terça-feira, 13 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6149: Amadú Bailo Djaló, meu camarada: tem o seu dia de festa no dia 15, no Museu Militar, às 18h (Virgínio Briote)







Índice do livro do Amadú Bailo Djaló, Guineense, Comando, Português: 1º Volume: Comandos Africanos, 1964-1974  (Lisboa: Associação de Comandos, 2010).


Ficha técnica


Título: Guineense, Comando, Português
Autor: Amadú Bailo Djaló
299 pgs
Cerca de 100 fotografias
PVP: €25
Colecção: Mama Sume
Edição da Associação de Comandos
Capa e orientação gráfica: Vítor Luís
Composição e Imagem: Maria Esther – Gabinete Artes Gráficas, Lda
Impressão e acabamento: Bukprint – Oliveira de Azeméis
ISBN: 978-989-95601-1-6
1ª Edição: Lisboa, Março, 2010
Depósito Legal nº 307781/10
Apoio da Comissão Portuguesa de História Militar



1. Mensagem do Virgínio Briote:

Caros Luís, Carlos e Eduardo,


Muito obrigado, em nome do Amadu Djaló e no meu próprio, por todo o trabalho de divulgação que têm feito. Aproveito para enviar cópias da capa, capa, ficha técnica, convite, índice e a pequena história do livro.


E expresso o desejo para que a cerimónia de lançamento do livro (*) seja aproveitada para homenagear os militares naturais da Guiné que lutaram ao nosso lado.


Um abraço
vbriote

2. Amadú Bailo Djaló, meu Camarada
por Virgínio Briote (na foto, à esquerda, quando Alf Mil Comando, Brá, 1965/66)

O Presidente da Associação de Comandos, José Lobo do Amaral, pediu-me para colaborar na revisão das memórias de um Comando, natural de Bafatá, que viveu todos os anos da guerra, desde o governo do Dr. Silva Tavares ao do General Bettencourt Rodrigues.

Toda a vida de um guineense, que se afirma tão português como muitos de nós, em quatro volumosos maços de folhas A4, escrita pela mão dele, em letra grande, num misto de palavras em português, crioulo e fula. Textos seguidos, sem vírgulas nem pontos, tudo de rajada, escritos por uma alma grande, com a sabedoria, o senso e a inteligência, que muitas vezes presenciámos naqueles nossos companheiros de armas.

O meu primeiro objectivo foi perceber a escrita manual do Amadú e reescrevê-la para um português perceptível, respeitando o estilo da escrita do autor. Depois foram tardes a ler-lhe os textos, corrigir, acrescentar pormenores, cortar outros, pôr datas, nomes, locais, enquadrar as histórias, telefonar a camaradas, cruzar a informação, reavivar pormenores.

Não se trata de um trabalho exaustivo sobre os anos da guerra na Guiné. Nem eu tenho arte nem o Amadu conta a sua história assim. Não se trata de um romance. A maior parte dos textos referem-se a contactos com o PAIGC, a combates com mortos e feridos, de um e outro lado.

Amadú escreve sobre saídas em colunas auto, em Dorniers, em helis, de lançamentos, de progressões na mata, de encontros com os INs de então, de trocas de tiros, morteiros, rockets, de feridos e mortos, de evacuações, de retiradas.

Ouvi-lo descrever as peripécias em que se envolveu, em cada linha que ia reescrevendo, fazia-me sentir como se eu próprio lá tivesse estado também. E,  em duas ou três, estive.

O Amadu Djaló foi meu Camarada nos Comandos em Brá, entre 1965 e 1966, embora não tenha feito parte do meu grupo. Em 1964 pertenceu ao grupo do então Alferes Maurício Saraiva e em 1965 transitou para o do Alferes Luís Rainha. Acabada a Companhia de Comandos do CTIG, depois de uma breve estadia em Bafatá,.  foi para Fá Mandinga, para colaborar na formação dos Comandos Africanos e depois participou em numerosas operações até ao fim do conflito.

O livro começa por falar da vida na cidade natal, Bafatá, do convívio com os Pais, Irmãos, Avô e os amigos mais chegados. A ir e a regressar, acompanhando um primo, feito djila [1], ao Senegal. A hesitar na incorporação, a tentar adiar, enquanto abria uma banca para negociar, no Mercado de Bafatá.

Não pôde evitar, fugir não fazia parte da sua maneira de ser, nem lhe cabia na cabeça deixar os Pais e a família para trás. Ainda faltavam uns meses para começar a guerra a sério, mas já havia cheiro a pólvora no ar.

Depois da recruta em Bolama, entre 1962 e 1964 deambulou como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar e Farim. Removeu abatizes, viu os efeitos das primeiras minas e caiu nas primeiras emboscadas. Mas naquele tempo ainda era possível ir de Farim a Susana, em coluna, em viagens intermináveis.

Cansado de ser “rebenta minas”, pediu a transferência para a 4ª Rep, do QG, em Bissau. Foi-lhe concedida. No parque das viaturas da C.C.S. do Q.G. teve a sorte e o contentamento de encontrar o seu amigo, o Tomás Camará, que estava no grupo de Comandos do então Alferes Saraiva.
- Comandos? Que é isso de Comandos de Saraiva?

Não precisou de muitas respostas para, tempos depois, estar em Madina do Boé com o grupo. Para participar, e de que maneira,  num acontecimento que o marcou para sempre: a mina no pontão do Gobige, na estrada de Contabane para Madina, que matou todos os Camaradas, menos um, que vinham na segunda e última viatura.

Um grupo de vinte homens, repartido em duas viaturas, de um momento para o outro, estava reduzido a metade. Não podiam ir todos buscar socorro a Madina, a cerca de trinta quilómetros de distância. Alguém tinha que ficar ali, a amparar os feridos, a guardar os mortos. Uma tarde que pareceu um ano, junto à estrada para Madina, a assistir ao morre este, agora aquele, até à noite, quando chegou o socorro. E, logo dois ou três dias depois, foram para o Oio e a história quase se repetiu. Porque a guerra é assim, é feita de repetições, os que morreram já não morrem outra vez, morrem outros, os feridos é que podem ter mais sorte, podem voltar a ser feridos outra vez.

Já quase no final da comissão do grupo foram ao Como. Outra odisseia. O grupo de Saraiva, como lhe chamavam, despedia-se numa operação, a que o alferes pôs o nome de Ciao. Tudo correu bem a princípio. Depois, já na retirada, o alferes não quis sair de lá sem trazer a MP [2], que alguns afirmavam ter sido usada contra eles. Alguns ofereceram-se para voltarem ao acampamento em chamas. Dos dez que reentraram nas barracas, um morreu, um ficou ileso e os restantes foram atingidos pelo fogo inimigo.

O grupo de Saraiva acabou e o Amadú achou que já era tempo de ter um pouco de paz. Afinal era um condutor encartado e era mais antigo que muitos. E como condutor ganhava mais 150 escudos que nos Comandos de Brá e, na altura, 150 escudos davam para comprar muito arroz.

Até que apareceu lá na 4ª Rep, um alferes, o Luís Rainha, do grupo Centuriões, que tinha substituído o grupo de Saraiva, com uma autorização da 1ª Rep para o levar, outra vez, para os Comandos de Brá.

Pouco tempo depois, entrou numa nomadização, prevista para durar 48 horas, na zona de Faquina Mandinga, Sitató, na fronteira com o Senegal. Uma nomadização que acabou por se tornar num golpe de mão, guiados pelas vozes e gargalhadas dos guerrilheiros, que se achavam seguros até verem os Comandos entrarem pelo acampamento.

E, outra vez em Maio, tal como no ano anterior com o grupo de Saraiva, nova teimosia, desta vez do Rainha. Ao mesmo acampamento, no Como, para vingar as baixas que o 'grupo de Saraiva' tinha tido. Entre outro material trouxeram a pistola, de coronha nacarada, do Pansau Na Isna e o chapéu chinês dele, também.

Depois a Companhia de Comandos do CTIG acabou. E sempre que a unidade acabava, ou alguma coisa não lhe agradava, o Amadú pedia transferência para a 4ª Rep, a sua eterna casa-mãe.

Tempos depois, estava em Bafatá, quando chegou uma ordem do General Spínola para todos os Comandos Guineenses se concentrarem em Bissau, para fazerem provas e novo curso para a constituição de uma Companhia de Comandos Africanos.

Depois, foram operações atrás de operações da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló [, na foto a esquerda, ao meio], enquanto, em Fá Mandinga, se formavam outras Companhias que iriam constituir o Batalhão de Comandos, sob a orientação do então Capitão Almeida Bruno.

Nos anos que durou a guerra participou em acções em todo o território onde a presença do PAIGC se fazia sentir. Percorreu matas e carreiros de Bambadinca, Canquelifá, Cobiana, Conakry, Cumbamori, Cuntima, Fá Mandinga, Farim, Gandembel, Gadamael, Gabu, Guidage, Guileje, Madina do Boé, Mansabá, Morés, Piche, passou e voltou a passar pelos rios e margens do Cacheu, do Geba, do Corubal, chafurdou e chorou nos tarrafos, em operações umas atrás das outras.

Em 25 de Abril de 1974 andava atrás da guerrilha, na zona de Piche, quando ouviu no rádio de um milícia que tinha havido um golpe militar em Lisboa.

A guerra acabou e começou outra, a luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau. A entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos, a prisão dele e a escapadela numa hora que só costuma acontecer uma vez na vida de um homem, graças a um acto digno e cavalheiresco de um comandante do PAIGC.

A Bissau de Luís Cabral, em 1975, tornou-se uma cidade triste, com recolheres obrigatórios, denúncias, falta de arroz, falta de tudo, menos de 'milho para burro', que um país amigo lhes enviara num navio. O golpe do Nino foi para ele e para muitos o renascer de uma esperança. A seguir veio a desilusão e a viagem para Portugal.


V. António Briote

Ex-alferes mil., CCav 489/BCav 490 e Comandos do CTIG (1965/66).

[1] Vendedor ambulante.

[2] Metralhadora Pesada.

3. Comentário de L.G.:


Há dias eu tinha mandado o seguinte mail ao Virgínio:

Obrigado, Virgínio. Conto lá estar  dia 15, no Museu Militar, no lançamento do livro,] com mais malta do blogue. Espero que seja a festa do Amadu e que não se esqueçam do teu trabalho de formiguinha bagabaga... Mais do que isso: do ser humano de eleição que tu és... Vou publicar. Até lá,  era bom que  me mandasses duas ou très coisas tuas: (i) uma primeira a "historiar" este processo (das folhas de papel almaço ao livro); (ii) e duas "histórias" à margem do livro, incluindo episódios da feitura do livro que ajudam a compreender melhor o Amadu, a sua personalidade, a sua matriz sócio-cultural, a sua história de vida.... Por exemplo, quem é o Amadu, hoje ? Guineense, português ? O que significa ser português para um futa-futa que combateu, com lealdade e coragem, "ao nosso lado" ? 

Nem tu nem eu gostaríamos que lhe "roubassem a alma" no seu dia de festa, nem que o utilizassem como "arma de arremesso" ou como bandeira de instrumentalização para causas que poderão não ser as dele... Fico à espera dos teus textos. Um abração. Luís.

O Virgínio aceitou a minha sugestão. E aqui temos o texto que antecederá o lançamento do livro do Amadú. Sempre discreto, demasiado discreto, recusando louros, luzes da ribalta, protagonismos, o Virgínio merece todo o nosso reconhecimento e gratidão pela generosidade e honestidade intelectual deste seu trabalho... Parabéns a esta dupla Amadu Djaló-Virgínio Briote que conseguiu, contra ventos e marés, levar a cabo esta atribulada tarefa. Registe que grande parte das fotografias que ilustram o livro, foram disponibilizadas por membros da nossa Tabanca Grande.

Espero que o livro seja bem aceite pelos nossos amigos e camaradas da Guiné, bem como pelo público leitor, em geral. Pelo que sei, o Amadú receberá 10% de direitos de autor,  o que me parece razoável. Ou seja, em cada 25 euros, 2 e meio serão para ele, que bem precisa: é pobre, está doente, já ultrapassou há muito a esperança média de vida de um homem guineense da sua geração. Vamos desejar-lhe força e saúde para acabar o 2º volume. 

Parabéns também à Associação de Comandos por ter acarinhado e apoiado este projecto editorial.

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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P6148: Convívios (215): Pessoal da CCAÇ 1590, dia 5 de Junho de 2010, em Minde - Fátima (Mário Silva)

Amigos e camaradas:
Reenvio-vos uma mensagem do nosso Camarada Mário Silva, sobre o Convívio da sua CCAÇ 1590.
Jorge Santos


13 º CONVÍVIO DA CCAÇ 1590,
"Os Gazelas"

(Mansoa,
Bissorã e Olossato, 1966/68)

Dia 5 de Junho realiza-se o 13º Convívio em Fátima, de acordo com o seguinte programa:
10h00 - Encontro do pessoal junto à cruz alta, no Santuário de Fátima;
11h00 - Missa na Igreja da Santíssima Trindade;
13h00 – Almoço-Convívio no Restaurante D. Nuno, sito na estrada de Minde.
Contacto: Mário Silva - 229716460 - 966845053.
Mário Silva
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Sobre a CCAÇ 1590, vd o blogue de Luís de Matos, que foi Fur Mil, e é autor do livro "Diário da Guerra Colonial: Guiné, 1966/68".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6147: O Spínola que eu conheci (7): Spínola na Guiné: Histórias que se contam, Cor Carlos Alexandre de Morais (Mário Beja Santos)

1. O nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos, com data de 12 de Abril de 2010, a seguinte mensagem:
Queridos amigos,
Trata-se de histórias contadas por alguém que privou directamente com Spínola.
Acho que vale a pena conhecê-las:

Spínola na Guiné: 
Histórias que se contam

O coronel Carlos Alexandre de Morais, amigo e antigo colaborador de Spínola na Guiné, resolveu descrever um repertório de factos que, em seu entender, possam ajudar a compreender a personalidade do controverso cabo-de-guerra e político (António de Spínola, o Homem, por Carlos Alexandre de Morais, Editorial Estampa, 2007).
O falecido coronel Carlos Morais refere que Spínola se pautava por uma determinação inabalável, era dotado de uma enorme coragem física e moral, tinha temperamento difícil e sabia motivar os seus colaboradores devido às qualidades impares de liderança.
Acrescenta que Spínola sabia distinguir com rapidez os aspectos importantes dos anódinos, refutando energicamente os aspectos secundários de qualquer questão.
Impulsivo, arrebatado, perfeccionista, meticuloso, era acima de tudo um homem de acção.
Vivia preocupado com a saúde, sempre a fugir ao espectro do excesso de peso (por causa do hipismo), não ia a espectáculos nocturnos ao ar livre, tal era o medo de se constipar.
Entrando directamente na comissão de serviço na Guiné, coube ao coronel Carlos Morais relacionar-se regularmente com o comandante-chefe devido a duas matérias tidas por extremamente sensíveis por Spínola: organização dos processos de condecoração e ao bem-estar das tropas.
Observa o extremo cuidado com que Spínola lia todos os dossiês para a atribuição de condecorações.
Quanto aos documentos que tinham a ver com problemas dos militares, o coronel Carlos Morais observa que Spínola era dotado de uma incrível capacidade para atender a detalhes que envolvessem situações familiares.
E conta a história de a mãe de um alferes falecido em combate que insistia vir à Guiné conhecer o local em que combateu o filho.
É uma história comovente em que o general teve um comportamento de grande afabilidade com a mãe enlutada.
As reuniões diárias com o general eram, segundo o coronel Carlos Morais, um espectáculo digno de se ver e ouvir: uma sala de operações coberta de mapas onde não entrava a luz do dia, com um calor sufocante já que o comandante-chefe recusava que o ar condicionado estivesse em funcionamento.
Competia, ao tempo, ao major Firmino Miguel, referir as acções das nossas tropas nas últimas 24 horas, bem como as do inimigo. Spínola estava permanentemente a interromper e a pedir esclarecimentos.
E conta num episódio elucidativo: 

“Em dada altura de um briefing, Firmino Miguel assinalou uma emboscada sofrida pelas nossas tropas em determinado local.
O general interrompeu, fez uma cara de dúvida, franziu o nariz e pediu a repetição do que ouvira.
Firmino Miguel, que era extremamente escrupuloso, no final da intervenção foi ao seu gabinete para se certificar do que tinha dito, e constatou que, de facto, a localização que indicara para a emboscada não estava correcta.
Voltou à sala de operações e rectificou o lapso. Este facto veio confirmar mais uma vez o perfeito conhecimento que o general tinha do terreno”.
Spínola começava a trabalhar cerca das 5 da manhã, ainda na cama e com auxílio de uma prancheta escrevia os seus despachos a lápis e só mais tarde a tinta. Observado pelo coronel Carlos Morais, justificou-se que de que assim tinha a vantagem adicional de só despachar a tinta depois de fazer a sua higiene, assim tinha tempo para avaliar da justeza das suas decisões.
Era destemido e exibicionista, conta-se a história de que assistiu à instrução de milícias na área de Bafatá, iriam depois para aldeamentos em auto-defesa na região.
Na presença de jornalistas, e perante as hesitações dos milícias em provas de tiro a alvos colocados a pouca distância, Spínola dirigiu-se aos alvos que eram o objecto do fogo, colocando-se a cerca de um metro destes, e começou a dar em voz alta indicações de correcção de tiro.
O coronel Carlos Morais relata igualmente outros episódios: o que envolveu o massacre de três majores, um alferes e dois guias em 20 de Abril de 1970, na região de Jolmete.
Logo no regresso da deslocação local, Spínola encarregou o coronel Carlos Morais de organizar os processos de condecoração para os três majores; as reuniões, por vezes tumultuosas com os comandantes dos três ramos das Forças Armadas, a visita de um grupo de deputados da Assembleia Nacional em que num acidente de helicóptero morreram vários deputados e em que Spínola, depois de patentear consternação, não deixou de fazer o briefing, numa atitude que deu confiança aos seus subordinados.
Estas são algumas das histórias mencionadas por um coronel que não chegou a ver publicado o trabalho que dedicou ao seu amigo e superior.
Algumas dessas histórias aparecem agora reproduzidas na biografia de Spínola de autoria do historiador Luís Nuno Rodrigues, a que em breve nos referiremos. Um abraço,
Mário Santos
Alf Mil At Inf Cmdt do Pel Caç Nat 52 
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 12 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6144: O Spínola que eu conheci (6): Depoimentos de Paulo Raposo e Luís Graça

Guiné 63/74 - P6146: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (13): Fajonquito, o blogue, o meu silêncio... e as fotos do José Cortes

1. Mensagem, de 10 do corrente, enviada pelo Cherno Baldé (*), formado em gestão, quadro superior da administração pública da República da Guiné-Bissau, membro da nossa Tabanca Grande, que nos tem honrado com textos de grande pertinência e qualidade:

 Assunto: Fajonquito III (**)

Caro amigo Luis Graça,

Antes de mais quero pedir desculpas por ter desaparecido durante os últimos meses. Na verdade, depois da minha última carta respondendo algumas perguntas colocadas por si, pareceu-me ter criado algum mal estar no meio da malta, o que estava longe das minhas intenções. E também não recebi a reacção habitual e esperada da sua parte que sempre conseguiu fazer a melhor interpretação das minhas narrativas. Tendo em conta as varias reacções suscitadas, tenho, naturalmente, muita coisa a dizer, mas como tenho pouco tempo disponivel no meio do trabalho, prefiro deixar para mais tarde as possiveis réplicas.

O nosso amigo José [Cortes]  demorou a reagir mas gostei das imagens da nossa Fajonquito (**). É mais que óbvio que conheci e convivi com ele no quartel e ainda mais sendo responsável do parque automóvel, a minha zona predilecta de actuação. O José, certamente, se lembrara do Sérgio,  o responsavel pelo abastecimento do combustível, de resto, como ele diz, faziam parte da mesma companhia, para além dos meus controversos patrões, o Dias e o Magalhães, também me lembro do Mandinga. Gente porreira.

Nas imagens creio ter reconhecido a menina Cesina, filha da Cristina, actualmente a viver nos EUA. O Aladje é meu primo e actualmente trabalha na Embaixada de Angola em Bissau.

Abraços do menino Chico,

Cherno AB.

2. Comentário de L.G.:

Caríssimo Cherno, irmãozinho de Fajionquito:

Que sejas bem aparecido! A tua última mensagem era de 31 de Julho de 2009, e termianava assim:

"O balanco é mais negativo ou mais positivo? O PAIGC devia e podia fazer melhor?... Sem dúvida que sim. E os portugueses dentro de tudo isso?... A história se encarregará de responder, um dia. Eu não quero incriminar ninguém mas darei o meu testemunho, sem partidos. As palmas que ja bati no passado para os soldados portugueses nas suas paradas de ronco e para o PAIGC durante os seus infindáveis discursos e meetings já chegam, agora quero pensar com a minha cabeçaa. Tenho mais ou menos 50 anos e nessa idade devo ter medo de quem?...

"Juntamente envio mais uma parte das minhas habituais crénicas. Um forte abraço deste irmãozinho de Fajonquito" (...)

E a última crónica era sobre "ambientes e ambiguidades", que eu decidi desdobrar em quatro partes, autónomas, publicadas sucessivamente em 5, 8 , 10 e 12 de Agosto de 2009, respectivamente. O facto de não ter feito nenhum comentário final não quer dizer absolutamente nada... Aliás, o editor não deve fazerm por sistema, comentários aos textos que são publicados. Essa tarefa compete aos nossos leitores. Acontece, pro outro lado, que em Agosto todo o mundo está de férias. Eu, que sou professor, já estava de férias, nessa altura,  e portanto com menos disponibilidade, de tempo, para editar o blogue... Infelizmente, tu interpretaste isso como um sinal de menos apreço da minha parte... Nada disso, meu irmãozinho. E também não é verdade que os nossos camaradas que te leram, não gostaram dos teus últimos escritos... Revê, por favor, os comentários aos teus últimos postes.

Vamos a números: por exemplo, tiveste cinco comentários ao poste P4816, de 12 de Agosto e num deles, o do Hélder Sousa, podes ler o seguinte:

"Ah, ganda Chico! Chega a ser comovente ler-te e ficar a saber como nos viam e entendiam.

"Será que éramos mesmo assim? Pois também acredito que sim, mas acho que algumas dessas características se perderam ou perderam algum fulgor.

"Mas, olha, não foi só na tua e 'nossa Guiné' que os incompetentes, pelo menos para as funções desejadas, tomaram conta dos destinos. Por cá também aconteceu disso, razão fundamental para que as pessoas se afastassem progressivamente das obrigações que têm de vigiar os governantes eleitos e trabalhar empenhadamente para o desenvolvimento da sociedade. No fundo, voltarem a ser aquilo que os caracterizava, como tu tão bem relatas.

"No entanto fico feliz por ti, pelo teu povo, por nós, pela tua persistência em te empenhares na 'luta pela afirmação do homem africano, do terceiro mundo, de um mundo mais justo, de progresso, paz e fraternidade', que voltaste 'alegremente aos estudos' e que ainda estás 'na esperança de ver se aparece a luz ao fundo do túnel'.

"Continua, dá-nos esse belo exemplo de que é assim que se pode avançar, que não se pode desistir, não se pode perder a confiança num futuro melhor. E continua a brindar-nos com as tuas memórias.

"Sobre o 'cansaço'. há um poema, salvo erro de Berthold Brecht, que começa assim: 'Ouvimos dizer que estás cansado...0, conheces? é bom para 'recarregar baterias', como por exemplo também uma canção de Paul Simon & Art Garfunkel intitulada, 'The Boxer'. De vez em quando devemos ir aos 'clássicos'. Um abraço. Hélder S."


Chico, isto é uma grande homenagem à tua estatura moral e intelectual.  És um grande ser humano, um patriota guinense e um amigo verdadeiro de Portugal e dos portugueses. Por outro lado, podes estar ciente de que já tens, no nosso blogue, uma lista grande, não só de amigos como de admiradores.


Respeito, naturalmente, o(s) teu(s) silêncio(s). Mas a verdade é que estávamos com saudades tuas. Aparece sempre que puderes e quiseres. Um grande AB, Alfa Bravo (abraço, em linguagem de caserna).

__________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4816: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (12): E se o Algássimo tivesse razão ?


(...) Na sua opinião, a Guiné-Bissau tinha poucas probabilidades de sucesso porque em vez do bom pastor o gado tinha sido entreque aos lobos, vestidos com pele de ovelhas. Em vez de pessoas instruídas e com experiência na administração do Estado eram pessoas iletradas, quase analfabetas, que dirigiam e controlavam a vida económica e política do pais.
- Assim não vamos a sítio nenhum - arrematava.

Verdade ou mentira a opinião é dele e no que me concerne, sem capacidade de visionar o futuro, e tendo acreditado e abraçado firmemente a visão e os ideais de Amilcar Cabral sobre a necessidade da luta pela afirmação do homem africano, do terceiro mundo, de um mundo mais justo, de progresso, paz e fraternidade, voltei alegremente dos estudos e estou ainda aqui na esperança de ver se aparece a luz ao fundo do túnel.

Mas a questão é, de algum tempo para cá, recorrente e.... inevitável:
- E se o Algássimo tinha razão?... (...)


 Vd. postes anteriores:


10 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4806: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (11): Filho da p... de barrote queimado...... Ou as sobras do rancho

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4802: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (10): Futebol: ser do Benfica ou do Sporting, eis a questão

5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4782: Memórias do Chico,menino e moço (Cherno Baldé) (9): Futebol, rivalidades, bajudas... e nacionalismos(s)

 27 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4746: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (8): Misérias e grandezas de Fajonquito, 1970/75

21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4714: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (7): As profecias do velho Marabu de Sumbundo

13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda

6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói

25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio

24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhã

Vd. também:

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (32): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)

20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)


2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4767: Blogoterapia (118): Os Fulas, o PAIGC e... os tugas (Cherno Baldé / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6145: (Ex)citações (67): A tragédia de Fajonquito: o Almeida estava mesmo disposto a acabar com a vida, a dele e a do capitão (Cherno Baldé)

1. Comentário ao poste P5938 (*), com data de hoje, assinado pelo nosso amigo, Cherno Baldé, natural da Guiné-Bissau e membro da nossa Tabanca Grande:

Os comentários à volta da tragédia de Fajonquito e as informações neles contidas reavivaram a minha memória trazendo de volta alguns elementos interessantes. Lembro-me de ter comido (ao jantar?),  no refeitório nesse dia de Páscoa (2 de Abril 1972) ou na véspera, um prato de arroz doce. Era atípico e inabitual entre nós, parecia mesmo uma provocação dos cozinheiros. Eu e os demais colegas, todos rafeiros experimentados, não tinhamos apreciado aquele mescla de arroz branco com açúcar, puààh...E mais, tinham-nos dito que era um dia de festa.Agora sei que foi num dia de Páscoa.

Depois do "acidente",  ou melhor, do homicidio, a versão que circulou e ficou até hoje entre a população nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentários. Pela versão que prevaleceu entre nós, alegadamente, o Soldado Almeida estava revoltado por não poder voltar à sua terra após várias comissões de serviço, em virtude de um castigo a que estava sujeito. Tinha decidido acabar com a sua vida e, com ele, também, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausência de informacoes oficiais, na altura.

Quero dizer a quem me quiser ouvir,e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional",  muito aguerrido,  que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné. O Almeida não era um soldado vulgar e via-se claramante que não se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos  (sic) pelos  quais ele nutria muita pouca consideração e/ou respeito.Tão pouco se podia integrar no meio dos pretos embora se identificasse com eles. 

Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das crianças que frequentavam o aquartelamento: ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma crianca na sua presença!) deve ter sido mais uma das inúmeras vitimas daquela guerra terrivel.
Cherno AB (Chico de Fajonquito) 

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

_____________

Nota de L.G.:


Guiné 63/74 - P6144: O Spínola que eu conheci (6): Depoimentos de Paulo Raposo e Luís Graça



Apresentação do livro Spínola: Biografia, da autoria do historiador Luis Nuno Rodrigues (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010). Local: Lisboa, Fundação Mário Soares, 8 de Abril de 2010. 2ª parte da intervenção do Embaixador João Diogo Nunes Barata, antigo chefe de gabinete de Spínola na Guiné. Neste excerto, são abordados dois capítulos do livro, correspondentes à carreira militar de Spínola durante a guerra colonial (Angola e Guiné). Afirmação de Spínola como "grande político" na Guiné.


Vídeo (4' 17''):  © Luís Graça (2010). Direitos reservados (Alojado na conta You Tube > Nhabijoes)




Guiné > Algures > Maio de 1973 > A 25 Costa Gomes, Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, dá início a uma visita ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), para se inteirar do agravamento da situação militar e analisar medidas a tomar  com vista a garantir o espaço de manobra do poder politico. Uns dias antes, a 22, Spínola tinha mandado um telegrama ao Ministro da Defesa, com o seguinte teor: "Conforme seu pedido telefónico informo que sob pressão IN comandante local mandou evacuar Guileje e destruir acampamento sem ordem deste comando. Trata-se de lamentável estado de pânico perante  manifesta superioridade inimigo o que em caso algum justifica tal decisão. Esclareço  Guileje estava sem comunicações Bissau virtude destruição antena pelo inimigio. Mandei levantar auto corpo de delito comandante responsável. Insisto pedido reforços" (Fonte:  Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra: volume 14: 1973: perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi, 2009. p.46).

Na foto, vê-se o Gen Costa Gomes à direita de Spínola, falando com milícias guineenses. Foto do francês Pierre Fargeas (técnico que fazia a manutenção dos helis AL III, na BA 12, Bissalanca), gentilmente enviada pelo nosso camara Jorge Félix (ex-Alf Mil Pil Heli, BA12, Bissalanca, 1968/70).

Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Direitos reservados.


1. Continuamos a publicar pequenos depoimentos de camaradas nossos que estiveram, no TO da Guiné, no tempo de Spínola (entre Maio de 1968 e Agosto de 1973). São excertos de textos já publicados no nosso blogue (I e II Séries). São pequenos contributos para o conhecimento (e apreciação crítica) daquele que terá sido porventura o mais o mais falado, criticado, idolatrado, carismático, detestado e controverso dos nossos comandantes militares durante  a guerra colonial. Spínola nasceu há 100 anos, em Estremoz, a 11 de Abril de 1910, no final da monarquia, ainda no reinado de D. Manuel II. O nosso blogue fica aberto à publicação de novos testemunhos e comentários sobre Spínola, o Governador e Comandante-Chefe da Guiné (1968/73).


(i) Paulo Laje Raposo (ex- Alf Mil, CCAÇ 2404 / BCAÇ 2852, Mansoa, Galomaro, Dulombi, Julho de 1968/ Maio de 1970)

 (...) Chegámos a Bissau nos primeiro dias de Agosto [de 1968]. Depois de uma noite mal dormida, e cheios de picadas de mosquito, lá fomos para os adidos em Brá. Os dois Batalhões [BCAÇ 2851 e 2852] formaram na grande parada e o então Brigadeiro Spínola passou revista às tropas e fez a sua saudação.

 Spínola tinha chegado há pouco tempo à Guiné [, em Maio de 1968, ] e esta foi a primeira cerimónia deste género que realizou. Acabadas as cortesias, ouve-se o toque a Oficiais e vamos para um briefing. Reunimo-nos numa sala pequena. Nós, os chegados, fomo-nos sentando em várias filas de cadeiras. À nossa frente estava uma pequena mesa aonde se sentou ao centro o Brig Spínola, Governador e Comandante Chefe da Província, à sua direita o Brig Nascimento, 2º Comandante Militar, e à sua esquerda, o Comandante Militar Brig Novais Gonçalves, que já estava no fim da sua Comissão.

 Não me recordo do teor do discurso proferido por Spínola, mas deve ter sido no sentido de apelar ao nosso patriotismo e responsabilidade na condução dos homens que tínhamos à nossa guarda. Após o discurso veio cumprimentar-nos, um a um. Quando chegou a minha vez, eu estava altamente perfilado, pois nunca tinha cumprimentado alguém com tantas estrelas nos ombros. Duas eram de Brigadeiro e as outras quatro de Comandante Chefe, em ambos os ombros. Ele põe-se em frente de mim, cumprimenta-me e eu também e, à queima-roupa, diz-me:
- Você tem sorte.

Eu, sem saber bem o que me esperava, digo muito timidamente:
 - Porquê, meu Comandante?
 - Porque quando começar a ouvir os tiros, já está mais perto do chão.

 Também tinha humor. A meu lado estava o Alferes Felício, que é uma viga, e que a meu lado ainda parece maior. O nosso Comandante Chefe diz-lhe o inverso:
 - Você que se cuide.

Realmente, aquele homem, com a sua voz rouca e arrastada, de luvas, com monóculo e o pingalim, impressionava qualquer um. A imagem de bravura que transmitia correspondia à sua maneira de ser. Nele tudo era verdadeiro e genuíno. (...)


 (ii) Luís Manuel da Graça Henriques  (ex-Fur Muil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (***)

 Bissau, 10 de Fevereiro de 1970 

(...) De facto, aqui [,em Bissau,] desaguam todos os rios humanos da Guiné: a carne que já foi do canhão e agora é do bisturi (ou dos vermes, em caixões de chumbo, discretamente empilhados, à espera que o Niassa ou o Uíge ou o Alfredo da Silva os levem nos seus porões nauseabundos); os desenfiados, como eu, todos os que procuram safar-se do inferno verde, quanto mais não seja por uns dias ou até umas breves horas, que o tempo aqui conta-se, de cronómetro na mão, até à fracção de segundo; os prisioneiros de guerra, esfarrapados, andrajosos, a caminho da Ilha das Galinhas; as populações do interior desalojadas pela guerra; os jovens recrutados para a nova força africana; enfim, os [alegados] criminosos de guerra como o capitão P. que está aqui detido no Depósito Geral de Adidos à espera de julgamento em tribunal militar – suponho eu -, juntamente com um furriel miliciano da sua companhia. Ambos estão implicados em vários casos, muito falados, de violação e assassínio a sangue frio de bajudas, além da tortura e liquidação de suspeitos…

 (...) A propósito, como os tempos mudam, meu caro!.. Em conversa com um sargento de cavalaria que teve o Velho [, uma das alcunhas de Spínola,] como comandante de batalhão no Norte de Angola – conversa a que ocasionalmente assisti -, o Capitão P. (que eu não sei, nem me interessa saber, se é miliciano, ou se é do quadro, ça c'est m´égale!), mostrava-se vexado (o termo é dele) pelo facto do então tenente coronel ameaçar executar, in loco, sumariamente os guias nativos que mostrassem a mais pequena hesitação na escolha dos trilhos ou os carregadores que deliberadamente deitassem fora a água dos jericãs...
- E agora, como Com-Chefe na Guiné, não permitir sequer que se toque no cabelo de um preto!

 Bissau, enfim, porto de fuga e salvação!... Embora não se possa exactamente prever até onde tudo isto irá parar, com a actual escalada da guerra, de parte a parte, aqui tu tens ao menos a reconfortante sensação de teres as malas sempre feitas, pronto a partir em qualquer altura… Mas nada te garante que embarques a tempo: é que estamos todos metidos num atoleiro e em vias de perder o último avião!... Make love, not war. Um abraço. Até mais logo. Talvez apanhe o barco da Gouveia, amanhã. Já estou farto desta merda. (...)

 Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971 (****)

(...) De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime [, a cargo da TECNIL], esteve aqui de passagem, com uma matilha de Cães Grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivmente da Wermacht nazi.

 Mas o que é que faz correr este velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ...

 Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.

 Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…

 A visita-surpresa do Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname.  (...)

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último postre da série > 10 de Abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6138: O Spínola que eu conheci (5): Os depoimentos de Joaquim Mexias Alves e José Manuel Matos Diniz

 (**) 5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola

(***) 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)

(****) 30 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1132: Spínola e os seus 'Cães Grandes' na ponte do Rio Udunduma (Luís Graça)

domingo, 11 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6143: Parabéns a você (105): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil de Heli Al III na BA 12, 1968/70 (Os editores)

»+» F*E*L*I*Z...A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O «+«
1. Festeja hoje mais um aniversário o nosso Camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil de Heli Al III na BA 12, Bissalanca, 1968/70.

2. Vamos recordar a sua apresentação neste blogue, que foi publicada no dia 27 de Fevereiro de 2008 no poste - P2587:
“Senhor Luis Graça:
A Guerra tirou-nos o sono...
Tropecei no seu Blogue.
Vi pouco, muito pouco, mas chegou para me inquietar.
No post de 3 de Janeiro de 2008, num jantar de 27 de Dezembro
2007 (1), ouvi falar de Gandembel e fui ver o mapa e a minha caderneta de voo.
Fui piloto de helicópteros Al III em 68/69/70 na Guiné.
Lá encontrei que no dia 19 de Outubro de 68 fiz um TGER (transporte geral) para Gandembel.
No dia 20 do mesmo mês um TEVS (transporte evacuação).
No dia 29 voltei lá para fazer outra evacuação.
Não sei se lá voltei, pois por vezes marcávamos ZOPS (zona operacional) em lugar do nome da localidade.
Esta semana deve ter sido mexida, já la vão uns anitos, mas recordo-me que não era fácil a vida de Gandembel.
Passados estes anos todos, não tenho palavras para lhe transmitir com me encontro... eufórico? pensativo? saúdoso? lamechas? com vontade de ter 20 anitos...
Será que os indivíduos que evacuei estão vivos?
A hora é tardia e os anos pesam.
Não sendo despropositado, gostava de dar um abraço a todos aqueles jovens que não conheço mas com quem vivi momentos que nos acompanham passados que já foram tantos anos.
Mantenham viva essas memórias, eu por cá, se puder darei uma ajuda.Voltarei, é tarde, muito tarde.
Jorge Félix (ex Alferes Miliciano Piloto Aviador)”
Foto de Alouette III

3. Como vem sendo habitual, sempre que me toca a mim – MR -, publicar estes postes aniversariantes, para melhor tentarmos avaliar o perfil do Jorge Félix, recorri mais uma vez à consulta do seu signo de zodíaco – Carneiro -, para nativos entre 21/03 e 20/04”, num site que se tem vindo a tornar muito popular nesta matéria e ao qual se tem acesso através do endereço: KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), que diz textualmente o seguinte:
Carneiro
21/03 a 20/04

Com os nativos de Carneiro e os que o têm com ascendente, a primeira impressão é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo e impulsivo.
Os Carneiros não perdem tempo e quando tomam uma decisão, agem sobre ela de forma habitualmente rápida.
São energéticos e excelentes lideres mas nem sempre o melhor «seguidor». São óptimos a iniciar as coisas mas deixam-nas frequentemente para um dos signos fixos acabar. Altamente competitivos, gostam de se colocar à prova constantemente.
Apesar de governados por Marte e bastante temperamentais, a fúria é passageira e são em regra acolhedores e inspiradores.
Apresentam qualidades como a coragem e lealdade mas também a impaciência e têm um forte sentido de individualidade. Atraem e realçam estas qualidades também nos outros e o dia de um nativo de Carneiro começa normalmente com um entusiástico estrondo. Aparentam uma certa ingenuidade, por confiarem e acreditarem que os outros são tão directos e honestos como eles.
Marte na primeira casa astrológica influência a personalidade de forma similar. A frase chave para nativos de Carneiro é «eu sou».
Com ascendente de Carneiro, as atracções viram-se para Balanças, governado na sétima casa, a dos parceiros.
Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de estação e do solstício, tendo como elemento o Fogo.
Anjo: O Arcanjo Cassiel é o protector dos nativos do Signo Carneiro. Cassiel é chamado Anjo Guerreiro e aqueles que nascem sob a sua influência são pessoas criativas, destemidas e determinadas.
Líderes natos, gostam de ocupar cargos de chefia e de desempenhar funções de elevada responsabilidade. Possuidores de um carisma e encanto naturais, são amados por todos e até mesmo as suas atitudes irreflectidas são perdoadas e encaradas como uma encantadora particularidade da sua personalidade.
O Arcanjo Cassiel desenvolve a coragem e a imaginação. Ajuda a moderar a ambição, o espírito de competição e o egocentrismo.

4. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca que por vários motivos não puderem enviar as suas mensagens, cantar-te a seguinte cantiguinha muito tradicional:
PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA,
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS,
PARA O AMIGO JORGINHO,
UMA SALVA DE PALMAS!
E mais acrescentamos:
O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.
Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.
Com montanhas de abraços fraternos

5. Comentário de L.G.:

Acabo de chegar, por volta das 21h, do Baixo Alentejo (estive ontem em Moura numa homenagem aos 29 mourenses mortos na guerra colonial, seguindo depois para Vila Verde de Ficalho onde fui passar as famosas festas de Nª Srª das Pazes). Vejo que o nosso co-editor Eduardo MR esteve aqui, no seu posto de sentinela, a "suprir", com galhardia, competência e sentido de oportunidade, duas importantes baixas, a minha e a do Carlos Vinhal que é o gestor da série Parabéns de Você.

Obrigado, Eduardo. Fico-te a dever mais este favor.

Jorge, o Eduardo salvou a honra da camarata ao sinalizar, devidamente, o teu dia de aniversário. Pelo menos no Portugal profundo, na margem esquerda do Guadiana, o tempo estava esplêndido, primaveril. Espero que um sol radioso tenha também iluminado os teus pensamentos de hoje e aquecido o teu coração, na Vila Nova de Gaia onde tu vives.

Ainda vou a tempo, espero, de te mandar um grande Alfa Bravo como prova do apreço e da alegria de te termos, aqui, connosco na Tabanca Grande. Se a memória me não falha, foste inclusive o primeiro piloto da FAP a aterrar no nosso blogue. Espero poder encontrar-te proximamente, quiçá a 26 de Junho, no nosso V Encontro, ou até mesmo antes, na Tabanca de Matosinhos.

Deixa-me recordar que em Moura estive com camaradas do nosso blogue, dois dos quais da FAP (o Miguel Pessoa e a Giselda), um da Marinha (o Pedro Lauret) e diversos do Exército , com destaque para o Zé Brás, eu próprio, o Francisco Godinho (da Comissão Organizadora) e o major general Manuel Monge, governador civil do distrito de Beja.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P6142: Em busca de... (123): Procuro informações sobre Camaradas da CART 1612 / BART 1896 (Fernando Manuel Belo)


APELO
CART 1612 do BART 18
9
6

1. O nosso Camarada Amílcar Ventura enviou-nos um e-mail com o seguinte apelo:
Camaradas,

Este apelo foi-me pedido pelo nosso Camarada Fernando Manuel Belo, que foi Soldado Condutor da 3ª CCAÇ do meu batalhão.

Ele tem alguma dificuldade em dominar estas coisas da informática e pediu-me para eu o ajudar.
O apelo é do seu irmão, que também esteve na Guiné, cujo nome é Américo António de Oliveira Belo e era Soldado Condutor da CART 1612 do BART 1896.
Era conhecido pelo “Murtosa” e esteve nos anos 1966/68, em Aldeia Formosa, Buba, Bissorã e Mansoa.
Gostava muito de saber o que é feito dos seus Camaradas da Companhia.
O seu contacto via e-mail é:
fernandombelo@hotmail.com

2. A CART 1612 era um das três companhias operacionais do BART 1896 (As outras duas eram a 1613 e a 1614).
A CART 1612 seguiu em 13 de Dezembro de 1966 para Bissorã, actuando em Insumeté, Insantaque e Iusse.
Em 27 de Julho de 1967, deslocou-se para Buba, e actuou em Nhala, Darsalame e Buba Tombo.

Em 18 de Novembro de 1967, estacionou em Aldeia Formosa, tendo actuado em Colibuia, Chamarra e Porto Balana.Finalmente em 13 de Julho de 1968, recolheu a Bissau, de onde regressou ao Continente .

3. Em busca efectuada pelo Google, verificamos que este BART 1896, tem o seu convívio anual, de que resultou um pequeno artigo publicado na revista da Liga dos Combatentes, Nº 348, de Junho de 2009.

Infelizmente como se pode verificar, no ps além de um nome (que obviamente deve ser de um elemento do batalhão), não tem qualquer indicação do seu contacto.

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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6141: Parabéns a você (104): Jorge Picado, ex-Cap Mil (Os editores)


1. Mais um nativo do signo Carneiro festeja hoje, dia 11 de Abril de 2010, o seu aniversário. É ele o meu Comandante na CART 2732, ex-Cap Mil Jorge Picado(1).

O Jorge completa hoje 73 jovens anos. Vai fazer muitos mais, e nós, seus amigos e camaradas, aqui estaremos a contá-los para nos associarmos à sua alegria.

Jorge, a Tabanca inteira envia-te um abraço e votos de longa vida.

Mansabá, Messe de Oficiais, 11 de Abril de 1971 > Assim festejou Jorge Picado os seus 34 anos. Ainda de pé: Ex-Alf Mil Nunes Bento, hoje Ten Cor Ref; ex-Cap Mil Jorge Picado, o aniversariante e Ex-Alf Mil Rodrigues. Dos sentados não reza a história.

2. Com uma certa vergonha, mas com a maior honestidade, confesso que não ligava o Jorge a um Comandante com quem tinha ido, meio a pé, meio de transporte, a Fátima(2) . Não a Fátima de Leiria, mas a Fátima de Binta, ali perto de uma picada que liga a estrada Mansabá/Farim com o Olossato.

Não andámos de joelhos à volta da Capelinha das Aparições, mas fizemos penitência tal que, de certeza, os nossos pecados e os dos nossos vindouros estão redimidos.

E disse eu, para minha vergonha, que não reconhecia o senhor Eng.º Jorge Picado como meu ex-Comandante. Perante tão infame afirmação, o Jorge envia-me um foto tirada em Mansabá, onde ele aparecia... e eu também.

Mansabá > ABR71 > Festa do baptisado da filha do senhor José Leal > Nesta foto, à civil, com barba, o ex-Fur Mil Carlos Vinhal e ao fundo, fardado, o ex-Cap Mil Jorge Picado, ladeado pelo senhor José Leal e pelo Alf Mil Manuel Casal.

Esta menina, segura pelo pai e pelo Jorge Picado, sob o olhar atento e sorridente do ex-Alf Mil Manuel Casal, fará em Outubro próximo 39 anos. Como o tempo passa!!!

A partir desse dia, nunca mais fui o mesmo. Dizia ele que tinha feito a tal Operação a Fátima e que até tínhamos capturado três granadas de canhão sem recúo IN. Quem foi que verificou se elas estavam armadilhadas, quem foi? Eu próprio. Vergonha em cima de vergonha.

Claro que hoje tenho mais um amigo que ri comigo da minha desmiolada memória.

No pressuposto de que hoje (dia 11) estarei no Funchal, não quis, mesmo assim, perder a oportunidade de felicitar o meu amigo Jorge Picado e desejar-lhe uma vida longa com muita saúde, junto de seus filhos, netos, demais família e amigos que os tem às centenas.

O Jorge, quando pode, comparece nos convívios da malta. Já o vi na Tabanca de Matosinhos, em Ortigosa no Encontro da Tabanca Grande e até em Arruda dos Vinhos, não por estes, mas porque alguns elementos da CART 2732 se encontraram, e ele quis estar presente. Não pôde estar ontem no Encontro da nossa Companhia no Funchal por motivos particulares o que eu lamento.

Jorge Picado é já um veterano do Blogue. Lembremos o que nos disse em Abril de 2008:

Olá
Também pertenço ao grupo dos que palmilharam as poucas estradas alcatroadas e as muitas picadas da Guiné-Bissau.

Desde Bissau, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Braia, Infandre, Cutia, Mansabá, Bironque, K-3, Farim, passando o rio Mansoa em João Landim, Bula, Có, Pelundo, Changalana, Jolmete, Teixeira Pinto, Canobe, Bara, Bajope, Blequisse, Cajinjassá, Capol, Bachegue, Boja, Chulame, Bassarel, Chanto, Bajobe, Bó, Calequisse, Cati, Biacha, Cabienque, Pandim, Cancal, Tame, Carenque, Batucar, Bugulha, Cajegute, Ponta Pedra, Caió, Tebebe, Belabate, Caiomete, Petabe, Beniche, a célebre Ponte Alf Nunes, Churobrique, Bachile, Capó, Cacheu (fui de meio aéreo) e também por meio fluvial acabei por pisar bolanhas na Ilha de Jeta e visitar Omaia na Ilha de Pecixe, além das bolanhas de Ilha de Jete.

Eis a minha identificação para que o Carlos Vinhal há 37 anos na CART 2732 em Mansabá, o Luís Camões há 38 anos na CCAÇ 2589, bem como o Luís Nabais na CCS do BCAÇ 2885 em Mansoa me sirvam de padrinhos na entrada desta Tertúlia, se ainda recordam este nome.

Jorge Manuel Simões Picado, natural e residente em Ílhavo, a poucos dias de chegar aos 71 anos, Eng.º Agrónomo de profissão (aposentado da Função Publica) e por gosto, Cap Mil por imposição e a contra-gosto, comandei (mal ou menos mal) a CCAÇ 2589 desde 24 de Fevereiro de 1970 até 15 de Fevereiro de 1971 quando a deixei a caminho do Cumuré e me apresentei no QG em Bissau para aguardar novo destino, tendo seguido para comandar a CART 2732 a partir de 8 de Março de 1971 até 29 de Abril de 1971, indo acabar a comissão no CAOP 1 em Teixeira Pinto desde 4 de Maio de 1971 até às vésperas de 9 de Abril de 1972, dia do meu desembarque no Aeroporto de Lisboa.

Perdoem-me qualquer erro, mas sou ainda um neófito nas novas tecnologias. Só estou ligado à Internet desde o passado dia 29 de Março e ainda não domino estas ferramentas, de tal modo que tive de me socorrer dum dos meus netos para aceder ao blogue, depois de ter lido a notícia no suplemento Y do Publico de sexta-feira [, dia 4 de Abril de 2008, que fez uma referência ao blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné: Não deixes que sejam os outros a contar a tua guerra]. Por isso ainda não posso enviar fotografias.

J. Picado

Mansabá > O ex-Cap Mil Jorge Picado rodeado do seu staff, oficiais sargentos e impedidos da Messe de Oficiais

O Jorge Picado com o Luís Graça, sorridentes, aquando da visita do Editor do Blogue à Costa Nova.

Arruda dos Vinhos > Janeiro de 2009 > I Encontro da CART 2732 > Jorge Picado, Alfredo Gouveia e Inácio Silva

Ortigosa 2009 > Encontro da Tabanca Grande > Jorge Picado e Idálio Reis. Dois ex-combatentes da Guiné, dois Engenheiros Agrónomos.
__________

Notas de CV:

(1) Vd. postes de:

e


Vd. outros postes de Jorge Picado em: Jorge Picado e Estórias de Jorge Picado

Vd. último poste da série em:

11 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6140: Parabéns a você (103): Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74) (Os Editores)

Guiné 63/74 - P6140: Parabéns a você (103): Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74) (Os Editores)

»+» F*E*L*I*Z...A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O «+«
1. Completa hoje 59 aninhos o nosso Camarada Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512,
Nema/Farim e Binta, 1972/74).

2. Vamos recordar a sua apresentação neste blogue, que foi publicada no dia 15 de Setembro de 2009, no poste
P4957:

“Apresenta-se o ex-1.º Cabo Manuel Alberto Costa Marinho, do 1.º GComb/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, comissão em Nema/Farim, Binta, em 1972/74.
É com enorme sentido de gratidão, extensível aos restantes colaboradores do blogue e a todos os tertulianos da Tabanca Grande, que me dirijo, pela primeira vez.
Mais vale tarde que nunca.
Como ex-combatente da Guiné, não posso ficar indiferente ao que de melhor temos neste País para testemunhar o que foi a Guerra Colonial, mais concretamente a da Guiné, vivida e contada pelos seus protagonistas, por isso mais uma vez, um muito obrigado pelo excelente trabalho que podemos testemunhar.
E antes de mais peço a admissão na “Tabanca”, certo que já o poderia ter feito, mas só agora julgo oportuno, pelo facto (se calhar egoísta) de estar a ajudar uma sobrinha a fazer um trabalho sobre a Guerra Colonial, foi a miúda, que me incentivou a contar as minhas vivências na Guiné, depois de consultar muitas vezes o blogue, e sabendo que estive no inferno de Guidaje, praticamente em todas as suas incidências.
Como muitos de nós já o disseram, é penoso lembrar o que já estava na penumbra da memória, mas acho valer a pena este esforço, porque entendo que uma parte muito importante das nossas vidas ficou para sempre na Guiné, numa Guerra da qual eu não me envergonho de ter participado, e sou dos que sabiam minimamente para o que iam.
Depois porque ao longo destes anos (e já são 35), somos vergonhosamente ostracizados por todos os poderes instituídos neste País, que foram coniventes com o apagar da memória colectiva, de tudo o que diga respeito à Guerra Colonial, e mais grave do que isso, transformando os que por razões várias desertaram, em heróis, e nós que combatemos, só nos falta pedir desculpas por ainda estarmos vivos a contar (dissecar) esta guerra.
Pessoalmente, sinto-me ofendido com a imagem redutora que tem sido dada às gerações que se seguiram, não quero louvores, mas exijo respeito pelos que morreram, e por todos os que ficaram marcados por ela para sempre.
Desculpa camarada Luís este desabafo, corta tudo o que achares necessário, porque sinto esta revolta surda sempre que abordo esta questão.
Quero saudar muito especialmente os camaradas Amílcar Mendes (*) da 38.ª de Comandos, Victor Tavares da 121 dos “Páras” e o Albano M. Costa da CCAÇ 4150, os dois primeiros que descrevem operações de combate e o Albano que me fez rever Binta, peço desculpas ao omitir mais camaradas, sei que os há que viveram Guidaje e escreveram sobre esse fatídico mês, os Fuzileiros por exemplo.
Como também não desejo que outros contem a Guerra por mim, vou descrever o ataque à primeira coluna para Guidaje, que como é sabido não chegou ao destino.”
3. Como vem sendo habitual, sempre que me toca a mim – MR -, publicar estes postes aniversariantes, para melhor tentarmos avaliar o perfil do Manuel Marinho, recorri mais uma vez à consulta do seu signo de zodíaco – Carneiro -, para nativos entre 21/03 e 20/04”, num site que se tem vindo a tornar muito popular nesta matéria e ao qual se tem acesso através do endereço: KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), que diz textualmente o seguinte:
Carneiro
21/03 a 20/04
Com os nativos de Carneiro e os que o têm com ascendente, a primeira impressão é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo e impulsivo.
Os Carneiros não perdem tempo e quando tomam uma decisão, agem sobre ela de forma habitualmente rápida.
São energéticos e excelentes lideres mas nem sempre o melhor «seguidor».
São óptimos a iniciar as coisas mas deixam-nas frequentemente para um dos signos fixos acabar.
Altamente competitivos, gostam de se colocar à prova constantemente.
Apesar de governados por Marte e bastante temperamentais, a fúria é passageira e são em regra acolhedores e inspiradores.
Apresentam qualidades como a coragem e lealdade mas também a impaciência e têm um forte sentido de individualidade.
Atraem e realçam estas qualidades também nos outros e o dia de um nativo de Carneiro começa normalmente com um entusiástico estrondo.
Aparentam uma certa ingenuidade, por confiarem e acreditarem que os outros são tão directos e honestos como eles.
Marte na primeira casa astrológica influência a personalidade de forma similar.
A frase chave para nativos de Carneiro é «eu sou».
Com ascendente de Carneiro, as atracções viram-se para Balanças, governado na sétima casa, a dos parceiros.
Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de estação e do solstício, tendo como elemento o Fogo.
Anjo: O Arcanjo Cassiel é o protector dos nativos do Signo Carneiro. Cassiel é chamado Anjo Guerreiro e aqueles que nascem sob a sua influência são pessoas criativas, destemidas e determinadas.
Líderes natos, gostam de ocupar cargos de chefia e de desempenhar funções de elevada responsabilidade.
Possuidores de um carisma e encanto naturais, são amados por todos e até mesmo as suas atitudes irreflectidas são perdoadas e encaradas como uma encantadora particularidade da sua personalidade.
O Arcanjo Cassiel desenvolve a coragem e a imaginação. Ajuda a moderar a ambição, o espírito de competição e o egocentrismo.
4. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca que por vários motivos não puderem enviar as suas mensagens, cantar-te a seguinte cantiguinha muito tradicional:
PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA,
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS,
PARA O AMIGO MANELINHO,
UMA SALVA DE PALMAS!
E mais acrescentamos:
O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.
Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.
Com montanhas de abraços fraternos
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
9 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6133: Parabéns a você (101): Jorge Canhão (ex-Fur Mil At Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612), festeja hoje os seus 60 anos (Os Editores)