quinta-feira, 13 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6385: Estórias avulsas (34): Ataque a Jumbembem no dia de Carnaval de 1974 (Fernando C. G. Araújo, ex-Fur Mil OpEsp 2ª CCAÇ/BCAÇ 4512)


1. O nosso Camarada Fernando Costa Gomes de Araújo* (ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 10 de Maio de 2010:

Jumbembem - Ataque ao quartel (ao arame) no dia de Carnaval

2 das páginas da minha agenda/diário da Guiné
25-02-1974:
O meu 2º pelotão fez a picagem a Sare Tenem, para se realizar a coluna ao destacamento de Canjambari.
Tudo correu normalmente durante o dia não se tendo feito o patrulhamento nesta área, porque no decorrer da picagem pareceu-nos tudo normal.
Como era dia de Carnaval (velha tradição metropolitana), fugi às normas que eu próprio havia estabelecido para mim e fui-me vestir à civil, assim como outros camaradas da Companhia, apenas com a ideia de mudar de visual, umas 2 ou 3 horas e matar saudades das roupas civis.
Ao contrário do que era esperado, por volta das 20h00, fomos surpreendidos com um forte ataque ao quartel (com o IN junto ao arame).
Ouvi as primeiras rajadas das “costureirinhas”, logo de seguida o som estridente dos rebentamentos de granadas de morteiro 82 mm e RPG, e corri para a vala para me proteger.
Logo que pude corri (mais rápido do que na instrução em Lamego) de novo para o meu quarto, já arrependido de me ter equipado com roupa civil e equipei-me com o camuflado, as cartucheiras e a G3, em +/- 1 minuto.
Saí em corrida em direcção à vala mais próxima do meu quarto, ainda a apertar o cinturão, e aguardei até que amainasse novamente o ataque, que foi o primeiro deste tipo a ser dirigido ao nosso quartel.
Como as morteiradas explodiam muito perto instalou-se o caos no pessoal da companhia, com este ataque surpresa, que, em correrias desnorteadas, procurava rapidamente as valas e os abrigos, construídos em vários pontos do quartel, e que, obviamente, eram os refúgios preferidos da quase totalidade da malta.
Entretanto eu saí da vala onde me havia instalado, para tentar chegar à caserna do meu 2º pelotão. Como o quartel estava sendo fortemente iluminado por “very-lights” lançados pelo IN, se nos movimentássemos, de pé, éramos alvos fáceis.
As granadas dos RPGs assobiavam por cima de mim e só tive tempo de me lançar para uma vala, perto do posto de transmissões, que estava repleta de homens e onde além dos rebentamentos ouviam-se alguns gemidos, com vários palavrões à mistura, dos que estavam por baixo a suportar o peso dos que se iam amontoando, em cima deles, e lhes dificultavam a respiração.
Alguns dos militares estavam feridos, principalmente devido a quedas durante as corridas para a vala e ao lançarem-se para dentro desta.
Por instantes o ataque abrandou e eu saí da vala, começando a correr em direcção á caserna do meu pelotão, ao encontro dos meus homens. No entanto tive que parar, outra vez, porque recomeçou o “fogachal” vendo-se os clarões de novos “very-lights”, rajadas de costureirinhas, morteiradas de 82 mm e granadas de RPGs a estourarem por perto.
Por momentos consegui abrigar-me perto do depósito da água, onde os soldados da companhia habitualmente tomavam o seu duche, e dei comigo a observar aquele cenário de iluminação, fogo tracejante e os “flashes”das explosões, como um filme cujo guião só poderia ter derivado de uma mente mestrada em ficção, terror, destruição e morte, um misto de Nicolau Maquiavel e Dante Alighieri.
Voltei à realidade e notei que dali até à caserna distavam +/- 40 metros. Como os “very-lights” continuavam a iluminar bem aquela zona (parecia dia), e eu via o rasto das balas tracejantes a cruzarem o ar por cima da minha cabeça, decidi rastejar alguns metros… mas, como a área era muito descoberta, comecei a pensar que me ia expor demasiado a ser atingido, no percurso entre o depósito da água e o meu pelotão.
Assim, resolvi que seria mais útil colocar-me na zona frontal e central da parada, onde calculei que seria o ponto fulcral, para qualquer investida que fosse feita pelo IN, para dentro dos arames.

Jumbembem > 1973 > Parada do quartel
Entretanto apagaram-se todas as luzes do quartel, certamente para não sermos referenciados.
Naquela escuridão, todos os “gatos eram pardos”.
Eu via vultos a deslocarem-se à minha frente no meio da parada, mas não distinguia bem quem eles eram, de modo que só quando se aproximavam mais de mim, eu apontava a G3 e perguntava: “Quem vem lá?”
Vá lá que todos me foram respondendo.
Depois de refeitos da surpresa, começamos então a responder com o morteiro de 81 mm, com o armamento instalado no posto nº 2 (salvo erro), a “Dreyse”que estava colocada à saída para a picada de Canjambari e a “Bazuca” posicionada no posto nº 3 à saída para a picada de Cuntima (se não estou errado).
Só o obus é que não entrou em acção, dada proximidade do inimigo.
Começamos então a reagir melhor e a concentrar mais acertadamente o nosso fogo, para a zona de onde iniciara e se referenciara o ataque, entre a picada de Canjambari e a picada de Cuntima, calculando que o IN devia estar entre +/- entre 50 a 100 metros do arame farpado e nós, inicialmente, estávamos a “bater” uma zona mais para trás.
Só posteriormente fomos rectificando a distância do tiro da “Bazuca” a partir, como disse, do posto nº3 (?).
O IN não atingiu as instalações como tencionava, apenas me recordo de 1 RPG entrar no telhado do edifício de comando ao lado do meu quarto, onde estava instalado o nosso 1º Sargento Teixeira, caindo a empenagem no meio da cama e o copo da dentadura ficar perfurado com estilhaços, que teve muita sorte em não estar lá nessa altura.
Pode-se ver o pormenor da beira do telhado no edifício de comando destruída, em duas fotografias que estão colocadas no poste P6271, dedicado à ocupação de tempos livres, em que estou a marcar um “penalty” num jogo de andebol contra a CCAÇ 4616.
Pela manhã, fomos fazer o reconhecimento nas imediações do arame farpado, de onde o inimigo disparara e para onde tínhamos concentrado o nosso poder de fogo (mais destruidor com a bazuca), e detectamos além de vestígios de sangue, vários objectos dos quais já não recordo nada e as marcas no terreno da instalação dos morteiros de 82 mm.
Que me lembre, este ataque não nos causou qualquer ferido, nem danos relevantes no aquartelamento, nem na tabanca.
Este é o relato que mantenho gravado na memória desse explosivo dia de Carnaval.

Jumbembem > 1974 > Pessoal deambulando pela parada num qualquer domingo
Um abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512
Fotos: © Fernando Araújo (2009). Direitos reservados.
_____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P6384: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (29): Diário da ida à Guiné - 09/03/2010 - Dia seis

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 1 de Maio de 2010:

Caro Carlos:
Mando em anexo mais um relato da minha ida à Guiné, esperando que aquele país, onde tão bem me senti, não venha a descambar, face às últimas notícias.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATA - 29

Diário da ida à Guiné – Dia seis (09-03-2010):

Finalmente Bafata à vista.

O percurso da “operação” era longo e por picadas não percorridas há mais de quarenta anos. Por essa razão se partiu mais cedo que o habitual. Porque o “objectivo da operação” era “um golpe de mão” a Bafata, mais uma vez pedi ao Chico Allen para ser eu a conduzir a carrinha. Conhecia bem o terreno, principalmente na aproximação ao “objectivo”.

Também queria ser eu a ter a experiência de passar as caricatas (não me canso de o dizer) barreiras policiais, no entroncamento de estradas de Safim. Primeira corda com os farrapinhos. O polícia às voltas ao carro, não lhe dou troco, pergunta-me o que ando por ali a fazer, digo-lhe que somos turistas portugueses, que pertencemos a uma ONG, meia verdade. Mais uma volta ao carro, o Allen vendo o precioso tempo a decorrer adianta-se ao condutor e estende uma barrinha de cereais ao guarda. A corda que era accionada por outro guarda, baixa acto contínuo, como se o primeiro a tivesse baixado com um telecomando. Passados duzentos ou trezentos metros, nova corda. Já levava uma barra de cereais na mão. Foi só oferecer o mata-bicho e logo seguimos. Muito lamento não ter uma foto destas situações mas parece que eles não gostavam nada disso e o Allen não queria confusões com a polícia.

Até Mansoa passámos por Nhacra e Jugudul. Boa estrada alcatroada. Normalmente a velocidade de cruzeiro era de 120 km por hora. O Allen disse-me logo no início que a estrada de Mansoa a Mansabá estava muito má e que portanto era melhor ser ele a conduzir nesse troço. Se partisse a carrinha estragava o que era dele. Pedi-lhe para conduzir nessa estrada 5 km, à minha responsabilidade. Ao fim de uns 2 ou 3 km entreguei-lhe o volante. A estrada tinha sido de asfalto mas tinha buracos de metro, de metro a metro, com as bordas do alcatrão em aresta viva. Se se conduzisse por aí teria que se fazer uma média de 2 ou 3 km por hora. A maior parte desse percurso foi feito pela berma, fora do alcatrão mas, de vez em quando, por haver árvores ou outros obstáculos, lá se tinha que descer cada roda em cada buraco e tornar a tirá-la. 50 km assim foi um autêntico suplício. Mais tarde ver-se-ão as consequências desta e de outras odisseias.

Estado do piso da estrada de Mansoa a Mansabá.

Ao fim de uma eternidade chegou-se a Mansabá, a “guerra” do Pimentel e do Mesquita, e ainda tínhamos que ir para Bafata, Uma hipótese seria regressar a Mansoa. Logo ali se decidiu que por aquela estrada nunca mais, embora a alternativa fosse ir directamente de Mansabá a Bafata pela antiga picada, que o Pimentel e o Mesquita tinham percorrido há quarenta anos, numa operação inédita, em que numa atitude de algum arrojo o Comandante Chefe resolveu transferir um batalhão com armas e bagagens de Mansabá para Galomaro (é certo que ele não faria o percurso…). Curiosamente fui eu próprio que planeei a operação de segurança na zona de entrada no Sector Leste, pelas bandas de Sare Banda (já referi isso noutra estória).

Em Mansabá o Pimentel e o Mesquita viram o que tinham que ver. Muitos dos edifícios ainda existiam mas já muito degradados. Na antiga piscina nasceu uma grande árvore que, enorme, lá está implantada.

O estado do edifício do comando do antigo Quartel.

Mansabá. Junto do que foi a piscina. Um antigo guerrilheiro do PAIGC, eu, o Pimentel, o Allen e um Professor. A foto foi tirada pelo Mesquita.

Outra nota de registo foi o Pimentel, dentro de uma escola, falava com o professor. Resolvi entrar para, como já costumo dizer, não perder pitada. No momento em que entrei aconteceu uma coisa que já não fazia parte das minhas recordações das últimas décadas, todos os alunos se levantaram. Fiz um gesto para se sentarem com uma forte dose de emoção à mistura.

Tínhamos que ir almoçar a Bafata, metemo-nos à picada e depois de alguns quilómetros ainda pensámos duas vezes em usar a estrada esburacada, por Mansoa. O estado deste caminho veio a mostrar-se também tenebroso. Tinha valas transversais, longitudinais, e buracos talvez de antigos rebentamentos de minas, onde a carrinha tinha que entrar e depois sair. O que ajudava era que de vez em quando a picada tinha dois ou três quilómetros de bom piso e quase sempre grandes árvores a ladeá-la.

O estado da picada de Mansabá a Bafata.

Picada de Mansabá a Bafata.

Passámos por muitas tabancas, pelo cruzamento para Geba, pela derivação para o Empreendimento Turístico do Capé. Um pouco antes da descida para a Ponte Nova pedi ao Allen para parar junto a umas árvores que se começaram a ver. Daquele local via-se já Bafata ao longe. Podem crer camaradas que, até neste momento em que estou a escrever, estou altamente emocionado. O Mesquita estava de boca aberta por, passados quarenta anos, eu me lembrar daquelas árvores. Tirei umas fotos e seguimos.

Foto de há 40 anos em que se vê Bafata ao longe.

Foto actual, tirada do mesmo local, só que as árvores cresceram.

Atravessámos a Ponte Nova (Oliveira Salazar) e entrámos em Bafata pela tabanca da Ponte Nova. Reconheci algumas moranças mas não parámos pois estávamos com pressa para almoçar.

Já se sabia que havia um restaurante que servia bem, na zona de construções coloniais da cidade. É de um casal de portugueses. Para lá nos dirigimos. Enquanto nos preparavam o almoço, saltei para a carrinha e fui directo para o que era o meu primeiro objectivo em Bafata: Tabanca da Ponte Nova.

Já me tinham dito que, com a morte do célebre ourives Tchame, que tinha os dentes com coroas de ouro colocadas por ele próprio, a oficina era agora gerida por um seu filho. Tinha sido perto dali que há 40 anos tinha visto, por uma única vez, uma bajuda à qual tinha tirado uma foto. Foi a bajuda mais espectacular que vi na Guiné durante toda a minha estadia de 2 anos.

O actual Tchame filho do ourives que conheci há 40 anos.

Ia pois perguntar ao filho do Tchame, que agora tem mais de 50 anos, se conhecia a agora mulher-grande da foto que lhe iria mostrar. Antes porém, e para que ele se tornasse colaborante, mostrei-lhe e dei-lhe de imediato, uma bela foto do pai com os seus dentes de ouro. A colaboração que eu esperava foi total.

O ourives Tchame de há 40 anos (foto que dei ao filho).

Mal viu a foto da bajuda disse: - É a Kadidja, se quiser mando-a chamar aqui. As minhas pulsações devem ter disparado. Precisava de a ver, precisava de a fotografar de novo. Como estavam à minha espera para almoçar disse que passado uma hora ali estaria. Almocei e lá saltei outra vez para a carrinha em direcção à oficina do Tchame.

A bajuda que vi uma única vez há 40 anos, que agora soube chamar-se Kadidja.

Claro que se a visse na rua talvez a não reconhecesse, mas ali sentada à minha espera, vi logo que era ela, até porque tinha os mesmos brincos de ouro de há 40 anos. Mulher agora com 56 anos, sem uma ruga e impecavelmente vestida. Disse que me reconheceu e à minha pergunta se sabia onde eu lhe tinha tirado a foto, ela estendeu o braço e indicou a direcção, pois ainda era longe dali. Abraçámo-nos, e só não chegámos às lágrimas.

Kadidja. A alegria em nos revermos foi mútua (Fotograma de filme).

A mulher grande, Kadidja, que um segundo antes sorria. As máquinas digitais são o que são.

Disse-me que Samba era o nome do marido, que tinha tido quatro rapazes e três raparigas e já tinha alguns netos. Ofereci-lhe umas “t-shirt” para os netos, tirámos várias fotos juntos, filmei-a tendo registado a sua voz. Quando lhe pedi para tirar o lenço da cabeça a fim de a fotografar, ela disse que não por causa dos seus cabelos brancos. Achei curioso. Despedi-me e prometi-lhe voltar. Quando me afastava ainda lhe disse as duas únicas palavras que sei em fula: - Kadidja, djarama, djarama bui (obrigado, muito obrigado), obtendo um último sorriso dela.

Cheguei a ir outra vez a Bafata mas por se ter partido uma mola à carrinha e ter acontecido outra série de encontros deste género, que mais tarde descreverei, não cheguei a revê-la nem a conhecer o marido, cujo nome é o mesmo que o do único amigo africano que tive em Bafatá há 40 anos. Só faltava que fosse o mesmo Samba… Ainda cheguei a comprar prendas para os dois, mas não lhas cheguei a entregar.

Fui ter com o grupo ao restaurante e para abreviar direi: Palavra puxa palavra, descobri que o dono do restaurante foi quem, há 40 anos, me deu boleia de Bambadinca para Bafatá no regresso das minhas últimas férias na Metrópole, que já descrevi noutra estória. Foto da praxe e regresso a Bula, agora pela boa estrada alcatroada.

Com o Sr. João Marques Dinis que há quarenta anos me deu uma boleia de Bambadinda para Bafata.

Ainda fomos jantar a Bissau pois tinha de tratar na TAP do adiamento, por uma semana, da minha vinda para Portugal. Teria que ir outra vez a Bafata.

Até amanhã camaradas.
Fernando Gouveia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6330: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (28): Diário da ida à Guiné - 08/03/2010 - Dia cinco

Guiné 63/74 - P6383: Agenda cultural (75): Iniciativas culturais na Livraria Verney e no Palácio da Independência (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, com data de 3 de Maio de 2010:

Agradeço o favor de confirmarem a vossa desejada presença no lançamento da colecção «Fim do Império», para efeito de reserva de lugar adequado aos prelectores da tertúlia «Fim do Império».

LANÇAMENTO DO 1.º LIVRO DA COLECÇÃO FIM DO IMPÉRIO

No dia 18 de Maio de 2010, 3ª feira, às 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney, na rua Cândido dos Reis, n.º 90, no centro histórico de Oeiras, decorrerá o lançamento do 1.º livro da colecção Fim do Império, Crónicas dos últimos dias de Timor Português e outras histórias de guerra, do coronel Rui Marcelino, com a participação do autor, do general António Barrento (que apresentará a obra) e dos tenentes generais Chito Rodrigues e Sousa Pinto, presidentes, respectivamente, da Liga dos Combatentes e da Comissão Portuguesa de História Militar, instituições que coordenam e apoiam a colecção, conjuntamente com a Câmara Municipal de Oeiras e com a colaboração da DG Edições.

Ocorrerá, também, uma singela homenagem ao escritor João Aguiar referido numa das badanas da obra:

Como muito bem refere o grande escritor João Aguiar, houve um império, com as suas grandezas e misérias, sendo saudável tentar reflectir, serenamente, sobre esse período da nossa História.

«(…) qualquer obra literária sobre o assunto, se escrita com sinceridade e com honestidade, assume grande importância, independentemente de concordarmos, ou não, com a perspectiva que nos apresenta; porque, sendo essa perspectiva honesta, ela decerto reflectirá, pelo menos, uma parte, uma faceta de uma realidade que foi vivida e sentida, que é componente da nossa História. (…)»

Este testemunho do coronel Rui Marcelino é um valioso contributo para esse efeito, muito especialmente no que se refere a Timor.

Assim, com todo o mérito, abre a colecção Fim do Império, complementar da tertúlia com o mesmo nome que se tem desenvolvido na Livraria Galeria Municipal Verney/Centro Neves e Sousa. Ambas as iniciativas procuram contribuir para uma reflexão tão serena e objectiva quanto possível sobre este importante período da nossa História, para melhor esclarecimento da nossa sociedade, sendo desejável que também possam ajudar ao trabalho dos historiadores. (…)

Para mais informações, contactar: http://www.blogger.com/mbaraocunha@gmail.com, 917519280.

**********

2. Mensagem de Mário Bejas Santos, com data de 12 de Maio de 2010:

Queridos Amigos,
Esteve cá o António Estácio para me oferecer o livro (prometo fazer a recensão).
Não posso ir ao lançamento, vou passar o dia na Universidade do Algarve. Ele pede ao blogue que contribua para a divulgação do evento.

Cordiais cumprimentos,
Mário


**********

3. Mensagem de Mário Bejas Santos, com data de 12 de Maio de 2010:

Luís,
O Manuel Barão da Cunha pede-te muito para estares presente. Faz questão que todos os anteriores prelectores assistam a este evento. Havendo condições, peço-te a respectiva divulgação no blogue. Vou ver se me é possível participar.

Um abraço do
Mário


CONVITE

Enviamos convite para mais uma iniciativa cultural a ter lugar na Livraria Galeria Municipal Verney, no próximo dia 18 Maio, pelas 15h00.
Contamos com a sua visita.

CMO/Divisão de Cultura e Turismo/Livraria Galeria Municipal Verney


__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6380: Agenda Cultural (74): Luís Rosa, autor de Memórias dos Dias sem Fim, dia 14, 6ª feira, às 19h, na Biblioteca-Museu República e Resistência, Benfica, Lisboa

Guiné 63/74 - P6382: (Ex)citações (71): Djaló, o teu irmão Braima morreu (Do Comandante do BCAÇ 3883, para o Alf Comando Graduado Amadu Djaló, em 25 de Setembro de 1973)


Senegal > Dacar > 1998 > Amadu Djaló, com a sua filha Ana Djaló, que vive em Londres (*)

Foto: © Amadu Djaló  (2010). Direitos reservados


Do livro de Amadú Bailo Djaló, Guineense, comando, português: 1º volume, comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, pp. 264/265 (**):

O Braima, meu irmão mais novo, frequentou o curso de Comandos de 1972, em Fá Mandinga. Estivemos juntos nos Comandos quase perto de um ano. Uma vez, íamos efectuar um assalto com helicópteros a oeste de Madina do Boé. O assalto era para ser desencadeado depois do bombardeamento da aviação. Quando era assim tínhamos que sair dos helicópteros com o dedo no gatilho.


Calhou o meu irmão ir no meu grupo e, quando chegámos à BA 12, eu só tinha olhos para o meu irmão. Cada vez que levantava a cara, só o via a ele. Então pedi ao Capitão Folques para mandar o meu irmão para outro grupo, para que fosse numa situação menos perigosa. O capitão aceitou o pedido e trocou-o.

Realizámos o assalto sem problemas do nosso lado. O bombardeamento causou vítimas ao PAIGC, apoderámo-nos de vários materiais e regressámos a Bissau, de helicóptero também.

Depois, em 5 de Junho de 1973, eu e mais oito oficiais fomos transferidos para a CCAÇ 21. A nossa companhia ficou com sede em Bambadinca[] e passámos a actuar na zona leste.

Em Setembro estávamos em Piche. A coluna regressava nesse dia [, 25 de Setembro de 1973] , vinha trazer géneros. Eu estava sentado no posto da administração, a conversar com os funcionários, quando chegou um soldado europeu.
- Meu alferes, o nosso Tenente-Coronel mandou-o chamar.

No caminho, o militar perguntou-me se eu tinha algum irmão nos Comandos.
- Sim, tenho – Respondi.
- Morreu! Mas o meu alferes não diga nada ao nosso Tenente Coronel. [Ten Cor Inf Manuel António Danas, Comandante do BCAÇ 3883].

Fiquei sem ter nada para dizer- Quando chegueui à sala de operações, o Tenente-Coronel disse-me

- Djaló, o teu irmão morreu. A coluna já partiu para Bambadinca, mas tens aí uma viatura para te levar e, depois, a viatura regressa com a coluna.

Não esperei mais nada. Tomei lugar no carro, rumo a Bafatá. Quando cheguei a minha casa, encontrei lá muita gente. O condutor parou. Dei-lhe dinheiro para almoçar no restaurante e disse-lhe que aguardasse ao pé da estrada,pela coluna de regresso.

O meu irmão Braima Djaló morreu na Cobiana (#), numa operação da 3ª CComandos. Nesse dia perdi o meu irmão mai amigo. (pp. 264/265)
_ __________

(#) Segundo nota do editor (Virgínio Briote) (p. 265), foi no decurso da Op Gema Opalina, na região de Cobiana, de 24 a 27 de Setembro de 1973. Um dos agrupamentos, com 40 homens, depois de helitransportado para a zona, caiu numa forte emboscada montada da mata para o tarrafo. As NT sofreram 3 mortos (Fur Quintino Rodrigues e Sold Lama Djaló e Braima Djaló) e 7 desaparecidos (Tem Jalibá Gomes, 1º Cabo Albino Tuna e Sold Ali Jamanca, Braima Turé, Vicente Djata, Demba Só e Eusébio Fodé Bamba). Destes desaparecidos soube-se, dias depois, que 4 tinham sido aprisionados pelo PAIGC, incluindo o Ten Jalibá Gomes que foi levado para Conacri, passando a partir de então a colaborar com o PAIGC até à independência. Com os vencimentos atrasados que o Exército lhe pagou, comprou depois um táxi. Morreu em Bissau, de acidente com o táxi, que se incendiou.

_______________

Notas de L.G.:

(*)   Vd. postes de:



(**)  Vd. poste de:

Guiné 63/74 – P6381: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (20): Choro na noite

Choro na noite, mais uma Estória de Mansambo, de autoria do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).
ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 20

CHORO NA NOITE


Noite clara e a chegar rápida.
O cansaço a tomar conta deles, a paragem a ser feita na bolanha do Bissári.

De repente choro de criança, choro de bebé a soar forte, a cortar a noite, a avisar o inimigo da posição.

- Vai com um milícia dizer à mãe para calar o gaiato.

Traziam três mulheres, uma ou duas com bebés e dois ou três rapazes. Vinham de Cancodea Beafada. Traziam os prisioneiros porque tudo ficara destruído e essas eram as ordens.

O choro parou e o sono foi tomando conta dele e dos outros.

De repente o som forte a cortar a noite. Choro de bebé novamente.

- Foda-se, vai calar o bebé.

- A mãe não percebe. É balanta ou beafada.

- Anda comigo.

A mulher olha-os, embala a criança, afaga carinhosamente o corpito, tenta dar-lhe a mama, cala-se por breve momento o bebé, breve muito breve e volta a chorar forte.

Por gestos tenta fazer-se entender. Sente que o som põe em perigo todos aqueles homens.

E agora? Agora, em gesto brusco, olhar de louco puxa da faca enorme e encosta-a ao seu pescoço. Faz o gesto de degolar.

Na pouca claridade da noite sente o olhar de terror daquela mulher a fundir-se com o seu, sente a criança a ser mais fortemente apertada, sente, nas outras mulheres o medo.

Levanta-se. Sente, ele mesmo, ser um selvagem. Mesmo sendo impossível concretizar a ameaça. Volta com a cabeça a latejar e ouve barulho noutro lado.

- O rapaz mais velho fugiu e outro está ferido…

Fala com o Capitão e rápido iniciam a marcha de regresso. Passos apressados, fatigados, caminhar de gente farta de andar e pouco depois ouvem a saída e o estrondo da granada de morteiro, logo mais outra e curtas rajadas… cabrões… foi o rapaz… Estavam perto… o gaiato ou o rapaz?

Apressam o passo. Andam, mexem as pernas como autómatos e esgotados param uns quilómetros à frente. Consultam o guia, a carta e a bússola, metem-se debaixo do “ponche”, encostam-se ombro com ombro sentados nos calcanhares… só uma hora… fuma um cigarro e “vê” o olhar da mulher… sente-o… raios o partam.

Voltou a vê-la com a criança já em Mansambo. Ela olha-o com terror… afasta-se dali… pede ao Leonardo, chefe da tabanca, para lhe darem o que ela quiser e conta-lhe. O velho ouve-o, bate-lhe no ombro e sorri ao afastar-se.

O olhar dela, daquela mãe não sorri… andou muitas noites de suor com ele e, mesmo agora que alinho letras, se fechar os olhos vejo-o ali… mesmo ali… e arrepio-me…

Mansambo 18 de Março de 1969
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6375: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (19): Tabanca de Fá Mandinga

Guiné 63/74 - P6380: Agenda Cultural (74): Luís Rosa, autor de Memórias dos Dias sem Fim, dia 14, 6ª feira, às 19h, na Biblioteca-Museu República e Resistência, Benfica, Lisboa



3º Ciclo de Conferências Memórias Literárias Guerra Colonial > Biblioteca-Museu República e Resistência / Grandella > Lisboa, Estrada de Benfica, 419 > 14 de Maio de 2010, às 19h > O Luís Rosa , natural de Alcobaça, tal como o nosso querido amigo Jero, vai falar do seu último livro, "Memórias dos Dias Sem Fim"

Sobre o livro e o autor, já aqui escreveu o nosso camarada Beja Santos (*):


(...) "MEMÓRIA DOS DIAS SEM FIM é o romance mais recente de Luís Rosa (autor de O Claustro do Silêncio, O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo, O Amor Infinito de Pedro e Inês, Bocage – A Vida Apaixonada de Um Genial Libertino e O Dia de Aljubarrota), são as suas recordações da Guiné, onde terá combatido entre 1964 e 1966. Terá combatido, na justa medida em que a estrutura da obra não leva o autor a apresentar-se autobiograficamente, há distâncias que são propositadamente confundidas entre o relator e o experimentador das memórias.

"É um livro com uma enorme carga poética e em que se procura responder ao acervo de inquietações de quem combateu e aprendeu a crescer, guardando saudades e regressa ao teatro dos acontecimentos sem rancores nem pedidos de explicação. São sucessivos episódios, balizados pela cronologia de quem parte para a sua viagem no cais do Pidjiquiti e regressa à Guiné reencontrando-se em Lisboa com um comandante de uma unidade de guerrilha do Sul da Guiné. É desse cais do Pidjiquiti que ele partirá para Sangonhá, o seu destino era a fronteira sul, além-Cacine, que ele assim define: 'Um corredor estreito de cerca de três quilómetros, esganado entre o rio Cacine e a linha imaginária da fronteira. Terra de imprevistos, onde a guerrilha se movia à vontade, e se construía uma linha de quartéis, tentando conter a infiltração'..

"Durante a viagem, dá-se uma versão da revolta que ocorreu em 3 de Agosto de 1959, o que historicamente está provado que não foi assim, já havia movimentos independentistas em gestação, o massacre de 3 de Agosto foi mais um detonador de consciências de que o fermento da luta armada. O narrador fascina-se com o relato do comandante Nalu sobre os acontecimentos do Pidjiquiti e rende-se às belezas das florestas, ao rendilhado das águas, ao imputo do tornado e, enfim, a sua embarcação chega a Cacine. Sabemos agora que o narrador é alferes, coube-lhe a missão de construir um quartel em Sangonhá, entre Gadamael e Cacine" (...)


Autor: Luis Rosa (, foto à esquerda)
Título: Memória dos Dias sem Fim: O amor, o sentir das gentes e a crueza da guerra colonial de África
Editora: Presença
Ano: 2009
Colecção: Grandes Narrativas
Nº na Colecção: 453
Nº pp: 268
Preço: c. 15€

Sinopse: 

Com a publicação de Memória dos Dias sem Fim [, clicar aqui para ler um excerto,] o novo livro de Luis Rosa, o romance histórico português rasga novos horizontes, simultaneamente mais vastos e profundos, reveladores da própria dimensão humana. É a realidade da guerra em toda a sua desconformidade e falta de sentido, capaz de denunciar as muitas faces ocultas do homem, desnudando-o e mostrando-o como realmente é - sofredor, idealista, solidário, cruel. 

Mas, patentes nestas páginas de grande intensidade psicológica e sociológica, estão também outras realidades - as culturas, comportamentos e mentalidades da sociedade guineense que permeiam o quotidiano da guerra, a solidariedade que a crueza das circunstâncias comuns faz surgir entre negros e brancos, ou ainda a amizade incondicional que nasce espontaneamente entre irmãos de armas. O sentimento intenso do absurdo da guerra narrado por quem o viveu na primeira pessoa, a manifestação de um homem oculto que se expressa na luta pela sobrevivência no horizonte intenso dos dias sem fim.
_________

Nota de L. G.:

(*) Vd. postes de:

19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5503: Notas de leitura (44): Memória dos Dias Sem Fim, romance de Luís Rosa - I (Beja Santos)

9 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6137: Notas de leitura (91): Depois da guerra, as recordações da região de Cacine... e algo mais , de Luís Rosa - II (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6379: O segredo de ... (13): Amílcar Ventura e o seu irmão, artilheiro, ferido gravemente em Gampará

1. Mensagem do nosso camarada Amílcar Ventura, de Silves (e que expecionalmente publicamos em letra maíuscula, tal como ele nos mandou) (*):

AMIGOS E CAMARADAS DE GUINÉ,


ACHO QUE CHEGA,

NÃO VOU MAIS FAZER UM COMENTÁRIO NO BLOGUE,

NÃO ME VOU EMBORA VISTO JÁ NÃO PASSAR UM DIA

SEM FAZER UMA PASSAGEM PELO BLOGUE,

MAS NÃO MAIS NINGUÉM ME VAI INSULTAR.

MAS NÃO ME VOU EMBORA SEM EXPLICAR AOS MEUS CAMARADAS DE GUINÉ

O MEU PROBLEMA COM A GUERRA DE ÁFRICA,

ISTO PARA QUE TODOS PERCEBAM O PORQUÊ DE EU FALAR ASSIM.

COMEÇO POR DIZER QUE SÃO DUAS COISAS

QUE ME TRAUMATIZARAM COM AQUELA GUERRA (**):

UMA TEM A VER COM O MEU CRESCIMENTO NO SEIO DA MINHA FAMÍLIA,

CRESCI NUMA FAMÍLIA DE ACTIVISTAS DO PCP

ERA JOVEM,. A PIDE ENTRAVA-ME CASA ADENTRO,

REVOLTAVA A CASA DE PERNAS PARA O AR,

E VÁRIAS VEZES LEVAVA O MEU PAI PRESO,

QUE ÁS VEZES SÓ VOLTAVA PASSADAS SEMANAS.

TIVE UM TIO QUE FOI DEPUTADO DO PCP

E VÁRIAS VEZES VICE PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA,

QUE SÓ O CONHECI COM 18 ANOS DE IDADE,

ESTEVE TODO ESTE TEMPO PRESO EM PENICHE.

AGORA VEM A SEGUNDA PARTE,  ESTA A MAIS DIFÍCIL PARA MIM,

TEM A VER COM O MEU IRMÃO MAIS VELHO,

QUE É DEFICIENTE DAS FORÇAS ARMADAS.

A HISTÓRIA DELE PARA MIM FOI O QUE ME MARCOU MAIS

E HOJE AINDA TENHO PESADELOS POR CAUSA DISTO.

O MEU IRMÃO TIROU A ESPECIALIDADE DE TRANSMISSÕES

E JÁ FURRIEL, FOI RECLASIFICADO EM ATIRADOR DE ARTILHARIA.

COMO ERA NORMAL OS PRIMEIROS LUGARES NUNCA IAM PARA A GUERRA

E FOI O QUE ELE PENSOU,

MAS POR CAUSA DA POLITICA DA FAMÍLIA

FIZERAM ESTE FAVOR AO MEU IRMÃO,

FOI UM MÊS PARA VENDAS NOVAS A APRENDER O OBUS 10,5

E DE SEGUIDA GUINÉ COM ELE,

FOI PARAR A GAMPARÁ

E TEVE AZAR,

FOI GRAVEMENTE FERIDO

E SE NÃO FOSSE O SARGENTO ENFERMEIRO SILVA, NOSSO AMIGO,

QUE VIVIA COM A ESPOSA EM BISSAU,

E SE NÃO FOSSE ELE E OUTRO AMIGO, O CABO ENFERMEIRO COSTA,

O MEU IRMÃO TINHA FALECIDO NO HOSPITAL EM BISSAU.

AGORA VEM A PARTE PIOR PARA MIM:

O MEU IRMÃO VEM TRANSFERIDO PARA O ANEXO DO HOSPITAL MILITAR,

NA RUA ARTILHARIA UM,

E EU VOU VISITA-LO,  JÁ ESTANDO EU MOBILIZADO PARA A GUINÉ.

E O QUE MAIS ME MARCOU,

E ATÉ HOJE NÃO ME SAÍ DA CABEÇA,

FOI VER, AMIGO, NEM SEI O NOME QUE DAR,

MAS VI A NOSSA JUVENTUDE,

UNS SEM BRAÇOS,

VI MUITOS INVISUAIS,

SEM UMA PERNA,

SEM AS DUAS.

MEUS AMIGOS,  É ISTO,

QUERIA DIZER MAIS

MAS FALTA-ME A CORAGEM,

ESPERO QUE ME PERCEBAM

E PEÇO DESCULPA A TODOS AQUELES A QUEM OFENDI,

NÃO ERA ESSA A MINHA INTENÇÃO.


UM ABRAÇO DO TAMANHO DA GUINÉ

PARA TODOS OS MEUS CAMARADAS DE GUINÉ.

AMÍLCAR VENTURA (foto actual, à direita)

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Amílcar, publico esta tua mensagem, dirigida a todos os amigos e camaradas da Guiné, pertencentes à nossa Tabanca Grande, bem como todos os demais leitores do nosso blogue; lamento muito o que te aconteceu, a ti, teu irmão, teu pai, teu tio, tua família;  compreendo as tuas razões pessoais e familiares mas não posso aceitar as tuas razões para a auto-exclusão...

Não é a primeira vez que, sentindo-te alvo de tratamento menos amistoso (se não mesmo hostil) por parte de um ou outro camarada,  manifestas a tua mágoa e dás conta da tua intenção de deixar o blogue ou, no mínimo,  remeter-te ao silêncio...

Ora, e como tu próprio bem sabes,  aqui não há vítimas nem lugar para a vitimização.  Em contrapartida, também não poderemos tolerar que camaradas insultem outros camaradas, seja a que pretexto for (e, muito menos, na sequência da revelação de um "segredo", seja qual for o seu conteúdo).  Uns e outros teremos de ser razoáveis e tolerantes, dois exercícios (o da razoabilidade e o da tolerância) que nem sempre não fáceis...

Amílcar, continuas a ser membro, de pleno direito, do nosso blogue.  Reocupa, por favor, o teu lugar e ajuda-nos, também tu, a cumprir a nossa missão bloguística, que é a de contar (e, portanto,  partilhar) os "nossos segredos" enquanto combatentes no TO da Guiné. Não confundas, em todo o caso, a crítica (objectiva) com o insulto (gratuito).

Um Alfa Bravo. Luís

______________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2009: Guiné 63/74 - P4308: Tabanca Grande (137): Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74
 
(**) Vd. poste de 24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5002: O segredo de... (7): Amílcar Ventura: Ajudei o PAIGC por razões políticas e humanitárias
 
Último poste da série > 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6378: Tabanca Grande (219): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Có e Bissum-Naga, 1969/70)

1. Mensagem do nosso novo tertuliano Aníbal Magalhães (ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861, e Bissum-Naga, 1969/70), com data de 7 de Maio de 2010:

Amigo Carlos Vinhal:
Aqui estou para fazer a minha apresentação:

Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães
Alf Mil da CCaç 2465/BCaç 2861

Estive em:
Có - 16/02/1969 a 13/05/1969
Bissum-Naga - 14/05/1969 a 14/12/1970

Envio as duas fotos da ordem, esperando ser aceite na vossa Tabanca.
Prometo contar as minhas histórias.
A primeira já está contada*...

Um abraço
Aníbal Magalhães


2. Comentário de CV:

Caro Aníbal Magalhães, a Tabanca a partir de hoje é também tua. Uma vez que fazes parte dela, passas a ter a responsabilidade de a manter activa. Para tal vai enviando as tuas histórias e fotografias que ficarão a fazer parte integrante do espólio deste Blogue.

É costume eu ser portador de um abraço de boas-vindas da tertúlia, destinado ao periquito recém entrado, logo o abraço de hoje é para ti, recebe-o.

Despeço-me até nova mensagem tua
Saudações fraternas
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6286: O Nosso Livro de Visitas (88): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6366: Tabanca Grande (218): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74

Guiné 63/74 - P6377: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (15): A Associação Memórias e Gentes ajuda a criar a primeira creche infantil no norte do país



Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto:  Fogão de baixo consumo energético > Data de Publicação:  2 de Maio de 2010 > Data da foto: 3 de Abril de 2010 >
Palavras-chave: energias amigas do ambiente 


Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia...)

"A Associação 'Memórias e Gentes', de Coimbra, Portugal, em colaboração com a Fátima Calvet, gerente da unidade hoteleira 'Chez Helène',  de Varela, apoiaram a criação da primeira creche infantil no norte do país, dotando-a de jogos infantis, mesas, cadeiras e mobiliário diverso.



"As mulheres agricultoras têm agora forma de deixar as crianças num local seguro e onde começam a aprender mais cedo actividades pré-escolares, em vez de fazerem longas caminhadas até às bolanhas e hortas das mães, em condições muito difíceis.


"A AD apoiou a formação das duas monitoras de infância e promoveu a construção de um fogão do tipo 'Numo', menos consumidor de energia e mais rápido na preparação da comida das crianças. Como esta creche está ligada à EVA [Escola de Vigilância Ambiental] de Iale, o fogão foi construído com a forma de tartaruga, símbolo desta escola".

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, 12 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6376: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (14): Chegou a hora do caju... e do vinho de caju!


Guiné 63/74 - P6376: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (14): Chegou a hora do caju... e do vinho de caju!


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Chegou a hora do Caju. Data de Publicação: 9 de Maio de 2010. Data da foto:  24 de Abril de 2010. Palavras-chave: Segurança alimentar (*).

Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia)

"Aí está! Chegou a hora do caju!



"Anualmente, por esta altura, o caju assume a sua omnipresença e todos se envolvem freneticamente nesta actividade, excluindo bem claro, os que estão mais preocupados em dar uso às fardas e às armas.


"Para além da castanha de caju, vendida ou trocada por arroz, num processo iniciado há mais de 20 anos e que subverteu por completo a lógica da segurança alimentar nacional, a qual deixou de se basear na nossa produção de arroz para passar a contar com a importação deste cereal, o que custou o ano passado 85 milhões de dólares.


"Igualmente mobilizadora é a comercialização de vinho de caju extraído da polpa e que, uma vez introduzido em bidões de plástico de 20 litros, é comercializado, transportado e… arrastado em camiões por todo o país."
_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6214: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (13): Força, Luís e Camaradas, porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo (Pepito)

Guiné 63/74 – P6375: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (19): Tabanca de Fá Mandinga

19.ª Estória de Mansambo, série do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

2.º GCOMB/CART 2339

Repasto

ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 19

Tabanca de Fá Mandinga

Sento-me num banco de madeira, baixo e feito de uma só peça.
Banco confortável e muito usual nas tabancas.

Observo a destreza do artesão a dar cor ao cabedal. Gestos quase de ritual, repetidos de há muito, gestos, certamente herdados e transmitidos há séculos pelo seu Povo. O povo Mandinga.

Falamos, entre um português que ele não domina bem, e um crioulo que eu, ainda, nada sabia. Entendemo-nos contudo.

Observo o artesão e toda a zona envolvente. Tudo é novidade para mim. Estou na Guiné há cerca de um mês. Um mês a parecer já muito tempo.

Um mês de descobertas e um mês a mostrar que, de África, muito pouco sabia. Tantas questões que a mim colocava. Logo essa da língua e porque, em cinco séculos, só ínfima minoria sabia falar português.

África era terra praticamente desconhecida, terra a necessitar quase uma aprendizagem total. O que lemos ou o que nos explicaram pouco, muito pouco, tinha a ver com a realidade vivida.

Os cheiros, a cor da terra, as gentes e a guerra. Tudo. Praticamente tudo merecia total aprendizagem. Em Fá de Cima, onde estava com a minha Companhia, reinava a paz e era um bom local para se aprender.

Não parávamos lá por muito tempo. Depois de termos ido ao Xime receber o treino operacional, sendo a Companhia de intervenção do Batalhão, estávamos quase sempre de saída.

Rusgas aos Nabijões, seguranças a Mato de Cão ou, em Bafatá à visita do Presidente da Republica, em operação, bem sucedida, ao Galo Corubal e onde recebemos o baptismo de fogo.

Mês intenso que relato em poucas linhas. Intensidade a prolongar-se até final.

Para ali viver, para estar de bem comigo e com aquela gente, para sentir África e passar melhor aqueles tempos, tentava adaptar-me o melhor e o mais rápido possível. Relevo só dois ou três acontecimentos:

- Bafatá; a primeira ida aquela cidade mostra-me uma realidade diferente. Cidade bonita, edifícios com ar colonial, vivendas a ladearem a rua principal e esta a terminar no rio Geba.

Só que antes estava um edifício, o que mais gostei em Bafatá, o Mercado com a sua arquitectura a imitar edifícios árabes. Um pouco mais abaixo, já com o Geba à vista uma piscina.

Recordo bem a primeira visita ao mercado. Os cheiros agoniaram-me.

Visita curta a não conseguir ver a diversidade dos produtos, a variedade das cores dos panos e o bulício de mercadores e compradores. Um encanto a ser vivido posteriormente.

O cheiro que me fez sair do mercado. Já, tempos antes, me tinha incomodado numa rusga aos Nabijões ou, pior ainda, numa visita para encontro de sexo. Foi sol de pouca dura e rapidamente me habituei e adaptei.

Agora, ali estava eu a ver a bainha da espada mandinga cada vez mais composta. Já tinha o cabo e a bainha da faca de mato coberta com um entrançado em preto e branco, em desenho mandinga.

O artesão tinha-me oferecido uns amuletos. Retribuí com outros objectos.

A afabilidade daquele povo, mandinga ou fula, era admirável e deixou-me marcas indeléveis. O modo como as mães tratavam os filhos ou o carinho e respeito para com os “velhos” não se esquecem.

A minha aprendizagem continuou até ao fim da comissão. Muito, mesmo muito, ficou por aprender.

O Povo das tabancas é diferente do das cidades, das “elites” dominadoras. Certamente, o fosso entre os detentores de poderes e dinheiro, de hoje, aumentou negativamente claro.

São conjecturas subjectivas. Certamente e infelizmente estão próximas da realidade.

A minha velha espada Mandinga ainda vive. A guerra acabou felizmente e a amizade, o carinho, o respeito e a saudade que sinto por aquela gente, aumentou com o tempo.

Não se explica e para quê? Parece um paradoxo a guerra, a convivência com o povo e a recordação de hoje.

Mas de facto não se explica. Só vivendo o ontem e o hoje.

Um abraço,
Torcato Mendonça
Alf Mil At Art da CART 2339
__________

Nota de CV:

Vd.último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6363: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (18): Dia final

Guiné 63/74 - P6374: Recortes de imprensa (25): Há 40 anos o Papa Paulo VI recebia em audiência privada, em 1 de Julho de 1970, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos (Luís Graça)






Título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970, fazendo-se eco da indignação da "Nação Portuguesa"... Alguém se lembra das repercussões deste caso no TO da Guiné ? 



Com cinco dias de atraso, o Diário de Notícias, jornal afecto ao regime de então, e que tinha à sua frente o inefável  Dr. Augusto de Castro, dava a notícia, que caiu que nem uma bomba nos restritos círculos políticos da época, segundo a qual o Papa Paulo VI tinha recebido, no Vaticano, em audiência, os três chefes dos principais movimentos que combatiam Portugal em África, mais exactamente em Angola, Moçambique e Guiné, respectivamente Agostinho Neto (MPLA), Marcelino dos Santos (FRELIMO) e Amílcar Cabral (PAICG)…

Tratou-se de um audiência “privada” (de que de resto não encontrei registo fotográfico: o Vaticano terá procurado ser cauteloso e discreto), ocorrida no dia 1 de Julho de 1970. Os três dirigentes nacionalistas encontravam-se em Roma, por ocasião da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas”…

Como seria de esperar, o Governo Português reagiu como tinha que reagir:  ou seja, de maneira consequente com a sua política do "orgulhosamente sós", mostrando-se indignado e chamando a Lisboa o seu representante na Santa Sé. Em vão: a diplomacia do Vaticano não deu satisfação às exigências de reparação (moral) à Nação fidelíssima… Os tempos eram outros e, senão os novos ventos, mas pelo menos a nova brisa que soprava do Concílio Vaticano II, não desapareceu com a morte  do popularíssimo Papa João XXIII.

Já em 1964, a deslocação de Paulo VI, a Bombaím, na Índia, tinha causado mal estar entre os fiéis do regime de Salazar. Em 1967, Paulo vem discretamente a Fátima como peregrino. Em 29 de Outubro desse ano redige a Carta Apostólica Africae Terrarum (Terras de África). Entre diversos públicos-alvo, há uma mensagem para os novos dirigentes políticos, saídos das independências, cujo teor também não deve ter agradado aos sectores mais intransigentes do regime em matéria de política ultramarina:

(…) A Voi, Governanti d’Africa, la grave responsabilità di operare per il consolidamento delle istituzioni sorte con l’indipendenza dei vostri Paesi. A voi compete il rinnovare e l’interpretare, in senso moderno, gli antichi valori della tradizione africana. Da voi dipende il formulare, il perfezionare e l’eseguire la legislazione sulla quale si ordina la vita presente dell’Africa. In ciò Noi siamo sicuri che vi guiderà sempre il desiderio del vero bene del popolo. Siate cercatori della pace, pronti al dialogo e ai negoziati più che alla rottura e alla violenza, memori della tradizione sociale più autentica dell’antica Africa, che era quella di trattare. (…)

Mas em 1970 a diplomacia portuguesa terá sido apanhada de surpresa. A audiência papal (mesmo privada...) a três inimigos declarados do “colonialismo português”,  deixou o Governo de Marcelo Caetano em estado de choque. Não eram apenas inimigos políticos: eram homens que chefiavam movimentos de luta armada...As repercussões internacionais deste acontecimento só poderiam ser negativas. Internamente, legitimavam e encorajavam ainda mais as vozes da oposição democrática (e não só) que reclamavam soluções políticas para o conflito ultramarino.

A imprensa portuguesa “situacionista” amplificou os ecos dessa indignação. O título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970,  era sugestivo. O Papa é acusado de “receber terroristas responsáveis pela chacina de milhares de cristãos” (sic).

Nessa altura eu estava em comissão de serviço na Guiné... Já não me recordo exactamente se em  Julho de 1970 estava de férias, na Metrópole, ou se estava em Bambadinca… Presumo que a notícia tenha caído mal no CTIG, na própria entourage de Spínola, empenhado no sucesso da política “Para uma Guiné Melhor”.

Provavelmente, nesta altura ainda havia alguns ilusões sobre a liderança política de Marcelo Caetano … Deopis da fraude eleitoral de Outubro de 1969,  poucos teriam ilusões sobre a "primavera política" marcelista... Entre as revistas e jornais que eu recebia (entre eles, o Comércio do Funchal e o Notícias da Amadora…), tenho a ideia de que o assunto (a audiência papal aos três dirigentes nacionalistas) terá passado, com discrição, no “exame prévio” (nova designação da censura)… Mas julgo que a notícia, em si,  não teve grandes repercussões no meio militar, quer entre os oficiais do quadro quer entre os milicianos… Em contrapartida, este sucesso diplomático foi habilmente explorado por Amílcar Cabral e pela propaganda do PAIGC.

Diga-se, en passant, que qualquer coincidência entre a edição deste poste e a visita,  de Estado,  iniciada hoje (e que vai até ao dia 14), pelo Papa Bento XVI ao nosso país, é mera coincidência. Por razões estatutárias, não devemos (nem podemos) discutir aqui questões da actualidade política dos nossos dois países, Portugal e a Guiné.  Neste caso, trata-se apenas de uma efeméride, relevante para a historiografia da guerra colonial. (*)  (LG)

_____________

Nota de L.G.:


terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6373: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (12): Algumas aventuras em Bissau

De Empada a Bissau - 2

por Arménio Estroninho(ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70)

Algumas aventuras em Bissau

Serviço efectuado como o previsto, inicia-se o desenrolar dos meus planos com algumas situações imprevistas.

Saíra do Quartel dos Adidos e não apresentara a guia de marcha, escudando-me como antes disse, pois tratava-se de fim de semana e para o efeito me favorecera. Desenfiei-me e fui procurar local para hospedagem. Tendo encontrado o que pretendia, voltei com o fim de ir buscar as minhas malas, caixas e sacos, não havendo qualquer problema.

Hospedei-me na Pensão Regional, a qual se localizava numa rua onde terminava o alcatrão (Foto 8) e começava a terra batida do Pilão (hoje, Cupelon de Cima, situada num cruzamento da nova Av. da Cintura). Um camarada orientou-me, e a partir dai de preferência a roupinha civil era para vestir, evitar de ser interpelado pela polícia civil e/ou militar, não me meter em situações de distúrbios e/ou rusgas.

Foto 8 > Bissau > 1970 > Cintura do Pilão > Av. da Cintura > Pensão Regional > Era um estabelecimento onde muitos se hospedaram, com aceitáveis condições. Para quem estava habituado a pouco “chamava-lhe um figo.”

Não é que o Arménio encontra uns companheiros estudantes de Silves, entre eles o José Júlio Franco, ex-Fur Mil, que tinha chegado de férias da Metrópole (foto9). Certa noite do mês de Fevereiro de 1970, com os amigos antes encontrados, lá fomos parar a uma Verbena. Era tipo feira das tasquinhas (comes e bebes) e divertimentos, estava montada junto ao estádio de futebol Sarmento Rodrigues (foto 10), pelo que presumo que a dita era organizada pela UDIB. Não sei como nem porquê, deram-se umas tricas com uns cabo-verdianos que eram “protectores” das bajudas de uma barraca das setas, e com os meus argumentos tentei acalmá-los. Mas quem estava também a ver a situação era um PSP em serviço no local, que em tempo tinha sido nosso colega de Escola Primária em Lagoa. Era alentejano e tinha a alcunha do “Polícia.” Antes que houvesse problemas com as palavras e se chegassem a vias de factos, despedi-me por não ser conveniente ali estar, dando uma justificação qualquer, pondo-me ao fresco que já se fazia tarde. Ufa, que desta já me safei.

Foto 9 > Bissau > 1970 > Praça da Fortaleza da Amura > Eu e um amigo de infância, o ex-Fur Mil, José Júlio Franco que pertencia à CCaç 6, 1969/70, colocada em Bedanda. Íamos para o Bar-Esplanada “O Pelicano.”

Foto 10 > Bissau > 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.

Em 28 de Fevereiro de 1970, atracou no Porto de Bissau a Lancha LDM 105, a qual era tida como proveniente de Empada onde vinha a CCaç 2381 “Os Maiorais.” (fotos 11).

Foto 11 > Bissau > 1970 > Porto e Cais de Pidjiguiti > Chegada da minha Companhia. Estou a cumprimentar o ex-1.º Cabo Pinheiro. O camarada que aparece entre nós é o Soldado “O Galhordas.”

Vinham destinados ao Quartel dos Adidos em Brá (foto 12), a fim de a aguardarmos embarque para a Metrópole que estava previsto para meados de Março. Foi no entanto adiado devido a atrasos por avaria e/ou sabotagem do NTT Niassa.

Com a chegada da Companhia, logo que possível, dirigi-me ao 2.º Sargento Monteirinho e regularizei a situação da guia de marcha. Obrigado Monteirinho e “paz à tua alma.”

Foto 12 > Bissau > 1970 > Porto de Bissau - Cais do Pidjiguiti - LDM 105 > Transferir para o Cais os haveres. Dentro da Lancha está o Soldado Carvalho de Azevedo, “O Condeixa”, e em primeiro plano “O Turra.”

Certa noite do mês de Março, andava eu na rambóia por Bissau, um dos muitos grupos de camuflados à paisana (seis Alferes, dois Furriéis e um 1.ºCabo) entre eles o ex-Alf Mil Joaquim Barbosa (foto 13), paz à sua alma, e eu ex-1.º Cabo. Um dos alferes tinha um automóvel e então alugou-se também um táxi, com a finalidade de irmos jogar “O Bingo” na Esplanada da Messe dos Oficiais, em Santa Luzia (hoje, Hotel 24 de Setembro).

A parte complicada para entrar na porta de armas, foi acertada de forma que nas viaturas, nos bancos da frente, iriam os oficiais para que com os respectivos cartões se identificassem aos sentinelas. Quem não era Oficial se lhe fosse solicitada a identificação, era-lhes dito que a deixara no Quartel. Entramos como o planeado e sem qualquer problema.

Foto 13 > Bissau > 1970 > Bar-Esplanada “O Pelicano > Em plena cavaqueira, cá o rapaz, o ex-Alf Mil Barbosa e dois camaradas do nosso conhecimento de ocasião

Já na esplanada do Bingo da Messe de Oficiais, estávamos todos sentados em duas mesas e devidamente compenetrados a jogar. Não tive intenção de o fazermas fi-lo só o foi para evitar qualquer suspeição.

No decorrer de um jogo, faltava-me um número para preencher o cartão e fazer Bingo. Fiquei aflito porque tinha presenciado que ao completar, se tinha que apresentar o cartão premiado, dizer o nome, o posto militar e o Serviço a que pertencia, e assim, era dada a divulgação através do equipamento sonoro. Devido ao posto que eu tinha, era-me interdita a permanência em zona de lazer de Oficiais. Assim, a solução foi de fazer a permuta, disfarçadamente, dos cartões com o ex-Alf Mil Barbosa e ser ele a tomar conta do meu jogo.

Que embrulhada onde eu estive metido, coisa que poucos provavelmente fizeram. Tudo decorreu a contento, mas sempre “bate-bate o coração.” Ai o RDM..!

Enquanto aguardávamos o embarque para o regresso, o CMDT da CCaç 2381, “Os Maiorais,” Capitão Mil Grd Eduardo Moutinho (hoje, Advogado na cidade do Porto), ofereceu um jantar convívio e de despedida, no Restaurante ”O Solar dos 10.” Foram também oferecidos algumas dezenas de milhares de Pesos, os quais eram provenientes dos prémios sobre cerca de meia tonelada de diverso material de guerra e que a nossa Companhia tinha capturado ao IN.

Finalmente em fins de Março de 1970 é chegado o NTT Niassa, tendo presenciado o desembarque de mais de dois mil militares, não reconhecendo nenhum.

No dia seguinte dirigi-me ao Quartel dos Adidos, para procurar conterrâneos, mas só encontrei o “Xico da Quinta do Lobo” (foto 12). As outras Companhias já se tinham “pirado” para o IAO.

Foto 14 > Bissau > Brá > Quartel dos Adidos > Março de 1970 > Nos Adidos com um camarada e colega de escola, o ex-Fur Mil Francisco Cabrita da Silva, natural de Lagoa e residente em Silves, acabadinho de chegar no NTT Niassa.

E assim a minha permanência em Bissau aproximava-se a passos largos do fim e com ela o final da comissão de serviço. Por conseguinte serão realizados eventos que antecedem a viagem de regresso no NTT Niassa.

Com um grande abraço para todos os bloguistas, deste algarvio que se subscreve,
Arménio Estorninho
1.º Cabo, Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais”
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6352: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (11): De Empada a Bissau no Batelão Corubal, acompanhando os restos mortais do camarada Mário Caixeiro

Guiné 63/74 - P6372: (Ex)citações (70): Obrigado a todos os que me ajudaram a (re)conhecer o meu pai (Marisa Tavares, Toronto, Canadá)


1. A Marisa Tavares mandou-nos, por mail,  ontem o seguinte comentário ao poste sobre o Alcides Silva (*):

Não tive muitos anos com ele [, o meu pai, Júlio Tavares, ex-Sold Cond Auto, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69, aqui na foto, à esquerda]. Era muita  menina quando ele morreu [, em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975].. Lentamente,  com a ajuda dos seus amigos, eu estou a descobrir o homem que ele era. Um grande amigo (?) às pessoas do mundo inteiro.

Agradeço  a todos os que me ajudaram a  (re)conhecer o meu pai.
Obrigada.

Marisa


2. Demos conhecimento ao Alcides Silva (bem como ao Victor Condeço, ambos da CCS / BART 1913, Catió, 1967/69, camaradas do Júlio Tavares, o Madragoa) (**)

Alcides: Estás a ver o "milagre" que provocaste ? É uma mensagem da filha do nosso camarada, que te agradece... Ela é enfermeira no Canadá. A sua língua principal é o inglês. Quando o pai morreu, era pequena [, tinha seis anos]. Se quiseres, escreve-lhe, na língua de todos nós que ela entende.

 Leste o nosso  poste (*)  ?

Um Alfa Bravo (ABraço). Luis.

PS - Não te esqueças das "tuas" fotos para a "montra" da Tabanca Grande

_____________

Notas de L.G.

(*) 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

 (**) O Victor, infelizmente, não está a passar bem, enfrentando algumas problemas de saúde. Vamos fazer votos para que ele nos dê  boas notícias dentro em breve. Força, Victor!

Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

1. Recordemos parte da mensagem do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74), datada de 3 de Março de 2010:

Caro Camarada
Conforme prometi, aqui estou a "pagar o ingresso" e a enviar as fotografias para formalizar a adesão à Tabanca Grande.
Junto também o prometido texto, em "word", reconhecendo que tem uma dimensão desapropriada para o blogue, mas vocês utilizá-lo-ão (ou não) como melhor entenderem.
[...]
Cumprimentos
Daniel de Matos



No dia 16 de Março de 2010 começámos então a publicar este importante documento, que hoje tem o seu fim, e que narra os acontecimentos trágicos vividos em Guidaje em Maio de 1973.


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XVII

por Daniel de Matos


Devolver os corpos às famílias

Agradecimentos

A exumação dos restos mortais dos dez (depois, onze) militares que se encontravam no cemitério de Guidaje foi efectuada no âmbito de uma operação que envolveu a Liga dos Combatentes, o Ministério da Defesa, a Universidade de Coimbra e o Instituto de Medicina Legal. Uma equipa liderada por Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra, procedeu ao levantamento e identificação das ossadas entre 7 e 21 de Março de 2009 e posteriormente, após as análises genéticas, trasladadas para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga dos Combatentes).

Os restos mortais de alguns desses camaradas, (os que viriam a ser reclamados pelas famílias, nomeadamente o Machado e o Telo, d’Os Marados, o Geraldes e os três pára-quedistas já referidos anteriormente) foram trasladados para os cemitérios das respectivas terras de origem.

As trasladações ficaram a dever-se ao trabalho empenhado de diversas pessoas e entidades, a quem se deve um agradecimento mais do que justo.

É o caso da União Portuguesa de Pára-quedistas (UPP, dirigida pelo major-general pára-quedista Avelar de Sousa, na reserva) que desde o início assumiu a responsabilidade das despesas para transladar os corpos dos três pára-quedistas e dos militares do exército reclamados pelas respectivas famílias. A par da Liga dos Combatentes, foram mobilizados apoios diversos que se revelariam decisivos para as trasladações sem envolver financeiramente as famílias, mormente junto de uma empresa funerária e da TAP Portugal.

No que diz especificamente respeito a José Lourenço, de Fornos, Cadima, foi efectuada uma campanha de recolha de fundos pela Associação de Veteranos de Guerra da Região Centro (sede em Cantanhede).

Manuel Godinho Rebocho, ex-sargento pára-quedista que foi operacional na Guiné, (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje sargento-mor pára-quedista na reserva, entretanto doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975"), ao aproveitar inteligentemente o lema dos páras “ninguém fica para trás”, empenhou-se neste objectivo e incentivou a campanha pró-trasladação. De facto, se existem 4.000 sepultados em cerca de 400 lugares nas ex-colónias, das quais, 1250 nascidos nas actuais fronteiras de Portugal, o mediatismo da Batalha de Guidaje e a campanha que a partir de determinada altura foi feita no mesmo sentido, terão contribuído para que fossem estes, e não outros, os primeiros corpos a serem oficialmente exumados e trasladados para Portugal.

Também as Câmaras Municipais de Cantanhede, Castro Verde, Vila do Conde, Vimioso, Calheta e Valpaços manifestaram (e concretizaram) apoios para o sucesso da operação.

A missão da Liga dos Combatentes é levantar os corpos que se encontram dispersos por esses matos fora e colocá-los em cemitérios que tenham dignidade, zelando pela manutenção dos mesmos. É uma tarefa tão nobre quanto morosa, difícil e dispendiosa. E igualmente insuficiente, pois aquilo que o Estado Português deve fazer é providenciar (e custear por inteiro) a devolução desse corpos às famílias, excepto se estas decidirem em contrário! Urge criar-se um movimento de ex-combatentes, e não só, que arrume a questão de vez, quanto aos mortos que jazem além-fronteiras, especialmente em solo africano. Sendo verdade que existem centenas de casos desde a 1.ª Grande Guerra (Bélgica, etc.) a que a Liga quer deitar mãos, o facto é que quase ninguém se lembrará hoje em dia de reivindicar esses corpos para fazer funerais aos tetravós. Mas aqueles, cujos pais (irmãos, filhos, outros familiares e amigos) ainda estão vivos, têm de merecer um outro tratamento. Os que caíam na guerra até 1968 não vinham, ficavam em cemitérios militares, salvo se as famílias cobrissem as despesas (mais uma vez a protecção aos mais poderosos, aos de maior poder económico). Porém, os cemitérios, ou talhões militares, normalmente nas capitais de distrito ou de província, eram minimamente decentes e cuidados, não o lamaçal do mato. Depois de 1969, creio que após a morte de Salazar, o Estado passou a custear o regresso dos mortos salvo, quando por razões operacionais, foi de todo impossível fazê-lo, como em Guidaje. Mas, por exemplo, com que coerência pode o Estado negar os encargos da trasladação do Telo e do Machado, se providenciou em devido tempo a entrega à família do corpo do soldado Jorge Gonçalves, que morreu em consequência da mesma granada e no mesmo abrigo? (A diferença foi que o Gonçalves sucumbiu aos ferimentos mais algumas horas e ainda conseguimos transportar o seu cadáver para Bissau, enquanto que Telo e Machado tiveram o destino que é conhecido).


Bibliografia

A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961/74), Dalila Cabrita Mateus, 2004, Terramar.

Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2, Estado-maior do Exército, 2001, Comissão para o Estudo das Campanhas de África.

História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, PAIGC – 1974, Afrontamento

Crónica da Libertação, Luís Cabral, Edições O Jornal/1984

Textos Políticos de Amílcar Cabral Cadernos Maria da Fonte

Guinée “Portuguaise”, Le Pouvoir des Armes, Amílcar cabral, Cahiers Libres, 1970

Comemorações Centenárias da Guiné – Discursos e Alocuções, Eng.º Ruy de Sá Carneiro (Subsecretário de Estado das Colónias), Agência Geral das Colónias, 1947

A Libertação da Guiné, Basil Davidson, Penguin Books, 1969 e Sá da Costa, 1975

Os Congressos do Povo da Guiné, Manuel Belchior, Arcádia, Agosto de 1973

Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? José Pedro Castanheira, Relógio d’Água, 1995

Três Tiros da PIDE, Oleg Ignatiev, Prelo

Amílcar Cabral, Oleg Ignatiev, Edições Progresso (Moscovo)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

vários testemunhos e depoimentos, entre os quais:

ex-furriel miliciano José Afonso, da CCav3420

ex-primeiro-cabo pára-quedista Victor Tavares, da CCP 121

ex-1º cabo comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) Amílcar Mendes (Brá, 1972/74)

ex-primeiro-cabo Manuel Marinho, da 1ª companhia do BCaç 4512 (Nema)

ex-coronel Pilav Miguel Pessoa (reformado)

ex-comandante do navio Orion, Pedro Lauret

Guerra Colonial/Associação 25 de Abril

http://www.blogger.com/www.balagan.org.uk/war/portuguese-colonial-war/cazadores4512.htm (sítio do BCaç 4512)

http://www.blogger.com/www.guerracolonial.org

http://ultramar.terraweb.biz/

http://guerracolonial.home.sapo.pt/

http://ci.uc.pt//cd25a/wikka.php?wikka=guerracolonial

http://www.blogger.com/www.rtp.pt/guerracolonial

http://www.blogger.com/www.ensp.unl.pt/lgraca/guine_guerracolonial_historia.html
__________

Nota de CV:

Vd. todos os postes da série de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518