segunda-feira, 21 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13427: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (19): Onde adquirir um exemplar (ou uma cópia) do Caderno de Poesias Poilão, editado em 1974, em Bissau


Guiné > Bissau > 1974 > Capa do documento policopiado do Caderno de Poesia Poilão", editada pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino. Cortesia do nosso camarada Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que vive no Fundão [, ex-ten art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74],

Foto: © Albano Mendes de Matos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Mensagem de uma nossa leitora, doutoranda no Reino Unido:

Data: 20 de Julho de 2014 às 19:01
Assunto: Caderno de poesia poilão

Caros senhores Luís Graça e Carlos Vinhal,

Cadernos da poesia "poilão".

Vi o vosso blog na internet com referência ao caderno (*), daí o contacto. Os senhores, por acaso, têm alguma cópia extra que queiram vender? Caso não tenham, teriam a amabilidade de me dizer como é que posso obter uma cópia desse livro o mais rapidamente possível, por favor?

Agradecendo antecipadamente a vossa atenção, apresento os meus cumprimentos.

2. Resposta de L.G.:

Cara leitora: Obrigado pelo seu contacto. A referência ao "Caderno de poesia poilão" vem num poste de 13/4/2014, assinado por Albano Mendes de Matos (*), membro deste blogue coletivo, que vive no Fundão, Portugal. Só ele pode arranjar-lhe um exemplar do livro de poesia em questão.
Vou dar-lhe conhecimento deste mail e do seu pedido.Fique com o contacto dele (...) (**).
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12975: Memórias dos últimos soldados do império (2): A aventura do "Caderno de Poesia Poilão", de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU (Albano Mendes de Matos)

(**) Último poste da série > 29 de janeiro de  2014 >  Guiné 63/74 - P12652: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (18): "A caça no império português", de Henrique Galvão e outros (1943) (Miguel Alves P. Joaquim / Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13426: Fotos à procura... de uma legenda (31): O mosteiro e o quartel da Serra do Pilar (onde esteve, no tempo da guerra colonial, o famoso RAP 2) vistos de um dos melhores (mas menos conhecidos) miradouros do Porto... Adivinhem qual?...O Jorge Portojo sabe mas não vai responder... (Luís Graça)


Foto nº 1 < Mosteiiro da Serra do Pilar, pertenceu aos padres crúzios. É hoje propriedade do exército.
Abriu recentemente ao público. Dias de abertura: de terça-feira a domingo. Horários: 9h30-17h30. Subidas ao zimbório: 10h30, 11h30, 14h30, 15h30, 16h30. Preço: 1 euros ou 3 euros, se incluir subida ao Zimbório. Portadores de Cartão Jovem e maiores de 65 anos têm desconto de 50%. Menores de 12 anos não pagam....


Foto nº 2 > Mosteiro da Serra do Pilar e tabuleiro da ponte D. Maria


Foto nº 3 > Mosteiro da Serra do Pilar e  a ponte de Dom Luís (1881/88)



Foto nº 4 > Casario do centro histórico do Porto, Rio Douro e cais de Gaia


Foto nº 5 > Sé do Porto (cuja origem remonta ao séc- XII)... É de estrutura romano-gótica, é um dos nossos mais antigos e mais importantes monumentos.


Foto nº 6 > Porto: Paço Episcopal , do séx. XVIII (fazer aqui visita virtual a 360º) e igreja de São Lourenço dos Jesuítas  (ou, mais popularmente  igreja e convento dos Grilos, séc. XVI-XVII).


Porto > 20 de julho de 2014 > O "Porto eterno" e o mosteiro e quartel da Serra do Pilar (séc. XVI e XVII) vistos de uma dos melhores (mas menos conhecidos) miradouros da cidade... Adivinhe-se qual é... (O Jorge Portojo sabe, mas não vai dizer... Ele é, de todos nós, o que mais conhece, ama e fotografa o Porto, Gaiia e a o rio que as une e separa...).. Do RAP 2 muitos camaradas nossos seguiram para a guerra colonial. É um património fabuloso, a conhecer e a visitar...

O miradouro em questão está localizado em pleno centro histórico do Porto, património da humanidade, em local nobre mas desprezado... E, imagine-se,  foi recentemente privatizado!... Há 40 anos que venho ao Porto e nunca tinha lá ido exatamente ao sítio onde tirei ontem estas fotos...

Fotos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

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Guiné 63/74 - P13425: Efemérides (166): Faz hoje 50 anos que o Pel Caç Ind 953 desembarcou a Bissau (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), com data de 18 de Julho de 2014:

Bom dia Luís
A continuação das melhoras.
Sou o ex-1.º Cabo do Pelotão Caçadores Independente N.º 953, António Paulo Bastos.

Venho lembrar que no próximo dia 21 de Julho faz cinquenta anos que este piriquito desembarcou em Bissau. Foi uma viagem sem muitos encontrões e sempre com bom tempo, a bordo do velhinho Índia.

No mesmo navio ia a CCS e Comando do BCAÇ 697 que foi para o sector L1, sede em Fá Mandinga. Também ia o Esquadrão 693, que foi para Bafatá, assim como muito pessoal de rendição individual.

Um abraço e a continuação das melhoras
António Paulo




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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Julho de 2014 &gt; Guiné 63/74 - P13419: Efemérides (165): Faz hoje 44 anos que o meu soldado e camarada Aladje Silá. natural da região do Boé, pisou a fatídica mina A/P, à minha frente, à entrada da tabanca de Sinchã Molele, no subsetor de Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11)

Guiné 63/74 - P13424: Blogoterapia (256): "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", para que as minhas memórias não se percam no tempo (Manuel Luís R. Sousa)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luis R. Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 27 de Junho de 2014:


SENTIMENTAIS AUTÓGRAFOS

Como é do conhecimento de alguns de vós, em 2012, escrevi, editei e publiquei o livro com o título "PRECE DE UM COMBATENTE – NOS TRILHOS E TRINCHEIRAS DA GUERRA COLONIAL".

É frequente ouvir dizer a nossos camaradas ex-combatentes que guardam religiosamente na velha mala que os acompanhou em campanha na guerra colonial boas e más lembranças desse tempo, e que ela só é aberta em momentos especiais em família, que os leva a reviver esse tempo difícil da sua juventude, revendo uma carta, um aerograma, uma fotografia, um objecto, etc.

Como ex-combatente que sou, também guardo a minha velha e carcomida mala, que me acompanhou nesses tempos, com danos visíveis provocados pelos solavancos das viaturas em que era transportada pelas sinuosas picadas do norte da Guiné e ainda impregnada de pó da terra vermelha que caracteriza aquele chão africano.

Como material perecível que é essa mala, e porque eu também não sou eterno, prevendo que um dia essas memórias ali guardadas se iriam perder no tempo, decidi então transferir todas essas lembranças para este livro, perpetuando assim as minhas memórias desse tempo.

Para quem não conhece o livro, e para contextualizar o significado dos meus autógrafos, fica a reprodução da contracapa do mesmo livro.

É uma súmula de todo o seu conteúdo, que retrata todas as vicissitudes porque passei em campanha, transversais a todos os meus companheiros de cativeiro de guerra, que são comuns, também, a todos aqueles que estiveram ao serviço da Pátria durante a guerra colonial:


“PELA PÁTRIA, LUTAR!

“A Portuguesa”, poema adoptado como Hino Nacional de Portugal a 19 de Junho de 1911, após a implantação da República, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, é um símbolo patriótico que, ao longo das suas estrofes, enaltece os feitos gloriosos de todo um “nobre povo”.

É arrebatadora a melodia dos seus acordes musicais que se misturam com o significado de cada palavra, cada verso, cada estrofe.

Esse enlevo atinge o seu auge, o seu pino, chega a ser arrepiante até, com a parte final do refrão, num dos seus versos, que exorta e apela também à luta em defesa do chão pátrio: “Pela Pátria, Lutar!”.

Ao fechar este livro, utilizei precisamente este verso, o “grito do Ipiranga” português, para sintetizar o conteúdo da obra, que retrata e traduz todo o esforço dos ex-combatentes, distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas Portuguesas, Exército, Marinha e Força Aérea, nas três frentes da guerra colonial, Guiné, Angola e Moçambique, que, em campanha, responderam a esse apelo patriótico, muitos deles com o sacrifício da própria vida.


Contracapa do Livro "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial"

Todo este rosário de adversidades suportadas em campanha, vincou os laços inquebrantáveis de amizade e companheirismo gerados entre os ex-combatentes, independentemente de eles terem pertencido a escalões hierárquicos militares diferentes, oficiais, sargentos e praças.

Toda essa diferença hierárquica se esbateu e o denominador comum a todos é o estatuto de ex-combatente.

Movidos por esses sentimentos recíprocos de afectividade que perduram no tempo tantos anos depois, eles não hesitam em calcorrear as estradas do país com destino a um ponte de encontro pré estabelecido, para, entre afectuosos cumprimentos, bom repasto e alguns copos bem bebidos, conviverem e lembrarem as peripécias de guerra, e não só, em que se viram envolvidos em campanha, ao serviço da Pátria.

É como que o renovar do oxigénio que lhes falta, consumido ao longo de todo o ano longe uns dos outros.

Como se tudo isto não bastasse para atestar os sólidos laços que os unem, e era aqui que eu queria chegar, nos autógrafos, ou dedicatórias, como quiserem, que tenho concedido aos companheiros que têm adquirido o livro, esse sentimento está bem presente.

Ei-los, alguns deles: 

“…O cheiro a pólvora queimada em campanha por terras de Jumbembém, Guiné, fortaleceu a nossa amizade”.

“…Os cumprimentos, estima e consideração do autor deste livro que, tal como tu, sob perigo iminente constante, trilhou as matas, bolanhas e picadas de Jumbembém, Guiné”.

“…A estima e o apreço que tenho por ti emergiu, por paradoxal que pareça, por entre vivências de guerra que tivemos em terras de Jumbembém, Guiné”. 

“…Matas, picadas e bolanhas, entre o troar de morteiros e o silvo das balas da “costureirinha”, lá em terras Jumbembém, Guiné, vincaram a amizade que nos une”. 

“…Trilhámos juntos as matas, picadas e bolanhas de Jumbembém, Guiné, entre ferradelas de mosquitos e cheiro a pólvora queimada. Essas vicissitudes uniram-nos para sempre na amizade”.

“…A perda de dois anos da nossa juventude da guerra colonial em que nos vimos envolvidos, concretamente em Jumbembém, Guiné, não foi em vão: Aí teve origem a amizade que nos une”.

“…A poeira vermelha das picadas de Jumbembém, Guiné, as ferradas de insectos, o troar de morteiros e canhões e o sibilar das balas são memórias indissociáveis do nosso inabalável companheirismo”. 

“…Por paradoxal que pareça, a nossa amizade emergiu dos destroços da guerra colonial, entre mortos e estropiados, em que nos vimos envolvidos lá em terras de Jumbembém, Guiné”.

“…Minas, canhões, morteiros, metralhadoras e outros artifícios bélicos, entre mortos e estropiados, atormentaram-nos a alma durante os dois anos de campanha na Guiné, em terras de Jumbembém. A nossa amizade, que aí teve origem, ameniza essas inesquecíveis e más memórias”.

“…De todas as tormentas de guerra que passámos juntos em Jumbembém, na Guiné, resultaram os laços de amizade que nos uniram para sempre”.

“…Quarenta anos depois, perdura a amizade que nos une, consolidada por momentos difíceis que nos martirizaram a alma na guerra em que nos vimos envolvidos ao serviço da Pátria, em terras de Jumbembém, Guiné”.

 “…A ansiedade que, juntos, vivemos entre mato e capim no isolamento e pavor da guerra de Jumbembém é hoje compensada com a afectividade e companheirismo recíprocos que nos ligam". 

“…A nossa inquebrantável amizade ficará sempre associada aos momentos marcantes em que nos vimos envolvidos na guerra colonial, na Guiné".

“A ti, António Bastos: 

Ofereço-te especialmente este livro para que, cada vez que o leres, em cada palavra e em cada história aqui expressas, sintas a simpatia e a estima de alguém que, tal como tu, em campanha ao serviço da Pátria, trilhou as mesmas matas e picadas do chão colonial da Guiné. Esse alguém que te está reconhecidamente grato pela teu abnegado esforço em prol do reencontro, muitos anos depois, de toda a nossa “família” militar de Jumbembém. Esse mesmo alguém é o teu companheiro de armas, amigo e autor:”

“Para ti, camarada Carlos Vinhal: 

Com os cumprimentos, estima e consideração de alguém que, tal como tu, há muitos anos atrás, se bateu em defesa da Pátria por trilhos e picadas da Guiné. Esse alguém é o teu camarada, companheiro de blogue, amigo e autor:”
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Fotografia dos ex-combatentes junto à vivenda do anfitrião José Carvalho de Sousa, assinalado pela seta.

Este último é uma dedicatória especial, a título póstumo, ao meu camarada José Carvalho de Sousa. Em Maio de 2011, organizou a festa de convívio da nossa companhia, a expensas suas, na sua própria casa, numa bonita vivenda em Ruivães, Vila Nova de Famalicão. Dois meses depois, voltávamos lá para o acompanharmos à sua última morada. Paz à sua alma.

“A título póstumo, ofereço especialmente este livro ao meu companheiro ex-combatente, José Carvalho de Sousa, nas pessoas da esposa, D.Goretti, e da filha, Alzira, para que, cada vez que o lerem, sintam a energia e a presença desse seu ente querido, em cujas histórias aqui contadas ele esteve envolvido, tal como eu, na defesa da Pátria. O amigo e autor”.

São estes os sentimentos expressos nos meus autógrafos que traduzem a sólida amizade que une os ex-combatentes.

Junho de 2014
Manuel Luís Rodrigues Sousa

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Nota do editor:

Ontem tive o prazer de receber em minha casa o nosso camarada Manuel Sousa, acompanhado da sua companheira, e namorada de sempre, Silvina.

Em conversa, fatalmente (des)caída para a Guiné e para o Blogue, percebi no Manuel um certo constrangimento quando referiu que me tinha mandado há já algumas semanas uma mensagem com um texto para publicar, precisamente o de hoje, e que eu não tinha dado resposta nem publicado.

À sua frente fui consultar o correio pendente, e lá estava um conjunto de  mensagens suas, por acaso assinaladas por outro motivo que não os seus Sentimentais Autógrafos.

Concluímos que o meu "esquecimento" se deveu à anexação da sua última mensagem a outras duas que nada tinham a ver com o assunto.

Face a este lamentável lapso, involuntário, peço novamente aos nossos amigos e camaradas que não mandem textos e fotos para publicação pendurados em mensagens de resposta ou reencaminhadas. Por favor preencham sempre o espaço "assunto" e dêem títulos aos textos, para não correrem o risco de o editor criar um título não do agrado do autor.

CV
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

2 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10219: Bibliografia de uma guerra (59): "Prece de um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", de Manuel Luís Rodrigues Sousa

17 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10811: Notas de leitura (440): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (Mário Beja Santos)
e
21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10835: Notas de leitura (441): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13412: Blogoterapia (255): Em homenagem a dois transmontanos, bravos soldados, o José Tomás Costa (CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), e o Tomás Baptista, meu irmão (Moçambique, 1966/68) [Francisco Baptista, ex-alf mil inf, CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Guiné 63/74 - P13423: (In)citações (68): A propósito do texto do Francisco Baptista, espelhado no post 13420, sob o tema "Lançados no mundo sem motivo nem explicação... difícil de levarmos a vida a um final digno" (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de hoje, 20 de Julho de 2014:

A propósito do texto do Francisco Baptista, espelhado no post 13420, sob o tema Lançados no mundo sem motivo nem explicação... difícil de levarmos a vida a um final digno*.

Viva Carlos!
Hoje venho a terreiro sob aquele pretexto em epígrafe.
Se achares bem, podes publicar esta mensagem, que pretendo uma espécie de contraditório, suave, mas a lançar dúvidas sobre as soluções entretanto vividas que conhecemos, e que alguns persistem em elevar à condição de verdades incontestáveis, naturalmente, com o inconfessado objectivo de fugirem a julgamento.
E se antes era a pobreza franciscana de uma super-estrutura arrogante, isolada, feudal e totalitária (chegou ao poder pelo movimento da "Ditadura", não escondia a estratégia), segue, ainda, o período da rebaldaria pseudo-democrática, que, provavelmente, dentro de poucos anos, vai reduzir o valor da minha pensão, para uma quantia inexpressiva e próxima da pobreza, afinal, mais condizente com o estado da nação. Mas continuo a ouvir o "lá vamos, cantando e rindo", enquanto continuarem a emprestar-nos (até que gerações?) para importarmos todos os bens necessários às nossas necessidades, e às que só alimentam negociatas, offshores e vaidades.

Após este género de intróito avisador, refiro que o Francisco Baptista voltou a brindar-nos com novo texto muito bem escrito e revivalista. Recorda com a facilidade das caracterizações feitas, uma espécie de espírito de aceitação, se assim puder dizer, necessário para nos convencer a combater pela pátria, nas condições de fragilidade que conhecemos.

Eu só fui incorporado em Janeiro de 69, mas antes percorri algumas direcções rurais do país, e lembro-me de ver muita gente que parecia não ter outra roupa para além da coçada que envergava, nem dispor de casa com as modernices de casa-de-banho, nem frequentar a escola com regularidade (apesar do ensino obrigatório, como hoje), nem dispor de apoios sociais institucionalizados. Por essas razões (ou como prevenção para elas), as famílias rústicas eram grandes e funcionavam solidariamente entre si. Só a título excepcional, não eram provenientes das elites os estudantes universitários. Outros, provinham dos seminários, tal como o "botas" inspirador.

O Portugal ultramarino era igualmente tão estagnado economicamente, e atrasado socialmente, quanto a metrópole, pobre, inculta, e atrasada no cotejo com os países próximos. Mas em África o calor permite a dispensa de agasalhos, e essa estranheza fazia-nos considerar aqueles pobres tão pobres, coitadinhos, que não se vestiam. O que havia era diferenças de circunstância, e contavam-se as estórias mais fantasiosas.

Nas colónias, os escassos "colons" (termo importado pelo Rosinha, mas com duvidosa correspondência na generalização), não podiam ser confundidos com os verdadeiros colonizadores, o que conferia algumas particularidades aos territórios sob administração (não o domínio) português. Os primeiros, fazendeiros e cantineiros penetravam no mato e fizeram de "bandeirantes" nas extensas áreas de Angola e Moçambique, muitas vezes constituíram família com mulheres indígenas, e constituíam a única ligação a um arremedo de civilização e à administração pública; os segundos, correspondiam aos dignatários do Estado e aos representantes das companhias que exploravam os recursos locais, minerais e agrícolas. Já os representantes das empresas de importação e exportação, pela natureza de funções, apareciam como cosmopolitas. Para estes últimos exercerem o predomínio sobre os primeiros, havia leis descricionárias, que também afectavam os poucos brancos nascidos em África. Brancos que brincaram, estudaram e trabalharam com pretos, com quem partilhavam e mantinham boas relações. Ou conduzir o camião carregado de café ou sisal, já seria manifestação de arrogância colonizadora?

Com o dealbar da guerra, acentuou-se a emigração para as colónias, com destaque para os milicianos que tinham acabado as suas comissões, e foram seduzidos pela riqueza local, o desenvolvimento, as oportunidades, e o modelo de vida informal. Assim, atrevo-me a referir que a maioria dos brancos não colonizaram, antes, integraram-se nas sociedades urbanas cujos serviços asseguraram as necessidades da crescente população, tanto no público, como no privado. A distinção relativamente à maioria da população, resultava das qualificações e remunerações correspondentes, como em qualquer parte do mundo. Mas os autóctones que, cada vez mais, exerciam as mesmas funções, ganhavam o mesmo sem discriminações, com as mesmas diferenças em relação à massa de que provinham. A população harmonizava-se com diferenças sociais equivalentes às da metrópole, mas, no geral, com relacionamentos muito naturais, até amistosos.

Não posso, por isso, confundir as formas de meditação monásticas com dependência de princípios dogmáticos (aceitação tácita e sem contraditório possível), com a inventariação desapaixonada e despreconceituada dos factores de condicionamento ou de expansão social (até certa altura muito parecidos com os que caracterizavam a sociedade metropolitana, com uns poucos ricos e influentes, com outros atraídos pela emergente sociedade urbana, e com muitos outros que, agricultores, pescadores, ou proletários, com as dificuldades raiavam nas margens da pobreza). Aquela nova forma de vida exigia romper com a dependência legislativa, económica e administrativa da metrópole, o que equivalia ao cometimento de um pecado, não necessariamente mortal, pelo que, convenço-me, em Abril de 74 já se davam passos seguros e sistematizados com vista à autodeterminação. Os 3 dês do programa do MFA, Democratizar, Desenvolver e Descolonizar, como pode constatar-se, não passaram de intenção para justificar o golpe, e os capitães envolvidos, com um bouquet de oficiais generais e graduados em generais a "dar-lhes" "credibilidade", revelaram total incompetência e aspectos pessoais altamente negativos, do que resultou a trágica descolonização.

O meu gosto pela história ganha foros de fascínio no que respeita à presença dos portugueses em África, e à capacidade de adaptação e relacionamento evidenciada desde os pioneiros.

Agradeço ao Francisco a oportunidade que me deu para expor o meu ponto de vista, e agradeço a paciência dos que leram.

Para o Carlos, para o Francisco e para o Tabancal, envio um abraço fraterno
JD
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13420: (In)citações (68): Lançados no mundo sem motivo nem explicação, estamos sós no cumprimento desta missão difícil de levarmos a nossa vida a um final digno (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P13422: Notas de leitura (614): “Pluralismo Político na Guiné-Bissau", coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
A conjuntura sociopolítica da alvorada do multipartidarismo na Guiné-Bissau foi objeto de estudo científico e este livro comprova-o.
Autores conceituados pronunciam-se sobre os porquês do fracasso económico do autoritarismo do PAIGC depois da independência e quais as etapas que precederam a aceitação da democracia multipartidária; a sociedade civil, inicialmente manietada pelo Partido-Estado, não só não estilou como se desenvolveu, como recusa, à volta da poderosa tradição das mandjuandades.
Em suma, não se deverá estudar este período que precedeu as eleições de 1994 sem ler estas peças cuidadas e rigorosas de investigação.

Um abraço do
Mário


Pluralismo Político na Guiné-Bissau: 
Para a história da transição para um multipartidarismo, desde 1992 (1)

Beja Santos

“Pluralismo Político na Guiné-Bissau”, coordenação de Fafali Koudawao e Peter Karibe Mendy, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau, 1996 é um conjunto de quatro ensaios assinados por autores credenciados, a saber: Peter Karibe Mendy, ao tempo diretor do INEP e autor do livro Colonialismo Português em África: A tradição de Resistência na Guiné-Bissau, 1879-1959; Fafali Koudawao, doutorado em Genebra e investigador; Mamadu Jao, atualmente diretor do INEP e ao tempo coordenador do Centro de Estudos da História e Antropologia do INEP; Carlos Cardoso, doutorado em Filosofia e antigo diretor do INEP. A despeito de a generalidade das análises estar ultrapassada pela vertigem dos acontecimentos, são testemunhos irrefragáveis, da maior importância para o estudo histórico daquela conjuntura em que foram depositadas inúmeras esperanças.

A Guerra Fria fazia parte do passado, esboçava-se uma nova ordem mundial, o socialismo leninista fora repudiado, qualquer forma de atração pelo coletivismo era contestada. Entrara-se num programa de ajustamento estrutural e a democratização do sistema político, se bem que timidamente, ganhava foros de doutrina oficial, emendou-se a Constituição para abolir a referência ao PAIGC como partido-estado, houve eleições multipartidárias em junho de 1994, o PAIGC e João Bernardo Vieira foram reconduzidos no poder. Os debates políticos e académicos mudaram de natureza, voltou-se a estudar o colonialismo, o neocolonialismo e a singularidade política do PAIGC. É neste contexto que devem ser apreciados os quatro ensaios que enformam este livro.

Peter Karibe Mendy debruça-se sobre a emergência do pluralismo político, considera que na sua génese pesam a erosão institucional, a instabilidade política e as expressões internas e externas para instaurar o pluralismo político. A democracia revolucionária de Cabral, lembra Mendy, exigia descentralização, comités de aldeia, tribunais populares e nunca a concentração do poder a partir de Bissau, de onde se expandiu a burocracia, a psicose da segurança do Estado e o afastamento progressivo entre o PAIGC e as massas. Viveu-se a fase de um autoritarismo político em que o PAIGC baniu rapidamente todas as organizações ou atividades políticas que escapavam ao seu controlo, estabeleceu-se a política da unanimidade que se reforçou com autoritarismo implacável de Nino Vieira. A crise económica é produto de uma guerra de libertação que levou à destruição de importantes infraestruturas e êxodo rural, a Guiné possuía uma economia rural com um grau de desenvolvimento incipiente e a estratégia adotada depois da independência não fez grandes tentativas de romper com o passado, apesar da ênfase no desenvolvimento industrial. A estratégia de economia planificada e a crescente intervenção do Estado revelaram-se desastrosas. Como recorda o investigador, em lugar de desenvolver a agricultura, os fundos públicos foram empregues em importar produtos destinados principalmente ao consumo das áreas urbanas. Com o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 anunciou-se que se voltava à linha de Amílcar Cabral, a modernização da agricultura. A crise económica não abrandou e em 1983 o governo teve de adotar um programa de estabilização financiado pelo FMI e pelo Banco Mundial, a que se seguiu o programa de ajustamento estrutural. Estava dado o mote para a liberalização política. E o autor observa que esse processo de democratização “tem ainda que testemunhar uma verdadeira mudança de poder, do Governo por indivíduos para os poucos relativamente privilegiados, para o Governo por indivíduos para a maioria empobrecida”.

Fafali Koudawao debruça-se sobre a sociedade civil e a transição pluralista na Guiné-Bissau. Recorda como o PAIGC, após a independência ocupou todo o espaço social, refletindo assim: “Passou-se de um regime colonial para um regime de Partido-Estado, extremamente centralizador e repressivo, que aspirava controlar todos os aspetos da vida nacional, não só política e económica, mas também e sobretudo social. A concretização do novo projeto foi procurada através de uma estratégia de omnipresença quer do Estado quer de organizações de massas vocacionadas para representar, canalizar e remodelar as aspirações do povo”. Tratou-se de um enquadramento que procurou impor-se à sociedade que colaborara com o antigo colonizador, tornou indiscutível o Estado binacional (Guiné-Cabo Verde) e quis garantir a segurança nacional contra quaisquer opositores à lógica do Estado. Mas importantes franjas sociais passaram ao lado desta lógica, caso dos grupos de mandjuandade, que constituíram refúgio para a população que procurava manter um espaço de atuação autónoma.

A ideia do partido de Estado esfarelou-se com processo de democratização, mas as reações de contestação já vinham de longe e tornaram-se mais imperiosas com a liberalização económica, a partir de 1986. As ONG cresceram em número exponencial: eram 20 nos anos de 1970, 50 nos anos de 1980 e mais de 70 em 1976. Emergiu o sindicalismo independente que alterou em profundidade a estratégia da UNTG. Multiplicaram-se as associações socioprofissionais, as associações provinciais, regionais e até de aldeias. Houve ONG que se mostraram ativas no período eleitoral, caso da Liga Guineense dos Direitos Humanos, outras mostraram neutralidade sem perda de atenção, caso dos sindicatos e houve um grupo de organizações que adotou um baixo perfil ao longo de período eleitoral, caso da Associação de Jornalistas da Guiné-Bissau. Assistiu-se ao desenvolvimento e a uma complexidade crescente do xadrez de interesses públicos, e o autor observa que é uma questão importante a evolução em curso na rede das mandjuandades, as quais se tem vindo a transformar progressivamente num substituto das antigas organizações de massas, agora em declínio, e escreve: “Na sequência da liberalização política e da implosão das organizações de massas, o potencial ainda inexplorado das mandjuandades tornou-se um evidente objeto de cobiça para os partidos políticos. A nova estratégia para a sua recuperação manifestou-se com a criação da Associação de Mandjuandades do Setor Autónomo de Bissau, em outubro de 1993 (a iniciativa tinha por detrás Isabel Romano Vieira, mulher de Nino). Dado o comportamento anterior das mandjuandades como uma forma endógena, informal e adaptada de expressão da sociedade civil, a evolução a médio prazo da sua rede é uma das tendências mais interessantes de observar”. Mas foi clara a posição de distanciamento de muitos grupos da sociedade civil durante as eleições. Fafali Koudawao enuncia uma pertinente leitura das atividades das ONG, com realce para aquelas que se dedicam ao desenvolvimento económico, à defesa de direitos e à promoção da opinião e da proteção da natureza, procura encontrar justificação para o novo impulso sentido no sindicalismo depois da democratização e quais as suas manifestações reivindicativas. Ao tempo, o investigador considerava como altamente provável a consolidação deste processo de enraizamento da sociedade civil. Como se sabe, as coisas não se vieram a passar assim.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13411: Notas de leitura (613): “Wellington, Spínola e Petraeus, o Comando Holístico da Guerra”, por Nuno Lemos Pires (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13421: Fotos à procura... de uma legenda (30): O aquartelamento da Academia Militar na Amadora, 1963: um regresso ao passado (Tony Levezinho, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71; régulo da Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal)



Oeiras, Amadora > Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > 1963  >  A Academia Militar toma esta designação em 1959, e tem o seu antecedente histórico na Escola do Exército, fundada em 12 de Janeiro de 1837 pelo Marquês de Sá da Bandeira. A sua sede é no Paço da Raínha ou Palácio da Bemposta, na Rua Gomes Freire, em Lisboa,. com um polo nma Amadora, desde 1959.

Por sua vez, o município da Amadora foi criado em 11 de setembro de 1977, por secessão das freguesias da Amadora e da Venteira, do nordeste do concelho de Oeiras. Entre os seus símbolos, contam-se o Aqueduto das Águas Livres, bem como os campos de aviação que tiveram tanta importância na emergência da aviação em Portugal, sendo que ainda hoje o Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa se situa no concelho, na freguesia de Alfragide. Na foto acima, veem-se os primeiros prédios da Reboleira, mais tarde freguesia, hoje extinta com a divisão municipal de 2013. Vuzinhos da Academia Militar foram, durante muitos anos, a Isabel e o Tony Levezinho a quem lancei há dias o desfasio  para comentar esta  foto do Virgínio Briote: "Junto te envio a tal foto da Academia Militar em 1963... Escreve uma legenda, .revisitando a tua infância e adolescência"...(LG)

Foto: © Virgínio Briote (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Texto de António Levezinho a quem o nosso editor L.G. pediu uma legenda para a foto acima reproduzida: 


A Propósito da Foto da Academia Militar datada de 1963
por Tony Levezinho 

[, foto à esquerda, em Bambnadinca, 1969, tendo à sua esquerda o Humberto Reis e o Luís Graça, os três fur mil da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1969/71]

Com os meus 7 anos de idade fui para a Amadora e morávamos mesmo no "coração" da vila (então freguesia do concelho de de Oeiras),  junto à estação da C.P., e poder-se-á dizer que as instalações da Academia Militar ficavam bem já fora do centro, aliás, foi naquele espaço que a Aviação Portuguesa iniciou o seu caminho.

Em miúdo, corria a segunda metade da década de 50, de quando em vez, eu e os outros companheiros de então, por exemplo o António José Pereira da Costa (o Tozé) lá arriscavamos um tabefe dos pais por nos pirarmos para os campos circundantes da Academia, naquela altura, ainda searas de trigo.

Começava então a nascer o bairro da Reboleira - a Cidade Jardim (pois...pois J. Pimenta! - lembram-se do slogan publicitário?)  e a foto em apreço já testemunhava o aparecimento dos prédios anormalmente altos  para a época, mas, ainda assim, implantados numa zona reletivamente distante da área militar da Académica.

Casei em 1970, no intervalo da comissão na Guiné,  e quando regressei, a Isabel tinha, entretanto, alugado um 1º andar de um prédio de apenas 3 pisos, esse sim, bem em frente à porta de armas da Academia, a uma distância desta de não mais do que 80 metros, o qual iria ser o nosso ponto de partida para a vida, a dois e, não muito depois a três e, logo a  seguir, a quatro.

Ali, na verdade, construÍ família e disfrutei da felicidade de muitos serões com os melhores amigos, ao longo de uns bons 35 anos.

O Humberto Reis, o José Carlos Mendes Ferreira (o saudoso Zé Carlos) e também o Luis Graça, contam-se entre os camaradas de armas que me deram o prazer da sua companhia, naquele local que foi a minha habitação.

Embora nascido em Lisboa e agora  residente, quase permanente, em Sagres, a verdade é que a parte mais significativa, em termos familiares e de amizades, da minha vida, foi partilhada em regime de boa vizinhança com a Academia Militar da qual recordo ainda os toques de clarim, sobretudo, os  matinais de alvorada e os da 1ª refeição .

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13337: Fotos à procura... de uma legenda (29): O menino... soldado de Madina do Boé, a G3 e a Kalash... (Manuel Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)


domingo, 20 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13420: (In)citações (68): Lançados no mundo sem motivo nem explicação, estamos sós no cumprimento desta missão difícil de levarmos a nossa vida a um final digno (Francisco Baptista)

1. Texto do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviado em mensagem com data de 15 de Julho de 2014:

Na década de 60 éramos uma juventude antiquada como os pais, como os mestres e os governantes que tínhamos. A revolução das ideias, dos costumes, sexual, musical, desfraldava bandeiras empunhadas por uma juventude insatisfeita e eufórica da Europa desenvolvida, mas embatia nos Pirinéus que dificultava a sua entrada na Península Ibérica de Franco e Salazar.

Somente algumas camadas de jovens urbanos e universitários conseguiam decifrar algum do significado dos novos tempos que se anunciavam. Maio de 68, tumultos, greves, a revolução nas escolas e na rua, a adesão dos sindicatos quase o caos na França, com De Gaulle, esse herói e patriota da 2.ª Grande Guerra, amedrontado a convocar as Forças Armadas para suster essa revolta que os velhos do regime não entendiam pois toda essa juventude, filha da sociedade de consumo tinha atingido o melhor nível de bem-estar da terra de todos os tempos.

Juventude que reclama outra ordem de prioridades e valores que as suas necessidades espirituais exigem. Ter tudo, falando de bens materiais cria no homem uma insatisfação maior do que não ter nada, ter tudo é o fim dos desejos. Os ideais não se compram nem se vendem, são um estado de espírito que não é transacionável, estão para lá da sociedade de consumo A sociedade capitalista nada oferece a não ser bens consumíveis e descartáveis, a juventude quer ideais que a galvanizem e por vezes à falta de melhor foi copiá-los ao leste ou ao oriente.

Nesse tempo a juventude portuguesa no geral pobre e pouco instruída, habituada a ler e estudar pelos livros que o regime aprovava era conduzida para três guerras longe de casa, que não compreendia muito bem, mas que estava de acordo com os manuais de história que tinha lido. Em levas sucessivas embarcavam no cais de Alcântara como guerreiros, em defesa do Império Português, o último baluarte da cristandade e dos valores da civilização ocidental. No cais uma multidão de familiares e amigos, chorosos mas conformados que acenavam lenços num último adeus e que a televisão única transmitia como sinal de dor e de patriotismo das nossas gentes.
No Uíge, no Príncipe Perfeito ou outros, seguiam viagem a sulcar o Atlântico somente ou também o Índico, em navios superlotados e com muitos soldados no porão em condições miseráveis para quem ia defender uma causa tão nobre. Foi a segunda cruzada dos pobres, agora liderada não por Pedro o Eremita, mas por Salazar que não a comandou, pois nunca conheceu África. Mal alimentados, mal treinados, mal armados mas com a cruz ao peito e com a fé inabalável éramos os novos cruzados prontos a dar a vida pela reconquista de Jerusalém. Alguém que sempre nos quis humildes, miseráveis e tementes a Deus, exigiu-nos também no final da sua vida o sacrifício supremo da nossa.

Os ingleses na Índia, os franceses na Argélia, os russos no Afeganistão, os americanos no Vietname, grandes potências mundiais, nada comparáveis connosco em poder económico e militar, perderam essas lutas militares e políticas. Nós para infelicidade de muitos compatriotas nossos: militares que por lá ficaram mortos ou mutilados e civis que por acreditarem na propaganda do regime alimentaram esperanças de que a nossa bandeira nunca seria desfraldada nessas áfricas e depois sofreram o choque dessa descolonização abrupta, com as perdas emocionais e materiais que todos conhecemos.

Infelizmente a guerra criou desconfianças e atritos que uma descolonização mais antecipada teria evitado.

Vietnamitas feridos recebem ajuda na rua, após a explosão de uma bomba em frente à embaixada americana em Saigão, Vietname, 30 de março de 1965. (AP Photo / Horst Faas)

Foto e legenda: Com a devida vénia a Escomm Brasil

Aos que dizem que hoje os povos da Guiné, Angola e Moçambique estão com piores condições de vida, tanto alimentar, como de saúde, para falar só das essenciais, eu respondo que têm razão. Também é verdade que há falta de democracia (isso já antes era assim) e a corrupção é muito maior do que em Portugal. Porém a História tem-nos ensinado que as nações se constituem e fortalecem quando os povos que as integram, com o decorrer dos anos e a experiência acumulada aprendem a libertar-se dos corruptos e tiranos internos, depois de se terem libertado dos colonizadores externos.
Esse esforço demora anos, por vezes séculos.

Era importante que os povos soubessem guardar a memória dos males e sofrimentos passados, o que por vezes se torna difícil, ou porque não são instruídos para ter acesso à sua leitura ou porque a História foi escrita a pedido de réis e ditadores.

Depois de voltar da Guiné tive um sonho que se repetiu muitos anos: Sonhava que tinha voltado lá como combatente e eu perguntava sempre aos meus comandantes, porquê eu, se já lá tinha estado. Nunca obtive resposta e nunca consegui decifrar bem este sonho.

O meu gosto pela história e pelo estudo do passado leva-me a sonhar, que sou um velho crente da Idade Média, ou que sou um monge templário do tempo das cruzadas e do tempo das grandes catedrais góticas, Catedrais que parecem autênticas moradas de Deus, onde reina o silêncio ou onde o som do órgão e dos cânticos se difunde com tanta suavidade. Tão imponentes que subjugam pela imensidão, pela altura e pelos contornos e beleza das esculturas dos arcos, colunas e volutas.

Sonho que sou esse velho crente ou que sou esse monge regressado das cruzadas que pede a um sábio, a um filósofo, a um deus que dê resposta às minhas perguntas sobre, a vida, a morte, a paz e a guerra.

Já não há mosteiros com monges em meditação, já não há santos vivos, as catedrais hoje são monumentos vazios à espera da visita dos turistas.
A sociedade civil hoje é cada vez mais laica, a sociedade religiosa é cada vez mais farisaica.

Os filósofos modernos morreram depois de matarem os deuses. Lançados no mundo sem motivo nem explicação, estamos sós no cumprimento desta missão difícil de levarmos a nossa vida a um final digno.

Grande abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13407: (In)citações (67): A Exposição Colonial Portuguesa de 1934 versus A literatura sobre os "impérios europeus" (Mário Beja Santos / Carlos Nery / José Brás)

Guiné 63/74 - P13419: Efemérides (165): Faz hoje 44 anos que o meu soldado e camarada Aladje Silá, natural da região do Boé, pisou a fatídica mina A/P, à minha frente, à entrada da tabanca de Sinchã Molele, no subsetor de Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11)




Guiné &gt; Zona Leste &gt; Setor L6 (Pirada) &gt; Paunca &gt; CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche,  Paunca, 1969/70) &gt; Foto da secção do fur mil Abílio Duarte, com o Aladje Silá, em primeiro plano, assinalado com um círculo a vermelho. O Duarte está por detrás dele, de pé, a arma ao ombro. Recorde-se que a CART 11 / CCAÇ 11 era formada por soldados de 2ª linha, provenientes da evacuação de Madina do Boé, Cheche e Beli, ao sul do Rio Corubal. O Abílio Duarte integra a nossa Tabanca Grande desde 27/8/2010.

Foto: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


1. Mensagem,. de 12 do corrente,  de Abílio Duarte 
[ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de  1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; bancário reformado; foto atual à diireita]


Olá, Luís,

No próximo dia 20, passa mais um ano (faz 44 anos!) do fatídico dia em que faleceu o meu companheiro de muitos dias e noites vividos nas matas do leste da Guiné.

Quero neste momento recordar o ser humano, não um mais número nas estatísticas, apesar de o seu nome estar gravado no monumento aos mortos da Guerra Colonial [, em Belém, Lisboa,]  e por isso não será esquecido.

Lidei com ele durante muitos meses, desde a recruta, até aquele desgraçado dia.

Junto remeto a folha da história da minha companhia que relata o acontecimento, e fotos dele, e dos sítios onde nasceu e faleceu.

Não quero deixar de dar a minha explicação para o que aconteceu, pois estava bastante próximo.

Quando o Pelotão se aproximou da tabanca em causa [, Sinchã Molele, a noroeste de Paunca.], era já bastante de noite, mas estava uma noite de luar, que parecia que a tabanca estava debaixo de um holofote.

Entre a mata onde estávamos instalados e a tabanca havia um campo de cultivo de mancarra, o que dificultava a entrada para a mesma, pois era a céu aberto e muito iluminada. Na altura,  o Pelotão era chefiado pelo furriel Cândido Cunha, pois julgo que o Alf Martins estava de férias. Foi decidido enviar alguém que fizesse o reconhecimento do que se passava, e para isso foi lá o guia que nos acompanhava. Ele voltou e comunicou que não havia inimigo e só pessoas feridas.

Então o pelotão preparou-se para entrar na tabanca, em fila com alguma distância entre os militares. Eu era o terceiro elemento depois do guia e do Aladje.

Quando estávamos a chegar à abertura da paliçada , cujo trilho nos conduzia, apareceu um elemento da tabanca, aos gritos e a chamar a nossa atenção.

Aproximei-me do Aladje e disse-lhe;
- Aladje,  vê lá o que o homem quer... 

 Pum!!!... Foi um momento que não consigo esquecer. O que o homem estava a tentar fazer era para nos alertar que o trilho estava minado, o que foi demasiado tarde.

Depois do estrondo, da chama e do pó que se levantou, ninguém no momento sabia o que se estava a passar, se era emboscada, morteiro, confusão.

Só quem passa por elas é que pode explicar, se é que consegue, em momentos como aqueles. E assim se perdeu uma vida. Paz à  sua alma, e que Alá o guarde.

O Aladje era natural de uma tabanca perto de Che Che [, a sudeste,  junto ao Rio Corubal, na estrada para Madina do Boé,], chamada Marià, e faleceu em Sinchã Molele.

 [...] Não te incomodo mais, e mais uma vez os meus agradecimentos pela existência do Blog.

Um Abraço
Abílio Duarte



Guiné  &gt; Zona leste &gt; Região de Gabu &gt; CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) &gt;  Algures no mato:  O fur mil art Abílio Duarte, com soldados do seu pelotão.



O Sold Aladje Silá foi um dos mortos da CART 2479 / CART  11 que se formou, em Contuboel, na mesma altura da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12. O seu nome figura no mural com os nomes dos mortos na guerras do ultramar, no Monumento aos Combatentes do Ultramar, no forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa. Morreu a 21/7/1970. Está sepultado no cemitério fula de Nova Lamego.

Fotos: © Abílio Duarte (2010). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)




CART 2479 / CART 1969/71) &gt; História da unidade - Cap II -Pág 70



Carta da província da Guiné &gt; 1961 &gt; Escala 1/500 mil &gt; Zona leste &gt; Região do Boé &gt;  Posição relativa da tabanca de Mária, no triânguilo, Ché Ché - Madina do Boé - Belel. O Aladje Silá era natural daqui.


Carta da província da Guiné &gt; 1961 &gt; Escala 1/500 mil &gt; Zona leste &gt; Região de Gabu &gt; Posição relativa de Paunca, tendo a noroeste Sinchã Molele, e a nordeste Pirada (junto à fronteira com o Senegal). Foi em Sinchã Molele que morreu o Aladje Silá, em 21/7/1970, sequência de uma mina A/P accionada na noite de 20/7/1970. Ficou também ferido, mas sem gravidade, o Abílio Duarte.

Infografia: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)
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Nota do editor:

Último poste da série &gt; 14 de julho de 2014 &gt; Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

sábado, 19 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13418: Convívios (615): I Encontro de Paraquedistas do Oeste, dia 6 de Setembro de 2014, no Vimeiro (Lourinhã)



I ENCONTRO DE PARAQUEDISTAS DO OESTE

6 DE SETEMBRO DE 2014 NO VIMEIRO (Lourinhã)

Os PARAQUEDISTAS, sócios da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste - (Associação aberta a todos os Combatentes dos três Ramos das Forças Armadas), estão a organizar o I ENCONTRO DE PARAQUEDISTAS DO OESTE que terá lugar no próximo dia 6 de setembro de 2014 no Restaurante Braga, no Vimeiro (Lourinhã).

Este Encontro tem como objetivo juntar, num saudável convívio, todos os que tiveram a coragem de conquistar, com o seu esforço e sacrifício, o direito de usar uma BOINA VERDE e, também, o prazer de se poder lançar livremente da porta de um avião em pleno voo.

Este encontro será aberto aos familiares e amigos dos PARAQUEDISTAS.

No grupo dos nossos AMIGOS, que gostaríamos que estivessem connosco no Vimeiro, incluímos, também, todos os camaradas de Armas dos outros Ramos das Forças Armadas que, de algum modo, estiveram ao nosso lado e nos apoiaram nas inúmeras operações que os PARAQUEDISTAS realizaram em África.

Lembro os camaradas da Marinha (Fuzileiros e Marinheiros), os camaradas da Força Aérea (Pilotos e Mecânicos dos aviões e helicópteros e de outras especialidades) e os do Exército (as Companhias que nos acolheram e apoiaram em pleno mato, bem como as companhias de Comandos com quem partilhámos muitos sacrifícios em África).

Na Guiné, em Angola e Moçambique, nos momentos difíceis de apoio mútuo ou de convívio salutar, fizemos muitos e bons amigos que se prolongaram até hoje, na nossa vida. É por isso que gostaríamos, também, de os rever e de os ter connosco no Vimeiro.

O ENCONTRO terá, pelas onze horas, um momento de grande significado para todos nós que participámos na Guerra em África, quando evocarmos junto ao Monumento dos Combatentes na Lourinhã a memória dos nossos camaradas que tombaram ao serviço de Portugal. Entre eles está o Paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins, morto na Guiné em 15.4.1971.

Todos, serão bem-vindos. 
Jaime Silva 
(1.ª CCP – BCP 21 /1970 – 1972)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13417: Convívios (614): Rescaldo do último Encontro da Tabanca da Linha, levado a efeito no passado dia 17 de Julho de 2014 em Cascais (José Manuel Matos Dinis / Manuel Resende)

Guiné 63/74 - P13417: Convívios (614): Rescaldo do último Encontro da Tabanca da Linha, levado a efeito no passado dia 17 de Julho de 2014 em Cascais (José Manuel Matos Dinis / Manuel Resende)

1. Texto chegado ao Blogue em mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 18 de Julho de 2014:

O sol brilhava e transmitia quase tanto calor como aquele que nos aquecia nos matos da Guiné. O céu limpo permitia uma extensão visual, que descia da elevação verde onde está implementado Oitavos, e perdia-se no horizonte em rumos para a Madeira, Açores e Novo Mundo. Uma brisa marítima, fresca e agradável, completava um ambiente harmonioso para conviver. Convívio entre amigos. Amizades consolidadas por tantas incertezas e sacrifícios. Se fosse um cronista oficial, poderia dizer, amizades que medraram pela solidariedade patriótica.

Não vem ao caso, mas naquela época ainda não havia offshores, e a trafulhice não era à descarada. Entre nós, alguns de esquerda, onde comecei a dar atenção à política, todos sofríamos por igual, à parte uns bafejados pela cunha que lhes permitia gozarem as delícias de Bissau e arredores curtinhos. Mas a malta aguentava e alimentava a esperança de felicidades futuras. De um modo geral, e apesar das nuvens negras que se adensam sobre os nossos ares, temos vivido com alegrias, que devem sobrepor-se às tristezas, e dão-nos alento para os apetecidos encontros.

Quando lá cheguei com o Mata, viam-se viaturas no estacionamento amplo, mas do pessoal, nicles! Imaginei o pior, que se tinham antecipado numa desenfreada comezaina, e cheguei a recear pela minha parcela da ração. Acentuou-se o receio quando pus o pé no interior, e logo S.Exa. o Senhor Comandante, de rissol em punho fez avançar a proeminente pança, que isso de proeminências não é para todos, só para quem as merece. Um sorrizinho velhaco, e lá se desculpou, que só ele estava a comer, porque tinha jejuado até então. Em linguagem economicista, acho que se pode dizer, que S.Exa. o Senhor Comandante estava a rentabilizar o negócio. Logo a seguir levava outro rissol numa mão, e passeava um copinho com tinto, na outra, que ele orgulha-se de ser ambidestro. Entretanto eu ia levando uns porradões, que é uma forma simpática de cumprimento entre os veteranos. Agora que já dormi com pomadas milagrosas e as dores já amainaram, vou passar ao breve relato.

Fui conhecendo caras novas, quer de piriquitos, quer das respectivas piriquitas, todos abertos em sorrisos simpáticos e a pensarem que estavam no melhor dos mundos. À medida que se relacionavam, via-se que as conversas fluíam com à-vontade e alegria. Com um certo ar de revivalismo guineense, vieram dizer-me (seria uma queixinha?) que não havia água a bordo, o que é sempre desejável, não vá de acontecer a nau inverter-se de funções. Ainda assim, junto do gerente tomei conhecimento de uma indesejada rotura no percurso de abastecimento, que já durava havia uma hora, mas que o arroz estava garantido com água do Luso.

E tocou a reunir. Fui o último a sentar-me numa mesa quase de veteranos, onde pontificou um jovem casal principiante nestas andanças. A comedoria foi quase da qualidade da anterior, que me pareceu melhor servida. Mas o Esteva portou-se à altura, e foi secundado por um branco de Vale de Barris, em Palmela, adocicado do moscatel, que mereceu grandes encómios de alguns meninos brutos, então rendidos à frescura doce que lhes dava um certo ar... Eu cá não tenho preconceitos, sou como o Jacinto, mas vinho branco só o bebo às escondidas, ou em situações de restrição acentuada, e tem que ser seco. Para doçuras, já chegam as da minha psicóloga.

Com a aproximação das sobremesas, também estas a pedirem rectificação, pois acho preferível menos diversidade, mas melhor qualidade e mais quantidade, já se estrilhava na sala com conversas cruzadas, em correspondência com a descompressão que sucede aos combates. O António Graça de Abreu,  muito atencioso, ia espalhando a sua mensagem, pela amostra de dois dos seus títulos livrescos, e ameaçava que lá para Setembro não sabe se voltará, se vai até à China. Pois se for, que faça boa viagem, e no regresso que traga mais versículos dos eróticos poetas de olhos em bico (se vier a provar-se esse ascendente sedutor sobre o elemento feminino, ainda vamos constatar a realização de plásticas entre alguns dos melhores de nós).

O balcão registava o fluxo daqueles carentes de lubrificações digestivas, e a manta de gente, alargava-se até ao exterior. Entretanto, providenciei a S.Exa. o Senhor Comandante, o incontornável prazer de receber as massas competentes, e certificar-se da boa disposição de cada um. Já no exterior, quedaram cinco "rapazes" à conversa, e como os toldos proporcionavam sombras muito agradáveis, ali nos sentámos à conversa, com o horizonte completo de um mar-chão, que aliciava para cruzeiros livres de Adamastores. O Manel Joaquim mostrava a grande capacidade para a palheta, o Rosales mano mostrava conhecer mais da Guiné que o Mata (estudou muita geografia e domina os azimutes), o Mata mostrava ser um sonhador da produção biológica (se alguém tiver um terrenozinho para horta e uma casa habitável, façam o favor de informar, que ele anda a sonhar com enxadas e outras alfaias), o Carlos Silva mostrava ares de satisfação e gozava o ambiente, e cá o escrevente mostra ser um cabeçudo, incapaz de segurar as ideias da conversa, para delas dar aqui testemunho verdadeiro.

Foto 1 - António Marques em conversa comum camarada náo identificado

Foto 2 - Mário Fitas, Gina (esposa do António Marques),   Maria Helena (esposa do Mário e outra senhora não identificada

Foto 5 - Um trio de respeito: José Rodrigues, Carlos Silva e Francisco Palma

Foto 8 - Mário Fitas, Marcelino da Mata, António Graça de Abreu e José Dinis

Foto 24 - O Comandante Jorge Rosales (à direita) em conversa com Manuel Gonçalves (ao centro) e outro camarada não identificado

Foto 25 - António F. Marques, esposa Gina, António Maria e Jorge Pinto

Foto 26 - Jorge Pinto, Luís Moreira e o casal Fátima e Manuel Gonçalves

Foto 27 -  José Rodrigues, camarada não identificado, Manuel Joaquim e Manuel Lema Santos

Foto 30 - João Martins, camarada não identificado, Marcelino da Mata e João Parreira

Foto 34 - António Graça de Abreu, Armando Pires, Carlos Silva e um camarada não identificado

Foto 36 - José de Jesus, Manuel Resende (fotógrafo oficial da Magnífica Tabanca da Linha) e José Rodrigues

Marcelino da Mata e Manuel Lema Santos conversando, "unidos" pelo amplexo do camarada não identificado

Fotos de Manuel Resende
Texto de JD
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13402: Convívios (613): IX Encontro do pessoal da CART 3521, levado a efeito no passado dia 7 de Junho de 2014 (Henrique Castro)

Guiné 63/74 - P13416: Amigos para sempre (1) : Da Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal, do Tony Levezinho, Piça e Humberto Reis, para o Luís Graça, um abraço de saudade e camaradagem




Vídeo (0 '48'') >  Vila do Bispo >  Martinhal > Julho de 2014 > Saudações por parte do ex-2º srgt inf Piça, José Martins Rosado Piça (de seu nome completo, de batismo)  ao seu ex-camarada e editor deste blogue, Luís Graça, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).



Vila do Bispo > Sagres > Martinhal > Julho de 2014 >  Da esquerda para a direita, o Humberto Reis, o Piça, a  Isabel Leveziuho, a Leonor, a esposa do Pica, e a Joana, companheira do Humberto, minha vizinha da Lourinhã.


Vila do Bispo> Sagres > Martinhal> Julho de 2014> Três "amigos para sempre": da direita para a esquerda,, o Tony Levezinho (anfitrião), o Piça e o Humberto Reis... Brindando ao passado, ao presente e ao futuro.


Vila do Bispo> Sagres> Martinhal> Julho de 2014> A Leonor e a Joana.

Foto: © António levezinho (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. No passado dia 16, o Tony Levezinho mandou-me a seguinte telegráfica mensagem:
A visita dos nossos amigos: http://youtu.be/190Jz4ZZiAM

Mais tarde enviarei algumas fotos [, o que fez hoje, 19]
Só faltaste tu.
Um abraço
Tony
Enviado de Samsung Mobile

2. Comentário de L.G.:

Já lhe agradeci, pessoalmente. Gostei de os ver, aos três, mais as respetivas "caras metade", todos reunidos à volta da mesa, na nova Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal, onde pontifica o régulo Tony Levezinho. Não vem na lista da Boa Cama e Boa Mesa do Expresso, e ainda bem, mas é seguramente um dos sítios algarvios com  5 estrelas para a gente, os amigos, abancarem... Prometo todos os anos passar por lá, mas só consegui cumprir um ou duas vezes...

Quanto ao Piça(*), que já não vejo há anos, confesso que fiquei agradavelmente surpreendido... Conheci-o há 45 anos, tinha ele 38, se não erro... Agora, não é que o nosso amigo de Aldeias de Montoito, Évora,  está na mesma ? O tempo (e as 4 comissões em África) não passou (passaramn) por ele... 

Não é todos os dias que se junta um trio destes, de amigos que não precisam de estar juntos a toda a hora, mês e ano, para que deles se diga que são "amigos para sempre"... Obrigado Tony, Piça e Hunmberto. Obrigado Isabel, Leonor e Joana.

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Nota do editor: