quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9368: Documentos (13): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)





Guiné > Chão Manjaco > Pelundo > 1973 > O Coronel Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), comandando exercícios com fogos reais, no Pelundo, na zona oeste da Guiné.

Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, enviada por Luís Gonçalves Vaz, que estava no 25 de  Abril de 1974 em Bissau, sendo filho do Cor Cav Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG:



 (...) Conforme prometi envio-vos mais um artigo sobre a "Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974". Limitei-me a adaptar e transcrever certos excertos de um Dossiê Secreto, que faz parte do arquivo do meu pai,   autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. Leiam-no e vejam, dentro dos vosso critérios,  se tem interesse para publicação no Blogue. Acho que a classificação deste Dossiê, com o tempo deve ter sido "desclassificado", podendo ser publicado, não acham? (...)


2. Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974 > Parte I



Adaptação e transcrição de alguns Excertos do "Relatório da 2ª Repartição do QG do CTIG”, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.


A partir de Janeiro de de 1974, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizava pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo Nordeste do Teatro de Operações onde desenvolvia a Operação “Abel Djassi” (pseudónimo de Amílcar Cabral) e a outra a sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta Zona, o Comando Sul.

As ações foram desencadeadas, numa e noutra das Áreas referidas, com base em novas unidades, das FARP, e com largo emprego de Artilharia e Armas Pesadas, nomeadamente Morteiro 120 mm e Fog 122mm.

Foto (à direita): Nino e Cabral. Font6e: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Além destes meios,  os Mísseis SA-7 Strela eram frequentemente utilizados, o que limitava grandemente o apoio da Força Aérea às guarnições terrestres e, a 31 de Março de 1974, apareciam as viaturas blindadas,  em Bedanda (Cubucaré), o que confirmava o grande aumento de potencial, assim como a crescente capacidade táctica e sobretudo logística do PAIGC.


Nas restantes áreas do Teatro de Operações  da Guiné aumentava igualmente de modo significativo a atividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e ações de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital (Bissau). Como exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos Aquartelamentos ou Povoações, num único dia (20 de Janeiro de 1974, data do aniversário da morte de Amílcar Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26 de Fevereiro de 74) que provocou um morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (em 22 de Fevereiro de 74), onde parte do edifício principal foi destruído.




Foto (à esquerda): SA-7b Grail Strela.  
O SA-7b possuía um novo motor de propulsão e um novo sistema de identificação, o que lhe permitiu passar a aquisição de alvos de 3,6 km para 4,2 km, e aumentar a velocidade de 430 m/s para 500 m/s.

Fonte: http://www.armyrecognition.com/



No sul a ofensiva aí realizada permitia ao PAIGC o controlo efetivo de uma área de razoável superfície em que se inseria o “corredor” de Guileje, percorrido frequentemente por viaturas das FARP, e que confinava com outra vasta área abandonada pelas Nossas Tropas desde 1969 – o Boé.

Foto (à direita): Guiné, 1973 -  Guerrilheiros deslocando-se num carro blindado [, BRDM 2, de origem soviética] . Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Em Abril de 1974, dado o “Esgotamento das Reservas” do Comando-Chefe, previa-se que o relançamento da Ofensiva no saliente Nordeste, orientava para sul, tornaria iminemte o abandono de Canquelifá  e o consequente isolamento de Buruntuma. Admitia-se ser intenção do PAIGC, unir a bolsa assim conquistada com a Região do Boé, por sua vez ligada à Zona onde se localizava o Corredor de Guileje, mais a sul, concretizando deste modo, uma ocupação territorial efetiva que carecia para reforçar a imagem do Estado da Guiné Bissau, parcialmente ocupado pelas Forças Armadas Portuguesas.


Foto (à esquerda) - Jacto Fiat G-91 da FAP, abatido por míssil Strela. Fonte:   Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Nas áreas de incidência de esforços referidos, a situação era de tal modo grave - para a maioria das guarnições das Nossas Tropas, cujos sistemas de defesa não dispunham de “Obras de Fortificação”, que pudessem resistir com eficácia às novas armas pesadas do PAIGC, - que o Comandante Chefe alertava do facto o Estado Maior Geral das Forças Armadas, a 20 de Abril de 1974 (vésperas do Golpe Militar de 25 de Abril) por uma Nota que concluía nos seguintes termos:


“O facto de ter sido confirmada parte das notícias atrás mencionadas pela utilização de viaturas blindadas no ataque a Bedanad, confere certa verosimilhança às restantes notícias que referem a existência de Novas Armas Antiaéreas ou outras, pelo que aquela utilização e o conjunto de circunstâncias descritas na presente Nota, nomeadamente a análise das fotografias juntas, são motivo de grande preocupação para este Comando-Chefe, cumprindo-lhe assinalar as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das Forças Armadas da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das Guarnições Militares que porventura sejam atacadas, quer às limitações de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos. “


Após os resultados obtidos pela guerrilha a partir do início do ano, com ações maciças desencadeadas a nordeste do território e no Cubucaré, a Sul, que se traduziram no abandono de Copá pelas nossas tropas e no desequilíbrio das guarnições de Bedanda e Jemberem, o PAIGC tinha planeado e preparava-se para lançar nova ofensiva, no final da época seca de 1974 (Maio e Junho), a fim de explorar aqueles resultados.

Foto (à direita): Guiné, Bedanda, 1970: Resposta do Obus 14 a ataque de foguetes Katiusha, de 122 mm. Foto gentilmente cedida pelo Cor Cav na reforma Ayalla Botto (CCAÇ 6) ao Hugo Moura Ferreira. Fonte: BLogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Logo que tomou conhecimento do Movimento das Forças Armadas (MFA), a 25 de Abril de 74, o Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) chegou a expedir ordens, no seguimento do que estava planeado, para que fossem desencadeadas ações com todos os meios disponíveis, com o objetivo evidente de tirar partido da situação em curso e explorar, de imediato, qualquer possível perturbação que admitiu pudesse existir no seio das nossas tropas.


No entanto a ofensiva planeada não chegou a concretizar-se e, inclusive,  a partir do início de Maio,  registou-se um nítido abaixamento da atividade de guerrilha.


Ao longo de todo o mês de Maio de 74 foi, de facto, notado um ligeiro aumento de atividade durante a segunda semana, seguido de novo decréscimo no final da mesma, o qual continuou posteriormente regular e constante.


A redução acentuada de atividade resultava de, em 21 de Maio, pouco antes do início da 1ª fase das conversações em Londres, o Secretariado do Governo do PAIGC ter difundido a seguinte ordem às FARP (documento com doze instruções):


(...) 11º) Devemos estar preparados para reagir violentamente contra todas as ações do Inimigo, 12º) Lembramos a todos os Militantes e combatentes que mais do que nunca é necessário estarmos vigilantes e que não podemos confraternizar com as Forças Inimigas enquanto não ficar claramente decidida a sua evacuação da Nossa Terra de acordo com os objetivos fundamentais da Luta que são: A Independência total e imediata do nosso Povo da Guiné e Cabo Verde. Estas decisões correspondem à situação Política e Militar do momento e devem ser estreitamente cumpridas. Saudações a todos os Camaradas. (...)

Apesar das determinações do SG [Secretariado Geral] do PAIGC, anteriormente descritas, não deixaram dúvidas sobre o adiamento das Operações de Guerrilha até nova ordem. Alguns grupos combatentes continuaram a ignorá-las durante vários dias, nomeadamente a Norte, na Região onde o corredor de Lamel intercepta o Itinerário Farim-Jumbembem, e no Sul, no Sector do Cubucaré.

Por outro lado o comando das FARP continuou a expedir ordens para o planeamento e preparação, até ao fim de Maio (de 1974), de diversas operações, em especial na Zona Sul, as quais seriam desencadeadas se o andamento ou o resultado das conversações de Londres (de 25 a 31 e Maio) não fossem aceitáveis.

Adaptado por: Luís Gonçalves Vaz  (Tabanqueiro 530)

(Continua)

Guiné 63/74 - P9367: Parabéns a você (368): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando (Guiné, 1964/66)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9366: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Cachil, Agosto. Parte III (José Colaço)


1. O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a última parte da narração iniciada nos postes P9351 e P9360.

Agosto de 1964
Parte III

Agosto de 1964, mês de decisões a nível de comando chefe. Os trabalhos da construção do quartel estavam concluídos. Entretanto de Catió - comando de sector -, não aconselhavam as batidas à mata do Cachil, situação que eu nunca consegui perceber.

Mas sabia-se que era importante, naquela fase e por evidente estratégia militar, limpar todo o caminho entre Catió e Cufar.

Assim, no dia 3 de Agosto, quase todos os efectivos da companhia foram mobilizados para mais uma tentativa de ocupar a zona de Cufar - a célebre mata do Cantanhêz.

O dia não foi feliz para a 557 que sofreu 2 feridos graves em combate: o "ilhéu" - 2º sargento Manuel Conde -, e o soldado António Belo, ambos foram evacuados para o hospital 241, em Bissau, após o que seguiram para o hospital militar da Estrela, em Lisboa.

Para as forças que nos acompanhavam o dia também foi mau, pois o sargento vagomestre do 7º destacamento morreu nesse dia vítima de uma granada de bazuca do inimigo.

O regresso tinha que ser no próprio dia, porque o aquartelamento do Cachil ficou com uma segurança bastante fragilizada e exposto a eventual ocupação por parte da guerrilha.

A 26 de Agosto, cerca das 12 horas, sofremos um ataque amigo. A secção que tinha ido no dia anterior a Catió, para proceder ao abastecimento de água, regressava ao Cachil, quando foi sobrevoada por 2 aviões F86, que habitualmente patrulhavam o espaço aéreo e procuravam sinais de movimento inimigo no terreno. Os pilotos confundiram os nossos homens com elementos do PAIGC e começaram a metralhar o cais. O pessoal refugiou-se como pôde na bolanha e ninguém ficou ferido, mas alguns dos jerricans da água ficaram furados.

Nós no quartel estávamos desesperados sem meios para reagir, porque não possuíamos qualquer tipo de comunicação com os F86. A única coisa que fizemos, rapidamente, foi correr para o cais com a bandeira nacional, tendo 4 de nós pegado em cada uma das pontas, para que os pilotos vissem que éramos forças amigas e terminassem de imediato aquele ataque "amigo".

Foto nº P1170591.JPG - Um F86 a picar na direcção do cais do Cachil. A justificação que foi dada pelo estado-maior da força aérea em Bissau, foi que os pilotos eram novos (periquitos) sem experiência na Guiné. Se já era muito raro ouvir no Cachil o zoado de um motor de um avião, a partir desse dia até 27/11/1964, dia em que a CCaç 557 saiu do Cachil, o silêncio a nível de aviões foi total. 

Foto nº 1170620.JPG - 27/11/1964, o adeus ao Cachil, a CCaç 557 saía da porta de armas rendida pela CCaç 728. 

Foto nº 1170622.JPG - A LDM202 no cais do Cachil, com todo os elementos da CCaç 557 no seu seio.  



Foto nº1170625.JPG - A LDM202 na passagem por Bolama com A CCaç 557 a bordo.


Foto nº 1170627.JPG - A LDM202 quando foi obrigada a parar por falta de água para navegar, devido à maré baixa.


Fotos nº 11706228.JPG - A LDM202 “estacionada” num extenso banco de areia, onde permanecemos 3 ou 4 horas. Tempo que deu para que cada um desse largas à sua criatividade, onde se evidenciou a pesca desportiva. Na companhia haviam alguns camaradas algarvios que eram pescadores profissionais, que aqui mostraram bem os seus dotes. 


Fotos nº 11706229.JPG - Idem foto anterior.

Foto nº 1170632 JPG - Chegada e apresentação em Bissau.

Termino aqui esta pequena resenha da estada da CCcaç 557 na operação tridente, que decorreu na Ilha do Como, Cachil.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. os dois postes anteriores desta série em:


14 DE JANEIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9351: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: o ignorado Agrupamento E (CCAÇ 557): Parte I (José Colaço)


Guiné 63/74 - P9365: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte V): 'Decifrado' o nome do comandante do PAIGC, Bobo Keita (Luís Gonçalves Vaz)

1. Mensagem de hoje, do nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz:

Data: 17 de Janeiro de 2012 16:24

Assunto: Esclarecimentos da nota do Coronel Henrique Vaz do dia 11 de Outubro de 1974

Caro Sousa de Castro, caro Luís Graça:


Consegui "decifrar" dois dos nomes dos Comandantes do PAIGC que reuniram com o meu pai no dia 11 de Outubro de 1974, para planearem a entrega de Aquartelamentos ao PAIGC. Como tal peço-vos o favor de substituir a nota em questão (*) pela seguinte:

Bissau, 11 de Outubro de 1974

"... Tivemos às 15H00, na Amura uma reunião com os comandantes do PAIGC, comandante Gazela, comandante BOBO KEITA e o comandante ... (... do próprio) Correia, sobre a entrega dos quartéis de Sta Luzia e outros. ..."

"... Fomos jantar ao Palácio, julgo que todos ou a maioria dos oficiais do Quadro Permanente presentes na Guiné. Jantar volante, simpático e descontraído, num ambiente alegre e ... . Anedotas contadas pelo Coronel Lemos e pelo Major Lemos Alves. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz

(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
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Nota de LGV:

Comandante BOBO KEITA: Fez parte de todas as delegações do PAIGC que negociaram o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau, depois do 25 de Abril. Morreu em Lisboa em Janeiro de 2009.

Comandante GAZELA:  Cabral de Almada, conhecido por "Comandante Gazela" (na nota do coronel Henrique Vaz só o refere como GAZELA)


Abraço
Luís Beleza Vaz (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P9203: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte III) (Luís Gonçalves Vaz): Set / Out 1974


(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9317: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte IV): Agosto de 1974: ainda o caso do BCAV 8320/72 (Bula, 1972/74) (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné 63/74 - P9364: Agenda cultural (182): Lançamento do livro Guerra Colonial e Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: o caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado, dia 24 de Janeiro de 2012, pelas 18h30 no Centro de Informação Urbana de Lisboa, Picoas Plaza


Convite para assistir ao lançamento de livro

'Guerra Colonial e Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: o caso da Guiné-Bissau',  de Leopoldo Amado

Dia 24 de janeiro de 2012, pelas 18h30, no Centro de Informação Urbana de Lisboa, Picoas Plaza, Rua do Viriato, 1

Resumo

"Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional (1950-1974): o caso da Guiné-Bissau" é um exercício historiográfico que teve por escopo essencial o incremento do estado actual do conhecimento da temática, tanto pela via de confrontação de visões, de documentação vária e de leituras advenientes das duas realidades da mesma guerra, como pela assunção deliberada de uma postura metodológica de permanente dissecação diacrónica, estrutural e conjuntural, dos vários contextos que conferem a esta guerra particularidades próprias e únicas, quando comparada, por exemplo, com as que ocorreram em Angola ou Moçambique.

A obra condensa um esforço de compreensão dos meandros históricos que, por um lado, quase levaram o Exército português a um colapso militar na Guiné-Bissau, e, por outro, quase catapultaram o PAIGC para a galeria histórica dos movimentos de libertação nacional do chamado Terceiro Mundo que se destacaram na luta anticolonial.

Trata-se de uma adaptação para o grande público da tese de doutoramento que, em 2007, Leopoldo Amado apresentou à Universidade de Lisboa.


Leopoldo Amado nasceu em 1960 no Sul da Guiné-Bissau. Licenciou-se em História em 1985 pela Faculdade Letras de Lisboa - Universidade Clássica de Lisboa.

Antes de voltar à Guiné-Bissau em 1989, concluiu em 1987 o Curso de pós-graduação em Relações Internacionais (Estudos Islâmicos) pela extinta Universidade Internacional de Lisboa e frequenta entre os os 1987-1989 o curso de mestrado em Estudos Africanos no Institituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.

Na Guiné-Bissau, tornou-se investigador do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas). Nesse país, desempenhou, sucessivamente, as funções de: Director do mensário "Baguera"; Director Comercial do Geta-Bissau (empresa privada); Vice-Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos; Director do "Tcholoná", única Revista Cultural então existe no país. Trabalhou ainda na Guiné-Bissau como consultor nacional e internacional, destacando-se, entre outros, os trabalhos em matéria de gestão de projectos e planificação estratégica, desenvolvidos com a UNICEF, PLAN INTERNATIONAL, PNUD, FNUAP, RADDA BARNEN e AMNISTIA INTERNACIONAL, para além das funções de correspondente e de comentador político da BCC, Rádio France International, Voz de América, RDP África e RTP África.

No além-fronteiras, com sede em Cabo Verde, e cobrindo outros países como Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Guiné-Conacri e Gâmbia, trabalhou ainda como Director do SPHAC - Projecto da UNESCO para a Salvaguarda do Património Histórico da África Contemporânea, entre os anos 1995 à 2001.

Posteriormente, em Portugal, antes de concluir um Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa (2007), trabalhou como Secretário Executivo da “Guineáspora” (Fórum Mundial dos guineenses na Diáspora), tendo posteriormente regressado a Cabo Verde, onde, desta feita, trabalha junto da Uni-CV (Universidade Pública local), desde 2008 à esta parte, desempenhando aí, designadamente, as funções de docência em cursos de graduação (licenciaturas em História e Ciências Sociais) e em cursos de pós-graduação (mestrado em Ciências Sociais), para além de outras funções que assumiu, concomitante e alternadamente, como sejam as de Coordenador de Curso de História (Chefe de Departamento) e de Presidente do Departamento (Faculdade) de Ciências Sociais e Humanas.

[Com a devida vénia ao CES Lisboa - Centro de Estudos Sociais]


Curriculum Vitae

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

• Nome: Leopoldo Victor Teixeira Amado
• Filiação: Mateus Teixeira da Silva Amado e Cipriana Araújo de Almeida Martins Amado.
• Naturalidade: Guiné-Bissau.
• Data de nascimento: 19 de Junho de 1960.
• Nacionalidade: Guineense
• Habilitações Académicas: Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa.

2. HABILITAÇÕES ACADÉMICAS

• 1967– 1971 – Ensino primário na Escola Central de Bolama;
• 1971 – 73 – Ensino complementar básico do ciclo preparatório em Bissau;
• 1973 – 1979 – Curso complementar dos liceus;
• 1980 – 00 – Curso dirigido de formação de professores liceais;
• 1881 – 1986 – Licenciatura em História pela Universidade de Lisboa;
• 1987 – 00 – Curso de pós graduação em Relações Internacionais (Estudos Islâmicos, Universidade Internacional de Lisboa);
• 1989 – 91 – Frequentou o Mestrado em Estudos Africanos pelo Instituto de Ciências Políticas e Sociais de Lisboa;
• 2007-00 –Concluiu Doutoramento em História Contemporânea, Universidade de Lisboa.

3. ACÇÕES DE FORMAÇÃO

• 1989– 00 – Participou na cidade do Porto num seminário promovido pela Embaixada de Angola sobre “O desenvolvimento da Literatura e das Ciências Sociais nos PALOP";
• 1990/00 – Participou em Vila Real, Trás – os – Montes, Portugal, num seminário sobre a metodologia de investigação em Ciências Sociais, promovido pela Universidade de Trás – os – Montes;
• 1990 – 00 – Promovido pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau), participou com prelector no Congresso Internacional “Bolama Caminho Longe”:
• 1990 – 00 – Promovido pelo INEP, participou num seminário sobre “Negociações e Estratégia”;
• 1990– 00 – Promovido pelo INEP e Universidade “Cheik Anta Diop”, em Dakar, participou num seminário sobre "Metodologia de investigação Histórica em África";
• 1991 – 00 – Participou no Instituto de Investigação Científica Tropical de Lisboa num seminário sobre a problemática da investigação social em África;
• 1991 – 00 – Participou na Universidade “Cheik Anta Diop”, Dakar, num seminário promovido pela CODESRIA, sobre a metodologia de investigação histórica em África;
• 1992 – 00 – Participou em Bissau numa acção de formação promovida pela SOLIDAMI (extinta plataforma das ONG’s guineenses) sobre a elaboração, gestão e seguimento de Projectos;
• 1993 – 00 – Participou em Dakar num seminário promovido pela Radda Barnen (organização sueca dos direitos da criança) sobre a Aplicação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Crianças;
• 1993 – 00 – Participou em Dakar num seminário promovido pelo ENDA TIERS MONDE sobre a Gestão de Projectos de desenvolvimento, abordagem social e avaliação participativa;
• 1995 – 00 – Participou em Abidjan, Costa do Marfim, numa acção de formação organizada pela Coalition des organisations de la société civil sobre a “Elaboração, gestão e seguimento de Projectos”;
• 1996– 00 – Participou em Portugal em vários seminários sobre a problemática dos direitos Humanos, promovido pela CIVITAS;
• 1996b – 00 – Promovido pela UNICEF – BISSAU, participou numa acção de formação dos formadores em matéria de Planificação Estratégica por objectivos e avaliação de Projectos;
• 1997 – 00 – Participou em Bissau numa acção de formação sobre os Direitos da Criança, promovido pela AMIC (Associação dos amigos da criança)
• Participou no Workshop sobre a "A situação das crianças em situação particularmente difícil: crianças de rua, crianças trabalhadoras e crianças desprovidas de meio familiar adequado";
• 1997 – 00 – Promovido pela ACÇÃO PENAL INTERNACIONAL, participou em Genebra num seminário sobre "Os fundamentos jurídico-internacionais dos Direitos Humanos";
• 1997 – 00 – Participou em Lisboa no Congresso Internacional de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, promovido pelo Comissão para a comemoração dos descobrimentos portugueses;
• 1998 – 00 – Participou em Lisboa num seminário sobre" A indivisibilidade dos Direitos Humanos”, promovido pela CIVITAS";
• 1998 – 00 – Promovido pela Universidade “Cheik Anta Diop” e INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa), participou em Dakar, Senegal, num seminário sobre a metodologia de elaboração histórica em África;
• 1999 – 00 – Promovido pelo Centro de Estudos Africanos do ISCTE, participou numa Conferência de Reflexão sobre o conflito político-militar, na Guiné-Bissau;
• 2000 – 00 – Promovido pela Câmara Municipal de Belo Horizonte – Brasil, participou no Congresso internacional sobre as literaturas de Língua Portuguesa;
• 2000 – 00 – A convite da Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau e da Fundação "Mário Soares", foi prelector em Bissau (Centro Cultural Português) de uma conferência subordinada ao tema: "A Actualidade do pensamento político de Amílcar Cabral";
• 2003 – 00 – Promovido pela CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) participou num seminário internacional de historiadores africanos de Língua portuguesa;
• 2004 – 00 – Participou em Durban, (África do Sul) na II Convenção Internacional da World Movement for Democracy;
• 2005 – 00 – Promovido pelo CODESRIA, participou em Bissau numa acção de formação destinada aos doutorandos e mestrandos dos PALOP, com um seminário sobre a metodologia de produção científica em Ciências Sociais em África;
• 2005 - Participou em Istambul (Turquia) na III Convenção da World Movement for Democracy;
• 2006 – 00 – Participou como prelector num seminário organizado pelo Centro de Estudos de História Contemporânea do ISCTE, sob o tema “Colonialismo e guerras coloniais”.
• 2010 – Proferiu uma conferência sobre a historiografia cabo-verdiana na Universidade de Gran Canárias em Las Palmas;

4. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

• 1976 – 1979 – Trabalhou como professor primário em Canchungo e Bissau;
• 1979 – 00 – Trabalhou como professor do Ensino Básico Complementar na Escola "Justado Vieira”, Guiné-Bissau";
• 1979 – 1980 – Trabalhou, em comissão de serviço, como redactor principal da Revista do Ministério da Educação da Guiné-Bissau;
• 1980 – 81 – Trabalhou como professor do Liceu Regional de Bafatá, onde desempenhou a função do Presidente do Conselho Técnico;
• 1986 – 88 – Foi bolseiro de investigação do extinto Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (actual Instituto Camões), tendo nessa qualidade produzidos estudos sobre a Literatura Colonial Portuguesa;
• 1988 – 89 – Trabalhou na Embaixada de Angola em Portugal como assessor do Departamento Cultural, com as funções específicas de redactor principal da Revista “Angolé, Artes & Letras;
• 1989 – 91 – Trabalhou como investigador permanente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau), onde actualmente é investigador associado;
• 1991 – 00 – Trabalhou como consultor nas pesquisas tendentes ao zoneamento da Guiné-Bissau, pela UICN – União Internacional para a conservação da natureza;
• 1991 – 00 – Trabalhou como Consultor da USAID no estudo sobre "Mercado de Castanha de Caju” na Guiné-Bissau;
• 1991 – 93 – Trabalhou como Director Comercial do "Geta-Bissau", na altura a maior empresa privada da Guiné-Bissau;
• 1994 – Passou a desempenhar as funções de comentador político junto à imprensa guineense e internacional, designadamente junto a Rádio Difusão Nacional, Rádio “Pindjiguiti”, Rádio “Bombolom”, Diário de Bissau, (Guiné-Bissau) “RDP-África” (Portugal), Rádio Renascença Internacional (Portugal), RTP África (Portugal), Voz de América, Rádio das Nações Unidas e BBC;
• 1994 – 96 – Desempenhou na Guiné-Bissau as funções de Director do mensário "Baguera";
• 1994 – 95 – Trabalhou na Guiné-Bissau como consultor da Radda Barnen (ONG sueca) na elaboração do estudo sobre "A situação das crianças fulas, mandingas, balantas e papel";
• 1994 – 96 – Trabalhou como Coordenador de Projectos da AMIC – Associação dos amigos da Criança: associativismo; jardins-de-infância; Infra-estruturas escolares e sociais; monitorização acções comunitárias de desenvolvimento (educação saúde e actividades produtivas); seguimento E avaliação de Projectos.
• 1994 – 96 – Trabalhou como consultor da UNICEF e da Radda Barnen, dirigindo várias acções de formação de formadores em Bissau e no interior do país, em matéria de organização comunitária, gestão participativa e Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Crianças;
• 1994 – 96 – Trabalhou na Avaliação do Programa trienal da UNICEF-BISSAU;
• 1995 – 97 – Desempenhou as funções de Director da Revista "Tcholoná", única Revista Cultural então existente na Guiné-Bissau;
• 1995 – 97 – Trabalhou como Coordenador de Projectos da Liga Guineense dos Direitos Humanos;
• 1996 – 00 – Trabalhou como consultor da PLAN INTERNATIONAL no âmbito da Planificação Estratégica e Programação do novo ciclo de acções e Projectos dessa ONG internacional;
• 1996– 00 – Trabalhou em Bordéus e Paris como consultor da Editora Nathan e École International de Bordeaux na elaboração, como co-autor, do livro Anthologie Littéraire de l' Afrique de l' Ouest;
• 1996 – 00 – Trabalhou como consultor da UNICEF no exercício de Planificação Estratégica por objectivos e Programação do um novo ciclo de acções e Projectos;
• 1996 – 00 – Trabalhou na Guiné-Bissau como consultor na Planificação Estratégica por objectivos para o FNUAP, onde teve responsabilidades pelo sector "Advocacy/Plaidoyer";
• 1996 – 00 – Trabalhou como professor de Literaturas Africanas de expressão portuguesa na Escola Normal Superior “Tchico Té” em Bissau;
• 1997 – 2000 – Desempenhou as funções de Vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos;
• 1997 – 00 – Produção, realização e apresentação de inúmeros programas radiofónicos de interesse público e pesquisa histórica: Rádio Difusão Nacional da Guiné-Bissau e “Rádio “Pindjiguiti”;
• 1997- 00 - Trabalhou como consultor da Plan International/Bissau na Avaliação do Programa Nacional “O Sistema de apadrinhamento de crianças da Guiné-Bissau”;
• 1997 – 1998 – Trabalhou como consultor da UNESCO, desempenhando as funções de Investigador do SPHAC (Projecto de Salvaguarda do Património Histórico da África Contemporânea): os casos da luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde, com sede na cidade da Praia, Cabo Verde;
• 1998 – 00 – Trabalhou como consultor da Amnistia Internacional em Moçambique (Maputo, Beira, Nampula, Nacala e Nacala-Porto) e Joanesburgo (África do Sul), na elaboração do relatório de 1998 sobre os direitos Humanos em Moçambique e na África do Sul;
• 1999 – Após o conflito armado de 1998 na Guiné-Bissau, trabalhou na área de Projectos como consultor contratado da AMIC (Associação dos Amigos da Criança) e da L.G.D.H (Liga Guineense dos Direitos Humanos);
• 1999 – 2001 – Assumiu as funções de Coordenador do Projecto SPHAC da UNESCO (Projecto de Salvaguarda do Património Histórico da África Contemporânea), de que resultou a elaboração do livro Uma Luta, Um Partido, Dois países, de Aristides Pereira, ex-Presidente da República de Cabo Verde;
• 2001 – 2005 – Prelector de várias conferências, seminários e colóquios na Guiné-Bissau, Portugal, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Senegal, Guiné-Conakry, Angola, Brasil, Moçambique, Togo, Nigéria, Costa de Marfim e outros países;
• 2005 – 2006 – Consultor contratado da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) onde realizou um inventário critico (comentado) do espólio documental, bibliográfico e arquivístico;
• 2005 – 2006 – Participação na Guiné-Bissau no Exercício de Avaliação do Projecto “Compreender e ajudar as crianças Talibés”, projecto desenvolvido em parceria pela AMIC (Associação dos Amigos da Criança e a PLAN INTERNACIONAL
• . 2008 – Professor convidado de História Contemporânea de África no Curso de verão da Universidade em Cambrilis, promovido pela Universidade Rovira i Virgili, Tarragona, Espanha;
• 2008 – Arguente principal nas provas de dissertação da tese de mestrado de Antero Monteiro Fernandes, intitulado “Guiné e Cabo Verde: da Unidade à separação”, defendida em Abril de 2008 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto;
• 2008 – 2010 – Chefe de Departamento de História da Universidade de Cabo Verde
• 2010 – 2011 – Presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Cabo Verde.

• É actualmente:

- Director Executivo do Instituto “Amílcar Cabral” de História Contemporânea, Estudos Estratégicos e Internacionais (em constituição na Guiné-Bissau);
- Investigador Auxiliar do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (Portugal);
-Professor Convidado da Faculdade de Jornalismo da Universidade do Porto;
- Secretário Executivo da Guineáspora – Fórum Mundial de Guineenses na Diáspora, desde 2003 (com sede em Lisboa);
- Membro do Management Committee do ADF (Africain Democracy Forum), desde 2003 (com sede no Quénia);
- É desde Outubro de 2005 consultor da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) em Lisboa, Portugal;
- É desde 2007 colaborador da ONG guineense AD (Acção para o Desenvolvimento) no Projecto de resgate da memória história de Guiledje/guerra colonial/guerra de libertação nacional.
- Investigador de Pós-Doutoramento em História Contemporânea junto ao CES (Centro de Estudos Sociais) da Universidade de Coimbra.

5. TRABALHOS PUBLICADOS/ACTIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIAS

• 1976 – 1981 – Autor de inúmeros artigos na extinta revista do Ministério da Educação Nacional da Guiné-Bissau;
• 1976 – 1981 – Autor de vários artigos e textos de análise e crítica literária publicados no trissemanário "Nô Pintcha” da Guiné-Bissau;
• 1981 – 1989 – Autor de vários estudos sobre a comunidade africana em Portugal dispersos em jornais e revistas de especialidade (extinto jornal “África” e Angolê Artes & Letras”);
• 1986 – Autor da monografia "A Literatura Colonial Portuguesa – 1850 aos nossos dias", apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, Universidade Clássica;
• 1986 – 1989 – Autor de inúmeros estudos literários publicados na Revista "Ler", Lisboa;
• 1989 – 1991 – Autor de vários estudos publicados sobre a Literatura Colonial Guineense, publicados na Revista “Soronda”, do INEP;
• 1989 – 1991 – Autor de várias monografias de índole histórico-sociológica sobre a Guiné-Bissau, publicadas na Revista “Soronda” do INEP;
• 1990 – Co-autor do livro Bolama – Caminho Longe, INEP, Bissau, 1990;
• Auto do estudo “A literatura colonial Guineense”, In: Soranda: Revista de Estudos Guineenses, Nº 9 (Jan. 1990), p. 73- 93, INEP, Bissau;
• 1991 – 1994 – Assíduo articulista do jornal "Baguera", Bissau;
• 1994 – “A escola de Domingas Samy” : entre a expectativa e a esperança”, publicado na Revista Tcholoná”, n. 2-3, p 40-42.
• 1995 – “Negritude no mundo afro-português”, In: Tcholona. - n. 4 (1995), p 4-6, 1995. Bissau;
• 1996 – 1998 – Autor de vários Relatórios da L.G.D.G. (Liga Guineense dos Direitos Humanos) sobre a situação dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau e nos PALOP;
• 1996 – Co-autor da Antologie Littéraire de L’Afrique de l' Oest, Nathan, Paris, 1996;
• 1996 – 2001 – Assíduo articulista do jornal Diário de Bissau;
• 1997 – Co-autor do livro, Bolama, Caminho Longe – Entre a cobiça dos homens e a Esperança, INEP;
• 1989 – 1991 – Assíduo articulista do jornal "Correio de Bissau";
• 1989 – 2001 – Autor de inúmeros prefácios de obras literárias alusivas à Guiné-Bissau: “Eco do Pranto”, colectânea de poemas dedicados a criança em “Contos de N`Nori”, de Carlos Edmilson M. Vieira, 2000; e “Stera di Thur”, de Rui Jorge, 2001;
• 1991 – 2007 – Colaborador de revistas e jornais publicados em Portugal: “Lusófono” e “África Lusófona”, “Público”, “Diário de Notícias” e Revista Cientifica Studia Africana (Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto);
• 1998 – Autor do Estudo sobre a situação social das crianças na Guiné-Bissau”, UNICEF, Bissau;
• 2000 – Autor de vários Relatórios Anuais sobre a situação dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau;
• 2002 – “Da embriologia nacionalista à guerra de libertação na Guiné-Bissau”, publicada na Revista “Soronda”, INEP, Guiné-Bissau;
• 2003 – “Simbólica de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau”, Estudo publicado na Revista “Soronda”, INEP, Guiné-Bissau;
• 2004 – “Guiné: Gadamael, Guidadje e Guiledje”, Estudo publicada na Revista “Soronda”, INEP, Guiné-Bissau;
• 2005 – Co-autor do livro Cabral no cruzamento de épocas – Comunicações e discursos produzidos no II Simpósio Internacional Amílcar Cabral, Fundação Amílcar Cabral, Alfa comunicações, Praia, Cabo Verde, 2005.
• 2006 – “30 anos de independência da Guiné-Bissau”, Estudo publicado na Revista Africana Studia, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2006.
• 2008 – “Génese e evolução do sentido estratégico-táctico do Corredor de Guiledje no contexto da luta de libertação da Guiné-Bissau”, Comunicação apresentada ao Simpósio Internacional de Guiledje, Bissau, 1 ao 8 de Março de 2008.
• 2008 – No prelo (a sair em breve), Guerra Colonial versus guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau”, Edições do IPAD, Lisboa.
• 2008 – No prelo, Guineidade e Africanidade” – Estudos, Ensaios, Crónicas e Outros Textos, Praia/Lisboa.
• Organizador em 2007 do Simpósio Internacional sobre Guiledje, Bissau, Guiné-Bissau, o qual juntou ex-combatentes do Exército colonial e do Exército de Libertação, para além de intelectuais e estudiosos sobre a temática;
• Organizador do Simpósio Internacional “Cidade Velha e a Cultura Afro-Mundo: o futuro do passado”que reuniu mais de 6 dezenas de especialistas da História do Mundo Atlântico, da Escravatura e da História Moderna de Universidades africanas (Universidade de Cabo Verde incluído), Brasil e Caraíbas, da Madeira e dos Açores, da Grã-Bretanha, da Bélgica e da França.

6. LÍNGUAS

. Crioulo da Guiné-Bissau e Cabo-Verde – Fala e escreve Muito Bem;
. Português – Fala e escreve Muito Bem;
. Francês – Fala e escreve Bem;
. Inglês – Fala, lê e escreve razoavelmente Bem;
. Espanhol – Fala, lê e escreve razoavelmente Bem
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9356: Agenda cultural (181): Laboratório das Artes, Guimarães: Exposição sobre a guerra de África, de 20/1 a 25/2/2012: Convite do autor, Manuel Botelho

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9363: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (18): Os cães abandonados de Bissau, no tempo de Luís Cabral

1. Comentário, de 10 do corrente,  de António Rosinha ao Poste P9338 (*): 



Tenho que meter a colher e peço desculpa ao com ou catchurro, de João Sacôto, que teve uma vida original, mas queria aqui contar uma das impressões que chamavam a atenção de um tuga que desembarcasse em Bissau a seguir à independência:


Os cães abandonados de Bissau. 


Era impressionante a quantidade de cães que na célebre fome que o novo regime criou, morriam debaixo dos Volvo e dos Peugeot e de sarna e fome.


Com o abandono do interior pelas populações para Bissau, vieram aqueles cães que os guineenses gostavam de ter nas suas tabancas para guarda, caça e companhia. Bonita raça de cães, quase se poderia dizer que era uma raça apurada, pois mudavam apenas no tom da cor.


E, como os guineenses têm ou tinham um hábito de superstição,  que nunca entendi completamente - que consistia em atirarem para cima do animal morto pedras e paus -,  ficava um enorme obstáculo no meio da estrada, complicadíssimo para o trânsito, às vezes dias e dias.


Essa imagem dos cães de Bissau foi ou era muito degradante, embora em África houvesse pior.


Luís Cabral não teve a sensibilidade necessária, embora tivesse muita vontade de fazer melhor.


O Toby,  de João Sacôto,  fez-me recordar algo que me marcou em Bissau.


Cumprimentos 


Antº Rosinha (**)

2. Comentário do editor:



Meu caro Rosinha:

Os cães, famélicos e  vagabundos, sem eira nem beira, não eram apenas um problema do Luís Cabral, no período pós-independência, como tu tão bem descreves, com a tua sempre ativa inteligência emocional e bem municiada memória. Já o eram no nosso tempo, não só como problema de saúde pública mas também de segurança...militar: eles eram atraídos pelo cheirinho a comida dos nossos quartéis, e acampavam ou vadiavam por lá.  Alguns, muito poucos, estavam no topo da hierarquia social dos canídeos e eram preciosos auxiliares dos nossos militares (como o foi o caso dos Lassas, a CCAÇ 763, Cufar, 1965/66) (***).

Outros ainda, ainda mais sortudos (já que não tinham que trabalhar!), eram eleitos pela tropa como "mascotes" (Lembro-me, em Bambadinca, no meu tempo, do Chichas!...).  Sobre outros havia a suspeita de que podiam ser  “turras”; uma minoria relativa, errante, deveria estar,  mais provavelmente, sob “duplo controlo” (os cães, por exemplo, de Nhabijões...), ou fazia “jogo duplo”, conforme a correlação de forças no setor ou as suas próprias estratégias de sobrevivência. Cão não é diferente de gente. A maior parte, contudo,  sabia quem os tratava bem ou tratava mal. Há uma história fabulosa passada com os "cães de Bambadinca", em 1963, já aqui contada no nosso blogue pelo Alberto Nascimento...  


O PAIGC também tinha os seus problemas (nomeadamente de segurança) com os cães que cirandavam pelas tabancas das ditas “regiões libertadas”… (Bobo Keita reconhece-o explicitamente, nas entrevistas publicadas em De campo em campo, 2011). Nem todos os cães,  sob controlo do PAIGC, sabiam comportar-se, disciplinadamente,  em situações-limite como era o caso da aproximação das NT a tabancas ou acampamentos do IN… Cão que ladra não morde, mas denuncia a posição do dono… Eis a razão por que, de um lado e do outro, se faziam periódicas matanças de canídeos… Enfim, estas também são histórias de guerra, que  merecem ser partilhadas. (***)
 ____________


Notas do editor:


(*) Vd. poste de 9 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9338: Memórias da CCAÇ 617 (2): Toby, o Cão da Tropa (João Sacôto) 


(**) Último poste da série > Guiné 63/74 - P9164: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (17): Kennedy, Salazar e as "nossas colónias"


(***) Temos mais histórias como as do Toby: Sobre cães de guerra, por exemplo, vd o poste de  18 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2664: Os Cães de Guerra (Mário Fitas e Carlos Filipe, CCaç 763, Cufar, 1965/66)

Guiné 63/74 - P9362: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (11): Fragmentos Genuínos - 9




FRAGMENTOS GENUÍNOS - 9

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66






Etnografia

A comunicação com os balantas não foi fácil pois só alguns falavam crioulo, pelo que acabou por tornar este dialecto a base de conversação.

Bambadinca - Ponte - Pescadoras

Bajuda, “balanta” no Arrozal - Mansoa

São o maior grupo étnico da Guiné-Bissau, representando mais de 25% da população total do país. No entanto, mantiveram-se sempre fora do estado colonial e pós-colonial, devido à sua organização social. Os balantas podem ser divididos em seis subgrupos: balantas bravos, balantas cunantes, balantas de dentro, balantas de fora, balantas manés e balantas nagas.

Os arqueólogos crêem que o povo que viria a ser os balantas migrou para a actual Guiné-Bissau em grupos pequenos entre os séculos X e XIV d.C. Durante o século XIX, espalharam-se ao longo da área do mesmo país e do sul do Senegal, de forma a resistirem à expansão do reino de Gabu. A tradição oral entre os balantas diz que estes migraram para oeste desde a área onde são hoje o Egito, Sudão e Etiópia para escapar à seca e às guerras. Hoje, os balantas encontram-se principalmente nas regiões sul e centro da Guiné-Bissau.
São maioritariamente agricultores e criadores de gado, principalmente porcos. Existe uma importante população balanta em Angola.


Cultura

Os balantas são o único grupo étnico da Guiné-Bissau sem um chefe ou um líder reconhecido. Todas as decisões importantes entre os balantas são tomadas por um concelho de sábios. Para se tornar um membro do concelho, o candidato terá de ser iniciado durante a cerimónia do fanado.

Preparação dos meninos, já de cabeça rapada, para o “Fanado (Circuncisão) 

Aqui alimentando-se como é tradicional e em que noutros locais participei, nunca em cerimónias, era bom; arroz com pouquíssima carne (bianda com mafé) misturado com um produto extremamente picante retirado da casca de um arbusto e que se parecia com o nosso esparregado, tudo comido do mesma cabaça fazendo rolinhos daquele prato com as mãos e ingerindo-os, parecia-me que estava a comer almôndegas

Deslocação das meninas para (sacrifício) o altar dos rituais na floresta

No geral, a igualdade prevalece entre os balantas. Consequentemente, os colonialistas portugueses tiveram dificuldades em governar este povo. Na viragem do século XIX para o XX, Portugal moveu campanhas de pacificação contra os resistentes balantas e sujeitou-os aos nomeados chefes fulas. Devido à repressão portuguesa, os balantas alistaram-se como soldados em grande número e foram apoiantes de primeira linha do PAIGC no desígnio nacionalista de libertação durante os anos 60 e 70 do século XX. Contudo, quando os nacionalistas assumiram o poder após a independência, depararam-se com a dificuldade em estabelecer comités de aldeia e outras organizações entre os balantas devido à sua organização social descentralizada. Muitos balantas ressentiram-se com a sua exclusão do governo. A sua proeminência no exército esteve na origem de várias tentativas de golpes de estado lideradas pelos mesmos nos anos 30.


Religião

Os balantas são largamente animistas na sua crença. Djon Cago é o nome de uma divindade deste povo. Na sociedade balanta, acredita-se que Deus está muito longe. Os fieis tentam alcançá-lo através de espíritos e sacrifícios. Apesar do catolicismo ser parcialmente aceite, o islamismo é forte e praticado juntamente com a veneração espiritualista.

Guiné > Bissorã > Ronco (festa) balanta nas tabancas de Bissorã


Os Biafadas

Vivem em sociedade monárquica em que o chefe religioso é escolhido pelo povo, pelas suas qualidades e estudos.
São essencialmente agricultores e o seu território é sobretudo a Sul do Rio Geba (Quinara).

É pois sobre eles que revelarei aquilo que me foi dado entender da tradução que o Djaló me ia transmitindo, em plena tabanca e de uma forma recatada, pois a maior parte dos assuntos são considerados do foro religioso ou mesmo tabu e de carácter fechado. A tribo não permite a divulgação dos seus segredos mágicos a elementos estranhos.

Os pequenos textos relacionados com os itens Casamento, Culto e Morte, não têm valor científico mas meramente documental e são o resultado de conversas com anciãos – “homens grandes” – nas quais por vezes tive sérias dificuldade de comunicação apesar de bem tentar “arranhar” os seus dialectos e acabarmos a gesticular ou fazer desenhos no chão quando não havia papel.

Professam o Islamismo e como tal Alá é o seu Deus.
As suas festas religiosas são: O "suncar saló", correspondente à Páscoa, que antecede com trinta dias de jejum; o "bana saló", corresponde ao Natal; o "muscutá saló", corresponde ao Ano Novo, o ano muda ao nascer do sol.

A festa do nascimento é aos oito dias de vida e nessa altura rapam-lhe o cabelo e dão-lhe o nome próprio mais o último nome do pai. Durante a festa os convidados oferecem prendas.

Uma das actividades a que se dedicam é à pesca que praticam nos braços de mar e rios tão profusamente existentes na Guiné e que na sua pratica produzem inesquecíveis imagens.

Mulheres a pescar, mergulhadas até ao pescoço. 

As mulheres eram autênticas escravas. Estando reservado aos homens aparentemente as artes dos confrontos e cultivo do arroz, sendo que entre os Fulas, Biafadas e Mandingas, para além da pastorícia se encontravam artífices. Nas cidades verificava-se que eram os homens que se dedicavam ao uso das máquinas de costura. Também havia a prática da pesca noutros moldes por parte dos homens.

Só os homens é que pescam assim.


Os mandingas

Os mandingos (em mandingo: Mandinka) são um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, com uma população estimada em 11 milhões. São descendentes do Império Mali, que ascendeu ao poder durante o reinado do grande rei mandingo Sundiata Keita. Os mandingos pertencem ao maior grupo etnolinguístico da África Ocidental - o Mandè - que conta com mais de 20 milhões de pessoas (incluindo os diulas, os bozos e os bambaras). Originários do atual Mali, os mandingos ganharam a sua independencia de impérios anteriores no século XIII e fundaram um império que se estendeu ao longo da África Ocidental. Migraram para oeste a partir do rio Níger à procura de melhores terras agrícolas e de mais oportunidades de conquista. Através de uma série de conflitos, primeiramente com os fulas (organizados no reino de Fouta Djallon), levaram metade da população mandingo a converter-se do animismo ao islamismo. Hoje, cerca de 99% dos mandingos em África são muçulmanos, com algumas pequenas comunidades animistas e cristãs. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, cerca de um terço da população mandinga foi embarcada para a América como escravos, após a captura em conflitos. Uma parte significativa dos afro-americanos nos Estados Unidos são descendentes de mandingos.

Os mandingos vivem principalmente na África Ocidental, particularmente na Gâmbia, Guiné, Mali, Serra Leoa, Costa do Marfim, Senegal, Burquina Faso, Libéria, Guiné-Bissau, Níger, Mauritânia, havendo mesmo algumas comunidades pequenas no Chade, na África Central. Embora bastante dispersos, não se constituem no maior grupo étnico em qualquer dos países em que vivem, excepto na Gâmbia.

Mandinga no Brasil Colonial era a designação de um grupo étnico de origem africana, praticante do islamismo, possuidor do hábito de carregar junto ao peito, pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá. Depois de feita a inscrição, o couro era dobrado e fechado costurando-se uma borda na outra.

Por serem mais instruídos que outros grupos e conhecerem a escrita, eram geralmente escolhidos para exercer funções de confiança, dentre elas a de capitão-do-mato. Costumavam usar turbantes, sob os quais normalmente mantinham seus cabelos espichados. Diversos negros de outras etnias, quando fugiam, também espichavam o cabelo e usavam o patuá em um cordão junto ao peito, porém sem as inscrições, para tentar disfarçar o fato de não serem livres. Mas os mandinga tinham o costume de se reconhecer mutuamente recitando trechos do Alcorão uns para os outros. Caso o negro interpelado não recitasse o trecho correto, o capitão-do-mato de etnia mandinga, capturaria o fugitivo imediatamente. Outras etnias viam, nessa mútua identificação, alguma espécie de magia, e muitas vezes atribuíam ao patuá poderes extraordinários, que permitiam ao mandinga identificar os fugitivos.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9350: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (10): Fragmentos Genuínos - 8

Guiné 63/74 - P9361: Notas de leitura (323): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Estou sinceramente em crer que esta antologia cobrindo um século de pensamento anticolonial, apesar da diversidade de propostas, nalguns casos contraditórias, destacam o militantismo anticolonial na sua coerência possível, a partir a emergência dos direitos cívicos, da descoberta da negritude e como esta influenciou decisivamente a cultura ocidental, as respostas às exigências de uma luta de libertação que requeria abordagens teóricas especificamente nacionais e onde os valores da cultura foram exaltados como porta-estandarte da resposta armada.

Um abraço do
Mário


Malhas que os impérios tecem:
Quando os pensadores anticoloniais se envolveram nas guerras de libertação
(Continuação)

Beja Santos

Se os anos 50 se caracterizam pelo chamamento à identidade nacional, à denúncia do racismo e da exploração colonial, no início dos anos 60 a luta pela libertação e a renovação da cultura nacional entraram na ordem do dia. Em 1961, Frantz Fanon escreve “Os Condenados da Terra”, uma obra de referência para todos aqueles que já estavam ou que em breve se envolveram nos movimentos de libertação. Manuela Ribeiro Sanches, organizadora da antologia “Malhas que os Impérios Tecem” (Edições 70, 2011) chama justamente à atenção para o interesse desta obra que recebeu os maiores encómios de Jean-Paul Sartre em “Orfeu Negro”. É já nesta linha de pensamento que deve ser encarado o contributo de Kwame Nkruhmah que a antologia acolhe um texto exemplar. Sopram por toda a África ventos de unidade, a década verá a implementação de experiências falhadas na constituição de federações e de agrupamentos regionais. Os valores da cultura começam a pesar nos diferentes registos, personalidades como Mondlane ou Cabral irão dizer que a luta armada para além de um instrumento de unificação deve conduzir ao progresso cultural, o esteio mais sólido contra o colonialismo e o neocolonialismo.

No texto anterior, houve a preocupação de pôr em sequência as afiliações múltiplas do pensamento anticolonial, com peso especial nos EUA e na região das Caraíbas, que se veio cruzar com o fenómeno da negritude desenvolvido por intelectuais negros que se impuseram nas metrópoles coloniais, caso de Césaire e Senghor. Destacou-se o périplo de um conjunto de escritores americanos que percorreram África e que foram extremamente críticos quanto à condução do processo colonial, anotando as diferenças entre as comunidades negras assimiladas nos EUA e nas Caraíbas e aquelas que estavam a sair ou se preparavam para sair do estado colonial. É este arco histórico e cultural que permite perceber como o pensamento colonial não nasceu espontaneamente no fim da II Guerra Mundial, teve antecedentes no pan-africanismo que conduziram as novas potências, sobretudo os EUA e a URSS a usá-las no tabuleiro da Guerra Fria. Mas só se pode entender Mário Pinto de Andrade e o incitamento à revolta contra a dominação colonialista no contexto específico de uma revisão apressada da doutrina colonial proposta por Salazar, quando se apercebeu que as independências na Ásia e na África iam inevitavelmente conduzir aos conflitos armados.

O pensamento colonial procurara através da etnografia e da etnologia algumas justificações de índole científica para a menoridade do negro, para a obrigação de o civilizar. O pós-guerra suscitou a urgência e a importância do problema colonial na sua totalidade. É aqui útil recordar a viagem científica do antropólogo Mendes Corrêa à Guiné em 1947. Estamos a falar do mesmo cientista que dirá com a maior das naturalidades o seguinte sobre o mulato: “Como seres humanos, ligados à nossa raça pelos sagrados laços de origem, os mulatos têm direito à nossa simpatia e ajuda. Mas as razões que propusemos não permitem que o papel político dos mestiços vá além dos limites da vida local. Por mais brilhante e eficiente que seja a sua acção no sector profissional, económico, agrícola ou industrial, eles nunca devem – tal como os estrangeiros naturalizados – ocupar lugares de destaque nos assuntos públicos do país, excepto talvez em casos de completa e comprovada identificação connosco em temperamento, vontade, sentimentos e ideias, o que é excepcional e improvável”. A detecção deste racismo fora já obra da geração de Aimé Césaire, a que não faltou a visão crítica de que estava em curso o espectro da extinção das formas de civilização das sociedades colonizadas. Césaire dirá mesmo que a ordem colonialista nunca inspirou qualquer poeta e que nunca um hino de reconhecimento ressoou aos ouvidos dos colonialistas modernos. Ele pediu a palavra aos povos para se pôr termo ao caos cultural dos colonizados. Com base nesse apelo procedeu-se à revisão de como o racismo e o colonialismo tinham despojado as culturas nacionais, reorientando-as para um serviço dócil ao colono. Os compromissos entre as nações independentes e as antigas colónias também se saldaram em fracassos quando esses compromissos obedeceram às tácticas. O texto antológico “O neocolonialismo em África” de Kwame Nkruhmah é de uma importância fundamental para se entender o apelo à unidade africana que em muito sensibilizou Amílcar Cabral.

A antologia privilegia peças incontornáveis de Mondlane e Cabral. Falando de um movimento nacional em Moçambique, Mondlane volta a pôr em equação resistência e cultura: “O desejo dos portugueses de impor a sua cultura em todo o território, mesmo se bem-intencionado, era completamente irrealista devido ao tamanho da população. Constituindo menos de 2 % da população, os portugueses não podiam sequer esperar que todos os africanos tivessem a oportunidade de observar o modo de vida português. A maioria dos africanos só se encontrava com os portugueses na altura do pagamento do imposto, quando eram contratados para o trabalho forçado ou quando as suas terras eram confiscadas”. Dá depois exemplos da revolta dos intelectuais com destaque para a poesia de José Craveirinha com a sua estrutura musical bem demarcada:

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão
e tu acendes-me, patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão
tenho que arder na exploração
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão
tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim! Eu serei o teu carvão, patrão!

A peça de Amílcar Cabral intitula-se “Libertação Nacional e Cultura”, foi uma conferência proferida na Universidade de Siracusa (EUA) em Fevereiro de 1970, à memória de Eduardo Mondlane. O movimento de libertação aparece como sinónimo de expressão política da cultura do povo em luta. Explana sobre as experiências de domínio colonial e o imperativo de uma cultura nacional para derrotar de vez o colonialismo. Insiste na sua tese de que os dirigentes do movimento de libertação, originários da pequena burguesia devem estar implicados em conhecer o povo, descobrindo nele a fonte dos valores culturais, isto a par da prática da democracia, da crítica e da autocrítica e da responsabilização crescente das populações na gestão da sua vida.

Esta antologia contempla um século de pensamento anticolonial e desmonta a lenda de que os movimentos de libertação tiveram a sua origem em razões conjunturais da ganância das superpotências ou em ideologias marcadamente marxistas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9349: Notas de leitura (322): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9360: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Terminada a operação, a luta e a labuta no Cachil continuam (CCAÇ 557): Parte II (José Colaço)



O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a continuação da narração iniciada no poste P9351.

Tridente terminada mas a luta e a labuta no Cachil continuam
Parte II 

Com a Operação Tridente dada como terminada,  o Cachil fica a ferro e fogo, a guerrilha reorganiza-se novamente na mata do Cassaca e em toda a zona de Cauane e Caiar, pois aquela zona tinha ficado livre de qualquer controle militar por parte das forças portuguesas. Como prova do que digo,  um dia de Abril que cito de memória, pois não registei a data, o comando chefe operacional da Guiné reorganiza uma batida, que chamava de limpeza à mata do Cassaca. 

A entrada na mata do Cassaca era feita através da orla da mata do Cachil, atravessando-se uma clareira, passagem esta onde as nossas forças durante a operação foram sempre repelidas, tornando-se este espaço uma passagem para a morte. 

Durante a noite os obuses de Catió bombardearam a mata e a seguir o avião bombardeiro P2V5 descarregou também ali as suas bombas, como fazia durante a Operação Rridente. De manhã, ao nascer do sol, vieram dois F86 e bombardearam, mais uma vez, a mata. 

Nota: No dia anterior um pelotão da CCaç 557 fez o reconhecimento a toda a mata do Cachil sem qualquer problema. Relembro que quando chegamos ao fim orla da mata do Cachil, à entrada da tal clareira para a mata do Cassaca, o alferes comandante do pelotão, no seu espírito jovem aventureiro, ter insistido junto do capitão vamos lá meu capitão não está lá ninguém. A resposta do capitão foi: “Amanhã dia da operação é que nós lá vamos.” 

Fica a interrogação o que nos teria acontecido se…? Mas as coisa são como acontecem e não se a opção tivesse sido outra. 

A seguir entraram em acção as tropas especiais terrestres, comandos, páras, fuzileiros e exército, apoiadas por 2 aviões T6, que passaram toda a mata do Cachil sem problemas. Mas, quando chegaram à clareira que dava acesso à passagem para a mata do Cassaca, foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e fogo de morteiro, e tiveram que recuar resguardando-se na mata do Cachil. Deste confronto, as nossas forças sofreram doze feridos que foram evacuados de helicóptero. 

Resumo: Após esta limpeza (como foi chamada), as nossas forças especiais, à tarde, regressaram às suas unidades e foi feito o relatório para o comando-chefe. A partir desta data até 27/11/64, data em que eu e a CCaç 557 saímos do Cachil, não houve mais nenhuma ordem para ir à mata do Cassaca, nem pelo comandante-chefe militar, brigadeiro Fernando Louro de Sousa, nem pelo brigadeiro Arnaldo Schulz, que em Maio substitui o então polémico brigadeiro Fernando Louro de Sousa. 

Não dá para entender, porque razão se mantinha aquela força militar acantonada no Cachil e, para cúmulo, mais tarde, o comandante da CCaç 557 recebeu ordens do comandante de sector sediado em Catió em que desaconselhava batidas à mata do Cachil.  



Foto nº P1170599.jpg - Transporte de todos os mantimentos à força bruta do homem do cais para o quartel, que ficava a cerca de 1Km.

Foto nº P1170527. jpg - A maca do posto médico adaptada para padiola, no transporte dos géneros cedida pelo Dr. Rogério Leitão [ falecido em 28 de Outubro de 2010,], na condição de ser estimada porque não se sabia qual a hora em que ela podia ser precisa para o fim que se destinava: o transporte de doentes ou feridos.
Foto nº P1170565.jpg – A cozinha do quartel do Cachil.

Foto nº P1170537.jpg - O tenente-coronel Matias, de quico e óculos escuros, comandante de Sector de Catió - BCAÇ 619 - à conversa com o capitão Ares, comandante da CCaç 557, na única visita que fez ao Cachil, enquanto a CCaç 557 por lá permaneceu.
Foto nº 1170506.jpg - A lancha no cais do Cachil, responsável pelo transporte dos géneros de Catió para o Cachi

Foto nº 1170578.jpg - A contar da esquerda: O açoriano de Santa Bárbara - Ribeira Grande, ex- alferes miliciano Viriato Madeira - comandante do 1º pelotão; a seguir o também açoriano, picaroto, ex-alferes miliciano Mário Goulart - comandante do 3º pelotão que todos os anos faz questão de nos acompanhar no almoço de convívio da CCaç 557; pela mesma ordem,  o algarvio,  ex-alferes miliciano,  Ildefonso Leal - comandante do 2º pelotão – e, em baixo, o aveirense, ex-tenente miliciano médico,  Rogério Leitão [, já falecido,  em 2010].
Foto nº1170605.jpg - O paiol no quartel do Cachil.

RESUMO > Partida para a ilha do Como

Foto nº P1170500.jpf - O capitão Ares encostado ao jipe, ao lado o nosso tenente miliciano médico Dr. Rogério Leitão, momentos antes da partida para o Como. A partir daqui não há fotos a não ser do Cachil, como já referi o rolo levou sumiço quando foi para revelar.
Foto nº P1170519.jpg - Os trabalhos na construção da paliçada.
Foto nº P1170516.jpg - O pessoal na labuta e transporte dos toros para serem colocados na construção da paliçada.
Foto nº P1170518.jpg - Aqui uma construção menos sofisticada, possivelmente uma qualquer arrecadação.
Foto nº P1170521.jpg - Uma pausa nos trabalhos para tomar água.

Foto nº P1170523.jpg - O primeiro da esquerda é o tenente-coronel Fernando Cavaleiro, de quico e barbas, no Cachil em 21 de Março de 1964, quando atravessou a pé através da mata do Cassaca toda a Ilha desde Cauane ao Cachil, anunciando nessa altura a vitória da operação e por consequência disso o fim da operação tridente.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: