sexta-feira, 13 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8265: Controvérsias (124): Ainda as fotos... (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 11 de Maio de 2011:

Carlos
Como sempre estás à vontade para editar, guardar ou deitar fora

Um abraço
José Brás



Foto: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


AINDA AS FOTOS...

José Brás

Tenho andado afastado da intervenção regular no Blogue e nem saberia explicar-me bem porquê, se o perguntasse a mim próprio, a não ser que pudesse dar um mergulho no subconsciente para buscar essa necessidade de reciclagem, de que fala o tal "Jomar" que não sei quem seja, porque tanto pode ser João como José ou Joaquim, Marques ou Martins ou Marcolino; ou pescador, de peixe mesmo, ou de polémicas, ou de imagens mal definidas, de conceitos, de preconceitos, de complexos edipianos ou outros.

Continuando, uma visita de vez em quando, ver os poster de cada um, as informações dos editores e ala milhano para outras margens que me chamam daqui e dali... ou de mim próprio.

Claro que vi as belas fotos postadas pelo António Teixeira e, ainda que não as postasse eu, questão apenas de diferenças de feitio em cada qual, mesmo sem qualificação de virtudes, não deixei de as admirar sem medos seja do que for, nem desse velhíssimo espírito de restrição e de pecado que nos habita a todos e habitará por muito tempo, transformando o corpo numa tentação demoníaca, só quebrada pelo divino dever de procriar, coitando de vestes espessas e de luz apagada.

Não tenho muitas fotos da guerra e apenas uma ou duas de braço pelos ombros de bajuda de "mama firmada". Mas não esquecerei nunca umas tantas que encontrei, sobretudo em Aldeia Formosa, Colibuia e Cumbijã porque em Medjo não havia, que me lembre, não me esquecerei do espanto que era a descoberta desses belíssimos corpos nem do apelo de macho espiritual e biológico que sentia, olhando-as.

Se pudéssemos perguntar a essas mulheres africanas que conheci se alguma vez as molestei ou se tentei usar de poderes para as ter, ou se, sequer, as mal-tratei de palavra ou acto, poderíamos ouvir dizer sem qualquer dúvida que não. Se perguntássemos a uma ou duas se me acostei, poderíamos ouvir que sim. E que culpa será essa que me condenaria às penas do inferno de Jomar?

Já tenho sido severamente comentado por dizer que a mulher reúne em si a imagem do que de mais belo e perfeito tem o mundo, sendo no meu pensar, inclusive, um ser e quase tudo superior ao homem que tem dominado as sociedades e ocultado nisso as suas debilidades.

Ainda agora, a um camarada que me enviou uma mensagem alegadamente irónica com um grosso book que seria o primeiro volume de um tratado para entender a mulher, respondi que não careço de a compreender se posso amá-la... simplesmente, mesmo nos seus mistérios.

Dizem que África foi o princípio de tudo e também, logicamente dessa mulher que nasceu autónoma da famosa costela de macho. Não será isso alheio à minha admiração pelos seus traços teluricamente firmes, sobretudo enquanto a dureza da vida lhes permite.

Jomar lê muito mal, talvez à luz das suas próprias contradições e traumas, o que diz José Belo: "Ah! "Bajudas de todas as tropas; de todas as guarnições militares; de todas as histórias e de todos os impérios do mundo! Lavar roupa era função "oficial". Quantas mais? Substituem todas as necessidades "práticas", e não só, pois as sentimentais "sublimadas" também por lá andariam. Alguns diziam-nas exploradas e utilizadas. Outros, mais cínicos, diziam ser elas que exploravam e utilizavam. Mas, as vantagens seriam mútuas. E, na maioria dos casos, também (e principalmente) para as famílias que, na sombra, lá estavam. Onde acabava o "patacão" e começava o "amor"? (Ou seria vice-versa?). Com o passar das muitas décadas as tonalidades tornam-se cada vez mais... "cor-de-rosa"... e ainda bem!"

Acaso não é verdade que desde a longa história que conhecemos, mulheres acompanhavam os exércitos em movimento, ou eles se juntavam nos "altos" para lhes prestarem serviços práticos de vários tipos, incluindo a venda de sexo?

E será que alguém tem dúvidas que também assim continuará a ser na desgraçada sina humana das guerras que aí virão?

E não é verdade que, mesmo nessas condições extremas de sobrevivência e comércio, muitas vezes "os sentimentos sublimados" não explodiam e mesmo o amor em formas sublimes?

"Quem diria que mulheres pudessem suportar as fadigas daquela campanha, quando a virilidade do homem às vezes fraquejava? No entanto, cerca de cinquenta mulheres, representantes do belo sexo, compartilharam todas as peripécias da longa marcha, seguiam maridos ou amásios, rivalizando com eles até em bravura [...] Apesar da conformação física mais fraca e mesmo da inferioridade biológica, elas nunca demonstraram fraqueza. É que a alma simples da mulher brasileira é feita de sacrifícios e de martírios [...] é esse o sentimento que fez das vivandeiras umas abnegadas".

Esta "peça" pertence ao Capitão Ítalo Landucci, integrante da Coluna Prestes que, entre 1924 e 1927 atravessou todo o Brasil na tentativa de uma revolução popular contra a oligarquia brasileira, é uma homenagem e a exaltação da mulher ou a condenação do homem que a desejava mesmo naquela condições terríveis?

E que dizer de Brecht e das "suas" prostitutas, dos "seus" bares de vinho e mulheres, dos "seus" juízes nivelados ao homem comum na comum ânsia do homem pelo corpo e pela alma da mulher?

Quanta poesia e que bela poesia tem saído da alma dos poetas na justa e libidinosa imagem da mulher?

Quantos feitos grandiosos se cometeram no mundo sob a asa inspiradora do amor carnal e espiritual de homens crápulas ou santos, mussulmanos ou cristãos, administradores ou guerreiros?

E que tem Jomar de tão preconceituoso contra o comércio do sexo? A venda do corpo? A venda da aparência de sentimentos que se têm como para serem partilhados apenas na gloriosa intimidade de dois serem que se encontram? Muito teríamos para falar sobre o assunto se o espaço e a sabedoria nos permitissem, mesmo sem pôr em questão esse ofício de dar filhos, muitas vezes a esposos que não se amam e que tratam esposas como coisa necessária e útil apenas.

Levemente abordei já esta questão aqui no Blogue no troco que dei a poste infeliz aqui editado há meses.

Também, quer no "Vindimas no Capim", quer (e em especial) no "Lugares de Passagem", através da figura de Mominato, tento um entendimento que desejo mais próximo da realidade, naquela perspectiva de José Alencar sobre o índio Guarani.

Na visão de Jomar deve ser tarado sexual todo o homem que entusiasma perante um corpo de mulher.

O soldado português, na sua grande maioria, saía de uma sociedade restritiva e castigadora do corpo e do sexo, sem nenhuma experiência sexual para além de uma ou outra oportunidade com prostituta de feira.

Algumas vezes se terá excedido na descoberta de uma mulher jovem, bonita e desnuda, na confusão que a sua pequena formação cultural e visão do mundo, em confronto com o seu desejo de guerreiro jovem lhe transmitia.
T
alvez se tenham cometido um ou outro crime nas relações de poder que se estabelecem nestas condições de poder.

Contudo, não é essa linha que marca a presença do soldado português na generalidade para além das brincadeira quase ingénuas, nem faz do exército ou do povo entidades abusadoras, como não me faz a mim ou País, entidades especuladoras apenas porque temos a nacionalidade em comum com Belmiro de Azevedo, nem incendiários apenas porque somos da mesma terra de Dias Loureiro, o homem do negócio do fogo.

Criminoso, na África ou aqui, em meu entender, é o uso do poder para forçar uma aquiescência, seja ela de que tipo for, e sexual, por maioria das razões espirituais que o acto envolve.

As fotos de António Teixeira no Blogue (já disse que eu não exporia), não enquadram, nem de perto nem de longe, tal abuso ou intenção e isso foi largamente defendido e fundamentado nos muitos comentários que se editaram.

Estou mesmo de acordo com José Belo quando diz "diziam ser elas que exploravam e utilizavam.", quando me apercebo nas fotos, da gaiatice malandra do olhar dessas bajudas, como que gozando a confusão do branco. E nisso não vejo qualquer mal, nem da parte de um nem do outro, crendo que quem vê qualquer mal aí, é quem tem a alma ainda atada por um espírito feudal das relações homem/mulher, quem lá no fundo tem ainda as marcas da negação do prazer sexual à mulher, quer ela seja negra como nas fotos em questão, quer seja de pele branca, já que da mesma cor serão os espíritos de ambas, diferenciadas apenas pelas culturas de cada qual.

A reacção de Jomar a mim me parece muito mais denunciadora de desvios negativos sobre a mulher, sobre o respeito e a exaltação que a mulher, de corpo e alma, nos merece.

José Brás
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7978: Blogpoesia (125): O cuco sabe que o Sol voltará ao Monfurado (José Brás)

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

Guiné 63/74 - P8264: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (42): Foram localizados os dois jovens carregadores que aparecem na foto junto Cap Mil Vasco da Gama (Pepito / Vasco da Gama)


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) > Setembro de 1973 > O Cap Mil Cav Vasco da Gama mais os dois seus jovens carregadores, Umaru Seide e Issa Seide (mais conhecido por Mário).

 Foto: © Vasco da Gama (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo Pepito, de Bissau [, foto à esquerda]:

Data: 9 de Maio de 2011 18:37

Assunto: Amigos do Capitão Vasco da Gama

Amigo Luís,

Aqui está o resultado do trabalho de terreno do Mamadu Ali Jaló, neto do Tcherno Rachid e filho do actual Califa de Quebo. Conseguiu identificar as pessoas procuradas.
abraço
pepito





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Umaru Seide e Issa Seid, ontem em Cumbijã (1973) e hoje (algures na Guiné-Bissau, possivelmente Colibuía, onde vivem, ou talvez em Quebo)


Foto: © Mamadu Ali Jaló / Pepito (2011). Todos os direitos reservados


2. Mail do Mamadu Ali Jalo (a quem saudamos e, desde já, convidamos a integrar formalmente o nosso blogue, sentando-se sob o frondoso, ecuménico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande)


Data: 9 de Maio de 2011 17:27

Assunto: Amigos do Capitão Vasco da Gama

Boa tarde, Caro Engº

Consegui descobrir (encontrar) os amigos do Capitão Vasco da Gama, da CCAV 8351, na foto de Cumbijã em 1973.

São estes senhores: Umaro Seide e Issa Seide, vulgo Mário. Cada um se identifica atrás da sua imagem na foto com Capitão Vasco.

Os seus contactos são: Umaro Seide > + 6747321: Issa Seide > + 6078283.

Respeitosamente,
Ali Jaló

3. Comentário do Vasco da Gama, Buarcos, com data de ontem:

Foi através desta fotografia tirada no Cumbijã em Setembro de 1973 [, vd. foto acima,] que o Pepito conseguiu encontrar [, através do Mamadu Ali Jaló,] estes meus queridos amigos que o tempo transformou nos homens grandes de hoje. 

O Cumbijã não tinha população e viviam apenas os Tigres [, o pessoal da CCAV 8351,] mais três jovens que eram os nossos carregadores nas contínuas saídas para o mato. Eram eles o Umaru e o Mário que estão na fotografia comigo, e ainda o Iaia.

Ontem telefonei mais de uma dúzia de vezes e não consegui falar com nenhum deles. Hoje, logo pela manhã apanhei o Issa, que nós chamávamos de Mário não sei porquê, e não te sei dizer quem se emocionou mais. O Mário repetia incessantemente : 
- Capitão está vivo, capitão está vivo, tigres, tigres...
E eu, sempre cheio de coragem para estas coisas, choramingava de alegria, como se tivesse encontrado um familiar que julgara perdido.

O Issa tem doze filhos e o Umarú ficou-se pelos nove. Estão todos de saúde e eu prometi que para o ano os ia visitar na companhia da minha mulher e de um casal amigo e bloguista da nossa Tabanca.

A meio da tarde telefonou-me o Issa para pedir para eu ligar às 18horas, pois assim falaria com os três. Linha, cá tem. Estou, vai para três quartos de hora a ouvir a voz da menina MTN......

Que pena que eu tenho de não conseguir ligação, mas sei que Colibuía, onde os três habitam, tem dificuldades de contacto!

Estou feliz como uma criança a quem deram uma prenda que ela há muito ansiava receber.

Agora sim, vou à regressar à Guiné! Obrigado, Pepito, obrigado Ali Jaló, obrigado Umaru, obrigado Issa, obrigado Iaia, obrigado Luís Graça, por serem meus amigos.

Que melhor há do que a amizade entre os homens?


P.S. - Por detrás do trio fotografado, pode ver-se o meu duche e a minha suite, primeira. O chapéu que eu usei numa ida a Aldeia Formosa deu-me direito a um raspanete do Comandante do Batalhão quando me viu empoleirado na Berliet a entrar mal ataviado e a levantar demasiado pó nos domínios de sua Excelência. O que se seguiu terá de ser contado por outrem, que não eu.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 10 de Maio de 2011:

Caros Editores e Camaradas.
Näo sei se devido às inúmeras deslocações minhas, alguns dos e-mails por mim enviados lhes terão chegado ao conhecimento."Espero" que sim.

Nos últimos postes sobre bajudas, surgiu alguma incompreensäo quanto ao "meio" real dos contactos entre os nossos jovens soldados e as mesmas. Por muito incompreensível que possa ser para quem por lá não andou, muito havia TAMBÉM de romantismo lusitano à mistura com uma iniciacäo sexual (!) da parte dos mesmos, vindos na maioria de meios rurais bem conservadores. Escrevi algo sobre este assunto aparentemente até agora não focado.

Um abraco do José Belo.


A guerra. As realidades locais e as "bajudas de mama firmada"

O ponto de partida... dos jovens de vinte anos - os nossos Soldados - era uma sociedade fechada, rural, governada em ditadura, com enormes influências dos valores morais Católicos, e inerentemente com imensos "tabus" sobre tudo relacionado com sexo.

O ponto de chegada... era a África em guerra. Uma África, no caso da Guiné, com variados grupos étnicos, de culturas e valores morais díspares, e atitudes relacionadas com o sexo muito diferentes do catolicismo português. Dentro destes diferentes grupos étnicos as variações de atitudes a este respeito eram também marcantes. Num ambiente de guerra e pobreza indescritíveis, as realidades de subrevivência seriam também fortíssimas. As populações das Tabancas com tropas portuguesas procuravam, lógica e humanamente, tirar os melhores proveitos deste facto. Prioritariamente em assistencia médica e sanitária, em educacäo para os jovens, ou ainda no pequeno comércio com as guarnições em produtos alimentares dos pouquíssimos disponíveis. Como pano de fundo, milhares de deslocados e refugiados das suas zonas tradicionais, independentemente do que pensariam no seu íntimo sobre os guerrilheiros ou os portugueses. Muitas famílias estavam separadas por aquela guerra! Deste modo o ambiente social no interior da Guiné estava bem longe da... normalidade. Mas näo se deve esquecer que os jovens Soldados de Portugal viviam também em Guarnições e Destacamentos perdidos na mata em situações extremas, e bem longe da... normalidade. Desde o alojamento, à saúde, à alimentação, e näo menos ao isolamento total, as situações e realidades eram de tal modo que se não torna necessário referir as minas, os combates, as embuscadas e as flagelações aos aquartelamentos (diárias em alguns locais!).

Mansabá > Quotidiano das mulheres
Foto de Carlos Vinhal

Sugem "As Lavadeiras". Jovens, bonitas, simpáticas, amigas... "normais" em toda aquela anormalidade que é a guerra. Para alguns moralistas sentados algures na Europa, lendo livros sobre África (onde não estiveram por razões suas)... as fotografias dos nossos jovens Soldados na companhia destas lavadeiras, provoca reacções pseudo político-moralistas totalmente desenquadradas das realidades factuais. As tais "lavadeiras" lavavam de facto as nossas fardas. MAS, e ao mesmo tempo, aos olhos daqueles jovens seriam a tal imagem "sublimada" da normalidade rural (!) e sentimental das suas terras (e namoradas) tão distantes. Tudo isto somado à necessidade tão humana de exprimir outros sentimentos que não os da violência que os envolvia, dia após dia, noite após noite! É claro que havia também busca de sexo nestes "romances". Mas näo só. Para muitos destes jovens Soldados foi através destes contactos que tiveram a sua iniciação sexual, feita mais de ingenuidades várias do que de violências colonialistas! Mas explicar "isto" a quem nunca o viveu?

Recordo uma noite no então bem isolado Destacamento de Mampatá, na estrada para Gandembel, então unicamente guarnecido pelo meu pelotäo. Quando fazia uma ronda normal aos postos de vigia, encontrei um dos soldados passeando romanticamente de mão dada com a sua lavadeira, ao luar, por entre as moranças silenciosas. Confesso que parei, pensei, e sorri. Imagem mais bucólica de aldeia lusitana perdida algures não havia. Não vamos ser täo ingénuos e acreditar que não terão também existido abusos mais ou menos graves. Seria a primeira guerra sem os mesmos. Mas, por muito que ofenda os "inquisidores", algo de romântico havia em muitos destes contactos, principalmente do lado dos nossos tão "verdes" jovens.

Quantos não assistiram às chegadas de camaradas vindos de saltada a Bissau, ou de férias em Portugal, acompanhados de embrulhos com vestuário, e mesmo comida vária, para a "sua" lavadeira (e família!)? É claro que, e isto para os mais românticos, as guarnições substituiam-se e as lavadeiras... ficavam. Novas tropas chegavam à Tabanca e... as lavadeiras lá estavam! Sei que alguns dos nossos "veteranos" de hoje por certo pensam por lá ter vivido um "amor dos vinte anos". E, creio mesmo que alguns terá havido. Mas, e mais uma vez, (para se näo cair em ridículos moralismos pseudo-políticos fora do contexto REAL), não se pode esquecer que os valores morais, as regras, as atitudes, os pragmatismos da maioria daquela gente criada numa vida bem perto da natureza envolvente, não daria a "tal" importância a alguns encontros sexuais casuais, se, e principalmente, voluntários.

Estocolmo 10 de Maio 2011.
José Belo.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7977: Blogpoesia (124): Eternidade (J. Belo)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)

Guiné 63/74 - P8262: Convívios (336): Ronco do pessoal da CCS/BCAÇ 2845, realizado no dia 7 de Maio de 2011 na Mealhada (Albino Silva)


1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de  9 de Maio de 2011:

Carlos Vinhal
No dia 7 de Maio tivemos o Convívio da CCS, do qual te envio aqui este trabalho que gostaria de ver publicado no nosso Blogue, no caso de ser possível, como é evidente.
Desde já o meu muito obrigado.

Um grande abraço,
Albino Silva



Convívio da CCS/BCAÇ 2845, realizado no dia 7 de Maio, na Quinta dos Três Pinheiros - Mealhada



O dia esteve frio e chuvoso com temperaturas previstas de 22º de máxima e 12º de mínima, enquanto que na Guiné-Bissau variava entre os 36º e os 24º.

Alheios ao clima, a CCS formou nos jardins desta Quinta, não com o número desejado, mas mesmo assim ainda bastantes camaradas que juntando os familiares perfez 82 pessoas.

Sei que poderíamos ter sido mais, mas mesmo assim criamos um ambiente alegre e bem divertido, que com o calor de uma troca de abraços após a chegada, logo esquecemos o frio que se sentia, e com as recordações do passado contada por todos os camaradas, a temperatura de imediato começou a subir .

Fazemos o Nosso Ronco normalmente no primeiro sábado de Maio, coincidindo este ano no dia 7.
Ora, 7 de Maio foi o dia em que a LDG “Alfange“ nos fez desembarcar em Teixeira Pinto, eram 9,00 h da manhã, depois de termos navegado Rio Mansoa acima, após o desembarque do "Niassa" à 1,00h da noite e com Bissau bem ao longe.
Assim se comemorou o dia de nossa chegada a Teixeira Pinto, o dia 7 de Maio de 1968.


O Ronco foi excelente, e nós Organização, Albino Silva e Mário Guerra, agradecemos a todos os camaradas pela forma como ainda hoje se apresentam nestas "formaturas", pois continuam a ter a mesma disciplina, aquela que aprendemos a ter há 40 anos, quando comandados por excelentes Oficiais e Sargentos, aprendemos e sempre quisemos ser na Guiné "um por todos e todos por um", e ainda hoje somos assim.

Tivemos camaradas que nos contactaram a dizerem o motivo de suas ausências, a desejar-nos um dia feliz com os camaradas presentes, mas outros embora tivessem recebido as cartas, nada disseram, o que me deixa um pouco triste, pois assim nunca saberemos qual o motivo, e logo portanto não os podemos ajudar.

Se por ventura algum destes camaradas visita esta Tabanca Grande, pode logo que leia isto entrar em contacto comigo e dar informação, pois assim ficaremos ao corrente com o que se passa com ele, e claro está, ajudar se for caso disso.

Este o momento em que foi guardado um minuto de silêncio em memória dos camaradas já falecidos.

Normalmente o nosso Capelão, Pe. Francisco da Costa e Silva, nos nossos Roncos, costuma celebrar uma Missa em memória dos camaradas já fora de combate, mas infelizmente, por motivos de saúde, não o pôde fazer este ano. É meu dever e da CCS, desejar-lhe rápidas melhoras. Força padre Francisco.

Faço aqui um apelo a todos os camaradas o seguinte :

1 - Informar o ALBINO SILVA ou o MÁRIO GUERRA, sempre que mudem de residência

2 - Se souberem de algum camarada da CCS que não tenha recebido carta nossa, peçam-lhe o endereço e mandem para nós.

3 - No caso de terem conhecimento do falecimento de algum camarada, contactem-nos de imediato, pois fazemos questão de o acompanhar até à sua última caserna.

O nosso Bolo Comemorativo

Avisamos desde já, e sobretudo os que não estiveram presentes, que o nosso Ronco de 2012 vai ser em Braga, no primeiro sábado de Maio, dia 5.

Para toda a CCS - Os Armados para a Paz
Grande abraço que vos manda cá o rapaz.

Albino Silva
Sold. Maq. N.º 01100467
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8257: Convívios (329): Convívio da CCAÇ 816, dia 7 de Maio de 2011, em Barcelos (Rui Silva)

Guiné 83/74 - P8261: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (11): 15/16 de Dezembro de 2009, uma noite de magia e de emoções, entre os Jacancas de Tabatô, da família de Kimi Djabaté, com a mais universal das linguagens, a música























Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens, mulheres, bajudas, jovens e crianças, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (que aqui viveu até aos 21 anos), tocando os seus instrumentos (balafón, kora, djembé...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade, exteriorizando a sua alegria... Uma noite mágica que emocionou, até às lágrimas o João Graça (*), médico e músico, membro da nossa Tabanca Grande, em viagem  pela Guiné-Bissau, em Dezembro de 2009.


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)...


(i) Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém;

(ii) O fim de semana, de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós, como simples turista;

(iii) Dia 13, domingo, à tarde, regressou a Bissau, ao bairro do Quelelé, onde se situa casa do Pepito e da Isabel, que lhe deram guarida;

(iv) É também aqui a sede da AD - Acção para o Desenvolvimento, cujos trabalhadores tiveram, na segunda feira de manhã, exame médico de vigilância... Viu 18,  de manhã (e no dia 17, viu mais 5);

(v)  À tarde, nesse dia 14,  segunda-feira, o João Graça foi, de carro, visitar, nos arredores de Bissau o Hospital de Cumura, gerido por um Missão Católica portuguesa...

(vi) Ao fim da tarde e noite, esteve no centro de Bissau... 


(vii) E no dia seguinte, 15,  seguirá para o Leste (Bambadinca, Bafatá)... À noite de 15 para 16 foi passada em Tabatô, a já mítica meca da música afro-mandinga, terra natal do grande Kimi Djabaté [, foto à direita, foto de perfil da sua conta no Facebook, reproduzida com a devida vénia].  (LG)


15 a 16/12/2009, 3ª feira, 11º e 12º dias, Tabatô, a 14 km de Bafatá

12.1. O momento alto da viagem: a recepção em Tabatô. Inicialmente os Homens Grandes estavam a ver TV, o tio do Kimi Djabaté, mas o Demba [, músico dos Super Camarimba,] lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.

12.2. Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 Francos (cerca de 1,5€) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, a kora, os djembés, o coro feminino.

12.3. Antes disso, brinquei imenso com as crianças.

12.4. Quando a música afro-mandinga tocou, comecei… a chorar! Serviam wargas,  bebida tipo chá estimulanmte. Estavam alia 20 músicos a tocar para mim.

12.5. À 2ª música pediram-me para tocar violino. Toquei primeiro uma irlandesa, calma [, que tinha aprendido no festival Andanças] mas não pegou. Depois uma mais mexida em sol maior. Toda a gente começou a fazer sons (palmas primeiro, depois balafons, djembés, kora), numa mistura perfeita. Eles adoraram.

12..6. Toquei mais uma, judaica [, klezmer,], a Bulgar de Odessa [. vd. aqui vídeo dos Melech Mechaya], mas a escala harmónica não encaixava com aqueles instrumentos.

12.7. Eles tocaram 4 músicas ao todo, pedi mais uma e aceitaram. Agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô.

12.8. Kimi Djabaté viveu ali até aos 21 anos. Falei com o tio dele. Músico dos Terrakota [...] esteve lá há uns anos (2 ou 3 ???). Músico violinista alemão também já lá passou. Músico canadiano viveu com eles 3 anos, aprendeu a tocar balafon. 

12.9. Depois fomo-nos deitar, Ali e eu [o Antero foi para Bafatá), na casa dos Super Camarimba. Havia lá uma pele de cascavel de mais ou menos 7 metros que tinham morto com espingarda há cerca de 1 mês. Cheiros característicos.


(Continua)


[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G

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Nota do editor:

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8260: Em busca de... (161): Procuro Camaradas do BART 6522/72 - S. Domingos -, 1973/74 (Cláudia Colaço/José Marcelino Martins)


1. O nosso Camarada Luís Graça recebeu em 25 de Abril de 2011, uma mensagem da senhora Cláudia Colaço, com o seguinte apelo.

Procura de ex-combatentes do BART 6522/72
Boa noite,

Sou filha de um ex-combatente da Guiné (1973-1974), que possui interesse em encontrar colegas com os quais perdeu ligação.
Não sei se me poderá ajudar de alguma forma, como por exemplo, datas de encontros, contactos de ex-Combatentes, etc...
O meu Pai integrou a 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6522/72, nos anos de 1973 e 1974.
Fico a aguardar resposta, para o meu e-mail: claudiacolaco88@hotmail.com

Os melhores cumprimentos,
Cláudia Colaço

2. Como é habitual neste tipo de pedidos, o Luís Graça "mandou" o nosso Camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,
Canjadude, 1968/70) trabalhar.
Foi o que ele fez e, em 8 de Maio, enviou-nos a seguinte informação, que passamos a publicar, e dela daremos conta à Dª Cláudia Colaço.

“Bom dia Luís e restantes editores.

Em anexo segue o que consegui sobre o BART 6522/72.
Contactos (apenas da 2ª Companhia).

Página UTW: Américo Matias - matias.2436@hotmail.com e tel 967 682 743.

Página Jorge Santos: Couto - tel 934 544 442.

Um abraço
José Martins”

Guião do Batalhão de Artilharia nº 6522/72
© Guião da colecção de Carlos Coutinho, com a devida vénia.
BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 6522/72

Unidade Mobilizadora: Regimento de Artilharia Ligeira nº 5 – Penafiel

Comandante: Tenente-coronel de Artilharia João Corte-Real de Araújo Pereira

2º Comandante: Major de Artilharia Abílio Margarido Gonçalves

Oficial de Informações e Operações/Adjunto:
Capitão de Artilharia Fernando Nunes Canha da Silva

Comandantes de Companhia de Comando e Serviços:
Capitão do Serviço Geral do Exército Manuel Coelho dos Santos
Capitão Miliciano de Infantaria Mário Pedro de Sousa Teixeira
Capitão Miliciano de Artilharia Armando Pimenta Cristóvão
Capitão Serviço Geral do Exército José Vasques Limon da Silva Cavaco

Divisa: Por uma Guiné Melhor

Partida: A unidade embarcou em Lisboa em 6 de Dezembro de 1972, tendo desembarcado em Bissau a 13 desse mesmo mês. A 3ª Companhia embarcou por fases, via aérea, entre 7 e 15 de Dezembro de 1972.

Regresso: Embarcou, por fases, entre 30 de Agosto e 3 de Setembro de 1974.

Síntese da Actividade Operacional

A Instrução de Aperfeiçoamento Operacional foi realizada em Bolama, no Centro de Instrução Militar entre 15 de Dezembro de 1972 e 12 de Janeiro de 1973, seguindo, a 16 desse mês, para Ingoré para, além de efectuar o treino operacional, a sobreposição com o Batalhão de Caçadores nº 3846.
Assume a responsabilidade do Sector O6, em 10 de Fevereiro de 1973, que incluiu os subsectores de Ingoré, S. Domingos e Susana, que, a 13 de Março de 1973 inclui o subsector de Sedengal.
A sua função no terreno inclui, além da defesa desse território, as colunas, escoltas e patrulhamentos, nomeadamente nas linhas de infiltração de Campada e Sapateiro, utilizadas pelo PAIGC. As suas subunidades orgânicas estiveram, durante toda a sua comissão, integradas no seu dispositivo de manobra.
Já na fase de retracção das Nossas Tropas, ao Sector O6 (Ingoré) foi acrescentado com os subsectores de Barro, Bigene e Ganturé.
A 11 de Agosto de 1974 é rendido pelo Batalhão de Artilharia nº 6521/74, tendo sido deslocado para Bolama, em 13 desse mês, para aguardar a viagem de regresso.

1ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Artur António Pereira

Foi enviada para S. Domingos em 19 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3365, que veio a substituir em 12 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector.
Já na dependência do Batalhão de Artilharia nº 6521/74, em 1 de Setembro de 1974, procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.

2ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Raul Manuel Bívar de Azevedo

Foi enviada para Susana em 13 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3366, que veio a substituir em 17 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector, com um pelotão em Varela, tendo destacado, a partir de 23 de Janeiro de 1974, para colaborar nos trabalhas dos aldeamentos de Catões, Cassolo e Sucujaque.
Já na dependência do Batalhão de Artilharia nº 6521/74, em 1 de Setembro de 1974, procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento de Varela em 28 de Agosto de 1974 e do aquartelamento de Susana em 30 de Agosto de 1974, ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.

Emblemas da 2ª Companhia do Batalhão de Artilharia nº 6522/72
© Emblemas da colecção de Carlos Coutinho

3ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Sérgio Matos Marinho de Faria

Foi enviada para Ingoré em 16 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3364, que veio a substituir em 17 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector, com um pelotão em Sedengal e Antotinha.
A 13 de Março de 1973 foi colocada em Sedengal, criado pela divisão do subsector de Ingoré, sendo Sedengal guarnecida pela Companhia de Comando e Serviços do BArt 65/72. Manteve forças no destacamento de Antotinha, até 1 de Março de 1974, data em que passou a reforça Ingoré com dois pelotões.
A partir de 10 e 24 de Janeiro de 1974, destacou secções para Apilho e Gendem, respectivamente, para colaborar nos trabalhos desses aldeamentos.
Procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento de Sedengal em 30 de Agosto de 1974, ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.
Na história do batalhão, é esta subunidade a única que regista mortos e condecorados.

TOMBADOS EM CAMPANHA e CONDECORADOS

DIOGO DA CONCEIÇÃO SALGUEIRO, Furriel Miliciano Operações Especiais da Companhia de Caçadores nº 16, em diligência no Batalhão, Solteiro, filho de José Salgueiro André e de Celeste da Conceição, natural da freguesia de Zebreira e concelho de Idanha-a-Nova, faleceu em 27 de Julho de 1974 no Hospital Militar de Bissau. Vítima de acidente com arma de fogo, ao ser accionada uma mina das Nossas tropas, em Teixeira Pinto. Foi inumado no Cemitério Benfica – Lisboa.

Foram vítimas de ferimentos em combate, na estrada entre Sedengal e Ingoré, tendo falecido, nesse Sábado 7 de Julho de 1973, os seguintes militares

ANTÓNIO MARIA AZEVEDO DA SILVA, Soldado Atirador nº 08986372, Solteiro, filho de Jorge Fernandes da Silva e de Carolina Dias de Azevedo, natural de Junqueira, freguesia de Azurara e concelho de Vila do Conde. Foi exumado no Cemitério de Azurara.

ANTONIO DE SOUSA CLARA, Soldado Atirador nº 12451072, Solteiro, filho de Joaquim da Costa Clara e de Maria de Sousa Azevedo, natural de Louredo, freguesia de São Mamede do Coronado e concelho de Santo Tirso. Foi exumado no Cemitério de São Mamede do Coronado.

BENJAMIM FERNANDO GOMES DA SILVA, Soldado Atirador nº 11975672, Solteiro, filho de Teodoro Nunes da Silva e de Felismina Pacheco Gomes, natural da freguesia de Ferreira e concelho de Paços de Ferreira. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Paços de Ferreira.

CARLOS ANTÓNIO DA COSTA SALGADO, Soldado Atirador nº 09834272, Casado com Esmeralda Natália Dias da Rocha Salgado, filho de Carlos Júlio da Silva Salgado e de Francisca da Costa Salgado, natural da freguesia e concelho de Ovar. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Anta – Concelho de Espinho.

MODESTO RIBEIRO NUNES, 1º Cabo Atirador nº 12327372, Solteiro, filho de Germano Ribeiro e de Maria Ribeiro Marinho, natural do lugar de Covelo do Monte, freguesia de Aboadela e concelho de Amarante. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Aboadela.

RUI ALBERTO, Furriel Miliciano de Armas Pesadas nº 00753172, Solteiro, filho de Alcide Maria, natural da freguesia de Santiago Maior e concelho de Beja. Foi exumado no Cemitério da Caparica – Concelho de Almada.

Por feitos em combate, nessa mesma operação do dia 7 de Julho de 1973, foram condecorados os seguintes militares:

JOAQUIM SIOPA MENDES TOMÁS, 1º Cabo Atirador, condecorado com a Medalha da Cruz de Guerra – 4ª classe, pela Ordem do Exercito nº 14 – IIIª série – de 1975.

RICARDO PEREIRA DE SOUSA, Alferes Miliciano de Operações Especiais, condecorado com a Medalha da Cruz de Guerra – 3ª classe, pela Ordem do Exercito nº 18 – IIª série – de 1975.

Notas:
Tem história da unidade, que pode ser consultada, no Arquivo Histórico Militar (caixa nº 122 - 2ª Divisão – 4ª Secção).
5º Volume – Condecorações Militares Atribuídas – Cruz de Guerra – Tomo VIII - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 418 e 434).
7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II - GUINÉ - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 244 e 245).
8º Volume – Mortos em Campanha – Tomo II - GUINÉ – livro 2 - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 211 a 213 e 297).

José Marcelino Martins – 8 de Maio de 2011
_________
Notas de M.R.:

A título informativo comunicamos que após consulta ao nosso blogue, descobrimos que temos entre a Tertúlia Bloguista 4 Camaradas deste batalhão:

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Raul Manuel Bivar de Azevedo, que foi Cap Mil da 2ª CART, Susana;
- António Inverno, que foi Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CARTs e Pel Caç Nat 60, S. Domingos;
- Sérgio Matos Marinho de Faria, Cap Mil Inf - Comandante da 3.ª Companhia, Ingoré e Sedengal;
- Ricardo Pereira de Sousa, que foi Alf Mil Op Esp/RANGER do 3ª CART, Sedengal.

Vd. o último poste desta série em:

4 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8218: Em busca de ... (159): Camaradas da CCAÇ 4544 (Cafal Balanta, 1973/74) (Manuel Santos Antunes / Catarina Antunes)

Guiné 63/74 - P8259: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (3): O(s) discurso(s) feminino(s) (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca >  1970  > Convívio no bar de sargentos, em meados de 1970 (ainda estávamos em lua de mel, os velhinhos da CCAÇ 12, e os piras do BART 2917, aqui representados pelo 2º Comandante, Maj Art Anjos de Carvalho, e o 1º Sargt Art Fernando Brito)... 


Quanto às senhoras: à direita do  1º Srgt Brito (hoje major reformado...), (i) a Helena, mulher do António Carlão, ex-Alf Mil At Inf, CCAÇ 12; à direita do Major Anjos de Carvalho (hoje provavelmente coronel, faço votos que esteja bem de saúde), (ii) a esposa do Major de Operações Barros Bastos (cujo nome lamento não me recordar); e à sua esquerda, (iii) a Isabel, a mulher do José Coelho, o Fur Mil Enf da CCS/BART 2917.


Não me parece que tivesse sido o jantar de Natal de 1970, ou coisa parecida: nessa altura, as relações com o major Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão,  eram muito tensas... Inclino-me mais para uma festa de anos, logo no princípio da chegada do BART 2917 (1970/72) a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70)... 


De qualquer modo,  o que é de registar é que na época havia três senhoras brancas, esposas de militares, a viver no quartel de Bambadinca... Ainda há tempos conversei com a Isabel, mulher do Coelho, ao telefone... O casal vive em Beja...  A Isabel guarda as melhores recordações do tempo de Bambadinca... (LG)


Foto: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Guiné > Zona Leste > Bafatá > "Foto tirada no dia 30 de Março de 1971 em Bafatá, onde o grupo foi jantar, para celeberar os meus 24 anos. Na foto, e da esquerda para a direita temos, do lado esquerdo: (i) Leão Lopes [Fur Mil, BENG 447, de origem cabo-verdiana, pintor e cineasta, futuro ministro da cultura da República de Cabo Verde] e a ex-esposa Lucília; (ii) Benjamin Durães; (iii) Fernando Cunha (Sold Cond Auto); (iv) Rogério Ribeiro (1º Cabo Enf); do lado direito, e seguindo a mesma ordem: (v) Braga Gonçalves [Alf Mil], de óculos,  e ex-esposa Cecília; (vi) Isabel e o marido José Coelho (Fur Enf); e (vii) 1º Cabo Condutor José Brás".

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2009). Direitos reservados.







Maia > Águas Santas > Cemitério > Talhão dos combatentes falecidos na guerra colonial > Campa do nosso camarada António Ferreira, 1º Cabo Trms, CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), morto em 17 de Abril de 1972 na emboscada do Quirafo.  Na foto, em primeiro plano, a Cátia Félix, e atrás a Cidália Nunes e alguns camaradas nossos   (o Álvaro Basto, o Zé Teixeira, o António Pimentel, o António Baptista - o morto-vivo do Quirafo-, o Paulo Santiago e outros). 

Recorde-se, sobretudo aos nossos leitores mais recentes, que a Cátia Félix apareceu na nossa Tabanca Grande em Abril de 2009, servindo de "elo de ligação" entre nós e a sua amiga Cidália Nunes, viúva do malogrado camarada António Ferreira que caiu em combate na tristemente célebre emboscada do Quirafo em 17 de de Abril de 1972. Foi ela que ajudou, como apoio de diversos camaradas nossos da Tabanca de Matosinhos, a resolver o luto patológica da sua amiga que durante durante quase quadro décadas se recusou a admitir a morte do seu marido e pai da sua filha que ele nunca chegou a conhecer em vida.
Foto tirada pela filha do Paulo Santiago, a Maria Luís.



Foto : © Maria Luís Santiago / Paulo Santiago (2009). Todos os direitos reservados.





Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.


Foto:  © Giselda Pessoa (2009). Todos os direitos reservados





1. Em 4 de Fevereiro último, no portal Sapo Notícias, Inês Gens Mendes escreveu o seguinte sobre o novo documentário de Marta Pessoa, Quem Vai à Guerra (Portugal, 2011):

"Após ter filmado a prisão dos idosos lisboetas em Lisboa Domiciliária, a cineasta virou-se para as mulheres da Guerra Colonial… As que ficaram à espera dos maridos ou dos namorados, as que os acompanharam, as enfermeiras pára-quedistas, as que ficaram viúvas. Era o lado delas que Marta queria recordar e era o balanço das suas vidas que queria fazer hoje, precisamente no ano [, 2011,] em que se assinalam cinco décadas desde do início da [guerra].

"Muita coisa ainda estava para ser resolvida, discutida, mostrada, explicou a realizadora, que depois da sua experiência na rodagem do filme diz, sem qualquer dúvida, que a guerra ainda não acabou, a Guerra Colonial ainda anda aí. Não se fez o luto, não se fez a catarse.

"O filme está neste momento [, à data da notícia, 4 de Fevereiro de 2011,] na mesa de montagem depois de uma rodagem dura e demorada que foi ao encontro de cerca de 20 mulheres, o número mínimo, diz a realizadora, já que para ser justa seriam milhares.

"Para Marta, Quem Vai à Guerra retoma o tema da invisibilidade para que Lisboa Domiciliária já olhava. Depois deste, a realizadora já tem planos para um filme que complete a sua trilogia neste tema. Embora não levante demasiado a cortina, assegura: já anda aí outro [documentário] com pessoas que não são muito visíveis. [Veja-se também o vídeo com
excertos da entrevista feita à Marta Pessoa]


2. Haverá até hoje um discurso exclusivamente (ou predominantemente) masculino sobre a guerra (colonial, de África ou do Ultramar) ? É só o lado deles que tem falado (ou que se tem escutado) ?


A nossa comunidade bloguística (leia-se: a nossa Tabanca Grande, o nosso blogue que é fundamentalmente um blogue de antigos combatentes, logo de homens) tem contribuído, à sua maneira e dentro das suas limitações, para dar mais visibilidade ao papel das mulheres neste período em que se desenrolou a guerra colonial na Guiné (1963/74 ou talvez mais correctamente 1961/74). 


Em cerca de meio milhar de membros registados na nossa Tabanca Grande, temos por exemplo duas camaradas de armas, as antigas enfermeiras pára-quedistas Giselda Pessoa e Rosa Serra... 


É bom recordar que, em toda a guerra (1961/74) e nos 3 teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique),  elas também não foram mais do que meia centena...Temos no nosso blogue outras tantas referências com este marcador (enfermeiras pára-quedistas). E criámos inclusive uma série, As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (já com mais de duas dezenas de postes).

E quanto às outras mulheres (mães, irmãs, namoradas, esposas, madrinhas de guerra, amigas...
) que directa ou indirectamente foram à guerra (, sem esquecer as voluntárias de organizações como a Cruz Vermelha Portuguesa ou o Movimento Nacional Feminino, a que pertenceram as mães e as irmãs de alguns de nós) ? 


Num total de 494 membros da nossa Tabanca Grande, as mulheres não são mais do que 30 (cerca de 6%), na sua maioria (n=21) tendo uma relação (directa ou indirecta, por parentesco ou amizade) com ex-combatentes... Eis a listagem alfabética:

(1) Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo) [ irmã do ex-Alf Mil Gramunha Marques, morto em combate]

(2) 
Ana Duarte  [, viúva do nosso camarada Humberto Duarte, falecido em 2010]

(3) Ana Ferreira (ou Ana Paula Ferreira)  [filha de um ex-combatente, já falecido, o ex-1.º Cabo Fernando Ferreira da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66]


(4) Clara Schwarz [, a nossa Mulher Grande, de 96 anos, mãe do Pepito, co-fundador e professora do Liceu Honório Barreto, em Bissau]

(5) Cátia Félix [, a jovem amiga de Cidália Nunes, viúva do malografo 1º Cabo Trms, António Ferreira, morto em combate, e a quem ajudou a fazer o luto]

(6) Conceição Brazão [,irmã do ex-Alf Mil Cav Guido da Ponte Brazão da Silva, morto por acidente com arma de fogo] 

(7) Conceição Salgado [, esposa do nosso camarada Paulo Salgado]

(8) Cristina Allen [, ex-esposa do nosso camarada Mário Beja Santos, com quem casou em Bissau]

(9) Cristina Silva [, filha do nosso camarada Jacinto Cristina]

(10) Diana Andringa [, jornalista e cineasta, co-realizadora, com o guineense Flora Gomes, do filme As Duas Faces da Guerra, estreado em 2007]

(11) Dina Vinhal [, esposa do nosso camarada e co-editor Carlos Vinhal, namorada do tempo de tropa]

(12) Felismina Costa [ex-madrinha de guerra]

(13) Filomena Sampaio [, viúva do Manuel Castro Sampaio, ex-1.º Cabo TRMS que pertenceu à CCS/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73), entretanto falecido]

(14) Gilda Pinho Brandão (ou Gilda Brás) [, a órfã de Cató, filha de pai português, comerciante,  e mãe guineense, trazida aos 7 anos para Portugal, para uma família de acolhimento]

(15) Giselda Antunes Pessoa [, sgrt enfermeira pára-quedista ref, casada com o nosso Miguel Pessoa]

(16) Isabel Levy Ribeiro [, engenheira agrónoma, portuguesa, radicada na Guiné-Bissau desde 1975, co-fundador e técnica superior da AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau; esposa do Pepito]

(17) Júlia  Neto [, viúva do nosso camarada José Neto, falecido em 2007]

(18) Lia Medina [, socióloga, cabo-verdiana, de pai português]

(19) Manuela Gonçalves (Nela) [, esposa do Alf Mil Nelson Gonçalves, ferido em combate]

(20) Maria Clarinda Gonçalves [, viúva do Rosa Gonçalves, um camarada da CCAÇ 3566, Empada / Catió, 1972/74]

(21) Maria Joana Ferreira da Silva [, bióloga, a estudar nos babuínos da Guiné-Bissau]


(22) Maria Teresa Almeida [, técnica do Centro de Documentação e Informação da Liga dos Combatentes, nossa incansável colaboradora e admiradora do nosso blogue]

(23) Marisa Tavares [, canadiana de origem portuguesa, filha de Júlio Tavares, sold cond auto, que esteve em Catió]

(24) Marta Ceitil [, jovem cooperante, a viver  na Guiné-Bissau]

(25) Paula Salgado [, filha do nosso camarada Paulo Salgado, e que viveu na Guiné-Bissau com os pais, depois da independência]

(26) Regina Gouveia [, escritora, poetisa, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia, que viveu em Bafatá]

(27) Rosa Serra [, ex-Alf Enf Pára-quedista]

(28) Susana Rocha [, filha do nosso camarada Florimundo Rocha]

(29) Tina Kramer [, investigadora alemã, etnóloga, a fazer trabalho de campo na Guiné-Bissau]

(30) Zélia Neno [, esposa do nosso camarada Xico Allen, e que já foi em tempos à Guiné-Bissau].

Umas são mais activas do que outras no nosso blogue. Uma ou outra foi herdada da tertúlia da I Série do nosso blogue (Abril de 2004/Maio de 2006). Algumas provavelmente já não nos acompanham com regularidade. E outras, muitas outras, têm passado episódica ou circunstancialmente, pelo blogue, como simples leitoras, estudiosas ou curiosas... Outras poderiam fazer já parte da nossa Tabanca Grande, se os critérios de inclusão/exclusão fossem diferentes (ou mais flexíveis)... 



Por exemplo, temos as nossas mulheres que nos acompanham, regularmente, em muitas actividades sociais do blogue (convívios, encontros, palestras, lançamentos de livros, iniciativas solidárias, viagens à Guiné...) e que nem sequer fazem parte da lista alfabética dos membros da Tabanca Grande. Algumas delas são totalistas dos nossos encontros nacionais, que se realizam anualmente, já desde 2006 (O próximo, o sexto, vai ter lugar em Monte Real, em 4 de Junho). 


E algumas delas têm seguramente boas  histórias para partilhar, do tempo de guerra (ou do pós-guerra), bem como fotos e  outros documentos (cartas, aerogramas, etc.). Só não o fazem, por escrito, neste espaço, por uma questão de reserva de intimidade, privacidade, pudor, recusa de exposição pública, motivação, ou outras razões que são inteiramente legítimas. Ou até pode ser que a culpa seja toda nossa, que não temos sido suficientemente sedutores e convincentes, levando-as a publicar no blogue... 


Algumas dirão que o conteúdo do blogue é chato p'ra burro, é só conversa de homens e p'ra homens... Estes, por sua vez, terão pouca sensibilidade e sobretudo paciência para acompanhar o fio da meada das conversas femininas... Afinal, de que falam eles ? E de que (não) falam elas ?


Convenhamos que não é fácil escrever sobre (e muito menos partilhar, num espaço público como é a Internet) coisas tão íntimas como as relações homem/mulher, o namoro, o enamoramento, o casamento, a vida a dois, a sexualidade, a família, a história de vida,  os sentimentos, as emoções, as atitudes e os comportamentos, a dor, o sofrimento, a morte, a guerra e a paz, ainda por cima com referência a um período doloroso e conturbado com o foi o período de 1960/70, o da nossa juventude, que foi também um período de grandes mudanças sociais, políticas, ideológicas e culturais, incluindo ao nível das relações de género...

Em todo o caso, já produzimos alguns postes notáveis sobre estas temáticas, mas em que os autores continuam a ser predominantemente do género masculino (com uma ou outra  excepção notável: estou-me a lembrar, por exemplo, da Cristina Allen) ... 



Lembro aqui as séries As Nossas Mães, As Nossas Mulheres, As Nossas Madrinhas de Guerra (*)... claramente orientadas para o discurso no masculino, no pressuposto de que foram sobretudo os homens os actores da guerra (e alguns, muito mais do que isso, foram transformados em deuses da guerra)...

Alguns de nós contornam as dificuldades e os melindres da abordagem de temas mais intimistas através da linguagem poética ou do recurso à ficção literária... A verdade é que continuam (e continuarão) a faltar, no nosso blogue, a voz delas a falarem (neste caso, a escreverem) na primeira pessoa do singular, como mães, como irmãs, como namoradas, como esposas, como amantes, como amigas, como acompanhantes, como companheiras,  como confidentes, como madrinhas de guerra (incluindo as voluntárias de organizações femininas como o MNF),  etc., de combatentes de guerra, alguns dos quais morreram, ou foram gravemente feridos, ou são portadores de deficiência, ou ainda  são vítimas de sofrimento psíquico na sequência da guerra...



Será mais fácil pôr as nossas mulheres a falar noutros lugares e por outros meios como o cinema documental, perante outras mulheres, as suas filhas, as nossas filhas, que já não foram à guerra, nem sabem o que era um aerograma, nem podem imaginar como era  ser e sentir-se mulher no mato (em Bambadinca, por exemplo)... Ou que mal ouviram falar da existência de uma guerra em África, entre 1961 e 1974, e das suas implicações e sequelas... 


A cineasta Marta Pessoa, nascida em 14 de Março de 1974, pode ser que tenha a varinha de condão, o talento e o poder (mágico), a distância afectiva e efectiva, o saber, em suma,  de tornar visível a invisibilidade que, segundo ela, ainda hoje rodeia a guerra colonial, cinquenta anos depois do seu início... 


Vamos esperar pela estreia do seu filme Quem Vai à Guerra, sexta-feira, 13, às 21h30, na Culturgest, em Lisboa... Ela garante-nos que, com os meios necessariamente limitados de produção de que podia dispor,  procurou dar voz a 20  das nossas mulheres, incluindo uma meia dúzia de camaradas nossas, enfermeiras pára-quedistas (duas das quais são membros da nossa Tabanca Grande, a Giselda Pessoa e a Rosa Serra)... 


Tenho expectativas razoáveis em relação ao filme, sem no entanto pensar que dele vai sair o grande retrato sócio-antropológico da geração das nossas mulheres, daquelas que, de uma maneira ou de outra, foram connosco à guerra... Como noutros momentos da nossa história, há uma maioria silenciosa que este filme não interpela, não interroga, não mostra, não questiona... Até pela razão simples, prosaica, comezinha, destas mulheres serem um amostra necessariamente enviesada, de conveniência, da população feminina portuguesa que (também) foi à guerra, com a literacia, a informação e o conhecimento necessários para poderem aceitar sentar-se, em estúdio, em frente a uma máquina de filmar, e rodeados de toda a parafernália (tecnológica, humana, logística) indispensável ao making of de um filme (documental) de longa metragem (130')....


Dito isto, só espero que o filme da Marta Pessoa seja um sucesso, do ponto de vista técnico, artístico, historiográfico, mas também comercial (já que não há filmes grátis).
_____________

Notas do editor:


(*) A título meramente exemplificativo, e sem a preocupação de fazer uma pesquisa exaustiva, vejam-se os seguintes postes  relativamente à série As Nossas Mulheres
:

2 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3662: As Nossas Mulheres (4): As que casaram com a...Guiné (Virgínio Briote)

24 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (5): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)


Guiné 63/74 - P8258: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (14): Futebol, política e acção psico-social na guerra do ultramar...

Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes... da antiga potência colonial, os tradicionais grandes, até então, Benfica e Sporting. Foto de autor desconhecido.
Imagem: Gentilmente cedidas por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora


1. Mais um texto do nosso camarada e amigo António Rosinha, enviado em mensagem do dia 4 de Fevereiro de 2011


Caderno de notas de um Mais Velho -14

O Futebol, a Política, a Acção psico-social na guerra do Ultramar e similitudes com o Barcelona e Real Madrid

Amigos editores,
Como sempre, hoje também digo para não publicarem se acharem excessivo para o blogue.

Mas penso que, ao analisarmos e interpretarmos acontecimentos a que assistimos com os nossos olhos, não fugimos do carácter deste blogue.

Quando certas constatações são de um indivíduo apenas, é difícil ser aceite por um colectivo. Quem poderia acreditar naquilo que não se documenta? Quantas vezes pomos a nossa imaginação a trabalhar demais?

Tudo o que vou relatar foi vivido e foi público, a interpretação dos resultados é apenas minha e quiçá de muita gente mas que se cala.

O assunto é sobre aquela arma,  a Acção da Psico-social, que foi usada no ultramar pelo nosso governo, em diversas circunstâncias da guerra e da política ultramarina.

Mais ou menos vi nascer a Acção Psico-social logo em 1961.

Segundo a minha memória, ficou popularmente divulgado na tropa de Luanda,  logo em 1961, que um capitão de nome Mendonça iniciou a prática da psico, com sucesso, a norte de Luanda (Tentativa e Caxito).
Esse capitão ficou com a alcunha de Capitão Rebuçado.

Isto eram coisas de conhecimento geral de quem andava na tropa. E o que tem o futebol a ver com a psico?
Como todos sabemos,  havia o Sporting, Benfica e outros de Bissau, de Luanda, de Benguela, Lourenço Marques, etc. E, tal como na metrópole, nas colónias havia o mesmo entusiasmo por esses dois clubes.

Mas em Angola, como havia muito desporto em todas as cidades, começaram a aparecer clubes indígenas com características a puxar para um nacionalismo disfarçado de caseirismo.

Foi o caso,  em Luanda, do ASA (Atlético Sport Aviação) que era uma agremiação formada pelos funcionários da empresa das Linhas Aéreas de Angola, DTA,  depois TAAG, e que ainda hoje continua com as mesmas características.

Este clube formou e vendeu dois jogadores muito célebres em Portugal, que foi o Dinis para o Sporting e Selecção Nacional, e Inguila para o Benfica, que não teve o mesmo sucesso de Dinis, mas era um jogador extraordinário.

Mas onde entra a Psico-social? O Barcelona e o Real?

Quero esclarecer que,  das minhas actividades profissionais, passei 1967/68/69 na DTA, portanto fui por gosto e caseirismo assíduo do clube,  só não jogava, mas estava lá.

Ora, como não havia nada maior que Benfica ou Sporting, estes eram os lógicos campeões, até porque todos os militares que fossem da metrópole e jogassem nalgum clube ofereciam-se imediatamente a esses grandes, e ninguém mais fazia frente a esses grandes.

Até que, e aqui entram coisas de bruxedo, um clube com treinador sem grande nome, sem adeptos numerosos, sem camisolas apelativas, entra em campo a fazer frente aos grandes e,  a partir de certa altura, já se faziam apostas, por quantos é que o ASA ia ganhar ao Benfica, Sporting,  etc.

E foram, os ASA,   tetracampeões, ganharam quatro campeonatos seguidos, sem espinhas e o Sporting e Benfica sem descobrir a maneira de dar a volta: o entusiasmo e as vitórias do ASA eram galvanizantes e, com as derrotas consecutivas,  até clubes com melhores jogadores e treinadores acabavam por baixar os braços.

Goleadas de 4, 5 e 6 golos era frequentíssimo. Durante 3 anos, acompanhei semanalmente os jogos do ASA. O Benfica com Eusébio e Coluna e Toni ganhavam mas com aplicação.

Uma coisa aprendi em desporto, eu que só sou bom à bisca e à sueca, é que vitória atrai vitória e derrota atrai derrota. Vi jogadores inferiores superiorizarem-se e superiores inferiorizarem-se.

Mas, tudo isto foram noticias de jornais, e não há novidade nenhuma, e aqui é que, eu penso e  ninguém mais suspeita,  que aparece, não um Capitão Rebuçado, mas um provável Sargento Rebuçado.

Havia a associação de árbitros de Luanda (ou Angola?), em que um dos seus membros era um Primeiro Sargento do meu tempo de furriel, no RIL. E esse sargento, que era o antigo meu 1.º Sargento Caixeiro, aparece de camisa e calções pretos a arbitrar um dos jogos do meu ASA, em que saiu uma goleada de 7-0.

E um certo comportamento estranho do meu 1.º Sargento deu-me uma inspiração que me acompanhou até hoje. Claro que muitos companheiros da minha cor política e clubista e da boémia luandense, também ficaram com a pulga atrás da orelha. E hoje, para mim, eu não tenho dúvida que havia muitos distribuidores de rebuçados.

Por duas vezes o ASA disputou a eliminatória para a Taça de Portugal, sendo que uma dessas eliminatórias foi com o Benfica com Eusébio, nos Coqueiros, e outra vez foi na metrópole com um clube que não me recordo. E sendo um clube genuinamente angolano, o efeito era mais objectivo do que se fosse uma filial de um clube de Lisboa. Era a globalização pois que o campeão de Moçambique também disputava a Taça de Portugal.

Penso na minha ideia que não foi com armas, mas com ideias que conseguimos disputar internacionalmente uma guerra tão grande e durante tantos anos.

E, esta cena da nossa guerra veio-me à ideia agora, com a luta dos últimos anos do milionaríssimo Real Madrid sem títulos, perdendo teimosamente para o Barcelona.

E o nosso Mourinho a perguntar porquê?
- Yo no credo en Brujas, pero que las hay, las hay...

Mas será que bascos, galegos, e catalães também dão tirinhos?

PS. O historial do ASA é do conhecimento de muita gente que acompanha de perto este blogue.

Um abraço,
Antº Rosinha
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7917: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (13): Emigração para as Colónias, só com Carta de Chamada