quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12468: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (11): Crónicas (ausentes) de "Tarrafo" (2): Gente amiga, Onde há macacos... e Despedida com lágrimas

Terminamos hoje a série "Últimas Memórias da Guiné", com o segundo grupo de 3, de 6 Crónicas (ausentes) de "Tarrafo"
Diz o autor desconhecer como estas (6) histórias não saíram na edição daquele livro. Lembremos que o "Tarrafo" é composto por crónicas enviadas da Guiné para serem publicadas no Jornal da Bairrada, pelo, hoje considerado o primeiro repórter da Guerra do Ultramar, Armor Pires Mota, que foi Alferes Miliciano da CCAV 488.


ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 11

Por Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65)

CRÓNICAS (AUSENTES) DE TARRAFO - 2

Por qualquer motivo, não incluí na edição do TARRAFO alguns textos que foram inseridos no Jornal da Bairrada. Ora aqui os recupero, passado meio século. Tal como aconteceu com o“Diário de Bordo” que naufragou com a nau do esquecimento.

Gente amiga

“Maio de 1964

Os que se refugiaram no Senegal sentem que aquele não é o seu chão. E, quando souberam do nosso acantonamento junto à fronteira, alguns homens grandes vieram falar à tropa, ao capitão [Correia Arrabaça]. Queriam regressar, ajudariam a tropa a fazer o quartel e a patrulhar a zona, quando lhes déssemos armas, fariam ali as suas moranças, o seu chão seria ali. Além fronteiras, sofriam fome, privações e muitas vezes iam à suas antigas aldeias buscar alguns víveres. Ainda há dias encontrei meia dúzia de homens com mantimentos à cabeça, aos ombros. Perguntando-lhes o que faziam por ali, vi que lhes podia dar boleia até ao acantonamento. Dali ao Senegal a distância era mínima.

Falaram dos terroristas: “ bandido levar gente amiga de Português para o mato, roubar tudo. Assim, a gente sem arma, fugir”. Queixaram-se também de fome e privações: “no chão de Francês corpo dói, cabeça dói e gente mesinho cá tem… no chão de Francês vianda cá tem”. Era sabido que muitos naturais do país vizinho, e em tempos sucedia o mesmo no sul, vêm por vezes aos nossos postos de socorro da fronteira.

Gostariam de regressar, eram largas centenas. Não queriam estar mais debaixo da bandeira do Francês.
O caso foi exposto a quem de direito.”

Jornal da Bairrada, 6 Março 1965

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Onde há macacos…

Jumbembem, 11 de Dezembro de 1964

Caminhávamos, há três horas, na húmida noite do capim. Ao amanhecer, entrámos na tabanca. Deixámo-la intacta como não tivesse ares de comprometida. De cima da avioneta, o tenente-coronel [Fernando Cavaleiro], ia dando indicações, por aqui, por ali. E assim fomos ter à estrada, vencendo a bolanha.

Dois bandidos, vestidos de azul, sentados na berma, junto de um monte de árvores tombadas, ficaram surpresos e apalermados, não nos esperavam ali.
– Olhe bandidos! – disse o Estremoz, num cicio de espanto.

Cheguei-me junto dele. Apontou, carregou no gatilho e… nada. Ficou furioso. A arma encravara-se. Eles toparam a nossa presença e, fugindo, enrolaram-se no capim. Ainda atirei, mas em vão.

Certamente tinham vindo da emboscada montada à coluna auto em que houve dois feridos graves. O furriel enfermeiro, atingido nas costas, injectou e pensou o melhor que pode, os feridos, e somente no fim é que se injectou e pensou com a ajuda de um camarada. O Faustino, terrorista recuperado, contorcia-se com os estilhaços cravados num dos olhos.

Era a terceira ou quarta vez, que eu via tão de perto bandidos armados. Em combate, isso é difícil. De resto, nem mortos, é muito raro. Em geral, só rastos de sangue, guardas-de-corpo [amuletos]. É que, junto de cada atirador, há sempre quem saiba também dar ao gatilho. Assim, caso o atirador fique ferido ou morra, há outro que toma conta da arma e defenda a posição, o melhor possível, enquanto outros guerreiros arrastam para fora do local da emboscada o ferido ou o morto. E assim sucessivamente.

Um T6 sobrevoava-nos e o rádio-telefonista contactava o estacionamento:
– Estamos de costas…

Regressávamos. Eu falava para o Peixe e ele apontou-me:
– Olhe ali plantas de ananás!

Olhei. Por detrás das árvores, macacos saltavam, gritando. Achei a coisa natural, porque sempre ouvira dizer: “onde há macacos, não há terroristas"…

O Montes, que devorava um pedaço de pão com um naco de polvo assado do jantar da véspera, interrompia-me:
– Quando há-de ser o dia em que havemos de atirar-nos para o charco?

Mal eram ditas estas palavras, o fogo, vindo do mato, da esquerda e da direita, fez-nos arremessar para o chão em menos de um segundo. Os da frente tombaram de cabeça na bolanha. Encharcaram-se todos. Mas todos, num relâmpago, abriram uma estrondosa fuzilaria, estrondosa e cerrada. Por sua vez, a Fox batia a zona com fogo preciso e o T6 fazia acrobacias, metralhando, reforçando, desse modo, o estridular das armas.

Regressados ao quartel, pela calada da noite, houve grande choro para os lados de Bricama. Ouvia-se, quase imperceptível, o rumor dos tambores. Muitos haviam tombado definitivamente.

“Onde há macacos, não há bandidos"…
Pelo menos para nós, pela primeira vez, isto era mentira.

Jornal da Bairrada, 29 Maio 1965

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Despedida com lágrimas

Jumbembem, 14 de Agosto de 1965

A minha companhia teve conhecimento no dia 13 de Junho que ia abandonar Jumbembem, no dia seguinte, rumo a Farim. Houve lágrimas e euforia. “A aldeia ficou muito triste quando soube [dia 13 de Junho de 1965] que íamos ser rendidos. Alguns homens e bajudas [raparigas] começaram a pedir-nos fotografias para recordação. O Bassiro[chefe da tabanca], de voz entaramelada, desenhou no rosto olhos húmidos de saudade. Éramos amigos e íamos partir para sempre”.

“Para nós foi dia de festa e algazarra. Cervejas, abraços, gritos do viva a peluda! O Caracol puxou do acordeão e logo se lhe juntou uma comitiva terrível de euforia: soldados batiam latas, cantando, enquanto as miúdas batucavam, saltando, batendo palmas. As ruas encheram-se de música, à luz da lua que alongava os ramos dos mangueiros sobre os tectos das moranças. Cantar para melhor cicatrizar as carnes frescas de sofrimento, as feridas que a guerra nos abriu, embora nos recordemos sempre”.

[No dia seguinte, houve a cerimónia ritual da despedida, à volta da bandeira hasteada]

“Os homens alinhados no terreiro, fardas coçadas, esperavam o toque do clarim. Havia olhos febris, ensonados. Dormir, quando se faziam tantos planos? Além disso, a noite fora de festa e algazarra, ar morno e lua enorme em forte e irresistível magia a bater-nos no peito. Cervejas, abraços, gritos. O Caracol puxou do acordeão de novo e logo se lhe juntou uma comitiva terrível, eufórica: os soldados batiam latas, cantando num coro dissonante, esganiçado, mas verdadeiro, e as miúdas, a Ansaro, a Usita, todas de sorrisos brancos caindo dos lábios, encabeçavam o cortejo, batucando, saltando, cabriolandso, batendo palmas. Encheram-se as ruas de música. E pouco importava que eles viessem farejar o ararme-farpado. Seria uma despedida em cheio, com golfadas de aço e estridular fogoso das nossas armas, onde muitos haviam gravado o nome da mãe, namorada ou noiva.

Jumbembem, 1964/65 - Grupo de bajudas cujas blusas lhes foram ofertadas pelos alferes de CCAV 488 

Jumbembem - Mostra de grande empatia que se estabeleceu entre a população e a tropa. Cp Fernando Tomaz filmando a menina Usita, no fim de uma dança. Criança que, rapariga feita e bonita como era, se enamorou, de verdade, de um alferes. Teria uns belos 18 anos. Casou, foi viver para Bissau, mas não foi feliz. Morreu cedo.

A aldeia triste saiu toda a terreiro. A tropa que ela tanto amava, ia partir para Lisboa. Lisboa significava para longe, para nunca mais. Uns pediam fotografias; outros, simples lembranças. E o Bassiro, o homem grande da tabanca, adiantado, de voz entaranelada, deixava desenhar nos olhos húmidos duas brancas conchas de tristeza, enquanto a Salimaro, criança encantadora, chupava dois rebuçados que algum soldado havia distribuído.

O burburinho cresceu. As camionetas da companhia que nos vinha render, ultrapassaram os frisos de arame farpado num ronronar confuso e os soldados comentavam as duas caveiras de boi, chifres espetados no ar, provocadores, encimando a entrada. Depois desceram, dispersaram-se em pequenos grupos, mirando, inquirindo as instalações, os fortins de palmeira e terra, o rio a morrer de sede, a redondeza luxuriante.

Com a tropa nova no tereno, o clarim, soou. As notas marciais estremeceram o peito, a manhã clara a prometer um sol violento e perderam-se na selva imensa, num desafio quase irónico. Os soldados, perfis homérico de leais espartanos, rígidos e impecáveis como estátuas, plantaram os olhos na bandeira esfarrapada que subia a bailar, a enrodilhar-se no vento sul.

Jumbembem - Tarja de saudação da CCAV 488 à Companhia que a foi substituir

Num rápido desdobrar de memória, vejo o Montes, de boina castanha sempre tombada sobre a orelha, carregado de manhas de contrabandista que fora, voluntarioso e de uma ferocidade cruel na luta; o Salgueiro, medroso como uma mulher, que não era capaz de denominar o medo. Mas que ultimamente amassava e cozia saboroso pão. Mas quem o ouvisse falar, dava-lhe honras de herói. E lembrava os soldados negros: O João, o Lassana. O João de fina argúcia, inteligente e sonhador, e o Lassana, baixo, calado, mas ambos grandes e iguais a qualquer branco. E murmurei os nomes do Peixeiro e o Rogério, eternamente ausentes.

Jumbembem - A "padaria" do aquartelamento

Voltou a soar o clarim. Todas as mãos caíram ao longo da farda numa pancada seca e curta. O sol, de arranhar-se na selva, vinha sangrento e criador.

A hora da partida trouxe já um sol violento. As crianças e as raparigas, de olhos tristes, formaram cortejo para nos beijarem. Quando a hora chegou, então foi um nunca mais acabar de apertos de mão. As mulheres diziam-nos coisas comovedoras e tivemos de engolir uma ou outra lágrima.

Os motores das viaturas começaram a ronronar. Eram os últimos apertos de mão e os últimos beijos das crianças. Entoámos o Hino do Batalhão [da autoria do major Alexandre António Bahia Rodrigues dos Santos] e as viaturas começaram a mover-se devagarinho, a sair do quartel. Os negros saltaram para a estrada. E então foi a explosão dos acenos e das lágrimas, rumo a Farim”.

Jornal da Bairrada, 21 Agosto 1965

[Esta gente boa, com quem fizemos empatia e amizades, recolhera à nossa protecção. Erguemos-lhes casas novas em adobes de terra e viveu connosco todo o espectro de uma guerra, sofrendo com a tropa os desaires e alegrando-se quando não havia feridos e mortos. Éramos quase uma família, cujos membros se respeitavam. No meio da parada, havia o pau para hasteamento da Bandeira Nacional e à sua volta, foi desenhado com garrafas de cerveja o emblema do Batalhão, o que era também nosso ponto de honra].
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Nota do editor

Vd. postes da série de:

25 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12341: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (1): Diário de bordo - A primeira grande desilusão

27 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12351: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (2): Diário de bordo - Ó mar salgado!

29 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12360: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (3): Diário de bordo - Manhã azul e Deus ao leme

2 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12378: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (4): Cinco dias no Niassa; A primeira grande experiência e Dois alferes de uma só vez

4 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12386: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (5): Ilha do Como - Operação Tridente

6 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12397: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (6): O casamento do Jaime e da Manuela, A macaca ciumenta e O dia de santo avião

9 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12419: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (7): Os macacos vermelhos

11 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12432: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (8): Aerogramas para a Lili (1)

13 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12444: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (9): Aerogramas para a Lili (2)
e
16 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12458: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (10): Crónicas (ausentes) de "Tarrafo" (1): Bandeira branca, O Vicente e Palhota sem luz

Guiné 63/74 - P12467: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VII): Como é que a malta pssava os 'tempos livres'...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >  Capa do jornal de caserna, mensal,  "O Serrote", edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto. 









Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Jornal de caserna "O Serrote", mensal, edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto. Páginas do meio: 12/13. Total de páginas: 24.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74) > Um jogo de bridge entre oficiais. Em 2º plano, do lado esquerdo, o alf mil Jorge Pinto.


Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]



1. Mensagem do Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) , com data de 14 do corrente,  em resposta a um comentário anterior do nosso editor [ " Toda a Guiné era concentracionária e claustrofóbica... Mas quem estava em Bambadinca, como eu, tinha - nas horas vagas, fora da intensa atividade operacional - a doce ilusão da liberdade de pôr viajar 30 km em estrada alcatroada, e ter em Bafatá um 'cheirinho' da civilização... O mesmo se pode dizer da malta que estava em Bafatá e em Lamego...E talvez em Mansoa e Teixeira Pinto... Ou não ? Bissau não conta, para nós não era mato"]...


Vejo que voltaste a caprichar, obrigado.  Enviei estas fotos (*) com o objectivo de revelar um aspecto do modo como se passava algum do tempo, naquele "ambiente concentracionário", como tu bem dizes. Contudo, por incrível que pareça, grande parte do nosso tempo era passado fora do arame farpado: patrulhamentos, emboscadas, operações, reabastecimentos, idas à lenha... Devo salientar que fora do arame farpado as deslocações eram sempre feitas, no mínimo, ao nível de bigrupo, mais uma ou duas secções de milícias.

Dentro do aquartelamento havia sempre assuntos que nos envolviam.  Muita leitura, lembro-me, por exemplo, da chegada do primeiro exemplar do jornal Expresso. Sebentas de Direito e de História também eram companheiras inseparáveis de alguns oficiais.

Ouvíamos a BBC,  de Jorge Letria. Da Argélia vinha a voz do Manuel Alegre e o pensamento de Piteira Santos [Rádio Voz da Liberdade]. O próprio PIFAS, e o amigo [Armando] Carvalheda nas rubricas radiofónicas também muito ajudaram tal como a "Maria Turra" [Rádio Libertação, emitindo de Conacri].. 

Muita conversa, sobretudo após ouvirmos a BBC. Claro que também havia conversas filosóficas, sobretudo com o régulo Malã, que após ter estado em Meca, S. Francisco da Califórnia, Macau, Lisboa, Londres e outras urbes europeias,  afirmava com grande veemência que Fulacunda é que era BOM. 

Muitos jogos, não só de futebol e voleibol mas também jogos de sala: longas noites de bridge (foto acima)), King, sueca, ramin, poker de dados, ping-pong...


Atividades culturais, como por exemplo a feitura de um jornal mensal, O Serrote (capa reproduzida acima ) aberto à colaboração de todos. Ali se escreveram:  (i)  piadas de caserna relacionadas com episódios rocambolescos da comunidade residente; (ii)  resumos de livros lidos por alguns; (iii)  poemas que fazem lembrar as medievais cantigas de amigo e amor; (iv) assuntos de atualidade interna (anexo) e externa; além de (v) anedotas, concursos de cultura geral, contos.

Como vês,  Luís, o tempo lá se ia passando. Cada dia era religiosamente riscado um a um nos calendários pendurados nas grossas paredes dos abrigos.

Bom fim de semana para toda família. Forte abraço.

Jorge Pinto [, foto da época, à esquerda]

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12466: Boas Festas (2013/14) (8): Tony Borié, Rui Silva, Ricardo Figueiredo, José Colaço, Jorge Picado e Torcato Mendonça

1. Mensagem natalícia do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66:



Como me chamo já não importa, pois nunca esqueço que fui combatente.
Depois da escola, na minha inocência, esperei pela guerra com ar sorridente.
Era o Tó d’Agar, era aldeão, era feliz, pastoreava as ovelhas, sempre contente.
Depois era o “Cifra”, um nome de guerra, havia tiros, havia luta, na África ardente.

No século passado, nos anos sessenta, tal como vocês, fui mobilizado.
Passei dois “Natais”, sempre com medo, de arame farpado estava cercado.
Era um jovem, nos melhores anos, mas já não era um camponês, andava fardado.
Andei por bolanhas, vi terra vermelha, mosquitos ferozes, desesperado.

Sujo de sangue, pó, lama, água da bolanha, suor do calor, quente e abafado.
Todos o usavam, o Curvas Refilão, o Setúbal, o Trinta e Seis, ou o Marafado.
Servia de manto, onde enrolavam um companheiro de balas crivado.
Roto, sem mangas, já não era amarelo, verde ou castanho, aquele camuflado.

Havia algum álcool, cigarros feitos à mão, arroz da bolanha e muitos tormentos.
Agora é Natal, ano de 2013, esquecemos a guerra por alguns momentos.
Vamos festejar, eu sei que há guerra, mas ainda virão alguns melhores tempos.
Estamos vivos, uns com saúde, outros vivendo com os seus sofrimentos.

Os anos passaram, Portugal está longe, a minha bandeira, por quem combati
Não vos esqueço, meus companheiros, heróis combatentes, com quem convivi.
Neste Natal, época festiva, de amizade e com alegria, que jamais esqueci.
Sorriam, sejam felizes, vão ter saúde, olha o Pai Natal, que eu acredito, mas nunca vi!

Vamos abraçar, os familiares, os amigos, trocar prendas, “fugir daquele canto”.
Comer bolo-rei, esperar mais um ano, ver aquelas fotos a preto e branco.
Ouvir música, dançar, rir, beber um bom vinho, seja tinto ou branco.
Andar por aí, apanhar sol, nem que às vezes, tenha que ser, sentado num banco.

O vosso companheiro, que está feliz, por ter chegado ao Natal de 2013, que vos deseja o mais Feliz Natal do mundo e que o Ano de 2014 vos traga muita saúde e tudo o que mais desejarem.

Tony Borie, 2013

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2. Mensagem de Natal do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67):

Todo o sempre com os camarigos no coração, esta quadra é um bom pretexto para os contatar e assim poder desejar-lhes umas Boas Festas, na melhor da saúde e felicidade.

Bem hajam e tenham um Natal 365 dias por ano!

Um abraço para todos.
Rui Silva

PS: No “postal”, que junto, pendurei a vista aérea do Olossato, prestando (ou querendo prestar), uma simples homenagem aquele sacrificado povo a que natureza só lhes deu bom coração, nada mais, nada mais…
Boas festas Guineenses.


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3. Mensagem do nosso camarada Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74):

Aos meus Bons Amigos e Familia
Desejo um SANTO NATAL e que o novo Ano de 2014 que se avizinha, seja mensageiro de muita PAZ, SAÚDE e AMOR.

São os votos sinceros do
Ricardo Figueiredo e Família



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Monte Real, 2012 - VII Encontro da Tertúlia
Foto: Juvenal Amado


4. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

Desejo a todos os camarigos aqui presentes e ausentes, uns por motivos imponderáveis, outros por opção, um Santo Natal e um bom ano novo 2014.

Cumprimentos
Colaço


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5. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72):

Caríssimo Amigo Carlos
A poucos dias de entrarmos em mais um inverno das nossas vidas e próximo da chegada do Natal, aqui vai o meu sinal de que continuo "agarrado", ainda que não pareça, ao Blogue.

Para toda a Grande Família desta Tabanca, onde incluio os que possam não estar na "Grande", mas participam nas "Tabancas Adjacentes", envio os votos de um Bom Natal com muita saúde e alegria, bem como o desejo de que 2014 seja tão cheio, tão cheio de melhorias como este moliceiro tão carregado de moliço da Ria de Aveiro, nos tempos de outrora.

Grande Abraço
Jorge Picado


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6. Mensagem do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69:

Natal de 1968
Foi o único que passei na Guiné – embarquei, para lá, em Janeiro de 68 e regressei em meados de Dezembro de 69.
Quarenta e cinco anos já passaram em tempo rápido, demasiado apressado e encurtando, cada vez mais, a distância à meta.
Ainda recordo aquele Natal por ter deixado marca certamente e, sempre que acontece Natal, vou até lá um pouco.

Agora, neste ano, quarenta e cinco depois, fui ler o “Historial da Companhia” para ver o mês de Dezembro de 68, lá estava uma Operação no dia 23,duração de dois dias, juntamente com militares de outra Companhia à zona do Galoiel e Biro. Tivemos fraco contacto com o IN que, talvez por gentileza devido à data que se aproximava, bateu em retirada apressada. Deixou uma prenda que foi desativada. Tudo bons rapazes e ainda hoje temos exemplos.
Nessa Operação participou o Ten-Coronel Pimentel Bastos, Comandante do BCaç 2852 de Bambadinca. Creio mesmo, a memória não me atraiçoa, que nesse dia fez 51 anos.

Regressamos a Mansambo a tempo das festividades Natalícias. Talvez tenhamos comido melhor, talvez tenhamos tentado dar um pouco de “Espirito de Natal”, talvez. De certeza, que o mais presente foram os olhares para o céu, um céu diferente nas estrelas mas, para a maioria daqueles homens, gentes do Norte e com forte religiosidade, conseguiram certamente trazer para ali o céu de seu País e sentiram-se assim mais perto de suas famílias. Muitos já eram casados e tinham filhos. A maioria não entendia porque ali estava metida em oito abrigos, semienterrados e aprisionados naquele hectare, de forma quadrada, na mata desbravada, com fiadas de arame farpado e garrafas de cerveja dependuradas, sem luz, duvidosa água potável e comida desenxabida.

Nesse Natal tentavam comer, beber e abrir sorrisos de encomenda, sorrisos que eram mais esgares em rostos habituados a estarem fechados. Mas era Natal e certamente lá longe as famílias enviavam pensamentos para eles… talvez se encontrassem no caminho.
Natal diferente este de sessenta e oito como fora o de sessenta e sete e seria o de sessenta e nove. Um, onde fortemente se sentia a partida próxima, outro lá onde a amizade e a camaradagem marcaram forte presença e o outro, já cá, depois do regresso com a família, as recordações do outro e dos camaradas e sentirem-se um pouco perdidos em pensamentos de confusão na habituação à vida civil.

Quarenta e cinco anos depois as recordações ainda aparecem, algumas fortes e a recordarem tempos de afetos no sentir Natal.
Diferente hoje, já Século XXI, onde a força do marketing e do consumismo nos presenteiam com Natais de desembrulha e deita fora. Certamente deixam brevíssimas recordações.
Pessimista? Talvez!

PARA TODOS UM SANTO NATAL, COM O VELHO ESPÍRITO NATALÍCIO.
UM ÓPTIMO 2014 COM SAÚDE E RESPEITO PELO HOMEM.

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12454: Boas Festas (2013/14) (7): Alberto Sousa e Silva, Manuel Maia, Jorge Teixeira, Giselda e Miguel Pessoa, Felismina Costa, Hilário Peixeiro, Manuel Lema Santos e Joaquim Cardoso

Guiné 63/74 - P12465: O que é que a malta lia, nas horas vagas (19): Tínhamos uma biblioteca de 80/100 livros, herança da CART 2340 (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O Luís Nascimento, municiador e apontador do morteiro 81, a meias com o Borges,  cantineiro, prontos para o combate que acabava na cantina com umas bazucadas"...




Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O cripto treinando vólei com uma equipa da companhia do Carlos Silva, de Jumbembem".


Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Questões postas pelo nosso editor Luís Graça ao Luís Nascimento [ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71], em comentário ao poste P12385 (*):


Já agora vou pôr ao camarada Luís Nascimento, na sua qualidade de "bibliotecário" de Canjambari, algumas questões:

(i) quantos livros tinha a biblioteca ?

(ii) onde é que estava instalada ?

(iii) quem fornecia os livros ? Movimento Nacional Feminino ?

(iv) que tipo de livros ? ficção, história, poesia, viagens, policial, divulgação científica, filosofia, religião, etc. ?

(iv) era muito procurada ? por quem ?

(v) havia "empréstimo domiciliário" ? a malta podia levar para a caserna, o abrigo, o destacamento, o mato ?

... Abraço grande. Beijinho para a tua neta. LG

2. Resposta do nosso camaradada, através da sua neta, Jéssica Nascimento, em  5/12/2013:



Boa noite,  caro amigo Luis Graça,

Quanto à resposta,  a biblioteca já existia em Canjambari, foi herança da companhia de artilharia, a CART  2340, que fomos render.

Tinha cerca de 80 a 100 livros e revistas e estava instalada na cantina que servia de messe de oficiais e sargentos nas horas das refeições. Era mais praças que procuravam, tanto para o abrigo como para o mato.

O Sr. Capitão Sidónio deu logo que fazer aos sornas,  ou seja aos dois criptos: ao João Ferreira Duarte incumbiu-o de dar aulas aos miúdos para isso mandou-o para Bissau reciclar-se durante um mês;  ao boémio [, Luís Nascimento,]  deu-lhe a responsabilidade da biblioteca, municiador do morteiro 81 (a meias com o Borges cantineiro), desmanchar as vacas que tinham mais osso do que carne, que se iam buscar ali para os lados de Cuntima e, vejam lá, treinador da equipa de vólei da 33, por ter sido jogador da modalidade na Escola Técnica Nuno Gonçalves, na Alves Roçadas e na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Belém, antigo campo das Saléssias (Belenenses) .

Abraço Camarada,

Sir Assassan

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12385: O que é que a malta lia, nas horas vagas (4): a revista "Flama", o jornal "A Bola"... e o livro de contos e narrativas do Armor Pires Mota, "Guiné, Sol e Sangue" (Braga, Pax ed., 1968) que havia na biblioteca... (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)

Guiné 63/74 - P12464: Conto de Natal (14): Recordações de 1964, de um Alentejo longe de África, onde os jovens de então matavam e morriam (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa Grã-Tabanqueira e Amiga Felismina Costa com algumas recordações do Natal de 1964:


Paisagem no Alentejo (foto: Digitalsignal / wikimedia), com a devida vénia


É Natal!

Sob um céu de chumbo, tão baixo, que parecia tocar a minha cabeça, o dia manteve-se igual do princípio ao fim. Nasceu e morreu igual a si mesmo, único, pois que não recordo outro assim…
Gelado!
Ninguém na rua podia estar parado!
Na lareira grande, onde cabíamos todos, ardia o madeiro de Natal!

Encostada às brasas, a panela de ferro, mantinha quente a água, qual esquentador do passado. Uma cafeteira de barro, onde a mãe fazia o café, passava lá os anos. De manhã, o seu cheiro aquecia e confortava, e o leite de cabra, directamente da produtora, promovia os nossos pequenos-almoços, que tinham à mistura, os sorrisos e as belas palavras dos nossos pais. Às vezes, um cheiro a migas ou a fatias de ovos, vinha ao nosso encontro e preparavam-nos para mais um dia de trabalho duro, mas gostoso. O vento livre, assobiava por entre as árvores e o canavial.

O frio, só se sentia lá fora. Ali, reinava o calor humano, a compreensão, o amor e o carinho. Na ampla e bela cozinha, uma janela, que se abria a nascente, enchia-a de luz. Às vezes, debruçava-me nela para olhar o sabugueiro que permanecia ali ao lado e o topo da cerca, que partilhava o muro já velho e em derrocada em vários pontos, com a cerca do ”Ti Zé das Corgas Fundas”, partilhávamos igualmente as ameixeiras, que ignorando divisões infiltraram as suas raízes por debaixo do muro, oferecendo aos dois proprietários os seus frutos temporãos.

A poente, uma fila de oliveiras fazia o traçado da quinta, antecedendo a figueira que se situava já perto do tanque, onde um cardo leiteiro, morria e renascia, todos os anos.

Sentado sobre o tanque, vejo com frequência, uma personagem que marcou os dias da minha juventude, na sua voz característica, no seu perfil incomparável, na sua convicção, no seu querer. O poço, donde tirava a água com um caldeirão, estava ali ao lado, deixando apenas uma entrada para a quinta, entre os dois.

Aonde vais coração?
Isso, já foi há muito tempo! Meio século atrás! Mas, não sei como estão tão presentes esses dias!

Era 1964!
25 de Dezembro de 1964!
Esse dia de Natal gelado e cinzento, cor de chumbo, aliava-se ao espírito dos portugueses da época!

Lá longe, os jovens de então, matavam e morriam, e ali, chorava-se a saudade, o medo da perda, o desespero de nada se saber ao certo, pois as notícias nunca eram do dia, e, as que chegavam mais rápidas, ninguém as queria.

Felismina Mealha
Em cada dia deste espaço de tempo.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12452: Conto de Natal (13): Um Menino Jesus antecipado na família Brian (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12463: Convívios (555): Em memória do Tony Teixeira (1948-2013): almoço, guineense, de Natal dos bedandenses do Sul, 5ª feira, dia 19, no Restaurante O Gomes, às Portas de Benfica (Hugo Moura Ferreira)


Hugo Moura Ferreira
1. O Hugo Moura Ferreira [, foto atual à esquerda], em memória do nosso Tony Teixeira (1948-2013) [, foto direita em baixo],   vai dar forma a uma iniciativa que aquele nosso saudoso amigo e camarada tinha em mente, e que a sua morte repentina não deixou concretizar: juntar os bedandenses do sul, aqui em Lisboa ou arredores, no dia 19 do corrente, num almoço de Natal,  depois de fazer o mesmo com a malta do norte (que, essa, já se reuniu, no  “Milho Rei”, em Matosinhos, no dia 11 do corrente).

Amigo do seu amigo, camarada do seu camarada, voluntarioso como poucos, o Hugo "fez-se ao caminho", dando continuidade ao desejo do Tony - porque "o desejo de um General é uma ordem! - , e desta feita já tem mesa marcada para vinte e tal bedandenses cá do sul. (Até ontem à noite havia exatamente 21 inscrições, incluindo 4 senhoras, companheiras de bedandenses).

O encontro, aberto a bedandenses e não bedandenses, vai ser no dia próximo 19, às 13 horas, no Restaurante O Gomes, sito na  Rua Gonçalves Crespo, 16, Venda Nova,  Amadora, ali às Portas de Benfica.

Diz o Hugo Moura Ferreira:"
Tony Teixeira (1948-2013)

"É um Restaurante de uma família cabo verdiana com condições de qualidade/preço, simpatia e boas instalações para este tipo de reuniões, nomeadamente com estruturas informáticas para apresentações video e som. Quem pretender mostrar algo apenas terá que ser portador de uma pen ou de um CD ou DVD, pois terá possibilidade de mostar os seus videos, fotos, mapas ou outro material. Tal como mostro no mapa da localização também não se deverão apresentar grandes dificuldades de estacionamento. A 30 metros, no final da Rua existe um parque de estacionamento grátis com muitos lugares!


"Temos apenas uma condicionante. A sala que será reservada para este almoço apenas comporta, até 40 pessoas. Fazem habitualmente comida de Cabo Verde e Angola, mas estão capacitados para fazer comida tipica Guineense".


2. A ementa será a seguinte:

Entrada - Couvert tradicional e uns pastelinhos típicos feitos com farinha de milho e recheio de atum e outros;
Segundo - Chabéu de galinha, acompanhado de arroz ou de Fuba de Mandioca, para quem preferir;
Sobremesa - Mousse de Cabaceira ou Salada de Fruta;
Pão, Vinho da casa, e Refrigerante para quem pretender; café e um digestivo.
Preço: Quinze patacões, limpos, por boca, incluindo a gorjeta.
A reunião será às 13h00, na morada acima indicada.

3. Ainda se aceitam,  até logo à noite, inscrições de última hora:

A pedido da Tabanca Grande, o Hugo ainda aceita inscrições de última hora.   A sala, reservada para este almoço,  apenas comporta até 40 pessoas. Ele acha que mais quatro ou cinco inscrições de última hora, desde que comunicadas até logo à noite, não causam grandes transtornos á organização. O nosso editor Luís Graça irá também comparecer.

O Hugo Moura Ferreira disponibilizou os seus constactos "apenas  para este fim". Eventuais inscrições de última hora têm que ser comunicadas até ao fim do dia.

Endereço de email: hugomouraferreira@gmail.com

Telemóvel: 969922669 (Podem mandar “sms”)

"E se alguém do Norte quiser aparecer… Está claro que é bem aparecido!!! Tal como seria o Tony!!!!" (HMF).

Guiné 63/74 - P12462: Memória dos lugares (260): A estrada Mansambo-Bambadinca, no tempo das chuvas: fotos falantes II, de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)












Guiné > Região Leste > Estrada Mansambo - Bambadinca > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos > Fotos Falantes II >  Nos idos de 61/74, do século passado, havia muitos troços de estrada, lá nessa terra verde-rubra,  que a gente nunca mais irá esquecer, por esta ou aquela razão, boa ou má: minas,  fornilhos, emboscadas, operações,  colunas logísticas, atascanços, avarias, acidentes, mortos, feridos, sorte, azar...

Quem nunca andou, no tempo das chuvas, a fazer  (ou a montar segurança a) colunas logísticas, nas picadas do leste da Guiné (e especial a sul de Bambadinca), nunca saberá dar valor a uma estrada alcatroada... Estas fotos falantes II do Torcato Mendonça não precisam de legenda:  era a estrada (?) Bambadinca - Mansambo - Xitole, na época das chuvas (que ia de maio a outubro)... Um inferno para viaturas civis e militares... Sim, porque se faziam comboios de dezenas de viaturas para se levar os comes & bebes e as munições par Mansambo, Xitole e Saltinho....Às vezes levavam-se dois dias para fazer 30 km...

Mansambo, Xitole e Saltinho e todas as tabancas dos respetivos subsetores só podiam ser abastecidos por terra, a partir de Xime e Bambadinca... O troço Mansambo-Xitole esteve inclusive interdito, por razões de segurança, durante largos meses, sendo reaberto com as Op Belo Dia I e II, em agosto e setembro de 1969.

Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12429: Memória dos lugares (259): Ainda a Ilha das Galinhas e a sua "colónia penal e agrícola", criada em 1934 (José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, 1966/68)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12461: O que é que a malta lia, nas horas vagas (18): Entre outras leituras, a Gabriela de Jorge Amado enquanto espreitava pela seteira do abrigo (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 14 de Dezembro de 2013:

Caro Vinhal
Embora não fosse muito dado a leituras (mesmo fora da guerra) como tínhamos algum tempo livre era necessário ocupá-lo e tal como a maioria de nós eram livros, revistas, jornais e tudo o que aparecesse.
Tenho muitas fotografias mas quase todas no quartel ou muito perto e em operações não tenho e só conheço uma ou duas de outros camaradas.

Durante muitos anos tive tudo guardado e sem ver e há uns anos talvez depois que vi o Blogue é raro o dia que não veja algumas.

E voltava a ler mais umas palavras e a pensar noutra coisa qualquer e julgo que nunca tirei grandes conclusões das minhas leituras.


Esta em que estou a ler o livro Gabriela Cravo e Canela (a ler como quem diz a passar os olhos pelas palavras) porque naquele momento a minha cabeça estava em muitos outros lados.
Como podem ver a minha cabeça está mesmo no enfiamento da seteira e por motivos que agora não me lembro a cama não podia sair dali e então eu pensava não estará agora um Turra sem ofensa (como então dizíamos) a tirar-me as medidas à mioleira?


Outro passatempo era a copofonia e este sim bem mais agradável e também com outras consequências.

Quer numa fotografia quer noutra, já se nota que as instalações são novas e também já não íamos estar em Jolmete muito tempo e ainda bem.

Um abraço para todos e viva o nosso Blogue
Manuel Carvalho
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12449: O que é que a malta lia, nas horas vagas (17): Jornais, revistas, ordens de serviço, circulares, autos, correspondência, etc (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA da CART 2732, Mansabá, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12460: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): a festinha do João e da Vilma Crisóstomo... De Nova Iorque a caminho da Eslovénia onde o casal vai passar as festas do Natal e Ano Novo


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 1 > Um casal feliz, "just married"... de passagem por Portugal (3 dias), a caminho da França (de 3ª feira, 17,  a sábado, dia 19)... Destino final a Estónia, pátria da Vilma, onde os dois passarão o Natal e o Ano Novo.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 2 > Desta vez não foram os 300 convivas de há 3 ou 4 anos, mas mesmo assim o João (e a Vilma) conseguiu juntar uns cento e muitos de parentes e amigos. (Este ano ele limitou-se a pôr um anúncio no jornal regionalista Badaladas).

Nesta foto, vê-se um pormenor da foto de grupo. Das 15h da tarde até às 18h passou muito gente pelo recinto de festas da Associação de Desenvolvimento de Paradas, uma terra da freguesia de A dos Cunhados onde há trabalho, emprego, bem-estar, fé e confiança no futuro. O antigo Casal das Paradas é o lugar das Paradas onde os sinais de desenvolvimento, ligados ao "boom" da  horticultura forçada (estufas), são por demais evidentes...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 3 > Aqui sabe-se receber... à boa maneira portuguesa do oeste estremenho.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 4 > O camarada de armas do João Crisóstomo, que veio do norte com a esposa para lhe dar um abraço de parabéns... Há quase 50 anos que não se viam...  Trata-se do Júlio Martins Pereira, soldado de transmissões da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que entrou ontem,  pela porta grande, para o nosso blogue...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 5 > Uma família, ou melhor duas, que deu à Igreja Católica, 5 padres e 8 freiras... É obra!... Na foto, o João Crisóstomo com o padre Crispim, de 80 anos, ainda hoje a exercer funções como capelão de um lar de terceira idade em Torres Vedras. Franciscano, o padre Crispim fez questão de dizer que "um padre nunca se reforma"... [Foi colega e é amigo do nosso camarada Horácio Fernandes, ex-capelão militar (em Catió e Bambadinca, 1967/69), nascido em Ribamar, no concelho vizinho da Lourinhã].


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 6 > O casal João e Vilma Crisóstomo com alguns dos "amigos do Oeste" que fizeram questão de comparecer à sua festinha (que será badalada no jornal da região, "O Badaladas"): da esquerda para a direita, Luís Graça, Alice, João, Dina Silva, Jaime Silva, São (esposa do Eduardo, o primeiro da fila de trás, a contar da esquerda)...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 7 > Em primeiro plano, o Eduardo Jorge Ferreira, assinando os "versinhos" acabados de dizer aos amigos João e Vilma pelo Luís Graça, em nome dos "amigos do Oeste"... De pé, de perfil, a Alice.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 8 > "Dois amigos do Oeste", o Joaquim Pinto de Carvalho (que veio também acompanhado da esposa, a Céu) e o Eduardo (que é vizinho da família do João, em A-dos-Cunhados, mas que faz questão de me relembrar que é tão lourinhanense como eu, tendo nascido no Vimeiro...).




Vídeo (2' 23''). Alojado no You Tube > Nhabijoes

Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras. 15out2013. Tarde de convívios dos parentes das famílias Crisóstomo e Crispim e dos amigos e camaradas do João Crisóstomo, recém casado com a eslovena Vilma Kracun. O casal vive em Nova Iorque, e passou pela terra natal do João, a caminho da Eslovénia onde vai passar as festas do Natal e Ano Novo.. Intervenção  de Luís Graça, quwe disse uns versos (8 quadras populares), de homenagem ao casal... em nome dos  "amigos do Oeste".

Letra: Luís Graça

1
João Crisóstomo, eh pá!,
E Vilma Kracun, oh priga!...
Uma de lá, outro de cá,
Um rapaz e uma rapariga.

2
Formam os dois um belo par,
Esloveno-português,
Acabaram de casar,
Ela, doce, ele, cortês.

3
Dois mundos a separá-los,
Ela no velho [Europa], ele no no novo [América],
Vem agora abençoá-los,
Com amor, o nosso povo.

4
É o João um senhor,
Que faz o culto da amizade,
E amanhã comendador
Da Ordem da Liberdade.

5
Mordomo de profissão,
Portugal nunca esquece,
No verde e rubro coração
Onde a Pátria não esmorece.

6
Fez a guerra, coisa má
Lá nas terras da Guiné,
Finete e Missirá, 
Porto Gole e Enxalé,

7
Animador libertário,
Foi de causas defensor,
Do Cônsul Humanitário [Aristides Sousa Mendes]
A Foz Côa e a Timor.

8
P’ra um casal, lindo como este,
P’rá Vilma e p’ró João,
Dos amigos do Oeste
Vai um grande… xicoração!

Paradas, A-dos-Cunhados, 
15/12/2013

Os amigos do Oeste…Luís Graça & Alice, Eduardo Jorge Ferreira & São, Jaime Silva & Dina, Joaquim Pinto Carvalho & Céu… a que se associaram o Júlio Martins Pereira & esposa (Recarei, Paredes) e demais presentes, amigos e parentes das famílias Crisóstomo & Crispim.

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12297: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (77): Dois antigos camaradas da mesma unidade (CCAÇ 12), mas de épocas diferentes, sem grande tempo para se encontrarem em Lisboa, partem sábado, no mesmo avião, para Luanda, onde vão em trabalho...