sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8724: Da Suécia com saudade (31): Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes... (José Belo)

1. Do nosso camarada e amigo José Belo, hoje jurista, cidadão do mundo, que vive habitualmente na Suécia e às vezes em Kiruna, no Círculo Polar Ártico, mas também em Miami, nos States...

É autor do blogue Lappland to Key West. Não tem endereço de email certo. É um luso-lapão nómada, que nos escreve sempre com saudade do seu/nosso querido Portugal... LG

Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes

por José Belo
 

Tenho por vezes meditado sobre quais os sentimentos com que milhões de Portugueses, nascidos, educados, e muitos combatendo nas colónias sob a bandeira tradicional de séculos, azul e branca, se terão sentido quando, bruscamente, com a implantação da República, a Bandeira Nacional mudou totalmente de cores e símbolos, acabando as cores tradicionais por serem substituídas pelas cores partidárias de um dos agrupamentos políticos republicanos.

  
Fonte: Cortesia de Lappland to Key West

Apesar de a bandeira verde-rubra ter ainda poucas décadas em 1974,como teriam reagido os Portugueses se algum dos muitos "iluminados" de então têm decidido mudar as cores da Bandeira Nacional, republicana ? E se, para mais, viesse a adoptar para a nova bandeira as cores de um dos quaisquer partidos de então?

Para os que hoje colocam a bandeira da União Europeia em lugar de honra,(talvez por ignorâncias feitas, para não chamar de complexos frente "ao estrangeiro"),julgando que a mesma terá "mais pinta", usando um termo, por certo, para eles favorito; esquecendo que, infelizmente, a tal Europa Unida, e a sua bandeira, neste momento o que representam não será lá muito para nos orgulharmos. Uma União Europeia em que a igualdade e a solidariedade entre os povos que a constituem, são cada vez mais substituídos pelos termos "Nós", os ricos, os que trabalham, os sérios, os capazes...e... "Eles", os "Outros", os das praias ao sol...

Tudo o resto que a bandeira azul estrelada deveria representar, se torna de uma simplicidade assustadora nas suas falácias. Antes a "pobre" bandeira verde-rubra, que nos representa como o Povo que somos,com os nossos grandes defeitos,mas também, e não menos,com as nossas grandes qualidades humanas. Qualidades que,infelizmente,talvez só sejam compreendidas em toda a sua profundidade pelos que vivem sob outras bandeiras há muitas décadas.

Como curiosidade, e quanto à Escandinávia e as suas bandeiras, recordo que,  quando aqui cheguei há 36 anos,ter estranhado que, frente a cada vivenda, quinta, casa de férias da mais pequena à mais luxuosa, havia um pau de bandeira. Não um pau de bandeira "à janela", mas um típico pau de bandeira "militar",enterrado no solo. E não só nos feriados ou festas nacionais, mas tanto nos dias de anos dos familiares que vivem na casa, casamentos, batizados ou outras festas familiares, a bandeira lá está, bem alta e orgulhosa. Aquando de morte na família,a bandeira também lá está, só que agora a meia haste. Ao passar de carro numa estrada, ou de barco frente a estes milhares de ilhas, é impressionante o aspecto festivo das vilas e aldeias com as suas centenas de bandeiras nacionais.

E isto do extremo sul ao extremo norte de todos os países escandinavos, mais a Finlândia. Ninguém é obrigado a ter a bandeira. Mas,  tendo-a,  existem regulamentos rígidos sobre o uso da mesma, e multas avultadas para aqueles que os não cumpram. Por exemplo, a bandeira não pode estar velha,  esfarrapada,ou com perda da cor. As dimensões das bandeiras são estabelecidas, assim como as dos paus de bandeira em relação com os tamanhos das casas que os usam, para em nada serem ridículos ou exagerados,e portanto menos próprios para com o símbola nacional. Isto, em toda a sua simplicidade, tem muito a ver com um sincero orgulho da sua Pátria, cultura e valores.

A mesma bandeira nacional que nos nossos Regimentos Militares é guardada em armário envidraçado, geralmente na sala de honra, nos Regimentos Suecos é colocada em lugar destacado da caserna dos soldados mais antigos do Regimento com o fim de ser a última coisa que estes militares olham ao recolher,e a primeira a ser vista à alvorada. 

Outras bandeiras...Outros costumes...Outras gentes.

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

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Guiné 63/74 - P8723: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (21): O Básico apontador de Morteiro de Rajada

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 23 de Agosto de 2011:

Caro Vinhal
Junto nova história, para ser incluida nas "Memórias boas da minha guerra".
Trata-se do registo de alguns bons momentos vividos junto do nosso Básico
"Beralista", apresentado como Apontador de Morteiro de Rajada.

Um abraço do
Silva


Memórias boas da minha guerra - 21

O Básico dos Básicos

Veio do Minho. Quando lhe perguntavam:
- Donde és? Ele respondia:
- A 4.800.

- Mas, que queres dizer com isso? Não percebo. 4.800 de quê? - Então ele esclarecia que 4$80 tinha sido o dinheiro que pagou no autocarro, desde a sua terra até Braga, quando foi para a tropa.

Sabia que se chamava Tono, mas depois que chegou ao serviço militar, passaram a chamar-lhe Fernandes.

Porém, logo que a tropa o topou, mudou-lhe o nome. Passou a ser conhecido pelo “Bêralista”. É que, na brincadeira, estavam sempre a dizer-lhe que ele estava de serviço e ele dizia:
- Num pode ser, é “mintira”. “Atão” estou sempre a trabalhar. Bou ber a lista. (a Ordem de Serviço).

Mobilizado para a Guiné, foi integrado na CART 1689, do BART 1913, em Vila nova de Gaia, no RASP 2.

Logo de início, fomos para a Carreira de Tiro do GACA 3, em Silvalde-Espinho, para desenvolvermos as nossas capacidades no treino de tiro. Numa das saídas para a carreira-de-tiro o “Bêralista”, interpelado por um outro soldado, informou ser “apontador de morteiro”.

– Mas tu sabes fazer fogo de rajada como o morteiro? - Resposta: - Sei, sim senhora!

Estávamos em Janeiro de 1967. Fui até junto da praia (quase privada, junto ao golfe) para ver o espectáculo daquela malta toda, em cuecas de malha, molhadas e esticadas no centro com o peso da água, até aos joelhos. Foi uma grande algazarra e um momento inesquecível para grande parte dos militares, não só pelo invulgar convívio mas, também, porque muitos deles nunca tinham visto o mar.

Regressei cedo para o Aquartelamento, para assegurar o jantar, uma vez que estava de Sargento Dia. Não havia ali ninguém. Fui ao WC e apercebi-me que andava por lá o Fernandes.
- Então, que está aqui a fazer? A malta está toda para a praia e você, aqui? Olhe que daqui a dias vamos para a guerra e temos que aproveitar tudo.

Então ele, sempre de olhos no chão e a coçar a cabeça, começou a responder:
- Este rapazinho não tem doença nenhuma. Graças a Deus. O mar? Nem pensar nisso. Deus, nosso Senhor, tem-me dado muita saúdinha e, graças a Ele, nunca foi preciso eu ir para a praia.

Como se vê, chegados à Guiné, seria um perigo entregar-lhe uma espingarda. Foi promovido a Básico, em apoio aos Furriéis e, depois, a “vigia” numa das casernas dos militares.

Logo que chegámos ao Fá Mandinga, nos primeiros dias de Guiné, o Furriel Pontes foi atacado de febre. Deitado na cama, pediu ao Fernandes que fosse à Enfermaria buscar um termómetro. Regressado da Enfermaria, o Básico informou:
- O Enfermeiro disse que num sabia dele. O Pontes, admirado:
- Oh senhor Fernandes, o termómetro tem de estar lá na Enfermaria. Lá é que é o lugar dele. Vá lá e traga-me essa merda.

Uma hora depois chega o Básico Fernandes e explica:
- Olhe que aquilo desapareceu mesmo. Lá na Enfermaria, começaram a empurrar de uns para os outros e, cá para mim, eles gastaram-no todo.

O “Bêralista” vivia muito fechado consigo mesmo. Não tinha amigos, porque desconfiava de toda a gente. Tinha a roupa guardada numa caixa, tipo salgadeira e dormia vestido com a roupa da tropa e sem lençóis.

Sentado no sofá de Fá Mandinga, aprendendo a domar macacos

Quando regressados da Guiné, no Quartel de Gaia, em fila na parada, se preparava para entregar o equipamento, verificámos que tinha mais de 70% da roupa ainda por usar. E como sempre se queixava que lhe roubavam os quicos (bonés), ele, à cautela, tinha “abarbatado” mais de meia dúzia. O Furriel Simões, vendo que ele tinha umas botas de lona por estrear, “deitou-lhe as unhas” e o “Bêralista”, perante o desespero de não poder sair da fila, soltou uns berros enormes:
- Aqui-del-rei, que me estão a roubar.

A gargalhada foi geral e o Simões aproveitou para lhe dar um par de botas velhinhas e dizer-lhe:
- Se o Sargento Viscoso te pedir as botas novas, não te esqueças de lhe dizer que fui eu que tas roubei. Eu pago tudo o que esse fdp quiser.

Já estávamos em Catió quando chegou o madeirense Rodrigues, em rendição individual. Ora o Rodrigues tinha o péssimo hábito de “deitar a mão” a quem estivesse mais “distraído”. Era Domingo e, enquanto a malta estava toda no campo de futebol, o Rodrigues está de passagem por detrás da caserna. Ao ver uma camisa pendurada no arame de secagem, olhou à volta, ao mesmo tempo que lhe “deitou as unhas”. O “Bêralista”, que estava em local apropriado, larga a correr, de pau na mão:
- Ah, Madeirense , seu ladrãozito, que te mato. O Rodrigues, imperturbável, respondeu, com ar ofendido:
- Cuaralhe, esconfiado, a gente nem pode ver se a roupa está seca.

Canoista em Catió

Um dia, o Fernandes, que era um dos analfabetos protegidos pelo “escrivão de apoio” Celorico, levou uma carta à Secretaria, dizendo que era para ser enviada para a sua terra. O envelope estava cheio de selos, colados de um lado e do outro.
- Então, Fernandes, para que são tantos selos? Perguntou o Cunha. – Resposta do Fernandes:
- Como andam a perguntar se não tenho dinheiro para selos, quero mostrar que este rapazinho ainda tem dinheiro para mais alguma coisa.

Naquela altura, o comando da Companhia caiu, pontualmente, no Alferes Clarinho. Como era brincalhão, alinhou numa trama que montámos ao Fernandes. Fizeram chegar uma carta, supostamente vinda de uma rapariga da sua terra. Alegava ela que estava grávida do Fernandes. O Alferes chamou-o ao gabinete para se certificar das “devidas responsabilidades”.

No interrogatório, o Fernandes dizia que não tivera nada com a queixosa. No entanto, depois de prolongado interrogatório, admitiu poder ter a gravidez sido causada através do “encosto” que o Fernandes fizera ao traseiro da moça durante a celebração da missa, lá na terra. Admitia ter sido essa a única oportunidade de ela poder ter engravidado. Não ficaram dúvidas quanto à responsabilidade do Fernandes, que confessou:
- Só ser for isso.

Não fosse a chegada do novo Comandante, teria sido feita a encenação de “casamento celebrado por procuração”, confirmado pelo comandante interino.

Silva da Cart 1689
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8673: Outras Guerras (José Ferreira da Silva) (1): O Herói de Maiombe

Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8617: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (20): Uma Grande Mulher (ou uma imagem de uma geração)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8722: Convívios (370): Encontro da CART 2412, ocorrido no passado dia 14 de Maio de 2011 em Castelo Branco (Jorge Teixeira)

Passados que são 3 meses do acontecido, estamos a noticiar o acontecimento na certeza de que, nunca é tarde, ou então mais vale tarde do que... todos sabem.

Decorreu conforme estava anunciado, em Castelo Branco, o Encontro/Convívio da CART 2412, Organizado pelo nosso camarada Luís dos Santos Pires. Aconteceu no dia 14 de Maio data que coincidiu com o 41º aniversário do nosso regresso, que como se recordam aportamos ao Tejo no dia 13, mas só desembarcamos a 14 de Maio de 1970.

Teve honras de notícia no jornal local, o semanário Reconquista.
Agradecemos-lhe a deferência, no entanto uma pequena correcção: não foi o 41º encontro, mas sim o 41º aniversário do nosso regresso conforme anteriormente referido.
Estes são os "manfios" que compareceram à chamada, tudo bons rapazes...


...e estes são os mesmos "manfios" com as respectivas familias, tudo boa gente. Ou não fosse a CART 2412 "Sempre Diferentes".

Mas comecemos pelo princípio:

Aqui vai o pessoal do norte, manhã bem cedo, a caminho de Viseu, indo eu... indo eu... com destino a Castelo Branco.


Já em Viseu para fazer uma "mijinha"...

...e finalmente Castelo Branco.

Planeamento da estratégia de ataque à chanfana e ao bacalhau à Lagareiro. Os cinco: Teixeira, Ximenes, Ventura de costas, Feliciano tapado e Dias. De notar que Ventura de costas não é da costa mas sim do Barreiro e Feliciano tapado, não é alcunha nem apelido.

Agora a rambóia: momento exacto do ataque... não era o IN mas o ON ao ataque.





Desta vez o bolo ainda estava intacto para a foto, pronto a ser comido.

Nesta altura já não se aguentavam...
Feliciano: - vai lá cantar o fado "ca gente auguenta", não fiques triste.
Ximenes: - cala-te que estou a pensar para dentro.

As despedidas... até p'ró ano...

Fim de festa a caminho de casa depois de um dia bem passado.
P'ró ano há mais... até lá camaradas.

Um abraço para todos
cumprim/jteix
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8721: Convívios (363): III Convívio anual de ex-Combatentes no Ultramar (1961-1974) do Concelho de Gondomar, dia 24 de Setembro de 2011 (Jorge Teixeira - Portojo)

Vd. também o Blogue Guiné 68-70 CART 2412

Guiné 63/74 - P8721: Convívios (369): III Convívio anual de ex-Combatentes no Ultramar (1961-1974) do Concelho de Gondomar, dia 24 de Setembro de 2011 (Jorge Teixeira - Portojo)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8719: Convívios (362): XVI Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia, 20 de Agosto de 2011 (Artur Conceição)

Guiné 63/74 - P8720: Fotos à procura de... uma legenda (12): Mais uma foto-mistério da Tabanca de Candoz (Luis Graça)


Tabanca de Candoz > 1 de Setembro de 2011 >  Mais uma foto, fresquinha, tirada hoje,  e que é difícíl de obter nas outras tabancas da nossa Tabanca Grande... Uma boa legenda precisa-se e aplaude-se... Será uma viagem ao interior do corpo humano ? Pode ser...

O verão ainda não acabou nem o nosso passatempo... Espero que amanhã não chova porque temos, cá na nossa tabanca, a primeira vindima já marcada, a das castas avesso e loureiro... Daqui a 10 dias há mais, a 2º vindima (restantes castas: azal e pedernã)... Mas aí já eu (e a Alice) estarei em Lisboa, que o trabalha aperta e as saudades do sul também já são algumas... (LG)

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8719: Convívios (368): XVI Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia, 20 de Agosto de 2011 (Artur Conceição)

O nosso Camarada Artur da Conceição, que foi Soldado de Transmissões da CART 730 e esteve em Bissorã, Farim e Jumbembem, nos anos de 1965 a 1967, enviou-nos a seguinte mensagem.


 XVI Convívio dos ex-Combatentes
Freguesia de Campia
20 de Agosto de 2011

Realizou-se no passado dia 20 de Agosto, mais um convívio dos ex-Combatentes da freguesia de Campia.
O convívio contou com a presença de mais de uma centena de pessoas, não obstante o mês de Agosto não ser dos mais favoráveis, para este tipo de eventos.

Importa realçar o facto de o número de participantes ter vindo a aumentar. Os jovens, filhos e netos dos que partiram, ouviram o apelo dos veteranos e estão a juntar-se aos ex-combatentes.
Serão eles que terão de dar continuidade a este tipo de eventos realizados a nível de freguesias.

Na parte da manhã teve lugar a cerimónia de boas vindas e colocação de uma coroa de flores na base do Monumento aos Combatentes do Século XX, tendo sido proferidas algumas palavras alusivas ao acto, pelo ex-Combatente Artur Conceição, e pelo Senhor Padre Cláudio, Capelão Militar, e Pároco da freguesia de Campia, aproveitando a oportunidade para a leitura de um Poema Épico pertencente aos Rangers de Lamego.

Seguiu-se o desfile, encabeçado pelo Guião dos Combatentes da Freguesia de Campia, até à Igreja Paroquial, tendo sido celebrada missa em memória de todos os que entretanto já partiram.

Após a Eucaristia teve lugar a romagem ao Cemitério onde, novamente, foi ouvida uma citação aos Combatentes. Toque de silêncio e de alvorada, e a colocação de flores nas campas dos mortos em combate.

Do mesmo modo foi colocada, em local apropriado, uma coroa de flores em homenagem a todos os ex-Combatentes que já nos deixaram.

Foi ainda colocado um ramo de flores na campa do ex-Combatente Antonino Sílvio dos Santos Pereira, fundador e grande entusiasta deste evento e que prematuramente nos deixou.

Terminadas as cerimónias religiosas teve início, cerca das 12,30 horas, o almoço convívio servido nas novas instalações do Restaurante “O Sacristão”.

Está de parabéns o Carlos Duarte que, como vem sendo habitual, se esmerou na confecção dos produtos mais ao sabor dos participantes, agora servido em novo espaço que permite a todos andarem de mesa em mesa recordando as suas brincadeiras e aventuras de outros tempos.

A animação esteve a cargo de um grupo de concertinas e cavaquinhos, composto por oito elementos, que nos acompanhou desde o inicio do almoço até final, sempre com intervalos adequados, para que a convivência entre os participantes não fosse afectada. 

Que para o ano possamos estar todos de novo.

No final houve ainda tempo para um momento de poesia da autoria do Carmindo Pereira Ramos, Veterano da Índia, que a seguir se reproduz:

I
Fiéis ao nosso passado,
Em terras do ultramar,
Integrados num tratado!
A cumprir, a trabalhar.
II
Por uma causa importante,
Reescrita na História!
Dum país polivalente,
Sempre em busca da vitória.
III
Tínhamos um vasto império,
Desde o Minho a Timor!
Sua defesa…, um critério
De reputado valor.
IV
Seguimos, pois, as pisadas
Dos nossos antepassados,
Mas fechamos as portadas
Com trincos inacabados.
V
Estamos hoje circunscritos
Ao Rectângulo primitivo.
E é aqui que somos vistos
De tão perto, meus amigos.
VI
Outros impérios ruíram,
Quiçá mais fortes que o nosso!
Suas matrizes sumiram
Num conjunto de destroços.
VII
Novas Ordens Sociais
Emergiram pelo Mundo.
Conceitos mais actuais?
Mas sem sentido profundo.
VIII
Ser patriota, hoje em dia!
É uma coisa arbitrária,
Outra sim, se aprendia
Desde os bancos da primária.
IX
A Pátria, acima de tudo,
Assim, pois, nos ensinaram!
A bandeira verde/rubra
E a língua que nos legaram.
X
Mas:
Em pouca conta hoje se têm
Estes valores afirmados.
Tidos até com desdém,
Pelos que são mal formados.
XI
O nosso grupo de amigos!
Tem orgulho, tem certeza:
Tem costumes bem antigos,
Ama a Pátria Portuguesa.
 XII
Honra os seus camaradas!
Já tombados, no dever,
Quando nas Forças Armadas,
Lutavam para vencer.
XIII
Ano a ano está presente, (o grupo)
Na sede da freguesia.
Viva-se perto ou distante,
Seu destino é Campia!
XIV
E não sendo excepção,
Mais uma vez aqui vimos
A esta reunião,
Alegres, porque cumprimos.

Minuto de silêncio… após colocação da coroa de flores na base do monumento.

Colocação do ramo na campa do Antonino Pereira “O Maconde”.

Grupo de concertinas que teve a seu cargo a animação.
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P8718: Convívios (367): Relembrando o 1.º Convívio da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, em Fátima, no dia 24 de Maio de 1997 (Domingos Gonçalves)

 

1. Este poste é como que de apresentação da próxima serie "Guiné 66 - Reportagens da Época", memórias do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), enviadas em mensagem do dia 22 de Agosto de 2011.
CV



REENCONTRO DOS HERÓIS
FÁTIMA, 24-05-97

Ainda foram muitos os que responderam à chamada. Afinal, trinta anos não foi o tempo suficiente para apagar as amizades cimentadas pela adversidade e por inúmeras vivências inesquecíveis.

Compareceu o Comandante do Batalhão, alquebrado pelos anos, mas cheio, ainda, de lucidez e vivacidade. Homem de acção, dinâmico e generoso, sabia merecer o respeito de todos os que dele dependiam.

Compareceu o Comandante da Companhia, o homem que todos detestavam. Foi, enquanto Comandante, uma pessoa em cuja alma a generosidade e o humanismo não tinham lugar. Insensível ao sofrimento alheio, frio e distante, nada soube, ou quis, fazer para minorar o sofrimento dos homens que comandava.
Porém, nada cura melhor que o tempo. Trinta anos foram suficientes para desfazer ressentimentos e apagar da memória a lembrança dos actos mais mesquinhos. Sem mágoa e sem desejos de vingança, na hora do reencontro, todos lhe estenderam a mão.

E compareceram alferes, furriéis, cabos e soldados, que eram, afinal, os homens que no terreno faziam a guerra.
Caminhando ao longo das picadas que seguiam rumo ao desconhecido, mergulhando na lama das bolanhas, ou penetrando no coração da floresta densa e misteriosa, eram eles os verdadeiros combatentes.

Eram eles que sofriam as emboscadas, que atacavam os acampamentos inimigos, que defendiam as povoações, as pequenas tabancas, o povo simples e as suas culturas agrícolas.

Eram eles que sofriam a fome e a sede, a ansiedade e a fadiga, que faziam longas caminhadas a pé, ou sobre viaturas sem quaisquer condições de segurança.
Eram eles que sofriam os efeitos das armadilhas anti-pessoal, ou anti-carro, e que, enquanto conjunto de homens, mais pareciam, às vezes, dada a pobreza em que se vivia, um bando de maltrapilhos armados, do que o grupo de homens corajosos e valentes que, de facto, constituíam.

Porque convivi com eles, partilhando do mesmo destino ingrato, lutando pela mesma causa, nas mesmas condições de miséria, volvidos todos estes anos decidi passar a escrito algumas das nossas vivências no cenário da guerra que ajudámos a fazer.

Eles merecem que a história os não esqueça.
Vou, pois, contar um pouco da história que a Companhia de Caçadores n.º1546, do Batalhão n.º1887, com muito sofrimento ajudou a construir por terras da Guiné. É, afinal, um pouco da minha história...

Se a humanidade, no seu todo, é um astro luminoso a deambular pelo espaço sem fim, a Companhia de Caçadores n.º 1546 não deixará de ser uma das muitas faúlhas luminosas que esse corpo celeste foi, ou vai, largando no seu rasto.

A história é, precisamente, o rasto brilhante que esse belo corpo celeste, o homem, vai deixando ao longo da sua trajectória.

O que a minha Companhia fez na Guiné não passou, com efeito, de uma pequeno contributo para o desenvolvimento da guerra colonial. Mas a História é feita, regra geral, de conjuntos de coisas pequenas, até insignificantes, mas que têm sempre o seu brilho, o seu interesse e significado.
É normal os historiadores referirem apenas o nome dos grandes generais.
Mas eles só foram grandes por que tiveram milhares de homens a combater pelos objectivos que traçaram.
Na trajectória dos grandes generais apenas encontramos sofrimento e rios de sangue derramado por milhares de soldados desconhecidos.

Na Guiné contribuímos para que se fizesse uma guerra.
Foi, por certo, como aliás todas as guerras, uma guerra injusta.
Mas, a responsabilidade dessa injustiça nunca é dos soldados que fazem a guerra no terreno, mas apenas, e só, dos políticos que a conduzem, bem instalados em confortáveis gabinetes.

Os factos que se vão relatar aconteceram.
Eles foram reais, objectivos. Pertencem ao passado e ninguém os pode, minimamente, alterar.

A perspectiva que deles se tem e se transmite é subjectiva e está, por certo, influenciada por um conjunto de factores circunstanciais, de natureza social e psicológica.
É perfeitamente admissível que existam sobre esses mesmos acontecimentos outros pontos de vista, ou outras formas de os interpretar e ver em retrospectiva.

Algumas das pessoas que participaram na construção dessas vivências prefeririam, hoje, que não existisse nenhuma memória sobre o papel que desempenharam.
Mas os factos aconteceram.
Estiveram lá.

É certo que os graus de responsabilidade foram diferentes. Porém, todos fomos actores mais ou menos activos.
Mais ou menos, todos sofremos. Alguns, todavia, tivemos privilégio, ou a má sorte, de fazer sofrer os outros.
Mas que ninguém, agora, pense nisso.
Os ressentimentos, se os houve, apagou-os o tempo.

Os factos, as vivências, a socioafectividade, ou a falta dela, permanecem na memória das pessoas.
É só isso, o que ainda resta na lembrança, que se pretende preservar.

Não se deseja escrever textos de grande brilho literário.
Pretende-se, apenas, transmitir um modesto testemunho para a história da guerra colonial que, sem entusiasmo e convicção, ajudámos a fazer.

Domingos Gonçalves
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Notas de CV:

Vd. postes da série O Regresso dos Heróis

Vd. último poste da série de 31 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8713: Convívios (360): Tabancas de Guilamilo e de Candoz, geminadas...,

Guiné 63/74 - P8717: Fotos à procura de... uma legenda (11): O ninho de andorinha da Tabanca de Candoz

 

Tabanca de Candoz > 5 de Setembro de 2010 > O insólito ninho de andorinha, feito não no beiral do telhado, como é habitual nas andorinhas, mas no alpendre de um das casas (não habitada) da Quinta de Candoz (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses)...

Vídeo (18''): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados


1.  O vídeo, que eu fiz o ano passado, comprova existência de um família de andorinhas, que vem todos os anos do norte de África, imagino, passar as férias de verão e reproduzir-se em Candoz, na nossa quinta (*)... Temos um especial carinho por este ninho, que já tem três ou quatro anos... Nunca, que eu me lembre, de há 36 anos para cá, nenhuma andorinha tinha feito ninho na nossa terra... Estas, tal como eu, chegaram e gostaram, voltando sempre... Este ano não fiz nenhum vídeo, mas dou conta, todos os dias,  do movimento à volta do ninho, de entradas e saídas...

Espero a complacência (e a cumplicidade) dos nossos leitores para estes inocentes passatempos de verão. O mundo está feio, tal como o meu joanete... A gente tem de cultivar a horta do nosso bom humor e sabedoria... E as andorinhas,s e calhar desalinhadas,  mostram também que nós, seres humanos,  podemos ser todos diferentes e até únicos, e que isso só nos enriquece como espécie... LG
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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 29 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça


 

Guiné 63/74 - P8716: Notas de leitura (269): lutte armée en afrique, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Julho de 2011:

Queridos amigos,
O historiador e especialista em conflitos e guerrilhas de descolonização Gérard Chaliand viveu uma experiência com bastantes riscos quando viajou com Cabral e outros líderes históricos do PAIGC no interior da Guiné, em 1966. Esse relato tem páginas admiráveis na captação que este geoestratega de renome mundial faz da vida dos guerrilheiros e dos dotes oratórios de Amílcar Cabral. Terá sido a primeira vez que se fez uma reportagem deste tipo. Chaliand deixa igualmente uma reflexão sobre as particularidades do que ele classifica com a singularidade da guerrilha guineense em confronto com outras guerrilhas do seu tempo.

Um abraço do
Mário


Gérard Chaliand na guerrilha guineense, em 1966 
Beja Santos

O livro de Gérard Chaliand intitula-se “Lutte Armée en Afrique”, e foi editado pela então altamente conceituada Librairie François Maspero, em 1967, numa colecção onde pontificam títulos de Régis Debray, Che Guevara e o General Giap. Chaliand dava os seus primeiros passos nas reportagens que o tornaram um dos mais eminentes especialistas em conflitos associados à guerrilha e ao terrorismo. O seu nome é tido como indispensável na renovação da geopolítica e na estratégia, foi professor da Escola Superior de Guerra e mais tarde director do Centro Europeu de Estudos de Conflitos. A sua amizade com Amílcar Cabral data de 1964, quando ele escreve o seu primeiro livro sobre a Guiné.

“Lutte Armée en Afrique” é um livro encomiástico e de exaltação da guerrilha. A introdução da obra é dispensável, são generalidades conhecidas por todos, a própria documentação de propaganda do PAIGC é um puro anacronismo, pautada por exageros e inexactidões graves. Seja como for descreve o essencial do enquadramento da Guiné quanto a recursos, dados populacionais, emergência do PAIGC (refere a fundação em 1956, a historiografia recente desmente tal data, coloca-a em 1959), etc. O que é deveras singular é a viagem que Chaliand faz entre Maio e Junho de 1966 ao lado de Cabral no interior da Guiné, é uma reportagem em que o narrador se rende à natureza da luta e à personalidade e aos dons oratórios de Cabral. Atravessam o Casamansa, na comitiva vai também um responsável militar do MPLA. São esperados por uma coluna militar capitaneada por Osvaldo Vieira. Marcham horas a fio, passam por povoações abandonadas ou destruídas, chegam ao rio Cacheu pelo amanhecer. Atravessam-no numa canoa e Chaliand regista, admirado, a natureza do tarrafo. No outro lado do rio dirigem-se para um acampamento, passam por campos cultivados por balantas. Cabral observa-lhe que a terra ali é de boa qualidade, é muito diferente da laterite que prenuncia os solos pobres, nova marcha, ao longe ouve-se o troar dos obuses e o som cavo das morteiradas. Atravessam a estrada de Olossato-Bissorã, é uma longa viagem até Maké. São recebidos por Chico Mendes ou Chico Té. Ele escreve a base, situada dentro de uma mata densa, lá dentro há um círculo de 30 metros de diâmetro, estão aqui casas cobertas de vegetação para confundir os pilotos. É numa dessas casas que o grupo que atravessou a Casamansa descansa umas horas. Repousados, e depois de comer, há um cerimonial em que as tropas da FARP se perfilam perante o líder. Este faz um longo discurso que Chaliand grava e reproduz. Cabral fala do futuro, de um tempo em que não haverá exploração do trabalho, em que as mulheres serão respeitadas e todas as crianças poderão estudar. Dá conta aos presentes de como se está a desenvolver a luta armada pelo território. Os resultados ainda são insatisfatórios, é preciso fazer mais, deverá haver uma ligação mais estreita entre os guerrilheiros e as populações, é a consciência da situação do povo que deve preocupar os militares porque no futuro, quando a guerra acabar todos estarão mobilizados nos deveres do progresso. Findos os cerimoniais, Cabral fala informalmente com todos. O repórter nota que há ali livros que tem a ver com a guerrilha, são edições cubanas, vietnamitas e chinesas. Sente-se que alguns dos diálogos registados estão manifestamente aprimorados, tem um tom de gesta e de discurso épico.

De Maké partem para o Oio, uma outra longa caminhada, vão em direcção ao Morés. Chaliand regista que há bombardeamentos aéreos, não muito longe dali. Há feridos hospitalizados. Ele entrevista combatentes e até um desertor português. Assiste ao funcionamento de uma escola, depois regista novo discurso em que Cabral elogia o Morés inexpugnável. Nova conversa de Cabral com os “homens grandes” e depois Osvaldo e Chico Té confirmam ao repórter a história do PAIGC e as lutas da subversão a partir de 1962. No dia seguinte, a coluna parte para Djagali com medidas de segurança mais severas, há informações de que as tropas portuguesas já sabem que Cabral esteve em Maké. Cabe a Osvaldo Vieira detalhar como foi a luta no Sul, no início da guerra, como é que no Oio as tropas e as populações se movimentam com um relativo à vontade, sempre mudando de posições atendendo à pressão constante dos bombardeamentos. Ele fala nas sabotagens que tornaram impraticável viajar por estrada entre Mansabá e Bafatá. O número de tropas portuguesas, observa Osvaldo Vieira, não pára de crescer, nessa data existiria um contingente de mais de 25 000 soldados europeus, fora os “mercenários”. Depois explica as estruturas da FARP. Em Djagali Amílcar Cabral profere novo discurso, desta feita ao lado de Titina Silate, promete um futuro radioso com água canalisada e electricidade. Chegou a hora de regressar ao Casamansa, Chaliand regista imensas patrulhas na zona de Sambuiá. Assim terminou a viagem.

Na terceira parte da obra, dedicada à luta armada em África, o autor descreve as experiências africanas, desde os camarões a Moçambique, relevando as contradições impostas pelo neocolonialismo e refere os apetites de poder da pequena burguesia por toda a África. É dentro desta lógica que ele exalta a estratégia de Cabral como a mais eficaz e original, mostra como ela é autónoma da teoria do ”foco”, que era tão cara a Che Guevara e não esconde a sua profunda admiração pela energia e a combatividade de Cabral que ele considera um intelectual na guerrilha.

O livro é uma relíquia histórica, é um admirável mano a mano entre Chaliand e Cabral, com todas as suas imprecisões e sem disfarçar a carga apologética, é um documento bem escrito, sobretudo no que cabe à reportagem nas entranhas do mato guineense.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8702: Notas de leitura (268): A Guerra de África 1961 - 1964 - IV Volume, por José Freire Antunes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8715: Parabéns a você (310): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

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Notas de CV:

Manuel Joaquim foi Fur Mil de Armas Pesadas na CCAÇ 1419 que esteve em Bissau, Bissorã e Mansabá nos anos de 1965 a 1967

Vd. último poste da série de 28 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8711: Parabéns a você (309): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Bula, 1966/68) e José Corceiro, ex-1º Cabo TRMS da CCaç 5 - Gatos Pretos (Canjadude, 1969/71)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8714: Tabanca Grande (300): Apresenta-se o Eduardo Jorge Ferreira, lourinhanense, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74)


Lourinhã, Moledo > 16 de Agosto de 2011 (*) > Nos caminhos de Dom Pedro e Dona Inês... O Eduardo Jorge, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, Bissalanca, 1973/74) é o segundo a contar da direita... De costas, de camisola vermelha, falando com o Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-Alf Mil Pára-quedista (BCP 21, Angola, 1970/72).



Caldas da Rainha, Fanadia, São Gregório > Restaurante Museu Adega Velha > 16 de Agosto de 2011 > Dois camaradas de armas, lourinhanenses, o Jaime (à esquerda) e o Eduardo (à direita)... No meio o pároco da freguesia, antigo professor e amigo de ambos...



Óbidos > Hotel Real de Óbidos > 16 de Agosto de 2011 > Convívio de um série de amigos lourinhanenses... Na hora do café e do Lourinhac, a famosa aguardente DOC (da região demarcada da aguardente da Lourinhã)... De pé o João Tomás (à esquerda) e o Eduardo Jorge (à direita)... O João Tomás e o Jaime pertence à Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã, colegiada essa que tem como principais objectivos a defesa, o prestígio , a valorização, a promoção e a divulgação da Aguardente Vínica da Região Demarcada da Lourinhã.


Fotos (e legendas) © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados



1. Mensagem de Eduardo Jorge Ferreira, com data de 24 de Agosto último:

Data: 24 de Agosto de 2011 14:14


Assunto: Inscrição na Tabanca Grande


Camarada (de várias frentes!) Luís Graça:

Pois conforme o prometido (*), aqui estou a inscrever-me no magnífico blogue que em boa hora criaste e que com os contributos dos muitos aderentes se tem continuado a afirmar como espaço de partilha e de amizade entre aqueles que tiveram (e tem) a Guiné como cenário de passagem.

Confesso que fiquei maravilhado e entusiamado com o (ainda pouco) que li e vi no blogue do qual desconhecia a (já sua longa) existência.


Estive [, na Guiné, em Bissalanca,] na BA12 de 20 de Janeiro de 1973 (triste data, a do assassínio de Amilcar Cabral, ) a 02 de Setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre) como Alferes miliciano da Polícia Aérea, onde era conhecido por Ferreira.

Quero aqui enviar um abraço especial ao (então Tenente PilAv) Pessoa, um dos primeiros senão o primeiro piloto a ser atingido por um míssil Strela e que felizmente conseguiu ejectar-se e ser resgatado pelos paraquedistas. 

Constato com satisfação que está de boa saúde e tem responsabilidades no blogue e fiquei agora a saber também que casou com a Enf Paraquedista Giselda a quem saúdo igualmente. Pela foto actual e tanto quanto me lembro das suas feições, passados estes 38 anos, não mudou muito, está com óptimo aspecto, o que é de saudar.

Depois de vir da Guiné, e como era voluntário na Força Aérea por 6 anos, passei pela Comissão de Extinção da Pide/DGS (Gabinete de Imprensa) e pelo Estado Maior General das Forças Armadas (1ª Divisão) donde passei à disponibilidade em Junho de 1977.

Entretanto tirei o curso de Instrutores de Educação Física e mais tarde a licenciatura em Administração Escolar, realizando o percurso normal de professor até uma determinada altura a que se seguiram 15 anos de ligação à gestão escolar, dos quais 12 como presidente. Voltei a ser unicamente professor nestes últimos 9 anos lectivos acabando a minha carreira profissional em Abril último.

Um abraço a todos os camaradas
Eduardo Jorge

2. Comentário de L.G.:

Como querido amigo e conterrâneo Eduardo: Julgo que és o primeiro lourinhanense a ingressar na Tabanca Grande, depois de mim que, por acidente ou karma, acabei por estar na sua origem, como fundador e administrador do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

É com muita alegria que me perfilo para te bater a pala e dar-te as boas vindas, em nome dos mais de 500 camaradas e amigos da Guiné que se sentam sob o nosso mágico e fraterno poilão. Vens reforçar, além disso, a já forte representação, no nosso blogue, dos camaradas que estiveram ligados à FAP, incluindo o Miguel Pessoa a Giselda Antunes (, Pessoa, por casamento com o Miguel) .

Ficamos aguardar histórias do teu tempo de Bissau e de Bissalanca, e em especial dos últimos meses na nossa presença militar na Guiné-Bissau, entre Abril e Setembro de 1974. Espero voltar a encontrar-te na caldeirada programada para o próximo Outubro em Ribamar (, terra a que me ligam laços familiares, como tu sabes, e onde tu foste professor).

Toma boa nota: serás o tabanqueiro nº 515, a figurar na nossa lista alfabética, letra E, Eduardo Jorge Ferreira. (**)

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Notas do editor:

(*)2 Vd. poste de 22 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8694: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (45): O António Teixeira (ex-Alf Mil, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73) por terras da Lourinhã...

(**) Último poste da série > 23 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8699: Tabanca Grande (299): António Agreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73 (Cafal, 1973/74)

Guiné 63/74 - P8713: Convívios (360): Tabancas de Guilamilo e de Candoz, geminadas...,

Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães... 21 de Agosto de 2011 > Sete magníficos (a contar da direita, Carvalho de Mampatá, Zé Rodrigues, Zé Manel Lopes, Zé Cancela, Joaquim Peixoto - régulo da tabanca -, Manuel Carmelita, Brito da Silva) mais um (Luís Graça)...



Cinfães, Porto Antigo, albufeira da Barragem do Carrapatelo > 29 de Agosto de 2011 > A Alice, o Joaquim Peixoto e a Margarida... O casal Peixoto veio à Tabanca de Candoz (Quinta de Candoz, Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses) retribuir a nossa, minha e da Alice, visita à Tabanca de Guilamilo (e não Guilhamil), no passado dia 21... Sobre esta "geminação" entre as duas tabancas falaremos, com mais tempo e vagar, logo que forem resolvidos problemas técnicos do blogue que nos obrigam a trabalhar ainda no "modo de edição antigo"...


Fotos (e legendas): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Último poste da série >
25 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8707: Convívios (359): Tabanca de São Martinho do Porto, 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça


1. Quinta de Candoz, Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses > 29 de Agosto de 2011 > Há coisas no campo que não nos passam pela cabeça na cidade... E vice-versa. Nada como estar de férias (sem ser "turista, estúpido em férias") e ter tempo para as pequenas coisas da natureza que são sempre pequenas grandes maravilhas...

Quando se está de férias, sem relógio, sem a pressão dos horários (logo sem o constrangimento do tempo, que é o principal factor de stresse na cidade grande), aguçam-se e usam-se os cinco sentidos: (i) vê-se o nascer do sol por trás da serra, (ii) ouve-se o chilrear dos pássaros (o melro, o rouxinol, o gavião, o corvo, a andorinha, o pombo bravo, o mocho...), (iii) cheira-se o perfume da terra que é diferente com as chuvas de verão, (iv) apalpa-se os dourados e opulentos cachos de uvas do vinho verde (com as suas diferentes castas: o pedernã, o azal, o avesso, o loureiro, que a primeira vindima é já 6ª feira próxima...), (v) degusta-se o pão de milho e o anho com arroz de forno (que os portugueses, injustamente, não quiseram eleger como uma das 7 maravilhas gastronómicas desta terra maravilhosa onde nascemos)... (LG)


Foto: © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados


1. Em vias de se esclarecer a foto-mistério do poste anterior (*), deixo-vos mais um desafio, no âmbito do nosso descomprometido passatempo de verão... Este é aparentemente mais fácil: Qual é a coisa qual é ela ? (Vide foto supra)...

Julgo que desta vez a resposta é mais fácil e rápida... Se o Kanguru Light (a minha internet móvel, passe a publicidade) for mais lesto (o que duvido) do que vocês, estarei à noite, ou amanhã de manhã, à espera dos vossos palpites...

Entretanto, ando a tentar descobrir por que raio é que o novo modo de edição de mensagens do Blogger não está a funcionar, impossibilitando-nos, a nós, pobres editores em férias, de manter o blogue actualizado como é habitual...

E tudo isto enquanto o serviço se vai acumulando, para desespero do Carlos Vinhal, e os leitores vão perdendo a paciência, habituados que estão a terem sempre entre 5 a 8 postes novos, fresquinhos, por dia... Desde Abril de 2004, este é o nº 8712...

Espero, enfim, que nos desculpem qualquer coisinha... Temos, além disso, livro de reclamações...E, já agora, se permitem, deixem-se "recitar" um dos meus textos poéticas, a que eu chamo as minhas "blogarias", escrito o ano passado em dia de namorados... Vem a propósito da aqui falada oposição campo/cidade... LG

2. História (de)vida: Vila, vida, com o mar em frente, entre cabeços

(Para a Alice, companheira de meia vida)
Luís Graça


A vida no campo não era vida,
Não era a vida a vila,
A cidade, o campo.
Nem as tuas leiras,
Os teus solcacos,
Os teus montes.
Não era a vida devida.
Querida,
Esperada,
Sonhada.

Mas o que é a vida,
Meu bem ?
Pensando bem,
A vida no campo até tem
Ou tinha
O seu lado terno,
Ma non troppo.
Eu gostava do campo,
Nas férias grandes,
Do ar puro dos pinhais e eucaliptais
Que faziam bem aos pulmões,
Dizia o João Semana
Lá na minha terra,
Bacharel de medicinas
E de ervas medicinais.
Em contrapartida,
Odiava a colher de pau,
O óleo de fígado de bacalhau.
E as bolas de carne em sangue
Enroladas em açúcar,
Metidas pela goela abaixo.
Lembrar-me-iam mais tarde a guerra,
E a anatomia dos corpos
E a fisiologia do horror.
Temia, sobretudo,
E temia que me pelava,
As bruxas, à noite,
Debaixo dos lençóis.

Ele há coisas na vida do campo
Que eu nunca saberia explicar.
A lufa-lufa, a freima,
Os grandes trabalhos colectivos,
A ceifa,
Os miasmas das doenças,
O trabalho de sol a sol,
Trabalhar que nem um mouro,
Trabalhar que nem um boi,
Trabalhar que nem um galego,
Trabalhar que nem preto.
Temia a pata dos poderosos.
E dos seus cavalos e dos seus mastins.

Não, nunca trabalhei no campo.
Mas gostava da vida no campo
Onde não vivi.
Nasci ao som dos moínhos de vento
E do gemido nas redes dos barcos à vela.
Gosto do campo,
Quando o sol nasce,
Quando o sol se põe.
Tenho um pensamento piedoso
Para a parteira que me aparou.
E para o padre que me baptizou.
E para a professora que me ensinou
A ler, escrever e contar.
E me levou a primeira vez
À cidade.
Grande.

Gosto do campo,
Não sendo camponês
Como tu foste camponesa.
O campo,
A vindima,
A colheita,
O riacho,
As pedras no leito do rio,
O inverno,
A invernia,
O cheiro a estrume,
As batatas com pele,
A febre dos fenos,
Os amores ardentes,
Os colchões de palha,
A lareira no inverno,
Os lençóis de linho,
As tamancas,
As sardas escaladas,
As miúdas de sardas
E ranho no nariz,
Os carapaus secos,
A raia cozida,
A esterqueira,
A neve que nunca vi,
A matança do porco…

Ah! A matança do porco do teu imaginário,
Que o melhor era a bexiga do porco
Para os putos que nada sabiam da vida,
Nem das suas sete partidas.
Nem da guerra anunciada.
Para os putos jogarem à bola,
Os pés descalços
No campo da debulhadora do trigo.
A dois quilómetros da vila.
No Nadrupe.
Na Quinta do Bolardo.

No fundo, o que sabias tu da vida ?
O que sabes ?
Não é preciso ser bem pensante,
Que a vida é mal passada,
Pensada,
Prensada,
Uff! Puxá vida!
Na cidade,
Na vila,
Ou na cidade e no campo
A vida, a vila, é apenas
A estratégia da aranha,
A cilada da morte.
Por tédio,
Asfixia,
Overdose,
Aflição,
Desassossego,
Insónia,
Erosão,
Irrisão,
Depressão da paisagem
Por montes e vales.
A via estreita da vida na vila no campo
Ou na cidade.
A erecção.
A evicção.
A força centrífuga da morte
Na curva da vida.

Mal pensada a coisa
Da vida indevida,
Vida de cão na cidade das sete vidas,
Sete Colinas,
Capital,
Capitólio,
Tudo somado igual
A sete fôlegos de gato
No sobe e desce do bairro,
Entre o pau e o fogo da lareira.

Trespassa-se a vida,
Traspassa-se o corpo,
Trapaça de vida,
Em vila sossegada com vista de mar.
Prensa prensada puxada
Bem parecida a vida na vila,
Apetecida,
No campo de cebolas do talho
Que se comiam em azeite e sem alho.
Na tua terra, Candoz.
Na terra de todos nós,
O Portugal de lés a lés.
Pensando nos parentes embarcados,
Nos Brasis, nas Terras Novas,
Ganhando o pão que o diabo amassava.
Ou nos filhos mobilizados,
Feitos soldados,
P'ras guerras do império.
Índia, Angola, Moçambique, Guiné…
A malga do vinho tinto verde
Entre os camponeses do norte.
O pão, o centeio, o milho,
A casa farta,
A mesa farta,
O presunto,
O salpicão,
A salgadeira que mata.
Alguém sabia lá da cartografia da morte
No Cacheu, ou no Oio, ou no Cantanhez ?!
O sal,
O colesterol,
A tensão essencial,
A vidinha.
Pior é a saudade que rói e que mata.

E agora que não há razões para pensar
Que a vida no campo é
O corpo de delito,
Eu grito
Que a vida está pela hora da morte
Vida, morte, ex-exaequo,
Tensão,
Macho e fêmea,
Misógina a cidade,
Macho, marialva, o campo
Ou o pré-conceito
da minha civilização judaico-cristã.

Saudades ?
A vida no campo era bem passada
Como o bife ao domingo,
Que tu ganhavas fazendo o pino
No Talho do Xico.
No tempo em que a vida no campo ou vila,
Que diferença!,
Era a tua infância.
Vida, vila com o mar em frente,
Entre cabeços.
As Berlengas ao fundo.
A eterna errância
Do mundo.
Foi lá que te vi,
Foi lá que te conheci.

Luís Graça > Blogpoesia (2010)


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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8710: Fotos à procura de... uma legenda (9): Foto-mistério, do álbum de Luís Graça

domingo, 28 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8711: Parabéns a você (309): António Marques Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Bula, 1966/68) e José Corceiro, ex-1º Cabo TRMS da CCaç 5 - Gatos Pretos (Canjadude, 1969/71)

Hoje, os nosso votos de feliz aniversário são a dobrar. Por ordem de antiguidade (não seja esta o posto mais honrado e respeitado entre nós), cumprem mais um festejo os nossos camaradas: António Barbosa, que foi Fur Mil Cav no Pel Rec Panhard 1106 (Bula, 1966/68) e José Corceiro, que foi 1.º Cabo TRMS da CCaç 5 - Gatos Pretos (Canjadude, 1969/71)

1. Ao António Barbosa oferecemos este “maravilhoso” poster da autoria dos (des)ajeitados, mas bem-intencionados editores:

2. Ao José Corceiro, mais sortalhão nesta ocasião, dois murais fabulosos da autoria dos nossos hiper-artistas privados, não remunerados mas devidamente identificados: José Martins e Miguel Pessoa.

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Nota de MR: