quarta-feira, 12 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11698: Efemérides (129): O 10 de Junho de 2013 em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

1. A exemplo do que se tem feito desde 2007, neste dia 10 de Junho de 2013, Dia de Portugal, dia em que se lembram os portugueses que de alguma maneira se notabilizaram, Leça da Palmeira homenageou os seus filhos caídos em campanha na Guerra do Ultramar.

Uma vez mais esta cerimónia foi levada a efeito com a estreita colaboração da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes e um pequeno grupo de combatentes.

De acordo com o programa estabelecido, 10 minutos antes das 10 horas da manhã foi hasteada a Bandeira Nacional no Jardim do Edifício da Junta de Freguesia, cerimónia a cargo, por ausência do Presidente da Junta, Dr. Pedro Tavares, do Presidente da Assembleia de Freguesia, e ex-combatente da Guiné, Dr. António Tavares de Sousa, e do nosso camarada e também ex-combatente da Guiné, José Francisco Oliveira.

Foto de família de parte da assistência que junto ao edifício da Junta de Freguesia assistiu ao hastear da Bandeira Nacional
Foto: © Dina Vinhal (2013). Todos os direitos reservados


Cerimónia do hastear da Bandeira Nacional
Foto: © Liga dos Combatentes (2013). Todos os direitos reservados


Às 10 horas foi celebrada na Igreja Matriz, pelo senhor Padre Francisco Andrade, uma Missa de sufrágio pelos leceiros caídos em campanha.
Foto: © Liga dos Combatentes (2013). Todos os direitos reservados


Durante a celebração foi porta-guião da LC o camarada matosinhense António Fangueiro da Silva, ex-combatente da Guiné, que pertenceu à CCAÇ 2402 onde o outro nosso camarada Raul Albino foi Alferes Miliciano.
Foto: © Dina Vinhal (2013). Todos os direitos reservados


O Talhão Militar da Liga dos Combatentes, no Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, junto do qual, anualmente, decorrem as cerimónias de homenagem aos nossos camaradas que ali têm os seus nomes escritos porque tombaram ao serviço de Portugal.
Foto: © Elisabete Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados


Dispostas e apresentadas as forças militares, com uma moldura humana razoável, deu-se início à cerimónia com uma alocução por um ex-combatente, no caso vertente por mim próprio.
Foto: © Dina Vinhal (2013). Todos os direitos reservados


Seguidamente tomou a palavra o senhor TCor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
Foto: © Elisabete Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados


Finalmente, por ausência do Presidente da Junta, foi o nosso camarada Manuel Tavares de Sousa, Presidente da Assembleia de Freguesia a proferir algumas palavras. 
Tomaria novamente a palavra para, agora na qualidade de ex-combatente, declamar um poema de sua autoria.
Foto: © Elisabete Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados


Um aspecto das pessoas que assistiram emocionadas ao desenrolar da cerimónia. Em primeiro plano, de costas, o SAj Oliveira da LC que fez a locução e coordenou o programa do Dia de Portugal em Leça da Palmeira.
Foto: © Dina Vinhal (2013). Todos os direitos reservados


Momento de concentração após a deposição de uma coroa de flores na base do Memorial, em que tomaram parte: o senhor Djalme Rodrigues, vice-Presidente da Junta de Freguesia; Raul Ramos, ex-combatente em Angola; TCor Armando Costa da Liga dos Combatentes e Dr. Manuel Tavares de Sousa, Presidente da Assembleia de Freguesia.
Foto: © Elisabete Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados


Nesta foto, o Porta-Guião da LC, o nosso camarada e tertuliano Abel Santos; Caixa de Guerra e Terno de Clarins (dois clarins e um trombone), vindos expressamente de Coimbra, Comando da Brigada de Intervenção, comandados pelo 1.º Cabo Oliveira e uma Secção de Atiradores da Escola Prática de Transmissões (Porto) comandada pelo Furriel Pereira.
Foto: © Dina Vinhal (2013). Todos os direitos reservados

Depois do toque de homenagem aos Mortos cantou-se, a bons pulmões, o Hino Nacional.

Acabadas as cerimónias, antes do destroçar definitivo por este ano, ainda houve tempo para fazer algumas fotos, das quais fica esta, onde figuram, entre outros: Ribeiro Agostinho; Eduardo Magalhães Ribeiro; Casimiro Carvalho; Abel Santos; Eduardo Moutinho Santos e Carlos Vinhal, todos pertencentes à tertúlia deste Blogue. 
À minha direita o incansável e sempre disponível camarada José Francisco Oliveira (Zé Cartaxo) e à esquerda do camarada Moutinho Santos, o TCor Armando Costa. À direita da foto, a D. Conceição Hermínia Mota Costa Pinto, que deu muito da sua vida ao Movimento Nacional Feminino (Porto) e ainda hoje é uma presença habitual junto dos ex-combatentes.
Foto: © Elisabete Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados

Uma última palavra de agradecimento aos camaradas da nossa tertúlia, que não sendo de Leça da Palmeira, ali se deslocaram para participar do nosso 10 de Junho. Esperando não esquecer algum, lembro o Eduardo Magalhães, o Casimiro Carvalho, o Eduardo Moutinho Santos e o Carlos Pinto Azevedo.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11671: Efemérides (128): Comemorações do dia 10 de Junho em Leça da Palmeira e Matosinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11697: Estórias avulsas (64): O parteiro / aparadeiro que eu não cheguei a ser, numa tabanca algures no regulado do Corubal, em abril ou maio de 1973 (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) > Jovem mãe (fula), do regulado de Badora.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.

A. Mensagem do Jorge Araújo [, foto atual à direita],
com data de 19 de abril pp.

Assunto: Parteiros/aparadeiros

Caríssimo Camarada Luís Graça,

O pedido,  formulado no e-mail de 17.03.2013 [, em comentário ao poste P11266] (*),  não ficou esquecido. É um facto que a resposta tardou, mas aqui vai ela, em anexo.

Trata-se de mais um "docinho" para colocar na mesa do Aniversariante que no próximo dia 23 do corrente, 3ª feira, fará NOVE ANINHOS. [Referência ao 9º anivbersário do nosso blogue].

Que sejam todos muito felizes, com muita saúde. Um forte abraço do

Jorge Alves Araújo, 
ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger, 
CART 3494  (Xime e Mansambo, 1972/1974)

______________

B. UMA PARTURIENTE QUE NÃO DEU À LUZ E UM (AUTO)PARTO NÃO ASSISTIDO (Entre duas emoções fortes vividas no mesmo dia em 1973)

por Jorge Araújo [, foto à esquerda, c. 1972/74] (**)


Influenciado pela sugestão do camarada Luís Graça, por ter lançado o mote para a narrativa de (mais) episódios ocorridos durante a comissão de serviço na Guiné, mas agora na especialidade de «parteiros/aparadeiros», decidi dar um passo em frente e, recorrendo à minha memória de longo prazo, pois já fez ou vai fazer quarenta anos de gravação, dar-vos conta de uma história que acabou por se transformar em duas, como o próprio título deixa transparecer.

I – UMA PARTURIENTE QUE NÃO DEU À LUZ

Num domingo do mês de Abril ou Maio de 1973, que não consigo precisar, agora no aquartelamento de Mansambo para onde a CART 3494 se transferiu do Xime em Março desse ano, o meu pelotão estava de «intervenção».

Por volta das 08:00 horas, a central rádio da Companhia recebe uma mensagem dando conta de uma mulher guineense, localizada numa tabanca a cerca de doze quilómetros de distância, em final de tempo de gravidez, estava em dificuldades no seu processo de trabalho de parto, devido à criança estar atravessada no seu ventre, apelando por auxílio urgente.

Para o desempenho desta missão específica foi convocado o meu camarada ex-furriel (mesinho) Carvalhido da Ponte, também ele grã-tabanqueiro, por ser o mais especializado na matéria. Como não podia ir sozinho (ninguém o deixaria fazer!),  reuni os elementos do meu Gr Comb e em duas viaturas Unimog lá fomos em socorro de quem o solicitara. O itinerário foi todo ele percorrido em picada, e parte dele feito a pé, por razões de segurança, como não poderia deixar de ser.

Chegados ao destino, os elementos do Gr Comb foram-se posicionando ao longo do perímetro das moranças, mas o mais operacional era agora o camarada Carvalhido da Ponte, pois tinha de arregaçar as mangas e pôr-se a trabalhar para salvar uma vida .. ou as duas. O tempo ia passando e … nem bebé, nem luz, nem ambos.

Enquanto aguardávamos pelas notícias positivas vindas do Carvalhido da Ponte,  eis que:

II – UM (AUTO)PARTO NÃO ASSISTIDO

Neste tempo de expectativa e, simultaneamente, de descanso mais ou menos activo, em que era obrigatório estar-se atento a tudo o que era passível de ser observado à minha/nossa volta, por tratar-se da primeira vez que aí nos deslocávamos, local cujo nome não consigo recordar, particularmente porque a ele não voltei, pelo que não o poderei referir neste contexto, o que lamento.

Quando vagueava por entre as diferentes palhotas, seleccionando as melhores sombras, pois o calor aumentava a cada minuto, e os ponteiros do relógio indicavam então (já!) 13:30 horas (hora de almoço), foi grande o espanto provocado pelas imagens que estavam no meu horizonte visual.

No interior de uma palhota, sem porta, mas com uma entrada um pouco maior do que era habitual, uma mulher guineense, numa posição de pernas afastadas, com os joelhos flectidos e com o tronco a 90º, segurava com as suas duas mãos uma pequena cabeça de um novo Ser que estava em processo de dar à luz, em regime de autoparto, ou parto não assistido, mas com um assistente, não convidado, a curta distância do acto.

A primeira avaliação sobre o que os meus olhos registavam não dava por adquirido tratar-se do nascimento de um bebé, uma vez que o corpo desnudo da mulher/mãe estava a três-quartos, de costas para o exterior. Mas com uma pequena correcção da nossa posição, ficámos sem dúvidas: era mesmo verdade. Era uma imagem plena de significado e um momento singular poder assistir a um fenómeno da natureza humana como é o do nascimento, ou seja, a primeira grande transcendência da vida … sendo a morte a derradeira transcendência do Homem.

Com as pernas ensanguentadas, a criança totalmente fora e com recurso a um canivete acastanhado, tal era a ferrugem de que estava impregnado, a mulher/mãe corta o cordão umbilical, prepara o umbigo do bebé, coloca a sua criança em cima de uma esteira que está perto de uma pequena fogueira situada a um canto daquele espaço térreo e sai com uma terrina de cabaça na mão, enrolando a parte inferior do seu corpo com um pano tradicional (semelhante à imagem).

Segue em direcção à vegetação que se encontra mais ou menos  a vinte metros da sua palhota, penetrando no seu interior. O seu destino era uma fonte ali existente, onde tomou o seu primeiro banho pós-parto. Acompanhei com curiosidade o seu regresso, continuando a gravar este “filme” de uma realidade bem diferente da dos povos mais desenvolvidos, e em que, neste caso, o actor é simultaneamente o seu realizador.

Com a terrina à cabeça cheia de água, esta destinava-se a ser utilizada na limpeza daquele que era o seu quinto filho, como vim a saber depois de ter estabelecido um pequeno diálogo com aquela mulher grande, tal era a minha admiração.

Contemplei o que foi possível, mas a jornada tinha ainda outras tarefas para cumprir. De regresso ao local onde a outra mulher gemia com dores, e o camarada Carvalhido da Ponte, no seu labor, não conseguia resolver o problema que estava à sua frente, foi decidido requisitar/chamar um helicóptero para evacuar esta mulher para o Hospital de Bissau, uma vez que corria risco de vida.

Concluída esta missão, regressámos ao aquartelamento a meio da tarde, para almoçar, depois de termos vivido entre emoções com significados bem diferentes.



Regulamento do concurso do DN - Diário de Notícias


III – O CONCURSO «UMA GUERRACEMPALAVRAS»

Em Setembro de 1997, o Diário de Notícias lançou à opinião pública, em particular aos ex-combatentes dos três T=, o concurso «Uma GuerraCemPalavras», ao qual decidimos participar com a história referente à primeira situação.

Porque o concurso foi realizado há mais de quinze anos, e porque certamente nem todos a ele tiveram acesso, tomei a liberdade de vos dar conta do seu regulamento, bem como do meu conteúdo sujeito à avaliação do júri.

O DN sugeria:

Escreva uma história sobre a Guerra Colonial e Ganhe 8 viagens a África.

Regulamento

1. “uma GuerraCemPalavras” é uma iniciativa do Diário de Notícias que acolhe narrativas ficcionadas sobre o tema da guerra colonial em África (1961-1974) ou relacionadas com as suas origens e consequências directas, em que o limite máximo do texto é de cem palavras, incluindo o título.

2. Para efeito de contagem, consideram-se palavras todos os vocábulos autónomos, independentemente do seu tamanho ou função gramatical. Por exemplo: em “a Joana e a Maria disseram-me que tinham usado pó-de-arroz” são contadas dez palavras.

3. Todas as histórias têm de incluir título e texto.

4. Podem participar nesta iniciativa todas as pessoas que o desejem, independentemente da idade, profissão ou local de trabalho e sem número limite de histórias concorrentes.

5. Um júri presidido pelo director do Diário de Notícias apreciará os trabalhos e decidirá da sua publicação, não havendo direito a recurso da sua decisão.

6. Os participantes nesta iniciativa prescindem, por esse facto, de todos os direitos autorais pelos trabalhos publicados, excepto aqueles que venham eventualmente a ser-lhes atribuídos no caso de ser editada uma colectânea em livro.

7. Os 4 melhores trabalhos apresentados, um em cada semana, além da publicação nas páginas do Diário de Notícias, irão receber como prémio (para cada um dos trabalhos) uma viagem para duas pessoas (não inclui alojamento) para um destes destinos: Maputo, Luanda ou Bissau.

8. Para participar, basta enviar – ao Diário de Notícias, “Uma GuerraCemPalavras”, Avenida da Liberdade, 266, 1250 Lisboa – um exemplar dactilografado ou manuscrito em letra legível, assinado com nome próprio ou pseudónimo, acompanhado dos elementos de identificação do autor (nome completo, bilhete de identidade, morada e assinatura). Os originais não serão devolvidos aos seus autores.

9. Os textos podem ser enviados ao DN até ao próximo dia 7 de Outubro.

10. As histórias vencedoras (uma por semana) serão publicadas, aos sábados, de 27 de Setembro a 18 de Outubro.


Texto a Concurso

«Na Guerra para salvar vidas; outras estão em risco»

Eram oito da manhã quando a mensagem chegou via rádio: uma jovem guineense estava em dificuldades no trabalho de parto.

Mobilizados os militares disponíveis e o respectivo transporte – o aldeamento ficava a quinze quilómetros – logo partimos em seu auxílio munidos dos escassos recursos que dispúnhamos.

Queríamos salvar uma vida … ou duas.

Mas, chegar à mãe angustiada, era necessário percorrer doze quilómetros de picada, a pé, sujeitos a emboscadas e a rebentamento de minas. Por coincidência, foram detectadas duas. Chegámos ao destino passadas duas horas.

A criança, porque estava atravessada na barriga da mãe, foi necessário evacuá-la(s) de helicóptero para Bissau.

Fantasma do Xime


Na oportunidade, aproveito para dar os PARABÉNS à nossa «TABANCA GRANDE» pela passagem do seu 9.º Aniversário, bem como desejar muita saúde e sucessos ao grande colectivo que a alimenta.

Um grande abraço para todos.

Jorge Araújo.
Abril/2013.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11266: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (11): Todos os europeus deveriam passar aqui 6 meses, inclusive as crianças

(**) Último poste da série > 22 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11296: Estórias avulsas (63): O menino que não sabia ler (António Eduardo Ferreira)

Guiné 63/74 - P11696: Convívios (529): 4º Convívio da CCAV 8352 (Caboxanque, 1972/74) (Manuel Teles)


1. O nosso Camarada Manuel Teles, que foi Fur Mil da CCAV 8352, Caboxanque 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem sobre o convívio anual da sua unidade:

CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAVALARIA 8352



Realizou-se no dia 02/06/2013 o 4º convívio/almoço da CCAVª8352, em Barcouço, próximo de Coimbra.

Compareceram 120 participantes e mais alguns bebes.

Lamentamos a ausência dos camaradas que, por razões diversas, não puderam estar presentes.

No próximo ano encontrar-nos-emos em Estremoz, local de onde partimos para a Guiné.

Está acordado que o próximo encontro se realiza em Agosto de 2014, data em que regressamos há 40 anos.

Queria manifestar a nossa gratidão pela colaboração dada pelo blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné à divulgação do nosso evento.


Um abraço,
Manuel Teles
_____________


Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:


terça-feira, 11 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11695: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (14): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte III): Os 'apanhados' do Miguel Pessoa


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Dina e Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos)... O Carlos é o nosso coeditor de serviço 24 horas por dia e foi, mais um vez, um dos três elementos fundamentais da comissão organizadora do encontro (juntamente com o J. Mexia Alves e o Miguel Pessoa).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Rui Silva e Regina Teresa (Santa Maria da Feira)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Da esquerda para a direita: Suzel e José Fernando Almeida (Óbidos); Alice Carneiro; Joana e Humberto Reis (Alfragide / Amadora)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Joana e Humberto: em primeiro plano, os quatro livros que foram lançados na "feira do livro 2013" da Tabanca Grande, da autoria de José Saúde, Alberto Branquinho, Manuel Maia e Manuel Luís Lomba, respetivamente... Haveremos de falar deles, com mais detalhe.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Francisco Silva (cirurgião ortopedista) e Elisabete (Lisboa)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O nosso capitão Jorge Picado (Ílhavo) e o bambadinquense José Armando F. Almeida (Albergaria-a-Velha).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Jorge Rosales (Cascais), régulo da Magnífica Tabanca da Linha, e o Delfim Rodrigues, "felupe" de Coimbra...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > António Manuel Sucena Rorigues e Rosa Maria (Oliveira do Bairro).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Luís Graça e Alice Carneiro (Alfragide / Amadora)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Joaquim Mexia Alves, "jogando em casa" e o nosso cor inf ref António J. Pereira da Costa (Tó Zé, para os amigos).



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  A "rangerice" toda reunida: da esquerda para a direita, 1ª fila: Francisco Silva (Lisboa), J. Casimiro Carvalho (Maia), Jorge Araújo (Almada), Magalhães Ribeiro (Porto) e Ricardo Sousa (Lisboa, se não me engano...); 2ª fila: José Saúde (Beja), Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria), António Pimentel (Figueira da Foz), Humberto Reis (Alfragide / Amadora), Alberto Branquinho (Lisboa) e José Ferreira da Silva (Crestuma / V. N. Gaia)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Manuel Maia, o nosso "bardo do Cantanhez", que vive na Maia; e o nosso coeditor Magalhães Ribeiro (Porto).



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  Dois heróis de 1973, batendo a pala um ao outro: o antigo ten pilav António Martins Matos (hoje ten gen pilav ref; era o asa do Miguel Pessoa, quando este foi abatido por um Strela sob os céus de Guileje, em 25/3/1973) e o ex-fur mil op esp J. Casimiro Carvalho,  o "grande pirata de Guileje" que merecia uma cruz de guerra em Gadamael (dois meses a seguir)...

Fotos: © Miguel Pessoa (2013). Todos os direitos reservados. [Legendas: LG]
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 11 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11687: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte II): Novas caras, novos tabanqueiros, novos camaradas, novos amigos e amigas...

Guiné 63/74 - P11694: Da Suécia com saudade (37): Falando com jovens médicos militares, no círculo polar ártico, sobre a preparação dos nossos médicos no tempo da guerra colonial... (José Belo)


1. Mensagem do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia [, foto à esquerda], com data de 30 de maio


Caro Amigo e Camarada.

Em primeiro lugar, espero que os Melech Mechaya em Estocolmo e Helsínquia tenham tido por parte do público a resposta merecida. As "críticas-musicais" de Estocolmo foram mais do que positivas.(Se fizeres o favor de enviar o e-mail do teu filho, poderei mandar-lhe algumas recordacöes escandinavas). 

Quanto à parte guineense do assunto, relacionada com a medicina tropical e de guerra....Tropas Especiais finlandesas, norueguesas e suecas, estão a realizar manobras dentro do Círculo Polar, depois de acentuado aumento da presença militar russa nesta imensa área. 

Como por aqui não vive muita gente (o meu vizinho mais próximo está a 279 quilómetros da porta da minha casa!), dois jovens médicos militares suecos bateram-me à porta, curiosos por conversar com os "nativos".

À volta de uma fantástica aguardente velha de medronho, guardada para visitantes inesperados, acabámos por conversar sobre as guerras de África, a medicina tropical e a preparação específica dos jovens médicos que acompanhavam as nossas tropas. 

Confesso ignorar dados concretos sobre o assunto, e ter talvez ideias muito erradas sobre ele. Terão surgido depois de conversa com médico, então colocado em Aldeia-Formosa (1969?), segundo a qual ele não estaria preparado para as doenças tropicais locais e iria, a título pessoal, comprar livros sobre o assunto aquando das férias em Portugal...

Para não dar informacäo errada aos visitantes, prometi informar-me o melhor possível e, com melhores respostas, enviar-lhes um e-mail. Por certo,  de entre camaradas médicos (ou não) do Blogue, alguns terão respostas concretas sobre o assunto. 

Um grande abraço do José Belo.


PS - Nova mensagem, com data de hoje, vinda da Tabanca da Lapónia:

Foram-me apresentadas algumas perguntas por jovens médicos militares suecos sobre qual a preparação específica (medicina tropical, e também relacionadas com teatros de guerra) que teriam os médicos portugueses mobilizados para as guerras coloniais.

Não desejando dar respostas fáceis, mas menos concretas (ou correctas), procurei ajuda junto dos amigos disponíveis, e para tal habilitados. Daí vos ter enviado um SOS. Entretanto foram por mim já recebidas respostas detalhadas sobre o assunto, pelo que não se torna necessário incomodar mais camaradas. Sempre ao vosso dispor. José Belo.

2. Comentário de L.G.:

Saudações da Tabanca Grande para a Tabanca da Lapónia!... Camarada lusolapão: Sobre os Melech Mechaya, grupo musical cá da nossa terra (e de que faz parte o nosso tabanqueiro João Graça), e das suas andanças por terras escandinavas, ainda não escrevi mais nada (nem tinha que escrever ) neste espaço... Tenho, no entanto, que te agradecer, publicamente, a tua generosa hospitalidade, de que foi objeto o meu filho e os demais membros da banda...

E,a  propósito, quero deixar aqui registado o mail que me mandaste em 25 de maio último:

 "Caro Amigo. Foi com muito orgulho nos nossos jovens que terminei, alta madrugada, o encontro com o teu filho e companheiros do grupo musical. Muito (e de muito) se falou. Creio ter conseguido dar-lhes uma ideia das realidades que aqui nos rodeiam,e também das perspectivas históricas que levaram ás mesmas. Vivendo totalmente afastado, já há quase quatro décadas, de Portugal, este contacto com as novas geracöes lusitanas foi uma experiência riquíssima. Um encontro, para mim, a registar. Um grande abraço. José Belo".

Quanto ao dossiê "Medicina Militar no Tempo da Guerra Colonial", confesso que não dei, por falta de tempo, a devida atenção ao teu pedido (que era urgente). Temos uma série Os nossos médicos, com mais de 80 referências ou marcadores... Temos, inscritos na Tabanca Grande, vários médicos que conheceram o TO da Guiné como jovens clínicos... Espero que eles possam (e queiram) escrever sobre este tema que me parece não ter ainda sido devidamente abordado e tratado no nosso blogue: afinal, que preparação (clínica) levavam para o teatro de operações ? Que sabiam eles de clínica geral, medicina interna, doenças infetocontagiosas, saúde pública, higiene e medicina tropical, emergência médica pré-hospitalar, politraumatalogia, saúde mental, estomatologia, oftalmologia, otorrino, dermatologia... só para falar de alguns especialidades relevantes num teatro de operações como o da Guiné ?

Receio bem que os jovens alferes milicianos médicos (em princípio, havia um por batalhão, ou seja, 1 para 600 militares, não contando com os cirurgiões e outros eventuais especialistas do HM 241, de Bissau) tenham ido muito mal preparados para a "guerra do ultramar". Muitos deles eram chamados às fileiras do exército, mal saíam das faculdades de medicina (Lisboa, Porto e Coimbra). Nessa época, ou pelo menos até 1971, não havia "carreiras médicas" (, uma figura criada com a reforma da saúde de 1971), nem verdadeiros internatos médicos.

Uma estimativa grosseira minha  aponta para cerca de 1600 o número de médicos mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique, na base do rácio 1 médico / 600 militares (=1 batalhão = 4 companhias)... Estamos a pensar num total de 800 mil militares (metropolitanos) mobilizados para a "guerra do ultramar" entre 1961 e 1975...  Temos ainda que contar com a dotação dos hospitais militares (por ex., HM 241, Bissau, cujo quadro de pessoal médico desconheço). Além disso, não podemos esquecer as missões civis: no meu tempo, o médico do batalhão de Bambadinca tinha ainda à sua responsabilidade uma população de 15 mil habitantes (, estimativa para o setor L1, sem contar com mais 5 a 6 mil almas no "mato", algumas das quais também vinham, nas calmas,  ao nosso posto sanitário)...

Recorde-se, por outro lado, que a demografia médica estava então a passar por uma grande transformação, tanto quantitativa como qualitativa. Em 1960, o número de médicos era já de 7075. Dez anos depois, tinha crescido 15%: era de 8156 em 1970. Na década seguinte, no simples espaço de dez anos (1970-1980), irá ter um crescimento exponencial, chegando quase aos vinte mil (19327, em 1980), em grande parte como resultado da democratização e massificação do ensino universitário a partir do início da década de 1970, com a reforma Veiga Simão e com o 25 de abril.  Hoje (2011) são 42796...

Em 1960 havia um médico para 1256 habitantes... Em 1970, o rácio era de 1/1064, em 1980 de 1/505... Hoje (2011) é de 1/247...

Quanto a especialidades médicas, só temos estatísticas a partir de... 1990! (Fonte: INE, e Pordata)

Enfim, conto que os nossos camaradas médicos aqui atabancados digam da sua justiça e experiência. Estou a pensar em nomes como Amaral Bernardo, José Pardete Ferreira, Mário Bravo, Manuel Valente Fernandes... que foram alferes milicianos médicos no TO da Guiné. Mas também noutros que se formaram depois, como o Ernestino Caniço, o Caria Martins, o Vitor Junqueira... E estou igualmente a pensar nos nossos outros camaradas que pertenciam aos serviços de saúde militar: furriéis enfermeiros, primeiros cabos auxiliares de enfermagem...

Sobre este assunto, queria ainda recordar que Portugal tem um nome ilustre que deu importantes contributos para o desenvolvimento da saúde pública, incluindo a saúde ambiental e militar: o beirão e estrangeirado Sanches Ribeiro, um dos grandes vultos intelectuais da nossa história!


[Imagem à esquerda: Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783)]

Português, nascido no seio de uma família de comerciantes cristãos-novos, é o nosso maior médico do séc. XVIII. Grande espírito do século das luzes, foi conselheiro de Marquês Pombal para a a reforma do ensino médico em Coimbra (1772). Médico do exército russo (1735) e do corpo de cadetes de S. Petersburgo, segundo médico da Corte (1740) e Conselheiro de Estado (1744) da Rússia, foi pioneiro saúde ambiental,  da saúde pública e da saúde militar com o seu famoso  Tratado da Conservação da Saúde dos Povos (1756). É autor de muitas outras obras. E o único português com uma entrada na célebre enciclopédia de D’Alembert e Diderot.  Era especialista em doenças venéreas (eufemisticamente chamadas, na época, "males de amores"). Deixou a Rússia em 1847, fixando-se em Paris. Os príncipes russos vinham, de propósito, consultá-lo por causa dos "males de amores"...
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9883: Da Suécia com saudade (36): Quando os mortos choram os vivos (José Belo)

Guiné 63/74 - P11693: Notas de leitura (490): República e Colonialismo na África Portuguesa, coordenação de Fernando Tavares Pimenta (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
O conjunto de estudos que esta publicação alberga são surpreendentes e dão-nos a possibilidade de analisar como o republicanismo foi um decisivo elo de ligação entre a Monarquia Constitucional e o Estado Novo no que tange à defesa das colónias.
No contexto do pan-africanismo, Julião Soares Sousa dá-nos uma estimulante leitura da Liga Guineense e do Centro Escolar Republicano de Bissau e as relações tensas e inconciliáveis que a Liga manteve com o Governo da província, a propósito da guerra de Bissau de 1915.

Ensaios de grande qualidade cuja leitura se recomenda, sem qualquer hesitação.

Um abraço do
Mário


Republicanismo e colonialismo na I República: 
A Liga Guineense

Beja Santos

“República e Colonialismo na África Portuguesa”, coordenação de Fernando Tavares Pimenta, Edições Afrontamento, 2012, reúne um conjunto de estudos cujo objetivo é analisar a receção do republicanismo em contexto colonial, nomeadamente a forma como os republicanos foram portadores de mudança ao nível da vida política das colónias portuguesas. É uma leitura que provoca surpresas e ajuda a dissipar equívocos amontoados sobre a chamada negligência republicana quanto ao Ultramar.

Um trabalho de Luís Reis Torgal à volta de António José de Almeida e a sua experiência africana é esclarecedor quanto à continuidade republicana face à conceção do Império, e maca também as distinções face à Monarquia. Começa por observar que a designação de colónias apareceu no século XX. Na Carta Constitucional de 1826, que vigorou até 1910, falava-se de províncias ultramarinas. Implantada a República, a Constituição de 1911 refere “Da administração das Províncias Ultramarinas”. A legislação especial traz títulos como os seguintes Lei Orgânica da Administração Civil das Províncias Ultramarinas, isto em 1914, era ministro das Colónias Alfredo Augusto Lisboa de Lima. Em 1917, num ministério liderado por Afonso Costa, era ministro das Colónias Ernesto de Vilhena foram decretadas as primeiras cartas orgânicas das Províncias relativas à Guiné e depois a Angola. Só após a revisão de 1920 da Constituição se passou ao termo colónia, tendendo a sua organização para um carácter centralizador, com a criação dos Altos-comissários da República para as Colónias. Em 1924 foi criada a Agência Geral das Colónias, que será dirigida até 1932 por Armando Cortesão. O Ministério das Colónias surge logo a seguir à implantação da República, foi um cargo fundamentalmente entregue a militares, do Exército e da Marinha, que pode ser justificado pela experiência que os militares tinham das colónias. O regime dos Altos-comissários desapareceu com a Ditadura Nacional, esta afirmou-se pelo seu espírito centralizador, dando ênfase ao protecionismo dos indígenas. Recorde-se o Regulamento do Trabalho Indígena, datado de Maio de 1911. Mas a revolução de 28 de Maio de 1926 não alterou essencialmente as leis da República. O próprio Ato Colonial, de 1930, reafirmou todo este sistema legal. Tem Reis Torgal propriedade quando diz que no fundo não há diferenças essenciais entre as lógicas coloniais monárquica constitucionalista, republicana, ditatorial e estadonovista.

Uma nova atmosfera vai emergir com o pan-africanismo, houve em Portugal uma sensibilidade precoce para os movimentos defensores dos africanos. Como se pode ler em o Correio de África, de Julho de 1921, a propósito de eleições para deputados e senadores, num manifesto “Ao Povo de África”: “Não confieis de outras mãos que não sejam as dos vossos patrícios africanos o encargo de vos redimires. Só estes é que conhecem os vossos sofrimentos. Só estes poderão lutar pelas vossas aspirações”. No mês anterior surgira a Liga Africana de Lisboa. Multiplicaram-se por toda a Europa congressos pan-africanos, a eles aderiram delegações das províncias da Guiné e de Cabo Verde, a Liga dos Interesses Indígenas de S. Tomé e Príncipe, a Liga Angolana, o Grémio Africano de Lourenço Marques e a Liga Africana de Lisboa. A mudança de terminologia de colónias para províncias ultramarinas só ocorreu no Estado Novo, em 1951, mantendo-se a lei do indigenato na Guiné, Angola e Moçambique (recorde-se que em Cabo Verde nunca houve indigenato).

A diferença substancial entre a política monárquica e política republicana esteve na ideia de Império, já que os republicanos tinham polemizado com os monárquicos, acusando os primeiros os segundos de negligência e amesquinhamento das questões ultramarinas, fundamentalmente na questão do ultimato. Os republicanos estavam indelevelmente ligados a uma conceção nacionalista e imperialista. Reis Torgal lembra "Alma Nacional", o título da revista dirigida por António José de Almeida em 1910, a defesa das colónias pesou profundamente na entrada de Portugal na guerra de 1914-1918. Não é por acaso que no Mosteiro da Batalha estão dois soldados desconhecidos, ali sepultados em 1922, para significar os nossos caídos na Flandres e em África. Muitos republicanos de diferentes matizes estiveram intimamente ligados a África. António José de Almeida, médico em S. Tomé durante 7 anos; Brito Camacho, alto-comissário em Moçambique; Norton de Matos, ministro das Colónias e depois alto-comissário em Angola; Cunha Leal, chefe de brigada na Companhia dos Caminhos de Ferro de Angola, e muitos outros.

Em suma, I República continuou a política colonialista da Monarquia Constitucional. Defenderam-na com rasgo ao tempo em que outras potências europeias punham em causa o domínio português, procuraram melhorar as condições dos indígenas e acusaram os colonos de atos de desumanidade e exploração. Mesmo quando atacaram o clero, não deixaram de elogiar os missionários, como o fez António José de Almeida relativamente a D. António Barroso.

Julião Soares Sousa estudou a Liga Guineense e o Centro Escolar Republicano de Bissau. Havia nestas iniciativas a convicção de que a República iria abrir portas para uma alteração efetiva da condição das colónias. A Liga Guineense surgiu em 25 de Dezembro de 1910, numa assembleia de “nativos da Guiné”, era constituída uma associação escolar e instrutiva, a Liga. Em Junho seguinte foram eleitos os primeiros gerentes. Em 12 de Janeiro de 1911 foi criado o Centro Escolar Republicano, alguns dos membros da sua direção também pertenciam à Liga Guineense. Que se propunha a Liga? Fazer propaganda da instrução e estabelecer escolas; trabalhar para o progresso e desenvolvimento da Guiné; e pugnar para o bem geral dos consócios. E quanto ao Centro Republicano? Criar escolas diurnas para os filhos dos sócios e indigentes; proporcionar aos sócios leituras e distrações nos dias em que as escolas não funcionassem; promover conferências educativas. O Centro integrava nativos da Guiné, cabo-verdianos e portugueses metropolitanos; a Liga só admitia nativos integrados num conjunto de categorias sociais: marítimos, artífices, grumetes e empregos de comércio e indústria. O número de escolas era reduzidíssimo. Marques Geraldes, num texto publicado no Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, em 1887, referia apenas existirem 3 escolas na província (Bolama, Bissau e Cacheu). Era uma constante de todos os relatórios, a queixa permanente da falta de estabelecimentos de ensino. O historiador guineense analisa detalhadamente a evolução da Liga, como esta intentou colaborar com o Governo da província até radicalizar o seu discurso. Por exemplo criticando a péssima administração da província, censurando as deportações para S. Tomé e Príncipe, isto logo em 1913, altura em que em Bolama era fundado o Grémio Desportivo e Literário Guineense. As relações da Liga com Teixeira Pinto são tensas e inconciliáveis, a Liga será ilegalizada, o detonante terá sido a guerra de Bissau de 1915.

Um conjunto de estudos da maior importância para a compreensão dos ideais republicanos no contexto da política colonial e colonialista.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11680: Notas de leitura (489): O Homem a quem chamaram G3, por António Trindade Tavares (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11692: Blogues da nossa blogosfera (64): "Pieces of my life" - Portugal, África e Estados Unidos da América (Tony Borié)

1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66, com data de 26 de Maio de 2013:

Carlos,
Quando estive lá em cima em Pensylvania, à espera do nascimento do meu neto, que cada vez está maior e pelas notícias que me vão chegando está de óptima saúde, o que me faz contente, e como estava frio e não podia sair de casa, com alguma dificuldade criei um pequenino "blogue", onde vou contando de tudo da minha já um pouco longa vida.

Conto viagens, notícias, pesca, casos que foram passando ao longo da vida, e claro a Guiné como não podia deixar de ser.
Da Guiné, é uma repetição com algum arranjo, dos textos que já publicámos ou vamos publicando no nosso "Blogue", depois faço um arranjo com mais algumas fotos e então vou colocando no meu.

As pessoas aqui gostam e dizem-me para continuar.
Eu gostava de dar o meu sinal no nosso "Blogue", mas não sei se tu entendes que dando o sinal a ti é o suficiente, ou se entendes que faça um texto explicando esta decisão.

Mando-te a foto do "Blogue", e podem procurá-lo em: http://tonisaborie.wordpress.com ou então podem mesmo procurar: Tony Borie - "Pieces of my life"

Pronto, vou terminar, desejando-te, saúde para ti e para os teus, deste teu amigo,
Tony Borie.

"Pieces of my life" - Blogue do nosso camarada Tony Borié


2. Comentário do editor:

Caro Tony
Já fui espreitar o teu belíssimo blogue, ilustrado por ti como não podia deixar de ser.
Está com um bonita apresentação e versa outros assuntos que não só a Guiné o que o torna mais abrangente em termos de visitantes.

Vamos acrescentar o teu link à nossa listagem de Blogues, facebook e outros sítios da nossa blogosfera.
Esperamos que não esmoreças e mantenhas, tanto quanto te for possível, o Blogue vivo e actualizado porque ainda hás-de acrescentar muitos pedaços à tua vida.

Por falar em pedaços, não quero terminar sem te dar publicamente (já o fiz particularmente) os meus parabéns pela recente chegada do novo membro da tua família. Em nome da tertúlia, as maiores felicidades para o teu neto e para os babados pais, a quem cabe a sublime incumbência de o tornar um cidadão.

Parabéns e felicidades
Carlos Vinhal
____________

Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11428: Blogues da nossa blogosfera (63): Blogue da Lusofonia, uma página em português nos Estados Unidos da América (Mário Serra de Oliveira)

Guiné 63/74 - P11691: Blogpoesia (345): War is over, baby [ A guerra acabou, querida] (Luís Graça)

War is over, baby
[ A guerra acabou, querida]

por Luís Graça


A guerra acabou…
E depois ?
Depois,  os avós contarão aos netos,
tintim por tintim,
como foi a última batalha de bagdade
que não chegou a haver
mas que rimava com liberdade,
e com bombas de mil sois
(Ou foi hiroshima, meu amor ?)

Ou talvez não contem a história assim,
talvez prefiram antes arrumar as botas,
e até calar-se para sempre
e poupar os netos,
que esses, afinal, são muito mais espertos,
e têm jogos de guerra bem mais divertidos
no último modelo da sua playstation.
E sobretudo já não têm mais pachorra
para aturar os cotas,
infoexcluídos,
e com a rede neuronal avariada
(Como é  triste ser velho,
infoexcluído
e com sinais de alzheimer!)

De qualquer modo,
disse o repórter português,
o carlos fino,
foi a primeira das batalhas da história
transmitida em direto.
(O fino, o carlos, estava lá,
foi politicamente correto,
e isso é um motivo de orgulho nacional,
disse alguém,
assessor de belém).

Uma batalha anunciada,
uma cruzada de cruzados,
logo com princípio,  meio e fim,
como no jogo do xadrez,
com cheque-mate  ao rei e às suas odaliscas.
Uma história das arábias
onde sobraram as espadas de deus
e dos homens faltaram as palavras sábias.
(Ó carlos fino,
tal como em quinhentos, 
somos tão poucos,
para cobrir a imensão do globo
e calcorrear todas as picadas e os sete mares!).

Mas tu, baby, lembras-te,
tínhamos comprado pipocas,
no cinema do nosso bairro
de classe média arruinada.
Sentámo-nos no chão
entre camelos e beduínos
à espera da queda do saddam.
(Ou de satã?,
já não me lembro;
lembro-me, isso sim,  como se fosse hoje,
que já estavas meio pedrada,
do pó marado do casal ventoso;
e  campo de ourique ali tão perto!).

Éramos colecionadores de quedas e de quebras,
do PIB,
do moral da nação,
da moral de todos nós,
da bolsa da valores,
dos valores da bolsa,
de meteoritos,
de aeronaves,
de cabeças coroadas;
e a última queda, essa, fora a do muro de berlim
em mil nove oitenta e nove.
Regámos com vodka e coca-cola
o anúncio do recomeço do reich dos mil anos.
(Ou era licor beirão ?!,
ai, a minha cabeça!)

Depois os soldados regressarão
a casa.
E casarão.
E terão filhos que vão à escola,
pública, privada ou social,
conforme os escalões do irs.
Ou talvez não.
Os soldados proletários,
mercenários, 
voluntários,
patriotas,
partirão para outra guerra.
Que a guerra  sempre foi uma profissão.
(Disseste procissão ?
Ah, sim, a da vida e da morte!).

Os bisnetos dos escravos
das plantações de algodão do sul,
os afros,
os chinas,
os hispânicos,
os filhos dos imigras
de várias raças, credos e nações,
do grande melting pot americano,
os ex-colarinhos azuis
das linhas de montagem do taylorismo-fordismo,
no museu industrial de michigan.
Na fotografia amalareda tinham um ar de idiotas,
usavam grandes jeans
e chapéus à texano.
(Mas podia ter sido na região de tombali,
meu amor,
muito mais perto de ti,
em linha reta,
no carreiro do povo,
no corredor da morte!).

Enfim, só sei que eles guardarão a espingarda,
a baioneta,
o capacete,
o cantil
e a marmita,
no bengaleiro
ou, talvez melhor,
no sótão,
no baú, herança dos tretavós,
arrebanhados do cacheu ao cunene.
E o canhão sem recuo, esse, guardá-lo-ão
no jardim, em miami.
E o clarim,  em nova orleães.
E, na casa branca, o cartão do tio sam que dizia:
I wanto you for u.s. army!

Em abono da verdade,
não escondo
que alguns morrerão.
Talvez de solidão.
Ou de tédio.
Ou de falta de fé em deus.
Ou na humanidade.
Ou em deus e na humanidade ao mesmo tempo.
No criador e na sua criatura.
Ou de stresse pós-traumático de guerra,
como dizem hoje os psis
que vivem dos despojos de todas as guerras.
(Apanhado do clima, dirias tu,
meu tuga,
meu nharro,
que no tempo da guerra colonial da guiné
estava por inventar a palavra stresse.)

Morrerão simplesmente de solidão
como as carcassas dos tanques
nos jardins suspensos da babilónia.
(Ou na estrada de madina do boé;
não importa, ou que importa ?!,
sentados ou de pé!,
nas berliets, gê-ème-cês, unimogues,
à sombra dos bissilões).

Afinal, que importam os detalhes
se um dia todos temos de morrer,
presas e predadores,
caçadores e leões,
escravos e senhores,
soldados e generais,
de uma merda qualquer,
de peste, sida,  ébola,
gripe das aves,

radiações ionisantes,
insolação, raiva, insónia,
desidratação,
febre hemorrágica,
bê-esse-é,
tiro da bófia,
pneumonia atípica,
cancro,  
gás mostarda,
sari,
trombose,
avêcê,
tsunami,
ou aperto da aorta.

O repórter de serviço diz,
na têvê do berlusconi,
que esta foi a última campanha de caça
ao leão da mesopotâmia.
Ou da abissínia,  tanto faz,
que o berlusconi tem gê-pê-esse
e borrifa-se  na geografia,
agora com as autoestradas da globalização,
dando largas ao delírio
e à livre circulação do capital.
(Estranho: eu imaginava-o extinto,
ao leão da abissínia,
na época dos últimos glaciares.)


Ah! se eu não fosse um sem-abrigo,
Ah! se eu não fosse um desertor da guerra colonial,
Ah! se eu fosse poeta proactivo,
um repórter reformado da guerra fria,
com pensão,  cama e roupa lavada,
um gajo decente
com sensibilidade social
e uns restos de testosterona
na ponta mais ocidental da G3…
Ah!, se eu fosse tudo isso,
eu escreveria um grafito
no meu epitáfio,
nas paredes do meu bunker:
- Deus é grande,
e maomé o seu profeta!
Estive em badgade,
mas não vi nada, meu irmão.
Não rezei na tua mesquita azul.
Não rezei por ti nem por mim nem por nós.
Apenas tive pena do teu povo,
curdos,  xiitas,  sunitas,  árabes
e todos os outros filhos bastardos de abraão
e  das tábuas e tabus de  moisés.
Fulas, mandingas, tugas, felupes, balantas, nalus,
filhos pródigos da humanidade achada e perdida.

Mais te direi por e-mail
que morri com um estilhaço de granada.
A meu lado, um capitão dos marines
afogou-se num poço de petróleo,
coberto com a bandeira dos states,
como na batalha de iwo jima.
Verde e vermelha,
como a imaginava o poeta,  jorge de sena,
a cor da liberdade,
em 1961.
(Angola… é nossa!,
que importa a cor da liberdade,
quando a joia da coroa está em perigo?!).
Era um caixa de óculos como o o’neil,
poeta, obscuro,
que nem para contínuo serviu
do ministério dos negócios estrangeiros.

Mas hão-de morrer mais.
Conta, baby,  conta até mil
e lê o jornal.
É a astróloga do ano que tudo viu
na sua bola de cristal.
Italianos dos carabineiros,
espanhóis da secreta,
espiões do efbiai,
judeus errantes da diáspora,
goeses de damão e diu,
mexicanos do pancho villa,
lusitanos da diáspora,
talvez do luxemburgo,
onde nem sequer há poilões
nem acácias
nem jagudis.
Hão de morrer, todos,  de puro terror,
estampado nos olhos.
Tudo por causa de um homem-bomba
que foi visto visto a sobrevoar
a estátua da liberdade agrilhoada.

Mas agora és tu, private jessica lynch,
baby-doll em camuflado
a nova namoradinha
dos tele-espectadores globais.
Ou por breves instantes foste
a heroína,
a heroinazinha.
Que a fama e a glória são
deusas vãs, avaras e cruéis.
Quiçá na próxima guerra te verei
ao serviço da bandeira da cnn,
ou doutro xogum qualquer dos mass media,
embeded com os bravos da mítica 7ª cavalaria,
mobilizada pelo ral 7,
ali à calçada da ajuda.
No país do show business,
das fábricas de sonhos e de fadas de carne e osso,
e em que o sucesso é um pudim instâneo
e a medida de todas as coisas,
está tudo a condizer.
Tu estás a condizer, minha joia,
o carlos fino está a condizer,
mais o pobre ministro da propaganda,
de seu nome mohamed saeed al-sahaf
que que queria resistir ao apocalipse now
com um microfone na mão.
A gnr dos portugas em nassíria está a condizer

com a batalha de nassíria.
Tu e eu estamos a condizer
no tempo em que éramos todos telegénicos,
e até o bush, my friend george, caraças!,
por deus e pelo diabo protegido e ladeado,
segurava um perú de plástico
no dia de ação de graças.
(Poupem o perú, seus cabrões,
mas deem-me cabo do império do mal!)

Tu, my darling, minha querida,
ouvi dizer que eras filha
de um condutor de camião,
daqueles que atravessam a américa,
de lés a lés.
Uma heroína do povo sem pedigree,
escriturária,
amanuense,
anjo da guarda,
carinha larocas,  teenager,
de uma qualquer terra saloia da américa profunda,
da américa larga, comprida e funda.
Ferida em combate por engano,
sorry que numa lady americana,
não se bate,
diz o puro sangue árabe, 
com sotaque português.
Baleada mas logo resgatada,
que um camarada morto ou ferido
nunca se deixa para trás,
muito menos acima do paralelo 38
das linhas do fogo inimigo.
Muito menos,  já se vê,
num hospital de retaguarda do eixo do mal,
diz o pentágono.

Li nos jornais velhos  que acumulo no wc
que já te ofereceram um milhão
(de dólares, entenda-se).
Queriam fazer um filme
com a história da tua curta vida,
de heroína por equívoco.
Tu que só tens 19 anos.
Não mais.
E já tanto (ou, afinal, tão pouco) para contar
aos netos que hão de vir.
Perdi-te o rasto, meu amor,
minha bajuda,
my baby,
nas voltas que o mundo dá.
A guerra acabou, dizem,

war is over.
O problema agora é de polícia
e do homem-bomba
ou da mulher do tchador
Adeus, querida,
adeus às armas,
adeus, iraque,
adeus, guiné…

E depois ?
Bem, depois é amanhã,
não há azar,
que não é sexta nem treze.
E amanhã há mais,
cantemos o hino.
A vida pode parar,
a vida pode esperar,
a vida pode até perder-se.
O espetáculo é que não, my god!
O espetáculo, esse, continua,
tem de continuar...
Só vou ter saudades é do carlos fino!


11/1/2004. Revisto em 10/6/2013

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)