terça-feira, 7 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11538: Questões politicamente (in)correctas (44): Há um provérbio fula que diz: "Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos" (Cherno Baldé)

1  Comentário de Cherno Baldé ao poste P11459 (*)

Caro amigo Paulo Salgado,


Eu li com muita atenção a tua reacçãoà minha provocante frase sobre o comportamento sexual dos soldados portugueses durante a guerra na Guiné e no entanto, não dei conta em nenhum momento que tivesses desmentido a minha afirmação.

No meu comentario eu falei de "superioridade racial", não sei se isto quer dizer "ser racista". E esta aparente superioridade não fui eu que a inventei, encontra-se, de forma explicita ou naão, em todos os textos legislativos da antiga administração colonial e era perfeitamente normal que certos soldados fizessem uso de um estatuto que a lei lhes outorgava.

O que defendes, e nisso estamos de acordo, é que não se deve generalizar. Pois claro, ai de nós,  Guineenses,  se os casos referidos representassem a regra e não a excepção.

Há um provérbio Fula que diz que: Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos; quando se fala dos mal comportados, os bem comportados sentem-se indignados. Foi o que aconteceu agora contigo, suponho e com muitos outros que não quiseram expor-se abertamente no blogue.

A mim me parecia evidente que o facto de ser membro, "amigo", mesmo que off-sider, como alguém já me chamou, de um bloque de antigos soldados portugueses que combateram na Guiné e o único Guineense que aqui se atreve a escrever no seu esforçado pretuguês, queria significar que não penso mal dos portugueses nem considero que todos tiveram, no passado, um comportamento indigno. E, se tiverem a paciência de revisitar os postes com textos da minha autoria, verão que tentei, no máximo, ser fiel à linha das minhas memórias de criança que passou uma boa parte da sua vida (1968/74) metida no meio dos soldados metropolitanos.

Mas, acontece que na guerra, na tropa como na vida, nem tudo é perfeito e vocês,  portugueses, não são uma excepção. Havia soldados bons, no sentido mais lato da palavra, até muito melhores que os nossos, na maioria dos casos, mas também havia um pouco de tudo, sem falarmos dos casos mais sórdidos que, naturalmente, não faltaram.

Se, de uma forma ou outra, as minhas palavras foram motivo de ofensa ou de indignação para algumas pessoas, apresento as minhas sinceras desculpas porque não foram intencionais. Não obstante, não retiro nada do que disse por corresponder, na altura, aà minha percepção pessoal e ao sentimento partilhado de toda uma comunidade à qual pertencia e que era obrigada a assistir, impávida e impotente, a muitos actos de atropelo e de abusos justificados por uma guerra que, também eles não queriam.

Felizmente, para mim, há portugueses e antigos combatentes como o amigo C. Martins que me compreendem e sabem que eu não inventei nada e que sou assim mesmo, uma pessoa que pensa com a sua cabeçaa e fala de uma forma directa, muitas vezes, para a sua própria desgraça.

Um grande abraço ao Paulo e a todos os amigos da TG.

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito).


PS - Importa assinalar que, como sinal dos tempos, tenho constatado, com muito agrado, que a nova geração de portugueses e europeus, em geral, agora tem uma postura muito diferente pois nota-se que, para além do mútuo respeito, há alguma reciprocidade nos sentimentos.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11459: Questões politicamente (in)correctas (43): Meu caro Cherno Baldé, a maioria dos militares da minha companhia não era racista nem se comportava como tropa ocupante (Paulo Salgado,ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11537: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (69): A Catarina [Schwarz] fisicamente está bem. É por dentro que dói... A maior arma que temos é a solidariedade (Pepito / Paulo Santiago / Luís Graça)




1. Notícia transmitida ontem pela RDP África:


Cidadã luso-guineense agredida no aeroporto de Bissau

Catarina Schwarz apresentou queixa por abuso de poder e violência contra homem ligado ao Estado Maior das Forças Armadas

Publicado: 13h45m, 06 Mai. 2013 | Actualizado: 13h46m, 06 Mai. 2013

 A cidadã luso-guineense Catarina Schwarz foi agredida e insultada este domingo, no aeroporto internacional de Bissau, por um homem ligado ao Estado Maior General das Forças Armadas guineenses.

O incidente ocorreu na fila de espera das chegadas, perante a passividade de funcionários e agentes da Guarda Nacional e foi comunicado ao ministério do interior, à Agência de Aviação Civil e à TAP - Air Portugal.

A agressão foi relatada na primeira pessoa à RDP África e Catarina Shwarz promete apresentar queixa por abuso de poder e violência contra Norberto da Silva, que conseguiu identificar.


2.  Emails trocados ontem, à tarde,  entre o Paulo Santiago, o editor Luís Graça e o pai da Catarina, o nosso amigo Pepito, eng agr Carlos Schwarz da Silva, cofundador e diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento:

(i) Paulo Santiago:

Boa Tarde,Luís. A Catarina Schwarz, ontem insultada e agredida no Aeroporto Oswaldo Vieira, é filha do Pepito?? Abraço, P. Santiago.

(ii) Luís Graça::

É, sim. E foi diretora do aeroporto, até ao último golpe de Estado, de 12/13 de abril de 2012... Já não é a primeira vez que é agredida por energúmenos. Se é verdade a notícia, preciso de saber como está a Catarina e transmitir-lhe a nossa solidariedade através dos pais, Pepito e Isabel, nossos tabanqueiros. Obrigado por estares atento. Um abração. Luis

(iii) Pepito:

Obrigado,  Luís e Tabanqueiros. A maior arma que temos é a solidariedade. Porque ela é persistente e tem uma enorme força, os bandidos que, por terem arranjado uma farda na rua, colocado uma pistola à cintura e andarem com "farinha" nos bolsos, acabarão por perder. Foi a tropa do Bubo Na Tchuto que a agrediu pela primeira vez [, em Quinhamel].  Hoje, já não pode agredir mais ninguém. Por decisão dos americanos, está na América....a escrever o seu livro de memórias.

A Catarina fisicamente está bem. Como sabes,  é por dentro que dói!

Abraço a todos os amigos da nossa grande tabanca.
pepito

(iv) Luís Graça

 Paulo: Obrigado, li a notícia na RDP África e ouvi, em áudio, a versão da Catarina. E o Pepito acaba de confirmar esta triste notícia...A Catarina é uma mulher de armas, de boa cepa, mas um ser humano como qualquer um de nós, e precisa do nosso apoio moral. Vou fazer um poste, logo à noite quando acabar as aulas. Luis

(iv) Paulo Santiago:

Luís, Pepito: Soube da notícia através de um poste no Facebook  por Amará Siaja Jaurá que faz parte de um grupo,ao qual também pertenço "a voz dos magros do mundo"

Pepito: Estou solidário contigo e com a tua família, são grandes lutadores, outros já teriam desistido.

Abraço aos dois, P. Santiago


Portugal, Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Catarina Schwarz da Silva, neta da decana da nossa Tabanca Grande, Clara Schwarz, filha do Pepito e da Isabel, ex-quadro superior da empresa que explora ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau. Nasceu na Guiné-Bissau, estudou psicologia social em Lisboa, no ISCTE. Tem mais dois irmãos: a Cristina (Pepas), biólogo; e o Ivan (que vive em Portugal).

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11536: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (42): Respostas (nº 84/85/86): Mário Serra de Oliveira (ex-1º cabo escrit, BA 12, Bissalanca, 1967/68), Luís Borrega (ex-fur mil cav, CCAV 2749, Piche, 1970/72), Adriano Moreira (ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70)

Resposta nº 84 > Mário [Serra] de Oliveira [, ex-1º cabo escriturário, BA 12, Bissalanca, Bissau, 1967/68, a viv er hoje nos EUA]

(1) Quando é que descobriste o blogue? 

R - Francamente, não posso precisar... mas foi há mais de 5 anos. 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

R - Creio que foi através do FB ou, então, através da página de Carlos Silva-Guiné 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 

R - Não poderia classificar porque desconheço os requisitos. Creio que não sou... porque não fiz aplicação alguma. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

R - Neste aspecto, sempre que vejo algo relacionado com o blogue, não resisto em saber do que se trata. Aqui, há que ter em conta que a GUINÉ está atravessada em mim, como uma seta. Já aqui fiz constar muitas razões mas, duas delas, foi o facto de lá ter nascido a minha única filha -1970 e, a outra, por ter sido o local onde passei os melhores dias da minha vida. Honestamente falando – e não é a romancear – com 30 e picos anos de EUA, ainda está para vir o 1º dia que tivesse sido mais bem passado do que qualquer dos dias dos 14 anos e tal que lá passei, mesmo aqueles onde as dificuldades causadas por alguns“elementos” oportunistas (depois da independência) mexerem com os meus nervos e os meus princípios. 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 

R - Tenho mandado alguns comentários e continuarei a mandar sempre que notar algum comentário “que refira algo “do meu conhecimento e que me aperceba da necessitado de alguma correcção factual. Ainda há dias fiz, sobre uma mensagem antiga onde vários camaradas referiam-se ao NINHO DE CAMARÃO, petisco da minha autoria. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 

R - Ainda não me dediquei bem à pagina. Um dia destes vou ver. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 

R - Neste caso específico, vou mais ao blogue porque no FB – na página comum – as mensagens desaparecem logo com a chegada de outras. Francamente considero o Blogue mais apropriado para troca de comentários e mensagens diversas. reservar o FB para “Flash-mensagens” com referência ao blogue, será quanto a mim mais valia, porque não satura o FB. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 

R - O blogue em si, gosto pela oportunidade que dá a todos de expressarem os seus pontos de vista, alguns deles bem pessoais…mantendo no entanto uma certa privacidade, somente no seio da família tertuliana. No FB, tudo é mais exposto . Refiro-me á página do FB geral e não á pessoal. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 

R - Não encontro pontos fracos no blogue. No FB? Não sei, além do que já referi. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

R - Não me apercebi muito neste aspecto. Talvez porque o meu LT também “sofre dessa doença” e, se calhar, uniram as mãos para me iludir e não culpar o blogue. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - É um meio revitalizante para mim, pelo menos nos momentos de nostalgia ou mais apreensivos. Lendo o blogue, revendo passagens comuns, nos locais comuns de milhares dos nossos. Por vezes, quando vejo alguma foto, é como um “tónico” que me invade revivendo aqueles tempos. Um formigueiro sobe por pelo meu corpo acima, sem que eu possa controlar. É que, por desgraça, na ocasião eu não tinha tempo para tirar fotos e, como tal poucas tenho. No entanto, procuro um vídeo de uma cadeia de televisão Nórdica que filmou dentro do meu restaurante “O NINHO DE SANTA LUZIA” logo a seguir ao 25 de Abril. Ainda hei-de ver se apanho aquela gravação. O governo português teve que autorizar a visita á Guiné, daquela equipa de televisão. creio que foi em Agosto de 74. Talvez alguns dos camaradas saibam do que estou a falar e dêem uma dica. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 

R - Não, pelas circunstâncias de me encontrar fora de Portugal Fisicamente, claro porque de espírito "até a dormir la me encontro". 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real? 

R - Não, pelas circunstâncias referidas antes. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 

R - Porque não? Forçosamente tem que haver muitos dos nossos camaradas que nem sequer se aperceberam da sua existência, por não lhes chegar aos ouvidos, ou seja pelo que seja. Caramba…passaram pela Guiné milhares e milhares de militares. Não foram só Oficiais, Sargentos e Furriéis. Soldados e cabos – ao fim e ao cabo a maioria - que, se na ocasião tinham uma posição modesta, pelas circunstâncias da vida, acredito que hoje haverá muitos desses, numa posição social com acesso a computadores. Aqui, creio que uma campanha de “recrutamento e passa-a-palavra”numa dinamização e divulgação de oportunidade, para muitos poderem “sair cá par a fora”... creio que, talvez se venha a confirmar uma “mina” de ouro em dados históricos, com novos relatos de toda índole. De facto, ainda há dias, numa conversa com o filho de um ex-combatente na Guiné, lhe falei no assunto. Diz o filho que o pai não tem conhecimento. Dei-lhe as coordenadas do blogue e, o próprio filho me garantiu que tinha fotos e relatos do pai, que iria tentar colocar no blogue. Já o encontrei e disse ter gostado muito 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

R - Talvez se nos uníssemos todos para angariar fundos, na intenção de se reconstruir o Pelicano que, segundo consta, está em ruínas. A minha ideia seria pedir ao camarada Luís Graça que aceitasse “explorar” o potencial do blogue, adicionado publicidade “paga”. Seria uma receita garantida, inesgotável que daria para muita coisa. Adsense e não só, seria uma opção. Adsense paga por “cliques” (?) segundo me parece… mas há outras formas de publicidade directa. 

Abraço a todos e...´força para dar continuidade. 

PS - Apesar de ter criado o meu próprio blogue, qualquer história nova tentarei publicá-la aqui primeiro ou em simultâneo. As audiências não são as mesmas.  Tenho, por exemplo, em composição, o impacto que "BATATAS PODRES" COM PERNAS, (oportunistas) tiveram na minha vida comercial e emocional, depois da independência. No meu livro, só menciono a existência de tais "energúmenos" mas não descrevo tudo o que se passou. 

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Resposta nº 85 > Luís Borrega  [, ex-fur mil cav e MA,  CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72]

1- Finais de 2008. 

2 - No dia 27/11/2008 fui ter com o nosso Camarada Beja Santos, para lhe adquirir o 1º Volume do seu " Diário da Guiné", e ele falou-me no Blogue. No Natal desse ano, adquiri um PC Portátil, para assim ter acesso ao Blogue. 

3 - Sou membro desde 2009 (o número não sei). Fui o leitor "um Milhão" do Blogue. 

4 - Várias vezes ao dia. 

5 - Já mandei algumas "coisitas", mas ainda não consigo abrir muito bem o "Armário dos Esqueletos"... 

6 - Conheço, mas não frequento. 

7 - Ao Blogue. 

8 - Gosto praticamente de tudo o que diga respeito à vida militar e tudo aquilo que cada um de nós passou na Guiné. 

9 - .... 

10 - O ano passado tive bastantes dificuldades de acesso. Foram tantas que contactei o nosso Camarigo Carlos Vinhal, que me disse que tinha havido uma mudança na apresentação do Blogue, o que poderia causar dificuldades de acesso. Hoje não tenho problemas. 

11 - Representa acima de tudo conhecer todas as agruras que todos nós, uns mais, outros menos, passámos na Guiné. 

12 - Com muita pena minha, nunca. 

13 - Gostava de ir, mas possivelmente ainda não será este ano. 

14 - O Blogue tem todas as condições para continuar e aglutinar todos aqueles que cumpriram a sua Comissão Militar naquela " Terra Vermelha" onde sofremos na pele " Sangue, Suor e Lágrimas"... 

15 - De momento não me ocorre nada para sugestionar. Mantenhas 


Resposta nº 86 > Adriano Moreira 
[, mais conhecido por Admor, ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70]

(1) Descobri o blogue Em finais de 2009.

(2) Através do meu camarada da Cart 2412 e presidente do Bando do Café Progresso - J. Teixeira.

(3) Sim, sou o tabanqueiro nº. 560, registado desde 30/5/2012.

(4) Estando em casa normalmente vejo o blogue pelo menos duas vezes por dia.

(5) Como não tenho grandes aptidões informáticas nem disponho de boas ferramentas de trabalho para esse efeito, limito-me mais a andar pelos comentários, quando acho que os devo fazer.

(6) Não, não utilizo o Facebook.

(7) Só vou ao Blogue.

(8) Gosto mais das histórias que os nossos camaradas publicam que me parecem iguais ou muito idênticas as que eu vivi na minha Cart. 2412, exceptuando o Maio quente de 1973 em Guidaje e daí para a frente.

(9) O que gosto menos do Blogue é quando aparecem certos radicalismos nos comentadores que por vezes nem se percebem muito bem.

(10) Tenho um atraso de cerca de dois minutos para vencer todas as vezes que entro ou mudo para os comentários e regresso à página inicial.

(11) O blogue representa uma irmandade muito grande. Mesmo sem nos conhecermos pessoalmente (a grande maioria) há uma amizade, uma afinidade, enfim a Guiné ligou-nos para sempre.

(12) Não [, nunca participei nos Encontros Nacionais da Tabanca Grande]

(13) Este ano, não, ainda não vai ser possível.

(14) [Se o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... 
para continuar ?} Então, porque não? Vocês até são mais novos e tudo, ainda estão cheios de força e de sabedoria e nós vamos dando uma ajudinha para vocês terem cada vez mais trabalho.

(15) Críticas, não tenho. Sugestões, ainda menos. Comentários, bem isso já é mais a minha especialidade. Quero agradecer ao Luís Graça ao Carlos Vinhal e ao Magalhães Rodrigues a todos os tabanqueiros, principalmente áqueles que mais deitaram e continuam a deitar lenha para esta fogueira para que este fogo não se extinga.Um grande abraço para todos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

Guiné 63/74 - P11535: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (6): Testando armamento (HK 21 e morteiro 60) na berma da estrada, na ausência de carreiro de tiro...


Foto s/ nº > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (1)



Foto nº 84   > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (2)





Foto s/nº  > Mansoa > 1973> Testando a HK 21 (3)


Foto s/nº  > Mansoa > 1973 > Testando o Morteiro 60 (ou morteirete)


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga (*), recentemente admitido como membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Recorde-se que ele esteve em Mansoa, no 2º semestre de 1973, como alf mil (da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72), indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Publicam-se hoje  fotos de militares da 3ª C/BCAÇ 4612/72  a experimentar  armas no "2º ou 3º dia depois do Choquemone" (**).

Acrescente-se, a talhe de foice, que a maior parte dos setores não tinha... carreira de tiro.  No setor L1, por exemplo, havia, no tempo do Paulo Santiago,  do J.L. Vacas de Carvalho e do Luís Dias, uma carreira de tiro para instrução das novas companhias de milícias. Mas eu não me lembro, no meu tempo, de nenhuma carreira de tiro em Bambadinca. Havia uma em Contuboel, no tempo em que demos instrução de especialidade aos futuros soldados (guineenses) da CCAÇ 12. 

Parece que em Mansoa também não havia carreira de tiro, no 2º semestre de 1973, a avaliar por estas fotos... Por outro lado, no meu termpo, fazer tiro no mato era punido disciplinarmente... Por exemplo, no rio Udunduma, quando se estava lá destacado, fazia-se-se tiro uma vez por outra...Tal como se pescava à granada mas isso podia causar alarme quer em Bambadinca (, sede do batalhão,)  quer nos destacamentos ou tabancas em autodefesa,  à volta (Nhabijões, Amedalai...) ou ainda nos aquartelamentos  mais próximos (por ex., Xime).

No nosso caso (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), confiávamos na fiabilidade das nossas armas (nomeadamente da G3), graças ao impecável trabalho do nosso 1º cabo quarteleiro (ou de manutenção de material) João Rito Marques que reencontrei há tempo num convívio, e é natural de Sabugal.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Setembro de 1973 > A Instrução de tiro na carreira de tiro, que era perto da ponte do Rio Udunduma, na nova estrada Bambadinca-Xime.

Foto: © Luis Dias (2008). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11534: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (34): 35.º episódio: Memórias avulsas (16): Os dois amigos ao chegar à Guiné

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 22 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

16 - OS DOIS AMIGOS AO CHEGAR À GUINÉ

O PRIMEIRO
Um ser-humano fora de série. Após um enjoo contínuo desde Lisboa, ali estava Bissau.
Levantei-me do leito, onde sempre viera, excepto às horas dos comes que se bebiam e fui para a amurada e pelo que vi, pareceu-me bonito... com cheiros diferentes... o povo visível parecia simpático... a temperatura ao meu gosto e aquela chuva quente, até me refrescou as ideias.

Tudo preparado para sair, qu'a terra firme estava já ali a cem metros, eis senão quando me avisam:
- É pá andam lá em baixo à tua procura.

Fui ver e era bem verdade. Num "zebro" gritavam pelo meu nome. Tratava-se dum individuo com ar desleixado e barbudo, mal vestido à marinheiro, a quem acenei e que me ficou a aguardar junto ao portaló.

Era "APENAS" o fuzileiro especial Sebastião, das Barreiras, lá na minha terra. Sabendo da minha chegada, fez questão de me ir abraçar, convidou-me para o almoço que já mandara preparar e lá fomos depois do acantonamento da minha CCAÇ 1422, ali mesmo no Forte da Amura.

Mais tarde, voluntariou-se para operações onde soubesse que eventualmente eu também poderia estar o que por duas vezes aconteceu. Voltávamos assim a trocar amplexos verdadeiros como próprio de quem se estima. Era um rapazão formidável, valente militar já com a maior distinção possível, na guerra de Angola e ali recebeu a segunda igual condecoração.


O SEGUNDO
- Passeou comigo em Bissau, Mansoa, Cutia, Mansabá, Bissorã, Pelundo, Teixeira Pinto, Cuntima, Canjabari, Quinhamel e Farim.
- Combateu em Buro, Berecobé, Biribão, Jolmete e K3.
- A emboscadas, respondeu comigo nas matas, nas bolanhas, nas estradas... e outras preparou ao meu lado esquerdo.
- Fomos à praia de Varela e estivemos no Senegal.
- Partilhou as minhas lavadeiras, foi "voyeur, comeu comigo à mesa, colhemos cibes cajus e mangas, caçámos crocodilos, atirámos granadas de mão de pé e deitados, disparámos morteiros e bazoocas, nadámos em rios e bolanhas e atacámos o IN.
- Assentámos tijolos e sem fio de prumo ajudante, aquando da construção da cozinha e messe colectiva.
- Compartilhou emoções boas, outras nem tanto, conheceu GENTES com letra grande e gentes apenas.
- Riu... mas também chorou.
- Embora shockprotected, tem ainda o frontispício arranhado, devido a ter batido numa mina que eu próprio desarmadilhara ali nos "carreiros" a 3 Km's do aquartelamento e por isso recebeu metade dos 300 pesos que era o preço que pagavam por tal trabalhinho. (E que pena tínhamos de não as poder levantar todas, pois que algumas, as tais de que desconfiávamos serem fornilhos, haviam de ser destruídas com trotil)
- Prantámos muitas "bailarinas" ao redor do hotel onde vivíamos, até ao dia em que entendemos não o voltar a fazer, porque de noite muita macacada as destruíam.
- Conheceu-me como ninguém e bastava fixá-lo para que me mostrasse a quantos estávamos, que horas eram e qual o dia da semana.
- Acompanha-me há 48 anos e vai também às reuniões anuais da rapaziada que esteve na Guiné e de lá... e lá no meu concelho.
- É mudo de nascença, mas falo com ele sobre tudo o que vivemos e bastas vezes lhe pergunto: - "Alembras-te pá?

Vi-o na montra da Loja Pintosinho e foi amor à primeira vista. Desembolsei por ele, os últimos duzentos escuditos, do que trouxera da Metrópole.
Falei-vos do meu automatic Cauny Prima Swiss, 25 rubis, waterproof.

(continua)

OBS:- Na falta de outra ilustração, optou o editor pelo seu relógio Cauny Submarine, 17 rubis, Antichoc, Swiss, que lhe fez companhia no Funchal e na Guiné, regressando os dois ao Continente, em 1972, sãos e salvos. Ainda hoje sobrevivem.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11494: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (33): 34.º episódio: Memórias avulsas (15): O Brutubol

Guiné 63/74 - P11533: Memória dos lugares (233): Bafatá há 40 anos e em 2010 (2) (Fernando Gouveia)





1. Segunda série de fotos enviadas pelo nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), em mensagem do dia 20 de Abril de 2013 com fotos de Bafatá, separadas por 40 anos:

Margem do rio Colufe, por detrás da piscina.

Em frente à casa do ourives, Tchame, na tabanca da Ponte Nova.

Pescador, no Geba, frente à piscina.

A sala da minha casa nas vésperas do Natal de 1969, agora escritório da empresa do Capé.

O processo de recolha do vinho de palma continua o mesmo.

A Mesquita vista, rigorosamente, do mesmo ângulo.

O chefe religioso muçulmano de há 40 anos, Cherno Udi Bá, já falecido, e o actual chefe religioso, Mamadu Kulábio Bá, seu filho que, por acaso, foi condutor no Comando do Agrupamento.

O ourives de Bafata, Tchame, num dia de Ramadão junto à mesquita, já falecido, e o seu filho, que o substituiu na oficina.

A Bobo e a sua filhinha, que passados quarenta anos soube chamar-se Maria. Ambas trabalham no Empreendimento do Capé.

A Kadidja, que julgo já não precisar de apresentações.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11523: Memória dos lugares (232): Bafatá há 40 anos e em 2010 (1) (Fernando Gouveia)

Guiné 63/74 - P11532: Notas de leitura (478): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
Um dos pontos mais curiosos destas memórias é a evolução do combatente, sobretudo o que ele viu na Guiné entre 1962 e 1974. Descreve a explosão dos acontecimentos no Sul, quando escreve é percetível que há uma enorme confiança coletiva em estancar aquela rebelião para a qual os guerrilheiros, nos primeiros meses, não dispõem de qualquer informação.
Promovido a sargento, avalia a progressiva escalada de meios e o moral das tropa especiais e das forças em quadricula. Transmite por escrito um estado de desfalecimento pessoal e coletivo, as escoltas aos comboios de navios, sobretudo no Sul, são sempre atos temerários. Apercebe-se que há um estado de decomposição, um encolher de ombros, uma fuga ao confronto direto, de 1973 para 1974.
E participa no fim da guerra, dizendo sem rebuço que a partir do 25 de Abril todos quiseram depor as armas.
Um testemunho íntegro e genuíno, o do Homem Ferro.

Um abraço do
Mário


Homem Ferro, Memórias de um combatente (2) 

Beja Santos

A segunda comissão de Manuel Pires da Silva envolve sobretudo escoltas e diversas atribulações operacionais. Colocado em Ganturé, os fuzileiros sabem que têm um inimigo motivado e bem municiado na região de Sambuiá, bem ali perto. Em Janeiro de 1970, o Homem Ferro acompanha o DFE 7 à península de Sambuiá, nada de espetacular. O DFE 8, em Fevereiro, segue para uma operação em frente a Cumbamori. “Nessa operação vai o Homem Ferro com a respetiva secção de morteiro 81, sob as ordens do COP3. Na véspera a secção reunira para acertar alguns detalhes e qual não foi o espanto do Homem Ferro quando lhe aparecem, a oferecer-se como voluntários, o Pinto e o Alfaiate”. Mais adiante fala na deserção destes três marinheiros, descreve as dificuldades em desalojar os guerrilheiros de Sambuiá, em Agosto regressa a Bissau para voltar às escoltas. Surge entretanto uma nova dificuldade, agora o PAIGC já usa minas aquáticas, é necessário levar uma equipa de mergulhadores para as desativar. E com todas estas idas e vindas a Companhia de Fuzileiros 10 é rendida em Janeiro de 1971.

O Homem Ferro tinha agora família constituída. Questiona-se se deve continuar neste vaivém de comissões. Oferecera-se como voluntário na Marinha, cumprira 6 anos de contrato, depois fizera curso para sargento, chegara a primeiro-sargento com 27 anos. Não queria pôr em causa a carreira que conquistara com tenacidade e muito sacrifício. Teve um desaguisado quando concorreu a oficial do Serviço Especial, sentiu-se preterido, encarou seriamente a hipótese de deixar a Marinha, a resposta que lhe deram é que só teria direito a uma pequena pensão a partir de 1975. Depois de algumas andanças, parte para a terceira comissão na Guiné, em Outubro de 1972, integrado na Companhia 2. Passa os primeiros 4 meses em missões de segurança interna. E começa a reparar que a tropa nos aquartelamentos começa a baixar os braços, tornou-se inequívoco que era às tropas especiais quem os altos comandos constantemente recorriam. Com a chegada dos misseis aumentaram as dificuldades com a perda da supremacia aérea, o Homem Ferro chegou a ir numa operação com o DFE 1 em buca dos destroços de 2 aviões abatidos na zona de Talicó. Comenta que esta nova arma obrigava a rever todos os procedimentos operacionais e logísticos, já que toda a estratégia assentava nos reabastecimentos feitos ou vigiados pela Marinha e nos apoios rápidos à responsabilidade da Força Aérea.

O Homem Ferro volta às escoltas e aos comboios de navios, intensificaram-se as medidas de segurança nos rios Cobade e Cumbijã. As operações do PAIGC em Maio, tanto em Guidage como em Guilege e Gadamael Porto deixaram mazelas, percebia-se bem que o inimigo fazia ofensivas à carta, estabelecia as regras de jogo, quem fazia escoltas nos rios do Sul estava sempre à espera do pior, ele sentia sempre receio enquanto percorria os rios a caminho de Cacine, Cufar ou Catió, entre outras paragens. De forma intermitente, assiste ao espetáculo dos misseis a voar por cima dos aquartelamentos. As escoltas para Cacheu, Ganturé e Binta são outras missões que lhe cabem. Mostra-se muito crítico sobre as forças na quadrícula, em meados de 1973: “Os quartéis no mato pareciam fechados para férias. Ninguém saía para lá do arame farpado e os relatórios das patrulhas eram viciados. Parecia um jogo combinado com os guerrilheiros, tu não atacas, eu também não ataco”. Mais adiante, observando a situação em Novembro: “No mato, a desmoralização é total. A toda a hora chegam notícias de novos ataques a Gadamael Porto, Chugué, Bedanda, Cameconde, Jemberém, Cafal Balanta, Buba, Gampará, Cadique, Bigene e Canquelifá. Tudo está a ferro e fogo. Fuzileiros, paraquedistas e comandos já não chegam a todo o lado, como faziam dantes. As operações são, agora, todas em grande escala, mas os guerrilheiros já nem as tropas especiais respeitam, têm armamento mais sofisticado do que o dos portugueses. Fala-se numa invasão eminente, a Guiné-Bissau declarou a sua independência, supõe-se que será uma invasão apoiada pela Organização da Unidade Africana”. Em Janeiro de 1974, o Homem Ferro regressa às escoltas. Em Fevereiro, tem pela frente uma estadia em Ganturé, prevista até fins de Maio. Retomam-se as idas a Sambuiá, quase sempre muito fogachal, às vezes o inimigo debanda e tece considerações sobre as emboscadas nos rios: “Não há comparação entre uma emboscada em terra e uma sofrida a meio do rio. Aí todos são obrigados a ser audazes, pois não têm por onde se esconder. Só quem passou por elas faz ideia do como são terríveis. Normalmente, só à traição um fuzileiro podia ser derrubado. Mesmo nestas difíceis condições, em que já nem com o apoio aéreo podiam contar, os fuzileiros nunca fraquejavam”. Observa uma escalada ofensiva na região Norte, sem resposta à altura: “A tropa está desmoralizada e os fuzileiros já nem têm sargentos especiais. Começam a aparecer os subsargentos, equiparados a furriéis, mas as praças mais antigas, também com duas ou três – algumas com quatro! – comissões cumpridas já não acreditam neles como acreditavam no sargentos. Chegam informações de que já têm navios rápidos e aviação forte”.

Informações sobre o 16 de Março e o 25 de Abril chegam a Ganturé. O regozijo é geral: “A guerra na Guiné acabou logo ali. Não houve mais tiros. Havia, agora, que negociar independência”. Há encontros amistosos com grupos do PAIGC. Parte com saudades, gosta muito daquele povo: “Apesar de todos os sacrifícios sofridos na pele e das desagradáveis surpresas da guerra, com tantas emboscadas violentas, nunca foi maltratado por nenhum guinéu. Pelo contrário, a lealdade que sempre lhes conheceu, levou-o a sentir grande consideração por todo o povo guineense”.

Aos 38 anos despediu-se da Briosa, guarda a Escola de Fuzileiros no coração. Partia rumos a novos sonhos. Pôs em letra de forma as suas memórias porque entende que os portugueses têm direito a saber o que fizeram os fuzileiros na Guiné. Junta as suas fotos na recruta, na Escola de Fuzileiros, nas primeiras operações na Guiné, na guarda aos prisioneiros do PAIGC, nas batidas em Jabadá, na operação Tridente, nas patrulhas do rio Cacheu, percebe-se bem que foi esta primeira comissão que mais o tocou, andou sempre na primeira linha do combate; depois as fotos nas operações em Sambuiá.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11521: Notas de leitura (477): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11531: As Nossas Tropas - Quem foi quem (12): Maurício Leonel de Sousa Saraiva, ex-cap inf comando (Brá, 1965/67) (Luciana Saraiva Guerra)

1. De Luciana Andrade Guerra, sobrinha do ex.-cap comando Maurício Saraiva, e nossa nova tabanqueira (nº 616) (*), mensagem datada de 30 de abril último, dirigida ao Virgínio Briote e  de que este nos deu conhecimento:

De: Luciana Andrade Guerra
Enviada: 30 de abril de 2013 14:15
Para: Virgínio Briote
Assunto: Coronel Maurício Leonel de Sousa Saraiva

Prezado V. Briote,

Agradeço-lhe de coração pelos seus sentimentos e sua gentileza. Fiquei realmente feliz por encontrar pessoas queridas que resolveram compartilhar tantas experiências de um passado e se juntaram num Blog como esse e ainda algumas, como o Virgínio, tiveram vínculos com meu tio Maurício.

Eu tenho comigo também muitas fotografias, mas são mais fotografias de família, quando meu tio era ainda muito jovem e vivia em Sá da Bandeira, em Angola. Ele nasceu na Ganda. Depois meu avô Francisco Saraiva se mudou para Sá da Bandeira.

Meu avô Francisco só voltou para Portugal nos anos 60, ia já doente e acabou por falecer devido a um câncer no pulmão.

O tio Maurício foi uma pessoa com sua vida muito preenchida, de amigos e ocupações diversas. Sei que morou muitos anos em Madrid, onde chegou a exercer o cargo de Diretor numa empresa grande, que tinha filiais nos EUA e outros países. Meu tio viajava bastante. O tio tinha um hábito muito interessante, que hoje nos ajuda muito, ele sempre colocava as datas nos postais e fotografias que ia mandando para meu pai e minha avó (sua mãe). Sempre se lembrava da sua mãe e de meu pai. Qualquer viagem que fazia, mandava notícias através de lindos postais e fotos que ele mesmo adorava bater. Minha irmã ficou com uma coleção incrível desses postais que o tio foi mandando ao longo de tantos anos.


No final dos anos 70 e durante os anos 80 e ainda 90, a família tinha o costume de se reunir para passarmos um dia juntos no Natal. Era sempre uma festa muito grande, meu tio era muito animado, contava muitas histórias e levava presentes para todo o mundo.

Minha avó Tininha gostou de todos os filhos, mas tinha uma grande admiração pelo seu filho mais velho.



.Guiné > Brá >  Cap inf comando Saraiva, à frente da CCmds do CTIG em Set 65. Na foto,  o cap Saraiva rodeado pelo João Parreira, Virgínio Briote e Marques de Matos.

Foto: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados.


Durante o pós-Guerra em África, e depois do acidente que o deixou hospitalizado, ele foi para Londres, onde viveu alguns anos. Sei também que minhas duas bisavós: Lu+isa e Emília adoravam o neto. Quando meu tio estudava já em Portugal, costumava passar as férias de verão junto com as avós em Possacos [, Valpaços]. Acho que ele devia exercer uma espécie de liderança, pois seus primos tinham uma grande adoração por ele.

Meu tio chegou a participar anos mais tarde na Guerra do Golfo. E sobre este episódio nada mais sei. Infelizmente não temos contato com a sua segunda esposa (viúva de meu tio), porque ela se afastou de nossa família e também não tinha um relacionamento próximo com meu primo Francisco Henrique (único filho de meu tio). A primeira esposa do tio, Isabel, mãe do Francisco Henrique, ainda é viva.

Meu primo é casado e teve 6 filhos homens ! hi hi, meu tio não chegou a conhecer todos os netos, nem meu filho João Henrique, o mais novo nascido já aqui em Florianópolis em 2005.

Meu tio Maurício chegou a conhecer meu marido Baltazar,
com o qual estou há 22 anos. Um dia num casamento de uns amigos, numas férias que fizemos em Portugal, estivemos sentados à mesa com o Sr. General Eanes e sua esposa Manuela. Qual não foi meu espanto, e nem me lembro porquê, meu tio foi tema de conversa e parece que foram colegas na Academia Militar.

Aliás, sei que meu tio era muito amigo do Sr. [gen] Almeida Bruno. Este senhor visitou muitas vezes meu tio, quando ele já estava internado antes de falecer.

Bom, não quero maça-lo com minhas histórias, e gostaria que o V. Briote se sinta á vontade para me contar mais histórias, porque a história de meu tio ficaria incompleta se não juntarmos o tempo que passou em África junto com seus camaradas, alguns agora reunidos neste Blog.

Acho que meu tio Maurício ficaria muito feliz por saber que resolvi escrever este livro sobre a avó. Aliás ele em vida me incentivou a buscar a origem dos Sousa da parte da avó. Cheguei muito longe, ele nem sonha as histórias incríveis que descobri, os documentos antigos que consegui junto do Arquivo Distrital de Vila Real. Estou quase comprovando que nosso 10º avô descende de uma linhagem de nobres e guerreiros que nos levam a D. Afonso III...penso que meu tio iria ficar extremamente orgulhoso.

Existe ainda mais uma história incrível, que eu não sei dizer se meu tio sabia ou não, nem como ele iria reagir!

Meu avô Francisco ficou órfão de pai muito cedo. Filho único veio com seu tio Domingos Saraiva para o Rio de Janeiro ainda extremamente jovem. Por aqui ficou 14 anos. Conheceu uma senhora de uma família de Possacos  e tiveram um filho chamado Manoel Bernardo Saraiva. Só que meu avô estava indo de novo para Possacos naquele ano para ver sua mãe, minha bisavó Luisinha. Nessa estadia conheceu minha avó, numa linda propriedade de Possacos que minha avó teve. 

Nunca mais se separaram, portanto meu avô foi para Angola com minha avó e não voltou mais para o Brasil. Acontece que eu,  ao fim destes anos todos, conheci uma senhora de 86 anos que se chama Amélia que mora em Lisboa e tem toda a sua família em Possacos, ela é tia do meu tio Manoel Bernardo Saraiva, irmão de meu pai e do tio Maurício. Nós estamos procurando este tio, que se for vivo terá 86 anos também ! Ele teve uma filha Saraiva.

Estou em contato com alguns sobrinhos dele e todos estamos tentando encontrar esse tio. Bom, mas este é outro capítulo da minha história...risos. Este assunto era tabu na casa de minha avó (logicamente).

Mande mais histórias, ontem mesmo abri conta no Google e acho que já faço parte do Blog da Tabanca Grande !

O Sr. Luís Graça  também conheceu meu tio? O Sr. Virgínio mora em Lisboa?

Um abraço e mais uma vez obrigado,

Luciana Saraiva Guerra (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (407): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)

(**) Último poste da série > 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

domingo, 5 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11530: Homenagem a todas as Mães; às que já partiram e às que ainda estão connosco (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Maio de 2013:

Luis, Carlos, Virgínio, Magalhães e restante Tabanca Grande
Poder homenagear as mães é uma alegria vedada aos muitos que já viram partir as suas. Mas penso quando celebramos as que estão junto de nós, homegeamos também as partiram.

Um abraço para todos
Juvenal Amado



Esta mulher deu-me tudo sem lhe pedir nada

Vigiou-me até eu começar a andar, acompanhou-me à escola até eu aprender o caminho, cuidou de mim quase sem eu dar por isso, depois cresci, pensei que tinha saído da sua sombra protectora, mas no fundo ela velou por mim mesmo quando estive longe.

Protegeu-me não medindo o perigo em momentos difíceis.
Hoje não é a mesma mulher, envelheceu, a doença tirou-lhe algum senso e dignidade que sempre lhe conheci.
Faz birras, é vaidosa, troca as coisas, faz confusão com os assuntos, tem sempre as razões dela na ponta da língua, não tem paciência para os outros, fica triste se por alguma razão um de nós a não vai buscar ao fim de semana.

Há dias caiu e partiu a cabeça. Já não é a primeira vez. Ficou com a cara negra.
O que se há-de fazer? É uma criança com 82 anos, em que a aprendizagem se faz em sentido inverso e que perdeu muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo da sua vida, com mais preocupações do que regalias. Nós mudamos e ela também mudou.

Hoje respeito-a não pela beleza passada ou pela sua autoridade, mas pelo que sou e que nunca seria sem ela. Ela moldou-me, ensinou-me o que estava certo e o errado, indicou-me o caminho, assinalou-me os escolhos e os perigos.

Não evitou que no meu livre arbitro, tenha muitas vezes tropeçado e caído.
Amo-a hoje com sentido de protecção como o que em tempos ela me deu e porque representa um elo de ligação, com todos os entes queridos que já partiram e pelos que felizmente ainda tenho comigo.

Amanhã é dia da Mãe.

Felizmente eu tenho a minha e congratulo-me por para mim e pelos meus irmãos, porque todos os dias para nós o ser. Não vou estar com ela este dia, mas para a semana vou-lhe levar uma flor, sair de braço dado com ela e passear pelas ruas da sua e minha cidade, com um pouco de orgulho quando ela me apresenta como sendo novidade:
- Este é o meu filho mais velho.

Feliz dia da Mãe para todas as mães.

Texto e fotos: © Juvenal Amado (2013). Todos os direitos reservados
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Guiné 63/74 - P11529: Blogpoesia (336): Suadê, nome de mãe (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada , 1968/70), com data de 23 de Abril de 2013:

Caríssimos editores.
Aproxima-se o DIA DA MÃE.
Estarei na Guiné-Bissau, talvez no Centro Materno-Infantil de Elalab que a Tabanca Pequena ajudou a construir para apoiar as mães de hoje.
Gostava que colocassem no blogue este poema que escrevi em memória daquela mãe que no dia 14 de Janeiro de 1969 viu a sua bebé morrer ficando ela gravemente ferida no corpo e no espírito ao ponto de desejar a morte o que me dificultou imenso a sua estabilização.


Fevereiro, 1969 / Buba / 20 

 ...Tive muito que fazer na Enfermaria. Um dos feridos da população mais graves foi a mãe da menina que morreu. Tinha o corpo cheio de estilhaços, felizmente não foi atingida nos órgãos vitais e deve recuperar. O seu sofrimento interior impressionou-me. 
É seu hábito dormir com a criança amarrada às costas para poder levá-la para o abrigo subterrâneo quando o IN ataca. Como já era de manhã desamarrou-a pouco antes do ataque se dar. Quando ouviu o fogo correu para o abrigo e só nessa altura é que se apercebeu que a bebé estava a dormir na tabanca. Saiu a correr, mas foi atirada ao chão pelo rebentamento da granada de canhão que caiu em cima da sua casa e lhe matou a menina....


Suadê, nome de mãe. 

Estava viva, 
Estava morta, 
Pobre mãe preta, 
Desesperada, 
A morte bateu-lhe à porta, 
No sopro de uma granada. 
Chorava lágrimas de sangue, 
No seu corpo dilacerado. 
Dos olhos vítreos e secos, 
De tanta lágrima corrida, 
Um grito soava ardente. 
Não tenho direito à vida. 

Era alta madrugada, 
Quando a guerra eclodiu, 
E aquela mãe assustada, 
Da morte, a correr fugiu. 
Sua filhinha dormia, 
Dos justos, um sono forte, 
A granada explodiu, 
E com ela veio a morte. 

Chegou à porta do abrigo, 
Em noite de mau agoiro, 
E para trás voltou, apressada 
Na esperança de salvar, 
O seu mais valioso tesoiro. 
A razão do seu viver. 
E viu sua filha amada morrer 
Sem lhe poder valer. 

A mesma granada, 
Que sua filha matou, 
No calor do incêndio que lhe esmagou a alma 
Seu corpo cruelmente dilacerou, 
Prostrando-a no chão, inanimada. 
Num misto de sofrimento e dor. 
Que dor, pobre mãe, 
Tu viste tua filha morrer, 
A razão do teu viver. 
Sem lhe poderes valer. 

Já não choras mãe.
Esgotaste o cloreto de sódio, 
Teus olhos espelham ódio, 
À vida que teima em soprar. 
Queres morrer, 
Desaparecer. 
Ir ao encontro da tua amada, 
Que partiu, para não voltar. 

 Zé Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11515: Blogpoesia (335): Estamos à espera de quê ?...(J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P11528: Parabéns a você (573): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11525: Parabéns a você (572): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

sábado, 4 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11527: Bom ou mau tempo na bolanha (8): Os primeiros contactos e empregos (Tony Borié)





Oitavo episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66) Bom ou mau tempo na bolanha.






Na segunda-feira seguinte, um dos novos companheiros, que com ele repartiam as instalações na cave naquela casa de emigrantes, leva o Tony para trabalhar com ele, fala com o patrão, pede os documentos, faz uma breve inspecção médica e vai trabalhar. No trabalho, a sua tarefa era cortar troncos de madeira em tábuas. Quando começava a cair neve, largava essa ocupação e ia com uma grande pá, removê-la de todos os locais de acesso à fábrica de serração de madeiras.
Quando terminava num local, já o outro local tinha que ser limpo, terminava o dia todo molhado e cheio de frio, mas com alguma alegria, pois tinha trabalho e podia pagar o local onde dormia.

De regresso à cave, esperava pela sua vez de usar o fogão, fazia o seu comer, que quase sempre era arroz de moelas de galinha partidas aos bocadinhos, uma comida barata, simples e que durava alguns dias, pois muitas vezes, comia-se mesmo frio. Nunca faltava pão, que era a comida preferida do Tony, lembram-se quando todos os dias roubava pão ao “Arroz com Pão”, que era o cabo do rancho, no aquartelamento de Mansoa, pão esse, trazido por aquele que trabalhava na padaria, às vezes o que trabalhava no restaurante também trazia restos de comida das festas que eram servidas no restaurante, pelo menos aos fins de semana.

Nas horas que tinha de folga procurava outra ocupação, era na rua, nos bares, nas lojas de conveniência, nas estações de serviço, aí é que se faziam os contactos. Ajudou a lavar carros, mais tarde, já não lavava, foi promovido, só levava os carros até à entrada da máquina de os lavar. Largou a fábrica de serração de madeiras, pois havia lugar de trabalho num grupo de construção de estradas que pagava muito bem. O trabalho era a duas horas de viajem, pela madrugada largavam para o local de trabalho, paravam pelo caminho para comprar café e álcool, para poderem suportar o frio, chegavam ao trabalho já todos sobre influência. Um dia houve um pequeno acidente no trabalho, o patrão chega ao local de helicóptero e vê o estado dos trabalhadores, não teve outra solução, chama o chefe do grupo, que mostrava um estado de influência elevado, despede-o assim como a todo o grupo.

Não esteve desempregado dois dias, ao outro dia foi trabalhar para uma fábrica de fazer ferramentas, no turno da meia noite que se prolongava até às oito horas da manhã. Era um trabalho pesado e sujo. De dia trabalhava na lavagem de carros, davam-lhe gorjetas, ainda tinha umas horas para limpar a cozinha e uns anexos de um restaurante, onde comia e trazia comida para o dia seguinte.

Atravessou o rio Hudson e foi ver a tal editora em Nova Iorque, era verdade, ofereciam-lhe trabalho, mas não pagavam lá muito bem, o Tony não tinha tempo disponível e nem queria, pois sentia-se confortável com o que fazia.

Durante todo este tempo ia vendo a cidade, já não lhe parecia tão mal assim. Como tinha um poder enorme de aprendizagem e não perdia nenhuma oportunidade para falar, aos poucos ia praticando o idioma, mas sem técnica, dava só para se desenrascar. Sempre que tinha oportunidade ia levar comida, leite, pão e outros géneros alimentícios, e mesmo roupa, que arranjava dos restos do restaurante onde limpava a cozinha e não só, às tais pessoas que continuavam a dormir na margem do rio Passaic, falava e aprendia com elas, era como se fossem suas amigas, por vezes perdia-se nas horas e passava a noite com elas, onde queimavam lenha roubada, dentro de um bidão de cinquenta galões, fumando cigarros feitos à mão e bebendo álcool da mesma garrafa. Quando isto acontecia, e não vinha dormir à cave, os colegas repreendiam-no, dizendo:
- Qualquer dia, é mais um que vai aparecer a boiar, no rio Passaic!

O Tony, sempre se sentiu confortável no meio deles e lembrava-se quando um deles o cobriu com um plástico e se juntou a ele para juntos suportarem melhor o frio.

Tudo corria mais ou menos, só com o problema das saudades do bebé e da Margarida, que lhe ia mandando algumas cartas com fotografias, contando como ia crescendo e das coisas que já fazia.

Começou a procurar alojamento para mandar vir a Margarida e o filho. Havia um emigrante que andava a remodelar a casa e alugou-lhe um quarto com uma pequena cozinha no sótão, pagava a renda mas não vivia lá, continuava a viver com os companheiros na cave. Há sempre alguém que se quer desfazer de alguma parte de mobília velha e a põe na rua, o Tony aproveitava, ia guardando no novo quarto. Passado algum tempo já tinha tudo preparado, incluindo cama, berço, algumas cadeiras, mesa, frigorífico, panelas, pratos e alguns utensílios mais, que são necessários numa casa. Assim, quando viessem já podiam viver com o mínimo de comodidades.

Todo o seu tempo estava ocupado no restaurante onde limpava a cozinha, também o queriam para ajudar nas festas que se realizavam aos fins de semana. Ele ia agradando a todos conforme podia, era novo, tinha saúde, um dos principais motores que o fazia mover era a esperança de poder ver o seu bebé e a Margarida,no mínimo espaço de tempo. Essa esperança ultrapassava todos os obstáculos.

Entretanto descobre que o amigo Zarco, o tal pára-quedista a quem o Cifra deu água, só água, mais nada, no aquartelamento na zona de guerra, vive numa cidade mais ao sul, em Nova Jersey, e consegue contactá-lo. O Zarco, que agora se chama John, já casado com uma senhora americana, oferece-lhe trabalho numa multinacional onde também trabalha, mas nos quadros superiores. O Tony vai trabalhar para essa multinacional, nunca larga o emprego da lavagem de carros, nem a limpeza da cozinha do restaurante, para isso tira licença de conduzir e compra um carro velho, daqueles muito grandes, que parecem uma banheira, mas que andava muito bem.

Tem noites em que dorme apenas três ou quatro horas, mas sente-se bem. Controla todo o seu dinheiro e verifica em termos financeiros, que depois das despesas, sobrava mais numa semana, do que antes em Portugal, em três ou quatro meses. Tinha saúde, trabalho não lhe faltava, só as saudades da Margarida e do filho é que o atormentavam um pouco, mas se continuasse com o ritmo de trabalho que levava, em pouco tempo viriam ter com ele.

Ele sabia e tinha quase a certeza que sim, ele acreditava.

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11513: Bom ou mau tempo na bolanha (7): És pessoal do Lisboa? (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (397): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)

1. Mensagem de Luciana Saraiva Andrade Guerra, sobrinha do ex-cap comando Maurício Saraiva, já falecido (com o posto de coronel), e de que foi dado conhecimento ao Virgínio Briote, nosso coeditor (jubilado) e um dos nossos camaradas da Tabanca Grande que mais privou com Maurício Saraiva, nos anos de 1965/67:

Data: 29 de Abril de 2013, 19:57

Assunto:  P11485 (*):

Prezado Luís Graça,

Que bom saber que tem amigos e familiares em Floripa. Logo vou abrir conta no Google e fazer parte da Tabanca Grande. Parabéns pelo vosso Blog (**).

Obrigado, vossas saudações serão entregues a meu pai. Eu ainda não lhe contei a novidade. Tenho pena de não ter tido a oportunidade de ter convivido mais com meu tio.

Gostaria ainda de agradecer muito a resposta de Virgínio Briote. Espero que se recupere em breve e tudo corra bem. Entrarei de novo em contato para conversarmos sobre este livro que estou fazendo. Tenho a certeza, que o senhor será uma ajuda e tanto quando nos podermos encontrar para analisar toda essa documentação que tem consigo, acrescentando os testemunhos pessoais.

Vou marcar minha passagem para o Porto talvez lá para o dia 23 de maio. Caso nessa altura seja possível o Virgínio Briote se encontrar comigo, ficarei contente. Hoje felizmente podemos digitalizar algumas fotos e documentos, o que facilita muito nosso trabalho, principalmente devido às distancias. Se achar melhor pode me enviar seu endereço de e-mail para eu poder saber mais sobre o tio Maurício.

Mas apesar de todo o oceano que temos a separar estes dois países, Portugal está sempre no meu coração, principalmente as pessoas.

Como o Luís deve saber, Florianópolis é uma cidade muito bonita, tem as 4 estações e assim o clima é um pouco mais parecido com o europeu.

Por hoje é tudo, vou então entrar no vosso Blog,

um abraço a todos


2. Resposta do Virgínio Briote, com data de 29 de abril

Minha Cara Luciana,

Gostei muito de ver a sua mensagem, dizendo quem era e o que queria. E, apesar de estar algo afastado das lides bloguistas, senti-me na obrigação de dizer Presente quando o Professor Luís Graça ma reencaminhou.

De facto, fui um dos Camaradas do seu Tio e tenho muito gosto em ter privado de muito perto com ele. Infelizmente, depois de regressar a Lisboa, vindo da Guiné-Bissau, só voltei a encontrar-me com o então Capitão Saraiva, duas a três semanas depois da minha chegada. Depois sabe como são as coisas. Naqueles anos 65 a 67, éramos meninos, eu tinha feito 23 anos no navio do regresso. A Guiné, para nós, foi um inferno e, como muitos outros, a partir de uma certa altura, resolvi enterrar o assunto e fazer de conta que nunca lá tinha estado. Casei, comecei a trabalhar, fui estudando, nasceram-me filhos e fiz a minha carreira profissional até me reformar.

Ao longo dos tempos fui tendo notícias dele. Soube, é claro, que tinha sido ferido gravemente em Moçambique e, curiosamente, 40 e poucos anos depois reencontrei em Viana do Castelo (aqui no Minho, no Norte de Portugal) um antigo soldado meu na Guiné que fez parte da Companhia de  Comandos do Capitão Saraiva e que assistiu ao rebentamento da mina que o atingiu. Depois veio o 25 Abril, o seu tio saiu de Portugal e fui tendo algumas notícias dele até que soube que já tinha morrido, quando o procurei.

O capitão Saraiva, mais tarde reintegrado, não a seu pedido mas por diligências
 efectuadas por vários Camaradas, e promovido a Coronel, foi uma pessoa que me deixou saudades e que me marcou profundamente e, sem dúvida, foi um dos militares portugueses que mais se distinguiram na guerra colonial, tendo por isso sido louvado e condecorado numerosas vezes [, e em 1970, com o grau de oficial da Ordem Miitar da Torre e Espada].

E pronto, Luciana, acho que já me apresentei o suficiente por hoje. É claro que estarmos a falar do "Capitão" Saraiva levava-nos uma noite ou duas, com os Camaradas vivos que combateram com ele e as recordações iriam surgindo naturalmente. O que lhe posso dizer, para terminar, é que quem com ele contactou na Guiné ainda hoje fala dele como se fosse, e foi, uma figura lendária.

Contacte quando quiser, Luciana. Terei sempre tempo e, julgo, força suficiente para conversarmos e arranjar gente que com ele conviveu.

Cumprimentos daqui!

V Briote


3. Comentário de L.G.:

Querida amiga: Obrigado por ter aceite o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, ou seja, a comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné que se reúne à sombra de um mágico, secular, fraterno, mágico poilão (como se diz no Brasil ?)... Costumamos dizer, aqui,  que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Pensando em pessoas como você (e temos mais "sobrinhos" no nosso blogue), poderíamos acrescentar:  os/as sobrinhos/as dos nossos camaradas nossos/as sobrinhos/as são...

A Luciana passa a ser a "tabanqueira" nº 616 (**) A sua presença muito nos honra, a todos nós, ex-combatentes da Guiné.  Vamos publicar a mensagem que mandou ao Virgínio Briote e em que acrescenta mais informação sobre o seu tio, e nosso camarada, Maurício Saraiva. Pessoalmente,. não o conheci. Sou mais "pira", mais novo, do que ele e o Briote, estive na Guiné na  época de 1969/71, sob o comando do gen  Spínola.

Quanto a Floripa,. tenho lá amigos e parentes. Também em Itapema (onde vive um velho amigo, o Zeca Ferreira Cardoso) Mas não conheço o Brasil. Há uns anos estive para ir a um Congresso Mundial da Medicina do Trabalho, em Iguassu, mas acabou por não ir. Sei que é um belo estado, Santa Catarina. E que Floripa foi fundado por açorianos... Pode ser que um belo dia destes a gente se encontre em Floripa. Mas o mais provável aqui, no "Puto", um dia destes... Vá dando notícias, nomeadamente do seu livro e das suas pesquisas sobre o tio Maurício.

PS - O Brasil é, a seguir a Portugal, o país onde temos mais leitores/visitantes do nosso blogue. Vários "tabanqueiros" nossos, antigos combatentes da Guiné, vivem no Brasil, há décadas...Obrigado por estar a seguir o nosso blogue que passa também a ser seu. Entre camaradas, tratamo-nos por "tu" e não por "você".  Faz parte das nossas regras. Mas os/as amigos/as têm direito a maior defeência... Ah!, não se esqueça de nos mandar um foto com melhor resolução do que aquela que publicamos acima. E diga-nos como quer ser conhecida aqui, na Tabanca Grande: Luciana Saraiva ?  Luciana Saraiva Andrade ?  Luciana Saraiva Andrade Guerra ?

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 27 de abril de 2013 >  Guiné 63/74 - P11485: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (68): Luciana Saraiva Guerra, sobrinha do cor comando, já falecido, Maurício Saraiva, está a escrever um livro sobre a família, natural de Valpaços, e o tio paterno, nascido em Angola

(**) Último poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11464: Tabanca Grande (396 ): Novo membro, o nº 615: Mário Vasconcelos (ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro; COT 9, Mansoa, CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11525: Parabéns a você (572): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11520: Parabéns a você (571): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

1. Respostas ao questionário do nosso camarada Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Há já bastante tempo. 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Por informação do camarada José Dinis. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Há cerca de meio ano. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - De tempos a tempos. 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Já mandei dois artigos e gostaria de mandar mais, de acordo com o tempo de que disponho. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Não. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Eu não acedo ao facebook. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - Gosto de ler alguns artigos e gosto de ver fotografias de sítios da Guiné. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Eu penso que não há nada que goste menos. As intervenções podem ser mais ou menos interessantes, mas trata-se de coisas que gosto sempre de ler. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Representa a permanência de uma fase da nossa vida, que certamente marcou a todos. Eu sei que, ao fim de muitos anos, o blogue acabará por fenecer, juntamente connosco. Contudo, a vida vive-se enquanto estamos vivos... 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Este ano ainda não posso. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Neste momento, penso que se encontra com bastante força anímica, suportado por alguns entusiastas. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Nada me ocorre como crítica. Endereço, apenas, uma palavra de ânimo a quem mais se dedica a esta causa.

Cândido Morais

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2. Respostas do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974):

1 - Entre 5 e 6 anos 

2 - Através de informações de camaradas 

3 - Considero-me membro e participo regularmente com comentários/opiniões 

4 - Em média será uma vez por semana 

5 - Tenho mandado 

6 - Sim 

7 - Alterno sem tendência definida 

8 - De acompanhar as diversas opiniões e relatos de factos vividos em pleno TO 


9 - Não tenho opinião negativa, a não ser a lentidão que é frequente 

10 - No acesso não, mas com referi a excessiva lentidão 

11 - É uma fonte de actualização e renovação de contactos com os ex-camaradas 

12 - Ainda não, embora este ano já tenha estado em 2 encontros da companhia e do batalhão 

13 - Provavelmente não por várias razões uma delas ainda estar na vida activa em regime de turnos

14 - Sim, parar é morrer. Se necessário fazer renovações no sentido de o tornar mais ágil e atrativo 

15 - Em resumo dos parágrafos, devemos prosseguir este caminho, tornando-o mais largo de forma a crescer o caudal de camaradas a participar/colaborar, em suma comunicar que é uma fonte de vida saudável 

OBS: A foto anexa mostra a chegada a Cadique pelo rio Cumbijã da 1.ª CART e CCS do BART 6520/73 

Um abraço a todos, um bom 1º de Maio (há 39 anos estava no TO da Guiné - Bolama) 
Manuel Luís Nogueira de Sousa

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3. Mensagem do nosso camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69), com as suas respostas ao nosso questionário:

1 - Descobri o blogue no princípio de 2007

2 - Descobri o blogue por acaso, ao navegar na Net 

3 - Sou membro desde 12 de Julho de 2007 

4 - Visito o blogue todos os dias 

5 - Já enviei material para o blogue, mas ultimamente não 

6 - Não conheço o Facebook 

7 - Resposta anterior 

8 - Gosto dos temas que cheirem a pólvora 

9 - Poesias, aniversários, etc. 

10 - Tenho tido dificuldades porque o blogue não cabe no Meu monitor, tenho que utilizar o zoom 95 

11 - O blogue representa para mim o reviver de uma fase muito importante da minha vida 

12 - Participei no encontro da Ameira 

13 - Este ano também não vou. A minha vida em 2010 deu Uma volta de 180º e a minha saúde é escassa 

14 - Acho que o blogue tem que continuar. Representa muito Para alguns de nós, sobretudo para aqueles que se apaixonaram Por aquela terra e por lá deixaram algo de si 

15 - Não tenho críticas a fazer. Cada um de nós tem feito o melhor que Pode e sabe. A estrada está picada, mas por favor não vão todos Em cima da mesma viatura 

Um abraço a todos os camaradas desta magnífica tabanca
Aires Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11519: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (40): Respostas (nº 78/79/80): Carlos Pedreño Ferreira, ex- Fur Mil Inf Op COMBIS e COP 8 (Bissau e Nhacra, 1971/73); Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, BART 1913 (Catió, 1967/69) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 (Cufar e Buruntuma, 1964/66)