quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5104: Notas de leitura (29): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2009:

Malta,
Aqui vai o resto da história.
Para quem é de lágrima fácil, temos aqui leitura altamente recomendada.
Foi pena o Júlio Magalhães não ter falado connosco. Há ali dislates de linguagem que teríamos ajudado a evitar.
Paciência.
O amor na guerra colonial chegou finalmente à literatura de massas. É esse o facto importante a assinalar.

Um abraço do
Mário


O amor antigamente, antes e depois de termos ido à guerra (2)
Beja Santos

Um amor em tempos de guerra” é o segundo romance de Júlio Magalhães, um autor que insiste em apresentar-se como um jornalista que não ousa assumir-se como um escritor mas como contador de histórias (A Esfera dos Livros, 2009).

António, que é do Vimieiro e vizinho do Prof. Salazar, o Presidente do Conselho todo-poderoso que em 1961 determinou a ida para Angola “rapidamente e em força”, vai prestar serviço militar em Angola e depois de um ataque de forças do MPLA é dado como desaparecido em combate. Deixa em pranto a mãe, Maria das Dores, e a sua noiva, Amélia. Uma urna vazia desceu à terra, foi a última homenagem que lhe foi prestada em Portugal. Antes de ter desaparecido, apaixonara-se por uma angolana, Dulce, desses amores nasceu um filho.

Mas António não morreu. No meio dos tiros e do estrondo das granadas, dos companheiros de armas a tombarem, entre os gritos “mata que é branco”, ele foi feito prisioneiro, interrogado e torturado. Com um pé ligado e esfacelado, a pele ainda manchada e um braço partido, António resistiu às torturas. Não sabia onde estava, se no Norte ou no Sul de Angola. Em concreto, estava com outros 8 prisioneiros. E assim se passaram quase três anos. A vida de Amélia mudou, durante dois anos manteve luto cerrado, continuou a ensinar na escola da sua terra. Osvaldo foi ganhando coragem e confessou-lhe o seu amor. Amélia não o amava mas estava convicta que podia encontrar paz e serenidade ao seu lado. Casaram em Agosto de 1973. Viviam no Rojão, muito perto de Venda do Sebo, Vimieiro e Ovoa, lugares importantes na vida de António e Amélia.

No cativeiro, António prepara a fuga de todos os prisioneiros e vão dar a uma aldeia onde reencontra o seu amigo Brito, que conhecera no quartel de Chaves. António e os sobreviventes tinham ido parar ao Negage, no Norte de Angola. Brito conta-lhe tudo, estavam em Agosto de 1975, Brito era agora mercenário junto da FNLA, iam agora seguir para o Ambriz, juntar-se a tropas rodesianas, o objectivo era tomar Luanda ao MPLA.

António escreve uma carta para Maria das Dores, conta-lhe que fugiu e que vai regressar. Maria das Dores sente-se enlouquecer, faz um pacto de silêncio com Manel, o taberneiro da terra, a quem conta tudo. António vai à procura de Dulce em São Salvador. Descobre que a fazenda de Carlos Freitas fora abandonada, o fazendeiro fugira com a família mas Dulce viva em São Salvador. Dá-se o reencontro, Dulce apresenta-lhe o filho, voltam a amar-se. Discutem o futuro, Dulce pede para ele regressar a Portugal, ela vai ficar, quer colaborar na reconstrução do seu país, ele parte com uma fotografia do filho.

Maria das Dores e António reencontram-se no aeroporto da Portela, Maria das Dores viera com o padre Jorge e o Manuel da taberna. O aeroporto está pejado de retornados. E depois viajam de comboio até Santa Comba Dão, aqui espera-os uma festa, toda a povoação veio saudar o morto vivo. Todos os camaradas de guerra, das amizades de Chaves e Angola, estão na estação.

Amélia entra em estado choque, começa uma encruzilhada na sua vida, pede ajuda a Osvaldo, a princípio tudo parece que vai ter um bom desfecho e que a moral convencional vai vingar. Mas o drama amoroso vai ganhar proporções enormes, Osvaldo modifica-se, obriga a mulher a ir para Coimbra, arranja amantes, toma consciência dos verdadeiros sentimentos de Amélia. E Amélia regressa, irá refazer a sua vida com António.

Estamos no presente, António, o seu filho angolano, é um brilhante piloto da TAAG, António tem 59 anos e do seu casamento com Amélia há duas filhas. Juntam-se todos com os camaradas de guerra nas festas da Santa Eufémia e Joaquim Fortuna anuncia que vai lançar o seu livro “O amor em tempos de guerra”.

É este o happy end de um livro que usa todos os artifícios para chegar ao grande público e que fala das grandes mudanças de mentalidades que vivemos depois do 25 de Abril. Estamos ali todos, os que amávamos à moda antiga e que aprendemos a mudar, a olhar o mundo e os seres humanos com outros olhos. Um livro que vai emocionar muita gente.
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Nota de CV:

Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5089: Notas de leitura (28): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5103: Direito à Indignação (3): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Eduardo Campos)


1. O nosso camarada Eduardo Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a seguinte mensagem:


Camaradas,

Estou chocado, mas não surpreendido, pois nós, os ex-Combatentes, sempre fomos tratados abaixo de cão pelos governantes deste país.

Estou reformado à 4 anos e o primeiro valor que recebi do Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes foi de 168,00 €, em 2008 a quantia subiu uns Euros para 176,49 € (ver carta em anexo) e em 2009 (carta também em anexo) desceu para uns míseros 150,00 €.

Não está em causa o valor, que em si era já insignificante, mas ainda por cima agora no presente ano, vejo o valor reduzido escandalosamente em 26,49 €, nada mais nada menos que 15 %, em relação ao recebido o ano passado.

Se algum dos Camaradas, que ler esta mensagem, tiver conhecimento (e caso seja possível fazer isso), peço que me informe do modo como hei-de proceder, para devolver esta revoltante, desprestigiante e enxovalhante importância que me foi enviada, aos nossos “queridos” governantes.





Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Trms da CCAÇ 4540,
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Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P5102: Em busca de... (97): Francisco Martins, ex-1.º Cabo das CCAV 2525 e 2485 procura camaradas

1. Mensagem de Francisco Cunha das CCAVs 2525 e 2485, que nos pede ajuda para encontrar antigos camaradas:

Olá camarada,

Sou o Francisco da Cunha Martins (o Braga) ou o 1.° Cabo MARTINS, NM 14347768.

Andei na Guiné de 1968 a 1971 na CCAV 2525 e CCAV 2485.

Gostava de iniciar contactos com os camaradas da minha Companhia (mail, fotos, etc....).

Seguem umas fotos tiradas na altura na Guiné.

Qualquer informação, por favor, contactar: looping1942@hotmail.com ou maito:marc-bruno.martins@ratp.fr

Agradeço sua ajuda.

Cumprimentos
Francisco da Cunha Martins





2. Comentário de CV:

Caro Francisco Martins

Fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e encontrei alguém da CCAV 2525 a pedir contactos. É ele, António Gabriel com o telemóvel 964 249 241.

Entretanto vamos ver se através deste poste aparece mais alguém.

Com votos de saúde e felicidades por terras de França, deixo um abraço.

Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5100: Em busca de... (96): Procuro Radiomontador, Sousa ou Santos, que esteve comigo em Galomaro (Carlos Filipe Coelho, CCS/BCAÇ 3872)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

Guiné-Bissau > Bissau > s/d > Vista aérea parcial da cidade e do seu porto...


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > Vista aérea parcial da cidade...


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > O emblemático edifício da sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau onde jogaram craques como o pai do Nelson Lopes Herbert, Armando Duarte Lopes, que também passou pela Ilha de S. Vicente em 1943 (ano em que regressa o meu pai, em Setembro, também ele amante da bola) e viria a trabalhar, em Bambadinca (!), durante a guerra colonial, ligado à administração do porto fluvial... Falta-me apurar se ainda o cheguei a conhecer, em Bambadinca, no período em que lá estive (Julho d 1969/Março de 1971)...De facto, o mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande.


Guiné-Bissau > Bissau > Zona da baixa comercial > s/d > Imagem que faz parte de um conjunto de fotos que o Nelson Lopes Herbert, nascido em Bissau, na década de 1960, de nacionaliddae guineense, filho de Armando Lopes Duarte (uma das glórias do futebol guineense), licenciado em conunicação social pela Universidade Nova de Lisboa, editor sénior da secção portuguesa da Voz da América, e membro da nossa Tabanca Grande, nos mandou sob o título (saudosista ? provocatório ? iróico ? ... ou politicamente incorrecto ?) "E tudo o 'colono' levou ?"...


Imagens: Cortesia de Nelson Herbert (2009)


Guiné > Bissalanca > Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). Está rodeado dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau... O terceiro, a contar da esquerda, assinalado a vermelho, é Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Lopes Herbert... Com 89 anos, esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial. Viveu depois, trabalhou e casou em Bissau.


Como nos relembra o Nelson, o pai era então "um jovem, robusto, futebolista conhecido na Guiné (Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor de futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa..). Foi encarregado, por muitos anos do porto fluvial de Bambadinca, e ainda se lembra de episódios do djunda djunda (braço de ferro) entre a JAPG ( Junta Autónoma dos Portos da Guine) e a tropa, relativamente a um batelão, ,propriedade do primeiro e que fazia regularmente o trajecto Bambadinca-Bissau, , mas que a tropa insistia em acambarcar...para a revolta das população desses locais, já que dessa boleia dependia escoamento da produção local ( hortícolas e caprinos) para Bissau... Luís,
ouxando pela sua memória, dos seus tempos de Bambadinca quiçaa reconheça o velho"...




Foto: © Mário Dias / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados.




1. Mensagem do Nelson Herbert, com data de 21/3/09, a propósito do poste P4059 (*):


Caro editores


Sobre esse período histórico,do qual o meu velho, hoje também com 88 anos [faz 89 a 23 de Junho último], foi parte, como militar no Mindelo, Cabo Verde, tenho nos últimos anos vindo a compilar alguns textos e ensaios (de vários autores ), caso deste que se segue attached.


Mantenhas
Nelson Herbert


2. Nova mensagem, de 25/3/09:


Assunto: Mindelo - II Guerra Mundial !




Num exercício de memória com o meu velho, lá consegui sacar mais alguns pormenores da sua passagem pela tropa portuguesa, durante a segunda guerra mundial:





Cabo Verde > S. Vicente > Mapa de 2007, da autoria de Francisco Santos. Imagem copyleft (Fonte: Wikipédia). As localidades de João d'Évora, a norte (onde os alemães fizeram exercícios em 1938) e de S. Pedro, a leste (onde o batalhão do Armando Lopes esteve aquartelado, em 1943).


Entrou para a tropa em 1943 e fez parte de um Batalhão de Infantaria, estacionado em S. Pedro, terceira secção [3º Pelotão ?] comandada pelo Alferes Bizarro. Diga-se, um período marcado por uma intensa movimentação de submarinos alemães na costa do arquipélago, e da ilha de São Vicente, em particular. Vários navios dos Aliados são alvejados e alguns afundados por essa altura, na costa da ilha.


Recorda-se ainda, por volta do ano de 1938, da ocorrência de exercícios militares levados a cabo pela infantaria alemã na pequena localidade de João Évora e do sobrevoo de Zeplin, em S. Vicente (*).


O processo de recrutamento dos nativos era, segundo ele, feito sob a supervisão de um tal capitão Mira, então comandante da primeira companhia, coadjuvado por um capitão mulato, de origem angolana, de apelido Benchimol.


Pelo facto de ele estar hoje radicado na cidade da Praia [, capital de Cabo Verde, na ilha de Santiago], e da caderneta militar, que ainda conserva, estar no Mindelo [, Ilha de S. Vicente,], não me é possível fornecer mais detalhes sobre a unidade a que ele pertenceu.


Mantenhas
Nelson Herbert




PS - Vd. foto, acima, com o Armando Lopes [, meu pai]. É o terceiro a contar da esquerda, já na Guiné, como funcionário da NOSOCO, na despedida de um dos administradores daquela firma francesa. Fotografia em tempos publicada pelo vosso Blogue. Interessante, é que ele já nem se lembrava da existência dessa fotografia, cuja cópia nunca viu !


Nelson Herbert




3. Comentário de L.G.:


Em 30 de Março último, escrevi ao Nelson: Que grio, Nelson! Vou fazer um poste, em teu nome, com as referências ao Mindelo e ao teu pai... Não está esquecido, estamos é muito ocupados. Com o blogue e a vida profissional...


O tempo passou, vieram as férias e... nada! Mas mais vale tarde... do que nunca. O que é prometido é devido... Aqui tens, Nelson, é uma também uma singela homenagem ao teu pai e outros patrícíos que fizeram parte dos 5 mil homens que defenderam Cabo Verde na II Guerra Mundial. Longa vida e saúde para o teu velhote. Preciso de saber, com exactidão, a unidade (Regimento, batalhão, companhia...) em que ele esteve, e desde quando...


O meu e o teu é possível que ainda se tenham conhecido ou cruzado (ou até jogado à bola, juntos!), na ilha de S. Vicente, embora pertencessem a unidades diferentes, estacionadas em sítios diferentes (a do meu pai era mais velha, Julho de 1941/Setembro de 1943, tendo ficada aquartelada, a maior parte do tempo, no Lazareto)... O meu pai sempre esteve ligado ao desporto e, em especial, ao futebol (foi jogador e treinador; em Cabo Verde, disputavam-se renhidas partidas de futebol entre selecções de diferentes unidades, ou entre a tropa e clubes locais; o meu velhote ainda se lembra de nomes de clubes, de jogadores, de partidas memoráveis com 'porrada' e tudo, e até de resultados!)...


Por outro lado, nessa altura ainda estudava no Liceu do Mindelo o jovem Amílcar Cabral... que vai em 1945 vem para Lisboa fazer o curso de engenheiro agrónomo.


________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)


Vd. também os postes de:


9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)


27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)


27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5021: Meu pai meu velho, meu camarada (14): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (1) (Luís Graça)


28 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5022: Meu pai, meu velho, meu camarada (15): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (2) (Luís Graça)


29 de Setembro de 2009 >Guiné 63/74 - P5029: Meu pai, meu velho, meu camarada (16): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (3) (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P5100: Em busca de... (96): Procuro Radiomontador, Sousa ou Santos, que esteve comigo em Galomaro (Carlos Filipe Coelho, CCS/BCAÇ 3872)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, com data de 11 de Julho de 2009:

Amigo Luís Graça,

Acredito que com a azáfama do Encontro da malta e mais agora as escaramuças no blog, andes super-absorvido. Embora sem pressa, mas com receio que a minha mensagem tivesse passado despercebida, permito-me reenviar-te novamente como anexo a esta. Poderás 'moldá-la' como desejares.

Um abraço, bom fim-de-semana e o desejo que que tudo volte a bom caminho.

Carlos Filipe
ex-CCS/BCAÇ 3872
Galomaro 71


Procura-se de preferência com boa saúde, um Radiomontador.

De seu nome já não tenho a certeza, se era Santos ou Sousa. Após a nossa formação na EMEL, Escola Militar de Electromecânica, em Paço D’Arcos, cada um de nós foi para outras unidades militares. A mim coube-me ir para a Guarda, um velho, mas belíssimo Convento.

Mais tarde demos de caras, um com outro, em Abrantes, aquando a formação do Batalhão de Caçadores 3872. Embarcámos com destino à Guiné onde desembarcámos a 24 Dezembro de 1971.

Ficámos juntos durante alguns dias em Bissau para estagiarmos nas oficinas de manutenção de equipamentos de rádio, mas passados poucos dias este indígena radiomontador como eu, desapareceu novamente, vindo a encontrá-lo em Galomaro passado um mês quando lá cheguei.

Novamente o Sousa - ou será que era o Santos (?)- , passados dois ou três dias, desaparece novamente, agora do destacamento da CCS em Galomaro, não tendo tido oportunidade de falar mais com ele e ficar a saber de alguma coisa sobre o seu destino.

Éramos bons amigos, embora rivalizando um pouco entre nós na base dos conhecimentos de electrónica. Não era muito extrovertido, quase enigmático. É actualmente uma das boas recordações de amigos do período militar.

Posto isto, gostaria de saber do seu paradeiro e conseguir estabelecer contacto com ele.

Algum camarada, terá algum indício ou pista ?

Já agora, desejava que algum colega me informasse se havia especificação para o número de radiomontadores num Batalhão.

Foto 1 > Os dois Radiomontadores a bordo do navio que nos transportou para a Guiné

Foto 2 > Também a bordo, na piscina, um colega Sapador, o Fugitivo ao centro, e eu à direita
__________

Notas de CV:

OBS -Queremos publicamente pedir desculpa ao Carlos Filipe pelo extravio desta sua mensagem. O exemplo dele deve ser seguido. Em caso de demora na publicação de qualquer texto, por favor contactem-nos alertando para o efeito. Nós agradecemos.


(*) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3539: Tabanca Grande (100): Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro 1971/74

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5074: Em busca de... (95): Informações sobre o meu pai, Malan Sanhá (Nero), natural de Gamol, Fulacunda (Fode Sanhá)

Guiné 63/74 - P5099: História de vida (24): Patrício Ribeiro, 62 anos, "filho da escola", ex-grumete fuzileiro, empresário, a trabalhar e a viver na Guiné-Bissau desde 1984. apanhado do clima...


Foto nº 1 > Patrício Ribeiro, grumete fuzileiro, na fragata NRP Comandante João Belo, c. 1969... Este navio, construído nos estaleiros de Nantes, França, esteve ao serviço da nossa Marinha de 1967 a 2008



Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros

Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados


1. Texto do Patrício Ribeiro, um dos nossos "agentes" em Bissau, membro do nosso blogue desde Janeiro de 2006 (*)


Lisboa, 11.10.09

Bom dia, Luis, junto elementos em falta no blogue, que poderão publicar se acharem necessário.

Aí vão, para actualizar a minha biografia no blogue (**).

Imagina s artistas que nós somos…

O Estado Português vai pagar-me, por eu ter dado um passeio no navio João Belo (ver foto acima, nº 1) 2 660 dias (para efeitos de reforma)… Já falta pouco, hoje, 11.10.09, faço 31 em cada perna…

Também dei uma volta no navio Vasco da Gama [, 1998, em plena guerra civil, na Guiné-Bissau, resgatandio uma série de portugueses e guineenses], mas por isso não pagaram nada… nem uma medalha de cortiça… . Enfim, outras guerras

Gosto mais das canoas Inhomincas, são mais ventiladas. (ver foto acima, nº 2 , no porto de Bolama).

Agradeço os comentários sobre mim no blogue… Devido à minha vida de andanças pelo mato, e de dificuldade muitas vezes no acesso à Net, quero informar o seguinte:

(i) Nasci nas margens do Rio Vouga, centro do mundo, sou vizinho do D. Duarte Lemos, frequentei a Escola Industrial de Águeda;

(ii) fui Fuzileiro (Gr FZ) [, portanto "filho da escola"];

(iii) passei por Bissalanca em 1969, estava muito calor…Como não tinha roupa apropriada (tinha deixado o camuflado em Vale do Zebro, na escola de Fuzileiros), mandaram-me seguir para Luanda…

(iv) ao fim de uns anos, deixaram-me ir para casa, em Luanda, em 1972...

(v) por lá fiquei até ao último avião, da ponte aérea para Lisboa… Enfim, outras guerras.

(v) a minha família viveu dezenas de anos no Huambo (, antiga Nova Lisbao): pai, mãe e irmãos, etc.

(vi) minha mulher é natural do Huambo;

(vi) Por questões profissionais, em 1984 fui para Bissau. Gostei, fiquei…Pagam-me para fazer coisas que gosto, em locais de difícil acesso, e porque é uma aventura permanente… já não sei viver sem ela!

PS - Cá vai: 2 660 dias / para a reforma… foto da tropa, posto, data de nascimento.


Patricio Ribeiro

IMPAR Lda (***)

Av Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,

Guiné Bissau > Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645

Lisboa > Tel / Fax 00 351 218966014

http://www.imparbissau.com/

impar_bissau@hotmail.com

2. Comentário de L.G.:

Patrício, os parabéns pelas tuas lindas 62 primaveras já vão atrasados, mas o Carlos Vinhal, que toca muitos pianos, ainda não tem o divino dom de adivinhar... Para o ano, se formos todos vivos, lá terás, no dia 11 de outubro de 2010, o teu postezinho com os nossos Parabéns a Você... (O Carlos já vai actualizar o teu cadastro).

Obrigado, pelas tuas fotos e pelos elementos biográficos que nos ajudam a aperceber um pouco melhor a tua opção de vida, que foi há 25 anos ir trabalhar e viver na Guiné-Bissau...

Desculpa-me de há tempos ter-te postado a nascer em Angola... Afinal, és um tuga beirão, nascido na terra do nosso Paulo Santiago... Explica-me melhor o que são essas canoas nhomincas (termo que não encontrei no dicionário...). E sobretudo continuas a ser a nossa ponte com a Guiné-Bissau de hoje... Toma cuidado contigo. Boa saúde e bom trabalho. Dá um abraço ao Pepito e aos nossos demais amigos comuns. Luís Graça
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Notas de L.G.:

(*) Postes de (ou sobre) o Patrício Ribeiro, publicados no nosso blçogue (I e II Séries):

4 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (23): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

8 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4655: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (4): Mãos à obra, rapaziada ! (Patrício Ribeiro)

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

12 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4016: Ser solidário (29): Unidos no passado, unidos no presente (Pepito / Carlos Fortunato)
´
29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

13 de Janeiro de 2009> Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro

(**) Vd. últimpo poste da série História de Vida:

1 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5038: História de vida (15): Maria da Glória, uma saudosa filha com um dom especial para o fado (Cristina Allen)

(***) No sítio da empresa pode ler-se (passe a publicidade):

Há 20 anos que fornecemos e instalamos equipamento fotovoltaico na Guiné Bissau

Numa região com as caracteristicas da Guiné, existe a necessidade de criar empresas especializadas, que participem no desenvolvimento económico-financeiro do país.

Impar é uma empresa com muitos anos de experiência nas áreas de fornecimento de material para necessidades básicas, como fornecimento de energia, comunicações, pesca, apicultura, etc, tornando-se assim uma importante empresa na sua região.

Na nossa empresa vai encontrar diversas soluções, para as suas necessidades energéticas ou de comunicação.Consequentemente, temos colaborado na melhoria do nível de vida dos habitantes Guineenses, com o objectivo de satisfazer um público cada vez mais exigente

(...) Com um currículo de mais de Quatrocentas Instalações Fotovoltaicas em território Guineense, a Impar é lider na sua área. (...).

Guiné 63/74 – P5098: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (25): As armas proibidas que nós utilizámos


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 25ª estória:

Camaradas,

Rebuscando os fundos do meu baú de memórias, vou-o esvaziando das memórias minhas boas e más recordações do antigamente, retirando o pó aos textos e dando-lhes apenas alguns retoques, editorialmente falando, pois as ideias neles expressas, mantenho-as inalteráveis, por, ainda hoje, as perfilho convictamente.

A matéria de hoje é problemática e controversa, mas penso que vale a pena ser exposta.

O presente texto havia dado, e mantenho, o título:

AS ARMAS PROIBIDAS QUE NÓS UTILIZÁMOS

Na guerra em que nós portugueses fomos protagonistas, nem sempre usamos de métodos “cavalheireicos”, convencionais, éticos, ou clássicos (como queiram chamar-lhe), nas estratégias adoptadas contra o IN, na mata.

Além do equipamento militar normal e regular que o exército nos fornecia e usávamos no terreno, e era do conhecimento geral, também utilizámos material bélico que era proibido pelas leis e regulamentos da Convenção de Genebra.

O Direito de Intervenção Humanitária, órgão das ONU, impedia o emprego em combate de um determinado número de armas que, pela sua natureza pouco leal e traiçoeiro, foram declaradas desumanas, por causarem mais tortura e sofrimento físico, que o necessário e indispensável, para inutilizar um combatente (deixá-lo fora de combate).

Tudo tretas para nós, porque, como é sabido pela experiência, a lei na guerra, é olho por olho, dente por dente, ou “com ferro matas com ferro morres”, cada um usa as armas que tem e quando desesperado, ou por motivos de ódio e, ou, vingança, as que não devia.

Nós usamos, por exemplo, a bala Dum-Dum, proibida desde o século 19, por uma das ditas convenções internacionais, que regulamenta a utilização de armas de Guerra. Esta bala foi criada pelo Exército Britânico, no final do século 19, para ser usada em distúrbios na Índia (então Colónia Inglesa).

A bala Dum-Dum é uma bala com a ponta oca, que tem um poder destrutivo superior a todas as outras, porque expande-se pelo corpo humano em vários estilhaços após o impacto na carne, ou osso.

Utilizamos também balas de penetração maciça de fragmentação tracejante.

Chegámos a rebordar (ranhurar) as pontas das balas comuns da G3, com as nossas facas de mato, ou com navalhas, para que o seu efeito penetrante provocasse um maior rombo no local de entrada.

Utilizamos granadas de fósforo e bombas de napalme, que eram proibidas Internacionalmente, pela ONU.

O napalme foi um armamento militar que chegou a ser utilizado (embora pontualmente), pela nossa aviação em alguns locais da Guiné, em bombardeamentos a bases do IN. É constituído por um conjunto de líquidos inflamáveis (à base de gasolina gelificada) e sais de alumínio e, pela sua especificidade de, no momento da sua detonação, para maior eficácia e rendimento destrutivo, e mortífero, através de um maior raio de expansão explosivo, requerer uma grande e instantânea absorção de oxigénio, tornou-se um meio pouco apropriado na nossa guerra de “guerrilha”, já que as características do terreno em África (selva por vezes muita cerrada e, ou muito lodosa), não permitiam assim o seu pleno desenvolvimento.

Em armadilhas, truques e alçapões, como eram conhecidos, os nossos camaradas de Minas e Armadilhas, quantas vezes não utilizou material incendiário (fósforo) e outros produtos de teor proibido.

Com o decorrer da comissão e a “bestalização” da guerra ia-se instalando e dominando o nosso discernimento psíquico. Quem não utilizou estes artefactos?

Estou convicto que, naquele tempo, se houvesse material de destruição maciça, nós, em casos pontuais, em desespero de causa, por motivos de ódio, ou vingança pelos nossos mortos em combate, tínhamo-lo utilizado.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Imagens: Wikipédia, enciclopédia livre (2009). Direitos reservados.
Emblema de colecção: Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5097: Parabéns a você (35): À nossa jovem tertuliana Cátia Félix (Editores)

1. Hoje, dia 12 de Outubro de 2009, acrescenta mais um ano à sua ainda curta vida, a nossa amiguinha Cátia Félix.

Cátia Félix, ainda na idade da imortalidade, entrou na nossa tertúlia pela porta grande, quando se dispôs a ajudar a sua amiga Cidália Cunha, viúva do nosso malogrado camarada António Ferreira.

A sua iniciativa, que juntou os esforços de camaradas nossos como Paulo Santiago e Álvaro Basto, entre outros, tinha como finalidade desfazer, de vez, algumas dúvidas que a Cidália tinha em relação às condições em que se deu a morte de seu marido.

Porque merece a nossa estima e admiração, este grupo de ex-combatentes da Guiné, onde qualquer um a queria ter como filha, deseja o melhor da vida à Cátia, e muitos êxitos no presente e no futuro.
Para a Cátia vão 375 beijinhos neste dia de festa



Vamos lembrar as suas amáveis palavras do dia 6 de Abril de 2009:

Caros Amigos

Obrigado pelo post de boas vindas e, especialmente pela intenção.
Deixei um comentário de agradecimento e, achei por bem enviar-vos também por email, já que me apadrinharam na vossa "casa".

Aqui fica e, depois poderão lê-lo no blog (desculpem ser tão extenso):

Caros Amigos
Desde já o meu muito obrigado pelas boas vindas e por todo o carinho manifestado.
Sinto um enorme ORGULHO em fazer parte desta grande família.
Sei que com vocês só tenho a aprender e, com as vossas histórias retirar uma grande lição de vida.

Quem é que hoje em dia, no nosso país, se sujeitava a deixar o aconchego do lar, tendo apenas como companhia a nefasta missão de defender a pátria idolatrada?
Que ORGULHO eu tenho de todos vocês que combateram entre bombas e ogivas, canhões e trincheiras, de corpo cansado, à deriva, com suor, sangue, lágrimas e solidão... Eu consigo reconhecer o vosso verdadeiro valor...

Os "grandes" não o reconhecem? Pois não... Porque apenas têm a frieza de inventarem guerras e as imporem aos seus soldados. Os "valentões" que governavam e gorvernam apenas têm ideias fertéis para inventarem, agora coragem para combater é outra história...

O amigo Carlos Vinhal disse: "a história alguém a há-de escrever. A nós cabe deixar os relatos e os testemunhos para estudo futuro."
Para mim a história são todos vocês. Vocês sim fizeram história e, é essa história que eu vou com certeza contar aos meus filhos, porque da minha parte a vossa história não morrerá no tempo. Farei o meu papel de "Cavaleira desta ordem" como disse o amigo António Matos.

Não vivi no tempo da Guerra Colonial, nem passei pelas angústias que as famílias passaram... Talvez não me aperceba mesmo o quão profunda é a palavra CAMARADA e o sentimento que ela transporta, mas provavelmente será UNIÃO, AMIZADE, LEALDADE... sentimentos que eu quero carregar e passar, porque sem isso a minha vida não teria sentido.

Amigos, em tudo que puder ajudar, apesar da minha tenra idade, estarei aqui...

Obrigado pelos beijinhos, pelo abraço com uma palmada nas costas (acredita que o consegui sentir)... Obrigado por existirem.

Disfrutarei com todos vocês, homens e mulheres de armas, esta viagem que é a vida, pois apenas tenho uma oportunidade e tenho de tirar o maior proveito.

Beijinhos da nova amiga
Cátia Félix


Cátia Félix, em primeiro plano, junto à campa do nosso camarada António Ferreira

Foto: © Maria Luís Santiago (2009). Direitos reservados

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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4050: (Ex)citações (21): A esperança de que o António Ferreira ainda esteja vivo...(Cátia Félix)

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4140: Tabanca Grande (130): Cátia Félix, jovem estudante de Ciências Farmacêuticas, solidária e interessada pela Guerra Colonial

6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4148: Comentários que merecem ser Postes (2): Sinto um enorme orgulho em fazer parte desta enorme família (Cátia Félix)

18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5094: Parabéns a você (34): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Editores)

domingo, 11 de outubro de 2009

Guiné 63/74 – P5096: Filatelia(s) (5): Envelopes comemorativos com selos e carimbos alusivos a efemérides, datadas de 1966 e 1969 (Magalhães Ribeiro)


1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Brá e Mansoa 1974, anexo dois envelopes comemorativos, com selos postais e carimbos alusivos a efemérides, datadas dos anos de 1966 e 1969:

Camaradas,

Como diria o meu bom Amigo e Camarada “Mansoense”, Jorge Picado, dando seguimento à série lançada pelo Luís Graça, dedicada à actividade filatélica na Guiné, estou a seleccionar várias peças existentes no meu espólio, que penso ter interesse publicar, para aqueles que não conhecem e para aqueles que, tendo conhecido então, já se haviam esquecido.

Assim sendo, encontrei alguns envelopes comemorativos, com selos postais e carimbos alusivos a efemérides que foram levadas a efeito na Guiné, além de algumas colecções de selos dos anos 60 e 70, do século passado, que nos trazem à memória as cartas que enviávamos aos nossos queridos familiares, namoradas e amigos.
Neste poste coloco 2 dos referidos envelopes, um que foi lançado com os dizeres: Glória ao Exército Português – 1.º Dia de Circulação – 8 de janeiro de 1966, e, um segundo, dedicado à Viagem do Presidente do Conselho Prof. Marcelo Caetano - Província Portugesa da Guiné - 14 de Abril de 1969, com carimbo alusivo dos respectivos dias.

GLÓRIA AO EXÉRCITO PORTUGUÊS – 1.º DIA DE CIRCULAÇÃO – 8 DE JANEIRO DE 1966

Viagem do Presidente do Conselho PROF. MARCELLO CAETANO - PROVÍNCIA PORTUGESA DA GUINÉ - 14 DE ABRIL DE 1969 com carimbo alusivo do mesmo dia

Um abraço Amigo,
Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74

Documentos: © Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:

Guiné 63/74 – P5095: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (9): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas perigosas III

1. Esta é a 9ª fracção das memórias do nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda. A série é iniciada nos postes P4877, P4890, P4924, P4948, P4995, P5027, P5047 e P5056.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

ROTINAS PERIGOSAS III

Em início de Setembro a Companhia mudou para Camamudo/Cantacunda, eu fiquei em Camamudo, para passar mais dois meses de descanso bem merecidos.

Em Camamudo, o tempo era passado a jogar à bola, ir à caça, visitar as belas bajudas nas Tabancas e patrulhando o sector, com a finalidade de verificar, junto das populações, se haviam avistado alguém desconhecido por ali e se necessitavam de alguma coisa.

À vinda trazíamos umas galinhas para o pessoal comer, se estas dessem para preparar uma refeição para o pessoal todo, caso contrário destinavam-se a petisco. Como petisco sempre nos proporcionavam o acompanhamento com umas cervejas.

Em Novembro, voltamos novamente para o sacrifício de Banjara, onde, psicologicamente, era penosa a estadia, não pelos ataques do IN (pois felizmente nunca se lembraram de “aparecer” enquanto fizemos as nossas estadias nestas paragens), mas sim pelo isolamento do resto do mundo e pela fome que passávamos.

Os géneros alimentares só chegavam de mês a mês. Quando chegava uma coluna antes da passagem de um mês, já sabíamos que tínhamos em perspectiva mais uma operação, que regra geral se destinavam à procura, na nossa ZO (com prioridade para a região de Sinchã Jobel), de novas Tabancas construídas sobre o domínio do IN e, pela habitual rotina de verificação do estado de coisas (se tudo estava como dantes).

Nos finais de Novembro, fomos reforçados por um pelotão da CCAÇ 1588 e mais uns “periquitos” recém-chegados da Metrópole, que foram logo mandados para Banajra (capital do Oio).

Todos nos entrosamos e convivemos bem, sabendo à partida que estávamos metidos no mesmo barco e só com o sacrifício e a calma de todos, acabaríamos por sair bem daquele complicado conflito.

A prova de que tudo rolava bem, é que todo este pessoal novo rapidamente se adaptou ao modo de vida, ali no meio do mato, isolados de tudo.

Chegou mais um Natal novamente em Banjara, estávamos perto do final do mês e como sempre nestas ocasiões, praticamente já não haviam géneros alimentares, restando-nos apenas o pão e a sopa rançosa (devido à banha de porco com que a cozinhavam) e, à qual, era preciso acrescentar sumo de limão para se enganar o paladar e, assim, se poder tragar.

Um dia antes do Natal, tivemos uma surpresa agradável, pois vimos a avioneta de reabastecimento a sobrevoar Banjara e, esta, sempre era o prenúncio que íamos ter carne para o tacho.

O problema é que o pessoal da avioneta não se aventurava a descer muito perto do solo, visto ser muito perigoso ao tornar-se um alvo fácil para o IN, e, sendo assim, deixavam cair o correio e a carne, que se desfazia toda no impacto com o chão.

Naturalmente, era melhor do que nada e passamos então mais um Natal melhorado, em relação dias restantes.

Chegou a passagem de ano, numa noite linda onde o luar brilhava. Muita cerveja e whisky deslizou pelas gargantas abaixo. Nem precisávamos de copos pois todos bebiam pelas garrafas. Cantávamos o fado e tudo o que vinha à mente. A certo momento, já era o whisky que cantava e não nós.

Por volta da meia-noite o alferes do outro pelotão veio cá fora mandar calar o pessoal. Eu como era o “periquito” mais antigo, já muito tarimbado na Guiné e farto desta irritante e inesperada situação (que ainda hoje não esqueci), exclamei virado para ele: - «“Periquito” vai dormir e fazer companhia ao Alferes Soeiro.» - que era o meu comandante de pelotão.
Então ele avançou para nós, continuando a mandar-nos calar.

O pessoal dele foi-se embora, mas eu estava ali, em pleno convívio com o meu pessoal, e continuei a beber mais algumas cervejas até cair para o lado. Ainda hoje não sei como fui para à cama, se fui levado por alguém, se fui a pé ou a rastejar.

Esta foi a segunda vez que fiquei etilizado, mas desta vez fiquei pior do que da primeira, não sei se foi pelo festejo do dia em questão, se o fiz para esquecer a tristeza de estar mais um ano longe da mulher e do filho (que nem sequer ainda conhecia), ou por tudo junto.

Sempre pensei que um dia as saudades chegariam e teria que as evitar.

No dia a seguir era a rendição, quando acordei fui tomar um banho para refrescar a os pensamentos e tomar um café.

Perguntei aos furriéis se estavam com medo do alferes e ninguém me respondeu.

Até que entram na sala os alferes, dando-nos os bons dias, ao que nós retorquimos do mesmo modo. Todos se sentam à mesa sem qualquer comentário ao que se havia passado.

Levantei-me e chamei à parte o meu alferes, contando-lhe os acontecimentos da véspera.

O meu alferes disse-me simplesmente: “Não passe cartão!

Fui então preparar a mochila e enrolar o colchão, porque, de dois em dois meses, éramos como os ciganos, mobília as costas e arrancar para outras bandas.

Banjara (Dezembro de 1966) O alferes e o furriel da CCAÇ 1588 (reforço à minha Companhia), em cima do meu abrigo subterrâneo

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Foto: © Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. postes anteriores desta série, do mesmo autor, em:

Guiné 63/74 - P5094: Parabéns a você (34): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Editores)

Hoje, 11 de Outubro de 2009, faz anos o nosso camarada Eduardo Campos*, ex-1.º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74.

Ao nosso camarada Eduardo vimos, por este meio, desejar-lhe um dia muito bem passado, com alegria, junto da sua família e amigos.


Recordemos a sua entrada na nossa Tabanca Grande em 19 de Abril de 2008:

Olá,
Vou apresentar-me à Tabanca Grande.
Estou na casa do meu cunhado, o Herói de Gadamael (1)
Sou o ex-1.º Cabo Trms Eduardo Campos
Fiz parte da CCAÇ 4540 'SOMOS UM CASO SÉRIO' que esteve entre 1972/74 em:
Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra

Sei as Normas da Tabanca e queria fazer parte da mesma, pois já estive no Almoço de Pombal e, depois de muita insistência do nosso herói, aqui estou.

Tenho acompanhado o Blogue e a AD de Guileje diz-me algo pois estive no Cantanhez e aí tem-se falado muito neste local.

Aguardo a aceitação e eventuais questões onde eu possa participar.
Eduardo Campos


Matosinhos, 8 de Abril de 2009 > Eduardo Campos e o seu cunhado José Casimiro Carvalho, no Restaurante Milho Rei
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2869: Tabanca Grande (70): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo Trms da CCAÇ 4540 (Guiné 1972/74)

Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5064: Parabéns a você (33): Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ (Porto Gole, 1964/66) (Editores)