quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)

Guiné-Bissau > Região do Boé > Madina do Boé (?) > 24 de Setembro de 1973 > Imagens da cerimómia da proclamação da independência por parte do PAIGC, na presença de convidados e imprensa estrangeira, segundo a revista PAIGC Actualités, n º 54, Outubro de 1973.



1. Comentário de Luís Graça ao poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8
Uma pergunta para a qual ainda não encontrei resposta:

(i) As autoridades portuguesas (e em especial o Com-Chefe e a nossa polícia política, a DGS) sabiam que, no dia 24 de Setembro de 1973, o PAIGC iria proclamar unilateralmente, com pompa e circunstância, a independência, numa região libertada, a sudeste, neste caso na região do Boé, perto da fronteira com a República da Guiné-Conacri...

(ii) Gostava de saber em que sítio exactamente teve lugar a cerimónia da independência... (Alguém conhece as coordenadas? ).

(iii) A movimentação de pelo menos 120 representantes do Partido, mais os convidados estrangeiros, mais os dirigentes, mais as forças de segurança (não falando dos figurantes...) não poderia facilmente passar despercebida à FAP, que de resto tinha voltado a ser dona dos céus da Guiné...

(iv) Por que é que a FAP não actou nesse dia, sob os céus do Boé ? Não para provocar um massacre de civis (incluindo estrangeiros, o que poderia ter graves repercussões diplomáticas...) mas para afirmar a nossa soberania ou, pura e simplesmente, como prova de força...

O Nº 54 da revista PAIGC Actualités não fornece quaisquer dados para uma resposta a esta questão. Era um órgão de propaganda (ideológica), não de informação (jornalística)... para consumo externo. Obviamente.

Há tempos, (...) conheci o Eng Mário Cabral, que pertenceu ao primeiro governo da Guiné-Bissau, saído da declaração de independência em Madina do Boé. O nome dele e o cargo são, resto, referidos neste nº do PAIGC Actualités, de Outubro de 1973: Eng MÁRIO CABRAL, Sub-Comissário para o Controlo Económico e Financeiro...

(...) O Mário Cabaral (que não tem qualquer parentesco com o Amílcar Cabral nem o Luís Cabreal) é hoje um dos muitos quadros guineenses que viVE fora do seu país natal. Neste caso vive em Portugal. (...).

Na conversa que tive com ele, ...) ele contou-me que estava em Madina do Boé e da preocupação dos militares do PAIGC em relação à segurança. O ambiente era de festa, havia decorações penduradas nas árvores, havia muitas centenas de pessoas espalhadas pela mata, havia muitas mesas e cadeiras, etc., nada que não se visse do ar...

Ele na altura era um jovem, engenheiro, um quadro do exterior (julgo que nunca andou na guerrilha), e compreensivelmente não se sentiria muito confortável num lugar como aquele, num país em guerra...

O que poderia ter acontecido, se a nossa Força Aérea tivesse recebido ordens para bombardear as posições do IN, no dia 24 de Setembro de 1973 ?

Na altura não tive tempo de fazer essa pergunta ao Mário Cabral... Mas gostava de a fazer hoje, a ele, e outros dirigentes e militantes do PAIGC, ainda vivos, que viveram esse momento histórico...

E, já agora, os nossos pilotos... O que diz as suas cadernetas de voo nesse dia ? (...)

2. Idem, do António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Catió, 1972/4):


Eu também não entendo porque a Força Aérea não actuou. A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? Na altura eu soube que um mês depois da proclamação da Independência, o general Bettencourt Rodrigues foi de héli a Madina do Boé, até levou um jornalista alemão que fez uma reportagem. Não encontraram rigorosamente ninguém. (**)

Escrevi isso no meu Diário e há dois anos atrás em conversa com o Cap Mil, José Blanco, secretário pessoal do Spínola e do Bettencourt (1972/74), o meu velho amigo José Blanco confirmou-me que era mesmo verdade, o Bettencourt tinha ido mesmo a Madina do Boé, de héli.Talvez os nosso homens da Força Aérea possam acrescentar mais dados.

Um abraço,

António Graça de Abreu

________
´
Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3847: (Ex)citações (15): São momentos destes em que nos tresmalhamos nos carreiros e nas neblinas cobrindo as bolanhas (Mário Fitas)


(**) Vd.Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, p. 16~6.

Cufar, 6 de Dezembro de 1973

O governador, general Bettencourt Rodrigues, foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos [, em 6 de Fevereiro de 1969,] pelas NT, devido à ausência de interesse estratégico da região no extremo da sudeste da Guiné.

O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC ter usado aquela 'zona libertada' para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária.

Também é verdade que não encontraram vivalma na antiga povoação do Boé, destruída pela guerra em anos passados. Onde estavam os heróis do PAIGC que declararam a independência da Guiné em Madina do Boé ? Talvez não estivessem longe, mas ninguém os viu ?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

1. Mensagem de José Carmino Videira Azevedo (*), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71), com data de 21 de Janeiro de 2009:

José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança.

Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"

Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.

Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor.
Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que
ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra.

Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma.
Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:

- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.

Obrigado meu amigo onde quer que estejas.

Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009


2. Comentário de CV:

Caro José Carmino, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.
Peço desde já desculpa pelo tempo que demorei em publicar a tua apresentação, mas houve uma mensagem minha para ti a que não respondeste e daí esta confusão.

O nosso Editor Luís Graça disse-me que falaste com ele via telefone. Soube assim que és autarca na tua freguesia, que és um periquito nestas coisas dos computadores e que tens na memória, presentes, muitas histórias para nos contares.

Adivinhas que estou a falar da tristemente célebre Operação Ostra Amarga.
Dizes também que estavas por perto quando da carnificina dos nossos camaradas Majores e seus acompanhantes, mortos cobardemente, pois não considero um acto de guerra matar pessoas indefesas. Foram assassinados, é o termo.

Sendo assim, esperamos que comeces a narrar os acontecimentos em que intervieste, para que conheçamos, cada vez com mais pormenores, os casos mais marcantes da guerra da Guiné. Cada um de nós é uma pequena peça deste gigantesco puzzle que nos cabe montar.

Deixo-te o abraço de boas-vindas da ordem, em nome da Tertúlia que te acolhe de braços abertos.

Ficam agora as fotos que nos enviaste.

José Carmino Azevedo > Bissalanca

José Carmino Azevedo > Bolanha de Biombo

Bula

José Carmino Azevedo > Bula

José Carmino Azevedo > Bula > Parada

José Carmino Azevedo > Nhacra
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53): José C. Videira Azevedo, Sold. Cond. CCav 2487/BCav 2868 (Bula, 1969/70).

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

Guiné 63/74 - P3907: Bibliografia de uma guerra (42): Escritor Combatente: "A Geração do Fim" (Mário Beja Santos)

1. Parte de uma mensagem de Mário Beja Santos, com data de 16 de Fevereiro de 2009 dirigida ao nosso Editor Luís Graça:

Meu caro Luis,
[...]
É só para te lembrar que no dia 18 de Fevereiro, pelas 16 horas, tem lugar na Livraria-Galeria Municipal Verney mais um debate do ciclo "Escritor Combatente".

Desta feita, trata-se da obra "A Geração do Fim", de 21 oficiais de Infantaria do curso de 1954/58. Se não tiveres aí a imagem, por favor, diz-me para eu ta mandar. Em 23 de Maio, pelas 15.30 horas, no ciclo de encontros dedicados à temática da guerra colonial, vou participar na apresentação dos nossos livros na Biblioteca Municipal de Alverca. Qualquer dia, com completa surpresa, e com autorização da Lourdes Teixeira da Mota, envio-te o relato do ataque a São Domingos, em 1961, por malta da FLING.

Um grande abraço do Mário


2. Comentário de CV

Sobre este evento foi publicado pelo nosso camarada Virgínio Briote o P3629 (*), de que destacamos:

ESCRITOR COMBATENTE: O FIM DO IMPÉRIO

Em Oeiras, em 2009, na Livraria-Galeria Municipal, Rua Cândido dos Reis, 90, no Centro Histórico de Oeiras, galeria.verney@cm-oeiras.pt
Tel: 21 440 83 91/2;


Às terceiras quartas-feiras de cada mês, de Janeiro a Maio de 2009, às 16h00.

Estacionamento com entrada pela Av. dos Combatentes em Oeiras.

Por iniciativa do Núcleo de Oeiras da Liga dos Combatentes (ligadoscombatentesoeiras@clix.pt), tel. 214 430 036, e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.

Serão realizados os seguintes encontros:

(ii) 18 de Fevereiro de 2009:
A Geração do Fim, de 21 oficiais de Infantaria do Curso de 1954/1958, com o Tenente-Coronel José Aparício e o Coronel José Parente.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3629: Bibliografia de uma guerra (41): Escritor Combatente: Encontros em Oeiras (Manuel A. Bernardo / V. Briote)

Guiné 63/74 - P3906: Expedição Humanitária 2009 (4): 25 toneladas de ajuda, 897 caixotes, 22 expedicionários... E obrigado, povo meu (José Moreira)

1.Mensagem do José Moreira, presidente da Associação Memórias e Gentes, com sede em Taveiro - Coimbra (*):

[Negritos do editor, L.G.]

Caro camarada Luis Graça,

Com muita mágoa, ainda não foi possível, relatar no 'nosso' Blogue, a envolvência desta Associação na mobilização de imensos parceiros, que comungam connosco nestas campanhas de solidariedade para com o povo da Guiné. Todos, mas mesmos todos, estamos altamente empenhados para que esta missão seja mais uma vês um êxito.

É esta a razão do nosso silêncio, pois o trabalho tem sido imenso.

Já estamos mais tranquilos, pois o contentor marítimo com 25 toneladas já está em Bissau (finalmente!).

Desde Novembro passado, nós, as nossas mulheres, filhos e netos, assim como gente anónima, fizemos a triagem e encaixotamos 897 caixotes de: brinquedos, roupa para bebé, criança, adolescentes e adultos, calçado para os mesmos grupos etários, muito material didáctico, legos, livros de histórias, contos, romances e alguns escolares, roupa de hospital, material hospitalar, soros diversos, medicamentos e ainda material para, finalmente, Bissau ter um parque infantil (este ano levamos um escorrega completo, novinho em folha, 2 tabelas de basquete e um baloiço duplo, pois para o ano queremos continuar a apetrechar o mesmo).

A expedição deste ano parte de Coimbra já no próximo dia 20 (6ª Feira), às 9 horas, do Largo da Portagem em Coimbra.

Dos 22 expedicionários [, incluindo a malta da Tabanca de Matosinhos,], uma vez mais, vão senhoras.

Para já é tudo!

Só quero expressar o meu reconhecimento ao povo a que eu pertenço, de ser tão solidário. BEM-HAJAM a todos, o povo, sobretudo as crianças da Guiné, agradecem.

Recebe um abraço,

José Moreira

Nota - A maior parte dos bens hospitalares vão, na sua maior parte, para o sul: Quebo, Fulacunda, Buba, Catió e uma aldeia de nome Capiane (Catió), onde surgiu o primeiro surto de cólera 2008 (é a 1ª vez que esta zona vai ser contemplada); claro que levamos também outros bens.

2. Comentário de L.G.:

José (que eu ainda não tenho o grato prazer de conhecer pessoalmente, e dar o Alfa Barvo apertado, ao vivo, que tu mereces pelo teu trabalho solidário):

Gostaria, no fim desta expedição, no regresso, de ler e dar a ler (através do blogue) as tuas notas, as tuas emoções, as alegrias de quem leva um pouco de consolo e de conforto aos guineenses, homens, mulheres e crianças, pais, educadores, professores...

Sei que não vais ter rempo para te coçares, mas podes pedir a alguém que leve um caderninho de viajante e vá tomando umas notas (horas, lugares, pessoas, actividades...), além da máquina fotográfica. Tiramos muitas fotografias...mas depois não pomos (ou não sabemos pôr) as legendas...

Em suma, um pequeno diário da tua expedição... É bom para ti, para a tua associação, para os teus expedicionários/as, para os teus/vossos futuros colaboradores, etc. Daqui a uns anos, encostas às 'boxes' e é preciso continuadores...

Não basta fazer, e saber fazer, e fazer bem, como só tu sabes fazer... Permite a minha opinião: também é preciso saber mostrar aos outros (cá e lá, nos nossos blogues, nas nossas páginas...) o que fazemos (muito com tão pouco) e como fazemos (bem).

Aceita esta dica: arranja um(a) expedicionário(a) que seja calmo(a), organizado(a) e observador(a) para esta tarefa... No final da viagem, podes mostrar, a todos nós, as alegrias (e as canseiras) da viagem. E se quiseres partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, tanto melhor.

Boa viagem, camarada. E que Deus/Alá te proteja. A ti e ao resto da equipa e da equipagem (máquinas incluídas)... Se passares pelo Xime, Amedalai, Bambadinca, Mansambo, Xitole, Saltinho... parte mantenhas com os meus queridos nharros da CCAÇ 12 (1969/71) onde eu fui, noutra encarnaçãO, o Furriel Henriques... Tem também, se puderes, uma palavra de compaixão para com todos os mortos, de morte matada, naquela guerra, que se transformaram em irãs, bons e maus, povoandos poilões de Madina Colhido ao Poindon, da Ponta do Inglês ao Fiofioli... A todos os guineenses, leva sobretudo uma palavra de esperança e de confiança.

Um Alfa Bravo. Luís

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3902: Expedição Humanitária (3): Mensagem do Pepito para o Paulo Santiago, o Zé Moreira, o Xico Allen e o Julião Sousa

16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8

IV (e última) parte da revista mensal PAIGC Actualités, nº 54, Outubro de 1973, um número histórico de que nos foi enviado uma cópia, digitalizada pelo nosso amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro, mais conhecido na Tabanca Grande como o pira de Mansoa.

O Eduardo foi Fur M Op Esp na CCS do BCAÇ 4612 (Guiné, 1974). Como ele gosta de recordar, foi o útimo português a arrear, em 9 de Setembro de 1974, a última bandeira portuguesa no antigo CTIG, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.



As páginas 7 e 8, agora transcritas, foram traduzidas do francês para português pelo Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, os Tigres de Cumbijã (1972/74). (*)







Militante nº 1 do nosso PARTIDO e fundador da nação, AMÍLCAR CABRAL - inspirador e dirigente de todas as mudanças e realizações efectuadas no nosso país durante os últimos dezassete anos, tinha anunciado a 31 de Dezembro de 1972, na sua mensagem de ano novo ao nosso povo e aos novos combatentes, um acto transcendente da história do nosso povo :


O NASCIMENTO DO NOSSO ESTADO SOBERANO
















Foto ( a toda a largura das pp. 7 e 8) (legenda): "Fiéis á memória imortal do nosso Partido, os 120 representantes legítimos do nosso povo completam a tarefa daquele que está nas origens de todas as nossas vitórias".

"No decurso do corrente ano e logo que possível e achado conveniente, reuniremos a Assembleia Nacional Popular da Guiné, para cumprimento da primeira missão histórica de que foi incumbida: a proclamação do nosso Estado, a criação de um executivo para esse Estado e a promulgação de uma lei fundamental - a primeira Constituição da nossa história- que constituirá os fundamentos da vida activa da nossa nação africana.

"Quer isto dizer: Representantes legítimos do nosso povo escolhidos pelas populações e eleitos livremente por cidadãos conscientes e patriotas do nosso povo:servirá para afirmar perante o mundo que a nossa nação africana forjada na luta, está irreversivelmente decidida a caminhar para a independência, sem esperar pelo consentimento dos colonialistas portugueses, e que portanto baseado neste princípio, o Executivo do nosso Estado, será sob a direcção do nosso Partido, o PAIGC, o único, verdadeiro e legítimo representante do nosso povo face a todos os problemas nacionais e internacionais que lhe digam respeito.

"Da situação de colónia que dispõe de um movimento de libertação, cujo povo já libertou durante os dez anos de luta armada a maior parte do território nacional, passamos à situação de um país que dispõe do seu próprio Estado e que tem uma parte do seu território nacional ocupado por forças armadas estrangeiras.

"Esta mudança radical na situação do nosso país corresponde à realidade concreta da vida e da luta do nosso povo da Guiné, baseando-se nos resultados concretos da nossa luta, e tem o apoio firme de todos os povos e governos africanos, tal como de todas as outras forças anti- colonialistas e anti - racistas de todo o mundo.

"Enquadra-se nos princípios da Carta das Nações Unidas e nas resoluções adoptadas por esta organização internacional, nomeadamente na sua XVII sessão.

"Nada, nenhuma acção criminosa ou manobra ilusionista dos colonialistas portugueses impedirá que o nosso povo africano senhor do seu próprio destino e consciente dos seus direitos e deveres, dê este passo transcendente e decisivo em direcção ao objectivo fundamental da nossa luta: a conquista da independência nacional e a construção, na paz e na dignidade reconquistadas, do seu verdadeiro progresso, sob a direcção exclusiva dos seus próprios partidários e sob a bandeira gloriosa do nosso Partido.

«...Futuramente, com a evolução da nossa luta, criaremos igualmente a primeira Assembleia Nacional Popular nas Ilhas de Cabo Verde. A reunião conjunta dos membros destes dois organismos formará a Assembleia Suprema do povo da Guiné e de Cabo Verde".


Total apoio dos Países não-alinhados ao movimento de libertação nacional

O nosso camarada Aristídes Pereira, secretário geral do Partido, assistiu á quarta Conferência magna dos Países não alinhados que teve lugar em Argel de 5 a 9 de Setembro. O nosso dirigente foi indicado para usar da palavra em nome dos movimentos de libertação africanos.

A conferência dos chefes de Estado e dos governos dos países não alinhados, ao tomarem conhecimento que o nosso Partido vai em breve proclamar o Estado da Guiné Bissau, pediu aos estados membros do movimento dos não-alinhados, que apoiem política e diplomaticamente o nosso Estado, logo que este seja proclamado.


PAIGC ACTUALITÉS - Boletim de informação editado pela Comissão de Informação e Propaganda Comité Central do PARTIDO AFRICANO PARA A INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E CABO VERDE. Correspondência: C.P. 298 - Conacri (República da Guiné) - C. P. 2319 - Dacar (Senegal)
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

2 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2

5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3846: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (2): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 3-4

10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3864: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (3): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 5-6

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)


1. Duas mensagens do nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil (Bissalanca, BA12, 1968/70), que por razões de saúde tem andado arredado do nosso blogue e do nosso convívio (*):

(i) O Piloto Aviador Ramos

Caro Luís:

A minha saúde não tem andado como se pretende, por isso nem vontade tenho para ligar o PC.

Espero nas próximas semanas voltar ao convívio dos tertulianos de Matosinhos.

Escrevo para informar, foi-me transmitido por telefone, que num programa RTP, Domingo 15, falaram do Blogue e passaram o meu vídeo Nha Bolanha.

O Piloto é o Ramos,com o indicativo "quiri-quiri", se não estou em erro. Foi com bastante alegria que o revi. Desde "aqueles tempos" que não lhe punha a vista em cima. (**)

Obrigado pelo momento.

Um abraço Jorge Félix

(ii) O Melec/AV Jorge Caiano e o corta-fogo do AL III
Caro Luís:

Isto é um vício, depois de começar a ler não pude parar, mesmo com um certo custo. O Jorge Caiano era um menino, como todos nós, que me deu o privilégio de acompanhar naqueles ares de Bissau. Um enorme abraço de saudade para ele. (***)

Num almoço que tive em inicio de Janeiro com o Coelho falou-se nele e aí fiquei a saber que não tinha falecido algum "mecânico especialista", como se escreve por outros sítios da Blogosfera.

A alavanca de gás que se refere no email, deve ser "corta fogo"; nunca tinha ouvido falar ser esta a razão do acidente.

Aproveito para mandar um abraço ao Jorge Caiano.

Quando melhorar vou procurar as fotos do almoço com o Coelho e envio-as para o Blogue.

Desculpa, a minha cabeça também não está bem. Isto há-de melhorar. Até lá.

Um abraço, Jorge Félix


Reunão de convívio de antigos pilotos que passaram por Bissalanca, BA12 (1968/70) > 29 de Novembro de 2008 > O Jorge Félix, o primeiro da primeira fila, à esquerda, mais um grupo de camaradas, todos antigos pilotos da FAP que passaram pela Guiné de 1968 a 1970. Escreve ele: "Segue uma foto, arrancada no último 29 de Novembro de 2008, com um grupo de pilotos que voaram pelos ares da Guiné nos anos de 68/69/70. Alguns dos nossos tertulianos devem conhecê-los, com um pouco de esforço e 40 anos em cima. Eu, o Duarte e o Coelho voavam helis. Os restantes voavam T6 e o Nico também voava Fiats, ou para os mais puristas, era piloto de Fiats e também voava T6". (****)

Foto: © Jorge Félix (2008). Direitos reservados.


2. Comentário de L.G.:

Jorge: Tens direito ao teu silêncio. Só é pena é que o silêncio (bloguístico) te seja imposto, por más razões... A gente não se esquece de ti... Ou faz por isso. Mas a gente também vai fazer força para que recuperes rapidamente a energia vital e a vontade de te sentares, à sombra do nosso poilão, e de te pores de novo a cavaquear com a malta, a começar pela rapaziada da Tabanca de Matosinhos... (Presumo que não tenhas lá aparecido, aos almoços de 4ª feira).

Obrigado pela atenção que, mesmo assim, ainda consegues dispensar às nossas blogarias. Acabei agora mesmo de falar com o Jorge Caiano, que ficou muito sensibilizado pelas tuas palavras que eu fiz questão de lhe ler, de viva voz, antes de as publicar... Não imaginas o bem que as palavras às vezes nos fazem, quando ditas ou escritas pelos amigos que estão longe....

O Jorge descobriu, com muita alegria, o nosso blogue (bem como o do Victor Barata), através de um antigo fuzileiro, seu vizinho e amigo. Está há 35 anos no Canadá. Não vem há 4 a Portugal. Tem filhos e netos. Trabalha numa empresa metalomecânica que fabrica linhas de montagem para a indústria automóvel. Uma multinacional. Vive perto de Toronto, como eu já tinha dito. Tem amigos, como o José [Alberto] Jorge, que conhece a minha família da Lourinhã, e que é do meu tempo de infância e de adolescência , embora não o veja há 40 (Estive agora mesmo a fakar com ele). De facto, vivemos numa aldeia global.

E já agora o Jorge Caiano também me disse que ia agora passar uma semana de férias na República Dominicana, com a esposa... Tem muitas saudades da Guiné, de Bissalanca, da malta fixe da BA12... Prometeu-me mandar mais umas fotos da época. Insistiu em dizer que andou muito nos helis com o Coelho, mas que também se lembra de ti...
Em relação ao trágico acidente que vitimou o Manso (mais o capitão do exército e os quatro deputados), ele não quis entrar em muitos mais pormenores, mas faz questão de dizer que ainda viu uma "chama" no interior do heli... Explosão ? Não pode dizer que sim, nem que não.... Por falta de tempo, não esclareci com ele a questão, por ti levantada, do "corta-fogo"... Não percebo nada de helis... Um dia, com mais tempo e vagar, voltaremos ao assunto. Votos de rápidas melhoras, para ti. Boas férias, para o Caiano. Um Alfa Bravo. Luís

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série:

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

(**) Vd.poste de 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)

(***) Vd. postes de:

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3891: FAP (11): Jorge Caiano, ex-Melec/AV, BA12, 1969/70, reconhecido por Augusto Ferreira

12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(****) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P3903: A Compª de Cmds do CTIG, 1965/66. Artigo do General Garcia Leandro na Revista Mama Sume. V. Briote



Cópia da capa da Revista Mama Sume, Revista da Associação de Comandos. Revista nº 69, 2ª Série, Janeiro a Junho de 2008. Preço €5.


Sumário da Revista Mama Sume.


Com os nossos agradecimentos e a vénia devida ao General (R) Garcia Leandro, autor do artigo que transcrevemos a seguir e ao Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos.



A Companhia de Comandos do CTIG e o seu final


A minha passagem pela Companhia de Comandos do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) deu-se entre 20 de Fevereiro e 30 de Junho de 1966, sendo o seu Comandante quando se procedeu ao seu encerramento.
Todo este processo de uma enorme responsabilidade para um Capitão com 25 anos foi depois absorvido por uma vida muito activa e diversificada pelo que raramente falo dele.

Só agora, General reformado e com 68 anos, venho fazê-lo por grande insistência do Lobo do Amaral, para que escreva para a excelente Revista “MAMA SUME”, e pelo apoio, grande amizade, memória e documentação do Virgínio Briote, na altura Alferes Miliciano, Comandante do Grupo de Comandos “Diabólicos”.


A necessidade de fazer a reconstituição histórica


Devo responder a este desafio que é também uma obrigação face à necessidade de ajudar à reconstituição histórica dessa época e dessas Forças Especiais. Acresce que se estes testemunhos vividos não forem dados, ninguém saberá o que passou, até porque esta Companhia foi criada por decisão do CTIG, embora com conhecimento do EME.

Será preciso fazer o enquadramento histórico e explicar a sua sequência pessoal e na Guiné. Tendo eu de trabalhar com a Companhia e na sua recuperação estrutural e operacional em situações de grande risco, tinha também de o fazer com o QG do CTIG, com o qual me relacionava directamente.

Os meus problemas residiram essencialmente aqui. Eram tempos muito difíceis para todos. Com muito entusiasmo conseguiram-se resolver muitos problemas, outros foram esquecidos, mas a história toda só a conheci muito tarde. Depois desta introdução é preciso contar os factos, que aparecem completamente claros no meu Relatório de Posse de Comando e no Relatório Final que o Briote guardou e que serviram de apoio para este texto.


Como surgiram os GrsCmds na Guiné

Os Comandos na Guiné nasceram em 1964 com o Major Correia Diniz e com o Centro de Instrução que arrancou em 23 de Julho, dentro de Brá, então com um grande Campo Militar. O processo era copiado do de Angola, que em 1963 tinha o Centro de Instrução de Comandos na Quibala do Norte.

Em finais deste ano, um grupo de Oficiais e Sargentos do CTIG esteve em Angola para conhecer como se deveria montar toda esta máquina de instrução e operacional. Em princípios de 1964 já os primeiros Comandos da Guiné tomaram parte na Operação Tridente na Ilha do Como.



Na Quibala do Norte, Angola.

Em Angola, em 1963, os Batalhões enviavam para aquele Centro de Instrução efectivos de praças superiores ao de Pelotão que depois do período de instrução e selecção regressavam ao seu Batalhão como Grupo de Comandos de cinco equipas com cinco elementos cada, comandadas por um subalterno e quatro sargentos, para aí serem empregues em operações de maior dificuldade.
Nessa época, na minha primeira Comissão, ainda Oficial Subalterno, no decorrer de uma operação estive cerca de 15 dias na Quibala do Norte, tendo acompanhado essa construção progressiva de que eram responsáveis o Major Santos e Castro e o Capitão Ribeiro de Oliveira. Tal conhecimento e vivência ficaram sempre como minha referência.

Na Guiné tentou-se fazer o mesmo, só que a diferença de efectivos e do Teatro de Operações não permitia o regresso do pessoal à sua unidade de origem.
Assim, após o período de instrução no terceiro trimestre de 1964 com o apoio de pessoal vindo de Angola (o Grupo de Comandos “Os Gatos” do BART 400, comandados pelo Alferes Valente), criaram-se três Grupos de Comandos (Camaleões, Fantasmas e Panteras), no Centro de Instrução de Comandos (CIC), comandado pelo Major Diniz, e que eram empregues à ordem do Quartel-General.


Um processo com enorme fragilidade

Este processo tinha, entre outras, uma enorme fragilidade, pois sendo o pessoal que integrava cada Grupo de Comandos de diferentes Batalhões e Companhias, acontecia que em todos os navios de rendição de tropas havia pessoal que regressava a Lisboa.

Como consequência, os Grupos nunca mantinham grande estabilidade, havendo também a necessidade de realizar mais Cursos para que os efectivos se pudessem manter. Os que davam maior permanência eram os militares oriundos de própria Guiné.

É de lembrar que, tanto em Angola, como na Guiné e depois em Moçambique, antes do levantamento das Companhias de Comandos a partir de 1966 em Lamego, estas Forças eram apenas da responsabilidade dos Comandos Militares locais.

Mesmo depois do início da actividade do CIOE, os Centros de Instrução de Comandos do Ultramar não vieram a encerrar. O CIOE formou Comandos para o CTIG e RMM, enquanto que o CIC/RMA veio a instruí-los para Angola e Moçambique.


A extinção do CIC e o nascimento da CCmds do CTIG

Em meados de 1965 o Major Correia Diniz terminou a sua comissão tendo sido substituído pelo seu Adjunto, Capitão Varela Rubim. Nesta altura o QG decidiu extinguir o Centro de Instrução de Comandos e criar a Companhia de Comandos do CTIG com data de 1 de Julho.

Isto teve uma grande consequência de fundo, correspondendo a uma alteração estrutural e de emprego. Dentro desta lógica era comandada por um Capitão com um Alferes Adjunto mas sem apoio de “staff”. Ele era tudo, num comando com responsabilidades muito acima de uma Companhia normal. Difícil de compreender, mas verdade.

Com o Capitão Varela Rubim foi criado o segundo conjunto de Grupos de Comandos (Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros), cuja instrução decorreu de Julho a Setembro de 1965, tendo ficado operacionais a partir do princípio deste mês.

As suas primeiras operações não correram bem, a falta de um apoio administrativo e de planeamento operacional de qualidade agravaram a situação tendo levado a uma rotura entre aquele e o QG.

O Capitão Rubim pediu para sair e ser colocado em qualquer outra Companhia tendo sido destacado para Guileje, uma das mais difíceis zonas operacionais de então.
Entretanto, comandava eu a Companhia de Artilharia 640, localizada no sudeste da Guiné e ocupando dois aquartelamentos, Sangonhá e Cacoca.

A CArt 640 tinha chegado em Março de 1964, tendo tido uma vida operacional inicial muito exigente e difícil. Só a qualidade do nosso pessoal, dos seus Oficiais e Sargentos, explica como pôde aguentar.

Eu apresentei-me em Março de 1965, para substituir o Comandante inicial que havia sido evacuado, já com a situação mais estabilizada, tendo a Companhia apresentado bons resultados operacionais.

Pessoalmente, vivendo no mato, estava muito longe de saber o que se passava em Bissau, cidade que conhecia mal, e muito menos com a Companhia de Comandos. A CART 640 regressou a Portugal em Fevereiro de 1966, tendo eu cerca de um ano de comissão de serviço à minha frente.

Em Janeiro fui chamado ao QG tendo falado com o Comandante Militar, Brigadeiro Guerra Correia, e com o 2º Comandante, Brigadeiro Reymão Nogueira, tendo sido convidado para assumir o comando da Companhia de Comandos, com todo aquele tipo de argumentos que se usam nesta alturas a que, com os meus 25 anos, fui sensível. Era então Governador e Comandante em Chefe o General Arnaldo Shultz.

Desconhecendo a situação existente, tendo como referência o processo de Angola, falei com o Capitão Rubim e apresentei algumas condições que foram aceites pelo Comando e QG do CTIG.

Em resumo, as minhas propostas eram as seguintes:

- Não tendo eu o Curso de Comandos, teria de o ir frequentar a Angola;

- Que o pessoal da Companhia de Comandos, não poderia continuar em Brá misturado com o pessoal de outras unidades e vivendo desarranchado; que deveria ter um Aquartelamento próprio perto de Bissau, ou, no mínimo ser criado um aquartelamento próprio dentro de Brá, com possibilidades de confeccionar alimentação para todo o pessoal;

- Que os quatros Grupos existentes deveriam ser recompletados, pois estavam desfalcados, o que obrigava à realização de mais Cursos de Comandos, e outras questões importantes ligadas com instalações, material e equipamento individual e colectivo;

- Que teria de se feito um grande esforço de moralização do pessoal, que com os antecedentes não se encontrava bem;

- Que precisaria de ter, no mínimo, um Adjunto, na altura inexistente, já que os Alferes que eram de qualidade, só se deveriam preocupar com o seu Grupo de Comandos; já não pensando na parte operacional, existia toda a parte administrativa que teria de ser correctamente tratada. A propósito, é de lembrar que tive de mandar confeccionar em Lisboa o Guião da Companhia que não existia.

Quando se olha para esta lista, que apenas contem o essencial, e se faz a sua interpretação, facilmente se percebe que quem a apresentou estava a pensar no médio prazo e de um modo estrutural que permitisse uma consolidação séria.

Depois da minha nomeação, o processo não decorreu exactamente como havia sido combinado. Fiz, quase em simultâneo, a Comissão Liquidatária da CArt 640 e a entrada na Companhia de Comandos, o que não foi simples.
Obviamente que não fui a Angola, tendo as outras questões, com alguma lentidão e dificuldades burocráticas, sido progressivamente resolvidas.

Recebi um excelente apoio do Batalhão de Engenharia 447, que na altura era comandado interinamente pelo Major Gomes Marques.
Fez-se um 3º Curso de Comandos (em Março e Abril) que permitiu algum recompletamento nos efectivos dos Grupos (2 sargentos e 18 Praças) e a actividade operacional foi grande e com resultados progressivamente melhores.

Comandavam então os Grupos de Comandos os Alferes Briote (Diabólicos), Rainha (Centuriões), Caldeira (Vampiros) e Neves da Silva (Apaches), que se encontrava, à minha chegada, em tratamento médico.
Durante este período, realizaram-se 21 operações com um ou mais Grupos, a maior parte com contacto, isoladamente ou em apoio dos Batalhões por toda a Guiné, fizeram-se as primeiras operações helitransportadas, tendo-se conseguido alguns bons resultados operacionais, nomeadamente nas armas que foram capturadas, e com baixas reduzidas da nossa parte.

Entretanto, e com as rendições de pessoal, havia naturalmente a necessidade de realizar novo Curso de Comandos. Quando fiz a proposta, o curso foi-me recusado. Inicialmente pensei que teria sido um lapso, até ao momento que tomei conhecimento que já estavam em preparação em Lamego as novas Companhias de Comandos Reduzidas com destino aos três Teatros de Operações do então Ultramar, sendo duas atribuídas à Guiné.

Em consequência, na perspectiva local, a Companhia de Comandos do CTIG, criada localmente, iria desaparecer natural e progressivamente, à medida que o seu pessoal terminasse as suas comissões e não fossem realizados novos cursos.

Tudo bem, sendo aparentemente a melhor solução e correspondendo ao reconhecimento que os Comandos, nascidos por iniciativa dos responsáveis militares de cada Teatro de Operações, tinham grande qualidade, eram indispensáveis naquele tipo de guerra e deveriam ser sujeitos a uma preparação à escala nacional, com uma adaptação específica ao Teatro de Operações de emprego.

Mal e doloroso, o eu ter sido convidado para aquelas funções quando os responsáveis locais já tinham conhecimento do que parecia ser a solução definitiva que estava em andamento na Metrópole desde finais de 1965, o que me fora omitido.

Teria sido preferível para todos que me tivessem contado logo a história completa, evitando a omissão de dados importantes para quem tinha aceitado assumir aquela responsabilidade. A realidade futura não permitiu que os CIC do CTIG, da RMA e da RMM tivessem deixado de funcionar.

Assim, a Companhia de Comandos do CTIG foi-se reduzindo para dois e um Grupo, até à chegada da 3ª Companhia de Comandos e mais tarde da 5ª, dos grandes combatentes e excelentes Comandantes, Capitães Alves Cardoso e Albuquerque Gonçalves.

O remanescente daqueles quatro Grupos de Comandos foi integrado nos “Diabólicos”, colocado até finais de Setembro em apoio do Batalhão de Mansoa.

Confronto no QG

Lá tive de fazer mais um Comissão Liquidatária, tendo tido um muito violento confronto com os responsáveis do QG devido à omissão que me havia sido feita, que só não acabou mal para mim devido a toda a razão que me assistia.

Recusei qualquer função no QG e terminei esta Comissão como Oficial de Informações do Comando do Sector Sul, com sede em Bolama.
Nunca mais falei no assunto.

Anos mais tarde, já depois de ter sido Governador de Macau, entreguei o Guião daquela Companhia, com destino ao Museu, quando era Comandante do Regimento de Comandos na Amadora o Coronel Júlio Ribeiro de Oliveira, a quem estava ligado por grande amizade pessoal e respeito profissional.

Ao Militar Português


Uma palavra deve ficar registada ao militar português que naquela altura combateu de um modo único e àqueles que me acompanharam na Companhia de Comandos do CTIG, com dificuldades de toda a ordem, acreditando na missão que nos tinha sido dada, que foi vivida com grande entusiasmo e sentido de responsabilidade.

Um agradecimento especial e amigo deve ficar registado para o Virgínio Briote, sem cuja ajuda documental e apoio adicional este texto nunca teria sido feito, e para o General Ribeiro de Oliveira, que com a revisão feita me permitiu apresentar mais rigor histórico na cronologia e eventos da história geral dos Comandos.

Espero que este despretensioso trabalho seja mais uma peça útil para o levantamento da história das Tropas de Comandos que tão bons serviços sempre prestaram a Portugal.

Lisboa, 13 de Setembro de 2008

José Eduardo Garcia Leandro

Tenente-General (R)

__________


Notas de vb: Os sublinhados, bem como o breve cv do General são da responsabilidade do editor

O Tenente-General José Eduardo Garcia Leandro, nascido em 1940, em Luanda, Angola, cumpriu cinco comissões de serviço no ex-Ultramar, sendo duas em Angola, uma na Guiné, uma em Timor como Chefe de Gabinete do Governador de Timor e foi Governador de Macau entre 1974 e 1979.

No âmbito do ensino foi Professor do IAEM e Professor convidado do ISCSP entre 1999 e 2005, para o Mestrado de Estratégia, sendo actualmente Professor da U.C.P., da U.N.L. e da U.A.L., para Mestrados relacionados com a Segurança, Defesa, Paz e Guerra.
Entre as funções que desempenhou salientam-se as de Conselheiro Militar da Delegação de Portugal junto da OTAN (PODELNATO) Bruxelas, Comandante Operacional das Forças Terrestres, Comandante da Componente Militar da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), Director do IAEM, Vice-CEME, Director do I.D.N. e Presidente do Conselho Coordenador do Ensino Superior Militar.
Representou Portugal em múltiplas reuniões internacionais e tem publicado vários trabalhos e artigos e apresentado diversas conferências em Portugal e no Estrangeiro no âmbito da Estratégia, das Relações Internacionais, da Gestão de Crises, dos Sistemas Colectivos de Segurança e das Missões de Apoio à Paz.
É actualmente Presidente do OSCOT (Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo), Membro do “Academic Council on the United Nations System”, Académico Correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e Membro da Assembleia Estatutária da Universidade Aberta.

Guiné 63/74 - P3902: Expedição Humanitária 2009 (3): Mensagem do Pepito para o Paulo Santiago, o Zé Moreira, o Xico Allen e o Julião Sousa

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 15 de Fevereiro de 2009 > Fazer agroturismo no Cantanhez (Foto tirada em 12 de Setembro de 2008) > "Ansumane (ao centro) é um fruticultor de mão cheia. Com os filhos e restante família, tem um pomar em que faz questão de utilizar boas práticas modernas, uma grande diversificação na oferta de produtos (ananás, abacate, mandarina, mango e banana) e…ter contratado um guarda para lhe proteger a fruta da gulosice dos chimpanzés [daris], igualmente grandes apreciadores.

"Fatu, a mulher (lenço alaranjado), de um dinamismo e simpatia inigualáveis, dirige uma unidade de agroturismo onde oferece alojamento para 6 pessoas em bungalows muito bonitos, com grande higiene e água canalizada, para além de ser uma cozinheira de eleição.

"É conhecido e apreciado o seu Gambô, prato feito com folhas de mandioca e molho de mancarra (amendoim), que tem a unanimidade dos turistas que a classificam como valendo a pena a deslocação".


Foto: Cortesia de © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009)


1. Resposta, com data de hoje, do Pepito (que está em Portugal até 27 do corrente) ao Paulo Santiago (*):


Paulo: Antes do mais reafirmo-te a total disponibilidade da AD em vos apoiar em tudo o que precisarem em Bissau. Temos uma pequena camioneta que pode ajudar a tirar a mercadoria do porto e colocar onde vocês entenderem. Eventuais contactos com pessoas ou entidades que queiram ver, contem também connosco.

As t-shirts que levas são boas mesmo que tenham publicidade. As crianças das escolas vão ficar satisfeitas. E é isso que interessa.

Dá um abraço meu ao Julião [Soares Sousa]. Prometi e vou cumprir com a minha "conferência" em Coimbra. Ele que me diga sobre que assunto gostaria de me ver falar.

Lá estarei em Bissau para tudo o que for preciso e para conhecer o Zé Moreira. Manda-me o teu nº de telefone para eu na 4ª feira te falar.

abraço
pepito

PS- para o Xico Allen: em que pé está o apadrinhamento da miúda de Cantanhez, a Sabá ?

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)



Apartado 453046-801 TAVEIRO (COIMBRA) / Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem.: 96 402 80 40

Associação sem fins lucrativos / Matriculada na C.R.C. de Coimbra / NIPC 508 343 461

Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias


1. Mensagem do Paulo Santiago, remetida ontem ao Pepito, com conhecimento ao nosso blogue (*):

Boa Noite, Pepito:

Acabei de chegar de um jantar na Mealhada, onde o Zé Moreira, da Associação Memórias e Gentes, me pediu para te enviar uma mensagem que especifico mais à frente.

Este jantar de hoje serviu para alguns dos amigos de Coimbra darem algumas dicas aos amigos do Porto [, da Tabanca de Matosinhos,]que também seguirão na Expedição Humanitária, com partida de Coimbra na próxima 6ª feira, dia 20, às 9.00 horas (*).

Pensam chegar ao hotel de João Landim, dia 26 ou 27.

Pepito: Nenhum dos presentes no jantar sabia que estavas em Portugal, eu soube porque passei pelo blogue antes de ir para a Mealhada. Ainda perguntei ao Julião S. Sousa [, da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra], também presente no jantar por indicação minha, se tinha o teu contacto telefónico, não tinha e deu-me a entender que espera uma conferência tua em Coimbra. Estou a dar conhecimento ao Luís porque penso ele ter o teu contacto em Portugal.

[Foto à esquerda: Guiné-Bissau > Março de 2008 > O José Moreira, inspirador, fundador, presidente e líder da Associação Humanitária Memórias e Gentes, em acção (é o primeiro à esquerda, em primeiro plano, logo na primeira foto, de cima). Técnico Oficial de Contas, reformado, mora em Coimbra. Foi Fur Mil da CCAÇ 1565, 1966/68. Foto: © José Moreira (2008). Direitos reservados.].

O Zé Moreira, que ainda não te conhece, diz querer encontrar-te este ano. Não se conseguiram as 300 t-shirt brancas, que me indicaste tempos atrás, há 300 t-shirt mas têm publicidade, mas além deste material que vai nos jipes, já seguiram no contentor várias caixas para serem entregues à AD.

Transmiti ao Moreira o que li no blogue "vou estar em Bissau na última semana de Fevereiro para receber os amigos que chegam de Portugal".

Abraço
Paulo

2. Comentário de L.G.:

Paulo: Obrigado pela tua mensagem. Os contactos telefónicos do Pepito, em Portugal, já tos mandei por telefone, com conhecimento ao José Moreira e alguns dos camaradas da Tabanca de Matosinhos que também seguem na expedição. Estive hoje, em Lisboa, com o José Manuel Lopes que me falou em mais de um dúzia de camaradas (dois levam as esposas) que vão juntar-se à malta de Coimbra. No total serão cinco jipes, mais uma carrinha e outros dois veículos automóveis, segundo percebi. O último a inscrever-se foi o Alves, de Leça da Palmeira, antigo soldado condutor da CART 6250 (Mampatá, 1972/74).

O Pepito está cá desde ontem e deve regressar a Bissau a 27 de Fevereiro. Nos próximos dias, até quinta-feira, peço que o poupem, por que ele tem uam série de exames de saúde a fazer, incluindo uma pequena intervenção cirúrgica.

Ele espera poder acolher e abraçar pessoalmente toda a malta que parte para mais uma expedição huminátário, de carro e de avião. A ONG que ele dirige, a AD - Acção para o Desenvolvimento, dará, no terreno, o apoio que for necessário.

A todos desejamos boa viagem e bom regresso. Iremos falando falando desta expedição, onde vão dois históricos, o José Moreira (Coimbra) e o Xico Allen (Tabnava de Matosinhos), além do ´Camilo (que integhra o grupo dos algarvios que partiram no dia 10).

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, de hoje, 16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 1 de Março de 2008 > O António Camilo, empresário, algarvio, natural de Lagoa, na morança que construiu, no Clube de Caça do Saltinho, na margem direita do mítico e sempre deslumbrante Rio Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa, e com seu/nosso amigo Carlos Silva (em primeiro plano). Pelo li, o Camilo volta este ano (2009) à Guiné, na sua 8ª expedição. O ano passado encontrámo-nos por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1.
Todos os anos por esta altura, há grupos de antigos combatentes portugueses, que passaram pela Guiné, no tempo da guerra colonial (1963/74), que lá regressam, de jipe ou de avião, levando amizade, saudade e ajuda humanitária. Este ano identificámos quatro núcleos organizadores:


(i) um núcleo algarvio, que teve (e ainda tem como referência) o nome do António Camilo, ex-Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68); a expedição deste ano é organizada pela Humanitarius, uma associação de apoio social internacional, recém criada, dirigida por João Almeida (que julgo não ter sido combatente), e que tem a sede em Portimão; a equipa da Expedição 2009 é composta por João Almeida, Helena Duarte, Vanda Germano, André Cadete e Jorge Baptista, e tem como "colaborador no terreno: António Camilo Baptista"; já partiu de Portimão em 10 de Fevereiro último;



Página principal do sítio da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, com sede na Rua do Alecrim, 8, 1º Dto, 2770 - 007 Paço de Arcos.

(ii) Há um núcleo lisboeta, à volta da ONGD Ajuda Amiga, representada pelos nossos camaradas Carlos Fortunato, consultor informático, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71) e Carlos Silva, advogado, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71); esta pequena equipa deve chegar de avião a Bissau, em 25 de Fevereiro de 2009. Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3860: Ser solidário (27): Mais de 320 caixas da Ajuda Amiga seguiram ontem para Bissau em contentor da Portline


Página da Associação Humanitária Memórias e Gentes, que vai organizar este ano mais uma Expedição Humanitária à Guiné-Bissau. (iii) um núcleo coimbrão, à volta da Associação Memória e Gentes, de que é presidente, ou melhor, a alma, o José Moreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68) Vd. postes de: 22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2671: Ser solidário (8): O regresso da expedição humanitária a Bissau (Diário de Coimbra)

9 de Novembro de 2008 > > Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)


Vd. poste de 20 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)

(iv) e, por fim, um núcleo nortenho, à volta da Tabanca de Matosinhos, de que é justo destacar o nome do Xico Allen (na foto à esquerda: Guileje, 1 de Março de 2008) que, com o António Camilo e o José Moreira, são de facto os três históricos das viagens por terra à Guiné (seja em turismo de saudade seja em expedições humanitárias). Este ano vão à Guiné, por terra, devendo juntar-se à Expedição de Coimbra, uma dúzia de camaradas ligados, de uma maneira ou de outra, à Tabanca de Matosinhos e ao nosso blogue. Ainda não tenho a lista completa, mas de entre eles destaco, além do chefe, Xico Allen, o António Pimentel, o João Rocha, o José Manuel Lopes, o António Carvalho e o Nina (estes três últimos , pela primeira vez, e tendo feito parte da CART 6250, Mampatá, 1972/74).


  2. II Expedição Algarve-Guiné: já se fez à estrada a 10 de Fevereiro de 2009 

  Notícia extraída, com a devida vénia, do Barlavento - Semanário Regional do Algarve , 10 de Fevereiro de 2009 / Texto: ana sofia varela / Foto: armindo vicente (Na foto, à esquerda: Helena Duarte, João Almeida, Jorge Baptista e André Cadete. Na foto só falta António Camilo"). 

(...) "A Associação Humanitarius, constituída por um grupo de algarvios que, no ano passado, organizou uma expedição à Guiné-Bissau, em África, volta a enfrentar os [cerca de cinco] mil quilómetros que separam Portugal daquele país, para ajudar as populações com diversos projectos sociais. 

"Na bagagem levam 43 toneladas de donativos em material escolar, roupas, equipamento médico, calçado e brinquedos, para a cidade de Buba, na Guiné-Bissau. (...) A missão do grupo algarvio é requalificar o centro de saúde pública de Buba, acabar um pavilhão escolar naquela cidade, apadrinhar uma escola em Bambadinca, bem como criar uma biblioteca e videoteca num dos espaços comunitários. 

"Mas, para que a concretização dos projectos «Saúde Alerta» e «Escola para Todos» seja uma realidade em Buba, muita da ajuda que a Humanitarius leva partiu da solidariedade de quem cá fica. Cidadãos anónimos, muitos alunos de diversas escolas portuguesas, empresários e autarquias contribuíram com os donativos. "Por isso, esta terça-feira [, dia 10 de Fevereiro,] , data da partida da II Expedição Algarve-Guiné por via terrestre, os expedicionários ainda tiveram tempo de passar em Portimão, Lagos, Lagoa e Albufeira, em paragens de cortesia para com as autarquias algarvias apoiantes. Por via aérea, seguirão depois dois técnicos da equipa, enquanto por via marítima já seguiu o contentor com os donativos, no fim-de-semana passado. 

3. Comentário de L.G.: 

 Saúdo todos os ex-combatentes que neste mês se delocam à Guiné, em turismo de saudade ou integrados em expedições humanitárais. Um abraço ao António Camilo, o primeiro a partir (com a equipa da Humanitarius): tive o prazer de conhecer pessoalmente, o ano passado na Guiné-Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008; estive inclusive com ele no Saltinho onde tem uma morança de fazer inveja a qualquer turista, no Clube de Caça, na margem direita do Rio Corubal, junto à ponte do Saltinho).

Esse abraço é também extensivo ao João Almeida, coordenador da Humanitarius, e restantes companheiros desta aventura solidária. Bons ventos os levem e bons ventos os tragam. O nosso blogue fica disponível para divulgar as notícias e as fotos que nos queiram enviar. (LG).

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)

1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 14 de Fevereiro de 2009:

Um abraço.

Mais uma vez lanço pedido de informações sobre o percurso de um cunhado, médico (*), já falecido, mas do qual não se têm informações do seu percurso militar na Guiné.

Presumo ter andado na área de Nova Lamego, mas são presunções.

Obrigado,
CMSantos


2. Este é um texto de pedido de ajuda em relação a um Cunhado meu, já falecido, mas do qual, por várias razões, nada se sabe do seu percurso na Guiné.

Nova Lamego e os dados do José Martins apontam para aí. Quem conheceu??? Teve a mulher e um filho pequeno a viver lá.

Agradecem-se informações.
CMSantos
CART 2339
Mansambo
1968/69



José Alberto Machado. Alferes Miliciano Médico


3. Dados coligidos por José Martins

BATALHÃO DE CAVALARIA N.º 705 (BCAV 705, 1964/66)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, desembarcou em Bissau em 24 de Julho de 1964, ficando nesta cidade como força de intervenção às ordens do Comando - Chefe, sendo as suas Companhias atribuídas como reforço e para realização de operações noutros sectores.

Em 15 de Fevereiro de 1965 foi deslocado para Bafatá, onde comandou a actividade operacional das suas Companhias e preparou a rendição do Batalhão de Caçadores n.º 512.

Em 1 de Junho de 1965, rende o Batalhão de Caçadores n.º 512, estacionado em Nova Lamego e assume a responsabilidade do Sector L3, que inclui os subsectores de Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Buruntuma, Piche, Madina do Boé e Nova Lamego.

Em 1 de Maio de 1966, rendido pelo Batalhão de Caçadores n.º 1856, regressa a Bissau, embarcando de regresso à Metrópole em 14 de Maio de 1966.


BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 1856 (BCAÇ 1856, 1965/67)

Mobilizado do Regimento de Infantaria n.º 1, na Amadora, desembarcou em Bissau em 6 de Agosto de 1965, ficando aquartelado em Brá (Bissau), às ordens do Comando – Chefe, orientado para a zona Leste, sendo as suas subunidades atribuídas de reforço a outros Batalhões para diversas operações.

Em 2 de Março de 1966 o comando instalou-se em Nova Lamego, enquanto a Companhia de Comando e Serviços era instalada em Piche até 23 de Abril de 1966.

A 1 de Maio de 1966 e substituindo o Batalhão de Cavalaria n.º 705, assumiu a responsabilidade do Sector L3, que englobava os subsectores de BAJOCUNDA, Canquelifá, Piche, Buruntuma, Madina do Boé e Nova Lamego.

Rendido pelo Batalhão de Cavalaria n.º 1915, tendo embarcado para a Metrópole em 15 de Abril de 1967.

José Martins
ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5, Gatos Pretos
Canjadude
1968/70
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2887: Em busca de...(27): José Alberto Machado, Alf Mil Médico (Carlos Marques Santos)

Guiné 63/74 - P3898: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (8): Maio de 1973 na vida da CCAV 8351 - (Parte I)

1. Em mensagem com data de 13 de Fevereiro de 2009, Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, enviou-nos para publicação a primeira de três partes de "Maio de 1973 na vida da CCAV 8351" - Os Tigres do Cumbijã.





MAIO DE 1973 NA VIDA DA CCAV 8351 - OS TIGRES DO CUMBIJÃ

Em memória dos meus queridos camaradas, mortos em combate neste mês de Maio:

ANTÓNIO BENTO BÔA , soldado n.º 06261872, morto a 12 de Maio de 1973

VICTOR MANUEL SILVA COELHO, soldado n.º 06472772, morto a 18 de Maio 1973

A vida tem destas coisas. Maio tinha tudo para ser um lindo mês, já que e em definitivo a Companhia tinha juntado os seus quatro GCOMB, as obras de construção continuavam a um ritmo muito grande, o pessoal andava contente pois as casernas começavam a tomar forma e consequentemente as condições de vida melhorariam a muito curto prazo e íamos receber logo na primeira semana um Pelotão de Artilharia, que nos dava uma outra alma.

Como sabem, a resposta, em termos de artilharia aos ataques que o meu aquartelamento sofria, era dada pelos nossos camaradas de Mampatá. Era impressionante para nós, pois para além das canhoadas e das morteiradas do I.N., passavam por cima das nossas cabeças em direcção às prováveis bases de onde os turras nos atacavam, as ameixas com que os nossos camaradas tugas de Mampatá os presenteavam.

Maio começou com uma flagelação, pois logo no dia três sofremos um ataque de duração curta, cerca de dez minutos, de morteiro 82. No relatório dessa flagelação assinalámos que o In havia sofrido duas baixas confirmadas. Recordo-me de no dia seguinte termos saído com três Pelotões e descoberto o local de onde nos haviam flagelado e verificado sinais de corpos arrastados. Deixámos as nossas assinaturas; restos de ração de combate, pontas de cigarro, latas de conserva e de leite com chocolate e os que sofriam de maior aperto intestinal, aproveitavam também para diversificar os vestígios.

No dia 8 de Maio chega até nós o tão ansiosamente esperado Pelotão de Artilharia. Em tempo recorde se construíram os espaldares e se elaboraram as cartas de tiro. Durante três dias andámos numa azáfama enorme, mas a confiança enchia-nos o peito, pois com a presença da Artilharia iríamos impor com ainda mais força a nossa presença. Enfim ilusões de sonhadores.

No dia 11 de Maio fui a Aldeia Formosa tratar da parte burocrática da minha Companhia, já que a Secretaria, o Cripto e os encarregados dos géneros ainda estavam na Sede do Batalhão. Reuni-me com o 1.º Sargento António Joaquim Redondeiro, grande homem, que já nos deixou. Faleceu em Portugal, mas só tive conhecimento do sucedido muitos anos após ter partido. Paz à sua alma! Ajudou-me muito na burocracia que também era imposta às Companhias que davam o corpo ao manifesto no meio do mato, aconselhou-me bastas vezes e sofria, lá em Aldeia, com os ataques de que o Cumbijã era alvo. (Abraçou-me a chorar depois do assalto a Nhacobá). A reunião ia longa e o tempo começou a ficar muito feio, com as rajadas de vento a aumentarem de grande intensidade de forma que combinámos que ele, no dia seguinte, iria integrado na coluna da Engenharia ao Cumbijã onde prosseguiríamos a reunião.

Regressei com a minha malta ao Cumbijã debaixo de um temporal imenso e fiquei desolado com o espectáculo que se me deparou: um tornado violento havia passado no quartel e arrancado dois telhados das instalações em fase de construção mais adiantada. É daqueles momentos em que nos dá vontade de desistir de tudo, mas não o podia demonstrar. Exteriorizei para os meus camaradas que quanto maiores fossem os obstáculos maior teria de ser a nossa firmeza e a nossa determinação e que no dia seguinte teríamos de trabalhar a dobrar.
Mas o tornado era um aviso e o dealbar do período negro.

No dia 12 de Maio, já da parte da tarde um grupo de combate desfalcado foi a Aldeia levar o Sargento Redondeiro. No regresso e na zona de Colibuia, portanto já pertinho de casa, sofrem uma emboscada de um pequeno grupo avançado do IN, que tinha vindo com o objectivo de dar protecção aos indivíduos que minavam os pontões, pois na frente de trabalhos não andavam tão à vontade dada a presença quase diária de um GCOMB que os esperava quase até ao anoitecer.
No Cumbijã toda a gente adivinhou o que se estava a passar. Via rádio soube de imediato que o Bôa tinha morrido instantaneamente. Eu estava em tronco nu, calções de banho e sapatilhas. Gritei para que preparassem de imediato duas Berlietts para irmos atrás dos gajos. No espaço de minutos estávamos a arrancar, enquanto os obuses disparavam para a orla da mata. Chegámos ao local e para além do BÔA tínhamos mais dois feridos com escoriações provocadas pela queda ao atirarem-se da viatura para o solo. Alguém de Mampatá ou Aldeia veio buscar as nossas baixas, as Berlietts regressaram ao quartel e eu e os meus voluntários embrenhámo-nos na mata e todas as dúvidas foram dissipadas: vinham mesmo minar os pontões! A assinatura do Pata Grande ou Patudo estava bem expressa, pois o sujeito tinha um pé tão grande que o distinguia de qualquer outro. A malta de Mampatá também o conhecia bem. Não consegui nada e a noite a cair levou-nos de volta ao Cumbijã.

Tinha no entanto aprendido uma lição: por muita racionalidade e serenidade que se peça ou que se exija a quem comande, permitira que o meu espírito fosse invadido pela dor, pelo sofrimento, pela angústia e pela raiva. Pela primeira vez havia sentido ódio. Ao olhar para esse dia e ao rever o que se passou, basta-me fechar os olhos, julgo que hoje teria feito o mesmo e teria actuado de imediato. O In tinha feito o seu papel e nós não poderíamos responder com indiferença ao sucedido, mesmo sabendo que já não havia nada a fazer; mostrar resignação ou indiferença era o pior que me poderia ter acontecido a mim e aos meus.

O traje com que saí para o mato rotulou imediatamente o meu estado de espírito. Amigo meu em Bissau ouviu dizer que o cacimbo me tinha atingido e que já saía nu para o mato. Enfim, os exageros que depois se transformam em mentiras, mas que por vezes também constroem heróis. Quem andou na luta e ouve este ou aquele dizer que reagiu assim ou assado que matou frito e cozido, topa logo que o gajo está a mentir ou fez a comissão perto de Bissau.

Também em princípios de Maio fui avisado de que em tal dia, a tal hora um grupo de Comandos Africanos passaria pelo Cumbijã, vindo de uma operação, e seria depois levado para Aldeia. Assim, seco sem mais informação nenhuma. Em conversa nos dias de hoje com os meus camaradas as opiniões divergem: uns dizem que o grupo era comandado pelo mais famoso guerrilheiro da Guiné, outros afirmam que eram elementos de uma Companhia de Comandos heli transportados.

Tenho de ser cuidadoso, tanto mais que esses elementos vindos da zona de Nhacobá, não haviam vislumbrado quaisquer vestígios do que quer que fosse, ou teriam e não fizeram nada ou não era tarefa para eles, ou apenas teriam ordens para reconhecer o terreno… não sei o que vos diga.

Este vosso amigo nasceu a 16 de Maio e tinha pensado arranjar uma vaca em Aldeia para fazermos um petisco diferente e pagar uns copos à malta. Está bem, abelha! Dia 15 à noite recebo ordens para me apresentar em Aldeia Formosa pela manhã do dia seguinte, o mais cedo possível. Como era o que estava mais longe, embora cedo, fui o último a chegar. Estava toda a malta calada, expectante, com ar de caso. Só saí da reunião pelas 16 horas, pois estivemos a preparar a operação “BALANÇO FINAL”, que se resumia apenas e só no assalto a Nhacobá, pois parece que por aí passavam as colunas de reabastecimento vindas pelo corredor de Guileje acima. A Companhia de Cavalaria 8351 seguiria em primeiro escalão, reforçada com um GCOMB da 3398, e na referida operação participariam uma outra Companhia do Batalhão dos velhinhos (a 99), mais a CCaç 18 mais a Cart 6250 de Mampatá reforçada com dois GCOMBs do Batalhão de periquitos (4513), mais a 3.ª Companhia do 4513 mais os Pelotões dos Sapadores dos dois Batalhões, mais dois Pelotões de Artilharia etc.

Estou com todos estes pormenores, pois no meu próximo texto vou necessitar da ajuda da malta de Guileje, para compararmos no tempo o decurso das diferentes actividades das nossas Companhias pois, ou muito me engano, ou estava em curso algo de muito importante na cabeça dos comandantes da guerra que embora nunca me tenham referido coisa nenhuma, à boa maneira militar, me levavam a desconfiar de algo. A ver vamos se o meu raciocínio terá ou não alguma lógica.

Embora nem todas as forças estivessem no terreno ao mesmo tempo, constatem que estavam disponíveis nesta operação malta que dava para fazer sete Companhias completas mais os Sapadores e Artilharia.

Cheguei triste ao Cumbijã! Tinha passado um rico dia de aniversário e a operação tinha início na manhã do dia seguinte. Tiraram-me uma fotografia na chegada ao aquartelamento que junto.

Cumbijã > Dia de aniversário do Cap Mil Vasco da Gama

Não me deitei. Falei com o pessoal, sem ter a certeza do que iria encontrar. Do objectivo apenas e só hipóteses. Conversei horas a fio com o guia que eu havia exigido: O Padé Nambatcha (refiro a fonética, não sei se a grafia é esta).

Curiosamente, a noite passou com grande rapidez. De manhã, ainda noite, a malta num silêncio sepulcral, ia-se juntando no meio do aquartelamento. Dois ou três tinham adoecido e a outros tantos haviam-se-lhes encravado as unhas.

Saímos num silêncio absoluto e à medida que íamos caminhando redobrávamos a atenção. De quando em vez o Padé mandava parar a coluna e debruçando-se sobre o chão analisava mais atentamente vestígios que só ele descortinava. Fazia-me sinal perguntando-me por gestos se eu não ouvia nada. Eu que ainda hoje tenho um ouvido de tísico dizia-lhe que não. O sorriso maroto que sempre afivelava ia-se desvanecendo e então começaram a aparecer trilhos cada vez maiores e bem calcados que pareciam autênticas picadas. Lá, muito ao longe, ouvia-se o ladrar dos cães e começámos também a divisar colunas de fumo em direcção ao céu provenientes de fogueiras. Continuámos mais duzentos, trezentos metros, abri a Companhia em linha e cerquei uma tabanca enorme, sem que ninguém tivesse dado por nós. O meu grupo de assalto de quinze ou vinte pessoas correu repentinamente seguindo o Padé e, sem termos dado um único tiro, tínhamos apanhado dezasseis elementos da população (oito homens, três mulheres e cinco crianças), que tentaram numa primeira fase a fuga, depois gritavam Comando, Comando, Comando.

Passámos revista a todas as moranças, em número muito elevado, e rapidamente nos apercebemos que Nhacobá era um importantíssimo centro de armazenamento de arroz. Palhotas cheias até ao tecto de arroz ainda com casca eram mais de uma dezena. Obviamente que esta quantidade enorme de arroz não se destinava a alimentar os dezasseis elementos da população que tínhamos capturado, antes constituía um ponto de passagem obrigatório das colunas do PAIGC que aí se abasteciam. Quantidades enormes de peixe a secar apareciam mais junto ao enorme lençol de água situado mesmo em frente a Nhacobá.

Rapidamente os elementos civis, em quem ninguém tocou, foram transportados por dois Pelotões que cobriam a nossa retaguarda, julgo que a Cart 6250, para os unimogs situados no fim da picada aberta, talvez a dois quilómetros de distância.

Por volta do meio dia, rebenta sobre nós um primeiro fogachal proveniente do flanco direito da minha Companhia, que supostamente devia estar protegida desse lado, que nos causou 3 feridos graves e seis ligeiros.

Pedi evacuação aérea para o Cumbijã onde estavam os graduados do Batalhão que me informaram não ser possível. Aí, mais uma vez, a malta de Mampatá veio em nosso apoio para transportar os feridos.

Um parêntesis para o nosso querido Josema, que vai no sentido de lhe corrigir o poste número 2757 enviado em 14 de Abril de 2008. Os soldados feridos, meus camaradas e teus camaradas, são da minha Companhia e resultaram do contacto que agora mesmo descrevi.

- O que tem o pano sobre a perna é o José Carlos Lopes, que vive para os lados de Lisboa. Está completamente careca, mas rijo. É frequentador assíduo dos nossos convívios.
- Não me recordo do nome do moço que está de barriga para o ar, mas era um dos rapazes das Transmissões.
- O da direita é o Lino Castro e Sá . Estive com ele há dois ou três meses em Coimbra e é também ferrenho dos nossos encontros.


Foto: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

Por esta altura ainda não havia estrada até Nhacobá.

A seguir a este contacto flecti com a Companhia para a direita, pois Nhacobá tinha demasiadas árvores que atraem os RPGs e provocam chuveiradas de estilhaços e… outro contacto, este mais violento que o anterior. O In fugiu e recordo-me que, para além de material de guerra, apanhámos centenas de maços de cigarros russos, cadernos escolares, caixas de fósforos e um livro escolar do PAIGC impresso na Suécia.

Alonguei-me mais do que o previsto, continuo ainda por mais dois episódios sobre Nhacobá.

Vasco da Gama

Nhacobá > Entrada norte

Nhacobá

Nhacobá > Armazém de arroz

Nhacobá > Furriéis Azambuja Martins e Costa

Nhacobá > Fur Mil Azambuja Martins, o sorriso do dever cumprido

Foto: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola