quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6916: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (1): Quando o Partido dizia que logo que colon vai embora a gente não trabalha mais

1. Texto do António Rosinha, com data de 27 de Agosto p.p.:


Assunto - Os contratados no tempo colonial e a luta que continuou

MONANGANBÉÉÉ

(...)

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

(...)
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande,
ter dinheiro
- Quem?

Ruy Mingas


OS MENINOS DO HUAMBO

Os meninos à volta da fogueira

Vão aprender como se ganha uma bandeira


(...)

Autor: Ruy Mingas foi embaixador de Angola, músico, autor, recordista de salto em altura português em Luanda e atleta do Benfica e estudante em Lisboa.(MPLA).

Assisti numa tarde de um sábado em Luanda, no estádio dos coqueiros, ser batido o recorde de salto em altura português.

Apenas sei qual o dia da semana, sei que foi Rui Mingas, e o seu treinador era um velhote angolano, antigo olímpico português, Demóstenes de Almeida. Foi 1,91 m, os espectadores bateram palmas, e passado pouco tempo uma mulher romena saltava 2,00m. Claro que tudo isto é tambem notícia de jornal.

O ano que foi, sei que foi antes dos massacres de 1961 no norte de Angola. Talvez 2 anos antes.

Rui Mingas e eu tinhamos por aí uns 20 anos, e mal conhecíamos Angola, só que além do que ele teria aprendido no liceu, sabia a lingua materna dele, talvez umbundo ou quimbundo. Portanto, sabia muitíssimo.

Ele veio para o Benfica e eu fui trabalhar por toda Angola, a fazer mapas iguais aos da Guiné do
cartógrafo-mor Humberto Reis.

Tenho a dizer que mal cheguei a Angola, pouco tempo antes em 1957, arranjei imediatamente emprego nos Portos e Caminho de Ferro, por causa do desporto. Ocupei uma vaga de um ponta esquerda do Ferrovia, que veio para o Belenenses e como ele era praticante de escritório no Porto de Luanda eu aproveitei a vaga (no porto).

Esse ponta esquerda angolano, Catete de seu nome, já era como todos os portugueses de Angola (com direito a voto), pela independência.

Entretanto mudei para os Serviços Geográficos e aí conheci e tive ao meu serviço muitos "negros contratados" e durante vários anos, e de muitas regiões de Angola, e percorri toda a terra dos "meninos do Huambo". E conheci todas as fronteiras de Angola e contactei com etnias e tabancas onde nunca tinha chegado nem missionário nem chefe de posto nem comerciante nem sabiam quem era Che Guevara nem sabiam que havia um novo recordista de salto em altura (e não era de costas como hoje).

Tambem sei que aquelas etnias e aquelas fronteiras e aqueles "meus contratados" e aqueles meninos que moravam no Huambo e eu vi em paz à volta da fogueira, eram desconhecidos para Rui Mingas e Agostinho Neto e Lúcio Lara e Pepetela...porque estes eram novos e não havia estradas nem mapas para lá chegarem.

Era mais fácil chegar a Paris, Moscovo ou Copenhague ou Nova Yorque do que àqueles lugares. E não eram tão cus de Judas, como muita gente pensa!... Embora mais tarde conhecessem,  mas de avião MIG e carros de combate durante 27 anos.

Eu apenas falo em MPLA, FRELIMO e PAIGC, porque eram os únicos movimentos onde pontificavam os "portugueses" mais preparados para dar o "GRITO DO IPIRANGA". Mas esse grito tinha que ser ouvido por todos os angolanos,  guineenses e moçambicanos. E não como o "Grito do Boé" que ficou só entre certas paredes. (Moscovo, Cuba, ONU...). E era muito cedo pois havia um barulho ensurdecedor naquele tempo, o que podia dar confusão, com ainda deu. Só que não devia ter sobrado tanto esforço para os Guineenses, como dizia o meu amigo Balanta de Kiev.

Ainda está por avaliar o efeito de "amortecedor" que teve o esforço conjunto do exército português e dos comandos africanos, para salvar aquelas várias e enormes fronteiras, muito impróprias geograficamente para certos vizinhos, e até para proteger e adiar o assassinato de mais que um dirigente revolucionário.

A quem fala como eu, diziam os revolucionários do 25 de Abril, muito politizados, que vão aparecer uns saudosistas e reaccionários que nos vão acusar se alguma coisa correr mal. Mas, como já assistimos a tantas justificações que passam por cima de toda a folha, posso falar sem complexos.

Eu falo,  no início do poste, de "contratados" (trabalho forçado, captazes, chicote... ), que talvez quem passou apenas os vinte e tal meses na Guiné, não tenha conhecido, que era um problema social debatidíssimo na ONU contra Portugal assim como nas rádios de Leste, naqueles anos de luta, e nos "meninos do Huambo", que cantam muito bem tanto Mingas como Paulo de Carvalho, para terminar com uma transposição para a Guiné destes assuntos (anos 60) vistos pelos guineenses do povo, no ano de 1993.

Então foi assim. Em 1993 foi a abertura política imposta pelo FMI e Banco Mundial a Bissau e foram criadas empresas privadas, por exemplo empreiteiros.

E aquilo que o Estado fazia, só com muitos funcionários, passou para os empresários que contratavam esses funcionários, que, logicamente tinham que produzir alguma coisa. Só que, temos aqui o busílis: «Então o Partido dizia que logo que o colon vai embora não trabalhamos mais!» (Isto para mim não foi "uma frase do dia",  foi uma frase de anos).

Como agora os empreiteiros (patrões) não eram "brancos prósperos com barriga grande", e toda a gente sabia que eu tinha sido colon, e estava ali apenas como técnico, pediam-me conselho como pôr aquela gente a trabalhar.  (Um dia, posso dar uma explicação a quem nunca soube o que era um "contratado negro"  no tempo colonial, com todos os lados positivos ou negativos que participei ao vivo).

Sobre os Meninos do Huambo, traz-me à memória a guerra que houve naquela região em Angola entre UNITA e MPLA, de vida ou morte, e traz-me à memória uma insistência de Amílcar Cabral, na atenção que tinha que ser dada às crianças, que eram «As flores da nossa luta». E, durante vários anos, por vários motivos tive que entrar nos dois hospitais de Bissau, e aí soube que os filhos de ministros vinham nascer a Lisboa...ou a Paris, tal a degradação.

P. S. - Peço desculpa, de quando falo do meu amigo Balanta de Kiev, não dizer o nome, mas tenho intenção de transmitir um abraço a uns amigos de Bissau, mas através de Cherno Baldé a quem os irei identificar, inclusive esse amigo de Kiev, logo que apanhe o e-mail do Cherno.

Acho que não devo dizer aqui os nomes deles.

Cumprimentos
Antº Rosinha

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Mais Velho, como há dias te chamou o mano Nelson Herbert... Gosto da expressão, muito mais do que colon, retornado, e por aí fora...Já é altura de teres a tua "coluna", ou "série" no nosso blogue... Afinal de contas, és um tabanqueiro sénior, um amigo e um camarada que já viveu tempo suficiente em África para poder falar de cátedra sobre a vida, a África, a África  nossa e dos outros,  a guerra colonial, etc. (*)...

Pelo menos formalmente já estás na nossa tertúlia (hoje Tabanca Grande) desde 29 de Novembro de 2006. Acabaste por aceitar o nosso convite, depois de insistências minhas, do Vitor Junqueiro e do Amílcar Mendes ... Lembras-te ?  Tu tinhas as tuas resistências mentais: gostavas de acompanhar o blogue mas não te querias assumir como tertuliano de pleno direito... Afinal, a tua guerra fora Angola, 1961... A Guiné veio depois, muito depois, já no pós-independência, como topógrafo da Tecnil (empresa de resto que eu conheci em 1970, já que fiz muitas vezes segurança aos trabalhos de construção da nova estrada Bambandinca-Xime ou Xime-Bambadinca)..

Em boa hora aceitaste juntar-te a esta comunidade de amigos e camaradas da Guiné. Participaste inclusive no nosso II Encontro Nacional, em Pombal, em 2007 [, foto à direita].  Por outro lado, és um membro activo do blogue, como se pode avaliar pelas tuas quase sempre oportunas, muitas vezes críticas e sobretudo originais contribuições para a (re)construção das nossas memórias...

Em resumo: não precisas de mais pergaminhos para poderes assinar a tua série... Como é que se vai chamar ? Dei-lhe um título (provisório, poderás alterá-lo em qualquer momento): Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha). Parece-me bem mas tu e os nossos leitores dirão de sua justiça...  Agora é altura de te desejar boa viagem...

PS1 - Mais Velho Rosinha, podes ouvir aqui, na voz (poderosa) do Ruy Mingas,  o Monangambé (contratado), letra do poeta angolano António Jacinto, tarrafalista,  militante do MPLA, (Poemas, 1961) (Luanda, 1924-Lisboa, 1991)1 (letra integral, aqui).

PS2 - Aqui tens o e-mail do Cherno (de retso, disponível no blogue): chernoabalde@gmail.com

PS3 - Em troca dos poemas e poetas que citaste, aqui fica um meu, que escrevi em Luanda, em Setembro de 2004...Os meninos da Ilha de Luanda

os meninos da ilha de luanda
são filhos de pescadores
são filhos de náufragos
são filhos da deriva dos continentes
são filhos bastardos da guerra e da paz
são filhos dos sonhos do dia e dos pesadelos da noite
são crisálidas
são puras formas de ser
são filhos dos homens
que nunca foram meninos

pergunto-me
como é que eles poderão um dia
chegar a ser homens

Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Setembro de 2004
 ____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:
  

Guiné 63/74 - P6915: Parabéns a você (146): Arlindo T. Roda, ex-Fur Mil At Inf, 3º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), professor do ensino secundário em Setúbal, 63 anos, grande damista... ( Ruaz Ramos / Luís Graça)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12  (1969/71) > Progressão das NT numn a bolanha abandonada ou lala, no decurso de uma operação no subsector do Xime, de Mamsambo ou do Xitole (já não posso precisar)... Em primeiro plano, à esquerda, vê-se o Fur Mil At Inf Arlindo T. Roda, o Alf Mil At Inf Op Esp Francisco Magalhães Moreira (comandante do 1º Gr Comb e segundo comandante da companhia)   e a seu lado, provavelmente Sold 82105369 Mamadu Silá (Ap LGFog 3,7), fula, da 2ª secção (habitualmente comandada pelo Fur Mil At Inf Joaquim João dos Santos Pina, natural de Silves)...Não sei o que é que o Roda fazia aqui: ele comandava a 2ª secção do 3º Gr Comb (dp Alf Mil Abel Maria Rodrigues)



Destacamento do Rio Udunduma > 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12, no "refeitório":  Na foto reconheço, à esquerda, o 1º Cabo  Carlos Alberto Alves Galvão (que vive na Covilhã) e o Alf Mil Abel Maria Rodrigues, transmontano de Miranda do Douro; à direita o Arlindo T.Roda (da 2ª secção; 1º Cabo 1º António Braga Rodrigues Mateus...É possível que a foto tenha sido tirada pelo funchalense Fur Mil José Luís Vieira de Sousa (da 3ª secção; 1º Cabo José Jerónimo Lourenço Alves)...  Alguém que me ajude a identificar os dois outros camaradas...




No cais de Bambadinca (se não me engano...), da esquerda para a direita, três camaradas da CCAÇ 12, o Roda, um condutor (cujo nome não recordo) e o Zé Vieira de Sousa (madeirense) 


No Xime,  o António Marques (4º Gr Comb) e o Arlindo Roda (3º Gr Comb),ambos furriéis da CCAÇ 12,  junto ao monumento com o brasão da CCAÇ 1550 (1966/68)....  Esta subunidade estivera antes em Farim, Binta, Guidage; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo; no subsector do Xime, teve tropas destacadas em Dembataco, Samba Silate, Ponta do Inglês, Taibatá... mas também Candamã (mais tarde integrada no subsector de Mansambo, aquartelamento construído em 19689) e Galomaro... Fui tantas vezes ao Xime mas não me lenbro deste monumento.


O Arlindo na intimidade d o seu quarto, em Bambadiunca, ou melhor, camarata partilhada por uma meia dúzia de furriéis (da CCAÇ 12 e outras subunidades)... Ao fundo vê-se um beliche, o queria dizer que já havia falta de espaço nas instalações para sargentos. Nos tempops de lazer (que eram poucos para operacionais como eu e ele), o Roda passava um bomn bocado a jogar ao king e à lerpa... Eu, como nunca fui jogador, não posso jurar se ele era bom ou mau joagdor... Talvez o Humberto Reis possa opinar sobre esta matéria...


O Arlindo fotografado no presépio montado em Bambadinca, possivelmente no Natal de 1969, no primeiro ano da CCAÇ 12.




As crianças de um tabanca fula em autodefesa (Candamã, garante o Torcato Mendonça): um dos temas que se repete no seu álbum fotográfico...




O Arlindo no Saltinho... A CCAÇ 2406, Os Tigres do Saltinho, 1978/70, pertencia ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca).



Coluna logística com forças da CCAÇ 12 na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole- Saltinho... As subunidades aqui destacadas (Mansambo, Xitole e Saltinho) eram,em 1969, abastecidas a partir de Bambadinca. 



O Roda junto a uma viatura, civil, sinistrada na estrada Bambadinca-Mansambo -Xitole (e não me engano...). Era frequente recorrer-se a viaturas civis que integravam as colunas de reabastecimento a Mansambo, Xitole e Saltinho,com escolta da CCAÇ 12.



A 2º secção do 3º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) era constituída, além do Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda e do 1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus,pelos seguintes soldados (de etnia fula ou futa.fula):  Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F); Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F); Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF); Sold 82110169 Madina Jamanca (F).



O Arlindo bebendo, à fula,  a água pura e cristalina (garante o Torcato Mendonça) de um ribeiro, próximo de uma tabanca fula em auto-defesa (Candamã)... Era frequente a CCAÇ 12 ter uma ou mais secções destacadas em aldeias fulas do Sector L1...

Fotos: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Legendas de L.G.


1. O Arlindo Teixeira Roda, ou Tê Roda, Tê Pousos (referência à sua terra natal) ou simplesmente Roda era Furriel Miliciano Atirador de Infantaria, da CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), composta por quadros e especialistas e praças do recrutamento local.  Já não o vejo desde o primeiro encontro do pessoal de
Bambadinca (1968-1971),  CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas...

Esse encontro foi em Fão, Esposende, em 1993, se a não não me atraiçoa. Tenho sabido dele através do nosso amigo comum Benjamin Durães, o qual há uns meses atrás me surpreendeu com um CD contendo os famosos  "slides" do Arlindo que ele fez questão de oferecer ao nosso blogue. É um notável espólio fotográfico que temos vindo a divulgar.  Mas ainda não consegui falar, ao telefone, com o meu camarada e amigo Arlindo Tê Roda a agradecer-lhe e a solicitar a sua autorização para incluir o seu nome na nossa lista de tabanqueiros...

Entretanto descobri, há tempos, uma outra faceta do meu camarada da CCÇ 12: a de grande damista (jogador de damas clássicas, além de seccionista e dirigente de associações ligadas a esta modalidade desportiva) ...

Achei muito piada à entrevista que lhe foi feita no blogue Damas Clássicas,  que reproduzo aqui na íntegra, com a devida vénia ao autor e ao blogue Damas Clássicas.... Nesse "retrato de família" feita por outro damista, Ruaz Ramos,  vim a saber que o Arlindo faz anos no primeiro dia do mês de Setembro, ou seja, hoje... Já lhe conhecia, de Bambadinca, a faceta de jogador de king e de lerpa e, claro, o seu feito determinado, emotivo, lutador... Era um excelente camarada que gostava de fotografia (que publico hoje mais uma bela selecção, com legendas minhas).

Anseio por voltar a abraçá-lo Espero que ele responda positivamente ao meu convite para passar, de pleno direito, a integrar  a nossa Tabanca Grande. Hoje envio-lhe, de Candoz onde estou a passar o resto das minhas férias escolares, um grande abraço de parabéns pelo seu aniversário de nascimento. Muita saúde e longa vida, são os votos dos demais amigos e camaradas da Guiné.


 2. Entrevista, por Ruaz Ramos:


Nome: Arlindo Teixeira Roda
Local de Nascimento: Pousos, Leiria [e não Setúbal, como diz o entrevistador, e que é o local onde o Roda reside e trabalha há muito]
Data do Nascimento: 01-09-1947
Profissão: Professor (Ensino Secundário)
Estado Civil: Casado
Filhos: Dois, do sexo feminino

Currículo Damista: Campeão Nacional Equipas– INATEL (8); Sub Campeão– INATEL (2); Seccionista do Círculo Cultural, do CDCR, de Os Manos, do Scalipus; Coordenador de Damas – INATEL (79/86); Organizador do Open Cidade de Setúbal; Membro Comissão Promotora da FPD; Ex - Presidente Associação de Damas de Setúbal; Vice - Presidente da FPD.


Mais uma fotografia [, acima,] que deixa transparecer alguns traços marcantes de um “carola” que se tem esforçado ao longo dos tempos por promover as Damas Clássicas na cidade de Setúbal e não só... Foi tirada em Coimbra, durante o I Encontro Norte – Sul.  Muito irrequieto, sempre a dirigir palavra a este e àquele, o nosso convidado lá foi respondendo às questões.

Há pouco tempo pensávamos que o entrevistaríamos enquanto Presidente da FPD.

É verdade. Depois de ter recusado por várias vezes o convite que a nível nacional me vinha a ser feito, decidi avançar, por não se ver alternativa. Mas, após uma longa conversa com o anterior - e actual - Presidente, chegámos a acordo em que ele continuaria e eu assumiria a Vice- Presidência, para ir fazendo a rodagem. A restante Direcção é composta por amantes da modalidade e espero que a Federação atinja os principais objectivos: dignificar as Provas Oficiais, apoiar os Torneios Abertos e angariar Novos Federados. Entretanto, teremos de ir construindo uma estratégia, para que a médio prazo, se consiga captar a juventude. Tarefa que só realizaremos se houver damistas que actuem nas suas terras, como pontas de lança.

Sabemos tratar-se de um homem que sempre esteve ligado ao desporto, em geral.

Comecei pelo Xadrez e jogo Bridge e King. A nível do Desporto Escolar - dependente do Ministério da Educação - sou coordenador de Xadrez e Damas e através da Câmara de Setúbal também coordeno um projecto de Desporto nas Escolas Primárias. Por outro lado, ambas as filhas treinam e jogam Basketball e praticam Canoagem e o meu genro é Técnico de Desporto. Como vê pertenço a uma família de desportistas. Só a mulher é que escapou.

Pensamos que a grande parte dos damistas conhecerá essa sua família já que, quer a sua mulher quer as filhas o ajudam na organização do Open da Cidade de Setúbal.

É tal como diz. No dia da prova toda a família colabora; desde a recepção das equipas até à introdução dos resultados no computador. Mas o trabalho começa de véspera, na preparação do material e no carregamento dos dados referentes ao funcionamento do sistema suíço. Felizmente que nunca tive problemas por me dedicar ao jogo das Damas. Todos gostam da modalidade e são mesmo as minhas filhas quem mais me incentivam a prosseguir. Uma delas, quando me encontro a disputar alguma prova telefona-me a saber do andamento das coisas. Mas aos fins de semana também as acompanho nas suas provas, vou dar uma forcinha.

Dado que desempenha diversas funções, a nível de instituições damistas, deverá ter uma opinião muito abalizada sobre o futuro da modalidade. Que perspectivas existem?

No que respeita ao trabalho desenvolvido com as escolas, a experiência diz-me que o número dos miúdos que optam entre Damas e Xadrez é muito idêntico. As crianças entusiasmam-se bastante com o jogo e os dois monitores que colaboram comigo estão motivados. Pena é que nas Damas o trabalho seja infrutífero pois não existem ainda estruturas, como já há no Xadrez, que desafiem os valores mais promissores a prosseguir. No referente aos adultos, tenho expectativas positivas sobre o progresso da modalidade em Damas Clássicas - falo mais destas do que das Internacionais porque é aí que desempenho todas as minhas funções.

Como já disse, a equipa federativa parece-me muito promissora e tenho esperança de que as Associações comecem a dinamizar a sua intervenção. Na de Setúbal era eu o Presidente mas agora tive de abdicar porque era incompatível com o cargo federativo. Passei a pasta ao Artur Gomes, do Charnequense, que me substituirá. É claro que da parte dos damistas se exige que não vejam apenas os seus interesses pessoais e colaborem com aqueles que, muitas vezes, se prejudicam em prol desses mesmos. É imprescindível que se federem e tragam outros damistas para a Federação cuja Direcção defende total imparcialidade e defesa da verdade desportiva. Nada de divisões de qualquer ordem. Nem Clássicas/Internacionais nem Norte/Sul nem Livre/Sorteada. Damas e nada mais.

E o seu percurso damista como decorreu?

De forma natural. Comecei a jogar Damas a sério quando um dia, acompanhado por um amigo, entrei num Café onde dois jogadores se defrontavam, rodeados por mais de uma dezena de mirones. Eu já tinha ganho vários jogos em Leiria, numa Tasca que era de um tio meu. Olhei para o Tabuleiro e num relance vi que o jogo estava perdido para o jogador a quem competia jogar. Fiquei , pois, admirado por o damista ficar a pensar uma data de tempo e comentei para o meu amigo que aqueles damistas não jogavam nada. De repente o jogador entregou um peão e eu pensei para comigo: “ Até que enfim! Começaste a entregar-te. ” Mas após o lance seguinte olhei para a posição e vi que afinal o jogo estava ganho! Então o outro devolveu o gambito e jogou. Olhei novamente e reparei que tudo voltara à primeira forma. Disse ao meu amigo que fosse andando; eu já não saía dali antes do jogo terminar … Novo gambito e contra gambito e o jogo terminou, passados três quartos de hora, empatado.

Foi nesse dia que percebi que nunca tinha jogado “Damas” e que a modalidade era maravilhosa. Depressa, senti que era necessário haver alguém que se preocupasse com a parte organizativa e passados dois anos levava por diante o Campeonato de Setúbal, com a participação de quarenta damistas. Fui Seccionista de diversos clubes saltando de uns para outros, na busca de melhores condições e fui protelando a minha aprendizagem. Não gosto de estudar por livros e tudo o que sei foi aprendido no Tabuleiro. Vivi sempre rodeado por jogadores de primeira água e já estive presente em cinco Finais do Campeonato Nacional. Mas é indubitável que o meu nome está mais ligado à organização que à competição em si.

Pensa ser uma pessoa consensual ou será tida como uma personagem polémica?

Sou um indivíduo que gosta imenso de conviver e de se dar com todos. Mas reconheço que sou demasiado emotivo. Parece que a paciência me falta cada vez mais para enfrentar as situações e até para as Damas. Prefiro jogar rápidas a ter que pensar muito tempo e, pelo mesmo motivo, sou incapaz de participar num torneio de soluções. Este meu feitio torna-se desvantajoso para os outros e para mim próprio. Tenho os nervos à flor da pele e provoco tempestades num copo de água. Depois peço desculpa às pessoas mas se calhar não chega.


Quer aproveitar a oportunidade para comunicar algum aspecto que julgue importante?

Quero apelar a todos os damistas para que pensem um pouco no colectivo de que eles próprios usufruem e ajudem a modalidade dentro dos Clubes e das Associações em que se inserem, participando em todo o género de provas oficiais. E que tragam novos sócios!

PS: Arlindo Roda participou na Fase Final do Campeonato Nacional Individual por 6 vezes, é actualmente o Presidente da Associação de Damas de Setúbal (ADS) e seccionista da Capricho Setubalense e continua a organizar dois Torneios regulares da Cidade de Setúbal: o Torneio 25 de Abril (que tem normalmente lugar nessa data histórica) e o Open da Cidade de Setúbal que já vai na sua XIII edição.

Desde que deu esta entrevista foi: (i) Duas vezes Campeão Distrital; (ii) Vencedor de Cinco Torneios Abertos e da Taça de Portugal (2002).

Fonte:  Blogue Damas Clássicas  > 24 de Junho de 2005  Retrato de Família – 5. Por Ruaz Ramos
  http://damas.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_06.html (Com a devida vénia...)

[ Revisão / fixação de texto / destaque a cor / bold  / título: L.G.]

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6913: Em busca de... (141): Informações sobre o meu pai, Juvenal Frutuoso Fernandes Dantas, Sold At Inf, CCAÇ 3518, Gadamael 1972/74 (Juvenal Dantas)


Álbum fotográfico de Daniel Matos  > Foto 89a > Alguns dos soldados da Companhia [, CCAÇ 3518], numa aula da 4.ª classe... Apesar dos enormes sacrifícios e das más condições de aprendizagem, quase todos a concluiriam, vindo a ser aprovados no exame que mais tarde fariam na Escola Primária de Bafatá.


Foto:  © Daniel Matos (2009). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem de Juvenal Dantas

Data: 29 de Agosto de 2010 15:08
Assunto: Camaradas da Guiné, solicitação de Informações


Olá,  boa tarde, tudo bem?
Após uma pesquisa na internet, encontrei este blog

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/05/guine-6374-p6351-os-marados-de-gadamael.html

Para meu espanto encontrei o nome de Juvenal Frutuoso Fernandes Dantas, soldado atirador, que é o nome do meu falecido pai.

Vocês por acaso têm mais alguma informação sobre este senhor, fotos, documentos, etc.???

É que eu estaria muito interessado em obtê-las.

Fico a aguardar uma resposta vossa. Melhores cumprimentos,

Juvenal Dantas


2. Comentário de L.G.:

Meu caro Juvenal:  Procure contactar o camarada de seu pai, ex-Fur Mil Daniel Matos, autor do poste citado por si, publicado no nosso blogue.   Sobre a CCAÇ 3518, temos de resto muito mais referências (cerca de 3 dezenas)... Veja inclusive o Álbum Fotográfico do Daniel Matos.  Veja também o descritor Gadamael

Desejo-lhe boa sorte nas suas pesquisas sobre as memórias do seu pai. Procure mais informações sobre ele na sua caderneta militar. Mande-nos inclusive uma foto dele, digitalizada, de modo a poder ser mais facilmente reconhecido pelos seus antigos camaradas. É possível até que a sua mães guarde aerogramas e cartas escritas por ele. Nesses documentos pode haver referências a outros camaradas, amigos dele. Por exemplo, como ele era comhecido ? Dantas ? Ou tinha alguma alcunha ?  Dê.nos mais informações sobre o seu pai: terra onde nasceu, terra onde residia antes de morrer, data em que morreu, etc.

O Daniel Matos limitou-se a listar os nomes e os postos dos militares que compunham a CCAÇ 3518. Os nossos leitores irão também ajudá-lo nesse meritório trabalho de pesquisa sobre a história do seu pai por terras da Guiné (*).

_____________

Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P6912: Controvérsias (104): O caso António Lobo Antunes: Apesar de um pouco de todos nós ter morrido na guerra... que haja paz! (JERO)

A1.  Mensagem do JERO [, foto à direita], com data de ontem:

Caro Comandante



Ainda de São Martinho do Porto envio-te, em fim de férias, uma "actualização" do caso António Lobo Antunes [, ALA]. A versão é minha feita com o auxílio de algumas "peças" do nosso blog a que darás o destino que entenderes.


Cumprimentos a tua mulher e um abraço para ti do tamanho da Baía.


JERO


A2. Lobo Antunes e as “metáforas”… “Os factos não interessam nada”…
por JERO

Finalmente parece que está encontrado um caminho para a paz na “guerra” entre Lobo Antunes e os ex-militares (Expresso, de 28 de Agosto de 2010).

Recordamos resumidamente algumas das “peças” desta história da vida real, que incomodou sobremaneira o mundo dos ex-combatentes onde nos incluímos.

1- O tenente-coronel do Exército Carlos Matos Gomes, que escreve sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, classificou recentemente como «fantasias e delírios» as declarações do escritor e ex-combatente António Lobo Antunes sobre a guerra colonial.

Lobo Antunes descreveu um cenário de barbárie causado pelos militares portugueses na zona de Angola onde cumpriu comissão de serviço na guerra, numa das entrevistas que integram o livro Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes.

Descontente, um grupo de ex-combatentes, oficiais na reforma, quis processar o escritor por «atentado à honra e dignidade dos militares», tendo apresentado ao chefe do Estado-Maior do Exército uma petição nesse sentido.

A possibilidade de se avançar para um processo-crime foi rejeitada, por se tratar de uma «obra de ficção», noticiou recentemente o semanário Expresso, segundo o qual os militares admitem dar «um par de murros em público» ou «ir ao focinho» do escritor, a quem chamam ainda «bandalho» e «atrasado mental».

2- Uns meses antes -18 de Novembro de 2009- o comentário do meu “irmão de armas” Mexia Alves no blog do nosso “Luís Graça e Camaradas da Guiné” (P 5292) começava assim «…apenas vos digo que isto deve ter sido das coisas que mais me insultou como ex-combatente da guerra do Ultramar.

«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».

(…) Mas são sobretudo estas duas frases que me indignam, «E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros», porque faz dos militares portugueses um bando de assassinos frios e sem piedade, o que nós sabemos nem de longe nem de perto corresponde à verdade.

(…) Abraço camarigo para todos. Joaquim Mexia Alves

3- Aconteceram muitos e variados comentários de outros ex-combatentes.

Pela sua importância destacamos o comentário do nosso Editor Luís Graça que, entre várias considerações, referia então:

«As infelizes frases ditas, no estrangeiro, por um escritor de que eu sou leitor(…), reportam-se à sua condição de médico militar durante a guerra colonial e, nessa qualidade, não nos podem deixar indiferentes, dizem-nos também respeito... Em todo caso, não podem ser usadas como título de caixa alta, postas entre parênteses, fora de contexto, muito menos como libelo de acusação para linchamento do homem e do escritor em praça pública... Há que ler o livro e inserir essas e outras frases no contexto da experiência do autor que era, antes de mais, um oficial miliciano e só depois médico e só mais tarde escritor (em 1985, torna-se escritor profissional, abandonando a psiquiatria)... Deixo aqui outras frases do livro, o qual resulta - é bom não esquecê-lo! - de uma longa conversa com o Lobo Antunes, mantida pelo jornalista João Céu e Silva (que é, de facto e de jure, o AUTOR DO LIVRO!), entre Setembro de 2007 e Maio de 2009:


(...) [JCS] Dessa guerra há um dia que o tenha marcado mais do que todos os outros ?


[ALA] Há o dia 13 de Outubro de 1972, mas não posso dizer porquê. Foi uma violência, nunca vou esquecer esse dia! (p. 111)... (...) Eu nunca quis falar nem nunca escrevi sobre a guerra! (p. 110)... Há dias, tive uma conversa com um amigo... e recordei algumas coisas da tropa, o resultado foi que passei uma noite má. Acho que não há quem não tenha vindo de lá afectado (p. 111)...


Qual é esse terrível segredo que o escritor tem guardado, até hoje, só para si? E que não quis compartilhar com o João Céu e Silva (p. 391) ?... Aliás, essa "declaração inédita", esse terrível parágrafo que começa pelas terríveis palavras "Eu tinha talento para matar e para morrer"... podem ser "parte da solução do mistério sobre um certo episódio em África que se recusou a revelar-me" (sic) ... E, se for de facto assim, é um daqueles segredos que o homem leva para a cova , e não apenas uma manifestação da imaginação delirante do autor de "Memória de Elefante" (1979) ?

De resto, as declarações do veterano da guerra colonial de Angola podem levantar (levantam, seguramente) uma questão ética, que tem ver com ambiguidade, confusão e conflito de papéis a que o Lobo Antunes também não escapa, como ser social: onde acaba a consciência moral do homem, do militar e do médico e começa a liberdade criativa do escritor ? (…) Não sou advogado do escritor, muito menos do homem. E quero sobretudo reafirmar aqui um dos nossos princípios fundamentais, a (ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus), princípio esse que tem que ser compatível com o (i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem)...

4 - Voltando à actualidade (e ao Expresso de 28 de Agosto) a divulgação da troca de cartas entre António Lobo Antunes e o General Chito Rodrigues (Presidente da Liga dos Combatentes) somos surpreendidos pela novidade de que o escritor só se apercebeu da polémica – que dura há meses - durante o último fim de semana. E porquê ?

Porque não é um homem do seu tempo... A responsabilidade da afirmação é nossa e resulta do facto do próprio escritor reconhecer que «…não compro jornais, não tenho computador, não vejo televisão, nem vou à Internet».

E finalmente admite uma falha no relato que faz nas suas memórias de guerra. «Deveria ter dito que cada companhia teve 150 baixas e que cada batalhão teve 600 baixas”, porque, explica,«um pouco de todos nós, no melhor dos casos, morreu na guerra».

Aqui entendemos e subscrevemos.

«…Falou (fala) da guerra como fala da sua vida pessoal” de maneira completamente metafórica”, porque “os factos não interessam nada” e é preciso ver “a natureza e a verdade mais profunda das pessoas”.

Fica por esclarecer «…o sistema por acumulação de pontos entre os soldados ganhos com a morte dos velhos e crianças…».

Será com certeza mais uma metáfora que, na nossa opinião de ex-combatente, é, no mínimo, de extremo mau gosto…

Lobo Antunes não está acima da crítica… e os ex-combatentes merecem respeito, consideração e tranquilidade na reminiscência das suas memórias.

Apesar de um pouco de todos nós ter morrido na guerra…que haja paz!

JERO
 
B.  Outros comentários recentes de camaradas nossos que não chegaram a ser "postados":
 
B1. Do Torcato Mendonça,com data de 24 do corrente:
 
Camarada Amigo [C.V.]:

O Gen Chito Rodrigues, Presidente da Liga de Combatentes,  mostrou o seu desagrado pela entrevista do A. Lobo Antunes. Uma tal Liga dos Combatentes do Ultramar quer ouvir o escritor, isto no DN de hoje. Deve ser no seguimento da notícia da contra capa do último Expresso. Agora anda tudo a ver se chega primeiro.

Fui ver os recortes mas não encontrei.Tenho é o livro/entrevista Uma longa viagem com ALA do J. Céu e Silva. Sei que saiu aqui, e de que maneira, a condenação ao ALA. O sujeito estava (está?) louco quando disse aquilo e não venham com ficções...um fulano que é psiquiatra há tantos anos...

Porque escrevo? Só para te alertar que, provavelmente, vai aparecer aí Bernarda...deve ser só granada de fumos... das outras já se gastaram todas...

Um abraço, C.Vinhal,

do Torcato


B2. Do Carlos Filipe, com data de 25 do corrente:
 
UM LIVRO V/S UM (EX)-COMBATENTE

Lobo Antunes, com mérito próprio, escritor com todo o direito de criar suas obras literárias, com mais ou menos ficção, com histórias baseadas ou não em maiores ou menores verdades. Ninguém lhe pode tirar esse direito. E muito menos impôr-lhe o que deve ou não escrever. O que seria uma aberração da inteligência humana.

O que podemos nós, leitores, é aceitá-lo ou não, fazer a leitura dos seus livros ou não. Embora se lermos os seu livros, tenhamos o direito de estudar e criticar, sem dúvida alguma.

Já escrevi num comentário ao P6878,  "nuito mal vai a liberdade de expressão e de pensamento neste país, com a agravante de se tratar da interpretação de factos já com tempo suficiente de neutralizar barreiras de convivio intelectual". Também fiz referência à obra do escritor.

Porque volto ao assunto ? Partindo dos pressupostos acima, nada dá o direito aos "combatentes" de castigar quem quer que seja, pelo conteúdo do seu trabalho literário.

Isto faz-me lembrar o tempo da censura, da recolha (roubo) de livros das livrarias pela PIDE/DGS, etc. Ou ainda a detenção de alguém que tivesse publicado um trabalho com alguma distribuição. Para já não falar nas buscas a casas a onde a mesma suspeitasse haver pequenas bibliotecas de livros ditos subversivos.

Bem!... o principal motivo deste texto não é exactamente porque os "combatentes " estejam zangados ou não com o Sr. Escritor. De nenhuma forma me afecta, a não ser a preocupação do lento, mas contínuo aferrolhar da liberdade, em nome de valores muito discutiveis.

O principal motivo é a intervenção (declarações) de um sr. Tenente-Coronel de nome Morais [qualquer coisa] à televisão (SIC).

Sabendo-se que o próprio Chefe do Estado Maior do Exército, não patrocionou uma queixa contra o escritor Lobo Antunes, creio que, por considerar uma obra de ficção, o sr Ten Cor começou por afirmar que os "combatentes" tinham muita razão para estarem zangados com o escritor. Porque no seu entender do escritor "de certa maneira" chamou-os de assassinos. Chamou??

A seguir acrescenta "eram combatentes fizeram tanto quanto possivel uma guerra limpa". Afinal há guerras limpas e sujas e tambem outras com algumas nódoas, digo eu. E o sr Ten Cor não tem a certeza.

Reconhecendo que houve excessos por parte das forças armadas portuguesa (pouco claros,  digo eu) como em todas as guerras, chegamos ao verdadeiro DETONADOR da questão.

Garante o sr. Tenente Coronel Morais [Qualquer Coisa], que, " esses excessos praticados pelas F. Armadas, não foram planeados, não foram excessos projetas pelos Estados Maiores " estes "...nunca planearam nenhuma chacina, nenhum morticinio...as coisas aconteceram pelo chamado ruído, nevoeiro da guerra".

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, que me coloca a seguinte interrogação: Não havia Cadeias de Comando? Então de Alferes até aos Soldados, que eram os que iam para o mato, seriam eventualmente os potenciais elementos que sujavam a guerra toda, porque a guerra limpa era a nível superior. Raios, afinal quem se sujou ou quem sujou ??

Não havia meios de comunicação (mesmo deficientes)? Grande parte das operações não eram planedas mesmo a nivel de Batalhão? E tantas outras ainda a nivel mais superior, mesmo ministrial ?? Então de quem foi e quais foram as directivas para as grandes operações que deram tanto burburinho a nivel internacional? Tudo isto, mesmo considerando os imponderáveis.

Sendo por aqui que o Sr.Ten Cor começa, vai agora ao encontro do texto do Lobo Antunes que tanto incomodou as nossas "praças"!!!

A questão dos "prémios", que parece ser o extrato da obra do escritor, para mim tambem é uma absoluta parvoíce e ridícula.

Diz o sr Ten Cor Morais [Qualquer Coisa]"...que nunca teve conhecimento" de tais prémios. Acredito até me ser razoavelmente demonstrado o contrário.

Mas mais uma vez , suporta-se em uma pequena parte do texto (já referenciado) do romance, do livro, da ficção, ou até eu posso chamar-lhe desvario literário do escritor Lobo Antunes, para deixar claro o seguinte: "...os combatentes têm razão para estarem fortemente zangados e para quererem castigar o escritor Lobo Antunes, por uma falsidade que ele cometeu",  esclareceu-nos o sr. Ten Cor.

Novas perguntas se me colocam: Quem são exactamente estes "combatentes" que querem castigar o escritor e como se revestia o castigo, de que tipo ??? Ainda estão de alguma forma no activo estes "combatentes" ???

Será que estão estes "combatentes" a acelarar para a frente, na esperança de chegarem a uma grandiosa parada, a que se faça a apologia da mordaça e outros desvios democráticos, tão em voga ???

Por último, o Sr. Tenente Coronel Morais [Qualquer Coisa] é apresentado como membro da Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes, por isso tinha socialmente o dever moral de tentar apaziguar a situação e não falar sobre ela como um "grito de guerra" sendo perentório de que " ...zangados...e quererem castigar o escritor Lobo Antunes... "

Por outro lado tendo sido (com certeza) oficial na guerra colonial, chefiando homens em situação hostil, deveria saber, no meu entender, desviar as "sinergias" dos combatentes (estou a falar de ex-combatentes e no meu entender) para os problemas que se lhe colocam hoje com idades que rondam os 60 anos, como a saúde, pensões, tratamentos, cuidados hospitalares e outros.

Sou anti-militarista, anti-colonialista. Andei por lá como os outros e repudio solenemente o que se passou nas as ex-colónias, mas não aceito que se venha atribuir a "sujidade" da guerra aos Soldados e/ou a Graduados de pequena patente. A HISTÓRIA NÃO SE APAGA.

P.S. - Actualmente que se saiba não estamos em guerra, em lado nenhum, portanto não existem combatentes, designação que deriva de condição de guerra ou outra similar. O que existem são ex-combatentes ou ex-militares. Salvo que ainda se tenha algures o sentimento de que se esteja em algum tipo de guerra surda.

E assim se vai lançando as "Sementes do Diabo".

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/noticias-pais/2010/8/ex-combatentes-do-ultramar-indignados-com-declaracoes-de-livro-de-lobo-antunes24-08-2010-23399.htm

Carlos Filipe
1º Cabo Radiomontador,
CCS/BCAÇ 3872,
Galomaro, 1971/74

B3. Este outros mails anteriores do Carlos Filipe (que está em tratamento por motivo de doença oncológica) mereceu o seguinte comentário da minha parte (LG):

Meu caro Filipe:  Sei que o momento que estás a passar, na tua vida, é penoso, doloroso, e eu não quero contribuir em nada para que o teu fardo ainda seja mais pesado... Pelo contrário, desejo-te rápidas melhoras e sobretudo muita força, física e mental, para venceres esta "má onda"... Quero estar contigo neste momento difícil que seguramente há-de passar...


Quanto aos documentos que nos tens enviado [ nomeadamente um artigo do El Correo de la Unesco, em espanhol, sobre as colónias portuguesas, de 1973], confesso que, por motivo de férias e menor disponibilidade de tempo para o blogue, ainda não os apreciei em detalhe... Mas já percebi o seu interesse documental. Oportunamente dir-te-ei a minha opinião. Até lá conto com a tua activa colaboração. Mas, deixa-me acrescentar, que no nosso blogue privilegia-se os textos "inéditos", incluindo documentos policopiados, da época, oriundos das NT ou do PAIGC, de circulação restrita, com interesse historiográfico, etc. É sempre necessário alguma relação, directa ou indirecta,com a temática na Guerra Colonial na Guiné...


PS - Em relação ao texto, corajoso, contra a maré, que escreveste em defesa do ALA [, António Lobo Antunes,], estou indeciso em voltar à polémica que começou, de resto, no nosso blogue... Por um lado, considero o assunto encerrado; por outro,  "aquela guerra não é nossa"... O ALA (que aprecio mais como escritor do que como homem e médico) não precisa deste "ruído" (...). É confrangedor ler certos comentários, que não gostaria de voltar a (re)ler no nosso blogue [...]. Se leres o blogue não oficial do ALA, por ele está tudo esclarecido...


http://www.alawebpage.blogspot.com/

[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.] (*)
____________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6880: Controvérsias (103): O BCAÇ 237, a CCAÇ 153, o Coronel Bessa, o Major Pina, o início da guerra... (Carlos Silva / José Pinto Ferreira)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Guiné 63/74 – P6911: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (6): TAP ou TAPioca…?

1. O nosso Camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968 / 70), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 29 de Agosto de 2010:

Nota prévia

Em carta, como normalmente recebo as “Divagações de reformado” do meu Comandante e Amigo Pacifico dos Reis, foi-me explicada a razão por não receber a revista ASMIR, como habitualmente.

É que o texto que agora se apresenta, e que vem no seguimento de outros publicados no nosso blog, costuma ser antecedido de publicação na revista da ASMIR, como se alude sempre em cada texto, com a indicação do número em que foi publicada.
O presente texto não terá publicação prévia nessa revista, pela simples razão de que o mesmo foi “censurado” pelo parágrafo que refere o “possível futuro Presidente da Republica”, apesar de reflectir, apenas, a opinião do autor no pleno uso dos seus direitos.
Julgo que se trata de um pormenor, uma pequena “gota de água”. Mas há que estar alerta, para que não se transforme num “charco”.

José Martins

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DIVAGAÇÕES DE REFORMADO

6 - TAP ou TAPIOCA…?
Durante uma recente viagem a Inglaterra, para visita aos netos, utilizei os aviões da TAP, A viagem fez-me divagar até aos longínquos anos de 68. No decorrer da comissão, o mês de licença poderia ser passado na Metrópole e, para o efeito, eram utilizados os aviões da TAP. Mediante o pagamento do próprio, claro.
Nesse tempo a TAP era a TAP. Serviam boas refeições, com talheres de metal (mesmo na turística) vinho à discrição e engarrafado. Era a época da moda da mini-saia e as hospedeiras (na altura) eram uma visão para quem tinha estado desterrado no mato.
No meio dos meus pensamentos, a caminho do UK, um comissário (agora) atirou-me um “tijolo” (pseudo refeição recente da TAP) para cima do tabuleiro e serviu-me copo de vinho de uma garrafa de origem indefinida. Como tenho todas as “doenças da nutrição” confirmei se era o “tijolo dieta” que tinha previamente solicitado. Não era, novamente. Pela 3ª vez tal me sucedia. Reclamei mas também não espero que me respondam, como das outras vezes. Assim anda a TAP, sob administração brasileira. Será que temos TAP ou TAPIOCA?
Após as licenças era sempre difícil recomeçar. O regresso à rotina das operações, dos patrulhamentos e da vida passada nos abrigos, a má alimentação e higiene eram uma crucificação diária. Havia, no entanto, mecanismos psicológicos que amenizavam o ambiente. Um dos meus, eram os bons dias diários que me dava um pequenito negro, de cerca de três anos, que corria para mim mal saía da nossa “caserna armazém de mancarra”. Era um bálsamo que me fazia lembrar os filhos que tinham ficado em casa. Vim a saber mais tarde que tinha falecido, num dos ataques ao aquartelamento, depois de ter saído da Companhia.

O Mamaçal no habitual cumprimento matinal ao “Homem Grande” dos Gatos Pretos.
© Foto Pacifico dos Reis (1968 ?)
A C.Caç 5, como companhia da Província, tinha uma secção de recrutamento e mobilização cujo comando, conforme rezava o quadro orgânico, pertencia a um furriel. Como estivesse em falta, solicitei o recompletamento. Tempos mais tarde, quando regressou uma coluna vinda de Nova Lamego, vieram dizer-me que tinha chegado o furriel para a secção.
Dirigi-me para a coluna, mas não me apercebi que tivesse chegado alguém novo. Perguntei onde estava e, subitamente, reparei num indivíduo magro, como uma radiografia, a sair do meio das pipas e das sacas de farinha. A farda que vestia tinha uns números acima e bailava-lhe no corpo. Era o nosso furriel da mobilização. Mais tarde vim a saber que era um conhecido actor do nosso teatro de revista. O que o pobre sofreu para pôr os papeis em dia.
As emboscadas que sofríamos não eram exclusivamente realizadas pelos turras. Passo a contar: Certa vez seguíamos em “bicha de pirilau” pela mata densa quando senti que todo o pessoal africano da companhia dispersava gritando “baguera, baguera…” Somente os soldados metropolitanos não desertaram. Mantiveram-se no seu posto… mas por pouco tempo. Logo que perceberam que baguera eram abelhas, seguiram atrás dos africanos. Foi a pior emboscada que alguma vez tivemos, pois as abelhas africanas são muito ciosas do seu território e muito democráticas: tanto nos atacam, como aos turras. O que foi trabalhoso foi reunir o pessoal, uns quilómetros mais à frente.
A outra emboscada foi realizada por um bando de macacos. Durante uma coluna a Nova Lamego atravessou-se, no caminho, um bando de macacos cão. Um pequenito macaco, que ficou para trás, foi apanhado por um dos militares da Companhia. Quando regressamos, ao passar pelo mesmo sitio, estava todo o bando de macacos, que nos mimosearam com uma gritaria incrível. Somente quando chegámos ao aquartelamento é que percebi, ao ver o macaquito, que a emboscada à coluna tinha sido efectuada para libertar o pequeno elemento do bando. O mal estava feito e o pequeno ficou como mascote.
De divagação em divagação, vejo como os valores se vão modificando com o passar do tempo. Durante a permanência na Guiné, numa operação, perdi o PSRT (documento cripto). Sendo material secreto dei de imediato conhecimento superior e não houve qualquer quebra de segurança. Mesmo assim fui punido. Agora, quarenta e dois anos depois, arriscamo-nos, nas próximas eleições, a ter um Comandante Supremo das Forças Armadas que se divertia a enviar de Argel, elementos para os turras atacarem os nossos militares. É bem verdade que hoje, em Portugal, o patriotismo se mede pelos decibéis das “vuvuzelas”, e não pela valia nas artes, nas letras, nas ciências ou na disponibilidade dos militares de dar a vida pela Pátria.
Quando chegamos a Canjadude só tínhamos, conforme já referi, um armazém de mancarra para viver.
Tornava-se necessário construir abrigos enterrados, para resistir a previsíveis ataques. Para o efeito cortamos algumas árvores, com a grossura de mais de um metro, que iriam servir de cobertura aos abrigos. Ao mesmo tempo abríamos campos de tiro. Assim construímos os nossos habitáculos que nos iriam proteger e aos que nos rendessem. O agradável nos abrigos era o cheiro que os troncos, recém cortados, emanavam para o interior dos mesmos. Sempre diluía outros cheiros menos agradáveis.
Outras das grandes necessidades era a construção de uma pista para se receber aviões que trouxessem frescos e correio. No intervalo das operações, que eram poucos, conseguimos construir uma pista com a terra dos morros salalé (que me desculpem as formigas) devidamente compactada. Começaram, logo de seguida, a aterrar os DO trazendo material apetecível e perecível. O pior foi quando um piloto mais cauteloso, ou menos experiente, resolver interditar a pista por haver umas rochas no final da mesma. Tínhamos de construir mais cem metros.
Ficamos sem frescos e sem correio. Um piloto amigo e condiscípulo no Colégio Militar prontificou-se a resolver o problema. Tinha lido num manual americano como resolviam estes problemas no Vietname. Embrulhavam os frescos em palha dentro de sacos de serapilheira e lançavam-nos a baixa altitude.
Assim foi feito. O DO passou a rasar a pista e lançou uma série de sacos. Não sei se ele leu bem o manual. O que sei é que andamos a apanhar sardinhas, carapaus e pescada pelas árvores das redondezas. Serviu muito bem para um almoço de caldeirada, pois não podíamos ser esquisitos.
Víamos a vida fluir, durante a nossa permanência naquele pequeno recanto da Guiné, chamado Canjadude. Alguma marca deixámos naquelas terras. Sem dúvida nenhuma fizemos a guerra por amor à Guiné e a Portugal.

Um abraço,
Pacífico dos Reis
Coronel na reforma

Observação:
Como o autor do texto não se recordava do nome do “pequeno”, solicitei informação ao Corceiro que, além da foto, enviou o texto abaixo:

“Amigo Martins
O miúdo era o Mamaçal, uma jóia de criança, os militares eram a sua família.
Em anexo vai uma foto, tirada no rio junto à ponte, onde estou eu, o Silva atirador mais o Dias, a dar banho ao Mamaçal.
Dá cumprimentos ao Pacífico dos Reis.
Um abraço
José Corceiro
© Foto de José Corceiro.
___________

Guiné 63/74 - P6910: Falando do BART 2857, da CART 2479, da CART 11 e da CACAÇ 11 (J. M. Pereira da Costa)

1. Mensagem de João Maria Pereira da Costa, um dos fundadores e administradores do blogue BART 2857.


Data: 16 de Janeiro de 2010


Assunto: GUINÉ 63/74 - P1015: CART 2479, CART 11 E CCAÇ 11 (ZONA LESTE, GABU, SUBSECTOR PAUNCA)

Sou Pereira da Costa, ex-furriel miliciano, Oper Info/CIOE,  da CCS/BArt 2857, em Piche
Sou um dos iniciadores, administradores e moderadores do blogue BArt 2857.

Caro Luis Graça, como foi quem colocou esta mensagem, pelo que lerá ao longo deste email, compreenderá as razões do mesmo.

O que o Carlos Marques dos Santos diz faz sentido,  que a CArt 2479, de Renato Monteiro desse origem à CCaç 11. O que posso complementar é que a CArt 2479 ou CArt 11 ou CCaç 11, esteve sediada em Piche, por período que,  de momento, não tenho elementos para o confirmar, pois aguardo que o Arquivo Militar me entregue uma cópia da História da Unidade do BArt 2857, que requisitei.

O Zé Teixeira diz que da História da CArt 2479 consta:

 Em Contuboel ministrou instrução a naturais de etnia fula criando uma sub-unidade mista que se transformou numa Companhia de Intervenção, formando a partir de Janeiro de 1970, CArt 11. Posteriormente terá passado a CCaç 11 a partir de Outubro de 1972. 

É bem possível, pois no período em que o BArt 2857 esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, lembro-me da CArt 2479 e ouvir falar em CArt 11.

O que o Albano Costa diz tem coerência e até tem elementos que o confirmam.

Agora sou eu,  Pereira da Costa: vou ter que ler as histórias do Renato Monteiro e a História da Unidade da CArt 2479, se alguém me facultar, pela razão que vou descrever.

O BArt 2857 iniciou o seu próprio blogue [, em 20 de Setembro de 2009] (**). Acompanhamos outros, em especial, o vosso que me caiu de pára-quedas no meu email.

Estamos a preparar publicações entre elas uma de um acidente ocorrido, em 05/07/1969, na estrada Dunane/Canquelifá por accionamento de minas A/C sob Unimogs, onde estiveram envolvidas forças da CArt 2439, sediada em Canquelifá, pertencente ao BArt 2857 e forças da CArt 2479 / CART 11; pelo facto ocorreram mortos e feridos em número elevado, em ambas as forças com mais peso na CArt 2479 (pessoal ultramarino).

A publicação será em memória de um 1.º Cabo da CArt 2439, porque quando a lerem compreenderão a razão. Contudo não queremos esquecer os africanos e um metropolitano da CArt 2479. Para isso para além de informação e fotografias que já possuímos, gostariamos de as ter da CArt 2479, pois esta esteve como Companhia de Intervenção durante certo tempo (???)  adstrita ao BArt 2857, em Piche. (*)

Apelo a quem puder contribuir com informação e fotografias que o faça ou indique os contactos para as obter.

Um grande abraço de camaradagem ao Luís Graça que não tenho o prazer de o conhecer e muita força e coragem para transmitirmos todo aquele período que para alguns nunca existiu !!!!

Obrigado
Pereira da Costa


2. Comentário de L.G.:



Meu caro J. M.Pereira da Costa: Dei conta, só agora, da tua mensagem encalhada há muito nos postes por publicar... O teu pedido, no entanto, continua actual e peço aos nossos camaradas - nomeadamente aos que pertenceram à CART 2479 / CART 11, no período em questão (1969/70) - para te fornecerem os elementos pedidos...

Por outro lado quero-te dar os parabéns que criação e animação do blogue referente ao vosso batalhão, que vou passar a seguir. E desejar-vos uma bela festa de convívio, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro. Fará então 40 anos que vocês regressaram da Guiné. Os meus parabéns por estas iniciativas.

Um terceiro ponto: quero-te  convidar pessoalmente para ingressares na nossa Tabanca Grande, o que não te impedirá de continuar a liderar o teu/vosso blogue. Vamos a caminho do meio milhar de membros da Tabanca Grande que, como tu sabes, reúne sob um vasto poilão, centenário, simbólico, os amigos e camaradas da Guiné... 

Queremos reforçar a presença da malta que, como tu, esteve no nordeste da Guiné, no sector de Piche. Basta-te, no teu caso, o envio de duas fotos, uma actual e outra do tempo da tropa. Um Alfa Bravo. Luís
_____________


Nota de L.G.:

(*) O BART 2857 (1968/70) era constituído pelas seguintes subunidades:  CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche). 

O pessoal deste batalhão vai realizar, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro, a festa de confraternização do 40º aniversário do seu regresso da Guiné.

domingo, 29 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)

1. Do  António Inverno (*) para o nosso co-editor Eduardo MR:

Amigo Ranger!

Li alguns comentários do nosso amigo Luís, da Dona Filomena, do  J. C. Carvalho, do Ranger Mexia, e alguns anónimos.

Já expliquei no texto que te enviei porque tinha uma Kalash, quando o Alferes João Uloma, que era comandante da 2ª Companhia dos Comandos Africanos, me a entregou com mais 5 Carregadores cheios. Experimentei-a, gostei dela e adoptei-a , e já que tinha de usar uma...

Resta dizer que no final em Setembro de 74 a devolvi ao Uloma, hoje bem arrependido estou, porque não precisava fazê-lo, mas enfim eram outros tempos .

António Inverno

Fábrica de Almeirim
Técnico de service desk local
Estrada Nacional nº 118
2080-023 Almeirim
Tel: 935101566

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6820: António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª Companhias do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos - 1972/74

28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6801: O Nosso Livro de Visitas (97): António Inverno, ex-Alf Mil Cav Op Esp, S. Domingos, 1973, amante da "bela" Kalash

Guiné 63/74 - P6908: (Ex)citações (95): António Rosinha, escreve e vai relatando as tuas experiências e vivências de África (Torcato Mendonça)

1. Comentário,  com data de 23 do corrente, de Torcato Mendonça [ , foto à esquerda, em  Candamã, subsector de Mansambo,  CART 2339, 1968/69,]   ao Poste P6885:


Antº Rosinha:

Tenho um defeito, tenho muitos claro, mas um é acreditar que só há uma raça: a humana. Li mais este texto, estes teus pensamentos, estes relatos de reflexões fruto de vivências e tive que voltar a reler. Não quer dizer que concorde ou discorde. Talvez antes sinta necessidade de aprender e apreender a vida, em paz ou guerra, vista e relatada por quem viveu na África, dita portuguesa.  Não só, por quem, após a independência por lá trabalhou. Essa informação, quanto a mim e com toda a subjectividade, enriquece o conhecimento dos que por África se interessam. Caso dos ex-combatentes como nós.Tenho uma visão diferente, vivências diferentes e saberes adquiridos em circunstâncias de guerra e não só.

Um exemplo de não guerra: em 63,talvez, houve os campeonatos da FISEC (creio ser este o nome) (*) e vieram atletas, como convinha ao regime, de Angola. Os encontros eram na Cruz Quebrada e tinham como apoio o então INEF (**),  Estádio Nacional e Centro da Mocidade Portuguesa.

Um dia num jantar qualquer com chefões e muita gente, atletas e de outras actividades, cantaram uma canção em voga: Angola é nossa. (***) Como não sabia a letra e não estava ali para cantar, fui observando a galhofa, comedida é certo, de muitos angolanos brancos,  como dizes e não sei se algum negro. Ri para dentro e, se não acreditava em certo País pluricontinental e multirracial, menos fiquei a acreditar. Só que haviam soldados do meu País espalhados pelo dito Império, lutando e morrendo por essa Pátria. Só que eu, passado meia dúzia de anos fui para lá.

Para eu compreender melhor África, as antigas colónias,  preciso de testemunhos como os teus. Eu também me interrogo muito sobre o antes, a guerra, e o depois...a paz. Questiono-me sobre tanto acontecimento. Porquê? Ou leio aqui neste blogue tanto pensamento diverso. Respeito, claro,  e apoio a pluralidade de opinião. Vamos sempre aprendendo e,  para melhor o fazermos, são necessários homens como tu e outros que passaram por vários lados e em tempos e situações diferentes. Alonguei-me e é pena. Nem devia escrever assim. Já tenho idade para ser mais comedido.

Escreve e vai relatando as tuas experiências e vivências. Um abraço do Torcato.

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Notas de L.G.:

(*) Fédération Internationale Sportive de l'Enseignement Catholique, Federação Interancional Desportiva do Ensino Católico
(**)  Instituto Nacional de Educação Física
(***)  Edição de A Voz do Dono, 1961. Letra de R. Santos Braga e música de Duarte F. Pestana. Coro e Orquestra da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho).

Guiné 63/74 - P6907: Uma foto, de Arlindo T. Roda, da CCAÇ 12, para a capa do novo romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã: Um Alfa Bravo, Camarada!), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ser ferido duas vezes o decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, Fevereiro de 1970).(*)

 Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (F); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (F); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (F); Sold 82109169 Malan Baldé (F); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (F); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga). "Slide" do Fur Mil Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção.  

Imagem editada por L.G. Tenho o original com maior resolução ainda... O Armor Pires Mota (mesmo não sendo membro do nosso blogue, para o qual de resto já foi convidado) pode aproveitar esta imagem para a capa do seu novo livro, Estranha  Noiva de Guerra, desde que cite o autor (Arlindo T. Roda) e o nosso blogue.(**)
Foto: © Arlindo T. Roda  (2010). Todos os direitos reservados

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Notas de L.G.:


(...) "Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

"Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.

"Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).

"Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

"Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 2º Gr Comb).

"Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h" (...).

  


(...) O nosso camarada Armor Pires Mota procura uma foto para ilustrar a capa do seu próximo livro "Estranha Noiva de Guerra". A ilustração deverá registar um acto de salvamento ou transporte de um militar ferido em combate, por um seu camarada. (...)