sexta-feira, 26 de junho de 2009

Guiné 63/74 – P4589: Agenda Cultural (20):Conferência Angola,ContribuiçãoaoEstudodaGénesedoNacionalismo ModernoAngolano,30Junho (Edmundo Rocha)

CONVITE
Camaradas Tertulianos,

Trazemos ao vosso conhecimento mais um convite, que nos foi endereçado, para a vossa presença em mais uma Conferência dedicada ao tema: " Angola, Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – Período de 1950 a 1964”, a ser proferida pelo Sr. Edmundo Rocha.

Este evento vai decorrer no próximo dia 30 de Junho, pelas 19 horas, na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandela, em Lisboa.

A BIBLIOTECA-MUSEU REPÚBLICA E RESISTÊNCIA, situa-se em:

ESPAÇO GRANDELLA
Estrada de Benfica, 419
1500-078 Lisboa
Telefone: 21 771 23 10

Um abraço,
José Paulo Sousa
__________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

Guiné 63/74 - P4588: História da CCAÇ 2679 (20): Férias na Metrópole em Junho de 1970 (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 19 de Junho de 2009:

Caros editores e Pessoal da Tabanca
Não se tratando propriamente da história da CCaç 2679, trago-vos hoje um naco de prosa que pode vir a despertar-nos a curiosidade para a política colonial, os critérios na defesa do território, o alheamento a determinações internacionais que foram válidas para as potência coloniais mais estruturadas que Portugal, enfim, para a partilha de conhecimentos no que à nossa história recente concerne e, muitas vezes, não nos chega ao conhecimento.

Ao Luís, ao Carlos, ao Virgínio, e ao pira Eduardo, faço votos de boa viagem para amanhã.

Abraços fraternos
JD


História da CCaç 2679 - Férias na Metrópole em Julho de 1970

No último episódio referi os dias de Bissau, que antecederam a partida em gozo de férias, e os primeiros dias de descanso na minha vila, com gulosa curiosidade sobre tudo o que parecia e era novidade; novas obras públicas e privadas, prédios que apresentavam novas cores, a evolução da moda feminina em época estival, um sem número de diferenças que realçavam após as últimas férias aqui passadas em Janeiro.

Depois, foi o correr acelerado dos dias, como que a antecipar a partida de regresso à Guiné. Até que um dia o país parou: era o funeral de Salazar. Decretado o luto geral, foi construído um ramal de caminho de ferro, desde os Jerónimos até à linha do Estoril, escassas centenas de metros que permitiram a ligação do monumento ao destino final em Santa Comba Dão. Morrera o Pai da Pátria, que deixava órfãos muitos portugueses que não distinguiam a política de uma letra. Entre nós, todos recordamos a grande maioria que não sabia ler, ou aqueles que sabendo ler, não sabiam interpretar o que liam, nem alinhavar uma carta para a família. Morrera o homem que nos conduzira para a guerra colonial.

Mas Salazar era, indubitavelmente, uma figura de fascínio, e um homem austero e sério, tendo em conta a fidelidade aos seus princípios, que nunca omitiu ou travestiu. Podia ter sido rico, porque, com grande frequência, lhe remetiam quantias de vulto, ou era beneficiário de testamentos generosos, mas que ele mandava redistribuir pelos mais carenciados, contrariando os princípios da economia que se orientam para a criação de riqueza, que poderiam, de outra maneira, criar novos empregos, dar profícuo exemplo de solidariedade social, enquanto, assim, perpetuava os necessitados e o verdadeiro exército de reserva para os empregadores mais gananciosos. Em vida, já era um mito, e mito continua. Tendo em conta aspectos menos conhecidos da sua identidade e percurso, decidi fazer uma pesquisa e traz-la à Tabanca, sem pretensões de ganhar a consideração colectiva como dono da verdade, mas procurando boas fontes para um bom retrato do cidadão que, tomado o poder, estabeleceu uma teia de obediência cega e seguidismo político que, decisivamente, influenciaram a rota do país no concerto das nações, sem pejo no derrube de adversários sempre que achava oportuno. Tentarei, também, ser equidistante entre os testemunhos e e os meus sentimentos e pontos de vista, daí estes apontamentos breves que passo a apresentar.

Dentro de Portugal, o domínio quase absoluto do regime por Salazar foi em crescendo. A conversão gradual do Primeiro-Ministro em ditador condicionou o robustecimento do Estado Novo. Ele próprio se deu conta do facto e declarou que nova era de consolidação se iniciara por volta de 1936. Além da chefia do Governo e da pasta das Finanças, Salazar tomou para si a da Guerra e a dos Negócios Estrangeiros (desde 1936), conservando a primeira até aos começos e as outras duas até ao final da guerra. Considerava-se o guia da nação, acreditava que havia coisas que só ele podia fazer (Infelizmente há muita coisa que parece só eu posso fazer - nota oficiosa publicada em Setembro de 1935) e conseguia que parte importante do país o fosse acreditando também.

Nasceu em 28/4/1889, descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas.
A sua educação foi fortemente marcada pelo catolicismo, chegando a frequentar um seminário. Mais tarde estudou na Universidade de Coimbra, onde se formou e chegou a docente de Economia Política. Ainda durante a 1.ª República inicia a carreira política como deputado católico para o Parlamento Republicano em 1921. Já em plena ditadura militar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu por 4 dias, segundo uns, por 13 dias, segundo outros, devido a não lhe terem delegado todos os poderes que exigia. Com Carmona regressou à pasta das Finanças, com a capacidade de supervisionar as receitas e as despesas de todos os ministérios. Conseguiu sanear as finanças.

Em 1932 chega a Chefe do Governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, forma-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante aos de Mussolini e Primo de Rivera.

As graves perturbações dos anos 20 e 30 na Europa ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.

A neutralidade durante a II Grande Guerra foi facilitada pela Espanha que negou autorização à Alemanha para, atravessando o seu território, atacar Gibraltar e criar uma frente atlântica, por isso andou em relações equidistantes relativamente aos beligerantes, tirando partido sempre que possível, como, por exemplo, a venda de volfrâmio a qualquer deles, do que resultaram anos de bons resultados para a balança de transacções. O declínio do império Salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par da forte emigração e de um crescimento capitalista de difícil controle, que a guerra colonial acentuava. Foi afastado do governo em 1968, em virtude de acidente. Acabaria por falecer em Lisboa a 27/7/1970.

- Sei muito bem o que quero e para onde vou - afirmou, denunciando o propósito, na tomada de posse como Primeiro-Ministro.

Com as orientações que emanava, na imprensa, que era controlada pela Censura, Salazar seria muitas vezes retratado como o salvador da Pátria. O prestígio ganho, a propaganda, a habilidade política na manipulação das correntes da direita republicana, de alguns sectores monárquicos e dos católicos, consolidavam o poder. O Presidente da República consultava-o em cada remodelação ministerial. Deu expressão ao Milagre de Fátima e disso tirou tanto partido quanto pode. Enquanto a oposição democrática se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, Salazar recusava o regresso ao parlamentarismo e à democracia, e criou um regime de partido único, que veio a revelar-se essencial para a implementação das suas ideias e de um regime de dependência corporativa.

Com a morte de D. Manuel II (1932), Salazar deixou claro que a monarquia não seria o seu regime para Portugal. A observação de documentos da época, e o conteúdo da correspondência com Marcelo Caetano, revelaram que o seu alegado monarquismo inseriu-se num habilidoso jogo político, através do qual Salazar conseguia obter apoio de alguns monárquicos para sustentarem o seu regime, expectativas que ainda se prolongaram no tempo.

Em 1933 foi aprovada nova Constituição através de um plebiscito. A seguir criou o Estado Novo, uma ditadura anti-liberal e anti-comunista, que se guiou pelos princípios, "Deus, Pátria e Família". Toda a vida económica e social foi organizada em corporações de nomeação e direcção estatal, tal como os sindicatos, que através da filiação sindical, garantiam as definições de carreiras e controlavam a massa de trabalhadores. Durante o Estado Novo, os Presidentes da República que foram periodicamente eleitos por sufrágio até 1958, tinham na prática funções meramente cerimoniais. Era o Primeiro-Ministro que dirigia os destinos da nação.

Em Julho de 1936 enviou forças militares para Espanha, o que nunca foi reconhecido oficialmente. Nesse ano criou a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa. Ocupou em simultâneo várias pastas ministeriais: Finanças, Negócios Estrangeiros, Guerra e Colónias.

Durante a guerra a base das Lajes tornou-se uma primeira necessidade para o controle de operações no Atlântico por parte dos Aliados. Salazar, não evitando a pressão, negoceia como contra-partida, o fornecimento de armamento (temendo um revanchismo alemão), e garantiu a restituição da soberania portuguesa em Timor, pelo final da guerra. A posição de neutralidade e a consequente abertura de canais diplomáticos com ambas as partes, permitiu que a balança comercial portuguesa mantivesse saldo positivo durante boa parte do conflito (1941/2/3). Mas com o advento da paz e a criação de um fundo de desenvolvimento, o Plano Marshall, Portugal, que, apesar da neutralidade, teve oportunidade para esse acesso financeiro privilegiado. recusou-o.

Em 1949, aquando das eleições para Presidente da República, o candidato oposicionista Norton de Matos, catalisava os votos da oposição, bem como de uma larga franja de populares, e ameaçava a continuidade do regime. Com recurso a elementos preponderantes, no geral ligados à Legião e à Polícia Política, o Estado Novo conseguiu adulterar os cadernos eleitorais em vários círculos e, com isso, garantir antecipadamente a vitória esmagadora. Como essas manobras foram feitas com algum descaro ou falhas, resultou o conhecimento público da tramóia e, por isso, foi retirada a candidatura do velho general, que durante os meses da campanha desenvolveu surpreendente actividade em quase todo o país.

Também em 1958, com Delgado como candidato presidencial oposicionista a ameaçar a vitória nas eleições, foi aplicada a mesma receita, perante as evidências de tantos ou mais votos apoiantes quantos contaria Norton de Matos. Foram as últimas eleições ditas por sufrágio universal para a Presidência da República que aconteceram na vigência do Estado Novo, que circunscreveu as eleições aos votos das assembleias que dominava.

A relação de Portugal com as colónias e a comunidade internacional

Até à primeira metade do século vinte, eram mal defendidas as fronteiras das colónias, face à escassez de residentes europeus, que se fixaram, no caso angolano, quase só nas regiões de Luanda e Benguela, e à falta de sentido da nacionalidade por banda da esmagadora maioria da população local. Nova Lisboa, depois Huambo, que veio a ser a segunda cidade da província, nasceu nos anos vinte, e o resto do território quase não tinha ocupação colonial. Mas sabia-se dos grandes recursos, e já se exploravam diamantes. Também as relações com os colonizados não foram as melhores.

Norton de Matos, na qualidade de Governador-Geral, que teve inicio em 1912, tentou um empréstimo de vinte mil contos a que deveria corresponder um plano de fomento, a realizar em dez anos, distribuindo-se as verbas por comunicações telegráficas, estradas, caminhos de ferro de via reduzida, e o que chamou instalações de ocupação: circunscrições civis e militares, hospitais, ambulâncias, assistência médica aos indígenas, escolas e serviços agrícolas, enquanto regulava no sentido de estabelecer regimes contratuais que dignificassem as condições de trabalho para os nativos, garantindo-lhes liberdade e respeito humano, até a possibilidade de se tornarem agricultores por conta própria. Pela segunda vez que voltou a Angola o figurino não se alterara.

Estas directivas mereceram repúdio, principalmente dos latifundiários, companhias mineiras e agrícolas, e empresários de arregimentação de mão de obra, e a complacência do Governo Central. Afinal persistia a escravatura.

Do postulado que serviu de fundamento ideológico à Carta das Nações Unidas (a Declaração dos Direitos do Homem é anterior), decorriam, em matéria colonial, consequências que vieram a ser consignadas nos artºs. 73.º e 74.º sob o título "Declaração relativa a territórios sem governo próprio". Nesse âmbito, o tão debatido conceito de autodeterminação, admite que se deva conduzir à independência, mas sem essa imposição, para não se consagrar na prática, a independência à força. Para essa solução,o texto dos artigos citados aponta determinada orientação. Assim, na alínea e) do art.º 73.º estabelecia-se para os estados a que estivessem submetidos territórios sem governo próprio, o dever de enviarem anualmente, ao Secretário da ONU, um relatório sobre eventos administrativos desses territórios, e sobre os esforços por eles empregues para o progresso das suas populações no sentido de as prepararem, na ulterior fase da autodeterminação, para uma selecção consciente do seu destino (por plebiscito). A Inglaterra e a França não fizeram oposição ao cumprimento do preceituado, apesar da sua força económica e militar. Portugal olhou sobranceiramente para a nova situação, no que veio a designar-se por "orgulhosamente sós".

"Portugal foi admitido da ONU em 1956. Não ignorava a situação, porque tal ignorância, mais do que um erro seria um crime, já que na ONU grassava uma epidemia anti-colonialista. Ora, os nossos governantes sabiam que o art.º.73º, fosse restritiva ou amplificativa a sua interpretação, imporia a adesão de Portugal ao princípio basilar da autodeterminação. Como penetrar na ONU com o firme propósito de não acatar esse conceito?", C. Leal. E prossegue: "Depois de bastas congeminações, a fina flor do escol do regime chegou à mirífica conclusão de que, para este preocupante problema, haveria uma solução tão simples e elegante como a que se atribui a Colombo para pôr em pé um ovo: decretar que não tínhamos colónias, mas sim províncias ultramarinas, que em 1954 haviam sido integradas, constitucionalmente, no nosso todo territorial... E foi com essa tranquila certeza que em 1956 os representantes de Portugal tomaram assento na sala das sessões da Assembleia-Geral da ONU". E assim se deu inicio a um drama.

Cada vez mais se deliberava, e com maior número de aderentes, contra a posição de Portugal em África, onde, entretanto, se desencadeara a luta armada. As pressões conduziram o regime para um beco de isolamento, de onde dificilmente tentava escapar. Boicotes económicos e a fornecimentos tornaram-se frequentes.

Contraditoriamente, o crescimento económico e o povoamento do território, impulsionados pela profusão de obras públicas e pela acção dos grupos económicos nacionais e estrangeiros, provocam um espanto geral, uma espécie de milagre português, nas províncias de Angola e Moçambique. Desenvolvia-se uma pequena burguesia negra que convivia bem com os portugueses.

O General Deslandes era embaixador em Madrid quando o Prof. Salazar o escolheu para Governador Geral de Angola. Dado o seu desconhecimento da Administração Pública e também dos problemas do território - salvo no plano aeronáutico - a sua equipa governativa terá sido indicada pelo Ministro do Ultramar, Adriano Moreira. Os Secretários Provinciais foram escolhidos com critério, constituindo uma equipa de luxo para os seguintes pelouros: Economia; Fomento Rural; Obras Públicas, Transportes e Comunicações; Educação, Saúde e Trabalho, e Administração Interna. Num território daquela dimensão e com uma economia pujante não havia, porém, uma universidade. Tentou-se adaptar os cursos, quer às prementes necessidades, concebendo-os mais curtos e com apenas um mês de férias, quer ao apetrechamento técnico, expurgando-os de cadeiras eminentemente teóricas. O Ministro não concordou com o formato dos cursos, o que ameaçava protelar a decisão e o ingresso de novos técnicos na economia. O Governador, certamente convencido de que o Ministro não conseguiria vencer os obstáculos em Portugal, terá decidido criar o facto consumado.

Assim, em 21 de Abril de 1962 foram instituídos os Centros de Estudos Universitários de Angola, o que a Junta Nacional de Educação considerou inconstitucional, do que resultou a anulação do diploma pelo Ministro do Ultramar. Em 23 do mesmo mês o Ministro anunciava a criação dos Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique, integrados na Universidade Portuguesa.

No seguimento deste conflito o General foi chamado a Lisboa e, após o decorrer de um processo complexo, demitido de Governador Geral e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola.

Com todas as reformas que corajosamente introduziu, o Prof. Adriano Moreira feriu muitos interesses e criou poderosas inimizades. Por outro lado, o seu protagonismo não deve ter agradado, ou terá mesmo assustado o Prof. Salazar, tanto mais que a imprensa de Lisboa, designadamente a afecta à oposição, dizia estar o Prof. Adriano Moreira fadado para altos destinos...

Assim, o episódio com o General Deslandes veio dar margem de manobra a Salazar para afastar da corrida à sucessão alguém que não constituía a sua primeira preferência e nunca fora considerado da simpatia do regime. Com efeito, ao provocar a demissão do General após um processo de averiguações em que este terá sido acusado de se haver transformado em bandeira dos separatistas de Angola, o Ministro terá perdido o apoio das Forças Armadas, onde o General gozava do maior prestígio. Seguidamente, foi fácil a Salazar dizer-lhe que estava a levar a descentralização longe de mais, tornando-se assim inevitável a sua substituição.

Muitas medidas e episódios se poderiam rebuscar para ilustrar o que foi a política interna e colonial portuguesa nos anos da guerra, mas a proximidade dos factos e a vivência que tivemos, mais a extensão do texto, aconselham-me a deixar por aqui esta breve súmula sobre Salazar, não sem que antes, pela grande curiosidade e caracterização da personagem, vos transmita uns excertos de partes preambulares de legislação do Governo que ele assinou, e foi citada pela Seara Nova, em Maio de 1971, n.º 1507.

Decreto n.º 21014, de 19 de Maio de 1932, manda inserir obrigatoriamente no livro da 4.ª classe dizeres como os que se seguem: "Obedece se saberás mandar"; "Na família o chefe é o pai, na escola é o mestre, no Estado o Chefe é o Governo"; "Mandar não é escravizar, é dirigir. Quanto mais mais fácil for a obediência, mais suave é o mando"; "Se tu soubesses o que custa mandar, gostarias mais de obedecer toda a vida".

Decreto-lei n.º 27279, de 24 de Novembro de 1936, reduz a finalidade do ensino primário "ao ideal prático e cristão de ensinar bem a ler, escrever e contar, e a exercervar as virtudes morais e um vivo amor a Portugal". Este Dec-Lei suspende a matricula nas escolas do magistério primário.

Decreto-lei n.º 27603, de 20 de Março de 1937, exara-se que nas aulas de lavores deve cultivar-se "com brandura e fineza, o gosto por tudo que diz respeito ao lar doméstico e aos trabalhos próprios do sexo".

Decreto-lei n.º 27882, de 21 de Julho de 1937, institui o livro único.

Lei n.º 1969, de 20 de Maio de 1938, atribui à preparação dos professores "sentido imperial, corporativo e predominantemente rural".

Decreto-lei n.º 36147, de 5 de Fevereiro de 1947, veda aos professores a incorporação de livros nas bibliotecas escolares que não tenham sido aprovados superiormente.

Decreto-lei n.º 38968, de 27 de Outubro de 1952, explica o analfabetismo do povo português "pela sua riqueza intuitiva, pelas condições da sua existência e da sua creatividade não sentir a necessidade de saber ler".

Portaria n.º 22966, de 17 de Outubro de 1967, faz a recomendação de "impregnar de espirito religioso as matérias escolares, de tal modo que a religião seja o fundamento e a coroação de todo o esforço educativo".

Elementos nde consulta:
- Informação na internet
- A.H.Oliveira Marques, História de Portugal, Vol.III, Palas Editores
- José Norton, Biografia de Norton de Matos, Bertrand Editora
- Cunha Leal, A Pátria em Perigo, edição do autor
- Jorge E. Costa Oliveira, Memórias de África, Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento - MNE
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4479: História da CCAÇ 2679 (19): O adeus a Piche (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra

1. Quarta história da série Vindimas e Vindimados do nosso camarada José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, baseada no seu livro "Vindimas no Capim" (*), enviada na mensagem de 18 de Junho de 2009:

Carlos
saiu um... entrou outro
o poder é teu
Sábado lá estaremos
e mais um abraço
José Brás


DE BICICLETA NA GUERRA

- Alferes Ávila, prepare um grupo para ir ao Xitole buscar um médico, temos aí um civil acidentado, com a cara em muito mau estado, escureceu e ninguém virá por ele de Bissau senão de manhã, o Furriel enfermeiro confessa-se incapaz de fazer mais pelo homem e o diabo pode arranjar um infecção grave antes da evacuação.

Era o Capitão Loja, sempre preocupado com os habitantes da aldeia, não por qualquer relação com a lenga-lenga oficial da psico mas por genuína e pessoal humanidade.

- Capitão, sabe onde é que o meu pelotão passou a noite, não me parece que estejam descansados para fazer agora cem quilómetros, toda a noite numa estrada como esta...

- É claro. E eu deixo morrer o homem!

- Não... porra, Capitão, se for necessário até lá vou eu. Sozinho. Sozinho com um motorista.

- Deixe-se de bravatas, alferes, arranje aí uma secção reforçada e um furriel para segurar aquilo. O da ferrugem já tem uma GMC e um motorista.

Conversa entre dois ilhéus, um madeirense, outro açoriano, oficiais milicianos do exército português numa companhia em quadrícula na terra Fula de Aldeia Formosa, a África mais próxima que o império ia tocando como podia, teimando, teimando, prolongando os quinhentos anos até espremer completamente o limão, queimando os dedos de tanta e tão longa acidez.

Os dois insulares que mal vos apresentei ainda, aqui engalfinhados de palavra, cada um com suas boas razões, não estavam tão longe como o mar que lhes separa as ilhas na visão sobre aquilo, sobre a posição dos manda-chuva do regime e sobre a inutilidade da sua própria acção nas emboscadas que faziam e que sofriam, nos assaltos a aldeias de gente pobre e espantada, nas matas a norte de Nhacra, nas picadas, nas estradas de Buba, nos bairros de lata onde viviam fora da sede da companhia, Cumbijã, Chamarra, e este nem bairro de lata era mas acampamento de ciganos, coisa que fisicamente mais parecia, e que parecia o Furriel Pixa Negra, que mais pareciam os soldados da sua secção, ocupantes do lugar, chupando calores e mosquitos naquela anarquia besuntona, dormindo como os locais, em escassas casas de adobe e capim, ou ainda pior, pela precariedade da estadia.

Não generalizemos, entretanto, mais do que convém, porque importa esclarecer, tratando-se de gente, as diferenças culturais de cada um, o olhar que, coincidindo na generalidade, se separava no específico da estrutura humana, Capitão um e doutor em humanidades, alinhado já com oposições, escrevendo em jornais do contra, agarrado e ali colocado a comandar cento e tal homens contra outros homens de quem não discordava, outro, Alferes generoso e espalha-brasas, estranhando somente a necessidade de violência, recusando-a mesmo sem maiores profundezas que o desabafo.

- Tá bem, Capitão! Vou ver se engato um desses Furriéis que saem menos a ver se algum está disposto a fazer o frete!.

- Okey, concordo, mas apresse-se com o resto porque em relação a Furriel, estou a vê-lo mesmo daqui e ele está a ouvir a conversa. Já sabe o que lhe calha esta noite.

Cada um foi à sua e a sua do Capitão era eu, salvo seja, naquela emergência. No fito dele estava escolhida a vítima para a noitada.

- Ouviu a conversa, Furriel? Sabe já o que se passa com o civil. Tem alguma coisa a opor?

- Não, nada, até gosto de ir ao Xitole. Pena é que seja de noite. Dê-me licença, apenas de escolher dois ou três dos soldados que irão comigo e que obtenha acordo deles e dos seus Furriéis!

E com esta conversa entre o Loja e eu, acabam os diálogos que só entraram por melhor servirem o esclarecimento da situação, estando já, nesta altura, a impedir a circulação prática das ordens dadas e recebidas, que na tropa e na guerra nem carecem de explicações mas de cumprimento.

Tudo a andar, sete ou oito soldados, dez, se não me engano, GMC, mensagem para o Xitole a confirmar a ida, e lá partimos à aventura.

A estrada nem estava mal e fazia-se até muito bem, tirando um ou dois atravessamentos de linhas de água, sobre pontes improvisadas, um tronco de cibo para cada rodado e olhinhos do condutor, sobretudo ali no escuro da noite.
Às duas por três, a mais de meio caminho para Contabane, avaria a GMC.

- Porra! E agora?

- Bem malta vamos falar baixo estamos mais perto de Contabane e o Sambel tem uma bicicleta que nos empresta para um de nós poder voltar na gáspea à Aldeia trazer outra viatura nesta escuridão Furriel de bicicleta é quase impossível e Contabane está em auto-defesa ainda algum que lá vá leva um tiro a estrada é direita e á vista do posto de sentinela deste lado não tem árvores nem nada a Contabane vou eu com um soldado os outros vão armar emboscada fora da estrada a dez metros da viatura olhos e ouvidos abertos então e quando ouvirmos o barulho da bicicleta a noite não está escura tenham cuidado que aqui ninguém sabe imitar o pio de pássaros nem isto é um filme quem é que vai comigo vou eu e que seja o que deus quiser.

Posta aqui da maneira que lêem, esta mancha de palavras mais parece conversa de doidos ou então relato de analfabeto ainda hoje enervado com a situação de então.

Mas o que é que vocês querem? Eu não tinha já avisado que não continuaríamos pôr aqui a dialogar os protagonistas da crónica, Capitão isto, Alferes aquilo, Furriel isto e aquilo, como se estivessem em palco de teatro, deixando as falas na cadência ensaiada e nos lugares marcados para parecer real, o que real era já de si próprio?
Disse ou não disse?
Agora, desunhem-se, separem vocês as falas, este disse isto e ou outro coisa diferente, e tal.

O trabalho da construção das imagens que devem saltar de um texto, seja ele história, estória, poema, ficção narrativa ou mesmo relatório, não deve ser apenas do emissor. Quem lê, sobretudo vocês que chuparam com muitos trambolhões parecidos, conhecem o chão e o ar quente que ali se respira, o RDM, os salamaleques de militares ainda que mais aligeirados ali no mato do Sul da Guiné, deve também fazer o seu esforço no recordar da vida ali, no momento e na situação e... imaginar o resto.

Separem vocês as falas, repito, sabendo que umas são minhas e são outras dos camaradas que haviam embarcado no chaveco em Aldeia Formosa com rumo a Xitole e a missão de trazer médico, acredita-se, mais apto que enfermeiro, ainda que este o fosse e dos bons.

O certo é que nos fomos, eu na frente, olhos e ouvidos alerta, tentando agarrar os sons da mata e prevenir surpresas, o soldado caminhando atrás, rezando, creio, forma talvez mais eficaz de nos salvar de maus encontros, se calha ter deus andado por ali naquela noite.

Fizemos dois ou três quilómetros à pata. Na recta que antecede a tosca entrada na aldeia, parece que estou agora a ver o chão arenoso e solto do caminho, o soldado quase implorava para pararmos na crença que do outro lado atirariam assim que se apercebessem de presença humana e caminhante. Havíamos combinado que ao primeiro ruído de metal metendo bala na câmara, o nosso destino imediato, ainda antes do tiro, seria o chão. Outro remédio não teríamos senão gritar quem éramos e esperar que de lá entendessem e acreditassem.

Andando, andando cautelosamente e com os sentidos todos à flor-da-pele, entrámos na aldeia como quem não quer a coisa e sem oposição de sentinela, pedidos de BI ou outro elemento identificador, e nem o ladrar da canzoada trouxe gente alarmada ao nosso encontro.

Buscámos a casa de Sambel, exaltámos quatro mulheres, e outras que se foram chegando ao grupo, explicámos ao que vínhamos e o soldado lá se foi no escuro da noite, agora fazendo o caminho ao inverso e só.

O Sambel destacou dois milícias dos dele para que eu não andasse abandonado por aqueles ermos e ganhei de novo a GMC e o pessoal que lá havia ficado.
Tudo corria sobre rodas, quer dizer, se despachava como esperado.

Mais de duas horas depois vislumbrámos as luzes da outra viatura que vinha substituir a avariada e que trazia outro Furriel e mais dois soldados para continuarem a viagem interrompida, devendo eu retornar à Aldeia.

Aceitei os soldados e recusei a substituição. Já agora queria ir até ao fim.

Passámos de novo Contabane, agora a cavalo, como se diz aqui no Alentejo, mesmo quando o cavalo não passa de tratori, chegámos ao Xitole noite alta, voltámos com o médico para Aldeia Formosa e nem eu já sei se o civil se salvou ou não e como evoluiu a coisa com ele, evacuado de manhã de heli para Bissau.

Por volta da hora do almoço, já retemperado, procurei o soldado da bicicleta e encontrei-o bem abatido do medo do que fizera durante a noite, pensei eu.
Pensei mal. Ou por outra, medo o homem deve ter tido toda a viagem, pedalando e vendo fantasmas em cada sobra de árvore.
E isso nem é de admirar se pensarem bem, se se pensarem vocês no lugar do soldado, alta noite na pasteleira, naquele lugar da Guiné, desejando ardentemente o fim da estrada.
Mas agora o problema do soldado era outro.

- Óh meu Furriel! Agora quem é que paga a bicicleta ao Sambel?

- Como assim? Pagar a bicicleta porquê?

- É que aí a uns dois quilómetros da aldeia, de repente, no escuro atravessou-se-me um bicho grande na frente, bati contra barriga do gajo, caí e ele fugiu

Eu já não aguentava o riso na imagem ali criada com a maior das simplicidades e o soldado olhava-me atrapalhado com o desrespeito.

- Diga-me, quem é que paga? - repetiu.

- Já falaste ao Furriel da tua secção?

Abanou a cabeça na negativa e esperou que lhe desse uma solução para o problema bicudo.

- Óh pá! Pensando bem, o melhor a fazer, é ir à procura do bicho. Talvez que ele acabe por pagar o prejuízo e é bem feito para não andar aí a atravessar a estrada a horas que são de estar na cama. Assim, na próxima, pelo menos, olha antes de atravessar, não vá aparecer outro branco maluco montado em bicicleta de Régulo.

José Brás
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Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4551: Vindimas e Vindimados (José Brás) (3): O Santinhos da Artilharia

Guiné 63/74 - P4586: Bibliografia de uma guerra (50): Os Comunistas e a Guerra Colonial (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data 18 de Junho de 2009:

Queridos amigos,
É a primeira vez que leio o testemunho de um comunista que foi à guerra e lá viveu o peso das suas opções.
Aqui ficam estes dados para a bibliografia da guerra colonial.

Um grande abraço do Mário


Os comunistas e a Guerra Colonial
Beja Santos

Está profusamente documentado na historiografia do PCP que este partido apoiou desde a primeira hora a independência dos povos das colónias portuguesas. A leitura do jornal Avante! permite confirmar a atitude consequente que os comunistas portugueses tiveram no apoio às lutas de libertação, denunciando situações tão diversas como a exploração do trabalho nas colónias, actos de repressão das populações civis africanas, deserções e descontentamento nos quartéis, cá e lá. Quem procurava fugir e era apanhado, quem manifestava descontentamento, se apresentava como objector ou se revoltava, tinha a disciplina militar à sua espera: a Casa de Reclusão da Trafaria, o Presídio Militar de Elvas, o Batalhão Disciplinar de Penamacor, mas também a entrega à PIDE/DGS.

Armando Sousa Teixeira, dirigente estudantil, comunista, seguiu as directivas do PCP, alistou-se e procurou denunciar por dentro os chamados propósitos colonialistas da guerra decidida pelos regimes de Salazar e Caetano. Foi para Mafra, frequentou o curso de oficiais milicianos, de onde foi afastado; mobilizado como furriel para Moçambique, foi preso em pleno teatro do conflito e entregue à PIDE/DGS; detido no campo prisional da Machava, em Lourenço Marques, daqui partiu para Caxias onde foi torturado pela polícia política; foi julgado e condenado no Tribunal Plenário da Boa-Hora; posteriormente reintegrado no Exército, foi feito prisioneiro no Forte da Trafaria, pelas mesmas acusações; despromovido e remobilizado, partiu de novo para Moçambique com uma comissão agravada de 3 anos. É uma narrativa que começa em 1971, em Mafra, e acaba em 25 de Abril de 1974, em Cabo Delgado, em Moçambique. Este o fio condutor de “Guerra colonial, a memória maior que o pensamento” por Armando Sousa Teixeira, Edições Avante!, Abril de 2009, Preço 14,70 €.

Trata-se de uma narrativa que começa na Rua dos Poiais de São Bento e as memórias da resistência, os registos dos primeiros feridos chegam de África, a partida dos amigos e colegas para a tropa, os protestos contra a Guerra Colonial, a atmosfera dos que estavam a favor e dos que estavam contra. Armando de Sousa Teixeira decidiu entremear o seu testemunho com os dados históricos, certamente na presunção de que esses elementos permitem melhorar a compreensão do leitor. É um critério discutível como tantos outros, ganhamos a situação internacional e nacional, perdemos no vigor da evolução de uma experiência que teve etapas de tão grande sacrifício como as que viveu Armando Sousa Teixeira.

Entramos em Mafra, onde ele vai liderar um protesto que foi a afixação de vinhetas pelos corredores do convento, um apelo para não ir à guerra subordinado à palavra de ordem “Não jures, camarada!” e que provocou enorme bulício nas hostes da Escola Prática de Infantaria. E começaram a aparecer punições na ordem de serviço da unidade do tipo: “...Por ter sido encontrado a manipular uma tarjeta colante das que foram ultimamente espalhadas de forma irresponsável, cujo conteúdo visa minar a confiança dos instruendos na Instituição Militar e pôr em causa os sagrados deveres de defesa da integridade da Pátria, é punido com 5 (cinco) dias de detenção o instruendo do 1º ciclo do curso de oficiais milicianos...”.

O autor parte para Moçambique como furriel, a caminho de barragem de Cabora Bassa. África deslumbra-o, com o seu pôr-do-sol vermelho e laranja, a majestade do Zambeze, sente-se magnetizado pela coluna que rola em direcção ao reino da guerra. Descreve ambientes, a expectativa dos ataques, os aldeamentos circundantes, os tiros espúrios que se ouvem longe, no interior da mata. Imprevistamente, dois agentes da PIDE de Tete vêm buscá-lo e transportam-no para a prisão de Machava. Começa o seu processo, afinal ele fora descoberto durante o inquérito em Mafra, denunciado por outros instrumentos. Em Dezembro de 1972 está de novo em Lisboa, é metido na cadeia de Caxias, sujeito à tortura do sono, é porventura um dos episódios mais dramáticos do livro a descrição dos interrogatórios e o maquiavelismo dos processos. A seguir, vemo-lo no Regimento de Infantaria nº 1 onde é punido com 40 dias de prisão disciplinar agravada por ter desenvolvido as tais actividades de agitação subversiva em Mafra. Despromovido para soldado, é obrigado a uma comissão militar de 3 anos, de novo em Moçambique. Embarca para Nampula e daqui para Nangade, em Cabo Delgado, onde o 25 de Abril o vai encontrar.

É um relato por vezes pungente, quando tomamos à letra os sonhos da juventude desfeitos, enxovalhados, nesse sonho do comunista ciente das suas certezas, convicto no fim do colonialismo; é um testemunho que surte efeito pela sinceridade à flor da pele; mas é um testemunho frágil e inconclusivo, por termos uma amálgama entre o narrador e os dados, eventos e situações já devidamente enquadrados pela História que não nos cabe questionar. Era legítimo esperarmos ouvir em toda a sua representação a experiência militar e o seu trajecto sacrificial. Acredite-se ou não no comunismo, a via-sacra que decorre de uma opção como a que Armando Sousa Teixeira fez merecia a plenitude dos sentimentos e emoções. O branqueamento da História não se contraria só porque se fala dela correctamente. Corre-se o risco de branquear a História quando se cerceia a dimensão, a amplitude do sofrimento humano. Esperamos que Armando Sousa Teixeira ainda queira corrigir a contenção (imerecida) deste seu testemunho, invulgar e indispensável.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4576: Bibliografia de uma guerra (49): Lista de 77 autores de obras sobre o fim do Império (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 7 de Junho de 2009:

Caro Carlos:
[...]
Como sugeres, aí vai em anexo a 6.ª e última parte da estória de Madina Xaquili para a série A Guerra Vista de Bafatá.

Tinha combinado com o Luís que iria mais tarde mandar umas bandas sonoras de sons da Guiné. Assim, e esperando que chegue aí em condições de ser postado um primeiro som, incluí na estória o som de pios de morcegos, da forma e com os meios que dispunha. Será para ser ouvido no local do texto onde o coloquei.
Pretendia que ao clicar no desenho do morcego, que nesse sítio aparece, se ouvisse o referido som, mas não consigo. Se tu o conseguires, tudo bem, caso contrário elimina o desenho do morcego. Se assim for o som ouvir-se-á da forma que eu indico.

Se de todo for necessário, mandarei pelo correio um CD. Nesse caso avisa-me.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

7 - Um Alferes destacado (desterrado) em Madina Xaquili com um cano (só o cano) dum morteiro 60 - parte 6 e última.

Preâmbulo

Como tenho referido anteriormente, na sequência do agravamento da situação no Cossé, fui destacado para Madina Xaquili, onde vivi uma experiência verdadeiramente inesquecível.

No Poste anterior – 4470 (10.º dia dessa minha experiência), descrevi a operação que fizemos na região de Padada, com muitos vestígios IN e mostrei fotos de locais lindíssimos por onde passámos.

Relato do 11.º dia – 22JUN69:

Logo pela manhã dei com o João a andar de forma esquisita, de pernas abertas. Não resisti e perguntei o que se passava com ele. O João, como comandante da Milícia, não fazia quase nada na tabanca. Até a sua lavra de mancarra era cultivada pelos milícias. Assim, como não estava habituado a andar muito, e por ser um pouco anafado, tinha ficado com as coxas em carne viva pelo roçar das calças na caminhada do dia anterior de cerca de 25 Km, com temperaturas a rondar os 40º e a humidade própria da época das chuvas. O problema foi resolvido pelo nosso enfermeiro, que pouco depois também teve que dar uma injecção de soro antiofídio a um milícia que foi picado por uma cobra quando cavava na lavra de mancarra.

Por causa da lavra, o abrigo para a população civil continuava por acabar.

Almoçámos mais uma vez a mesma bianda. Aí tive uma ideia (tanto de brilhante como de pérfida). Fui tentar convencer um civil (penso que seria o chefe da tabanca), a trocar duas galinhas por uma lata de atum de 3 Kg. As conversações foram demoradas. Fartei-me de lhe expor as vantagens (ou desvantagens) para ele, da troca: As galinhas podiam morrer, etc., etc. Lá vim com as duas galinhas para tornarmos a tirar a barriga de misérias.

Creiam, camaradas, que ainda hoje sinto remorsos desse negócio, apesar de que passados cerca de três meses nem galinhas, nem palhotas, nem pessoas existiam em Madina Xaquili.

Ao anoitecer, sentado no característico estrado debaixo do mangueiro, no centro da tabanca, com o relampejar ao longe, continuei a inteirar-me dos usos e costumes daquela gente. Uma pessoa podia sentir-se ali isolado mas também sentia uma paz interior difícil de alcançar nos nossos meios, ditos civilizados. Pela cabeça passou-me a ideia de ficar ali para sempre, se guerra não houvesse, claro. A pureza e ingenuidade das pessoas era total.

O som da guitarrinha do Braima induziu-me ao sono nessa noite.

O fula Braima (com as características duas marcas junto aos olhos)

Relato do 12.º dia – 23JUN69

Essa pureza que referi iria ser quebrada. Em determinada altura ouço, perfeitamente fora do contexto, um gargalhar de dois milícias. O que se passava? À porta de uma palhota um militar metropolitano mostrava a esses dois camaradas africanos um baralho de cartas, daqueles com cenas pornográficas. Interrompi a sessão, chamei o metropolitano e expliquei-lhe, em pormenor, a poluição do seu acto, etc., etc.

À tarde aproveitei para tirar algumas fotos e ir falar com o Braima para saber se ele me vendia a guitarrinha, daquelas típicas, feitas com meia cabacinha, pele de macaco e cordas de fio de pesca. Não o consegui mas falando-se também do seu iuri que ele próprio escavou em pau sangue, com forma de canoa, aqui sim, consegui convencê-lo, considerando essa a peça mais significativa que trouxe da Guiné.

O iuri que o Braima fez. As pedras são sementes de cocnote.

A Binta era sem dúvida a mulher mais vistosa e simpática da tabanca.

A mulher de um milícia

A lavra do João continuava a atrasar a construção do abrigo para a população civil.

A segurança de todos nós continuava a preocupar-me muito. Por um lado andava a pensar em redigir um relatório sobre as condições miseráveis em que nos encontrávamos em termos de armamento e na forma de fazer chegar esse relatório a Bafatá. Talvez os superiores não quisessem assumir a responsabilidade de ter um destacamento em semelhante buraco e tão mal equipado.

Se lá continuasse por muito mais tempo, várias iniciativas teria de levar à prática, de imediato:

1 – Para segurar na tabanca a 1.ª mulher do João (ler relato do 7.º dia) e porque era bastante evoluída iria arvorá-la no único elemento armado da população civil, para no abrigo colectivo fazer a defesa, possível, de todos. Dar-lhe-ia instrução de tiro e fornecer-lhe-ia uma G3. Talvez o João não gostasse mas teria que engolir o sapo. Não esquecia o Bonco; a Binta cuidaria dele.

A Binta com o Bonco, filho do João, ao colo.

2 – Além da já existente sentinela avançada na mata, criaria mais duas durante todo o dia.

3 – Passaria a sair todos os dias, a meio da tarde para patrulhar as redondezas da tabanca, com um grupo de combate e faria emboscadas nas zonas mais problemáticas, regressando já noite para jantar. A detecção de vestígios IN na zona próxima era crucial e indicativa de um próximo ataque. Como já anteriormente referi, o IN não me iria encontrar dentro do arame. O primeiro ataque viria a dar-se, já eu não estava na tabanca, mas precisamente à hora por mim prevista…

Na reunião à noite, debaixo de uma grande tensão e medindo bem todas as consequências, tomei a resolução mais controversa da minha estadia em Madina Xaquili.

Conhecia o valor dos homens que tinha comigo mas pensando no armamento que possuía, além das espingardas, (metade dos milícias tinham só Mausers), só tinha um cano velho (só o cano) dum morteiro 60 e 16 (dezasseis) granadas para o mesmo, tinha que tomar uma atitude. Todos sabem com que armamento o IN fazia os ataques: Vários morteiros 82, canhões sem recuo, metralhadoras, RPG7, etc. Quanto tempo nós iríamos aguentar com 16 granadas de morteiro 60?

É certo que me passou pela cabeça simular um ataque ou outro qualquer contacto com o IN e pedir uma urgente remuniciação. Correria o risco de não a fazerem e ficava pior ou podiam mandar-me outras 16 granadas, ou 10, ou 5…

Achava a situação dramática dada a proximidade do IN.

Finalmente expus a todo o pessoal o que já andava a magicar há alguns dias e caso a situação não se viesse a alterar: Um plano de fuga.

No caso de verificar, que com um ataque se estava próximo de gastar a última das nossas 16 granadas, à minha ordem todos retirariam por uma zona baixa da tabanca, próxima da fonte, muito improvável de instalação IN e caminhariam a corta-mato durante cerca de 1 Km, ao fim do qual flectiriam à direita até encontrarem a picada para Galomaro. Eu e um pequeno grupo aguentaríamos o IN até não poder mais, dando tempo a que a população civil se pusesse a salvo. Então, sim, seria a nossa vez.

Esta atitude comuniquei-a, posteriormente, ao então Chefe do Estado Maior do Agrupamento, Ten Cor Teixeira da Silva que, embora arregalando os olhos, a compreendeu perfeitamente. Também sabia com quem estava a falar, quiçá o oficial superior mais culto e menos militarista, dos que então passaram pelo Comando do Agrupamento.

Foi assim, debaixo dum silêncio sepulcral, sem os acordes da violinha do Braima e só quebrado pelo som metálico do piar dos morcegos nos mangueiros, que fui dormir, ainda sem saber que era a minha última noite em Madina Xaquili.

(OBS: Falta encaixar aqui o ruído dos morcegos)

Relato do 13.º dia – 24JUN69:

Na manhã do 13.º e último dia, como por premonição, resolvi tirar a foto de família e a do forno que eu próprio construí, ambas a preto e branco pois tinham acabado as fotos coloridas.

Comigo está o João e mais 15 dos 38 milícias que constituíam a guarnição africana da tabanca.

O forno que construí. Ao meu lado o Sajuma, que se ofereceu para ajudante de padeiro.

Ajudei a posicionar alguns cibes no novo abrigo e a hora do almoço estava a chegar. Ouve-se então o ruído de uma coluna a chegar, com as viaturas a roncar ao passarem uma linha de água a uns 500 metros da tabanca.

Pensei, talvez como os meus camaradas metropolitanos, que viessem ali mais umas cervejas frescas.

Vinham sim reabastecer-nos de géneros, mas também traziam uma ordem para me levarem embora.

Desta vez não consegui tomar a atitude que seria um tanto estranha para quem, como eu, achava que estava em perigo em Madina: Seria não ir com a coluna e ficar na tabanca, pois não era só eu que estava em perigo. Para isso era só necessário mandar uma mensagem para o Agrupamento a perguntar qual ordem cumpria: Se a que a coluna trouxe para me levar, se a do Coronel Felgas quando me visitou e me disse que eu só sairia dali quando houvesse abrigos para a população civil. Ia a mensagem, vinha a resposta, a coluna já tinha partido e eu ficava.

Para tanto não tive coragem. Pensei na família. Pensei na possibilidade do meu filho Miguel já vir a caminho (tinha estado de férias na metrópole um mês antes). Fui com a coluna.

Não sei se foi a minha tristeza que contagiou os que ficavam, se o contrário.

O João e os outros milícias prometeram visitar-me quando fossem a Bafatá, o que veio a acontecer.

Excerto de um aerograma em que refiro a visita que o João me fez em 03OUT69 e a triste notícia da destruição de todas as palhotas de Madina Xaquili

De fugida verifiquei que tinham finalmente trazido mais uma arma para reforçar o cano do morteiro 60 (só o cano) e as suas 16 (dezasseis) granadas: Uma metralhadora ligeira Degtiarev, de disco, apanhada ao IN. O Cap Jerónimo de Galomaro devia continuar com remorsos.

Subi para um Unimog e aí passou-se uma cena, única em toda a minha vida, quando o Furriel que ia ao meu lado me perguntou se tinha gostado de estar na tabanca.

Gostaria muito que fosse esse Furriel, de quem não lembro o nome, a contar o sucedido mas constrangido direi que as lágrimas me vieram aos olhos pelo que baixei a cabeça. Foi então que os meus dois olhos se transformaram em autênticos chuveiros. Durante largos minutos o Furriel, atónito e confuso, respeitou o meu silêncio. Reagi e reatámos então a conversa.

Sei que passei por Galomaro e falei com o Cap Jerónimo, mas não recordo como cheguei ao Comando de Agrupamento em Bafatá.

Fim desta longa e curta estória que para mim fez História.

Até para a semana camaradas, com uma estória curta mas engraçada passada com o pessoal do Esquadrão de Cavalaria instalado ao lado do Agrupamento.

Texto e fotos: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)

Guiné 63/74 - P4584: Controvérsias (26): Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado? (Libério Lopes)





1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65 (*), em 24 de Junho de 2009:






Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado?

Dizia o Manuel Maia há alguns dias, que o único país do Mundo onde existiu o posto de Cabo Miliciano foi em Portugal. E tem razão. Só em Portugal isso podia acontecer e foi devido à lucidez brilhante de um Ministro do Exército do Governo de Salazar que isto podia acontecer. Se não me engano foi o Santos Costa. Se não for ,e se alguém souber ao certo quem foi, é bom transmitir a todos os camaradas para lhe prestarmos as nossas homenagens…

Foi um indivíduo inteligente ao tomar esta atitude (poupou milhões ao Estado) só que criou inúmeros problemas.

Com o vencimento de um soldado, tinha um Cabo a fazer um serviço de Sargento. É claro que alguns comandantes usavam e abusavam do seu poder discriminatório para rebaixar os Cabos Milicianos.

Fui Cabo Miliciano no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, desde Janeiro de 62 a Abril de 63. Dei salvo erro três recrutas e, por falta de aspirantes muitas vezes comandámos pelotões de 100 recrutas.

Neste quartel aconteceram, com o comandante de então, coisas interessantes. Ao Cabo Miliciano era proibido frequentar o bar dos soldados, porque faziam serviço de Sargento. Só que os sargentos do QP não nos deixavam entrar no seu Bar.

Houve, inclusivamente, um Cabo Miliciano de Sargento de Dia ao Batalhão que ao querer tomar café no Bar de Sargentos, durante a noite, foi posto na rua por um 1º Sargento. Isto serviu para que os Cabos Milicianos se juntassem e conseguissem uma pequena sala onde se reuniam e tinham uma máquina de café.

Como defesa da classe, deliberamos só responder quando nos tratassem por Cabo miliciano e não por cabo. Ainda estou a ver o Comandante a chamar o Silva… gritando: ó nosso cabo… ó nosso cabo e o Silva… não lhe respondia. O comandante aproxima-se dele e pergunta-lhe se não o tinha ouvido chamar. O Silva retorquiu-lhe: 0 meu comandante desculpe mas chamou nosso cabo e eu sou Cabo Miliciano. O Comandante engoliu e calou. Serviu de exemplo para todo o quartel.

Esse mesmo senhor quis aplicar-me como castigo, de me ver á civil na rua, uma carecada (”écada” no meu tempo).

Em Março de 1963 fomos promovidos a Furriéis Milicianos. Nunca nenhum de nós entrou alguma vez no Bar de Sargentos.

Termino dizendo que, embora todos estes condicionantes, sinto-me honrado por ter pertencido á classe dos Cabos Milicianos. Fomos explorados no Continente como mão-de-obra barata ao contrário dos Aspirantes Milicianos, que, ao fim da especialidade, tinham desde logo acesso á classe de oficiais.

No Ultramar foi o que toda a gente sabe: sempre na frente de combate enquanto a maioria dos profissionais estavam no ar condicionado. Mas isso é outro assunto...

Libério Lopes
2º Sarg Mil
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4583: Convívios (151): Tabanca de Matosinhos - Sardinhada na noite de S. João (Xico Allen/Magalhães Ribeiro)



Camaradas,

Neste poste, apresentamos alguns instantâneos enviados pelo Xico Allen, no passado dia 24 de Junho, nos quais nos dá bem conta do excelente e animado jantar/convívio levado a efeito na noite de S. João, pelo pessoal da Tabanca de Matosinhos, onde não faltou, com certeza, a habitual, saborosa e indispensável sardinha assada e um naco da gostosa broa de Avintes que, pela velhinha tradição, deve terminar com uma boa malga de caldo verde.

E é também à boa moda do S. João do Porto, que se devem fazer os pedidos em curtas quadras populares.

Então vamos lá tentar:


S. João sê nosso bom amigo
Olha pela malta da Guiné
Livra-o de qualquer perigo
Mesmo aquele que não tem fé


S. João olha pelos mais fracos
Sabes o que esta gente sofreu
Metidos em pobres bu… rakos
Fosse agnóstico, cristão ou ateu

S. João lembra-te sempre de nós
Nós também não t’esquecemos
E nunca nos deixes um minuto sós
Porqu’é do convívio que vivemos


S. João dá-nos mil e um balões
P’ra festejarmos com sabedoria
As nossas confraternizações
Com muita saúde e alegria!


Fotos: © Xico Allen (2009). Direitos reservados
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos)

APELO

Camaradas,

O nosso Camarada António Matos, pede-nos que publiquemos a repetição de um apelo que já tinha feito, no seu poste Nº 3473, em Novembro de 2008, na tentativa de localizar um Amigo seu guineense, que muito gostava de rever e do qual apenas se lembra dos seguintes dados.


- O seu nome é Ernesto;
- Esteve integrado na CCAÇ 2790 em Bula;
- Fazia parte do seu grupo de combate (4º);
- Período de amizade 1970/72;
- Etnia balanta;
- Não tinha qualquer graduação militar;
- Tem uma foto que se apresenta a seguir.

Dizia então o António no mencionado poste:

Um blogue com a concepção deste nosso cumprirá a sua missão se, paralelamente ao acervo que possibilita a gerações futuras, entenderem esta temática da guerra do ultramar (1961-1974), conseguir também ser um verdadeiro ponto de encontro de camaradas cujo rasto se perdeu pelas vicissitudes da vida.

O Ernesto.

Dos meus tempos de Guiné recordo este jovem negro, o Ernesto, que acompanhou muita da minha actividade em chão Balanta. Era um dos meus lançadores de roquetes.

A sua simpatia e o seu espírito colaborador angariaram-lhe a afeição generalizada.

Hoje desconheço de todo se é vivo, se morreu, se andará pela Guiné, se, quiçá, por Portugal, se é um pé rapado ou algum senhor bem colocado na vida, enfim, perdi-lhe o rasto mas gostava de saber dele.

Se alguém o conheceu, ou saiba algo sobre o seu paradeiro por favor diga-me!

Se nas digressões à Guiné encetadas por vários camaradas alguém o vir ou conseguir saber alguma coisa (nomeadamente em Bula), informe-me!

Seria, para mim, um momento memorável que daria direito a celebração especial.

Um abraço,
António Matos
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4581: Blogpoesia (50): Guiné 2009: Será que gosto de mim ? E do meu país ? (António Graça de Abreu)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O António Graça de Abreu mostrando um quadro, em madeira, gravado a fogo (pirogravura), da autoria do Mário Fitas, seu vizinho de Cascais, oferecido por este camarada para ser sorteado entre os participantes do Encontro...

Por falta de tempo e condições, o quadro não chegou a ser sorteado, aguardando assim melhor oportunidade... Em todo caso, vai daqui um abraço muito especial ao Mário Fitas pelo seu gesto de carinho para com o nosso blogue e os seus camaradas. Sentimos a tua falta, grande Lassa! ( O Mário foi Fur Mil , CCAÇ 763, Os Lassas, Cufar, Região de Tombali, 1965/66; é, além disso, autor de dois livros e um homem dos sete ofícios e muitas paixões (da ornitologia à pirogravura) (*).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O João Seabra (Figueira da Foz) e o Fernando Franco (Amadora), dois intendentes... De pé, o António Santos (Loures), um homem das transmissões, que andou pelo Gabu...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O João Seabra, novo membro da nossa Tabanca Grande... Foi Alf Mil, comandante do PINT (Pelotão de Intendência) 9288, Cufar, 1973/74), a que pertenceu também o Fernando Franco (embora tenha estado sempre em Bissau) (**).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O António Graça de Abreu, ao centro, na segunda fila, entre o Rui Ferreira (o nosso Ruizinho, como é tratado carinhosamente, o autor de Rumo a Fulacunda) e o António Martins de Matos (que, em termos de patentes militares, era o mais graduado de todos nós: Ten Gen Pilav, na reserva)... Na primeira fila, da esquerda para a direita, o Álvaro Basto (Matosinhos), o Abel Rei (Marinha Grande) e o Fernando Oliveira (Porto)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Um abraço de dois bons camaradas que nem sempre estiveram de acordo, no blogue, na avaliação da situação político-militar da guerra na Guiné, na véspera do 25 de Abril de 1974: o António Graça de Abreu (à esquerda) e o Juvenal Amado (à direita). (LG)

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.


Guiné, Região de Tombali, Cufar > Janeiro de 1974 > O António Graça de Abreu num Heli Al III

Fotos: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados



1. Mensagem do António Graça de Abreu (que foi Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74):

Meus caros Luís, Carlos, Magalhães Ribeiro:


Na boa ressaca do nosso encontro da Ortigosa, escrevi este simples poema. Se acham que é de publicar, publiquem. Nas fotos do Santos Oliveira há uma espantosa (a primeira de duas) em que o Juvenal Amado e eu nos abraçamos. Essa fotografia diz tudo, é bem melhor que o meu poema. Se acharem bem, publiquem a fotografia com o poema.

[ O nosso camarada esteve recentemente em Macau, para apresentação do seu última de um tradução de um clássico da pesia chinesa), em depois em Hong Kong, Zuhai, Xangai e Pequim. Entretanto, a 3 de Julho próximo, volta a viajar para a China, "com a minha família chinesa e meia chinesa", , só regressando a Portugal no dia 3 de Setembro. Vai ser um Verão cheio de China].



Guiné 2009


Será que gosto de mim?
Será que os que me rodeiam gostam de mim?
Será que gosto do meu país?
Será que o meu país gosta de mim?

A herança da História, os acasos do tempo,
o estertor do Império, a insensatez das gentes
levaram-nos um dia a servir numa guerra.
Homens-meninos, por bolanhas verdes,
no tarrafo cinza, na picada traiçoeira,
na humidade quente do amanhecer das florestas,
o espanto, a morte, o medo, a coragem.

Quase rasgámos a alma.
Sobrevivemos, envelhecemos devagar.

Hoje, reencontramo-nos no meio de Portugal,
a festa, o vinho, o nosso fado,
as sinuosidades da vida, mil estórias,
o gosto cristalino de um abraço de irmãos.

E ainda uma lágrima,
a guerra da Guiné somos nós.

António Graça de Abreu

Estoril, 22 de Junho de 2009


__________

Notas de L.G.:~

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas

(**) Vd. postes de:

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4377: Tabanca Grande (145): João Lourenço, ex-Alf Mil do PINT 9288 (Cufar, 1973/74)

20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4389: (Ex)citações (28): Ah! Grande Lourenço ou… confessando os nossos pecadilhos de Cufar 1973/74 (António Graça Abreu)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4415: (Ex)citações (29): A Guiné que todos temos um pouco na alma (João Lourenço)