domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5550: Convívios (179): Convívio espontâneo da CCav 2749/BCav 2922 (Hélder Sousa)



1. O nosso Camarada Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF (Bissau e Piche, 1970/72), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 26 de Dezembro de 2009:

Almoço/Confraternização de elementos da CCav 2749 do BCav 2922

Camaradas,

Espero que as Festas lhes estejam a correr bem.



Envio a descrição e algumas fotos do que foi, aparentemente, mais um convívio de Natal.

Na verdade não se tratou de “mais um” convívio de Natal.Foi realmente a época natalícia que o proporcionou mas tratou-se de um encontro espontâneo de ex-militares, maioritariamente da CCav 2749 do BCav 2922, de Piche, que, ao tomarem conhecimento da presença em Portugal dum antigo camarada de armas que já não viam praticamente desde o regresso das terras africanas, o ex-Fur. Mil. Cav. MA Boto, a viver na África do Sul, rapidamente se mobilizaram para lhe fazerem um surpresa, mesmo correndo o risco de uma menor presença, devido à época e ao pouco tempo disponível para os contactos.

É notável como os laços de camaradagem forjados naquelas longínquas terras e nas condições comummente vividas possibilita que, num repente, tenha sido possível juntar num restaurante da Costa da Caparica, o 'Nova Praia', amigos que vieram de Braga, do Porto, de Évora e de Londres, para além dos habitantes dos arredores, apenas e só pelo desejo de reverem um amigo ausente há mais de 30 anos...

Avisado a tempo pelo Luís Borrega que, a partir da informação do Manuel Costa (de Braga), dinamizou alguns contactos e incumbindo os Vaguemestres a tratarem da logística (como convém!), também me foi possível comparecer, embora com o repasto já a decorrer, pois para além do tempo que estive com eles em Piche alguns dos furriéis foram também meus contemporâneos do 1º Ciclo do CSM da 3ª incorporação em Santarém em Julho de 69.

São estes gestos de amizade incondicional que fazem a 'imagem de marca' de todos aqueles viveram uma época de grande crescimento interior e que hoje estão cá para contar como se criam e alimentam amizades e disso dão testemunho para quem quiser tomar conhecimento.


Seguem-se algumas fotos ilustrativas com as respectivas legendas, cujos créditos devem ser imputados a Herlânder Galinho de Almeida.


Foto 1 - O grupo, onde vemos da esquerda para a direita, o Fur Mil. Transm. Henrique Ferreira da CCav 2749, o Fur. Mil, Vaguemestre Vitor José da CCS, o Alf. Mil. Artur Fernandes da CCav 2749 (hoje Coronel Ref.), o Fur. Mil. José Soares da 2749, o Fur. Mil. MA Fernando Boto da 2749, o Fur. Mil. Mec. Manuel Costa da 2749, o Fur. Mil Vaguemestre Herlander Almeida da 2749, o Fur. Mil. Carlos Carvalho da 2749, o Fur. Mil. Lourenço Melo e Castro da 2748, o 1º Cabo At. Alfredo Lopes da 2749, o Fur. Mil. Arlindo Costa da 2749, o Alf. Mil. José Belchiorinho da 2749 e o nosso 'tertuliano' Fur. Mil. MA Luís Borrega da 2749. O fotógrafo foi o Fur. Mil. MA Luís Encarnação da 2748



Foto 2 - Vemos, também da esquerda para a direita, o Fur. Mil. Arlindo Costa, o Fur. Mil. MA Luís Encarnação, o Fur. Mil. Transm. Hélder Sousa do STM, o Alf. Mil. José Belchiorinho e o 1º Cabo Alfredo Lopes

Foto 3 - Vemos, ao fundo, o Fur. Mil. José Soares, o Fur. Mil. Carlos Carvalho, o Fur. Mil. Fernando Boto e o Fur. Mil. Luís Encarnação e, em primeiro plano, o Fur. Mil. Mec. Manuel Costa, o Fur. Mil. Arlindo Costa e o Fur. Mil. Transm. Henrique Ferreira

Foto 4 - Vemos, para além da cabeça do Fur. Mil. Arlindo Costa, o Fur. Mil. Mec. Manuel Costa, o Fur. Mil. Luís Borrêga, o Alf. Mil. Artur Fernandes, o Fur. Mil. Hélder Sousa, o Alf. Mil. José Belchiorinho, o 1º Cabo Alfredo Lopes e o Fur. Mil. José Soares

Foto 5 - Identificamos, da esquerda para a direita, Hélder Sousa, José Belchiorinho, Arlindo Costa, Manuel Costa, Luís Borrega, Artur Fernandes e a Natividade (esposa do Hélder)

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa / Luís Borrega
Fur Mil Trms TSF / Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922,

Fotos: © Herlânder Galinho de Almeida (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5549: Tabanca Grande (197): Rui Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65

1. Mensagem de Rui Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65, com data de 16 de Dezembro de 2009:

Camarada/s: Faz tempo que não encontrava o vosso contacto e até pensei o pior, dado que não obtive resposta a um mail que enviei há bastante tempo até que hoje resolvi colocar na janela de pesquisa google "Caboxanque", e eis que me aparece o vosso novo contacto, não me fiz rogado e aqui estou! 

 Estive em comissão na Guiné de 1963 a 1965, fui Alferes Miliciano e o meu serviço foi... Bedanda 4.ª CCAÇ (guarnição normal), e depois Bolama com uma passagem por Fulacunda (10 dias). 

 Tenho muitas recordações, boas e más, mas são recordações que ninguém mas tira, e tenho felizmente uma memória excelente! Voltarei um dia para partilhar, e tentar o contacto de qualquer um que se lembre de mim e que ainda se arraste por este mundo, lembro dos alferes: Gonçalves, Grilo, Gouveia, Ribeiro, Teixeira Barata e o outro Barata; entre sargentos: Lopes Pereira, Lopes Junior, Centeio, Esturrica Lopes, e muitos outros que de momento estão envolvidos pela neblina das bolanhas. 16 de Dezembro de 2009 (vão 44 anos) RUI SANTOS MAIL: ruigdossantos@gmail.com 

  2. Segunda mensagem do nosso novo camarada Rui Santos, com data de 22 deste mês de Dezembro de 2009:

 Boas noites amigos: Tudo me tem corrido mal com este meu novo equipamento, este é o terceiro mail que escrevo hoje, espero que vos leve a minha gratidão por me terem comunicado! Nos outros mails alonguei-me em demasia e não consegui inserir as fotos, mas sou velho e penso que não sou burro, lá consegui! 

  Num pequeno resumo Fui incorporado em Agosto de 1962 e fiz o COM em Mafra. Daí fui para o RI15 (velho) em Tomar onde fui nomeado pelo Cap Coutinho, voluntário à força, para o 1.º Curso de Rangers (diziam) no CMEFED em Mafra. Uns dias em Lamego, pois fui mobilizado e mandaram-me regressar à unidade, com umas grandes peripécias, vindo no mesmo dia a Mafra, Tomar, Abrantes onde estava a minha Companhia. Logo o Capitão me mandou para Tancos tirar o Curso de Minas e Armadilhas, estas viagens todas no mesmo dia. 

Depois do Curso e quando regressei a Abrantes, ainda hoje estou para perceber, tinham partido sem mim, assim voltei a Tomar a aguardar ordens, e eis que cerca de 10 a 12 dias depois soube que o meu destino seria Guiné!! Neste pequeno relato se passaram 13 meses e meio. Embarcaram-me num cacilheiro de nome "Manuel Alfredo" no dia 10/9 e depois de um periodo de navegação pela mesa das refeições e das cartas, estamos no Pidjiguiti no dia 20/9/63. 

Após um periodo de 10 dias em Bissau, onde pensei que os terroristas tinham feito desembarcar vários batalhões de melgas e mosquitos e atacaram com tal gana as tenras carnes do maçarico, que me vacinaram e ainda hoje se algum desses bichos me morde cai logo morto!! Mais 10 dias de incubação psicológica, e levaram-me a Bissalanca onde me esperava um mini-constelation "Auster" de três lugares, o Furriel Piloto, o moi, e o sargento vaguemestre da 4.ª Companhia da Guarnição Normal de Bedanda. No ar, tudo verde lá em baixo, até que 45 a 50 minutos depois o piloto começou a tirar motor, acenei só com a cabeça, pois o barulho dos 4 motores era muito, e ele sorridente, disse: - B E D A N D A!!! 

 Aqueles penduricalhos não me cairam ao chão porque estava sentado, mas caí eu em mim... DOIS ANOS! Bom, espero não estar a aborrecer, mas havemos de falar e recordar, a gente nova não gosta que os velhos recordem, mas foi a nossa vida... Desculpem o modo de escrever mas o facto é que sempre fui descontraído quer debaixo de fogo, quer ao lado do fogo (lareira)! De qualquer modo, um (ou dois) abraços e espero não gastar mais papel mas sim saliva. Lisboa, 22 de Dezembro de 2009 Rui Santos Na "estrada" de Bolama para a ilha das Cobras ao volante do velho jeepão brasileiro, com o Cabo Enfermeiro No Quartel de Bedanda, a bordo do jeep que me foi alugado no "Bedanda Rent a car". 

  3. Comentário de CV 

 Caro Rui Santos, bem-vindo. Entra, acomoda-te, e fica desde já a saber que não és dos menos novos cá na caserna. Temos por companheiros alguns jovens já na casa dos setenta e com grande pedalada. Vais conhecê-los aos poucos, porque esperamos da tua parte uma colaboração activa. Palavra, puxa palavra e assim contamos as nossas peripécias. Como escreves nas entrelinhas, este é o local ideal para descarregarmos as nossas recordações, sem vermos os filhos e os netos a olhar para o cão, como que a dizer: - O cota é mesmo chato, não achas Boby? Temos já uns quantos camaradas do início da guerra na Guiné, mas não tantos que possamos dispensar mais um que nos ajude a montar o cantinho do puzzl correspondente ao início dos anos 60. A esmagadora maioria é de meio e fim da guerra. Vê tu que o nosso camarada Pedro Neves tem o descaramento de completar hoje uma porcaria de 58 anos de idade. Até podíamos considerar um insulto, mas a gente perdoa-lhe porque isto com o tempo passa-lhe. 

 Caro Rui, a partir de hoje tens mais, quase, 400 amigos com os quais poderás interagir, trocando impressões, fazendo comentários, etc. Contamos contigo no próximo Encontro Nacional da Tertúlia, onde poderás ver em carne e ossso estes teus novos amigos, para já virtuais. Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia. Manda as tuas histórias e fotos (devidamente legendadas), para o endereço do blogue: luis.graca.prof@gmail.com e em redundância para um dos editores, que posso ser eu ou o nosso MR, Magalhães Ribeiro, o mais famoso periquito da Guiné. Assim terás a certeza de que um de nós não vai perder de vista a tua mensagem. CV

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Guiné 63/74 - P5548: Álbum fotográfico de João Graça (2): O Fatango ou macaco fidalgo (Procolobus badius) do Parque Nacional do Cantanhez


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 Dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo). Nome científico: Procolobus  badius.

O Parque Nacional do Cantanhez, inaugurado em 19 de Março de 2008, tem um superfície de mais de 100 mil  hectares / 1000 km2 (superior ao nosso Parque Nacional da Peneda-Gerês, que tem 70 mil). No Parque vivem cerca de 40 mil pessoas. As suas potencialidades para o desenvolvimento integrado e sustentado da Guiné-Bissau estão estudadas, nomeadamente do ponto de vista do ecoturismo.

A falta de investigação científica sobre a rica e diversificada fauna do Cantanhez não tem permitido definir e sobretudo aplicar uma eficaz política,  integrada e transfronteiriça,   de conservação e protecção. Prevê-se que no final do 1º trimestre de 2010 já esteve disponível, em livro, o Guia dos Mamíferos do Cantanhez, segundo informação da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau.

A AD tem tido um papel pioneiro na criação e dinamização de EVA - Escolas de Verificação Ambiental (Elemento de contacto: Engª Agr e doutoranda em Educação, a nossa amiga Isabel Levy Ribeiro, portuguesa, esposa do Eng Agr Carlos Schwarz Silva, Pepito). (LG)

Fotos: © João Graça (2009). Direitos reservados. (*)

O fatango, macaco fidalgo vermelho, western red colobus (em inglês). Espécie: Procolobus badius. É uma espécie ameaçada,  fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação.

São Mamíferos da ordem dos Primatas, ordem que compreende  o homem, os macacos e os prossímios.  Os primatas são: (i) especialmente arborícolas e omnívoros, (ii) dotados de cérebro grande e diferenciado, (iii) olhos bem desenvolvidos e voltados para a frente, permitindo a visão binocular, e (iv) membros com cinco dedos, o primeiro geralmente oponível aos demais.
 
O Procolobus badius é originário de África. Distribui-se pela África Ocidental (Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria...). Habita as florestas húmidas ou florestas-galeria. Na Guiné-Bissau, é uma das várias espécies de primatas existentes no Parque Nacional do Cantanhez (que inclui o dari, o chimpanzé).
 
Vive em grupos de 5 a 100 indivíduos. Cada grupo possui um território de cerca de 35 hectares. Alimenta-se de frutos, folhas, raízes e flores. Mede, em comprimento, entre 47 e 69 cm. A cauda mede entre 50 e 80 cm.  Pesa cerca de 8 quilos. É uma espécie ameaçada, EM PERIGO (EN, Endangered, isto é, considerada como estando a sofrer um risco muito elevado de extinção na natureza), segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) das espécies ameaçadas (versão 3.1, de 2001).
 
Vd. sítios na Net >

The IUCB Red List of Threatened Species >  Procolobus badius (em inglês)
Primate Factsheets > Red Colubus (em inglês)
Animal Diversity Web (em inglês)
ARKive (em inglês) (com excelentes vídeos)
Damisela (em espanhol)
GORP (em inglês)


[Dados recolhidos por L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior > 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5531: Álbum fotográfico de João Graça (1): Médico em Iemberém por cinco dias

Guiné 63/74 – P5547: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (32): COMOP. BCaç 2892 - 1º Trimestre 1971 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 32ª mensagem, em 26 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Nos postes P5452 e P5530 apresentei-vos uma descrição pormenorizada das actividades da minha CArt 2519, no Sector de Buba-Aldeia Formosa, nos 1º e 2º Semestres de 1970.

Continuo agora com as actividades no ano de 1971, período este em que as unidades do Sector tanto se empenharam e sacrificaram nas ZAs a seu cargo, já numa fase em que começavam mais em sobreviver, com o pensamento no seu regresso a casa e na sua substituição por outras unidades, do que propriamente em combater o IN.

Buba - Nhala - Mampatá - Aldeia Formosa
COMOP. BCaç 2892
1.º TRIMESTRE

JANEIRO de 1971

Sentia-se um forte crescimento da actividade IN, nas Zonas junto à fronteira, a Oeste de ALdeia Formosa, tentando o PAIGC fixar-se no terreno com vários Grupos armados, movimentando-se ao longo da linha fronteiriça, com a Guiné-Conakri, derivando de Oeste para Leste do nosso território.

As NT, nesta ZA a cargo da CArt 2521 e CCaç 2614 (que nesta altura tinha trocado com a CCaç 2615), empenhavam-se em patrulhamentos, emboscadas e colocação de minas nos itinerários de infiltração, procurando detectar sinais do IN, e impedir as suas acções na área.

O PAIGC, conhecedor do terreno e das nossas movimentações, conseguia contornar todas as nossas actividades, refugiando-se na fronteira quando pressentia a presença das NT, o que tornava infrutíferas todas as nossas iniciativas, caindo apenas nas nossas armadilhas implantadas no terreno, para o efeito.

Neste período registaram-se as seguintes acções do inimigo, sobre a Zona de Aldeia Formosa:

10-01-1971, registou-se um ataque ao aquartelamento com vários foguetões de 122 mm, accionados do outro lado da fronteira.

14-01-1971, novos ataques (duas vezes), ás 01h00 e 02h00, ambos com morteiros de 82 mm e RPG7, provenientes de Bungofé.

Neste dia, mais tarde, quando procedíamos ao reconhecimento do ataque na Zona de Bongofé, um Grupo de Combate da CCaç 2614, detectou-se a movimentação do IN, nesta área, em direcção a Sare Amadi. O GC progrediu no terreno em sua direcção e encontrou os seus abrigos, abertos ao longo da estrada de Contabane, perto de Sara Amadi, pelo que, se emboscou no local preparando-se para o combater, o que não chegou a acontecer. Recebeu ordens de regresso Aldeia Formosa, tendo, antes disso, armadilhado toda a área.

19-01-1971, uma viatura, na picada Aldeia Formosa - Paté Embaló, quando se deslocava para esta Tabanca accionou uma mina A/C, que destruiu a mesma, mas não causou qualquer ferido à NT.

23-01-1971, o IN atacou mais uma vez e com grande intensidade de fogo, Aldeia Formosa, utilizando foguetões de 122 mm e morteiros de 82 mm, sendo localizada a base dos disparos entre Chincambiló e o Rio Cancurã.

Registou-se a chegada a Aldeia Formosa da CCaç 18, composta por etnia Africana, para rendição da CArt 2521.

Neste mês, as ZA da Companhia CArt 2519 (Mampatá) e da CCaç 2615 (agora em Nhala), continuavam em contra-penetração, tentando deter o inimigo na sua infiltração para o Sector de Xitole.

A boa articulação destas Companhias no corredor de Missirá, a Norte e a Sul de Uane, e a sua constante permanência na ZA, e a implementação de um verdadeiro labirinto de armadilhas, veio a ter consequências na estratégia do PAIGC, que, neste período, tentava abrir um corredor de abastecimentos noutro Sector, nomeadamente a Oeste de Aldeia Formosa, entre Contabane, passando ao lado do Saltinho, em direcção ao interior.

26-01-1971, uma coluna de abastecimento inimiga, escoltada por elementos armados tentou passar através do corredor de Missirá. Foi detectada pelas NT, pelo que recuou para Sul, vindo a accionar duas minas A/P referenciadas em (Xitole, 4E8-98) e (Xitole, 4D9-98), sendo de salientar que estas minas estavam reforçadas com outros explosivos, o que deve ter provocado graves baixas entre as hostes inimigas.

27-01-1971, um Grupo armado do PAIGC, estimado em 30 elementos, tentou atacar Mampatá, vindo pelo trilho de Colibuia, sendo detectado pelas NT, quando preparava o ataque. O Grupo debandou para Sul, perseguido pela nossa tropa, vindo a cair nas nossas armadilhas implantadas a Sul de Colibuia.

Em BUBA, a CCaç 2616 continuava a fazer patrulhamentos e emboscadas na sua ZA, sem encontrar rasto do IN.

FEVEREIRO de 1971

O PAIGC continuava a implementar forças a Oeste de Ald. Formosa, tentando abrir um corredor de abastecimento para o interior, através das áreas desocupadas junto à fronteira na Zona de Contabane, atravessando o rio Corubal junto aos rápidos de Surire e flectindo em direcção a Ura Missirá.

As forças sediadas em Aldeia Formosa, redobraram os seus esforços para suster a infiltração do IN, emboscando, patrulhando e minando todos os novos trilhos abertos pelo inimigo.

02-02-1971, um Grupo armado do PAIGC, com base em Bongofé, atacou as forças da CArt 2521 e da CCaç 18, na zona de Sare Amadi e Jai Juli, com bastante intensidade, quando estas progrediam em direcção a Contabane. As NT reagiram ao fogo do IN, durante largo período de tempo e pediram o apoio do heli-canhão para desalojar o Grupo IN da sua posição, o que veio acontecer mais tarde, tendo os mesmos retirado para fora da nossa ZA. Nesta acção não se registou qualquer baixa nas NT.

11-02-1971, chegou a Mampatá a CCaç 3326, em rendição da CArt 2519, aproveitando o mesmo transporte que trouxe a CCaç 3326, para o regresso, até Bissau, de 2 Grupos de Combate da CArt 2519 e algum pessoal de apoio logístico da mesma Companhia.

20-02-1971, o PAIGC atacou Aldeia Formosa com basto poder de fogo, usando foguetões de 122 mm, dois dos quais caíram dentro da Tabanca, provocando 5 feridos entre a população civil.

20-02-1971, pelas 14h30, as forças da CArt 2519 e da CCaç 3326, emboscaram um Grupo armado do IN, a Sul de Colibuia, fora do "corredor", no momento em que mostrava a ZA à nova Companhia. O inimigo sofreu nesta acção 5 mortos confirmados no terreno e foi capturado diverso material ligeiro de guerra. As NT, tiveram 2 feridos ligeiros (1 milícia e um soldado da CCAÇ.3326).

25-02-1971, a CArt 2521 entregou oficialmente a sua ZA ao cuidado da CCaç 18.

28-02-1971, na coluna de reabastecimento de Aldeia Formosa - Buba, foi integrado o resto da CArt 2521, preparando-se o seu regresso à Metrópole e dando por terminada a sua missão em terras do Quebo.

A Sul, sobre o corredor de Missirã, a actividade do PAIGC era nesta altura nula, não se vislumbrando sinais de qualquer actividade hostil, o que, de algum modo, aliviou a tensão psicológica instalada no seio das NT em fim de comissão, nomeadamente na CArt 2519.

A CCaç 2615, continuava a fazer patrulhamentos e emboscadas a Norte de Uane, sobre o corredor de Missirá e a segurar o itinerário da estrada Buba-Aldeia Formosa.

MARÇO de 1971

03-03-1971, a CArt 2519 passa oficialmente a sua ZA para a CCaç.3326.

05-03-1971, dá-se definitivamente o regresso dos restantes elementos da CArt 2519, numa coluna de abastecimento a Buba, embarcando no dia seguinte a bordo de uma LDG, com destino a Bissau.

NOTA: Assim termino a narração deste período em terras do Quebo, deixando para os nossos sucessores, naquelas paragens, a narração das actividades e das estórias dos tempos seguintes (desde 06.03.1971 até à entrega do território em 1974).

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série do Autor em:

Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)


1. Texto de Pedro Castanheira, ex-pára-quedista (*):

Assunto - O famigerado Cabo 80

O Ten Spears,  destemido e bravo oficial pára-quedista norte-americano, distribui cigarros aos 6 soldados alemães, feitos prisioneiros ao 2º dia do desembarque na Normandia. Após ter acendido os cigarros, com toda a lisura, a cada um deles, pega na sua metralhadora, e num impulso de loucura, descarrega o carregador sobre os prisioneiros alemães.

Esta era mais uma história, que circulava entre os homens da companhia Easy, pertencentes à 101ª Divisão de Paraquedistas, criando entre os soldados um misto de temor e admiração pelas suas façanhas, quase no fim da guerra na Europa, já com Spears promovido a capitão.

Lipton, expriente psar da companhia, interroga-o sobre essas "histórias"que se contam sobre ele. Spears sorri, conhecendo de cor todas essas histórias, maior parte delas inventadas, e diz a Lipton:
- Há 2000 anos atrás, havia centuriões à conversa sobre Tercius a dizer que ele decapitara prisioneiros cartagineses. Nunca ouviram Tercius negar as histórias, talvez porque Tercius queria que pensassem que ele era o pior e mais malvado guerreiro de toda a legião romana.

Li neste blogue há algum tempo, excertos do livro do senhor sargento pára Carmo Vicente, em que se refería a "conhecidos arruaceiros, como o famigerado 80", tendo logo aparecido quem defendesse a sua honra e afirmado que era enfermeiro, facto que eu não descionhecia (**).

Já eu nos anos 90, quando cumpria o meu serviço militar nos paraquedistas, ouvi muitas vezes da boca dos veteranos da Guiné, a prestar serviço nos páras, referências ao cabo 80, figura mítica dos páras na Guiné, conflituoso, lixado para a porrada, que partia os bares todos em Bissau, homem que enfrentava tudo e todos... Enfim, também ainda se ouvem sussurros sobre o 80 no dia de unidade dos paraquedistas, entre os páras que prestaram serviço na Guiné.

Mas, o que é feito da nossa personagem? Segundo consta, desapareceu após o fim da sua comissão. Ins dizem que já morreu, mas ouvi também dizer que fugiu do país, após ter morto um polícia, por altura do 25 de Abril... Atenção, são versões não confirmadas.

A certa altura,  estando eu à conversa com um pára de uma associação de paraquedistas, também ele a par da fama do cabo 80, revelou-me o seu verdadeiro nome. Após consulta minuciosa ao livro do BCP12, qual não é o meu espanto, ao ver o famigerado cabo 80 assinalado várias vezes, com reconhecimento por bravura em combate.. . E mais!, na parte das condecorações, lá está o "arruaceiro" Primeiro Cabo Paraquedist nº 85/RD (...) 

MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 2ª CLASSE 

e novamente (...) .MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 3ª CLASSE.

Não sei, quem era o comandante de companhia, deste nosso cabo paraquedista (Cap Mira Vaz? Cap Terras Marques? Cap Avelar de Sousa? entre outros). Penso que era interessante saber, da parte dos elementos da sua companhia, quem era realmente o cabo 80. Eu, humildemente, e sem querer ofender, penso que era mais um soldado que queria honrar a sua pátria, e que tinha a sua maneira de o fazer.

Um grande abraço

Pedro Castanheira

[Revisão / fixação de texto: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*)  Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5518: Cancioneiro da CCP 122 / BCP 12 (1972/74) , a Gloriosa (Pedro Castanheiro)

(**) Sobre o Cabo 80 e os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968, vd. postes de:

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

(..) A estória é-me contada em 3ª ou 4ª mão, foi-me contada por uns amigos pára-quedistas, portanto é a sua versão (deles, pára-quedistas).

Então é assim: Não tenho a data do acontecimento, mas julgo ter sido em 1968. Houve um jogo de futebol de onze no campo do Benfica. Não me recordo, ao certo, do nome completo do clube de futebol. Sei que era de Bissau, só me lembro que era do Benfica.

Os contentores eram obviamente os Fuzileiros contra os Pára-quedistas, o jogo estava a correr muito bem, mas a um dado momento gerou-se uma troca de mimos, na assistência, entre as claques que chegaram mesmo a vias de facto (ou seja pancadaria).

Os Fuzileiros, estando relativamente perto do aquartelamento deles, correram a armarem-se, ou pedir reforços, não sei, mas os Pára-quedistas aperceberam-se disso e foram em seu encalço. A praça que estava de guarda na porta de armas do quartel, apercebendo-se do que se estava a passar, chamou o Cabo da Guarda e perguntou-lhe o que deveria fazer neste caso. Foi-lhe dada ordem de disparar, o que fez, originando a morte de um Pára-quedista.

A partir daí, qualquer Fuzileiro não se podia relacionar com Pár-aquedistas, e vice-versa, pelo que acontecia muitas vezes pancadaria entre ambos e, quando acontecia, cada um ia chamar o seu Camarada protector. O Protector dos Fuzileiros era um Cabo (julgo eu) chamado Lages, e da parte dos Pára-quedistas também havia um Cabo, Enfermeiro, conhecido por Oitenta.

Em café, esplanada ou qualquer espaço onde houvesse confrontos entre Fuzileiros e Pára-.quedistas com os seus respectivos Protectores, não restava nada que ficasse de pé. Quando os dois Cabos se encontravam no mesmo passeio, um deles tinha que mudar, porque ambos não se podiam cruzar.

Uma dada altura os Fuzileiros resolveram vingarem-se do Cabo 80, e sabendo que o 80, quase todos os dias antes de se recolher no quartel de Bissalanca, ia visitar a sua bajuda, que ficava relativamente perto, mas tinha que passar por alguns sítios isolados, resolveram fazer-lhe uma espera.

No dia combinado, o Cabo 80 quando já estava de regresso ao quartel, ouviu um cão a ladrar e, como o seguro morreu velho e o acautelado ainda é vivo, ele agarrou num pilão, não viesse o cão morder-lhe, mas para grande espanto dele, não foi o cão que apareceu, mas sim sete ou oito Fuzileiros armados de facas de ponte e mola.

Ele percebendo-se que também estava armado (e bem armado) com um grande pilão na mão, foi só despachar os Fuzileiros e, quando chegou ao quartel, telefonou para o Hospital para que os fossem buscar. (...).

(..) Junto fotos - eu com o meu amigo de longa data, desde a Metrópoloe, o Rodrigues, mais o Hoss, no aquartelamento de Bissalanca (Companhia Caçadores Paraquedistas nº. 122) em 1970. O Hoss assim como o Oitenta, ambos Cabos Enfermeiros, foram bastante condecorados. O Oitenta não cheguei a conhecer mas conheci (vi várias vezes em Bissau) também um grande Homem e combatente que na altura também diziam que ele tinha a cabeça a prémio. Estou a falar do Capitão na altura, hoje Coronel na reforma, Terra Marques (...).

Vd. também:

11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) Extractos de VICENTE, Carmo - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. pp. 25-30. Selecção e digitalização de Jorge Santos. Subtítulos do editor do blogue. (...)

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)

Guiné 63/74 - P5545: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (23): Gilda Pinho Brandão (ou Gilda Brás)

  1. Mensagem natalícia da nossa amiga Gilda Pinho Brandão (hoje, Brás, por casamento). uma órfã de guerra, que através do nosso blogue ganhou um novo país e uma nova família (um caso que muito sensibilizou e mobilizou os amigos e camaradas da Guiné reunidos nesta Tabanca Grande) (*):

Para todos vós

A todos os meus amigos, colegas e a àqueles que não pertencendo a nenhum dos dois grupos, "pisaram a areia da minha praia", deixando recordações de carinho, solidariedade, respeito e consideração e, me surpreenderam levando-me a acreditar que vale a pena que os anos se sucedam, sempre na esperança de ter sonhos, se não concretizados, pelo menos sonhados, desejo "Um Natal cheio de Paz e que a nova década seja cheia de alegria e prosperidade".

Um beijinho de coração,

Gilda Brandão

____________

Nota de L.G.:

Vd. postes de:
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)

(...) 1. Mensagem enviada por Gilda Bras:

Muito boa tarde,

Parabéns pela vossa página, pois ajudou-me a descobrir que a família que eu procuro há mais de 35 anos, foi importante para a formação da Guiné.

Não sei se alguém me pode ajudar, eu gostava de encontrar familiares do Afonso Pinho Brandão e Manuel Pinho Brandão, comerciantes importantes na Guiné na altura da Guerra.

Sou filha do Afonso Pinho Brandão, chamo-me Gilda Pinho Brandão. Se me puderem ajudar, podem fazê-lo para o meu e-mail.

Muito obrigada e continuem com o vosso bom trabalho.

Cumprimentos
Gilda Brás (...)


3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)

(...) A minha história é um bocado longa, mas vou tentar resumi-la em poucas linhas:

(i) Vim da Guiné em 1969, a pedido da mãe do militar (Furriel Pina) que me trouxe; tinha 7 anos e lembro-me de vir num barco de guerra com os militares todos e mais um menino negro chamado Domingos (já falecido).

(ii) Esta família deu-me tudo e cuidou de mim como se fosse da família; hoje com 44 anos, perdi um bocado as minhas raízes guineenses, mas tenho uma família portuguesa fantástica.

(iii) Este ano acabei por descobrir que tenho mais 8 irmãos (só da parte do pai Afonso), espalhados por Portugal, Alemanha e Guiné. Conheci dois deles no fim-de-semana passado e espero muito em breve conhecê-los todos.

(iv) Os meus familiares maternos continuam na Guiné, poucas lembranças tenho deles, o único membro de que me lembrava mais ou menos era da minha avó, mas que já faleceu há algum tempo, a minha mãe faleceu há cerca de 2 anos.

(v) Nunca mais voltei lá mas, agora que tenho uma filha, terei que pensar em visitá-los, para lhe apresentar a família biológica.

Mais uma vez muito obrigada pelas vossas palavras, a guerra foi muito “feia” e “má”, mas contribuiu para se fazerem GRANDES AMIZADES. (...)


5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)

(...) Bom dia Amigos,

Muito, muito obrigada. Não encontro palavras, para vos expressar o que sinto com todas estas informações.

Vou falar com o meu irmão (Furriel Pina), para o caso de ele ter algumas fotos nossas da Guiné e dar-lhe o contacto desta fantástica Tertúlia de Amigos da Guiné.

Ao Dr. Luís Graça em particular, os meus sinceros agradecimentos pelo tempo dedicado ao meu caso.

Cumprimentos e até breve

Gilda Brás (...)


25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1994: Tabanca Grande (29): Gilda Pinho Brandão: uma mulher feliz, que ganha uma nova família e um novo país

(...) Boa tarde, Amigo Luís,

Pois é, este fim-de-semana recebi a visita do nosso amigo Pepito, um ser humano extraordinário e um guineense orgulhoso, que fala do seu país e das suas gentes com uma paixão indescritível, por mim ficava o dia todo a ouvi-lo, pena não ter podido ficar mais tempo.

Relativamente aos meus familiares, falou-me no meu primo Carlos Pinho Brandão, que foi colega dele de curso [, de Agronomia,] das circunstâncias da morte do meu pai [, Afonso Pinho Brandão,] que foram um pouco dramáticas, pois segundo o Carlos contou ele era muito querido pela população, era um homem bastante sociável: ao fazer frente a uns balantas que se queriam apropriar da casa dele, acabou por ser morto, pois estava em inferioridade numérica. O Pepito também falou-me acerca dos fulas, etnia da minha família materna. A seguir ao encontro com os meus irmãos, este foi um dos momentos mais marcantes desde que comecei esta busca pelas minhas raízes (...).

Guiné 63/74 - P5544: O que era o STM? Belarmino Sardinha)


1. Mensagem de Natal do nosso Camarada Belarmino Sardinha (ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 17 de Dezembro:

Caríssimos Editores, Camaradas e Amigos,

Envio, pois quase tinha prometido, um apontamento sobre o que era a guerra do STM, dentro e fora de Bissau. Espero que contribua para ajudar a perceberem as nossas funções.

Junto uma foto do calhamaço que nos era distribuído e servia de Breviário, Missal ou Bíblia durante todo o tempo.

Publiquem se estiver conforme esperado e virem que tem interesse.

O que era o STM?

Este espaço onde nos encontrarmos e discutimos as nossas opiniões serve igualmente para nos identificarmos e esclarecermos sobre coisas. A propósito disso e por surgirem dúvidas, talvez pelo número reduzido de militares que movimentou em relação à generalidade da tropa que prestou serviço em Angola, Moçambique e Guiné, levaram-me a escrever estas linhas na expectativa de conseguir explicar como funcionava e estava organizado o pessoal do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) e não SPM (Serviço Postal Militar) com o qual é confundido sem motivo, já o mesmo não acontecendo com os outros Radiotelegrafistas.

A razão é apenas essa, esclarecer ou ajudar a perceber o que faziam os militares do STM, como estavam organizados, de quem dependiam directamente, como eram destacados etc.

Todos os comentários de ajuda a melhorarem esta explicação serão bem-vindos. Prestarei igualmente os esclarecimentos possíveis para as dúvidas que eventualmente subsistam.

Finda a recruta, os encaminhados para a especialidade de Radiotelegrafistas eram mandados para o Regimento de Transmissões, no Porto, em Arca D’Água, onde ficavam sujeitos ao ensino sobre os rádios utilizados, o seu funcionamento, a exploração das redes e a aprendizagem do código ou linguagem Morse para comunicação. O curso tinha a duração de 6 (seis) meses para Radiotelegrafistas e de metade deste tempo para Operadores de Mensagens, Telefonistas ou Operadores de Telex, todas estas especialidades dadas nesta unidade.

O que eram então os Radiotelegrafistas do STM (Serviço de Telecomunicações Militares)?

Acabada a especialidade de Radiotelegrafista, os seleccionados e destinados ao STM eram encaminhados para a Escola Prática de Transmissões, em Lisboa, à Graça, para serem colocados em unidades de estágio, com a duração de três meses. Durante esse tempo todas as comunicações eram feitas em código Morse. Findo o estágio, por norma, acontecia a mobilização mais mês menos mês. Este estágio era feito nos quartéis-generais e em quartéis de instrução militar, tais como, Vendas Novas, Mafra, Tavira etc.

Esta situação, operadores do STM, levava a que a mobilização ocorresse mais tarde do que para a maioria das especialidades, obrigando a um tempo de tropa superior.

Os operadores Radiotelegrafistas não seleccionados, a maioria, ficavam no Regimento de Transmissões onde faziam os serviços normais do quartel (salvo os serviços de guarda, reforço e fascina a cargo dos novos instruendos), ou eram enviados para quartéis onde exerciam as suas especialidades, mas como operadores em fonia, operadores de mensagens, telefonistas ou de telex, até serem mobilizados e integrados em Batalhões e/ou Companhias Independentes.

Devo referir que todos os Radiotelegrafistas que faziam parte dos Batalhões ou Companhias e asseguravam, em fonia, a ligação com o quartel, entre grupos ou com o centro de mensagens e com o comando não eram do STM.

Reportando-me apenas à Guiné, embora esteja em crer ter sido igual para Angola e Moçambique, os operadores do STM só trabalhavam em código Morse e eram sempre rendição individual.

Chegados à Guiné, o local de recepção e permanência era o Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, junto ao QG, uma unidade independente deste e onde fazíamos toda a nossa vida, excepto o serviço da especialidade que era prestado nas instalações dentro do QG, assim como partilhado era o refeitório da CCS do QG, até à construção do nosso refeitório, bar de oficiais e bar de sargentos em 1973.

Não sou agora capaz, em pormenor e sem falha, dizer todos os quartéis da Guiné com posto do STM, mas posso assegurar que, Aldeia Formosa, Bafatá, Bambadinca, Bigene, Bissorã, Bolama, Catió, Cufar, Farim, Gadamael, Guidage, Guileje, Mansoa, Nova Lamego e Teixeira Pinto tinham. Eram coordenados pelo posto director, Bissau, que os dividia em cindo redes, Norte, Sul, Sul2, Leste e Oeste.

Os militares do STM colocados em qualquer quartel ou aquartelamento na Guiné não dependiam do Comandante do Batalhão, nem de qualquer Comandante de companhia. Eram ali colocados pelo Agrupamento de Transmissões e dele ficavam dependentes, embora sujeitos às normas estabelecidas dentro desse quartel até serem substituídos. Por norma, a maioria dos operadores passava metade ou dois terços da comissão num ou mais quartéis do interior sendo depois chamado para Bissau onde acabava a comissão no posto director.

O responsável de cada Posto do STM tinha a obrigação de fazer relatórios semanais que enviava em correio fechado para o Agrupamento de Transmissões, referindo a sua actividade e o desenrolar dos acontecimentos, bem como informar sobre o decorrer do serviço e do pessoal. Tinha ainda a responsabilidade de proceder às alterações dos códigos, semanalmente, de acordo com as directrizes previamente recebidas em envelope fechado.

Nos locais ditos mais quentes eram normalmente cabos os responsáveis pelo Posto do STM, sendo os furriéis, por escassez ou outra razão lá colocados apenas por questões disciplinares e por períodos limitados de tempo. Haverá excepções, mas não as conheço.

Através do STM, sempre em código Morse, eram trocadas as mensagens com Bissau e os restantes postos do STM de cada grupo, em norma cinco por sector, incluindo Bissau. Do STM era transmitido e recebido, além das mensagens que faziam o dia-a-dia dos quartéis, o relatório diário, cifrado, com a vida e actividade operacional desse dia e recebida a indicação para o dia seguinte.

Lembro também que, locais como Aldeia Formosa ou Guileje não dispunham de qualquer outro contacto com Bissau. Julgo que o mesmo acontecia com Gadamael, Catió, Cufar e Guidage. Já Bafatá, Mansoa, Nova Lamego, Teixeira Pinto ou Bolama eram privilegiados, alguns destes locais, além de telefone dispunham ainda de uma rede chamada Storno. Quanto a Farim, Bigene e Bambadinca desconheço quais os meios de que dispunham além do STM.

Esta forma reduzida de explanar a funcionalidade do STM não completa as suas tarefas já que, em Mansoa, era ainda gravada, por vezes com muito má qualidade, a escuta feita à Rádio Conakry e Senegal que posteriormente seguia para Bissau, Agrupamento de Transmissões, Serviço de Escuta. Digamos que toda a informação e actividade de um quartel passavam pelo STM, assim como a dos destacamentos que lhe fizessem parte.

Os postos de STM ficavam destacados de todos os outros locais e abrigavam os operadores do STM e os equipamentos. Nos locais onde havia apenas o posto de rádio, composto, em norma, por 3 ou 4 operadores, um era o cabo que, além de operador, era também chefe do posto.

Contudo, devo referir que os operadores Cripto e os Radiotelegrafistas do Batalhão ou Companhia, coordenados por um Alferes ou Furriel de Transmissões, nada tinham a ver com o STM. Tinham como funções prepararem as mensagens segundo as directrizes superiores e traçarem o funcionamento do centro de mensagens e dos serviços dos Radiotelegrafistas e operadores Cripto colocados no Batalhão ou Companhia.

Justifica-se por isso a dificuldade em encontrar no blogue camaradas com quem tenha partilhado a comissão, por estarmos quase isolados, pelo reduzido número de camaradas e pela pouca permanência nos locais por onde passávamos. Mas ainda não perdi a esperança de ver aqui mais alguns entre os quais, pelo menos mais um dos 15 ou 16 magníficos que comigo partiram de Lisboa, Figo Maduro, em rendição individual no dia 15 que era já 16, mas acabou por ser 17 de Junho de 1972.

Um abraço para todos,
Belarmino Sardinha
1º Cabo Radiotelegrafista STM
__________
Nota de MR:

Vd. último poste do autor em:

Guiné 63/74 - P5543: Parabéns a você (59): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Editores)

1. Dois dias depois da comemoração do nascimento Jesus Cristo, está de parabéns o nosso camarada José Pedro Neves.
A Tabanca deseja ao Pedro um dia muito feliz, na companhia de sua esposa, filhos e demais família, com mais umas prendas a acumular às que recebeu pelo Natal.
Que esta data se renove muitas vezes, até porque estamos em presença de um jovem de 58 anos que não tem propriamente idade para um ex-combatente da Guiné.
Claro que o tempo cura tudo, e não tarda, estaremos a recebê-lo no grandioso grupo de Sexas.

2. Pedro Neves dirigiu-se à Tabanca a primeira vez em Outubro de 2008*, mas só em Dezembro** foi apresentado formalmente à Tabanca.


Aqui fica o registo escrito

Dados militares

Em Lamego:

- 1.º curso de 1973 (Instruendo do 1.º Grupo)
- Instrutor do 2.º curso de 1973 (1.º Grupo de Cadetes)

Guiné
- CCAÇ 4745 (Águias de Binta) - Companhia de Caçadores Independente, formada nos Açores - Ilha Terceira.
- BINTA, GUIDAGE, NEMA, FARIM, MANSOA, JUGUDUL, POLIBAQUE, PORTO-GOLE, BULA, NHAMATE, CAPUNGA, BINAR e outros arredores que já não lembro os nomes.

- Posto - Ex-Fur Mil Op Esp (RANGER)
- Nome - José Pedro Ferreira das Neves (56 anos) (Nome de guerra, Pedro
- Localidade - Lisboa


Mensagem do nosso camarada Pedro Neves, com data de 8 de Dezembro de 2008:

Caros Luis Graça e Carlos Vinhal:

Em primeiro lugar, o meu agradecimento ao Blogue, porque graças ao mesmo já encontrei um camarada da minha equipe, o Raúl do 1.º Curso de 1973, em Lamego e um 1.º Cabo Condutor da minha CCaç 4745, Águias de Binta, o Tomás Carneiro, natural e residente em S. Miguel, nos Açores.

Como devem calcular, só por isso já estou muito grato ao vosso magnifico trabalho e iniciativa de terem criado e dado vida ao nosso Blogue.

Agradeço que façam a minha inscrição no Blogue e em anexo as fotos, actual e do tempo em que éramos mais jovens. A diferença é visivel!!!

Aproveito a ocasião para desejar a todos os camaradas e seus familiares, votos de BOAS FESTAS!

Um abraço
Pedro Neves
ex-Fur Mil Op Esp

3. Pedro Neves deu-nos o prazer da sua presença no nosso último Encontro Nacional, da qual deixamos este testemunho, em que aparece acompanhado de sua esposa Ana Maria e do seu camarada Tomás Carneiro que se deslocou dos Açores propositadamente para se encontrar com ele.


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3322: Tabanca Grande (92): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745, 1972/74

(**) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3588: Tabanca Grande (103): Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745, Águias de Binta (Binta, 1972/74)

Vd. último poste da série de 23 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5525: Parabéns a você (58): Albano Costa, o Foto Gui...fões, Gui...daje (Luís Graça)