALBERGARIA CARREIRO DA CÂMARA.

A 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «INDIA», embarcou juntamente com o Comando dos Batalhões de Caçadores n.º 506, 507, 599, e 600.

Desembarcou em BISSAU a 8 de Maio de 1963.


Navio India

Foto retirada do site Navios Mercantes Portugueses, com a devida vénia



ESTADIA EM BISSAU

Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em BRÁ. Ainda neste período, a 29/5/63, partiu um pelotão para CATIÓ, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam. Regressou a 28/6/63.


ENTRADA EM SECTOR

A 1/7/63, partiu a Companhia para o sector Leste ficando a depender do Batalhão de BAFATÁ.

Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2 constituída pelos Regulados de BADORA, XIME, COSSÉ, CABOMBA e CORUBAL (parte Norte).

O Comando da Companhia ficou instalado em BAMBADINCA, tendo sido destacado um pelotão para XIME, nesse mesmo dia 1 de Julho.

A 15JUL63, outro pelotão da Companhia seguiu para o XITOLE em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5AGO63.

Em 26AGO63, assumiu o Comando da Companhia o Sr. Capitão HELDER JOSÉ FRANÇOIS SARMENTO em substituição do Sr. Capitão CARREIRO DA CÂMARA.

Aquartelamento do Xime

Foto: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
Edição de CV



ACTIVIDADE OPERACIONAL

No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»; «INGLÊS - JAN64»; «MARTE - FEV64»; «BALA - MAR64»; «VAI À TOCA - NOV64»; «BRINCO - DEZ6» e «FAROL - JAN65».

Fora do sub-sector, actuou:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; «ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»; «MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; «PATON - AGO64».

No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas.

A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a LESTE de XIME e levar os bandos de terroristas a refugiarem-se nos matos.

Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN. Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros. Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos.

Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um Jeep e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados. As 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população,

A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.


AÇÇÃO PSICOLÓGICA

a) Sobre as NT

Sem necessidade de qualquer doutrinação e quase que instintivamente, todo o pessoal soube compenetrar-se da honrosa missão que estava cumprindo, não se poupando a quaisquer sacrifícios, antes pelo contrário, mantendo um elevado moral tanto mais contagiante quanto mais difíceis eram as situações. Revelou a Companhia uma nítida compreensão da acção do Comando, nunca criando o mais pequeno problema que dificultasse o árduo trabalho que havia a executar.

b) Sobre as populações

Ao entrar em sub-sector, reinava entre as populações um clima de excitação, nervosismo e temor agravado com as recentes flagelações do IN sobre elas.

Em face de tal estado de coisas, foi de primordial importância incutir-lhes confiança, mostrar-lhes que à custa da protecção das NT poderiam enfrentar o IN. Esse trabalho foi coroado de êxito ao fim de alguns meses e, já cheias de confiança, são armadas a seu pedido, passando a acompanhar-nos em operações e defendendo elas mesmas as suas casas, terras, culturas e haveres. Os seus anseios e aspirações realizaram-se ao serem-lhes distribuídas 900 espingardas para auto-defesa.

Plenamente crentes da eficácia da nossa protecção, criam em si mesmas um espírito tal de auto-confiança que as leva a efectuarem um movimento de regresso às antigas tabancas pela reocupação efectiva das terras que lhes pertenciam. E assim é que foram reocupadas com a nossa colaboração 7 tabancas abandonadas há cerca de dois anos.

c) Sobre o IN

Devido à permanente actividade operacional, o IN, ao princípio, audacioso e agressivo reduziu a sua acção, acabando por abandonar zonas que já julgava sob o seu controle.

O resultado desse trabalho exaustivo pode bem traduzir-se nas palavras do Comandante de Batalhão, ao referir-se, em ordem de serviço, ao espírito ofensivo, decisão e desembaraço da Companhia dizendo: «..... que a levou a avançar sem temer o perigo, com tal entusiasmo e tal combatividade que até lhe ficou a fama de que o próprio IN a olhava com admiração e temor».


ACÇÃO SOCIAL

Teve particular relevo a assistência sanitária às populações que diariamente eram atendidas no Posto de Socorros da Companhia e nas visitas às tabancas.

Além de importâncias em dinheiro, roupas e alimentação, forneceu-se transporte para escoamento de produtos agrícolas em zonas que ofereciam menor segurança pela proximidade com o IN.


DISCIPLINA

a) Recompensas

Neste capitulo há a referir:

- Menções especiais do Ex.º Comandante Militar pela actuação da Companhia - 3

- Louvores conferidos pelo Ex.º Comandante Militar - 27

- Louvores de Comando de Batalhão - 31

- Louvores de Comando de Companhia - 4

b) Punições

Houve 22 punições de detenção e 5 de prisão.

Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)

Guiné 63/74 - P3868: Tabanca Grande (115): Carlos Jorge Pereira, ex- Fur Mil Inf Op Inf (COP 6 e COP 3, 1972/74)

1. Mensagem de Carlos Jorge Pereira, ex-Fur Mil de Inf Op Inf, Guiné 1972/74, com data de 6 de Fevereiro de 2009:

Amigos:
Nome: Carlos Jorge Lopes Marques Pereira
Posto: Furriel Miliciano de Informações e Operações de Infantaria.
P.U. : Guiné 01Jun72 a 01Jun74
Local : Mansabá, Bigene e Guidaje.

Trabalhei inicialmente durante cerca de 3 meses no COP 6 até ser extinto.
Em seguida fui colocado no COP 3 em Bigene onde fiquei até ao final da comissão.

Trabalhei directamente sob as ordens dos Comandantes do Comando nomeadamente com:
Sr. Cap. Jaime Simões da Silva (Cmdt interino por morte do Maj. Mariz)
Sr. Major Jaime Frederico Mariz Alves Martins.
Sr. Coronel António Valadares Correia de Campos
Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon da Costa Campos

Coordenei o departamento de Informações criando uma rede de informadores locais e senegeleses.

No departamento de Operações planeava todas as operações do sector e coordenava, juntamente com o Comandante, as operações especiais.

Em 08 de Maio de 1973 fui juntamente com o Sr. Cor Correia de Campos para Guidaje na primeira coluna que consegui passar e o comando passou ser exercido no local.

Regressámos a Bigene na primeira coluna que consegui passar (08Abr) a fim de evacuarmos os feridos.

Tantas outras coisas teria para contar, mas fica para mais tarde.

Obrigado
Carlos Jorge

P.S. Peço desculpa mas não sei como se enviam fotos pelo computador.

Parada do aquartelamento de Mansabá

Foto: © José Mendonça (2009). Direitos reservados
Edição e legenda de CV



2. Comentário de CV:

Caro Carlos Jorge, como tu, chamo-me Carlos, estive em Mansabá e conheci bem o senhor Coronel Correia de Campos.

Bem-vindo ao nosso Blogue, teu a partir de agora, onde vais, concerteza, contar as peripécias vividas por ti naquela terra africana que nos marcou definitivamente.

Quanto às fotos da praxe, é pena que não tenhas ainda conhecimentos suficientes para as mandar, mas um dia destes vais aprender. A informática, no campo do utilizador, é muito fácil. Nós os mais velhotes é que complicamos um pouco.

Quando quiseres, começa a mandar as tuas histórias, que poderás escrever directamente no corpo da mensagem que nós cá trataremos de as editar e publicar.
Como diz o nosso Editor Luís Graça, não deixes que sejam os outros a contar aquilo que tu próprio sentiste e viveste.

O COP6 foi reactivado em Novembro de 1970, em Mansabá e, quando saí de lá (FEV72) para terminar a minha comissão de serviço uns dias depois em Bissau, ainda existia, se bem me lembro. Julgo que pouco tempo depois chegaste tu a Mansabá.

Durante algum tempo foi comandante do COP6, em Mansabá, o então Ten Cor Correia de Campos. Depois diz-me se estou certo.

Caro Carlos, estás apresentado, podes começar a trabalhar.
Recebe um abraço da Tertúlia.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)