quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Ilustração de António Levezinho para a capa da História da CCAÇ 12 (1969/71).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005)

Foto nº 41 >



 Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Reabastecimento de um heli, provavelmente por ocasião da Op Lança Afiada (8 a 19 de março de 1969). Durante semana e meia, Bambadinca foi um correpio de helis, T6 e DO-27.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42 >   A presença do ainda brig António de Spínola, que acompanhou pessoalmente a Op Lança Afiada.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Invólucros de granadas de canhão s/r 82, usados pelo PAIGC na noite de 28 de maio de 1969, no ataque de 40 minutos a Bambadinca, menos de dois meses e meio depois da Op Lança Afiada. O PAIGC utilizou dois brugrupos e 3 canhões s/r, aém de morteiros, RPG, metralhadores ligeiras e pesadas, e armas automáticas de assalto. Fotos do álbum do José Carlos Lopes, fur mil reabast, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70).


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
A. Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores: 36 oficiais; 71 sargentos; 699 praças; 106 milícias; 379 carregadores Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto direto.

As populações sob controlo do IN (balanats e beafadas) passaram, com alguma segurança, para o lado do rio Corubal, margem esquerda. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de comando de agrupamento (nº 2957), sendo comandada pelo cor inf Hélio Felgas [1920-2008]. Quase um terço dos efectivos eram carregadores.

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, na margem  estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia, na mata do Fiofioli, um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi, senão propriamente um fiasco, uma frustração para as NT. Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico... É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação do relatório da Op Lança Afiada (Na I Série do nosso blogue já publicámos alguns excertos substanciaos). Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e  policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os nossos leitores, os  paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné.

É importante esta operação no seu contexto. Estava-se então em plena época seca: o capinzal já não resiste às granadas incendiárias e as clareiras, abertas pelas queimadas na savana arbustiva, deixam entrever a imensa mole de vegetação tropical para além da qual fica tabanca di bandido, em florestas sombrias onde coabitam dginé & najoré, e que na algaraviada dos meus queridos fulas  (da CCAÇ 12) queria  dizer irãs, diabos, diabretes, duendes e toda a espécie de espíritos (bons e maus)…

O objectivo da operação é, como sempre, aniquilar, capturar ou, no mínimo, expulsar o IN, destruir todos os seus meios de vida e recuperar a população sob o seu controlo... (À força, se a dita população não quiser voltar a viver sob a nossa bandeira e a nossa soberania).

A ideia de manobra é simples: da Ponta do Inglês (antigo destacamento da CART 1746, evacaudo em 7/8 de outubro de 1968) à mata do Fiofioli, da estrada Mansambo-Xitole à Ponta Luís Dias (outrora um florescente entreposto comercial à beira rio) um enorme cilindro compressor irá empurrando tudo o que for balanta, beafada e bicho do mato para o Rio Corubal onde os esperam os pássaros de fogo dos tugas, os hipopótamos, os jacarés, as formigas carnívoras, os jagudis...

Oficialmente o dispositivo do IN na área compreendida entre a linha geral Xime-Xitole e a margem direita do Rio Gorubal foi desarticulado — um eufemismo, de resto, muito utilizado nos nossos relatórios militares para justificar resultados mais morais e psicológicos do que materiais em operações desta envergadura, e que quando muito só se realizam de dois em dois anos (Na verdade, não era todos os dias que nós podíamos, no TO da Guiné,  dar ao luxo de mobilizar o equivalente a um agrupamento, ou seja, 8 companhias, fora os carregadores civis).

Na prática, os roncos não foram espectaculares: para além de algumas toneladas de arroz destruídas e de umas tantas casas de mato ou cubatas queimadas, enfim, para além de alguns contactos com o IN, sempre à distância, “o que contou sobretudo foi termos penetrado em santuários do IN tão míticos como a mata do Fiofioli” (dizia-me um furriel da velhice com quem gostava de conversar do passado recente, em Contuboel, em junho de 1969).

B. Em Contuboel, verdinho que nem um periquito, fiquei a saber que o Fiofioli era um sítio tão temível para os tugas da Zona Leste como, noutros sectores, o Boé, o Cantanhez, o Morès, o Choquemone, o Caresse ou a ilha do Como.
— Afinal, nem hospital nem enfermeiras cubanas nem sequer o fantasma do Nino vestido à cowboy — comentava, entre irónico e desapontado, à mesa da lerpa, um outro furriel da velhice de Contuboel — Foi só por dizer que estivemos na mata do Fiofioli… Nem sequer fiz o gosto ao dedo!

O que eu na altura, pira,  pude concluir destas conversas entre velhinhos de barba rija, no meio de rodadas de cerveja e de uísque, é que depois do inferno de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969), a Lança Afiada teve um certo sabor a vitória para as NT.

0 que se passara, entretanto, é que, na impossibilidade de resistir abertamente à contrapenetração das NT, a guerrilha ensaiara algumas manobras de diversão pelo fogo, enquanto as populações sob o seu controlo, previamente alertadas, se metiam na arca de Noé (quiçá com alguma a bicharada do mato, os porcos, as galinhas, que puderam salvar), cambando o Rio Corubal e pondo-se a salvo na outra margem... Em suma a velha táctica do conhecido mestre escola chinês, Mao Tsé Tung: “dispersar quando o inimigo ataca, reagrupar quando o inimigo retira”…

Um mês depois, e quando os tugas voltavam a dormir de cu para o ar, preparando-se para hibernar nos seus campos fortificados durante a estação das chuvas, os diabos negros da floresta desencadeavam uma série de acções que culminariam no ataque em força, inesperado e espectacular, a Bambadinca, a sede do comando do setor L1 até então inviolável...

Foi a 28 de Maio de 1969, à noite, estávamos nós a chegar a Bissau. Quando passámos por Bambadinca, oito dias depois, a caminho de Contuboel, não se falava de outra coisa…
— Podíamos ter sido todos mortos ou apanhados à unha, tal era a bandalheira em que estava o quartel  — confidenciava-me o meu conterrâneo e amigo, o Agnelo Ferreira, 1º cabo telegraf inf da CCS.

Ao que parece, a tranquilidade era tanta que se faziam quartos de sentinela... sem armas! Era o que se dizia, nunca apurei a verdade... Ao que soube mais tarde (e confirmei na história da unidade), o comandante do batalhão (ten cor inf Pimentel Bastos), o major de op e inf  Viriato Amílcar Pires da Silva, o comdante da CCS (cap inf Eugénio Batista Neves)   e o comandante da CCAÇ 2405 (cap mil inf António Dias Lopes) serão, pouco tempo depois,  transferidos por ordem do Com-Chefe, "por motivos disciplinares". Era o tempo em que o ainda brigadeiro António de Spínola se tornou o terror dos comandos de batalhão. (LG)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo



1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Cã Júlio, foi considerado uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.


1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai -Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3 [Vd. cartas do Xime, Fulacunda e Xitole]

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato,  distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.





c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.




d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55).Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.





e) Área de Mangai – Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)




i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina – Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.


j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, através do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.



l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.


Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).



1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.


2. Missão:

- Atacar e destruir ou capturar o IN em toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole;

- Nomadizar na região procurando trilhos que serão imediatamente explorados;

- Capturar a população civil;

- Destruir todos os meios de vida encontrados e que não possam ser oportunamente transportados.


Carregadores do PAIGC. Fonte: Regiões Libertadas da Guiné (Bissau). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras. Agência de Notícias Xinhua. 1972.© Agência de Notícias Xinhua (1972).


3. Força executante

a. Comandante: Coronel Hélio Felgas.

b. Comandantes das sub-unidades:

[Vd. Caixa a seguir]



[Observações: O ten cor inf Pimentel Bastos era o cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70; Dest A: CART 2338: Não temos ninguém que a represente no blogue: é contemporânea da CART 2339, passou por Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Pirada, 1968/69; Dest B: CART 1746, Xime; Dest C: CART 1743, passou por Tite, Bissássema, Jabadá, Nova Sintra, Bissau, 1967/69; Dest D: CCAÇ 2403, passou por Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga,  Olossato, Mansabá, Bissau, 1968/70; era comandada pelo cap inf Hilário Peixeiro, nosso tabanqueiro] (LG)





[Observações: Agrupamento tático sul: Ten Cor Jaime Tavares Banazol; Dest F &gt: CART 2339 (Mansambo): um  dos oficiais listados é o nosso camarada Torcato Mendonça;  Dest G: CCAÇ 2405 (Galomaro): os dois alf mil referidos são membros da nossa Tabanca Grande: Paulo Raposo e Victor David.:Dest H: CART 2413 (Xitole); Dest I: CCAÇ 2406 (Saltinho).] (LG)



c. Meios



d. Organização

Foram constituídos 2 agrupamentps táticos, o do Norte e o do Sul, cada qual com 4 Dest. O Dest E reforçou sucessivamente os 2 Agerupamentos Táticos,

e. Alterações feitas à organização regulamentar

(1) Pessoal - [Omisso]
(2) Armamentio - Nada
(3) Equipamentp - Nada
(4) Munições - Nada
(5) Material especial distribuído - Potes fumo, redes mosquiteiras e pomada repelente, tudo contra ataques de abelhas. Sacos de linhagem para o arroz capturado.
(6) Material de transmissões - Utilizados  postos ANPRC (Ar-Terra), DHS (Terra-Terra e Ar-Terra), AVF ou AVP. OS postos ANGRC-9 com que se inicvou a Operação  froam recolhidos ao segundo u terceiro dia por inúteis.

(continua)


Fonte: Extratos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap II. 48-54. Classificação: Reservado  [Agradeço ao Humberto Reis ter-me também facultado uma cópia deste documento em formato.pdf e em papel]

______________

Nota do editor:

(*) I Série > poste de 15 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11574: Guiné-Bissau, manga di sabe (1): Vídeo: dança das crianças da Escola de Verificação Ambiental (EVA) de Djufunco, em chão felupe (José Teixeira)


Vídeo (3' 27''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos  visitantes do nosso blogue. No dia 12 mandou-me um mail: "Acabo de chegar. como sempre, venho apaixonado. Guiné-Bissau, sabe!!!". Desta vez, foi na companhia de outro nosso tabanqueiro, o Francisco Silva, cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra.  E aproveitou para visitar algumas das aldeias que têm beneficiado do trabalho solidário da Tabanca Pequena de Matosinhos e seus parceiros. (LG).


1. Reproduzido com a devida vénia do sítio Tabanca Pequena ONGD > Sementes e água potável > Djufunco

Na tabanca de Djufunco, em pleno chão felupe, junto ao oceano Atlântico e à entrada do rio Cacheu, a Tabanca Pequena ONGD e a Camara Municipal da Maia, de Portugal, decidiram dar um importante apoio às crianças e alunos da Escola de Verificação Ambiental [EVA] de Djufunco, para que passassem a dispor de água de boa qualidade e facilmente acessível.
A partir de agora, esta fonte vai permitir aos alunos beber boa água, fazer um viveiro de plantas frutícolas para plantar nas casas dos pais, criar um pomar de sombra na escola e melhorar a sua higiene e a da escola.

Esta escola foi há 1 ano vítima de um violento tornado, cujos ventos descobriram o telhado, estando agora em fase de reconstrução. A fonte de água serve assim de um forte estímulo a estas populações tão isoladas.
O Complexo de Ténis da Maia,  na pessoa do Prof. Nuno Carvalho e dos alunos Sandra Ribeiro e Pedro Barros, com o apoio da Câmara Municipal da Maia,  organizaram um Torneio de Ténis com objetivo de angariar fundos que foram canalizados para liquidar a construção deste poço e respetivo fontanário. Bem hajam amigos. Contamos convosco para futuras iniciativas.​​​


2. Além de Djufunco, no norte, as tabancas do sul, Amindara (500 habitantes), Medjo (740), Farim do Cantanhez (620) - em pleno antigo  carreiro da morte (ou corredor de Guileje) -  e Cautchinké (população numerosa, incluindo cerca de 100 crianças), são alguns dos aglomerados populacionais que já beneficiaram do projeto "Sementes e água potável" da Tabanca Pequena, com apoio técnico e logístico da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, de que é diretor executivo o nosso amigo Pepito.

Tabanca Pequena também está no Facebook, além de ter um blogue.

Guiné 63/74 - P11573: Em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa... Ou as nossas doenças em tempo de guerra (1): Um mosquiteiro barato para um pira (Magalhães Ribeiro)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Fase de construção do aquartelamento (que o PAIGC, através da rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")... Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham banhos de luar... Mosquitos ? Rede mosquiteira ? Não há... Estamos na época seca...

Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça: "A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: Abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval".

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Os comentários ao poste P11556 (*), encorajaram-nos a abrir uma nova série sobre um  tema até aqui pouco abordado: a nossa experiência de doença em tempo de guerra...

Eu próprio comentei:

"Amigos e camaradas, ora cá está um bom tema para a gente discorrer, escrever, comentar, acrescentar, melhorar, aumentar, delirar... 

Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...  Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou evacuados por doença grave (por ex., hepatite, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)

O meu primeiro ataque do paludismo, em Bambadinca, já no final da época das chuvas ou até mesmo no princípio da época seca (já não posso precisar, talvez no último trimestre de 1969), foi uma experiência brutal para mim... Um pesadelo. A imagem que ainda tenho é a do ciclo (curto) da temperatura do corpo que ia do muito baixo (abaixo dos 36!) ao muito alto (quase a roçar os 42!)... Pensei que morria...Sozinho, no meu quarto (que aliás não era só meu, era de mais 4 ou 5), com o meu amigo 'Pastilhas' (ex-fur mil enf João Carreira Martins, da CCAÇ 12, que se reformou como enfermeiro chefe do Hospital Curry Cabral e é hoje pai de 2 médicos) a vigiar-me de tempos e a medicar-me com doses de cavalo...

Como se tratava o paludismo, na época, não sei... Mas a sensação que tinha, era a de abandono, solidão, desespero... Ora ardia em febre, ora tiritava de frio, entrando em hipotermia... Um dia vou ter que transfiormar esta "descida ao inferno" em posia... Emfim, não sei quantas vezes tive paludismo na Guiné... E cá tive ressacas (ou recidivas, em linguagem médica), como muita malta... Por outro lado, trouxemos o fígado em mau estado, de tanto uísque, água da bolanha, gin tónico, cerveja, tintol, brancol e outras merdas que emborcávamos. (...)

Até ao séc. XIX dizia-se que "em Lisboa nem sangria má nem purga  boa", ou mesmo é dizer que as técnicas terapêuticas da época eram agressivas, invasivas, brutais e ineficazes... Chegava-se a sangrar um doente dez, vinte, trinta vezes... E quanto purgas, bom, "purgai-o e purgai-o e se morrer enterrai-o"... Parafraseando este dichote, podia dizer-se que, no nosso tempo, "em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa"... Em Mansoa, em Catió, em Cacine, em Bedanda, em Nova lamego, em Bissorã, e por aí fora... havia a crença de que a Guiné não era para brancos...

As principais doenças que afetam hoje a Guiné-Bissau não serão muito diferentes das do passado colonial, com exceção do HIV/SIDA: são o paludismo, a diarreia, as doenças respiratórias agudas, a tuberculose, as doenças sexualmente transmissíveis (incluindo o HIV/SIDA), as parasitoses intestinais, a oncocercose (ou "cegueira dos rios")  e outras endemias tropicais. Estávamos expostos a estas doenças, mas também tínhamos problemas de saúde específicos da nossa "condição militar", devidas à duras de condições de vida e às deficiências da alimentação e do abastecimento de água potável...
Fica aqui dado o mote para a elaboração, remessa  e publicação de postes sobre o paludismo [ou malária] e outras doenças que nos afetaram no TO da Guiné, a sua prevenção, profilaxia, tratamento... Recorde-se que algumas dava direito a evacuação imediata para a Metrópole: estou-me  a lembrar da Hepatite.

O pontapé de saída vai ser dado pelo nosso coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro: fomos recuperar um velho e delicioso texto seu,  da I Série do nosso blogue (**).


2. Um mosquiteiro barato para um pira
por Magalhães Riberio [, foto à esquerda, Mansoa, setembro de 1974]


Uma das características na Guiné é a variação bidiária da sua área total de território seco de 31 800 Km2 — devido à subida das águas do mar, nas marés altas —  para cerca de 28 000 Km2. Isto acontece devido a dois factos: a cota territorial média que é muito baixa e a existência de múltiplos rios.

Por isso, durante a maré baixa, ficam a descoberto, mais ou menos 3 800 km2 de zonas pantanosas que, localmente, se designa por “bolanhas”.

Ora, este é o habitat natural da mosquitada, que por ali prolifera aos milhões e se espalha por todo o lado em busca de alimento. Um dos seus “pratos” favoritos é o sangue humano.

Durante a Guerra do Ultramar as vítimas preferidas por estes parasitas incomodativos e asquerosos, eram sem dúvida os incautos periquitos ou piras (nome dado pelos tropa mais velha aos recém-chegados à Guiné).

Dizia a sabedoria destes velhinhos — talvez com alguma razão —  que os mosquitos eram atraídos, pelo tom de pele branquinha e/ou pelo sangue fresco e puro dos periquitos. E, acrescentavam mais:
— Do nosso sangue, envenenado e apanhado pelo clima como está, os mosquitos até fogem!.

Acredite-se ou não nesta teoria, a verdade, é que de cada vez que um pira se expunha à fúria daquela praga com asas,  ficava completamente crivado das picadelas.

Estas picadas,  além de dolorosas e irritantes,  eram temidas porque através delas se transmite ao ser humano, o paludismo, uma doença muito debilitante fisicamente e, consequentemente, muito perigosa.

Em Mansoa, quando entrei pela primeira vez na camarata verifiquei que nas cabeceiras das camas todos tinham, de maior ou menor tamanho, ventoínhas, e adaptadas nas armações das camas encontravam-se estruturas de tubos e verguinhas metálicas, com cerca de 0,75 metros de altura, todas revestidas até ao chão com redes de malha muito fininha.

O velhinho e meu grande amigo Furriel Ranger Marques, com a sua calma e longa experiência de vinte e muitos meses,  deu-me, então, uma lição sobre “Como dormir sem zumbidos nem picadas dos mosquitos na Guiné”, assim:

1º) Não se faz mal às osguinhas e salamandras que deslizam ali no tecto — estavam lá três de vários tamanhos —,   apesar do seu aspecto repelente elas são nossas amigas, e ajudam-nos a eliminar os mosquitos que, à noite, abundam e atacam muito mais, comendo-os;

2º ) O "aparelho de ar condicionado" está com problemas de falta de ar e foi para consertar para o continente há onze anos, pelo que, para dormir fresquinho só com as janelas todas abertas; mas em contrapartida os mosquitos entram e picam-te durante toda a noite;

3º ) Evitas os mosquitos e as respectivas picadelas, fechando todas as janelas e frinchas, mas ficas sujeito a morrer aqui abafado;

4º ) Pedes para ir a Bissau, compras o material (verguinha de aço, e rede ou tule) e constróis um mosquiteiro;

5º ) Como estou para ir embora, podes fazer como eu fiz quando cá cheguei, compras a um de nós o mosquiteiro e só pagas o material, com desconto e tudo; olha, o meu está bem conservado !?... Novo custou 570$00, mas devido ao uso e tal, vendo-to por 350$00.

Os mosquitos continuavam à minha volta a comer-me vivo! Que fazia [um gajo]  no meu lugar?...

Eu também fiz! Comprei logo!

RANGER Magalhães Ribeiro
Fur Mil
CCS/BCAÇ 4612/74
Guiné, Mansoa, 1974
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

(...) Comentário de José Brás:
Não me lembro exactamente quantas crises de paludismo sofri na Guiné nem de quantas recaí já civil. Lembro-me que a primeira me aterrou em febre/frio e dores de cabeça.  Na altura, deitado no meu catre que ficava no último edifício na parte mais alta do quartel de Aldeia Formosa, comecei a ouvir uns soldados a abrir latões de gasolina para chapas à porrada de martelo e o barulho rebentava-me a cabeça. A custo vim à porta pedir-lhes que fossem fazer aquilo para outro lugar e responderam-me que eram ordens superiores. Pouco me importavam tais ordens e avisei que não aguentava aquilo. Pararam um pouco, voltei à cama e ouvi recomeçarem. De novo me levantei, peguei na G3, meti um carregador e fui à porta pedir de novo mas já de canhota na mão. Disseram-me que seria melhor ir falar com o Alf PG e eu já nem pensei mais, culatra atrás e bala na câmara, um tiro pró ar. 'Tá bem, chamem lá o PG'... Foram embora e o PG veio ao meu quarto e percebeu tudo. Recaí duas vezes,  dramaticamente, já a voar na TAP, uma no hotel no Algarve e outra em Nova Iorque, assustando ingleses e americanos, mas isso fica, talvez, para uma próxima.  (...)

 (**) Vd. I Série, poste de 7 de dezembro de 2005 >  Guiné 63/74 - CCCXLVI [346]: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira... [Magalhães Ribeiro] 

Guiné 63/74 - P11572: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (48): Respostas (nºs 102/103/104) : Carlos Fraga (3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973); Francisco Palma (CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72); e José Alberto PInto (CCS/BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74)

Resposta nº 102 > Carlos Fraga [, ex-alf mil, 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, em 1973, indo depois comandar uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974].

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Há poucos meses (3 ou 4).

ápoucos meses
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Através do nosso camarada Jorge Canhão.


(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sim, desde 16 de abril de 2013.


(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente.


(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Tenho mandado.


(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Tudo tem interesse mas o que gosto mais são a narrativa das experiências vividas e a análise das situações.  Aderi à página no Facebook há poucos dias. É cedo para me pronunciar. De qualquer forma não sou assíduo no Facebook. 

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não há nada que goste menos

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.


(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Penso que o Blogue é muito importante como forma de partilha de experiência no teatro de guerra que foi a Guiné e como reconstituição na 1.ª pessoa de experiências e situações que se viveram. Para além disso permite que os ex-combatentes se expressem e tragam a público muita coisa que, a não ser assim, não seriam conhecidas. Por mim falo. Não fora o Blogue e os meus slides e fotos da Guiné não passariam do álbum de família. Por último, creio que se está a construir a História e a fornecer material preciosos para investigadores que se debrucem sobre o que foi a guerra na Guiné.  Xii, escrevi muito, quase uma dissertação…

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Creio que me será difícil embora tivesse muito gosto em rever pessoas que não vejo há muitos anos como, por ex., o anfitrião ex-alf mil Joaqum Mexia Alves [, que esteve em Mansoa, na CCAÇ 15, em 1973].


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Creio que sim. Enquanto houver quem queira partilhar as experiências da Guiné e fazer História.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.


Resposta nº 103 > Francisco Palma [, ex-sol cond auto, CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

R. Desde Setembro de 2007 que sou membro e Tabanqueiro [, 5 de novembro de 2007]

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

R. Soube através de outros camaradas ex- combatentes da Guiné

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

R: Sim,  sou membro da Tabanca Grande (tertulia) creio que desde 2007 ( salvo erro ou omissão)

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

R. Visito de tempos em tempos e sempre que preciso de consultar e ler os artigos expostos por camaradas combatentes .

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

R: Tenho mandado vários textos e fotos e pedidos de publicações de Convívios,

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

R: Sinceramente não a tenha consultado até esta data , talvez por falta de informação da sua existência.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

R: Vou mais vezes ao Bloque e á Tabanca Grande do que ao Facebook.


(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

R: Gosto de ler os relatos de vivências de guerra narrados no bloque , que acho alguns interessantes, quando simples sem demasiada literatura "oca" .

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

R. Não aprecio algumas narrativas demasiado extensas, histórias pessoais, que não mexem com os combatentes, e que talvez contivessem matéria para compor um Livro, Não gosto de não poder aceder directamente ao bloque e publicar as minhas narrativas , sem passarem, pela apreciação dos co-editores. Acho demasiado usadas/repetidas as narrativas alongadas dos acontecimentos de Guileje, Gadamael. Haverá mais sitios com tão graves acontecimentos~. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

R. Nota-se com frequencia uma enorme lentidão nos CPU a 100% dos PC na abertura da pagina do Bloque. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

R: O bloque representa sempre um arquivo das memórias e vivências passadas no TO da Guiné.embora o julgue ultrapassado em certa medida pela constante aparição de vários (demasiados) Grupos e outras Associações de Combatentes .no FaceBook, repito não tenho consultado o Blogue no FaceBook.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

R: Até hoje ainda não participei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real ?

R: Não está nos meus planos comparecer, este ano, no encontro em Monte Real. que acho um optimo local para o evento.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

R: Penso que tem força para continuar ,o fôlego tem que ser dado com inovações a curto prazo ou seja adaptado com actualizações, face á "concorrência" dos Grupos e Associações atrás referidas-publicadas no Facebook e de facil participação e "desabafo" abertos a todos os combatentes, neste caso seria exclusivo aos da Guiné.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

R: Creio que nas varias respostas acima já indiquei algumas críticas a serem tomadas em conta , para além do reforço de que deve haver maior facilidade de acesso ao blogue. nem que se tenha de atribuir uma "password" de segurança e privacidade, por parte dos membros, deste blogue. Reduzir um pouco as Histórias pretençamente intelectuais , mas de rara cultura , por vezes aqui publicadas, sempre pelos "mesmos escritores ".

Melhores cumprimentos fico ao dispor no caso de qualquer assunto menos bem entendido , já que as respostas foram dados com pouco tempov de analise ás mesmas .


Resposta nº 104 > José Alberto Pinto (foto do lado esquerdo), que foi 1º Cabo Escriturário na CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74.


Quero manifestar o meu agradecimento, por tudo o que tenho tido oportunidade de recordar, os meus agradecimentos aos promotores, com votos de muita saúde, para todos!!! Continuem!!!

Abraços, José Pinto. [, Membro da Tabanca Grande, desde 16 de junho de 2012]

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11571: Convívios (522): XXVIII CART 3494 – FELGUEIRAS -, DIA 15JUN2013 (Sousa de Castro)


1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem:

XXVIII CONVÍVIO DA CART 3494 em FELGUEIRAS NO DIA 15JUN2013

Chegamos a Bissau 28 de Dezembro 1971.



Foram oitocentos e vinte e oito dias. Passamos momentos difíceis, que ficaram para sempre na nossa memória.

Foram estes momentos que fortaleceram as nossas relações de amizade e que ficássemos como uma família!

Passados estes 42 anos é com grande orgulho que organizo o nosso XXVIII convívio.

O almoço será servido no Restaurante "Quintinha do Nelo", em Sobrosa - Paredes.

Conto com a tua presença para que possamos mais uma vez recordar todas as nossas memórias…



“ Recordar é viver”

Manuel Carvalho de Sousa

Onde fica: "Restaurante, A Quintinha do Nelo" Travessa Trás-as-Eiras 14
4580-616 Sobrosa
Telefone: 915 021 029

Programa:

11:00 Horas — Concentração junto ás, Piscinas municipais de Felgueiras*
12:30 Horas — Viagem para o Restaurante.
13:00 Horas — Almoço
17:00 Horas — Encerramento

*Piscina Municipal de Felgueiras
Rua D.Gomes D´Aciegas - Margaride
4610 - 262 Felgueiras
GPS: 41º 21' 34'' N, 8º 12' 10'' W

Ementa

Entradas variadas:
Prato
Bacalhau a Zé do Pipo
Assado misto em forno a lenha (lombo, vitela e cabrito)
Sobremesas:
Bolo de bolacha
Bolo de chocolate
Profiteroles
Fruta laminada
Café e digestivos
Bolo de aniversario

Preços: Adultos, 25,00€
Crianças (6 anos aos 10): 12,50€
Crianças (Até aos 5 Anos): 0,00€

Confirma a tua presença até 10-06-2013.
Contacto:255 494 099
Manuel Carvalho, TM 913 499 680
Telma Sousa (filha), TM 913 439 485
Email: carvalho-sousa@sapo.pt
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P11570: Parabéns a você (575): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11546: Parabéns a você (574): Henrique Matos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68

Guiné 63/74 - P11569: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (7): Armamento do PAIGC (fotos de Ângelo Gago; legenda de Luís Dias)



Foto nº 1


Foto nº 2 



Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (19072/74) > Diverso armamento do PAIGC. Fotos de Ângelo Gago que integram o álbum do Carlos Fraga, na altura alf mil, em estágio operacional em Mansoa, e depois cap mil em Moçambique, em 1974.


Fotos: © Ângelo Gago / Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem do Carlos Fraga, com data de 27 de abril último:

Caro Luís:

Fui ao almoço da CCS/BCAÇ 4612/72.

Conheci um ex-soldado condutor auto que me disse que foi a ele a quem adquiri as fotos a preto e branco do armamento apreendido ao PAIGC e apenas essas e que foi ele que as tirou. Terá sido armamento apreendido pelas NT de Mansoa e, posteriormente, enviado para Bissau.

Chama-se Angelo Gago.

Portanto nessas podes pôr que foram cedidas por mim mas tiradas pelo Angelo Gago (o seu a seu dono).

Conheci também lá um Sr. chamado João Catarino Teodósio que me disse que era fotógrafo militar em Mansoa e que tem uma carrada de fotos de lá,  inclusive (estas vi algumas) do início das conversações das NT com o PAIGC. Disse-lhe que te ia passar a informação.Abraço
C. Fraga.

2. Pedido de colaboração ao Luís Dias, em 12 do corrente:

Tu que és o nosso especialista de armamento, vais-me identificar e descrever sumariamente este material, apreendido ao PAIGC em 1973, por malta de Mansoa... Preciso da tua ajuda antes de publicar... Um abraço. Luis Graça

PS - O Carlços Fraga e o Jorge Canhão (3ª C/BCAÇ 4612/72) também podem dar uma ajuda. Fotos adquiridas pelo Carlos Fraga, na 2º metade de 1973, em Mansoa. Fazem parte do álbum dele


3. Imediata resposta do Luís Dias [, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74; foto à direita]

Caríssimo Luís Graça:

Em relação à 1ª Foto:

São reconhecíveis as empenas de granadas de RPG-7 (as maiores-encostadas à parede e no centro) e as empenas das granadas de RPG-2 (as mais pequenas espalhadas no chão), todas deflagradas. 

Os restos maiores parecem-me ser de granadas do canhão sem recuo russo B-10, de 82 mm (2 cartuchos do propelante e uma cabeça de granada).

Na 2ª Foto

consigo identificar da esquerda  para a direita:

 Um RPG-2 + 1 Granada de RPG-2 intacta+ 1 Espingarda de Assalto Kalashnikov Modelo Ak-47 + 3 carregadores para esta arma (sendo o do meio - tipo liso - dos primórdios deste tipo de arma). 

Na frente e também da esquerda pata a direita,  temos uma mina anti-carro Russa, modelo TM46 ou TMN46 (depende se tem possibilidades de ser armadilhada lateralmente e na base ou sem essa possibilidade), de caixa metálica, contendo 5,7 Kg de TNT, e sendo activada com uma pressão a partir dos 180 Kg e ainda uma mina antipessoal Russa modelo PMD-6, de caixa de madeira, contendo 200g de TNT. Estas minas eram dos modelos  que mais frequentemente o PAIGC utilizava contra as nossas forças.

Na 3ª Foto:

 encontram-se as minas já acima referenciadas, embora na ordem inversa.


Na 4ª e última foto;

está uma metralhadora ligeira Dectyarev, de origem Russa, no modelo RPD, em calibre 7,62 X 39mm M43, com capacidade de disparar 650 tpm. 

A arma falta-lhe o tambor (com capacidade para 100 cartuchos), que é colocado por debaixo da área de alimentação da arma e onde é enrolada a fita com as munições, de forma a evitar o contacto com terra e poeiras. 

A curiosidade da arma - que originalmente é de 1944 - entrando ao serviço no princípio dos anos 1950 nas forças soviéticas - é que só faz rajada e com o pormenor de as fitas metálicas serem envernizadas para melhor correrem na arma, mas é uma óptima metralhadora, relativamente leve (7,4 Kg) e muito equilibrada. 

Possuo um tambor e uma fita completa, que apreendemos num contaco com o IN mas, por azar, nunca apanhei nenhuma (senão tê-la-ia usado no meu Gr Comb).

Em relação a duas granadas visíveis na foto 2 e 3, não sei se serão de artilharia???

Se precisares de elementos técnicos mais específicos do material, posso fornecer.

Um abraço para toda a equipa de editores do blogue e para todos os camaradas que o leem e colaboram.

Luís Dias

4. Já antes o Carlos Fraga me tinha mandado um esboço de legenda:

Caro Luís

A 1.ª é uma grande confusão. São restos de um rocket, restos de RPG e o resto não sei.
A 2ª é uma mina anti-pessoal, uma mina anti-carro e uma bomba da FAP não detonada que eles acoplavam a minas anti-carro,
A 3.ª são iguais mais um RPG e uma Kalashnikov.
A 4ª creio ser uma PPSH (?) [vd. poste de Luís Dias, P5736, de 31/1/2010]

Talvez um especialista em armaneto te elucide melhor. Abraço
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11535: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (6): Testando armamento (HK 21 e morteiro 60) na berma da estrada, na ausência de carreiro de tiro...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11568: Bom ou mau tempo na bolanha (9): No "mato" (Tony Borié)





Nono episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66) Bom ou mau tempo na bolanha.



Andamos todos, ou quase todos fartos de falar em guerra, todos os antigos combatentes, que andaram pelo cenário de conflito, lá, no meio do que diziam ser “o mato”, a uma certa altura, como quase todos compreendessem, até diziam:
- Vou para “o mato”, estou “no mato”, nunca mais saío “do mato”, aquele meu companheiro morreu “no mato”, os guerrilheiros estão “no mato”, aquela emboscada foi “no mato”, amanhã vamos sair para ”o mato”, aquele gajo vem todo fod... “do mato”, parte do aquartelamento está situado no “mato”, os da capital, os “Cifras” e toda aquela cambada de malandros, estão nos gabinetes e não sabem o que é “o mato”, aquele gajo é maluco, foi “no mato”!


Enfim, até parecia que “o mato” era a coisa mais importante da guerra, e talvez até fosse, mas o agora Tony, ao abrir o seu diário, que por sinal até é um rascunho muito mal feito de algumas peripécias, com algumas datas, onde vem sempre à frente, a descrição de mais um ataque ao aquartelamento, ou de um pedido de reforços, principalmente para os destacamentos de Encheia, Cutia ou na ponte que existia no “carreiro” para Porto Gole, onde uns tantos militares viviam acantonados em miseráveis abrigos, que mais não eram do valas abertas no chão, algumas cobertas com troncos de palmeiras, onde alguns diziam que quando morrerem já sabiam o que era ser enterrado debaixo de “sete palmos de terra”, ou de uns guerrilheiros que um grupo de combate trouxe para o aquartelamento, onde às vezes eram espancados pelos milícias que diziam para os capturarem pois eram homens que tinham ido “no mato”, portanto pertenciam ao grupo organizado, que lutava pela libertação do território. Surgiu uma pequena nota, que não fala de guerra, nem do que se passou “no mato”, que diz assim:

1965, Outubro, dia 30
- Fomos invadidos pela maior praga de mosquitos de que há memória até à data, pelo menos no parecer dos habitantes da vila de Mansoa. Não se podia sair à rua e falar, pois logo se introduziam na boca, nas orelhas, no nariz, nos olhos, eram milhões, que encobriam a luz do dia, zuniam, voavam, poisavam em tudo, ao caminhar, traziamos uma nuvem de mosquitos junto ao nosso corpo, não se vê ninguém na rua, quase todos os militares estão dentro dos mosquiteiros. Neste dia não ouve patrulhas nem qualquer movimento de tropas, simplesmente todos andavam aflitos e tentavam sobreviver.


Ao outro dia pela manhã, estava o tempo limpo, só com uma pequena brisa, não havia qualquer vestígio de mosquitos vivos, só se notava que tinham passado por ali, porque havia alguns, já mortos, no chão ou colados ao mosquiteiros.

O Cifra, foi à aldeia com casas cobertas de colmo que existia próximo do aquartelamento e perguntou se tinha havido mosquitos no dia anterior, responderam-lhe que sim, mas fogo e mésinho, fez sair mosquito.

O Cifra, ainda com algumas marcas, principalmente na cara, nos braços e nas pernas, marcas essas com um tom rosado, onde a pele aumentava um pouco o seu volume, ficou surpreendido e era obrigado a admirar este povo que tinha os seus remédios primitivos, que podiam ser de boa ou má qualidade, mas não eram feitos em laboratórios. Resistiam ao clima e às anomalias da natureza nessa Guiné africana, onde os europeus se viam aflitos para os suportarem.

Estavam e conheciam o seu continente.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11527: Bom ou mau tempo na bolanha (8): Os primeiros contactos e empregos (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11567: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (6): Léopold Senghor, o poeta, ou lembranças da Ala dos Namorados

1. Mensagem de Armando Pires [ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70]

Data: 12 de Maio de 2013, 18:06

Assunto: Reenvio

Meu caro Luís Graça. Camarada.


Ontem, 11 de Maio, em Paredes, foi o almoço da minha companhia.

Palavra puxa palavra e fui buscar um meu portátil para, como imaginas, tirar dúvidas que a memória acentua. As conversas são como as cerejas, e "vejam lá como se entra e se fazem buscas no blogue do Luís Graça".

E veio-me de novo à ideia: "mas que raio se passará com a história que eu enviei no 26 de Abril"?

Dizia assim o texto do e-mail:  "Meu Caro Luís Graça. Camaradas Editores. Blog Amigo. Perdoa que tardiamente te felicite pelo teu nono aniversário. Leva-o à conta de prementes afazeres, que não de menos cuidado por quem, na sua ainda que curta existência, tem sabido ser o ombro disponível a acolher gente caturra, em acertos de contas com a memória.

Deixa-me recompensar-te da falha, remetendo para teu acervo o 6º episódio da série que acolhes como "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista".

Não sei se aprecias o estilo, mas quero aproveitar para fazer homenagem ao Manuel Joaquim, ex-furriel miliciano da CCAÇ 1419, que numa solitária demonstração de despojamento intimista, connosco tem partilhado as suas Cartas de Amor e Guerra. Vai com abraços."

E seguia em anexo o texto que também aqui vai anexado. Vais desculpar, meu Caro Luís, mas cheira-me que o e-mail passou à peluda antes de cumprir o tempo de serviço.

Toma lá um abraço e não te zangues comigo. Armando Pires


2. Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (6) >  Léopold Senghor, o poeta, ou lembranças da Ala dos Namorados 

por Armando Pires


Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam.

Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.

Faz tempo que andava para te o dizer, para te escrever.

Chegou a hora, sacudido pela inspiração desse teu Tombe la Pluie (poste P11263, de 16 de março de 2013), versos que bem podias ter deixado ao cuidado do teu soldado Lavinas, aquele que se perdeu pelo cheiro à terra e aos amores de Bissorã, e por lá ficou em negócio de restauração, para que deles, os versos, me fizesse entrega, que boa figura me teriam dado fazer, como adiante saberás.

Daqueles tempos, desses tempos, não tenho uma carta que seja.  Perderam-se nos vendavais da vida. Delas resta a memória do que quiseram dizer.

O rapaz do SPM tinha muito pouco trabalho comigo. Eu que escolhi a escrita como modo de vida, era espaçado e breve nos parágrafos em que alinhava, “por cá vou indo bem, felizmente”.  (Ó minha mãe, a paixão das nossas palavras são segredos indizíveis)

Parti sem deixar alma à minha espera. Amizades, sim, romances, também, mas a vida em que cedo fui esculpido não comportava melancólicas saudades. Agarro-me a gestos e afectos para me sentir nos lugares onde quero estar.

Foi assim que lá na Guiné venci o tempo, protegido por objectos de virtude, talismãs, ícones ou fetiches, figuras a que quiseram atribuir poderes tão sobrenaturais, que fossem capazes de me proteger e trazer de volta, são e salvo.

E porque assim deve ter sido, porque não sendo crente quero crer que o tenha sido, continuaram pela vida fora ao meu lado, e aqui perduram, na que já disse chamar-se a minha caixa dos segredos (poste P10629, de 7 de novembro de 2012 ), e para dentro da qual gosto, de quando em vez, de olhar e sorrir.

Porque lá dentro estão, a Maria da Luz, de trouxa às costas para me acudir nas aflições, mais aquela rapariga sardenta da Nazaré, que me julgava um lobo do mar, vê lá tu, eu que enjoo só de o ver, está também a versão francesa de “Le Petit Prince” [, o Princepezinho, criação de Saint Exupéry], aquele rapazinho que a Anne-Marie, lá porque ele andava sempre de chache-nez ao pescoço, teimava que era parecido com o fadista que eu era, e o corno do Aleixo, que me foi dado pela Odete. 







Guiné > Região de Cacheu > Bula > 1969 > CCS/BCAÇ 2861 (Buila e Biossrã, 1969/71) > Relíquias, ícones, fétiches, e talismãs… e a Maria da Luz, a Sardenta, Le Petite Prince, o cinto do “Rapina” mais o corno do Aleixo...

Foto (e legenda): © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: LG].



O Aleixo não era corno. O Aleixo tinha um corno que pertenceu a um toiro que numa praça de Espanha o ia varando num sitio que, vida fora, lhe faria imensa falta. Recuperou da colhida e o corno, que trouxe de lá para por atrás da porta do bar da Odete, para que dela e da casa desviasse o mau olhado.

A Odete, namorada do Aleixo, uma “balzaquiana” bem apessoada, que tinha um pequeno bar, já o disse, ali às Amoreiras, em Lisboa, frequentado por gente tão apessoada quanto ela, não sendo eu apessoado quanto eles, dedicava-me gosto e estima, porque eu tinha o que eles não tinham mas gostavam de ter tido: Voz e jeito para cantar o fado.

Sucede que aquele bar de muitas vezes passou a ser o bar de todas as vezes quando, terminado o curso de enfermeiro, no Hospital Militar Principal, fui colocado no seu Anexo, antigas instalações militares que ocupavam quase todo o quarteirão da Rua de Artilharia 1. Do Anexo ao bar da Odete não se corria mais de duzentos metros.

Naquela espécie de depósito de doentes em geral, fui metido em serviço na Medicina 3, onde cabia gente que se declarava demente para fugir à tropa, até tipos no seu mais perfeito juízo que apenas esperavam que viesse a funcionar a cunha que o sr. de patente, ou de posição, amigo do pai, metera ao médico da junta médica militar.

E havia, também, embora esporadicamente, uma outra clientela que fazia todo o meu enlevo. Eram os velhos veteranos da primeira guerra mundial, que esperavam pelo fim dos seus dias no Lar Militar de Runa, próximo de Torres Vedras, e ali iam recuperar dos achaques próprios da idade e, sobretudo, da tragédia em que os mandaram envolver-se.

Via e respeitava neles a figura do meu avô João, meu ídolo, boieiro nos campos do Ribatejo. Ninguém lhes tocava. Só eu cuidava deles. E as manhãs começavam com o banho em que, se não morriam afogados, quase morriam de riso com os disparates que eu lançava às suas inertes partes pudengas.

E havia ternura nos olhos quando, à hora da despedida, diziam, “obrigado, nosso cabo miliciano, e até qualquer dia”.

Ao lado do meu Serviço havia um outro que exigia forças mentais tão poderosas que quase se tornavam incompatíveis com as nossas imberbes e frágeis idades. O Serviço 5, onde os mutilados de guerra e paraplégicos cumpriam a “última etapa” da sua recuperação, antes de serem lançados para os braços de uma sociedade e de famílias a mais das vezes impreparadas para os receber.

À tarde, quando o sol iniciava o seu declínio para ocidente, sentava-me à porta com eles em conversas de amigos. À noite, no imenso espaço que era aquela espécie de parada do Anexo, à vez, um havia que me emprestava a sua cadeira de rodas para disputadas gincanas que tinham como prémio uma cervejinha no bar que fechava às dez.

Ganhava quase sempre um transmontano a quem uma mina anti-carro levara as duas pernas, conhecido pelo “Rapina”, porque depois de embalar a cadeira à força de pulso, fazia o percurso curvado para diante e de braços abertos, imitando o voo das águias que caçavam nos alcantilados do Marão.

Caramba, Manel, que lições de vida e humanidade eu ganhei naquele Anexo!

Às vezes, muitas vezes, eu saía com um deles, empurrando-lhe a cadeira até ao bar da Odete (é aqui que volta a entrar a Odete), que não só lhes franqueava a porta como nada lhes cobrava pelo jantar e, o melhor de tudo, lhes dava “à morte” companhia feminina até antes das seis, que era o prazo máximo combinado com o homem da porta de armas para nos deixar passar.

Em Setembro de 1968, após seis meses a prestar serviço no Anexo, já promovido por antiguidade a Furriel Miliciano, chegou a ordem de me apresentar em Chaves para formar Batalhão com destino à Guiné. Foi então, na hora da despedida, que a Odete me entregou o corno do Aleixo para que de mim afastasse o perigo, e o “Rapina” me desse o seu cinto militar porque já não precisava dele para segurar a farda.

Certa manhã de Abril de 1969, lá em Bula, foi à enfermaria ter comigo o rapaz do SPM.
- Furriel, tem aqui uma encomenda para si.

A letra firme, imensa e bem desenhada do endereço, bem que dispensava o selo para que eu reconhecesse a sua origem. Do norte de França, da Bretanha, da cidade costeira de Sainte-Marine, a Anne-Marie, minha namorada de então e minha muito amiga de hoje, enviava-me um novo livro.

Era uma biografia e um estudo sobre a obra poética de Léopold Sédar Senghor, de autoria de Armand Guibert, poeta ele também, que traduziu para francês obras do nosso Fernando Pessoa. Em dedicatória, a entre capa do livro recomendava que era “para ler nas noites azuis, nas noites sem guerra”.

Não esperei tanto. Sentei-me à porta da enfermaria e logo ali comecei a ler

La faiblesse du coeur est saint…
Ah! Tu crois que je ne l’ai pas aimée
Ma négresse blond d’huile de palme à la taille de plume
Cuisses de loutre en surprise et de neige du Kilimandjaro…



Dos lados da sala de operações surgiu o major Candeias. Fechei o livro entre o polegar e o dedo médio, deixando o indicador marcar a página onde seguia, e levantei-me para o cumprimentar.
- Então o que estás a ler, perguntou-me.

Exibi-lhe a capa e indiquei-lhe tratar-se de um poeta.
- Olha lá, rapaz, tu achas que isso são leituras para aqui?

Respondi-lhe: “ó meu major, poesia é para ler em qualquer lado”.

O Candeias fitou-me por brevíssimos segundos, fiquei sem saber se quis ou não quis dizer-me mais alguma coisa, se ficou a pensar se era eu que era parvo ou se o estava a fazer passar a ele por estúpido, e partiu sem resolver tão grande equação. Não sei por onde anda, meu major, mas talvez eu vá ainda a tempo de dizer-lhe que nem uma coisa nem outra.




Foi assim uma espécie de, “e se fosse à merda e me deixasse ler em paz?”. E pronto, Manel Jaquim, era aqui que eu precisava que tivesses deixado ao Lavinas o teu Tombe la Pluie, para que eu pudesse escrever à Anna-Marie e dizer-lhe

Tombe la pluie 
Et tu es si loin de moi
Tombe la pluie
Et mon couer s’habille de noir
….

Tombe la pluie
Et tu es si loin de moi.
Tombe la pluie
Oh, comme je voudrais te voir! 


Adeus, Manel Jaquim. Obrigado por esta oportunidade.

Até segunda-feira, lá no armazém da Amadora, onde teimamos em não esquecer o futuro daqueles que, lá nas bolanhas que deixámos, o não têm.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou