sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5492: Historiografia da presença portuguesa em África (34): Roteiro (Parte II) (Santos Oliveira / Luís Graça)

Bissau > "Estádio Sarmento Rodrigues"
Bafatá > "Pontre Salazar, sobre o Rio Geba"



Bissau > "O aeroporto de Bissalanca" [, a 10 minutos do centro]



Bissau > "Aldeamento indígena perto de Bissau"






Bissau  > Edifício do Centro de Estudos
Bissau > Laboratório da doença do sono





Homerm fula da região do Boé; Mulher futa-fula do Gabu








Fonte: Excertos de Roteiro do Ultramar, 1958 > pp. 5-10. (Com a devida vénia...)


1. Segunda e última parte da publicação de excertos do livro Roteiro do Ultramar, relativamente à Guiné, que nos foram enviados pelo nosso camarada Santos Oliveira, em 16 de Fevereiro de 2008 sob a forma de imagens digitalizadas (*).  Trata-se de uma publicação da autoria de Manuel Henriques Gonçalves (Lisboa, s.n., 1958, 131 pp. + ilustrações).

Vejam-se alguns dados económicos sobre a província (1952), que funcionava basicamente como um fornecedor de matérias-primas (basicamente produtos agrícolas) para a indústria portuguesa, e com um relação praticamente de monopólio com a CUF - Companhia União Fabril, cujos interesses eram represenatdos a nossa Casa Gouveia. Destaque para as exportações das oleaginosas (amendoím, coconote, óleo de palma)...  Destaque ainda para a  produção de arroz, num  total de 100 mil toneladas, o que significava 200 quilos "per capita". Hoje com o tripo plo da população (c 1,5 milhões), a produção der arroz terá aumentado em menos de 180% (c. 175 mil toneladas).

Outro apontamento que resulta da leitura deste "roteiro" é o fascínio que a Guiné exercia sobre os portugueses, antes da guerra colonial, e de algum modo a sua redescoberta, após a II Guerra Mundial, com o desenvolvimento discreto de Bissau  e o plano de obras públicas do Estado Novo. Paralelamente, é de reter e analisar as "representações sociais" de cada um dos grupos étnicos-linguísticos que compunham a população guineense, e a reprodução (que chegou até aos nosso tempo) dos "estereótipos" que lhe estão associados, e aqui reproduzidos numa citação do melhor Governador-Geral do pós-guerra, Sarmento Rodrigues:  (i) os felupes, "bravios, honestos e sóbrios"; (ii) os balantas, "ladrões sentimentais, trabalhadores foliões e bêbados"  [três atributos] [ou cinco ? ..."ladrões, sentimentais, trabalhadores, foliões e bêbados" ?]; (iii) os bijagós, "cheios de pitoresco"; (iv) os fulas e os mandingas, herdeiros da cultura "árabe"... (LG)

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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P5491: O Nosso Livro de Visitas (76): Um blogue que é uma lição de vida (Pedro Castanheira, 39 anos, ex-pára-quedista, que serviu na antiga Jugoslávia)


1 Mensagem de  Pedro Castanheira

Assunto: Os páras, o BCP 12  e o blogue

Caro Sr. Luís Graça,

Venho por este meio exprimir a minha admiração e respeito, por este vosso blogue, sobre as vossas vivências na Guiné. Além de estar muito bem escrita e narradas [essas vivências], mostraram-me que a guerra não é só feita de combates e emboscadas, mas também de histórias humanas, de camaradagem e de respeito pelo próximo.

Passo desde já a apresentar-me: sou o Pedro Castanheira, sou um jovem de 39 anos, e servi durante 9 anos com muita honra e orgulho nas tropas pára-quedistas portuguesas e fiz uma comissão de serviço na ex-Jugoslávia, sou estudioso ou  um curioso da guerra colonial portuguesa, em especial do conflito da Guiné, talvez o mais difícil e complexo.

Não pensem com isto que sou um admirador da guerra, mas admiro, sim, os homens que foram obrigados a fazê-la e hoje ninguém os reconhece.

Sr. Luís Graça,  sou um seguidor do blogue, todos os dias o espreito, na ânsia de consumir histórias novas, mas os meus primeiros contactos com a guerra da Guiné foi pelo livro, que tenho do BCP 12 e por ter servido sob o comando de oficiais e sargentos, que fizeram a guerra da Guiné, o meu comandante,  Sr Cor Pára Terras Marques, Sr Cor Pára Saraiva,  meu comandante de batalhão na ex-Jugoslávia e que penso ter sido ferido em combate na Guiné, Sr.Cor Pára Bação Lemos, Sr Sarg Grilo Cardoso.

Mas também [conheci] na antiga base dos páras, em Monsanto, um jardineiro natural da Guiné , de seu nome Pedro Có, que já trabalhava para os páras na Guiné.

Sou um pára-quedista que dá muito valor à vida e que respeita muito o próximo, peço-lhe sr. Luís graça, que continue com este blogue, que é uma lição de vida.

Um Feliz Natal para todos, E QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM.

Pedro Castanheiro

2. Comentário de L.G.:

Os indivíduos, as famílias, as comunidades, as organizações, as empresas, as instituições, os povos e as sociedades (humanas...e não só) precisam de "memória"... Mal de nós se não a cultivarmos, preservarmos, exercitarmos, transmitirmos... A "amnésia", perda de memória e identidade,  leva-nos ao disfuncionamento, à desordem, à desorganização máxima, è entropia, e 'in limine' à morte...  Individual e colectiva...

Este blogue é, também, modestamente um exercício de memória(s) e, nessa medida, é (ou pretende ser) um "lição de vida", como tu próprio afirmas e acentuas... Lição de vida, mas também de liberdade, responsabilidade, verdade e tolerância...

Sem dúvida que o melhor que recebeste da tua formação como pára-quedista foram os valores,  que fazem com que unidades como o BCP 12, na Guiné, não fossem apenas uma simples "máquina de guerra"...

Obrigado pelas tuas referências elogiosas ao nosso blogue, e por seres nosso leitor diário. Ficas convidado a escrever e a publicar uma história que se tenha passado na ex-Jugoslávia, numa das tuas missões de paz.

Agradeço e retribuo os votos de Feliz Natal. Luís Graça

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Nota de L.G.:




Guiné 63/74 - P5490: Álbum fotográfico de Tomás Carneiro (2): Fotos de Binta






1. Mensagem de Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta – 1973/74, nosso Camarada que vive nos Açores, com data de 17 de Dezembro:

Camaradas,

Hoje envio-vos mais algumas fotos de Binta que fui descobrindo no meu álbum fotográfico.


1ª Subindo-o Rio Cacheu numa LDG




Votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo.

Por hoje é tudo.

Um Abraço desde o meio do Atlântico,
Tomás Carneiro
1º Cabo Cond CCAÇ 4745


Fotos: © Tomás Carneiro (2009). Direitos reservados.


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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


2ª No interior da messe de oficiais que construímos em tempo recorde

3ª Binta: O meu amigo Jacinto Custódio, cuja viatura accionou uma mina anti-carro entre Binta e Farim, que lhe originou a morte, no dia 24 de Setembro de 73

4ª Eu, no Rio Cacheu, dentro de uma canoa que mandamos construir e por lá ficou como legado da Ccaç 4745

5ª Cufeu: Pose para a fotografia, obtida no trajecto de uma coluna para Guidage, num local arrepiante onde se pode ver a mata toda destroçada, resultante do “fogachal” trocado com o IN, em várias emboscadas ao longo do tempo

6ª Polibaque: Quadra natalícia de 1973

E, 36 anos depois, como estamos com mais uma quadra festiva de Natal à porta, aproveito a oportunidade e o último postal, para desejar a todos os Camaradas:

Guiné 63/74 - P5489: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): Coincidências ou não, amigo e camarada Pires ? (Fernando Costa, CCS/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74)

1. Mensagem de Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms, CCS/BCAÇ  4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (*)

Assunto - Mais uma história com final feliz.

Através da Tabanca Grande fui contactado pelo nosso camarada Carlos Cordeiro,  também leitor assíduo do Blogue, com o fim de trocarmos informações que lhe interessavam para um estudo que está a realizar nos Açores, local onde reside e é professor universitário.

Num dos mails por mim enviados, dei a indicação que um Furriel de Transmissões do meu batalhão ,o BCaç 4513,  era açoriano e do qual só sabia o nome que lhe transcrevi.

No dia seguinte recebi a resposta com um possível contacto pois ele tinha encontrado na lista telefónica um nome idêntico e presumia ser a mesma pessoa.

De imediato liguei para os Açores à procura do Furriel Pires, e na realidade quem me atendeu foi o próprio.

Pelo que me disse nunca mais tinha tido qualquer tipo de contacto com pessoal do 4513. Foi como calculam uma grande alegria para ambos este encontro mesmo que telefónico.

E agora começam as coincidências, ou não:

(i) O nosso camarada Carlos Cordeiro quando abriu a primeira lista telefónica, fê-lo precisamente na página onde estava o nome pretendido;

(ii) O Pires era como eu Furriel de Transmissões;

(iii) Também pertencíamos à mesma Companhia;

(iv) Dormíamos no mesmo quarto;

(v) Como civis,  fomos ambos funcionários do Banco Comercial Português [BCP];

(vi) Actualmente estamos os dois reformados.

É demais.

E tudo isto porque existe um blogue onde os antigos combatentes se podem cruzar 35 anos depois.

Obrigado a todos que nele colaboram.

Fernando Costa
Ex-Fur Mil Trms

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5488: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (8): Natal Distante… Não vou endireitar o mundo, prometo (Belarmino Sardinha)


1. Mensagem de Natal do nosso Camarada Belarmino Sardinha (ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 17 de Dezembro:

Camaradas,

Envio um pequeno texto que poderia ser de Natal, ou talvez não.

Publiquem-no se acharem que não vai ferir susceptibilidades.

Este conjunto de palavras, tipo poema que segue abaixo, esse sim, foi publicado em cartões de Boas Festas feito por uma companhia estacionada em Aldeia Formosa e fez parte do Natal de 1972.

O dito conjunto de palavras a que por vezes chamo poema, foi adaptado por um alferes da dita companhia, por ser longo para o postal, mas como não sei já qual era o alferes e tão pouco me lembra qual a companhia, não sei onde param os dois postais que tive como oferta, aqui deixo o original tal como foi escrito.

Natal Distante

Ao som de trombetas
barcos, relés e motores,
armas de fogo, tambores,
eu escrevo.
Tema Natal, Amor,
Paz, Fraternidade, Carinho
de ave pousada sem ninho.
Ser que vive incerteza,
mas que a todos deseja
Feliz Natal.Outro virá
em que os abraçará,
porém, este,
jamais esquecerá.

Aldeia Formosa 09/12/1972

Não vou endireitar o mundo, prometo.

Estimados e queridos amigos acantonados nesta Tabanca Grande que, pequena é ainda, por falta de tantos outros que ainda não a conhecem e por todos aqueles que já a conhecendo não quiseram ou conseguiram sair ainda dos seus “buracos” para se juntarem a nós.

Não sou de enviar postais de boas festas nem tão pouco trocar mensagens nesta época, mas aceito e respeito de bom grado quem o faz. Não me incomodam as boas festas que me desejam ou enviam, costumo até retribuí-las com cordialidade.

Porém, desta vez apetece-me desejar-vos também algo de bom, assim, venho por esta via desejar-vos tudo de bom durante 363 dias de cada ano, pedindo desculpa se nada vos desejo ou tiverem nos dias de Natal e Ano Novo.

Peço-vos encarecidamente que compreendam, nesses 2 dias os esforços estão todos mobilizados, todos, para aqueles que nada têm durante os 363 dias em que vos desejo a vós tudo de bom.

Espero que aceitem de bom grado o que vos desejo.

Um abraço para todos,
Belarmino Sardinha
1º Cabo Radiotelegrafista STM

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:



Guiné 63/74 - P5487: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010 (7): Pensando nas famílias de Catió que me acolheram (Victor Condeço, CCS / BART 1913, 1967/69)





1.  Mensagem do Vitor Condeço, ex-Fur Mil SM, CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)

Assunto -  Boas Festas.

Caros Editores, Camaradas e Amigos,

Desejo a todos que tenham um Feliz Natal e um bom Ano Novo (**), na companhia dos que vos são queridos.

Esta é uma quadra em que a presença da família é importante, longe vão os anos em que muitos de nós, forçados pela guerra, passámos duas quadra Natalícias longe das nossas famílias. 

Alguns, como eu, tiveram o privilégio de ter tido na Guiné famílias que se tornaram nossas amigas, que nos acarinharam e acolheram no seu seio familiar, como se da sua família fossemos, minimizando assim a ausência da nossa.


Para essas pessoas e seus familiares, onde quer que estejam, vai o meu pensamento. Bem hajam por tudo o que nos proporcionaram e que Deus lhes pague.

Também aos meus Camaradas de então e para os amigos guineenses, desejo que tudo vos corra bem no seio das vossas famílias.

Um Feliz Natal!



Com um abraço do
Victor Condeço
Ex-Fur Mil do SM
Guiné – Catió 1967/69


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Notas de L.G.:

(**) Vd. último poste desta série > 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5484: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (6): Guerra à guerra... (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P5486: Estórias avulsas (22): Partida e chegada ao inferno (Jorge Canhão)



1. O nosso Camarada Jorge Canhão*, ex-Fur Mil At Inf da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa 1972/74, enviou-nos a seguinte mensagem em 15 de Dezembro de 2009:


Camaradas,

Agora tenho a mania que sou escritor, (deve ser do PDI), por isso, decidi debitar no papel algumas das minhas lembranças, enquanto existe memória no conhecimento da rapaziada.

São histórias engraçadas (nem todas), mas que reflectem o que um rapazinho, então com 22 anos, sentiu e passou pelas terras da Guiné.

Já avisei todos os meus contactos, para abrirem o blogue lerem o que escrevi sobre o jantar e se encontra no poste P5475.

Partida e chegada ao Inferno

Saímos de Lisboa em avião, do Aeroporto da Portela, de onde demos os primeiros passos na manhã de 5 Outubro de 1972 - feriado nacional -, na direcção da desconhecida Guiné, onde chegámos poucas horas depois.

Logo no aeroporto de Bissalanca tive os meus dois primeiros choques quase em simultâneo. O primeiro foi o clima, assim que abriram as portas do avião aquele calor sufocante e a humidade, fizeram-me lembrar das historinhas que nos contavam em crianças sobre a existência do “inferno”.


Mal sabia eu que ali, havia um inferno real: A guerra colonial que me impuseram.

O outro choque foi cruzarmo-nos com os velhinhos que tinham acabado a comissão e que só uma pequena divisória em vidro nos separava. Com espanto meu, vejo uma cara toda sorridente a fazer gestos e a chamar-me, era o meu companheiro de infância Carlos Boto, a regressar á Ajuda em Lisboa.

Tinha começado bem a minha comissão, que mais me esperaria? Fomos para o Cumeré onde fizemos o IAO. Lá começámos os nossos treinos já com bala real, que a princípio só os graduados usavam.

Pequenas histórias minhas do Cumeré

1. O nosso primeiro IN – As formigas

Numa bela noite, estava a companhia acampada em tendas à volta das quais tínhamos valas individuais, quando o inesperado aconteceu devido a uma brincadeira.

Eu estava no meio do acampamento deitado no chão envolto no poncho, quando três camaradas soldados passaram por mim dizendo: “Olha este tão pequenino aqui a dormir.”

Claro que não tinham reparado que eu estava acordado, então passaram por um Unimog onde o Fur Mil Almeida estava a dormir com o poncho colocado, e lembraram-se de lhe dar uma chapada escondendo-se de imediato.

A reacção imediata do Almeida, foi saltar do Unimog, tirando o poncho e começando a gritar que estávamos a ser atacados. Começaram a “chover” tiros de todos os lados e eu, que estava no meio do “fogachal”, nem sequer ousei levantar a cabeça, pois sabia o que se tinha passado e ainda era muito cedo para ser atingido. E, para mais, daquela maneira.

Entretanto o Fur Mil Toni “O Barbio” começou a gritar para não fazerem mais fogo, que, tal como tinha começado, rapidamente, também assim logo cessou.

Quando a rapaziada começou a sair das valas, começou uma grande algazarra, que raio seria aquilo?

Nem mais nem menos umas simpáticas formiguinhas que só à noite saíam, decidiram apanhar boleia na rapaziada agarrando-se a tudo o que era carne. Nesse momento não seria como dizíamos na gíria “carne para canhão”, mas sim para formigas.

Foi o primeiro ataque que tivemos. Assim começou a nossa aprendizagem. Nessa altura o Fur Mil Almeida disse que estava a sonhar, que estávamos a ser apanhados à mão, quando levou a chapada e acordou.

Só cerca de 30 anos depois é que os intervenientes nesta história souberam que eu tinha assistido a tudo.

2. O nosso segundo IN – As abelhas

Passados dias numa operação efectuada a nível de companhia, quando calmamente seguíamos pelo mato (ainda na zona próxima do Cumeré), alguns “engraçados” que iam à frente lembraram-se de hostilizar um enxame de abelhas, que, sossegadamente, estavam na sua colmeia.

Como era de esperar, seguiu-se um ataque com algumas ferroadas, que deram origem a algumas evacuações para o hospital de Bissau. Os atingidos passaram por mim a correr e eu a tentar agarrá-los e a não os deixar mexer-se Para evitar mais picadelas. Este foi o nosso segundo ensinamento.

3. Um não levantamento de rancho

Também num dia em que eu estava de sargento de dia à companhia, deram para o almoço umas sardinhas enlatadas todas feitas em papa. Os soldados reagiram e virando-se para mim perguntaram-me o que é que haviam de fazer e se fosse eu, o que faria?

Sardinhas enlatadas (in Wikipédia, enciclopédia livre)

Na minha ingenuidade militar, mas na minha condição de ser humano, respondi-lhes que não comeria aquilo, pois nem para animais era próprio. Foi o suficiente para um levantamento de rancho, e ainda estávamos no Cumeré. Momentos depois aparece o Comandante do Batalhão Tenente-coronel Eurico Simões Mateus (já falecido), agredindo um cabo com uma chapada e ameaçando de prisão quem não obedecesse. Assim se gorou um levantamento de rancho.

A 3 de Novembro, saímos do Cumeré para a nossa “nova casa” Mansoa, mas essa é outra história que mais tarde espero contar.

Oeiras, 15 Dezembro 2009,
Um abraço,
Jorge Canhão
Fur Mil At Inf da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72

Imagens: © Wikipédia, enciclopédia livre. Direitos reservados.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:


Guiné 63/74 - P5485: Historiografia da presença portuguesa em África (33): Roteiro (Parte I) (Santos Oliveira / Luís Graça)

Roteiro do Ultramar, 1958  >  "Sagres - Lugar sagrado da Pátria donde o Infante concebeu a gesta dos Descobrimentos"

Roteiro do Ultramar, 1958 >   "Mapa da Guiné Portuguesa"... Na época havia apenas três concelhos (Bissau, Bafatá e Bolama) e oito circunscrições (Cacheu S. Domingos, Farim, Mansoa, Gabú, Fulacunda, Bijagós, Catió)...



Roteiro do Ultramar, 1958 >  "Moderna esplanada da pousada da Praia de Varela, sobre o Atlântico"









Roteiro do Ultramar, 1958 > Guiné, pp. 3-5

1. Excertos do livro Roteiro do Ultramar, que nos foi enviado pelo nosso camarada Santos Oliveira, em 16 de Fevereiro de 2008.  Por pesquisa através da Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, fica-se a a saber que esta publicação  é da autoria de Manuel  Henriques Gonçalves (Lisboa, s.n., 1958, 131 pp. + ilustrações).

Deste autor há, na Biblioteca Nacional Portuguesa, outros títulos sobre o Ultramar, incluindo Jornadas na Guiné : impressões da viagem presidencial à Guiné / Manuel Henriques Gonçalves. Lisboa : [s.n.], 1955.

Publica-se agora a primeira parte desses excertos, na parte relativa à Guiné. Este tipo de informação sobre as colónias portugueses de África (rebaptizadas como províncias ultramarinas em 1951) tem de ser enquadrada no contexto da época (já fortemente marcado pela movimento de descolonização), e no esforço "nacionalista"  do Estado Novo para, tardiamente, "levar a civilização e o progresso" à Guiné, depois de terminada, em 1936 (!), a última "campanha de pacificação"...

A capital tinha sido transferida de Bolama para Bissau em 1943. Em 1956, Bissau tem já cinco hotéis: além do Grande Hotel, o Avenida, o Internacional, o Miramar e o Portugal...

Há três concelhos: Bissau, Bolama e... Bafatá. E oito circunscrições: Cacheu, S. Domingos, Farim, Mansoa, Gabú, Catió, Fulacunda e Bijagós... Há governadores da província empreendedores como Sarmento Rodrigues.  Bissau passa a ter infra-estuturas aero-portuárias. Há ligações: (i) marítimas, entre Bissau e Lisboa (aseguaradas por bracos mistos da Sociedade Geral); (ii) terrestres (com a África Ocidental Francesa, até Dakar, através de Zinguichor); e (iii) aéreas (bi-semanais, de Bissalana com Dakar, e daqui diariamente com o resto do mundo; e internas, com todas todos os concelhos e circunscrições).

O autor aponta três razões para justificar o relativo desconhecimento e abandono da Guiné: (i) clima quente; (ii) doenças tropicais; e (iii) ostracismo... A população branca é escassa, mas aumenta nas décadas de 1930 e 1940, passando de menos de mil (em  finais de 1920) para cerca de 2300 (em 1950). Os guineenses, por sua vez, são meio milhão, em 1950.

Enfim, um documento datado, mas nem por isso menos  interessante pata o conhecimento da Guiné desta época, anterior à guerra colonial, bem como da mentalidade  dos tugas que lá viviam ou por lá passavam, como seria o caso do autor do Roteiro do Ultramar. Os nossos agradecimentos ao nosso camarada Santos Oliveira (ex-Srg Mil Armas Pes / Op Esp, Pelotão  Independente de Morteiros 912, 1964/66). Oportunamentem publicar-se-á a II e última parte. (LG)

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Nota de L.G.:

Vd. último poste desta série > 22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5317: Historiografia da presença portuguesa em África (32): O que José Henriques de Mello viu no Cuor e em Bissau (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5484: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (6): Guerra à guerra... (Joaquim Mexia Alves)


1. Mensagem do camarigo Joaquim Mexia Alves (Xitole, Rio Udunduma, Mato Cão, Mansoa, 1971/73)

Assunto - Boas Festas!


Meus caros camarigos

Que mensagem de Natal pode um homem escrever, onde inclua a palavra guerra, que no fundo é uma palavra que nos une a todos, pois a razão da nossa união à volta deste espaço é a guerra…da/na Guiné.

Mas por muito estranho que pareça, guerra, é uma palavra que podemos perfeitamente aplicar na quadra do Natal e até para falar da vivência do Natal!

Reparem, que melhor quadra do ano pode haver, (devia ser o ano todo), para fazer guerra à exclusão, à discriminação, à indiferença!

Que melhor razão pode haver, que não seja o Natal, para fazer guerra à fome, ao desemprego, à falta de habitação!

Que tempo há mais propício do que o Natal para fazer guerra à indiferença, ao abandono, ao desespero!

Que dias são mais perfeitos do que os do Natal, para fazer guerra à solidão, à desunião, à falta de perdão!

Que tempo será mais adequado do que o Natal, para fazer guerra à vaidade, ao egoísmo, à falta de amor!

Por isso meus queridos camarigos, façamos todos a guerra, esta guerra, para então sim, alcancarmos a paz entre os homens de boa vontade!

Para todos e todas as vossas famílias um Santo e Bom Natal, na certeza de que, se nos empenharmos em guerras destas, seremos sempre vencedores num caminho melhor e muito mais justo.

Abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves

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Nota de L.G.:

Vd. último poste desta série > 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5483: Votos de Feliz Natal 2009 e BomNovo Ano 2010 (5): Zé Teixeira, Médico do Mundo (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P5483: Votos de Feliz Natal 2009 e BomNovo Ano 2010 (5): Zé Teixeira, Médico do Mundo (Carlos Vinhal)




1. Mensagem do Carlos Vinhal, nosso co-editor, ex-Fur Mil At Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá (1970/72):


Caros tertulianos

O Natal não são as compras supérfluas, as prendas que se dão e se recebem, e que passados dias vão para o lixo, as palavras hipócritas que se trocam de uma amizade que só dura umas horas... o Natal é por exemplo isto:

http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Equipa-dos-Medicos-do-Mundo-acode-a-sem-abrigo.rtp&headline=20&visual=9&article=303255&tm=8

RTP1 > País > Equipa dos Médicos do Mundo acode a sem-abrigo


No Porto, as temperaturas chegaram a valores negativos durante a madrugada. A RTP seguiu os passos de uma equipa dos Médicos do Mundo à procura dos sem-abrigo da cidade.

2009-12-15 13:27:40

E este Natal não acontece só em Dezembro, mas todas as semanas do ano.

Peço desculpa ao nosso Zé Teixeira. Não sei se devia ter feito isto, mas já está.

Dele não digo nada, quem sou eu para falar de alma tão grande?

Bem hajas, querido Zé, porque és diferente.

Um abraço e Bom Natal para todos. Um 2010 cheio de venturas.

Vosso camarada e amigo

Carlos Vinhal

E-mail: carlos.vinhal@gmail.com

Co-Editor dos Blogues

Luís Graça & Camaradas da Guiné

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

e CART 2732

http://cart2732.blogspot.com/

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Nota de L.G.:

Vd. último poste desta série:

15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5473: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (4): Jorge Félix e a doce depressão natalícia...

Guiné 63/74 - P5482: Controvérsias (60): Ainda as afirmações de Lobo Antunes e os apoios sociais atribuídos aos ex-combatentes (Arménio Santos)

1. Mensagem de Arménio Santos* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal

Começo por pedir desculpa em só agora voltar a dar sinal de vida, depois da minha apresentação e entrada na nossa tertúlia.

Obrigado por me terem franqueado as portas e, como qualquer outro, tentarei dar o meu modesto contributo para alimentar a ideia feliz que tiveram em criar este blogue, como espaço aberto de partilha de memórias, de episódios e de experiências daqueles que viveram tempos na Guiné que não devem ser esquecidos, que não devemos esquecer, porque representam um marco importante da nossa vida e da nossa juventude.

Independentemente da nossa actual condição ou da leitura que façamos desses tempos, eu fiquei apanhado pela Guiné e especialmente pela nobreza das suas gentes. Há afectos que ficam e não se apagam. Por isso, custa-me ver esse País adiado e mergulhado em problemas e instabilidade que impedem a Paz e o seu arranque para os caminhos do desenvolvimento, sem o qual é impossível as pessoas terem esperança numa vida melhor e em Liberdade.

Dou esta minha opinião, naturalmente no escrupuloso respeito pelos assuntos internos da Guiné, onde, felizmente, tenho amigos. Nós também sofremos com o sofrimento daqueles de quem gostamos. E o povo da Guiné é um povo irmão, amigo, que tem sofrido e continua a ser vítima de situações que lhe furtam a esperança e o futuro a que tem direito.

Conheço bem as ESTÓRIAS CABRALIANAS, algumas circularam na Lusófona, para gáudio da malta. De facto, o Prof Jorge Cabral é simplesmente fantástico, é de um humanismo extraordinário, é uma pessoa cinco estrelas. Sei, por ele, que anualmente há um almoço de confraternização e uma deslocação à Guiné. Farei os possíveis para, se e quando isso acontecer, estar presente.

Permite-me, meu Caro Carlos Vinhal, uma palavra, embora atrasada, sobre um tema que acompanhei e foi objecto de algumas posições indignadas acerca das declarações do Lobo Antunes, relativamente ao comportamento das tropas portuguesas nas antigas colónias e especialmente em Angola.

Considero simplesmente deplorável que uma figura cimeira das letras nacionais e da nossa cultura se preste a produzir semelhantes invenções. Se fosse um livro de ficção, teria de ser encarado e tratado como fantasia e daí não passava. Era ficção, era fruto da imaginação, não era a realidade, ponto final. Mas sendo declarações produzidas em conferência de imprensa, e no estrangeiro, obviamente que o Senhor Lobo Antunes sabia que estava a faltar à verdade, sobre uma questão muito séria, que mexe com a dignidade das Forças Armadas Portuguesas e sobretudo com a dignidade de milhares de pessoas que passaram pelas suas fileiras em África.
Sinceramente, custa-me aceitar que tenham sido razões mercantis que motivaram semelhante insulto àqueles que tombaram ou que passaram por altos riscos e sacrifícios em terras africanas.

Os nossos intelectuais, deviam ser os cabouqueiros dos alicerces de novas ambições nacionais, deviam ser exemplo, deviam puxar pela nossa auto-estima e deviam ser agentes de causas capazes de mobilizarem esta secular Nação, com verdade. Infelizmente, alguns têm uma grandeza medíocre e rasteira. É triste!
Um forte Abraço e um Bom Natal para ti e para a tua Família. Votos de Boas Festas, também, para TODOS os residentes da Tabanca Grande.


2. Apoios sociais atribuídos aos ex-combatentes

Meu Caro Carlos Vinhal
Suponho que tu ou o Luís Graça em meados de Novembro, perguntaste, para um nosso compatriota emigrante, por dados relativos aos apoios sociais para os Antigos Combatentes. Embora sabendo que, provavelmente, estes elementos são do vosso conhecimento, mesmo assim permito-me enviá-los por poderem ser úteis a alguém.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro?

A Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro considera ex-combatentes:


- Ex-militares mobilizados entre 1961 e 1975, para os territórios de Angola, Guiné e Moçambique (artigo 1.º, n.º 2 alínea a);

- Ex-militares aprisionados ou capturados em combate durante as operações militares que ocorreram no Estado da Índia aquando da invasão deste território por forças da União Indiana ou que se encontrassem nesse território por ocasião desse evento (artigo 1.º, n.º 2 alínea b);

- Ex-militares que se encontrassem no território de Timor Leste entre o dia 25 de Abril de 1974 e a saída das Forças Armadas Portuguesas desse território (artigo 1.º, n.º 2 alínea c).

No entanto, o seu âmbito de aplicação pessoal abrange apenas os ex-combatentes subscritores da Caixa Geral de Aposentações ou beneficiários do regime de pensões do sistema público de Segurança Social.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 21/2004 de 5 de Junho?

A Lei n.º 21/2004, de 5 de Junho procedeu ao alargamento do âmbito de aplicação pessoal da Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro e abrange:


- Ex-combatentes que estejam abrangidos por sistemas de segurança social de Estados membros da União Europeia e demais Estados membros do espaço económico europeu, bem como pela legislação Suíça, ainda que não tenham sido beneficiários do sistema de segurança social nacional;

- Ex-combatentes que estejam abrangidos por sistemas de segurança social de Estados com os quais foram celebrados instrumentos internacionais (Convenção ou acordo sobre Segurança Social, designadamente Andorra, Argentina, Austrália, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Chile, Estados Unidos da América, Marrocos, Venezuela, Uruguai e Turquia) e que prevejam a totalização de períodos contributivos, desde que tenham sido beneficiários do sistema de Segurança Nacional, ainda que não se encontre preenchido o prazo de garantia para acesso a pensão;

- Ex-combatentes que não sejam subscritores da Caixa Geral de Aposentações nem beneficiários do regime de pensões do sistema público de Segurança Social, designadamente bancários, advogados e solicitadores, beneficiários de regimes privados de protecção social, de acordo com o preceituado no artigo 1.º, alínea c) da Lei n.º 21/2004 de 5 de Junho e da Portaria n.º 167/2005, de 1 de Fevereiro que aprovou o formulário de requerimento dos ex-combatentes supra mencionados.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro?

São abrangidos pela Lei n.º 3/2009, o Universo dos Antigos Combatentes definido através da Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro e na Lei n.º 21/2004, de 5 de Junho, e os que se encontram estipulados na alínea f) do artigo 2.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro, ou seja, os Antigos Combatentes abrangidos pelo regime de protecção social dos bancários, beneficiários da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores e da Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Portuguesa de Rádio Marconi.

Como é calculado o complemento especial de pensão (CEP)?

O complemento especial de pensão é igual a 3,5% do valor da pensão social por cada ano de prestação do serviço militar ou duodécimo daquele valor por cada mês de serviço. Importa ainda referir que a contagem de tempo de serviço militar é feita tendo em atenção o número de anos e meses completos, não sendo por isso contabilizados os dias isolados. Compete à Segurança Social o cálculo e o pagamento do CEP.

Qual o montante anual do suplemento especial de pensão (SEP)?

O montante anual do SEP encontra-se previsto no artigo 8.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro. É atribuído nos seguintes moldes:


- € 75 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço até 11 meses;
- € 100 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço entre 12 e 23 meses;
- € 150 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço igual ou superior a 24 meses.

Quando deverá ser pago o suplemento especial de pensão (SEP)?

O SEP é pago anualmente, no mês de Outubro, nos termos do n.º 5 do art. 8.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro.

Um grande Abraço.

3. Uma palavra ainda para aqueles que me honraram com os seus comentários

Ao Luís Faria, um grande abraço e um muito obrigado pela tua apreciação à minha entrada na Comunidade Camariga.

Ao Mário Pinto, pelos vistos fomos vizinhos, no eixo Buba-Mampatá-Quebo. Tenho feito um grande esforço para me lembrar de ti mas, sinceramente, não me recordo. Agora dos Morcegos de Mampatá, recordo-me perfeitamente bem. Vocês foram uns heróis.
Um abraço para ti e espero encontrar-te numa iniciativa que o blogue promova.

Ao Manuel Maia, obrigado pelo teu comentário e, como já referi ao José Martins, podemo-nos encontrar no Parlamento se a tertúlia quiser. Partilho em absoluto da tua opinião que está por fazer justiça aos ex-combatentes. E a dois níveis, do meu ponto de vista, claro: em termos sociais, com uma justa compensação na reforma; e em termos de reconhecimento nacional, descomplexado, pelo serviço militar que fomos chamados a prestar em nome da Pátria. Um grande Abraço

Ao Anónimo**, veterano da guerra, ex-Fur Mil – Art.ª Bigene/Guidage-Barro

Meu Caro Amigo,
Agradeço o teu comentário e procuro sucintamente responder à tua questão. Eu estive na Guiné 25 meses sem me deixarem vir à Metrópole e, apesar da minha Especialidade, andei em muitas Operações onde vi alguns camaradas, africanos e europeus, ficarem pelo caminho sob fogo inimigo ou por minas.

Sei bem, como tu e todos nós, o que representou o destacamento dos soldados portugueses para as ex-colónias. Sei bem quão merecida e justa seria uma pensão condigna, correspondente ao tempo do serviço militar cumprido, àqueles que foram chamados a envergar a farda das Forças Armadas Portuguesas e rumaram ao então Ultramar ao serviço da Pátria.

Infelizmente há sempre um mas, para não decidir e para não resolver.
Penso que se o processo de descolonização não tivesse deixado as marcas políticas no País que então deixou, possivelmente esse problema teria sido encarado com outra abertura e naturalidade. Assim não aconteceu, este problema não foi bem resolvido desde o princípio, se calhar na altura também não era possível resolvê-lo de outra maneira e, entre outras vítimas, os ex-combatentes têm razões de queixa.
Um abraço e Feliz Natal

Ao Jorge Fontinha, Régua
Caro Companheiro, aquele abraço e oportunamente havemos de nos encontrar. De vez em quando vou aí à Casa do Douro ou a reuniões na Régua e em Vila Real com Companheiros nossos. Da próxima vez dou-te um sinal, para nos encontrarmos por aí.
Um forte abraço e Feliz Natal para ti e para a tua Família.

Ao José Marcelino Martins, a Assembleia da República é a Casa da Democracia e está aberta a todos os cidadãos, como não podia deixar de ser. Se houver interessados e se o Carlos Vinhal ou o Luís Graça quiserem preparar uma visita à Assembleia da República, terei imenso gosto em vos receber e acompanhar.
Um forte abraço.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5216: Tabanca Grande (185): Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70

(**) Trata-se do nosso camarada Jorge Teixeira, identificado como jteix veterano de guerra

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5447: Controvérsias (59): Deixem que cada um tenha a liberdade de criar a sua versão... (António Matos)

Guiné 63/74 - P5481: Estórias avulsas (21): Ainda o Fiolifioli (Armandino Alves)



1. Em 15 de Dezembro de 2009, recebemos um texto do nosso Camarada Armandino Alves, que foi 1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem na CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68) e que passamos a transcrever:


Ainda o Fiolifioli


A operação Lança Afiada, pelo que li, foi uma cópia fiel de uma operação de que, de momento, não me lembro do nome do código que lhe foi atribuído, realizada mais ao menos na mesma data, em 1967, na mata do Saraoul.


Também foram 10 dias empregando um elevado número de efectivos, em que entrou a CCaç 1589, que se encontrava nessa altura em Fá Mandinga.

Nessa altura, segundo vim a saber, parece que não houve tempo para se avaliar a temperatura ambiente (que por acaso era sempre a mesma), as condições físicas do pessoal, para lá arrebanhado, e outros pressupostos fundamentais aos básicos preparativos de uma operação daquela envergadura, que, nessa altura, não eram tidos nem achados, para a melhor condução da guerra que se estava a desenrolar.

Não sei (devido à minha “elevada” patente) o que lá encontraram e porque é que a minha companhia não teve intervenção directa, pois apenas ficou de prevenção para possíveis fugas do IN.

Pelo que ouvi depois, encontraram e destruíram um hospital de campanha do IN, mas sem ninguém lá dentro.

Aqueles que têm possibilidades de consultar os documentos da altura, é que podem afiançar o desfecho desta operação. Sei que foi uma operação a nível de batalhão, com milícias e carregadores, pois nessa altura não havia ainda a CCaç de negros.

As actividades foram apoiadas pela artilharia pesada instalada em Mansoa e pela Força Aérea, que apareceu sempre que foi solicitada. Pelo menos, tal aconteceu com a melhor prontidão e eficácia, num caso de uma evacuação para o HM241, de um soldado vitimado por um ataque de abelhas.

Nota-se, pelos considerandos tecidos à programação da operação, que o oficial, que exarou o planeamento e a estratégia de acção, percebia tanto de Guiné como eu de lagares de azeite. Se calhar queria que estas operações fossem feitas na época das chuvas, ou que, então, houvesse uma súbita mudança de Estação do ano, para a Primavera, ou para o Outono.

Teve azar, pois nenhum destas duas últimas foi “mobilizada”.

Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: