quinta-feira, 30 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4759: História da CCAÇ 2679 (22): Falando sobre Bajocunda (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 29 de Julho de 2009:

Caro Carlos,
Envio-te mais um pedaço da passagem de uma companhia pelas bandas de Bajocunda. Desculpa a trabalheira, tanto mais que em pleno Verão não deves precisar de mais aquecimento, mas não me ocorreu dar outro destino ao texto.

Um grande abraço para ti a para a Tabanca.
J.Dinis


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679
BAJOCUNDA


A localidade encontra-se no nordeste da Guiné, entre duas tabancas situadas sobre a linha de fronteira com o Senegal, Pirada, 11 Km a oeste, e Copá, cerca de 20 Km a leste. Fica a uma distância da linha de fronteira de cerca de 4 Km, e pertencia ao regulado de Amedalai. Olhando do ar para Bajocunda, a identificação dos limites, definidos pela fiada de arame farpado, revela uma figura ovalizada, com excepção a leste, onde a pista de aviação contígua configura um segmento de recta.

Havia três portas (cavalos de frisa), que correspondiam aos acessos a três estradas (picadas), para Pirada, com passagem por Tabassi, na direcção sudoeste, já que esta aldeia é ainda mais a sul; para Nova Lamego, na direcção sul; para Copá, na direcção leste, com bifurcação para Amedalai, a 3 Km, na direcção sudeste.

A tabanca ocupava a parte oriental do perímetro aramado. No interior desse perímetro estendia-se uma faixa de rodagem que permitia o fácil acesso por viatura aos abrigos periféricos.

O aquartelamento ocupava cerca de metade da àrea total e estava separado por uma vedação de arame. Era ali, onde fora o coração económico e social da terra, que, em antigas casas comerciais, se situava o Comando e Secretaria, a Messe, a Enfermaria, os quartos, a Arrecadação de Material de Guerra, as Transmissões e a Cantina.
Numa construção aberta, mas coberta por chapa zincada, funcionava a Cozinha e o Refeitório. Em frente à Secretaria, soterrado, oblongo e com uma entrada estreita e alta numa extremidade, existia um Paiol, carinhosamente baptizado de submarino.

Na localidade havia ainda três casas comerciais, uma delas, com a frontaria virada para o pau de bandeira e a Secretaria, quase permanentemente encerrada e o proprietário, um velhote africanista, fez poucas visitas.
Das duas restantes, uma, junto à Messe, era gerida por um guinéu e eram escassos os artigos, reflectindo-se na pouca clientela. Do outro lado da rua à direita, no sentido do aquartelamento para a pista, ficava a casa do Silva, que sob o alpendre tinha sempre dois alfaiates, e um razoável número de pessoas que conversavam ou ficavam protegidas, tanto do sol inclemente, como da chuva quando lhe tomava a vez.

No interior, por trás de um velho balcão, o Silva, o ajudante, e raramente a esposa, faziam toda a sorte de negócio que interessasse aos locais ou à tropa. Nas traseiras, sob as frondosas mangueiras que davam sombra ao quintal, e onde também se destacava uma ou duas papaieiras, funcionava um improvisado bar ou restaurante. Recordo a excelente galinha de fricassé que o cozinheiro sabia preparar e constituía um manjar de deuses.

A actividade económica organizava-se, principalmente, em torno da presença militar, que patrocinava o grande fluxo de patacão, cujo circuito terminava maioritariamente na loja do Silva. A população praticava uma reduzida agricultura, com algumas lavras de mancarra, e de milho, que era semeado no inicio das chuvas e colhido quatro meses depois, com o início da seca. Praticava-se ainda alguma pouca pastoricia.

A população vendia à tropa alguma (pouca) fruta, galinhas e cabritos. As vacas eram propriedade de muito poucos e símbolo de poder e riqueza, pelo que, por vezes, era relutantemente que as vendiam à tropa. Recordo que as vacas custavam dois contos, e tendo em conta os rendimentos médios a seguir referidos, o preço de uma vaca equivalia a um ano de receita para o comum da população, e não tinham preço de aquisição, nem tinham custo de produção.

O rendimento familiar era muitas vezes substancialmente acrescido com o salário de Soldado ou Milícia, dado que muitas famílias tinham parentes na tropa. Ainda assim, dificilmente o rendimento familiar médio excederia 200 a 300 escudos (pesos) mensais, que à distância do tempo, poderia significar 20 ou 30 contos por mês, cem ou cento e cinquenta euros nos dias de hoje. Refiro-me, claro, a famílias do ambiente rural no âmbito descrito.

Parada de Bajocunda, enriquecida com a presença da Fatinha, a lavadeira que não gostava mesmo nada que lhe chamassemos rata cega.

Foto e legenda: © Cândido Morais (2009). Direitos reservados


Nos arredores de Copá havia ainda uma boa plantação de cajueiros, que não sei se era propriedade particular ou comunitária. Outra fonte de receita resultava da prestação de serviços, que quase se resumiam ao (mau) tratamento da roupa e à prostituição.

Amedalai era a mais importante das tabancas por ser sede de regulado. Vivia em regime de auto-defesa com um Pelotão de Milícias. No período de transferência da Companhia, e tendo em conta o elevado número de tropa em Bajocunda decorrente dos recentes acontecimentos na região, praticamente todas as noites se deslocava um Pelotão para reforço da aldeia, ou montava emboscada nas cercanias. Passado esse período, raramente voltou a acontecer algum Pelotão ali se deslocar a passar a noite.

Tabassi era uma pequena aldeia a meio caminho para Pirada. Por esta ocasião foram distribuídas armas novas do modelo G-3, foi erguida a vedação e abertas valas de protecção e defesa. Apesar do regime de auto-defesa, todas as noites se deslocava um Pelotão para garantir a protecção da aldeia. Pouco tempo depois, quando exigi do Chefe de Tabanca a verificação do armamento... nem pó, levaram sumiço. Estas situações relatadas, levam-me a concluir pela existência de relações de cumplicidade destas populações com o IN, no entanto não tive conhecimento de alguma atitude com vista à recuperação das armas, nem da mais leve preocupação a propósito. "Durante o mês de Agosto o IN revelou-se uma única vez, com uma flagelação a Copá, mas sem quaisquer consequências" - da História da Unidade.


Indício sobre a gestão da Companhia

Durante os primeiros seis meses de comissão, em Piche, a Companhia adquiriu uma boa experiência operacional, face às inúmeras saídas a que o quotidiano da intervenção obrigava. Dependíamos do Batalhão ali sediado em tudo o que à logística dizia respeito, pelo que os nossos serviços nessa área não tiveram qualquer relevância.

Com a assunção de responsabilidades no sub-sector, verificou-se a autonomia de administração de tudo o que à Companhia dizia respeito, nomeadamente na aquisição e gestão dos géneros alimentares, material e sobressalentes para as viaturas, bem como na aquisição e gestão da gasolina. Começou então a verificar-se uma relação directa entre a acção do Comando, onde pontificava o Primeiro-sargento, enquanto senhor de vasta experiência, e as condições de operacionalidade e qualidade de vida de todos os elementos, quer integrassem os operacionais, quer a parte de serviços.

A primeira surpresa foi-me relatada pelo Furriel responsável pela secção mecânica. Em princípio seria ele o interlocutor directo com o Comando no que à actividade e às necessidades correlativas dissesse respeito, tendo em vista a orientação para o melhor aproveitamento dos recursos. Referiu-me preocupado e revoltadamente uma proposta que logo lhe fizeram e constava do seguinte: a Companhia passava a abastecer-se de gasolina pela compra directa na sucursal da Casa Gouveia no Gabu, e para cada requisição de combustível, carregava-se apenas metade da quantidade mencionada na guia. O produto da restante quantidade seria dividido pelo representante da casa vendedora, o capitão, os dois sargentos e o furriel mecânico.

Perguntei-lhe quanto é que lhe renderia o negócio. Indignado, respondeu que regeitara a concumitância, mas que a parte proposta era ínfima. Dei-lhe os parabéns, ele era íntegro e pessoa de bem que não se deixara manipular. Mas ficou marcado, e mais tarde havia de lhe sair cara a ousadia.

De seguida, na Messe, referi para quem quis ouvir, que eu, se tivesse que transportar gasolina, ou carregar os bidons, ou carragava todos os constantes da guia, ou nenhum. E, tanto quanto me lembro, das inúmeras vezes que fui a Nova Lamego para reabastecimento, só transportei gasolina quando algum membro da sociedade se deslocava ao entreposto. De uma vez, tenho a certeza.

O miserável parque automóvel, com viaturas destroçadas e avariadas, para que nada falhasse e fosse justificável, nos mapas que seguiam para Bissau, constava em condições normais de utilização, com tudo a andar e a consumir alarvemente, medida que garantia duas situações: a justificação para o consumo a coberto da legitimidade por parte da sociedade, e o risco acrescido do pessoal que se deslocava em viaturas para o mato, tudo ao monte e fé em Deus. De facto, se trinta homens se deslocassem em três viaturas, a capacidade de reacção e o risco era bem diferente do que deslocando-se em duas.

JMMD
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4692: História da CCAÇ 2679 (21): O meu regresso à Guiné, após as férias na Metrópole (José M. Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P4758: Parabéns a você (15): Francisco Palma da CCAV 2748 e Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Companhia de Comandos do CTIG (Editores)

Hoje, dia 30 de Julho de 2009, fazem anos os nossos camaradas:
Francisco Palma da CCAV 2748 e
Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Grupo de Comandos "Os Centuriões".



1. Francisco Palma foi Condutor Auto Rodas na CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72 (*).

A escassos meses de terminar a sua comissão, ficou com mais de 30% de incapacidade quando o seu burrinho (Unimog 411) accionou uma mina AC.
É hoje DFA.




Dizia-nos o Francisco aquando a sua apresentação em Novembro de 2007:

[...]
Notícias da minha malta... Bem, como deves calcular, houve muita porrada, foram 22 meses de Canquelifá com todas as noites de sono incompletas (reforços e ataques).

Sofremos 15 ataques nocturnos directos mais dois com foguetões 122, chamados mísseis, 4 de cada vez... Estes eram respondidos com Obus 14. O alvo era o aquartelmento, mas as flagelações foram sem consequências graves, com raros feridos, tanto para as nossas tropas com para a os indígenas do aldeamento, que conviviam connosco dentro do arame farpado.

Há a registar ainda o rebentamento de uma mina anticarro, onde eu fui o único ferido. Sofri fracturas múltiplas em ambos os pés, quando conduzia um Unimog 411 (Burro do Mato) que transportava mais 11 Camaradas. Faltavam só 3 semanas para o regresso. Hoje sou DFA com 30,58% de deficiência. Com a idade as sequelas agravam-se, mas estou vivo.

[...]

Ao nosso camarada Francisco Palma desejamos a melhor saúde possível dentro dos seus condicionalismos. Que passe este dia de aniversário acompanhado de seus familiares e amigos, festejando a longa vida que ainda tem pela frente. Nós, deste lado, fazemos força para em 2048 haver uma formatura geral dos centenários. Aquela colheita de 1948 foi mesmo excelente.

Canquelifá > CCAV 2748 (1970/72) > O Francisco Palma posando junto ao brazão da CCAÇ 1623.
__________


2. Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo Radiomontador do Batalhão 506, Bafatá, e Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Os Centuriões".

Este nosso camarada escolheu a Holanda para viver, um país civilizado e aberto, no mais lato sentido da palavra.

Daqui de Portugal os teus amigos e camaradas desta Tertúlia, desejam-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos, e enviam-te um abraço de parabéns.

Como irás comemorar os 100 anos primeiro que nós editores, cã estaremos nessa altura para dar o devido relevo ao acontecimento.

Moínho típico da Holanda. Este país tem parte do seu território abaixo da cota do nível médio do mar. Estes moínhos drenavam a água dos canais.

Foto: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.


Recordemos as palavras de Júlio Abreu aquando da sua apresentação à Tertúlia em 23 de Maio de 2008:

[...]
Caros amigos, estando hoje no meu computador, deu-me a ideia de através do Google procurar saber se haveria alguma coisa sobre o meu antigo Grupo de Comandos Centuriões.

Qual não foi a minha surpresa ao encontrar bastantes artigos sobre o meu grupo assim como muitas notícias dos meus tempos de Guiné!

Quando fui para lá, fiquei no Batalhão 506 em Bafatá, como Radiomontador. Meti os papéis para frequentar o curso de Sarg Radiomontador em Paço de Arcos e, quando abrisse o curso, seria automaticamente graduado em Furriel, pois na altura era 1.º Cabo.

Pouco tempo depois fui transferido para as oficinas de rádio do Batalhão de Transmissões no Quartel-General em Bissau. Ao fim de poucos meses como iam ser criados os Comandos na Guiné, ofereci-me como voluntário para os Comandos.

Depois das provas fui incorporado no Curso em que foi criado o meu Grupo de Comandos Centuriões do Alf Rainha. A partir da criação do grupo fui chefe de equipa.
[...]
Quando voltei para a Metrópole e depois de ter estado empregado no representante da marca JVC em Portugal, resolvi vir para a Holanda onde estou há 36 anos, tendo trabalhado sempre na Companhia de Aviação KLM como técnico de Rádio.
[...]


Algumas fotos ao acaso:

Quartel dos Comandos - Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos

Quartel de Brá, fim de comissão

Partida para o mato com a minha equipa

Parada no Quartel de Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos

No meu quarto em Brá

Fotografia de 'Ronco'

Despedida dos Comandos, Abraço Cap Rubim

À porta do gabinete do Comandante dos Comandos Capitão Rubim

Fotos: © Júlio Abreu (2008). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Sobre Francisco Palma, Vd. postes de:

24 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2211: O monumento da CCAÇ 1623, Canquelifá, 1966/68 (Francisco Palma, CCAV 2748, 1970/72)

5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-condutor auto, ferido em combate, CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá (1970/72)

25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2303: Tabanca Grande (42): Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2684: Convívios (43): CCAV 2748, dia 1 de Junho de 2008 em Almeirim (Francisco Palma)


(**) Sobre Júlio Abreu, Vd. poste de 23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2876: Tabanca Grande (71): Júlio Abreu, ex-1.º Cabo da Companhia de Comandos do CTIG (1964/66)


Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4701: Parabéns a você (14): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4757: Poemário do José Manuel (29): Como eram belas as bajudas que conheci...

Guiné > Região de Tombali > Simpósio Internacional de Guiledje > Visita ao sul > 3 de Março de 2008 > Imagens, eternas, do Rio Corubal: rápidos do Saltinho (a primeira, de cima) e as esbeltas lavadeiras.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (1972/74) > O Zé Manel, ou o Josema (pseudónimo literário), que durante a sua comissão na Guiné escrevia todos os dias um poema... Infelizmente, destruiu a maior parte deles... Salvaram-se umas escassas dezenas, que têm vindo a ser aqui publicados (*)...

Poema enviado em 3/4/2008. Republicaçção. Série Poemário do José Manuel (**)

Comentário de L.G.:

Da Quinta da Senhora da Graça vêm-nos boas e más notícias: boas notícias dos néctares que o nosso camarada Zé Manel, mais a Luísa, e mais o seu talentoso enólogo Vasco Lopes, por acaso filho de ambos, continuam a produzir e a arrecadar prémios; más notícias, por outro lado, no que diz respeito ao famoso baú da avó, na Régua: mais poemas "cá tem"...

Resta-me ir ao rabisco, como se diz na minha região, o Oeste estremenho... Neste caso fui 'repescar' um poema já publicado, mas que passou despercebido, por que ia numa molhada (como aconteceu aos primeiros postes)... Os poetas têm mais liberdade de (re)criação do que nós, pobres editores deste blogue... Em todo o caso, já no píncaro do verão e nas vésperas de partida para as férias de Agosto (para os profs como eu, o mês de férias por excelência), aqui fica uma bela sugestão poética do Josema... É também um reforço da ideia de que, no nosso blogue, não há tabus (ou não deveria haver): por exemplo, falar de amores e desamores em tempo de guerra... Que também os houve, lancinantes, impossíveis, dramáticos, grotescos, cafrealizados, passageiros, incorrespondidos, platónicos, mercantis, sofridos, gozados, curtidos... Amores de verão, como os dos estudantes ? Amores de cais, como o dos marinheiros ? Amores com múltiplas barreiras, a começar pela guerra e o choque de culturas ?... Amores livres como a liberdade livre de que fala o António Ramos Rosa ?... Que respondam os poetas e os amantes...(LG)


Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantes
as de amores realizados
as de amores imaginados
as que ficavam distantes
todas todas
todas sem excepção
quero beijá-las quero amá-las
para matar a solidão
não há raparigas más
não existem rostos feios
só vejo corpos esbeltos
só vejo pernas e seios

Bissau 1974

josema

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Notas de L.G.:

(*) Sobre o José Manuel Lopes, vf. poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)

(**) Postes anteriores da série Pomeário do José Manuel

2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4451: Poemário do José Manuel (28): Matar ou morrer ? Não...


11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4011: Poemário do José Manuel (27): Um ruído vem do céu / e há cabeças no ar, / hoje é dia de correio...

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3884: Poemário do José Manuel (26): O regresso a Mampatá, 35 anos depois...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3787: Poemário do José Manuel (25): A Morte

17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...

23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...

22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...


Guiné 63/74 - P4756: Historiografia da presença portuguesa em África (19): 1.º Cruzeiro de férias às colónias de C. Verde, Guiné, S. Tomé... (Beja Santos)


1. Do nosso Camarada Mário Beja Santos, ex-alferes miliciano que comandou o Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca - 1968/70, recebemos a seguinte mensagem. Em 29 de Julho de 2009:




1º Cruzeiro de férias às colónias de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola




Recordo-me perfeitamente como se fosse hoje: em meados de Maio de 1968, logo que fui informado que estava mobilizado para a Guiné, procurei o meu querido amigo Ruy Cinatti, aprazamos um fim de tarde, vim directamente do Regimento de Infantaria nº 1, na Amadora, quando estava incorporado no BCAÇ 2851, apresentei-me na sua casa na Travessa da Palmeira nº 12, 3º direito, perto do Largo do Príncipe Real.

Logo que lhe falei da Guiné, para minha surpresa, o Cinatti falou-me saudoso de Bissau e de Bolama, e o tema do nosso jantar foi essa viagem ao longo de Agosto e Setembro de 1935 a bordo do navio Moçambique, veio à baila a presença de Marcelo Caetano e o apoio da revista O Mundo Português, então a mais influente publicação da Agência Geral das Colónias e do Secretariado da Propaganda Nacional.


Mas, no fundo, o que mais impressionara Cinatti fora Cabo Verde e sobretudo S. Tomé.

Em dada altura, na sua exposição acalorada, os seus olhos brilhantes ainda mais intensos pela pinga, observou-me: “Com as belezas de Cabo Verde e com as gentes que encontrei nas ruas, sabia que precisava de viver numa ilha. Foi Timor o meu feitiço.


Mas o paraíso encontrei-o em S. Tomé, foi lá que escrevi alguns dos poemas que não reneguei, ali me inspirei para o meu conto Ossobó, que hoje lhe entrego.

Estivemos pouco tempo na Guiné, guardo no corpo aquela humidade quando o navio passou a ponte de Caió. V. vai dar-se muito bem com aquelas gentes”.

E assim morreu a minha informação sobre aquela mocidade académica que percorrera durante cerca de dois meses uma parte do Império Colonial.


Encontrei agora O Mundo Português que anuncia o evento, o número de Setembro – Outubro de 1935.

Alguém descreve a entrada em Bissau, os batuques a receberem os jovens no cais do Pidjiquiti, as aves de cores variadas, os jagudis alimentando-se de dejectos (havia então uma multa de 500 escudos para quem matasse estas aves) referindo-se que a vegetação era de um verde quase escuro, os mamífero de pequeno porte, e que alguns dos autóctones ainda se aproximavam a medo dos brancos.

O relato refere o baile oferecido pelo governador, um espectáculo com lutas e o autor escreve: “em que apreciei a agilidade, resistência e lealdade, qualidades que poucas vezes se vêem nos brancos. Os pretos são extraordinariamente bem constituídos”.

O governador da Guiné era o major Luiz António de Carvalho Viegas, que discursa assim na recepção aos jovens a quem se pretende dar uma lição de nacionalismo colonial, e deplorando a rapidez da visita que não permite mostrar pormenorizadamente aos jovens aspectos como: “A ordem, o sossego e a tranquilidade que há entre as 17 raças e sub-raças, de civilizações, hábitos e costumes completamente diferentes; como a colónia é cortada em todos os sentidos por estradas sobre algumas das quais os vossos automóveis podiam rolar a uma velocidade média de 90 km/hora; veriam as suas matas onde se encontra a onça, a pantera, a hiena, o leão e o elefante, as suas lagoas povoados de cavalos-marinhos e crocodilos, as suas opulentas palmeiras cujos frutos nos oferecem o coconote e o óleo de palma...”.

Importa esclarecer que não houve segundo cruzeiro às colónias, vá lá saber-se porquê...

Extraí algumas imagens que me pareceram bastante impressivas: junto ao túmulo de Honório Pereira Barreto em Bissau e duas imagens de Bolama, então capital da colónia.

Esta revista ficará a pertencer ao espólio do nosso blogue.


Uma guineense “modernista”

Beja Santos
Alf Mil do Pel Caç Nat 52

Imagens: Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4755: Blogpoesia (55): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (IX Parte): Do início da República à Grande Guerra (1910/17)

Guiné > Região do Oio > Fatim > 2ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > 1974 > "Este vosso escriba com as divisas de bico p'ra baixo apostas (só mesmo para a fotografia)... O 'artista' empoleirado numa árvore junto à bolanha onde pescávamos. Foto tirada a 13 de Março de 1974, em Fatim, perto de Nhacra, já no bem bom"... (MM)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Maio de 1973 > "Junto a uma das mesas da nossa 'messe', em Cafine, creio que em Maio de 1973... Na foto, vê-se o Capitão Terrível (1º à esquerda), o Alf Dias e o Fur Martins (falecido); do lado direito, Fur Afonso (falecido), Fur Vitor Codeiro (membro do blogue), Fur Moura; e eu, ao fundo" (MM)...

Guiné > Guiné > Região do Oio > Nhacra > Fatim > Novembro de 1973 > Destacamento da 2ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O Manuel Maia mais o Agulha, faxina de Fatim, "já no bem bom de Fatim, em Novembro de 1973" (MM)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Agosto de 1973 > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Os depósitos (!) de água do destacamento... Na foto, o autor, desfardado...


Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Janeiro ou Fevereiro de 1973 > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74) , Os Terríveis > O Manuel Maia fotografado... em território inimigo, no mítico Cantanhês (leia-se, fora do arame farpado

"Esta fotografia é a 'prova provada' que contraria a versão de AB [Almeida Bruno], já que o indivíduo de tronco nu, que às vezes andava fardado de militar do Exército Português com umas 'divisas amarelas de bico pa'ra baixo' , modestas mas dignamente ganhas, acusado juntamente com mais uns milhares de militares, está sentado sim, mas... do lado de fora do arame farpado!!!

"O 'militar desfardado' não teve medo de se deixar fotografar froa o arame farpadi só para que se
soubesse que ali bem perto, a escassos meros, não se recebiam medalhas, mas ferro quente.

"Ainda bem que tenhio este documento comprovativo de que às vezes estávamos fora do arame farpado" (MM)...

Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.



Lisboa > 1917 > A partida para a guerra (excerto): uma das mais emblemáticas fotos do Joshua Benoliel (1873-1932), o maior fotojornalista português das duas primeiras décadas do Séc. XX. (*) Arquivo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.

Fonte: Foto de Luís Graça (2005), obtida na Exposição Joshua Benoliel (1873-1932), Repórter Fotográfico que decorreu em Lisboa, Cordoaria Nacional, de 18 de Maio a 21 de Agosto de 2005.

IX parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74). Texto enviado em 15 de Julho último (*).


História de Portugal em Sextilhas,
por Manuel Maia (*)


Da proclamação da República em 1910 até à participação de Portugal na I Guerra Mundial, em 1917


247-No cinco de Outubro perecia
a velha portuguesa monarquia
que o rei primeio dera de presente.
É Relvas quem proclama em Lisboa
o fim da já vetusta lusa c´roa,
por troca co´a República emergente.


248-Nascido nos Açores, Ponta Delgada,
de aristocrata gente, bem criada,
bem cedo conheceu a orfandade.
Da Escola Coimbrã foi fundador
ao lado dum Antero, interventor,
Teófilo mostrou capacidade.



249-Doutoramento alcança com Direito
e cátedra de Letras toma a peito,
de Augusto Conte foi estudioso.
Republicano, assume a presidência,
este homem que era poço de ciência,
no galarim da história bem famoso.

Teófil Braga (1843-1924)
Fonte: Wikipédia


250-Teófilo que é Braga tem chefia,
do elenco provisório que fazia,
da Igreja inimigo figadal,
ao promulgar a lei/separação,
e promover a subordinação,
da mitra ao poder forte, estatal...


251-Na luta contra a Igreja, em guerra aberta,
as várias Ordens vão ter morte certa,
imposta do país sua expulsão.
Governo ao publicar a lei da imprensa,
divórcio, greve, impõe feliz sentença
que fez regozijar toda a Nação...


252-Aceite pela nova Constituinte,
regime dá depois passo seguinte
e faz de A Portuguesa o nosso hino.
Para ocupar cadeira que está vaga,
um outro açoreano, Arriaga,
o mais alto lugar tem por destino.


A Bandeira Nacional
adoptada pela República,
por Decreto nº 150, de
30 de JUnho de 1911

Fonte:
Wikipédia


253-Desejo de invasão então motiva
monárquicos, que fazem tentativa
de entrada pelo Norte, lá em Vinhais.
Couceiro e Sousa Dias, derrotados,
p´la força retrocedem, humilhados,
voltando bem mais tarde a dar sinais...


Afonso Costa (1871-1937)

Fonte: Wikipédia


254-Cobiça de Alemães e Ingleses
visando territórios portugueses
Os Dembos, em Angola, instigará.
Afonso Costa chega ao poder
e usando a força p´ras greves conter,
mil ódios e revoltas gerará...


255-Reais adeptos com sindicalistas,
apoiam Lima Dias e grevistas
querendo derrubar governo eleito.
Perdendo, enchem celas das prisões,
Afonso Costa vence as eleições,
reforça então poder, seu por direito...


256-Mau grado um orçamento milagroso
gerando um superavit estrondoso,
Afonso Costa vai largar assento.
Unionistas tiram-lhe o tapete,
impondo a Arriaga (que remete...)
o apelo a Bernardino, sempre atento...


257-Machado (Bernardino), um professor,
da liberdade enorme defensor,
maçon grão-mestre e lente coimbrão.
Desiludido com a monarquia,
com armas e bagagens mudaria,
republicanas hostes fôra opção...


258-Constatação surgida facilmente
mostrou um Arriaga presidente
a dar a mais governos sua posse...
Depois de Bernardino vem Coutinho,
Pimenta Castro está já a caminho,
a ditadura tem tempo precoce...


259-Pimenta Castro é duro general
de quem esperam seja mesmo o tal,
capaz das resistências amansar...
Sentindo ser credora da razão,
unida fez-se forte a oposição
e o faz perder, à força, o seu lugar...


260-Em carta a Afonso Costa, Chagas diz,
que o "mal se corta sempre p´la raíz",
exige a ordem, actos decididos.
Na urgência de acabar com a anarquia,
panfleto Última Crise evidencia,
horror quanto ao povinho e os partidos...


261-Catorze, mês de Maio, quinze o ano,
maçónica a revolta, grande o dano,
destruição campeia na cidade.
Lisboa ouviu troar os cruzadores,
sentiu pairar no ar gritos e dores,
razão de fundo o nome, liberdade...


262-Mas sendo o ideólogo da acção,
irá formar governo de união,
mau grado ausência, grave, das chefias...
e Freitas, senador, gera atentado,
cegando Chagas vai morrer linchado,
saída de Arriaga está por dias...


263-Se Chagas está dois meses no poder,
Augusto Vasconcelos vai merecer
ter sete meses p´ro cargo ocupar.
Duarte Leite tem um tempo igual
Afonso Costa, bivencendo, é o tal
com mais de um ano p´ra ocupar lugar...


264-Teófilo vai ser o candidato
a dar por findo o resto do mandato,
da mais alta figura, Arriaga...
Novo acto eleitoral efectuado,
indicará Bernardino Machado
como ocupante p´ra cadeira vaga...

265-Cumprido o seu papel republicano,
o homem superior, afável, lhano,
largou, de vez, política maldita.
Depois da deserção do conterrâneo,
de quem foi sete meses sucedâneo,
Teófilo mergulha, enfim, na escrita...



Angola > Luanda > Antigo Largo Maria da Fonte, hoje Largo do Kinaxixe > 1967 > Monumento aos Mortos da Grande Guerra (e, do lado esquerdo o mercado de Kinaxixe). Foi posteriormente dinamitado e substituído por um tanque soviético... Hoje está lá a estátua da Rainha Nzinga Mbandi.

Fonte: Blogue
Nonas > Poste de 3 de Julho de 2008 > As estátuas de Luanda e o General (Com a devida cortesia...)

Foto (editada): Sítio
Galeria SanzalAngola > Álbum Luanda de Outros Tempois, Preto e Branco (Com a devida vénia...)



266-Governo novo com Afonso Costa
fará da paz de Angola forte aposta,
visando ira alemã suster de vez.
Gravosa p´ro país foi inflação,
imposta p´la africana expedição
que a honra lusa e brio satisfez...


267-Germânicos ataques infligidos,
p´los lusos povos d´África sofridos,
são acicate à honra do país.
Apresam-se teutónicos navios
fazendo deles barcos luzidios
de empresa nova feita de raiz...


268-Marítimo Transporte de Estado
p´ro anglo-luso interesse então criado,
os boches vai levar à irritação...
Declaração de guerra surge após,
forçando ao juntar forças, entre nós,
Sagrada União fez a Nação...

269- Quionga, em Moçambiquem é retomada,
da força invasora resgatada,
por cá, de novo tudo está a aquecer...
Machado Santos volta p´ras alhadas
perdido o Movimento das Espadas
de novo, sublevado, vai perder...


270-Catorze trouxe a outorga p´lo Congresso,
para a intervenção lusa no processo
da grande e horrenda Guerra entre as Nações.
Apoio à Inglaterra, aliada
contra a Alemanha, em França (ocupada...)
faz lusos se baterem, quais leões...

Manuel Maia

[ Revisão / fixação de texto / imagens: L.G.]
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:


2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)

22 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4561: Blogpoesia (49): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VI Parte): IV Dinastia (Brigantina) (até 1755)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4610: Blogpoesia (51): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VII Parte): De Pombal (1755) até ao regente D. Miguel (1828)

10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República

Guiné 63/74 - P4754: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (2): João Turé, um menino da tabanca e quartel de Binta (Parte 2)


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira, foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), é jornalista profissional conhecido no seu meio por “JERO” e enviou-nos uma mensagem , com data de 24JUL2009, e o título: Tempo Africano, cuja 1ª parte foi publicada no poste P4751:



II PARTE


2 - «Começo pelo nosso Alferes Tavares, cujo verdadeiro nome para nós, crianças da minha geração, era os olhos de gato, “o Feiticeiro”.


E sabem porquê? Porque as minas que montava nas mais variadas armadilhas resultavam sempre. Nunca falhavam. Eram sempre accionadas pelo inimigo.


Era uma verdadeira feitiçaria para todos nós, meninos a aprender ser homens. É uma figura que ficará para sempre na memória de todos nós.


3 - Também o nosso Alferes António Duarte Santos, era o mais admirado por todos os milícias de Binta, pelo modo como sabia conduzir os seus homens, quer nas mais variadas situações no teatro operacional, quer nos tempos de lazer que conseguiam ter. Será sempre recordado passem os anos que passarem.


3 - TEMPO AFRICANO


Damos seguimento às estórias do guineense João Turé num dia em que se encerra mais um triste capítulo da história recente da Guiné.

Morreu em Lisboa Luís Cabral, exilado desde há cerca de 30 anos em Portugal.

Luís Cabral tinha sido feito Presidente da Guiné em 1973, o mesmo ano em que o seu irmão Amílcar Cabral tinha sido assassinado em Conacri, em circunstâncias que ainda hoje não estão bem esclarecidas.Luís Cabral fora deposto em 1980 por Nino Vieira que há bem poucos meses foi executado em Bissau.No Editoral do “Diário de Notícias”, de 1 de Junho, refere o jornalista que a Guiné-Bissau não é hoje nada do que Amílcar Cabral sonhou(a não ser independente). Antes deste final dramático o articulista refere, a meio dos seus considerandos, que os múltiplos episódios de golpes, guerras e assassínios dos últimos anos fazem da Guiné-Bissau um “Estado falhado” !Perante o dramatismo destes factos as recordações de João Turé serão um bálsamo longínquo da vivência de meninos que, nos seus primeiros tempos de vida ,cruzaram com militares de uma Companhia de Caçadores.

As estórias que temos vindo a relatar aconteceram na região onde nasceu no norte da Guiné - mais propriamente em Binta, a 20 kms. da fronteira com o Senegal - no período compreendido entre Junho de 1964 e Abril de 1966.

A estória nº. 3 deste “TEMPO AFRICANO” foca de novo as reminiscências de alguns militares que nessa altura mais impressionaram os meninos da aldeia de Binta.

JERO


Ao volante do jipe o Alf. Médico Dr. Martins Barata.
O Fur. Enfermeiro Oliveira encara a objectiva.

3 - Não posso esquecer, também, o nosso Alferes Médico, Dr. Alfredo Martins Barata, para quem quero, em meu nome e, tenho a certeza, em nome de toda a população de Binta, apresentar os mais penhorados agradecimentos, por tudo o que fez por nós, quer de dia quer de noite, quer fizesse chuva ou fizesse sol, sabíamos que e sua ajuda chegava sempre na hora certa. Uma pessoa impar que continuará sempre connosco.

Também recordar o nosso Furriel Enfermeiro José Eduardo Reis de Oliveira, de todos conhecido como o “Furriel Pica”, pelo seu inesquecível apoio a toda a população de Binta, nas mais difíceis ou simples situações, onde eu me incluo, pois, dei-lhe muito trabalho com um profundo corte num pé, suturado com muitos pontos.

Por tudo isto, ainda hoje é recordado com muito carinho pelas gentes de Binta. Todos recordaremos sempre o muito que fez por nós.


4 - TEMPO AFRICANO


Acrescentamos mais um capítulo às estórias do guineense João Turé, numa fase da história recente da Guiné-Bissau marcada por múltiplos episódios de golpes, guerras e assassínios .

Nos primeiros dias do passado mês de Junho tomámos conhecimento pelos serviços noticiosos de mais mortes eventualmente ligadas a mais uma tentativa de golpe de Estado.Entre outras notícias de jornais nacionais salientamos a divulgação de um comunicado atribuído ao Governo da Guiné, que referia:"O Conselho de Ministros tomou conhecimento, através das chefias militares e responsáveis da Segurança de Estado, que estava em curso no país uma tentativa de golpe de Estado e que as mortes de Baciro Dabó, deputado da nação e ministro da Administração Territorial, Hélder Proença, entre outras, ficaram a dever-se ao facto de, presumivelmente, terem tentado resistir à ordem de prisão, enquanto outros mentores se terão entregues sem qualquer resistência", refere o governo em comunicado.

"(...) O Conselho de Ministros teve a oportunidade de escutar gravações, envolvendo os principais protagonistas, através das quais se poderá inferir os seus propósitos, tendo com efeito condenado qualquer acto tendente a alterar a ordem constitucional, por vias não legais", refere o comunicado o governo guineense.No documento, o governo lamenta o "trágico acontecimento, que vitimou duas personalidades políticas e de quem ainda se esperava uma contribuição valiosa para o processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau".

Perante o dramatismo destes factos as recordações de João Turé, que temos vindo a publicar, são notoriamente ingénuas e respeitantes a um longínquo tempo conturbado.

Vivia-se em guerra ,mas os meninos da infância de João Turé estavam longe de supor que o seu País, décadas mais tarde, viria a viver quase dia sim, dia sim acontecimentos trágicos que impedem o desenvolvimento normal da Guiné-Bissau.As estórias que temos vindo a relatar aconteceram na região onde nasceu no norte da Guiné - mais propriamente em Binta, a 20 kms. da fronteira com o Senegal - no período compreendido entre Junho de 1964 e Abril de 1966.


5 - A estória nº. 5 deste “TEMPO AFRICANO” foca de novo as reminiscências de alguns militares que nessa altura mais impressionaram os meninos da aldeia de Binta.

Recorda João Turé:o nosso Furriel Luís Moreira foi um militar importante na estrutura de apoio aos mais necessitados.

Dele aparecia sempre, como arte de ilusionismo, um pouco de comida para uns, outro pouco para outros, remediando todos aqueles que necessitavam.

Eu, menino e moço, chamava-lhe “padrinho”. Estará sempre na nossa memória o muito que nos ajudou.

E agora o nosso Furriel Miguel mais conhecido pelo “Furriel tocador”, das figuras mais conhecidas e importantes, pois era o tocador que, com o seu acordeão, abrilhantava todas as festas e bailaricos, com especial relevo as festas de S. João.

Era uma pessoa imprescindível e reconhecida por todos.

Também não será esquecido por todos nós.

Por fim, e seguindo o velho ditado que diz:« que os últimos são sempre os primeiros»… o nosso General Tomé Pinto.

Não é fácil falar dum militar como o Senhor General.

Que poderei dizer, eu, o menino João Turé a quem o senhor General tratava como um filho.

Talvez duas coisas muito simples. A primeira, que só um militar do gabarito do Senhor General, seria capaz de formar uma companhia com a qualidade e categoria da Companhia de Caçadores 675.

A segunda, com a amizade o carinho que me dedica, tendo sempre uma palavra de apoio e ajuda quando preciso, os muitos ensinamentos que me deu, sabe que o considero, do fundo do coração, o meu segundo pai.

Senhor General, meus amigos e amigas, bem hajam pelo muito que fizeram por mim e pelo meu povo.


Bem hajam.
João Turé

Legenda:

(1)- Pequena povoação ,aldeia .
(2) - Sucesso, motivo de festa, de espanto.


Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: