terça-feira, 12 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8086: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (40): O Domingos encontrou-me!.. Ele era a mascote da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65) (J. Marques Ferreira)

1. O nosso camarada José Marques Ferreira, ex-Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65), autor também do blogue Terras do Marnel e Vouga, enviou-nos em 9 de Abril uma mensagem de felicidade e alegria por voltar a ter notícias de um Amigo de quem não sabia nada acerca de 46 anos.



Camaradas,

Todos aqueles que se habituam a ver o nosso nome por aqui na rotina do blogue e que de repente o vê desaparecer, sem qualquer explicação como é o meu caso, fica admirado. Pelo facto quero pedir as minhas desculpas.

Andava a ruminar alguma coisa para ser postada neste nosso blogue, quando me surgiu um acontecimento que me surpreendeu muito agradavelmente, quando menos eu esperava. Já não sei há quanto tempo - e a emoção leva-me a «despejar» estas palavras -, foi publicada num poste uma estória minha – dos anos 1963/1965 -, sobre uma mascote que foi adoptada na nossa CCAÇ 462, em Ingoré (*). Chamava-se Domingos e tinha na altura uns 4 ou 5 anos de idade, ou talvez um pouco mais.

Pois agora, dia 7 de Abril, fui surpreendido com um e-mail seu, que abaixo anexo e só me ocorreu, rápida e ansiosamente, vir dar aqui dar-vos esta notícia, que considero ao mesmo tempo ser uma óptima publicidade para este nosso blogue, que é: “O Domingos encontrou-me!”

O texto que ele apresenta é verídico, e é mais um caso a juntar a muitos outros que o nosso blogue tem vindo a proporcionar. Reparem na linguagem que o Domingos utiliza. Toda ela é sinceridade, simplicidade e honestidade. Que felicidade, minha e dele claro.

Ainda por cima ele mora em Portugal, embora eu não saiba onde. Já lhe respondi e pedi-lhe a sua morada.

Não me preocupei muito com este texto, pois o objectivo é apenas dar-vos conhecimento deste facto, quase inédito, mas que como se vê não há impossíveis.

O nosso blogue vai a todos os lados e a todas as pessoas que o queiram visitar.

Este acontecimento é mais uma prova do poder e da força deste maravilhoso meio de comunicação. Creio sinceramente que ainda o podemos melhorar em alguns aspectos, Amigos e Camaradas da Guiné. Nunca esqueçamos também os «milagres» que muitos de nós têm vindo a fazer, uns no terreno e outros contribuindo com o que podem, para ajudar aquele pobre povo.

Não tenho mais palavras…

J. M. Ferreira
Sold Apt de Armas Pesadas da CCAÇ 462

2. Em 7 de Abril de 2011, enviou então o Domingos a seguinte mensagem ao nosso surpreendido e alegre Camarada Ferreira:


Guiné > Região do Cacheu > Ingoré > CCAÇ 462 (1963/65) > Na foto podemos ver o Domingos sentado no chão, entretido a colcocar um capacete na cabeça. [É pena que a imagem não tenha maior resolução pra poder ser ampliada]

Foto: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados.

O MASCOTE DOMINGOS

Nem sei por onde começar por tamanha ser a minha emoção! 1963/1965... INGORÉ... a criança que ia ao quartel mais a irmã pedir comida, e que por lá ficou e se tornou MASCOTE da Companhia de Caçadores 462 (***)... o DOMINGOS... é vivo e está aqui em Portugal!

Vi a minha foto na Net, não aguentei e chorei! Chamei meus filhos, minha mulher e mostrei-lhes as maravilhas que Deus faz!

Sr. Ferreira, estou-lhe mais que grato por ter sabido preservar e eternizar a minha pessoa.

Eu era criança e do pessoal da companhia 462 só me lembro do capitão Parracho que era o comandante da companhia e do Alferes Geraldo (ou era Geraldes?), que foi pela mão de quem fiquei no quartel.

Lembro-me até que o Alferes Geraldes era da Póvoa de Varzim. É que já lá vão quase 50 anos!!!

Eu vivo aqui em Portugal há mais de 20 anos, meus três filhos todos são cá nascidos e minha vida quase toda aqui feita.

Estou muito contente, mas muito contente mesmo!!!!!!!!!!!!

Domingos “O MASCOTE” (**)
_________

Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:


(...) O DOMINGOS – UMA CRIANÇA SOLDADO

O Domingos era uma criança, em 1964, de estatura normal para os seus cinco, seis anos (talvez nem tantos na altura), os olhitos pareciam estar em permanente melancolia (como os de muitos putos guineenses), mas já o seu porte e presença eram um tanto diferentes.
O Domingos, fazendo fé nas recordações um tanto esfumadas, porque o tempo não perdoa e não é eterna a sua permanência nas minhas memórias cerebrais, começou a aparecer com a mãe, que lavava a roupa de alguns camaradas nossos, o que, como sabemos, constituía mais alguma fonte de sobrevivência para a família.
Tantas vezes lá foi que começou a ter contacto mais directo com os militares que, pelo seu feitio e postura simpáticas, eram afáveis para aquela criança de tenra idade. Ficou lá connosco um dia, depois outro e outro...
Todos o acarinhavam e brincavam com ele, e o Domingos ia demonstrando alguma sociabilidade, retribuindo simpaticamente com as peripécias próprias das crianças, o trato que lhe ia sendo dispensado.
Até que, para não alongar mais esta “lengalenga”, o Domingos foi adoptado, oficialmente, como mascote da CCAÇ 462. Passou a ter uma farda verde igual à nossa, com excepção do camuflado e do vestuário de trabalho.
Comia connosco, e durante muito tempo, chegou a dormir na nossa caserna, tal como todos nós. Os pais sabiam desta situação, o comandante da Companhia também. Já fazia parte da nossa "família".
(...)
Ao fim de dezasseis meses, a minha companhia foi “embalada” e enviada para Bula, pelo que perdemos o rasto do Domingos.
Continuamos sem o ver quando fomos ocupar, pela primeira vez, o território de Có, Ponate, Jolmete e Pelundo.
E perdemos-lhe completamente o rasto, quando destas localidades seguimos para Mansoa. Nunca mais soube nada do Domingos, aquele puto simpático e meigo, de olhar melancólico, que viveu connosco durante vários e saudosos meses. Um dia, a Guiné tal como a conhecemos então, acabou para a nossa companhia, pois regressamos a casa no paquete Niassa…
Do Domingos ficou-me as naturais saudades do seu sorriso e traquinices, e a única foto que tenho dele (...). (**) CCAÇ 462: Compannhia independente, foi mobilizada pelo BCAÇ 10, partiu para o TO da Guiné em 14/7/1963 e regressou à Metrópole em 7/8/1965.
Esteve em Ingoré, Bula, Có e Mansoa. Comandantes: Cap Mil Inf Jorge Saraiva Parracho; Cap Inf Joaquim Jesus das Neves.
(***) A mascote e não "o"... Não corrigimos intencionalmente o português: o substantivo "mascote" é feminino, vem do francês (c. 1870), mascotte > pessoa ou animal de estimação, fétiche, talismã, algo que dá boa sorte...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8085: Agenda Cultural (116): Conferência de António Graça de Abreu, Museu do Oriente, 3ª feira, 12 de Abril, 18h00, entrada livre > A megacidade de Xangai, um olhar de 30 anos


1. O nosso camarada António Graça de Abreu, um dos mais conceituados sinólogos portugueses da actualidade,  gostaria de poder contactar com a presença dos amigos e camaradas da Guiné na sua conferência sobre Xangai, no Museu do Oriente, em Lisboa, 3ª feira, dia 12 de Abril...  A entrada é livre. 

Recorde-se que ainda recentemente ele regressou da China, e mais concretamente de Xangai. E ainda esta semana,  segundo percebi ao telefone, parte de novo para a China, como guia de uma  excursão turístico-cultural... Seria fastidioso  estar aqui a explicar  a importância que a China tem hoje, como parceiro cultural e económico, para Portugal, para a Europa e para os países lusófonos, incluindo a Guiné. No caso de Portugal, temos uma relação especial, histórica, com a China desde o Séc. XVI. E essa relação mantêm-se (e manter-se-á) através de Macau e de portugueses que conhecem, estudam e amam a cultura e o povo chineses.

Ao nosso camarada desejamos-lhe boa conferência e boa viagem. Um Alfa Bravo. LG 


2. Lisboa, Museu do Oriente > 3ª feira, 12 de Abril de 2011 > 

EM XANGAI, FEVEREIRO/MARÇO 2011
Conferência
Orador: António Graça de Abreu
18.00 
Museu do Oriente >  Avenida Brasília, Doca de Alcântara (Norte)
1350-352 Lisboa

Tel: +351 213 585 200

Sala Beijing

Entrada livre


Sinopse > Como está a cidade depois da azáfama e sucesso da Expo 2010?

Pudong e Puxi, as duas partes da cidade cortadas pelo rio Huangpu. A Bund com os edifícios clássicos dos anos 20 e 30 do século XX. A avenida Nanquim, a Praça do Povo, com o fabuloso Museu de Xangai e excelentes arranha-céus em redor. A Cidade Velha, conservada e restaurada, igualzinha ao que terá sido nos séculos XVIII e XIX. Hengshan Lu, na antiga concessão francesa, com os seus restaurantes e discotecas, Xintiandi, o bairro reconstruído que nos leva à fantasia da Xangai ocidentalizada e louca da primeira metade do século XX. Quatro mil arranha-céus construídos nos últimos 20 anos. Vinte e dois milhões de habitantes na cidade e na grande Xangai. A imensa mole humana.

Os arredores, cidades lacustres ou clássicas, como Suzhou e Hangzhou, as fábricas, os estaleiros do mundo. Abundância, luxo, prazeres, também a pobreza, a dura luta pela vida, a poluição, o dia a dia incerto e difícil.

António Graça de Abreu conhece Xangai desde Maio de 1980. São mais de 30 anos de contactos e ligações com uma das mais fascinantes cidades do mundo, um burgo que, por todas as razões, o marcou para sempre. E com esta conferência propõe-se levar os participantes até esta terra onde tudo se cria, recria e inventa, mostrar-lhes a cidade, viajar com eles por dentro dos muitos atalhos que polvilham Xangai e conversar com as gentes que povoam este extraordinário burgo.

Fonte: Museu do Oriente (com a devida vénia...)

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Nota do editor:


Guiné 63/74 - P8084: Blogpoesia (143): Vila do Conde é um poema (Manuel Sousa)

1. Mensagem Manuel Sousa* (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 9 de Abril de 2011:

Camarada Carlos Vinhal:
Para completar a minha biografia, tenho a dizer-te que sou natural de Folgares, freguesia de Freixiel, concelho de Vila Flor, distrito de Bragança.
Foi de lá que parti para terras da Guiné.

Vivo em Vila do Conde desde 1978, que é, portanto, a minha terra adoptiva e de que eu gosto muito.
De tal modo, que lhe fiz um poema que ilustrei com imagens em PPS, que tenho o prazer de te enviar em anexo, depois de saber que és natural de cá.

Oportunamente mandar-te-ei outros trabalhos que fiz das terras da minha naturalidade.

Cumprimentos
Manuel Sousa





Vila do Conde é um poema!

Vila do Conde, princesa do Ave!
Aguarela de cores em tom suave,
Em tela pincelada de céu e de mar!
Santa Clara com arte a pintou
E no sobranceiro mosteiro ficou,
Para do alto a sua obra contemplar!

Imponentes arcos encadeados,
Em alinhamento e serpenteados,
Adorno granítico único, singular;
São como fina cadeia de filigrana
Que orna elegante decote de dama,
Dando-lhe graça e beleza sem par!

Espelhada no estuário do rio,
Fascina em dobro o seu brilho,
De estrela a cintilar no espaço!
É o Ave que não entra no mar
Sem pela última vez a olhar,
Cingindo-a num terno abraço!

Cantada em ancestrais cantigas,
Que o povo entoa nas romarias,
Com alma, sentimento, devoção!
Bela sereia que saltou do mar,
Para na Praça e no Monte cantar
Nas longas noites de S. João!

Terra de rendilheiras e pescadores,
Marinheiros, poetas, doutores,
Fiéis defensores da sua nobreza!
Gente com raça e arreigado fervor,
Que a enaltecem com o seu labor;
Dignos súbditos de “Sua Alteza”!

Oh bela
Vila do Conde!
É azul o teu
Horizonte,
Onde se tocam o
Mar e o céu!
É de lá que o escarlate
Sol-pôr
Realça todo o
Esplendor
Que a natureza
Te deu!

Manuel Sousa
Sargento-Ajudante da GNR
Ex-Comandante de Vila do Conde
Junho/2010
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8065: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (4): Não cheguem tarde como eu

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8075: Blogpoesia (142): O que me fizeste Guiné (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8083: Contraponto (Alberto Branquinho) (28): Teatro do Regresso - 3.º Acto - Informação Prévia

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 10 de Abril de 2011:

Caro Carlos
Estou a enviar o 3º. Acto - Teatro da Guerra, para o CONTRAPONTO (28).

Aí vai um abraço também
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (28)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

3º. Acto - Informação Prévia

Cenário

Guiné – quartel no interior, nos tempos da guerra.
Um refeitório.
Joga-se à lerpa e à sueca em duas ou três mesas. Discussões, por causa do jogo, entre os jogadores e os assistentes. Em pé e sentados.

Personagens

Um grupo de soldados e cabos andam à volta das mesas; outros parados conversam. Alguns têm uma garrafa de cerveja na mão.

Acção

De entre os soldados, um vem quase à boca de cena e diz para os outros:

- Bou pedir ao nosso capitomzinho pa me dar uma boa informaçom pa eu poder ir p’á POLÍCIA.

- Queres ir p’ra quê?!

- Tens mesmo trombas de polícia. Ah, isso tens! Desde que nom m’apareças depóís lá pela Areosa a cagar postas de pescada…

- ‘Inda falta quase dois meses pá peluda e este gajo preocupado para ir pá Polícia.

- Qu’é qu’este gajo disse?

- Quer ir para a Polícia…

- Num se pode falar cum bocês, carago!

Vai saindo, deprimido, pela esquerda alta, a caminho da caserna.
Enquanto sai, um deles, diz-lhe, em voz alta:

- Ó manguelas, ‘inda falta mais de dois meses pá peluda e ‘inda podes ir mas é num sobretudo de pau…

(CAI O PANO).
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8048: Contraponto (Alberto Branquinho) (27): Teatro do Regresso - 2.º Acto

Guiné 63/74 - P8082: Tabanca Grande (275): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546 (Piche e Ponte Caium, 1972/74), chegado aqui por mão da sua filha, Susana Rocha



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > Ponte de Caium: em cima, se não me engano, o Carlos Alexandre e o Florimundo Rocha





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > O Florimundo Rocha na aldeia fula das proximidades, Temanco (Malã Dalassi)... A ida a lenha e o futebol eram duas das poucas distracções do pessoal ali destacado...


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium  > O Sold Cond Auto Florimundo Rocha, ao volante do seu "burrinho do mato", a viatura Unimog 411, depois da recolha de lenha, nas proximidades do destacamento. Foi este mesmo "burrinho" que ele conduzia no dia 14/6/1973... 

Fotos enviadas por Susana Rocha. Legendas de L.G.



Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Já há dias escrevemos aqui quão  bonito, espantoso e até maravilhoso era o facto de serem as filhas (mas também filhos) dos nossos camaradas, a trazer "pela mão" até ao nosso blogue,  os pais, nossos camaradas... Independentemente do sexo (ou género), são filhos de outra  Galáxia, a da Internet. 

É bom recordar que a nossa geração, nascida (a maior parte) no pós-guerra, ainda é filha da galáxia de Gutemberg... Muitos de nós andavámos na escola do "ler, escrever e contar"... Na nossa escolinha, o computador era a velha ardósia e o pau de giz e até o papel A4 era um luxo... Temos muitos camaradas nossos que ainda não tem acesso a um computador nem à Internet, não podendo por isso chegar a esta comunidade virtual que é a nossa Tabanca Grande... 

Gestos como o da Cristina Silva e da Susana Rocha (*) são bonitos e merecem ser conhecidos... Oxalá outras filhas e filhos possam e saibam seguir este exemplo...

A história do Florimundo Rocha (**) ficaria no esquecimento  se não fora a a sua filha Susana Rocha, de 29 anos, ter chegado até nós com os seus contactos e  a sua mensagem de amor filial. Foi através dela que chegámos à fala, por telefone,  com o camarada Rocha. E foi ela que nos transmitiu o desejo de integrar o pai na nossa Tabanca Grande. Para esse efeito, comprometeu-se a mandar-nos, digitalizadas, alguns fotos do seu álfum fotográfico.

Hoje é dia de apresentar o Rocha aos nossos amigos e camaradas que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande. Ele vai juntar-se ao Jacinto Cristina e ao Carlos Alexandre que já representavam, e bem, os "bravos da Ponte de Caium". Já tivemos aqui ocasião, há dias, de ler o seu dramático relato da emboscada de 14/6/1973, na estrada Buruntuma-Piche, a três quilómetros de Piche, e de que ele foi o único sobrevivente dos cinco ocupantes do Unimog 411 ("burrinho") que ele próprio conduzia (***).


Deixemo-nos de mais conversas, e sentemos o Rocha junto aos demais camaradas (e amigos) da Guiné. Espero que a filha,  Susana Rocha, lhe vá dando notícias nossas, uma vez que ele não tem email. Ficamos a aguardar, por parte da Susana,  o envio de um foto actual do pai (****). 

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Notas do editor:









Guiné 63/74 - P8081: Notas de leitura (227): A Guiné-Bissau e os sabores da lusofonia (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
Mais tarde ou mais cedo haveria que exaltar a primorosa gastronomia guineense que inexplicavelmente ignoramos.
Há dezenas de restaurantes de comida cabo-verdiana, nem um só de comida guineense, falo pela região de Lisboa. Para comer canja de ostra tenho que fazer encomendas de particulares. Numa época em que se fala de novas oportunidades, no microcrédito e se incentivam pequenas empresas, é difícil compreender como os portugueses oriundos da Guiné e os imigrantes não abrem espaços de convívio à mesa, seriam certamente um sucesso.

Um abraço do
Mário


A Guiné-Bissau e os sabores da lusofonia

Beja Santos

Em 2009, os CTT através do Clube Coleccionador dos Correios editaram “Sabores da Lusofonia… Com Selos”, com autoria de David Lopes Ramos. É uma edição que prima pelo elevado apuro gráfico, trata-se de uma sugestiva incursão pela gastronomia do mundo que fala português em torno das memórias dos sabores. 

Oferece ao leitor a oportunidade de viajar pelas rotas da pimenta, conhecer as revoluções à mesa advindas pela chegada da batata, do milho, dos feijões, do açúcar, do café e do chocolate. Depois o autor põe-nos a viajar pela lusofonia: o gindungo de Angola, a feijoada brasileira, a cachupa de Cabo Verde, a galinha à cafreal de Moçambique, o Calulu de São Tomé e Príncipe, a paleta exótica de sabores goeses, o cozinhar dentro de nós de bambus em Timor e, claro está a mancarra no prato na Guiné-Bissau. Vejamos, em síntese, o que David Lopes Ramos nos propõe dentro dos manjares guineenses. Começa por escrever o seguinte:

“Na Cozinha e Doçaria do Ultramar Português, da Agência-Geral do Ultramar (1969) o receituário da Guiné é o mais escasso de todos. Apenas 5 receitas: um caldo de peixe ou mefefede, com tainhas secas, arroz e condimentos, entre eles malagueta e piripiri; um caldo de mancarra, com galinha, mancarra, óleo de mancarra e outros condimentos; chabéu de galinha que, além da ave que coze com óleo de mancarra, cebola, água temperada com malagueta e sal, a que depois se junta o molho de chabéu, mais sumo de limão, solé (líquido ácido semelhante ao vinagre) e piripiri; bringe, um estufado de pato que é servido com arroz, camarões cozidos ou fritos e limpão (espécie de mexilhão), e bolinhas de mancarra, que é um doce, feito com o amendoim espagado até ficar em pasta, a que se junta açúcar pilé”.

Trata-se de uma visão redutora, é inconcebível não se mencionar, entre outros, pratos fabulosos como a canja de ostra, para mim um dos pratos mais fabulosos da culinária africana. A cachupa de milho é uma variante da cachupa cabo-verdiana e é muito apetitosa. Mas é verdade que os pratos mencionados na dita publicação de 1969 acentuam aquilo que nós conhecemos e que torna a gastronomia guineense inconfundível: os sabores ácidos, os picantes e a fina combinação de produtos naturais e de condimentos típicos. Da rusticidade e da escassez de recursos, os sabores guinéus dão respostas engenhosas mediante o uso de chabéu e o óleo de palma; havendo cerca de 30 etnias e uma cozinha crioula, pode usar-se banha de porco, cabra, carneiro, mariscos, substituir o arroz pelo milho preto, pôr mais ou menos milho bassil, fundo, inhame, batata-doce (a batata de consumo é conhecida na Guiné por batata inglesa).

As populações do interior, carentes de legumes, deitam mão ao que podem cultivar ou comprar a baixo custo: baguiche, candja, djagatu, que acompanham o arroz e mafé. Quem percorre o mercado de Bandim, o mais completo de toda a Guiné-Bissau, pode encontrar o apetitoso djorontche (camarão seco moído, ou mesmo o netetu (sementes de alfarroba secas e trituradas). As populações das zonas costeiras (caso dos bijagós, balantas, felupes e manjacos) têm um elevado consumo de frutos do mar e de peixe, apreciam imenso o caranguejo, as ostras, o combé, o lingron, o gandim ou karmussa. Quando regressei da Guiné, em Dezembro último, trouxe “escalada”, há quem lhe chame o bacalhau da Guiné, fede que se farta, vem embrulhado em vários sacos de plástico e dentro de uma caixa de cartão hermeticamente selada. Mas há mais cheiros intensos e outros paladares típicos como o kasseké, o djorontche, obtidos por métodos artesanais de conservação dos pescados e dos mariscos.

É um atentado ao palato ignorar os sabores guineenses, desde os camarões juvenis, passando pelas raízes, tubérculos, folhas e frutos silvestres que têm gostos admiráveis e que são complementos nutricionais que permitem que a população da Guiné, uma das mais pobres do mundo, consiga deter padrões alimentares surpreendentemente saudáveis. Convém não esquecer as carnes de caça que todos os militares recordam: a gazela, a cabra de mato, a farfana, o porco-espinho e o porco do mato. E o autor conclui: “Os guineenses, na sua alimentação, para celebrar e festejar momentos importantes da sua vida e da sua história, recorrem com engenho e arte à rica biodiversidade de que ainda dispõem, fruto de uma natureza farta e generosa que tem todo o interesse em preservar e transmitir como legado como as gerações futuras”. (*)


Ninte Kamachol, escultura de madeira e latão dos Nalus, peça do Museu Nacional de Etnologia, Lisboa, reproduzida com a devida vénia


Homem bijagó, reproduzido do livro “Sabores da Lusofonia… com selos”, com a devida vénia
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Nota de CV:

7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8057: Notas de leitura (226): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

(*) O nosso camarada Hugo Moura Ferreira já aqui em tempos (, em 22 de Junho de 2006,)  apresentou algumas receitas de pratos tradicionais guineenses, justamente retiradas do livro Cozinha e doçaria do Ultramar Português (Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1969)... A saber:

(i) Caldo de Mancarra;
(ii) Chabéu de Galinha;
(iii) Bringe;
(iv) Bolinhas de Mancarra;
(v) Caldo de Peixe ou Mafefede

Guiné 63/74 - P8080: Parabéns a você (242): Agradecimentos de Rosa Serra, Joaquim Mexia Alves e José Eduardo Reis

1. Porque as minhas últimas semanas não foram fáceis, alguma coisa foi ficando para trás. Entre elas, estes agradecimentos a propósito dos seus aniversários, da nossa Enfermeira Rosa Serra, do Joaquim Mexia Alves e do nosso JERO (José Eduardo Reis Oliveira), pelo que lhes peço desculpa pela demora na publicação das mensagens que se seguem.

Carlos Vinhal



- De Rosa Serra, com data de 4 de Abril de 2011:

Carlos,
Como vê estou em franco progresso, fui avó pela segunda vez dia 29 de Março já ao fim do dia, lembrei-me que não devia colocar o (Senhor) antes do seu nome próprio e não sei onde fui buscar tanta energia para ter esta máquina familiar toda a andar sobre rodas e hoje abrir o computador e ver que tenho uma quantidade enorme de mails e chegar à conclusão que tirando esta excepção, vou ter de agradecer a todos os camaradas através do blogue, doutra forma não tenho tempo, pois na caixa de entrada tenho várias mensagens, e a disponibilidade actual é reduzida.

Muito obrigada pelas suas palavras, sempre tão bem colocadas e muito simpáticas.
Um abraço
Rosa

Nota do editor de serviço.
Sabendo representar a vontade da tertúlia, endereço, por intermédio da nossa avozinha, os nossos melhores votos de felicidades para o bébé e para os papás. Para a Enf.ª Rosa os nossos parabéns e votos de que veja crescer este netinho e outros que estejam para vir.

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- Do Homem Grande do Blogue, o nosso Mexia Alves, com data de 7 de Abril:

Meus caros camarigos editores
Obrigado! Muito obrigado!
Pela amizade, pelas palavras, pelo trabalho!

Tenho ainda que vos pedir a publicação deste meu agradecimento, que anexo.
Como neste momento não sei mais o que dizer, (faltam-me as palavras, calculem, a mim que nunca me calo!), envio-vos um

Grande e camarigo abraço de gratidão e inabalável amizade
Joaquim


Agradecimento

Meus queridos camarigos
A minha vontade, (e isto não é conversa), era ir ter com cada um onde quer que estivessem, e dar-vos pessoalmente um abraço forte e camarigo, agradecendo os abraços, os mimos, as palavras imerecidas, mas que sabem muito bem!

Os meus camarigos quase me convencem que eu sou assim como me descrevem, mas eu tenho uma “couraça” que me leva a estar sempre a dizer a mim próprio:

- Não te convenças, Joaquim, que a amizade faz esquecer os defeitos dos amigos!

A verdade é que, sentimental como sempre fui, (e não me importo de ser), as teimosas lágrimas da amizade acabaram por sair, e ontem quando cheguei a casa e vi tudo o que tinham escrito, mostrei à minha mulher, à minha Catarina, como o marido sabia “enganar” os outros de tal modo que até achavam que ele é boa pessoa!

Francamente meus camarigos: Obrigado do fundo do meu coração!

Contava-me há dias um Professor de Universidade, (um Irlandês, que vive em Portugal e fala Português), que aqui esteve em Monte Real a fazer uns trabalhos, que tinha poucos amigos, mas que a amizade para ele era algo de muito profundo.

Contava a propósito disso, que um seu amigo lhe tinha telefonado já tarde na noite, pedindo ajuda, pois estaria no Ikea e tendo comprado uma mobília não tinha transporte para a mesma, pedindo então se o Professor com a sua carrinha o poderia ajudar.

É que já tinha telefonado para alguns dos seus amigos que moravam mais perto, (o tal Professor mora em Sintra), mas todos tinham arranjado desculpas.

O Irlandês em causa, meteu-se na carrinha e foi de Sintra ao Ikea, e do Ikea a Azeitão, visto que esse seu amigo mora nessa localidade. Feito o “serviço” voltou para Sintra.

Dizia ele que era assim que entendia a amizade: Disponibilidade total!

Sirvo-me desta história verdadeira, para vos dizer que, embora com alguns de vós eu não um conhecimento mais pessoal, tenho-o no entanto por força de tudo o que passámos e ainda passamos, e só isso me basta para vos dizer:
É esta a amizade que vos quero dedicar. A disponibilidade total!

Quero ainda acrescentar que ontem fui passar o meu dia de aniversário a Fátima, com a minha Catarina, e lá, mais junto de Deus, (embora Ele esteja sempre connosco), coloquei-vos a todos nas minhas orações.

A minha melhor forma de vos agradecer, a melhor forma que eu conheço, é pedir a Deus que vos abençoe, proteja, guarde e vos faça sentir o Seu amor e a Sua paz.

Permitam-me que não distinga ninguém neste momento, mas que a todos dê
Um grande, sentido, emocionado e camarigo abraço
Joaquim Mexia Alves

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- E, finalmente, do nosso camarada JERO, com data de 5 de Abril

Parafraseando o Comandante Luis Graça...
Camaradas de longa data, amigos de ontem...
Quero expressar-vos um sincero agradecimento.

Começando pelas senhoras: à Filomena e à Felismina Costa.

Depois aos camarigos Hélder Sousa, José Nunes, Artur Soares, António Paiva, José Belo, Vasco da Gama, Joaquim Mexia Alves, Jorge Cabral, Mário Migueis, Adriano Moreira, Manuel Marinho, Eduardo Campos, Torcato Mendonça, Amílcar Ventura, António Marques, Juvenal Amado, Manuel Amaro, Mário Pinto, Belarmino Sardinha, Zé Manel Cancela, Fernando Chapouto, António Tavares, Jorge Picado, Jorge Narciso, Agostinho Gaspar, Manuel Maia, Mário Fitas, António Brandão, José Câmara, Jorge Rosales, António Graça de Abreu e Abreu dos Santos (Senior).

Um agradecimento especial ao cartoonista Miguel Pessoa.

Aos co-editores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro e Virgínio Breote.

Finalmente ao Luís Graça.

Os Comentários que fizeram a respeito do meu 71º. aniversário foram uma prenda que muito me sensibilizou.
Quero expressar-vos um agradecimento de hoje, de amanhã, de sempre.

Muito Obrigado,
JERO


2. Nota final do editor de serviço

Caros tertulianos, aceitamos contrariados os agradecimentos que nos são dirigidos a propósito dos singelos postes de aniversário que vamos publicando.
O que fazemos é por gosto e para manter este espírito de comunicação entre as pessoas, ao menos no dia em que completamos mais um ano de vida. Se repararem, praticamente todos os dias temos que dizer a um amigo que estamos com ele e que vivemos o seu aniversário como se fosse o nosso.
Muito obrigado àqueles que se juntam a nós nesta iniciativa e tornam estes dias ainda mais alegres.

Pelos editores
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

Vd. postes de:

30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8013: Parabéns a você (233): Rosa Serra, ex-Alf Enf Pára-quedista (BCP 12, 1969); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil (CAOP1, 1972/74) e Benjamim Durães, ex-Fur Mil (CCS/BART 2917, 1970/72) (Tertúlia / Editores)

4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8042: Parabéns a você (236): José Eduardo Oliveira (JERO), ex- Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Tertúlia / Editores)

6 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8054: Parabéns a você (237): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp da CART 3492; Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15, Guiné 1971/73 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8079: Parabéns a você (241): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil, BA 12, 1868/70; Jorge Picado, ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, CART 2732 e CAOP 1, 1970/72; Manuel Marinho, ex-1.º Cabo na 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Binta, 1972/74 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8079: Parabéns a você (241): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil, BA 12, 1868/70; Jorge Picado, ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, CART 2732 e CAOP 1, 1970/72; Manuel Marinho, ex-1.º Cabo na 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Binta, 1972/74 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ(S)

11 DE ABRIL DE 2011

Postais de aniversário idealizados por Miguel Pessoa

JORGE FÉLIX

JORGE PICADO

MANUEL MARINHO


Neste dia 11 de Abril, mais três camaradas e grandes amigos festejam o seu aniversário, dois deles que o editor de serviço tem o prazer de conhecer pessoalmente, o Jorge Félix, um dos nossos gloriosos pilotos de helicóptero Alouette III e o Jorge Picado, meu capitão de poucos mas muito animados meses em Mansabá, e o terceiro, o Manuel Marinho que no Blogue tem já um cunho pessoal quer nos seus postes publicados, quer nas suas chamadas de atenção quando acha que algo não está bem. Cada um à sua maneira merece a nossa consideração e amizade.

Caros camaradas, a Tabanca Grande solidariza-se convosco nesta data festiva.

Os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejam-vos um feliz dia de aniversário junto dos vossos familiares e amigos mais próximos.

Que festejeis esta data por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amais e prezais, são os nossos votos.

Na hora do brinde não esqueçais os vossos camarigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

- Jorge Félix foi Alf Mil Pil Heli Al III, BA 12, Bissalanca, 1968/70

- Jorge Picado foi Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72

- Manuel Marinho foi 1.º Cabo na 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8070: Parabéns a você (240): Ao Pessoa, ao Miguel, ao nosso camarigão, ao companheiro dum anjo da guarda chamado Giselda, ao cartoonista mais strelado do mundo... (O Tabancal... em peso)

domingo, 10 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8078: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): Operação Inquietar II - Manga de Ronco

 1. Mensagem José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 7 de Abril de 2011:

Camaradas
Independentemente do desgaste sentido na implantação de Gandembel, esta é a Operação que mais marcou a Cart 1689. Com apenas 68 dias de Guiné, já havia experimentado situações de extremo sofrimento e, ao mesmo tempo, já havia conquistado o galardão máximo do CTIG.

Este pequeno registo refere-se ao essencial, comprovado pela própria história oficial da Companhia. Porém,
outras se desenvolveram em paralelo que, por certo, virão a merecer a sua divulgação.

Um abraço do
Silva


Outras memórias da minha guerra (7)

Operação Inquietar II – Manga de ronco

Terminada a Op. Inquietar I, na qual os objectivos não foram atingidos e o sofrimento dos militares foi ao extremo, logo o Comando Operacional de Bafatá aproveitou para ordenar a sua repetição. Foi a opinião desse Comando que a nossa CART 1689, pertencente ao BART 1913 e ali adoptada como Companhia de Intervenção, não havia aproveitado “o Plano elaborado era consequência dum estudo cuidadoso do inimigo e da situação”. Foi pena que tanto estudo não tivesse contemplado a vida e a resistência dos militares perante a deficiente orientação, a ausência de reabastecimento de água e a falta de apoio.



05 de Julho de 1967
Saímos de Banjara de madrugada e, quando chegámos a Gendo (cerca das 10H00), já não encontramos ninguém. Destruídas as casas (cerca de 40), seguimos para a zona de Samba Culo. Por volta do meio-dia fomos atacados durante cerca de 10 minutos, tendo ficado ferido o Soldado Manuel de Jesus. Continuámos em zigue-zague, fora do trilho, tendo-se avistado um elemento IN, de camuflado, que fugia e foi abatido.

06 de Julho de 1967
Logo ao amanhecer, a nossa Companhia seguiu a direcção traçada. Logo que a cabeça da coluna surgiu numa clareira, junto da Serração Amaro, ouviu-se um tiro de sentinela. Foi, então, que o Furriel Simões, que seguia nos primeiros lugares, se abeirou do guia/prisioneiro lhe deitou a mão esquerda às goelas e, com a faca de mato na mão direita, lhe apontou o bico ao pescoço e lhe gritou:

- Ó filho da puta, trouxeste-nos para a clareira, para sermos vistos. Se morrer algum de nós, mato-te!

Era evidente que as tropas IN estavam a contar connosco e, depois de recuadas de Gendo e de avisadas aqui, na Serração Amaro, se preparavam para nos atacar.

Voltamos à progressão em zigue-zague e fora do trilho (Tambicó-Canjambari). Porém, cerca das 11 horas, “caímos” num trilho defendido frontalmente por uns 6 ou 7 elementos IN, que se puseram em fuga, depois de “queimarem” alguns cartuchos das Pistolas Metralhadoras e da forte resposta das NT, mas deixando-nos ferido o Cabo António Maria Martins de Matos. Avançámos uns 10/15 metros e caímos numa emboscada.

As tropas IN estavam instaladas em forma de ferradura e dentro de abrigos, construídos à entrada do que depois se verificou ser o acampamento. (Constava que já lá tinha caído nessa forma de armadilha, uma Companhia de Comandos e que teve de recuar). Foi um tiroteio incrível! O Simões e os seus militares que estavam a descoberto e muito na frente, no interior da “ferradura”, não foram atingidos porque o IN tinha receio de atingir as suas próprias tropas, posicionadas frente a frente. Esgotadas as munições, o Simões poisou o queixo sobre as mãos cruzadas e esperou o pior. Apenas sentia algumas folhas de árvore a caírem.

Houve uma pausa e os militares deste pequeno grupo correram para trás, esperando conseguir alguma coisa que servisse de abrigo. O IN reagia sempre que fazíamos menção de avançar.

Os minutos e as horas iam passando (foram mais de 3 horas e meia) e as munições já eram escassíssimas. Durante esse cerco, foram atingidos os soldados António Seixas de Sousa e José Ribeiro de Araújo.

O PCV sobrevoava a zona, mas não atendia aos pedidos do nosso Comandante, feitos através do rádio, dizendo repetidas vezes:

- Preciso novas asas. Preciso novas asas, Só com novas asas. Preciso novas asas. Parecia-nos que estava a gozar com a situação, porque, possivelmente, aproveitando os (referidos) insucessos anteriores, o PCV de Bafatá respondia, também vezes sem conta:

- Não dramatize, siga para objectivo, não dramatize, objectivo está aí na frente.

Nesta altura, alguém do Comando da Operação teria contactado os elementos da CCAÇ 1685, reforçada com um Pelotão da CART 1690, para nos vir ajudar. Foi o que nos valeu. Ouvimos o tiroteio, a norte, perto de nós e sentimo-nos mais aliviados.

Desta vez levantámo-nos e não houve fogo IN. Avançamos então sobre o acampamento, que alguns iam incendiando. Era um acampamento onde ainda ninguém das NT tinha conseguido entrar. Havia casas de construção definitiva e ruelas bastante batidas e limpas, devido ao movimento dos seus habitantes.

Como se estava a perder muito tempo a incendiar e a admirar o nível de organização daquela população, o Capitão Maia abeirou-se de mim e disse:

- Oh Silva, estamos fodidos, porque eles vão-se juntar e vão-nos atacar. - E apontando com o braço: - Banjara fica nesta direcção, são só uns 17km. Vamos avançar.

Havia muitos arbustos pequenos e fechados e fomo-nos vergando entre eles, seguindo por um pequeno trilho. Logo ali, a umas dezenas de metros, apareceu-nos uma arrecadação cheia de armas, munições e outras coisas invulgares; desde paramentos de padre, cigarros cubanos, livros de leitura de escola, panos, rendas, e, até, um gira-discos.

Cada um escolhia a arma ou as armas que queria transportar. O Capitão estava eufórico a distribuir armas por toda a gente. E os soldados, depois de apanharem os cigarros, agarravam entusiasmados em duas e três armas, que colocavam em bandoleira. Toda a gente trouxe material. Incendiou-se a arrecadação e, pouco depois de abandonarmos o local, logo se assistiu a um festival de rebentamentos contínuos que até metia medo. Pensa-se que em cima só estava o material disponível para uso imediato e que por baixo estava o paiol.

O meu Pelotão, ao avançar, viu uma jovem ferida com um tiro numa perna, acompanhada de uma ou duas crianças. Ela apontava para o buraco na perna e nós seguimos, pensando que o enfermeiro, que vinha mais atrás, lhe iria tratar da ferida.
Parámos mais à frente, porque, entretanto, já não faltavam “novas asas” - Fiats, helicópteros, etc. - nem água e, pasme-se: até uma enfermeira trouxeram. Confesso que só depois soube dessa fartura de apoio.

Seguimos, já com receio da noite, mas ainda ouvimos umas rajadas das NT. Entretanto, chegou-nos, à frente a informação de que as miúdas haviam sido massacradas por alguns “heróis” que esqueceram o respeito pela vida de civis desarmados e os ensinamentos da “Psico”. Não foi pessoal da nossa Companhia.

Procuramos regressar rapidamente, servindo-nos agora de um trilho. Foi nessa altura que foi accionada uma armadilha, cujo rebentamento atingiu o quarto elemento da fila - o Serafim Martins Delíndro. Safei-me, porque seguia em segundo lugar, a “segurar” o guia/prisioneiro.

Com receio de emboscadas ou novas armadilhas, optamos por sair do trilho, o que nos sacrificou imenso. O tempo foi passando, o cansaço tomou conta dos militares e os que não tinham conseguido beber da água de reforço, voltaram a sentir enormes dificuldades. À medida que íamos avançando também se notava que os militares se iam deixando para trás as armas e granadas IN apanhadas na arrecadação, porque não aguentavam o esforço.


07 de Julho de 1967
Durante a noite, não havia orientação. Quando apareceram os primeiros raios da manhã, já andavam militares a lamber as ervas húmidas. Digamos que estávamos a ficar na mesma situação de desorientação e desespero, sentida na Operação anterior, com a agravante de que esperávamos a todo o momento ser atacados, como vingança.

Com apenas uns 70 dias de Guiné e já com experiências aterradoras e repetidas, sentimos um desânimo enorme. Para quê continuar se ainda estávamos no princípio e já havíamos sofrido tanto? E, em pouco tempo, apercebo-me que grande parte dos militares já exibia um lenço branco, pronto a acenar e que alguns tinham flores brancas enfiadas nos canos da G3. Ouviam-se murmúrios, desejando que o inimigo aparecesse pacificamente. E voltaram a ser descobertos cantis com urina para beber.

Quando se ouviu barulho, constatámos que estávamos perto de Banjara. Que alívio e que satisfação!
Agora, reposta alguma força anímica, chegavam os guerreiros, exibindo o resto do espólio conseguido em combate. Ainda eram muitas armas, mas menos de 1/3 do que havia sido distribuído. Mesmo assim, esta Operação Inquietar II, ficou para a história como uma das maiores vitórias nas nossas tropas, no contingente militar da Guiné. Como consequência desse sucesso, a nossa CART 1689 foi agraciada com a Flâmula de Honra em Ouro do CTIG, a maior distinção atribuída a Unidades, em combate. Por sua vez, o nosso Capitão Maia, que viria a ser ferido em Gandembel, apetrechou o seu currículo, que o levaria a General.

Entrega da Flâmula de Honra em Oiro, em Catió, no dia 26 de Janeiro de 1968

Seguramente que outras unidades, colando-se a este sucesso, também mereceram louros de destaque. Estou a imaginar agraciados os pilotos e Comandantes das “outras asas”, bem como a enfermeira, que acompanhou o bidão da água, mal distribuída. Seria mesmo curioso, saber-se quem e quantos mais foram “reconhecidamente beneficiados” por este sucesso militar.

Silva da CART 1689
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8059: Efemérides (64): Freguesia de Mar-Esposende: Homenagem aos ex-Combatentes no dia 1 de Maio de 2011 (José F. Silva/Fernando Cepa)

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7609: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (6): O Valente era mesmo valente

Guiné 63/74 - P8077: O Nosso Livro de Visitas (111): António Luiz Figueiredo procura saber notícias do pessoal que com ele conviveu na sua comissão

1. No passado dia 18 de Março, o nosso Camarada António Luiz Figueiredo, que foi Fur Mil TSF em Pirada, Teixeira Pinto e Bissau – 1972/74, enviou o seguinte e-mail ao Luís Graça, esperando receber notícias do pessoal que com ele conviveu na sua comissão.
Camaradas,
Boa tarde.
Os meus parabéns por saber que existe um blogue de tamanha categoria.
Chamo-me António Luiz Figueiredo e estive na Guiné-bissau no período 1972-74, como Fur. Miliciano TSF, em Pirada, Teixeira Pinto e Bissau.
Neste blogue não vislumbro camaradas que possam, eventualmente, ter passado por essas regiões e, mais difícil se torna, uma vez que eu era de rendição individual.
Gostaria no entanto de participar neste blogue e tentar reencontrar velhos amigos.
Apenas preciso de saber o que devo fazer para alcançar tal objetivo.
Na expetativa de notícias, as minhas saudações.
A. Luiz Figueiredo
O meu e-mail: expoluiz@gmail.com
____________
Notas de M.R.:
Amigo e Camarada António Luiz Figueiredo, em nome do Luís Graça e dos restantes Caramadas desta grande tertulia, transmito-te, correspondendo ao teu pedido, que nos congratulamos pelo teu interesse em vires integrar o nosso "quadro de pessoal".

É simples juntares-te a nós, bastando para isso cumprir uma simples e habitual praxe, que é enviares-nos uma foto actual do tipo passe e, pelo menos, uma foto do tempo de tropa.

Envia-nos também, daquilo que te lembrares e achares interessnate, toda e qualquer estória (cuja única limitação é respeitar as regras básicas estipuladas no lado direito do blogue) e todas as fotos que achares por bem.

Bem-vindo e um abraço Amigo.

Vd. último poste desta série em:

10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8076: O Nosso Livro de Visitas (110): Maria João Guardão, realizadora da série documental Eu Sou África... que passa também na RTP - África (hoje, pro exemplo, às 17h45)


Guiné 63/74 - P8076: O Nosso Livro de Visitas (110): Maria João Guardão, realizadora da série documental Eu Sou África... que está a passar também na RTP - África (Veja-se o vídeo, respeitanta ao 2º episódio: Augusta Henriques, fundadora da ONG Tiniguena, técnica de serviço social formada em Portugal, uma força da natureza, uma mulher grande, para quem África é o continente do futuro)

 1. Mensagem de Maria João Guardão, realizadora da série documental Eu Sou África:




Data: 9 de Abril de 2011 10:31
Assunto: Pepito - Eu Sou Africa


Caro Luis Graça,

Sou realizadora de uma série documental - EU SOU ÁFRICA - , cujo último episódio se mostra hoje [, sábado,] na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio  se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a historia da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca [, vd. A sombra do pau torto, por Carlos Schwarz] 


Portanto, este email - info + agradecimentos - segue com um enorme atraso (ainda pior porque me encontro fora de Portugal e com acesso limitado à Net) mas, espero, ainda a tempo - metade da série passará ainda na RTP África, tem acesso à lista de exibição nos links que seguem com o att. 

Obrigada e até sempre

Maria João
________


Maria João Guardão
DESMEDIDA Filmes 
Rua Bernardim Ribeiro 63, 5D
1150-069 Lisboa


Contact +351 21 3539922 / 96 2505714

2. Comentário de L.G.:


O programa Eu Sou África tem uma conta no Facebook...  Na RTP2 passou ontem o último episódio. Na RTP África o último episódio (o 10º , com o Pepito, da Guiné-Bissau) só passará no dia 6 de Maio... Aqui vai a lista completa.


Na RTP África passa às sextas-feiras, às 21h30 (hora de Lisboa) e aos domingos (19h30)...




EP. 1 - IRMÃ CATARINA PAULO (Moçambique) - 4 MARÇO 
EP. 2 - AUGUSTA HENRIQUES (Guiné-Bissau) - 11 MARÇO  [vídeo: 27' 58'']
EP. 3 - JOÃO CARLOS SILVA (São Tomé e Príncipe) - 18 MARÇO
 EP. 4 - MAMI ESTRELA (Cabo Verde) - 25 MARÇO 
EP. 5 - LUZIA SEBASTIÃO (Angola) - 1 ABRIL 
EP. 6 - MÁRIO KAJIBANGA (Angola) - 8 ABRIL 
EP. 7 - CONCEIÇÃO DEUS LIMA (São Tomé e Príncipe) - 15 ABRIL 
EP. 8 - CAMILO DE SOUSA (Moçambique) - 22 ABRIL 
EP. 9 - MÁRIO LÚCIO (Cabo Verde) - 29 ABRIL 
EP.10 - PEPITO|CARLOS SCHWARZ (Guiné-Bissau) - 6 MAIO

Os vídeos (com cerca de meia hora de duração) que já foram exibidos na RTP2, estão já disponíveis no sítio da RTP África. É o caso, por exemplo, do vídeo correspondente ao 2º episódio, dedicado a uma figura feminina da Guiné-Bissau, a Augusta Henriques, 58 anos, nascida nos Bijagós, técnica de serviço social (formada em Portugal, regressada à Guiné-Bissau em 1976), secretária-geral da ONG Tiniguena, que tem trabalhado sobretudo no Arquipélago dos Bijagós, e com as mulheres. É uma força da natureza, esta mulher, esta "mulher grande", com para quem o grande trunfo da Guiné Bissau é a sua biodiversidade e a sua riqueza cultural...

Guiné 63/74 - P8075: Blogpoesia (142): O que me fizeste Guiné (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de  4 de Abril de 2011:

[...]
Depois mais este, "O que me fizeste Guiné", e se calhar é melhor eu parar um pouco, ou então não te darei descanso, embora continue a escrever mais coisas, pois só assim me sinto menos stressado.

Por tudo isto o meu muito obrigado, e espero muito em breve visitar Matosinhos numa dessas quartas-feiras.
Albino silva



O Que Me Fizeste Guiné

O que me fizeste, Guiné,
porque em ti vivo pensando
e quando quero esquecer 
contigo eu vou sonhando...

O que me fizeste, Guiné,
que desde que daí saí
constantemente pensando 
só porque não te esqueci...

O que me fizeste, Guiné,
não me deixas descansar,
ainda vejo o Canchungo 
e lá ando a passear ...

O que me fizeste, Guiné, 
pois não estou a conseguir
evitar de ir a Tabancas 
e batucadas ouvir...

O que me fizeste, Guiné,
estou contigo em todo o lado,
entre matas eu passeio, 
mesmo agora e cansado...

O que me fizeste, Guiné,
que não me deixas calado,
ainda atravesso bolanhas 
e ando todo molhado...

O que me fizeste, Guiné, 
o que se passa comigo
que ando de G3 na mão 
e num abrigo metido...

O que me fizeste, Guiné,
ainda estou a sentir
a tua terra tremer 
e muitas rajadas ouvir...

O que me fizeste, Guiné,
agora que não sou moço,
ainda estou de serviço,
estou de guarda e reforço...

O que me fizeste, Guiné,
que continuo a ouvir
na tabanca tanta gente 
o bom mesinho pedir...

O que me fizeste, Guiné,
agora que não merecia
andar sempre na Psico 
ou então na Enfermaria...

O que me fizeste, Guiné,
que ainda oiço cantar
as badjudas na Bolanha 
e minha roupa lavar...

O que me fizeste, Guiné, 
que agora na minha terra
se vejo um filme com tiros 
desligo porque estou em guerra...

O que me fizeste, Guiné,
porque nada esqueci
por tudo quanto passei 
ainda gosto de ti...

O que me fizeste, Guiné,
pois ninguém se esqueceu
e todos os ex-combatentes 
pensam assim como eu.

Albino Silva
____________

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8062: Estórias avulsas (106): O Papa Ratos e a sua morte junto ao arame farpado (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 8 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8066: Blogpoesia (141): Saudando Abril (Felismina Costa)